Tumgik
alura · 1 year
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SENTIMENTOS SÃO PARA CULTIVAR
Capítulo III
Kagome atravessou o pequeno pasto em direção às árvores que iniciavam o bosque, a bacia com sua toalha e outros itens de banho apoiada no lado esquerdo do quadril, um lampião a óleo seguro em sua mão direita.
Despreocupada, cantarolava baixinho, ainda que o céu fosse de um azul obscuro de transição da tarde para a noite, pois não importava o quão cedo as pessoas dormissem na zona rural, não havia ninguém perto o suficiente para se incomodar.
Ela, por outro lado, precisava de qualquer gota de ânimo e bom humor para enfrentar sua rotina.
Um de seus peões havia faltado para naquele dia para acompanhar a mulher grávida em uma de suas consultas pré-natal, o que significava que ela precisou substituí-lo e ajudar Shippo na ordenha. Isso, claro, se acumulou com os demais afazeres, uma vez que não havia folga na fazenda. Dia útil ou fim de semana, os animais ainda precisariam ser alimentados, as plantações cuidadas, a casa arrumada, o almoço preparado e seu avô banhado e alimentado.
Após um dia exaustivo, embora a lógica apontasse que deveria simplesmente tomar um banho rápido e cair na cama, Kagome decidiu fazer mais por si mesma.
Apanhando seus itens de banho e certificando-se que o avô já dormia, ciente de como os remédios o impediam de ter o sono interrompido, caminhou em direção ao riacho além do pasto: as águas termais que cortavam algumas propriedades da região.
Não precisou andar muito pelas árvores além do pasto para alcançá-la.
O fato de o riacho se localizar tão próximo de sua casa, e ao mesmo tempo afastado da estrada, é que tornava o ambiente seguro, desde que se mantivesse atenta à aproximação de animais silvestres, especialmente cobras.
Quando alcançou as águas fumegantes, a mulher não pôde deixar de sorrir, ansiosa pela perspectiva de momento sossegado e relaxante.
Caminhou um pouco mais à margem, até se aproximar da divisa da propriedade, onde em razão do alargamento do leito do rio e da aglutinação das pedras, formava-se uma piscina natural, o melhor lugar para banho. Antigamente, Kagome costumava se lamentar por apenas parte da piscina se situar na propriedade da família Higurashi, mas uma vez que os donos da propriedade vizinha eram um casal de idosos que mal saíam de casa, os quais cuidados pelo filho de meia idade, que após morar meia vida na capital não se aproximava da mata a menos que fosse caso de vida ou morte, ela basicamente tinha toda a área para si mesma, a qual aproveitava sem perturbações.
Por isso, apoiou o lampião em uma pedra e deixou a bacia à margem, antes de despir-se sem receios, confiante na proteção das árvores, e entrar no rio em passos cuidadosos.
Um gemido de contentamento deixou sua boca assim que afundou até o pescoço, apenas sua cabeça permanecendo fora, o cabelo protegido em um coque alto.
Kagome deixou o corpo relaxar nos minutos que permaneceu mergulhada, e assim que se sentiu menos cansada, caminhou de volta à margem, para pegar o sabonete.
O cheiro frutado agradou seu olfato enquanto deslizava a barra e a espuma produzida por todo o corpo, os olhos fechando em deleite.
Após enxaguar-se, Kagome voltou-se para a margem oposta, decidida a desfrutar de alguns segundos de um nado lânguido antes de sair. Ela havia dado poucas braçadas em direção à divisa, quando deparou-se com um par de olhos dourados que a observavam fixamente.
Gritando, a mulher afundou para poupar sua modéstia, deixando apenas os olhos de fora, para que eles pudessem constatar que não, ela não estava louca e, sim, Inuyasha Taisho estava realmente ali, sentado e submerso na margem contrária, os dois braços esticados perpendicularmente ao seu torso. A pose era tão majestosa, que Kagome quase poderia vê-lo acomodado em um harém, em vez de em uma pedra áspera de uma fonte termal qualquer.
Combinando com a postura prepotente do hanyou, um sorriso malicioso adornava sua face confirmando que ele havia visto tudo o que ela tinha para oferecer.
Mortificada, Kagome choramingou, a boca ainda submersa provocando um ruído estranho.
— O quê? Já terminou o show? — debochou ele. — Eu estava apreciando bastante.
A raiva subiu automaticamente à cabeça de Kagome.
— O que você está fazendo aqui? Eu deveria chamar a polícia por invasão de propriedade — ameaçou. — Pensando bem, é exatamente o que farei — completou, voltando ainda submersa para a beirada, na esperança de alcançar o celular que havia ficado no bolso de sua calça jeans.
— Ao que me consta, eu não invadi sua propriedade — Inuyasha observou, apontando com um dedo em garra os dois lados da cerca, cortada pelo rio.
— Não é a minha propriedade que você invadiu e você sabe disso — respondeu ela, olhando-o por cima do ombro. — Eu duvido que o Senhor e a Senhora Taneshima saibam que há um homem nu desfrutando da parte deles da fonte termal — acrescentou.
— Engraçado. Eu tinha a impressão que havia uma mulher nua prestes a fazer exatamente isso — comentou Inuyasha, no que a face de Kagome enrubesceu ainda mais, tanto por ira quanto por constrangimento. — E uma vez que comprei a propriedade dos Taneshima, talvez eu é que devesse acionar a polícia por invasão de propriedade — ponderou, o sorriso malicioso ainda maior, o smartphone já posicionado em sua mão direita.
Kagome empalideceu.
— Você não pode estar falando sério.
— Realmente não. Não quero problemas com a polícia no meu primeiro dia aqui — respondeu ele, com descaso.
— Você sabe que não é disso que estou falando — exaltou-se a mulher. — Eu não acredito que você comprou a propriedade dos Taneshima e depois veio aqui apenas para me atormentar! — emendou.
O hanyou rolou os olhos dourados para cima.
— Que mulher convencida temos aqui — zombou. — Que eu me lembre, eu tinha interesse em comprar uma propriedade rural na região desde o princípio, então simplesmente resolvi acatar sua sugestão e fazer uma proposta em outra fazenda, já que você tão educadamente expressou que não venderia a sua — lembrou.
Os dentes de Kagome rangeram tanto que o meio-yokai teve a impressão que estavam prestes a faiscar. Divertido com a coisa toda, continuou:
— O mundo não gira ao seu redor, Kagome. Uma vez que eu comprei a fazenda, não é lógico que deveria aproveitar os benefícios que ela tem a oferecer? Eu estava simplesmente aproveitando meu banho quando uma mulher nua chegou e perturbou meu precioso momento de paz — concluiu.
Dessa vez, foi Kagome quem rolou os olhos para cima.
— Tão convincente — troçou.
— Ainda não viu o quanto — devolveu Inuyasha. — Quer levar o caso à Polícia e testar? — desafiou.
Novamente, Kagome corou, irritada.
Por mais certa que estivesse que Inuyasha armara aquela situação para perturbá-la, ela sabia que uma mulher nua em uma área comum, jamais teria qualquer credibilidade.
Por isso, não havia nada que pudesse fazer por enquanto, a não ser sair dali, reunindo o pouco de dignidade que ainda lhe restava.
— Continue com esse sorriso besta e eu vou dizer onde você pode enfiar seu poder de convencimento.
Bom, talvez não toda a dignidade que lhe restava.
— Vire-se, preciso sair — mandou.
Inuyasha ergueu as sobrancelhas para ela.
— Eu não estou prestes a ser comandado dentro de minhas próprias terras, moça — respondeu, secamente.
A mulher prendeu a respiração, indignada.
— Como espera que eu saia daqui? — esbravejou.
O hanyou deu de ombros.
— Use sua criatividade — sugeriu. — Ou apenas me ignore. A essa altura, eu já vi tudo mesmo — acrescentou, com um sorriso zombeteiro. — Embora, deva dizer, não há nada de muito impressionante aí — acrescentou, com descaso.
O grito feminino frustrado deve ter sido ouvido no raio de um quilômetro, o que apenas divertiu Inuyasha ainda mais, assim como a forma desajeitada que Kagome enfiou a toalha dentro da água para tentar sair do rio sem passar por outro episódio de exibicionismo.
Tremando de frio, a mulher juntou suas coisas e sumiu em meio às árvores e, só então, o meio-yokai permitiu-se gargalhar, lágrimas umedecendo os cantos de seus olhos sisudos.
Fazia um bom tempo que não se divertia tanto.
E Kagome, bem, ela havia lhe dado um espetáculo completo.
Ele havia fechado o negócio com a família Taneshima nas primeiras horas úteis da manhã, e passado o dia valendo-se de todas as facilidades que o dinheiro podia proporcionar para retirar as coisas dos antigos proprietários de suas terras e encher a casa com suas próprias, todas novas, obviamente.
A sede da propriedade adquirida ainda estava longe do luxo a que se habituara nos últimos anos, mas ainda era maior e mais elegante que a de Kagome, de modo que, uma rede Wi-Fi instalada às pressas seria o suficiente para que trabalhasse com seu notebook à distância.
Porque sim, ele estava prestes a passar uns dias ali e ver quanto tempo Kagome poderia resistir em vender as terras, ao se tornar o pior vizinho do mundo.
Era fim de tarde quando ele havia terminado de ajeitar tudo o que precisava para sua estadia, e quando saiu pelas portas da cozinha de sua nova casa, viu, ao longe, a jovem encrenqueira cruzar o pasto, suas orelhas caninas captando até mesmo a música que cantarolava.
Curioso pelo adiantar da hora que a outra escolhera para sair, decidiu segui-la, valendo-se de todos os seus instintos inu-yokai para manter-se indetectável.
Imediatamente, uma emoção que ele não desfrutava há muito tempo, se apoderou dele.
A emoção da caçada.
Tentando não pensar muito no motivo daquele sentimento aflorar naquele instante, seguiu em sua missão pessoal, até que a viu alcançar o riacho de águas fumegantes.
Um sorriso tomou conta das feições do hanyou e apenas aumentou ao perceber pela cerca interrompida, que metade da piscina natural ficava em suas terras.
Um plano formado em sua mente, Inuyasha saltou graciosamente e silenciosamente para a margem oposta, e dentre as árvores observou, sem surpresas, a mulher despir-se completamente.
Ele mal se censurou por beber com os olhos da forma dela, e concentrou suas orbes douradas em confirmar que sim, ela era tão curvilínea e deliciosa quanto aparentava por baixo das roupas de fazendeira.
Ele tentou se distrair do problema próprio, um que apenas tornou-se mais evidente conforme Kagome deslizava o sabonete por sua pele cremosa. Em vez de preocupar-se com isso, removeu as próprias roupas, aproveitando-se do momento em que ela ensaboava o rosto para entrar na água, sentando-se na margem oposta, como se sempre estivesse estado ali. Por sorte, a água era funda o suficiente para ocultar seu contratempo cada vez mais evidente, e ele duvidava que Kagome pudesse vê-lo dali, ou fosse se aproximar de qualquer maneira.
A percepção de sua presença por Kagome correu tão bem quanto esperado, e Inuyasha seguiu majestosamente provocando-a, embora pensamentos perigosos começassem a ganhar espaço em sua mente, de que ele deveria atravessar a piscina e tomá-la em seus braços. Ou ensiná-la boas maneiras, por ter uma boquinha tão rude. As duas ideias eram igualmente tentadoras.
Felizmente, Kagome se foi antes que ele fizesse uma besteira, e apesar de tudo, ele concluiu com sucesso a missão infantil de tirá-la do sério.
Era o começo perfeito, para o que ele pretendia que fossem dias infernais para a pobre moça, que cessariam apenas quando ela cedesse em vender a fazenda.
Felizmente, ele contava com a perspectiva de que nos próximos encontros, Kagome estaria vestida.
Ou ele poderia continuar se distraindo de seu verdadeiro objetivo em estar ali.
Em uma cobertura luxuosa em Tóquio, uma mulher desfrutava de um banho diferente, em sua própria tentativa de relaxar.
Os cabelos negros acetinados ainda presos no coque elegante do compromisso que tivera mais cedo; o corpo delgado recoberto pela espuma e confortavelmente acomodado contra a porcelana da banheira, e os olhos escuros contemplando a vista noturna da cidade, através da parede de vidro. O lugar era caro o suficiente para que ela não tivesse que se preocupar com olhares indiscretos de vizinhos. Simples assim.
Kikyou havia se habituado, nos últimos anos, a tudo o que o dinheiro poderia pagar, e o gole no champanhe de preço obsceno que desfrutava enquanto tomava seu banho, apenas enfatizou seu ponto. E ela não estava prestes a abrir mão disso, embora a reunião que tivera momentos antes, com seus advogados, tivesse lhe abrindo os olhos para o grande risco de acabar na miséria, por um erro de principiante.
Kikyou havia se esquecido do contrato pré-nupcial.
Quando as coisas se tornaram tão ruins com Inuyasha e se cristalizaram na separação, a ganância e o rancor a convenceram que não merecia nada menos que metade da fortuna de seu marido, e quando ele naturalmente recusou, ela ingressou com a ação judicial, contando com a manipulação da mídia a seu favor, na esperança de convencer o juiz.
Kikyou só havia esquecido da maldita cláusula do contrato pré-nupcial, ou melhor, de todo o contrato em si, mas o que importava, era aquele pequeno parágrafo. Aquele que dizia que ela sairia da união sem um tostão caso expusesse Inuyasha, que sempre prezou pela discrição e pelo anonimato, a qualquer veículo de comunicação.
Sentindo-se estúpida, ela desejou poder voltar no tempo e aceitar o acordo que os advogados de Inuyasha lhe propuseram inicialmente. Na época, ela recusou taxativamente, julgando que a proposta de sessenta milhões era mesquinharia do hanyou, ante a fortuna de bilhões que possuía.
Agora, ela gostaria de ter embolsado o dinheiro, ciente que apenas os juros que ele renderia se permanecesse em poupança, seriam o suficiente para lhe proporcionar a vida luxuosa e confortável que tanto valorizava.
Não tão luxuosa quanto a vida que possuiria se continuasse esposa de Inuyasha, dono e CEO da Taisho Corps, mas luxuosa ainda assim.
Melhor que a pobreza que provavelmente lhe esperava.
Ela sabia que seus advogados agora estavam empenhados em negociar com os advogados de Inuyasha, na esperança de convencer o hanyou a reiterar a proposta de acordo inicial, mas a suposta ausência dele parecia afetar o resto dos negócios, o que a deixava ansiosa, pendente de resposta, que geralmente vinha tão rapidamente de seu ex-marido.
Ao mesmo tempo, viu-se curiosa a respeito do que Inuyasha estaria fazendo que era importante o suficiente para desviar sua mente do divórcio que antes estava tão ansioso em concluir.
As divagações inundaram sua mente, que no entanto permaneceu alerta o suficiente às vibrações de seu telefone.
Rapidamente, apanhou o aparelho da prateleira de porcelana erguida atrás da banheira, para ver que o identificador de chamadas indicava a ligação do detetive particular que contratara às pressas, assim que percebeu que poderia ficar com uma mão na frente e outra atrás.
O serviço do homem? Cuidar da questão que embargava a herança de seus pais, que até então desprezara, por julgar insignificante, uma vez que se casou com Inuyasha.
— Tem algo para mim? — atendeu perguntando diretamente. Uma vez que ela havia procurado o detetive naquela tarde, pouco depois da reunião com seus advogados, se ele já tivesse alguma resposta, no mínimo, era de fato competente em seu trabalho.
— Sem surpresas, o irmão de seu bisavô e a esposa dele, estão mortos — a voz sedosa e enjoativa de Naraku Ishikawa respondeu, do outro lado da linha. — Mas o filho deles permanece vivo, ao que tudo indica. Não há certidão de óbito e, segundo os registros do governo, aparentemente, há uma propriedade rural em nome dele — informou.
Kikyou estalou a língua.
— Consiga o endereço — instruiu, imaginando que atuar como a mulher abandonada prestes a perder tudo, talvez convencesse o velho a abrir mão da parte do santuário familiar que nem deveria lhe pertencer.
— Como desejar — Naraku confirmou. — Há algo mais em que posso ser útil? — indagou, claramente interessado em permanecer trabalhando para uma figura tão evidente.
— Na verdade… — Kikyou ponderou. — Você poderia se mostrar útil se descobrir a localização de meu marido Inuyasha, e o que ele anda fazendo que é importante ao ponto de atrasar as negociações do divórcio — expressou.
Ela quase pôde sentir o sorriso sombrio que cresceu no rosto do detetive de índole duvidosa, embora não pudesse vê-lo.
— Servi-la é meu prazer — foi tudo o que ele disse, antes de desligar.
Notas: este é o último capítulo que escrevi referente a este plot.
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alura · 1 year
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SENTIMENTOS SÃO PARA CULTIVAR
Capítulo II
Inuyasha terminou de ler o relatório que lhe foi apresentado, um trabalho conjunto de sua equipe de corretores, assessores jurídicos e de um investigador particular.
Depois de ter uma porta batida em sua cara, ele não cometeria novamente o mesmo erro. Conheceria cada aspecto da vida da jovem atrevida, localizaria seus pontos fracos e flexibilizaria a oferta de modo que ela não poderia recusar.
Os resultados da investigação revelaram mais que o nome da criatura abusada, Kagome Higurashi. Eles ainda reforçaram sua convicção de que a mulher usava de psicologia reversa para tentar conseguir uma proposta de valor maior.
Afinal, não havia motivo plausível para que ela recusasse uma oferta pela propriedade rural.
De acordo com as informações contidas no relatório, Kagome Higurashi tinha 27 anos de idade. Ensino médio completo, chegou a começar a faculdade de enfermagem, mas trancou o curso seis anos antes, após a morte da mãe e do irmão em um acidente de carro.
Atualmente, cuidava do avô doente, enquanto administrava o imóvel rural da família, que lucrava basicamente com a venda de produtos hortigranjeiros, do leite das poucas vacas que tinha e dos peixes criados na represa da propriedade, que contava com a força laboral de apenas três funcionários, além da própria Kagome.
A vida financeira, aparentemente, seguia aos trancos, já que ela tinha que arcar com tratamentos médicos caros e contratar uma cuidadora para auxiliar com os cuidados do avô, mas não havia débitos absurdos, o que era ruim para ele. Seria muito mais fácil persuadi-la a livrar-se da propriedade, se ela tivesse afogada em dívidas.
O relatório foi além, alcançando a chegada da família Higurashi na propriedade, a fim de buscar esclarecer possível recusa fundamentada em razões sentimentais. De acordo com as informações levantadas, o bisavô de Kagome ocupou a propriedade com esposa e seu único filho, menos de seis meses depois que Inuyasha e sua mãe a abandonaram.
Quinze anos mais tarde, conseguiu legalizar sua propriedade sobre a terra, usucapindo-a, e assim ela foi herdada pelo avô de Kagome.
O pai de Kagome casou-se e continuou morando no imóvel com sua família, mas faleceu um um par de anos após o nascimento do segundo filho. Muitos anos mais tarde, faleceram também a mãe e o irmão de Kagome, o que a tornava a única herdeira das terras. A condição de administradora veio com a saúde mental deteriorada do avô, e apesar das dificuldades enfrentadas, Inuyasha tinha que admitir que ela estava fazendo um bom trabalho em manter a propriedade.
Mas ainda não estava convencido dos motivos que ela tinha para isso. Afinal, era evidente que Kagome não pretendia dedicar-se profissionalmente à fazenda, se havia escolhido cursar enfermagem. Os plantões geralmente cumpridos nessa profissão, conflitavam diretamente com os horários de dedicação que uma pessoa do campo precisaria ter.
Então sim, ele tinha praticamente certeza que a jovem queria apenas tirar vantagem da situação, aproveitando o surgimento de um comprador rico para ganhar o máximo possível com a venda.
Afinal, com o dinheiro, ela poderia terminar a faculdade, custeando a internação do avô com a aposentadoria que ele recebia, sendo que, futuramente, sua renda seria complementada pelo próprio salário de enfermeira. Uma perspectiva de vida muito mais confortável que seguir poupando o máximo de sua renda, para manter a propriedade rural familiar.
Convicto que já tinha compreendido o suficiente da situação, Inuyasha decidiu ceder e aumentar a oferta. Afinal, o que seria para ele dar vinte e cinco ou trinta por cento a mais do que pretendia inicialmente?
Ademais, quando Kagome aceitasse facilmente (como acreditava que aceitaria) vender as terras pelo valor maior, poderia regozijar-se diante dela, jogando em sua cara que, no fim, ela era dissimulada e manipuladora, pois fingia desinteresse na venda e apego à fazenda, a fim de encher os bolsos o máximo que podia.
Claro, ele poderia esperar mais alguns anos ou décadas para tentar comprar a propriedade, mas a ideia de deixar a jovem sem palavras diante de uma proposta gorda, era mais atrativa.
Ele mal podia se aguentar de ansiedade, ao imaginar os lábios em forma de coração abrirem e fecharem, como os de um peixe, diante do choque ao ler o valor do cheque que receberia.
Era mais seguro concentrar-se nisso, do que em todas as outras maneiras que ele já havia fantasiado de calar a boquinha mal-criada de Kagome Higurashi.
Kagome não resistiu ao impulso de rolar os olhos quando viu o hanyou descer da caminhonete e caminhar pela propriedade.
Como sempre, ela observou cuidadosamente à entrada do veiculo na fazenda, afinal, tinha que ser cautelosa com os automóveis que não conhecia, já que indicava a chegada de pessoas estranhas. Nunca saía da cabeça de Kagome que ela era uma mulher que administrava uma fazenda, e que por mais que seu gênero não definisse sua competência, ainda era um baita atrativo para pessoas mal intencionadas, que viam a oportunidade em cumprir suas perversões com a pobre jovem que ficava a maior parte do tempo sozinha na propriedade com o avô.
Então sim, ela observou com atenção a entrada da caminhonete, mas surpreendeu-se ao ver descer dela o mesmo Hanyou de cabelos prateados e orelhas caninas que ali estivera cerca de quinze dias antes, já que ele viera em um veículo diferente, da outra vez. Supôs, deveria ter alugado ambos.
Afinal, Inuyasha Takahashi, dono da imensa Takahashi Corps, não fazia o tipo que dirigia veículos rurais a menos que fosse necessário.
Sim, agora Kagome sabia quem ele era.
Após o pequeno espetáculo em que ele acusou-a de tentar extorqui-lo por tê-lo reconhecido, bastou digitar as palavras “hanyou”, “inu-yokai” e “famoso” no Google, para descobrir tudo sobre a brilhante trajetória como CEO de uma empresa de equipamentos informáticos, que tornou-se uma gigante mundial. E também para conseguir algumas fofocas suculentas de tabloides de fama questionáveis.
Confiáveis ou não, o fato é que os escândalos que envolviam o hanyou e sua ex-esposa, serviram para que ele caísse ainda mais no conceito de Kagome, se sua prepotência e arrogância já não fossem o suficiente.
Aparentemente, Inuyasha Takahashi era uma pessoa desprezível.
Mas ainda era o homem mais bonito que vira na vida.
Ela ainda se lembrava de como seu coração falhou uma batida no primeiro momento em que colocou os olhos nele. Naquela ocasião, Kagome não não se importou em olhá-lo dos pés à cabeça, apreciando o corpo musculoso que mal era disfarçado pelos jeans e pela camisa clara de botões, para estacionar nas orelhas caninas fofas que adornavam o topo da cabeça de longos e lindos cabelos prateados.
Ela teve a impressão que, quanto mais se aproximava, mais lindo ele ficava. Os olhos sisudos e dourados; as sobrancelhas negras bem marcadas; os traços retos e fortes; o maxilar quadrado. Inuyasha parecia ter vindo diretamente de uma pintura épica, com sua aparência moldada pelos deuses da guerra.
Infelizmente, o encanto durou apenas até que ele abriu a boca e fez pouco caso dela como administradora da fazenda, por ser uma mulher.
A decepção com o comportamento dele, que só piorou naquele dia, e as notícias infames que lera, deram a Kagome a força necessária para que ela não se encantasse uma segunda vez, enquanto o observava encurtar a distância que havia entre eles.
— O que você quer? — disse, sem um pingo de gentileza, apoiando a mão direita na cintura em uma pose imponente, que com certeza era abalada pelo largo macacão jeans que trajava, pelas tranças gêmeas que dividiam seu cabelo e pelo balde d’água que trazia na mão esquerda.
Bom, não era como se ela precisasse causar boa aparência.
— Pessoas educadas, dizem bom dia — resmungou ele. A mulher não deixou de apreciar como ele sempre parecia chocado quando ela se comportava de maneira rude.
Rico como era, certamente estava acostumado a ter todas as pessoas aos seus pés.
— Pessoas educadas, não aparecem na casa dos outros quando sabem que não são bem vindas — retrucou, vendo, com satisfação, a irritação crescer nas íris douradas.
— Sabe que vim a negócios — o hanyou falou, entredentes.
— Não estamos interessados — dispensou Kagome, dando meia volta para entrar em sua casa.
— Você pode ao menos analisar a proposta? — esbravejou ele, alcançando-a para apresentar-lhe um envelope.
Kagome revirou os olhos, mas apanhou o envelope. Deixando o balde sobre o último degrau que levava à varanda que ocupava a parte dianteira da residência, abriu o envelope e retirou o conteúdo.
Como esperado, seus olhos se arregalaram ao ler o valor e a forma de pagamento.
Inuyasha sorriu, com deboche.
Levou quase um minuto inteiro para que Kagome se recuperasse, e quando o fez, entregou o envelope de volta ao hanyou, que a encarou confuso.
— Não estamos interessados — disse por fim, de maneira atordoada, antes de pegar o balde e subir os degraus.
Inuyasha explodiu.
— Você não pode estar falando sério! — gritou. — Não pode querer que eu ofereça mais que isso! Minha proposta está muito acima do valor de mercado.
A mulher estreitou os olhos castanhos.
— Eu não quero que me ofereça nada! — gritou de volta. — Eu já disse que não estamos interessados na venda. Apenas vá embora com sua proposta e nos deixe em paz! — completou, furiosa.
— Eu não entendo porque se recusa a vender a fazenda! — bradou, transtornado.
— Você não precisa entender! Precisa aceitar! — Kagome gritou de volta. — Não é sua propriedade para que decida o que fazer com ela! Não é porque decidiu comprar, que somos obrigados a vender! — continuou, aos berros. — Cresça e entenda que o mundo não gira ao seu redor! Procure outra propriedade, a nossa não é a única na região. E por favor, nos deixe em paz! — concluiu, apanhando o balde de volta e subindo os degraus de madeira.
— Interesseira! — por fim, o meio-yokai perdeu as estribeiras. — Saiba que sua tática não vai funcionar, e agora, se tiver interesse em vender, não arrancará de mim mais que o valor de mercado — garantiu.
Kagome virou-se para ele.
Lentamente.
Perigosamente.
O hanyou não entendeu porque diabos suas orelhas se achataram automaticamente diante do olhar gelado da mulher. Durante sua vida, ele havia enfrentado inimigos mortais; pessoas hostis; investidores desacreditados e uma esposa histérica.
Mas ele nunca demonstrou fraqueza.
E ali estava a pequena mulher interiorana, fazendo com que se encolhesse como se estivesse levando uma bronca da mãe.
— Não pense que você vai me ofender dentro da minha casa e as coisas ficarão por isso mesmo — finalmente, falou ela.
Antes que Inuyasha pudesse questionar o que ela insinuava, Kagome lançou toda água do balde contra ele que, chocado pela ousadia, não conseguiu valer-se de seus sentidos e velocidade para escapar a tempo, restando encharcado.
O meio-yokai encarou abismado a mulher, que abriu um sorrisinho vitorioso.
— Vadia… — xingou, passando a mão pelo rosto para retirar o excesso de água. — Isso não vai ficar assim — declarou, antes de sacudir-se como um cachorro, espirrando água para todos os lados, ao passo que Kagome gritava, tentando se proteger como podia.
Ele teve um último vislumbre do rosto encharcado e furioso da mulher, antes de dar meia volta e caminhar em direção à caminhonete.
O desconforto da sensação de roupas molhadas contra o banco de couro do veículo, apenas fomentou a raiva que já sentia.
Kagome Higurashi queria ficar em paz?
Bem, paz era a última coisa que daria a ela.
Sorrindo, Inuyasha deu a partida e dirigiu para longe, uma ideia, baseada nas palavras da mulher, ganhando força em sua mente.
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alura · 1 year
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SENTIMENTOS SÃO PARA CULTIVAR
Notas: Mais um dos plots mortos, que posto os capítulos aqui por diversão. Sempre bom lembrar, não há previsão de continuação para esta fic. Para ver minhas fics que realmente serão atualizadas, visite meu perfil no Spirit.
Sinopse:
Inuyasha nunca se esqueceu de como sua mãe e ele tiveram que abandonar a terra que seu pai lhes deixou, para salvarem a própria vida.
Ele jurou que um dia recuperaria a propriedade, e o passar do tempo e o enriquecimento finalmente lhe permitiram o privilégio.
No entanto, Kagome Higurashi, a herdeira atual da fazenda, não estava disposta a lhe vender, não importa quanto dinheiro oferecesse.
Capítulo I
Inuyasha observava as pequenas propriedades rurais tanto quanto podia, considerando que conduzia a velha caminhonete pela estreita estrada pavimentada.
Obviamente, as coisas haviam mudado desde que vivera ali, oitenta anos antes.
Ainda assim, apenas agora ele reuniu coragem o suficiente para voltar ao primeiro lugar em que vivera com sua mãe, e cumprir o juramento que fizera quando fugiram, de comprar as terras de volta.
Não que ele não pudesse ter feito antes.
Montar sua pequena empresa de equipamentos informáticos quando esse nicho apenas despontava, mostrou-se muito lucrativo, e ele colheu os frutos disso, assistindo sua companhia tornar-se uma gigante internacional.
Uma das vantagens da longevidade proporcionada por sua herança yokai.
Inuyasha não gastou toda a sua vida trabalhando para deixar o produto de seu esforço para seus descendentes. Como hanyou, ele vivia mais que qualquer humano e tanto quanto a maioria dos yokais, o que permitiu que ele mesmo usufruísse do resultado de sua dedicação.
Sem descendentes, os bilhões arrecadados eram apenas dele.
Embora ele tivesse que ceder alguns milhões para a víbora de sua ex-esposa.
Ao lembrar da mulher, o hanyou suspirou.
O casamento com Kikyou tinha sido infernal, e o processo de divórcio se tornou um verdadeiro tormento. E mesmo que finalmente tenham acordado em romper os laços matrimoniais, seguiam em litígio, em relação à divisão de bens.
Com tudo o que possuía, ele não se importava em ceder alguns bens e uma boa quantia para sossegar a mulher, mas as pretensões de Kikyou eram ridículas. Ele tinha certeza que nenhum juiz em sã consciência daria a ela metade de todo o seu patrimônio, considerando que ele já tinha tudo quando se casaram (quando ela nasceu, na verdade), e estabeleceram a separação de bens em seu contrato pré-nupcial.
Isso não significava que o processo não era desgastante, especialmente porque a mulher tinha muito talento em difamar Inuyasha para todos os veículos de informações ávidos por qualquer notícia do magnata hanyou, que sempre fora recluso ao extremo.
O relacionamento fracassado o deixou arrasado, mas ele ao menos era grato por não ter marcado a mulher e vinculado seus tempos de vida. Isso certamente tornaria as coisas muito mais dolorosas.
Apesar de toda a situação levá-lo ao limite da sanidade, o estresse também fez com que se lembrasse da época em que tudo era mais simples. Foi o empurrão necessário para que finalmente tivesse coragem de encarar seus demônios e voltar à terra onde passara os primeiros anos de vida e finalmente cumprir seu juramento.
Antes tarde do que nunca, pensava ele, sempre confiante em seu longo tempo de vida para acreditar que o assunto sempre poderia ser resolvido depois.
O adiamento dos planos poderia ser perigoso para pessoas comuns, mas não para ele, que estava confiante que poderia pagar pela propriedade independente de quando a comprasse. Os riscos de o antigo sítio ter se fundido a outros imóveis ou se fragmentado, também não lhe perturbava. Ele só precisava comprar todo o perímetro que cobrisse a área original.
Mas foi com grata surpresa que ele descobriu que o local não sofrera com alterações de limites. Ainda era a mesma propriedade, de mesma área, da época em que a dividiu com sua mãe.
Claro, obviamente, houve melhorias.
Havia uma casa familiar decente construída no local, além de um curral, um paiol, alguns galpões e depósitos, tudo muito diferente da velha cabana de madeira e galinheiro, que eram as únicas construções de sua época.
Ele mesmo conferira o local pelo Google Maps, e impressionou-se levemente com o quanto havia mudado, mas nada disso importava, já que pretendia destruir tudo para construir sua casa de descanso. Ele não precisava de uma fazenda para se sustentar. Precisava de um abrigo para descansar de sua vida agitada e da nostalgia que aquela localização lhe ofereceria.
Era por isso que, dispensando as equipes de corretores e assessores jurídicos, que ele havia alugado uma caminhonete e viajava até o pequeno sítio. Considerando o significado que aquele lugar possuía, ele não queria que terceiros o negociassem para ele. Queria conduzir todo o processo.
Seguindo o alerta do GPS, Inuyasha desviou para a estradinha de terra à direita. Não levou meia dúzia de quilômetros até que o aparelho acusasse que haviam alcançado as coordenadas indicadas.
O hanyou estacionou à sombra de uma grande macieira, e observou o local com interesse, enquanto caminhava pelo terreiro.
A sede do sítio era uma casa rústica, de estilo ocidental. Boa parte da construção era constituída de ripas de madeira, intercaladas com uma parede de pedra, a qual supôs que poderia sustentar a caldeira e o fogão à lenha. Algumas chaminés despontavam do tosco telhado triangular, e pela disposição das janelas, supunha que a residência também contava com sótão e porão.
Não era gigante, mas maior do que esperava.
Olhando em volta, não viu ninguém além de uma jovem de cabelos negros, ajoelhada na horta situada a alguns metros no fundo da casa. A garota, que tinha uma pequena foice de jardinagem segura na mão direita, permanecia estacada, observando-o dos pés a cabeça, até estacionar os olhos em suas orelhas caninas, com curiosidade.
Inuyasha não estranhou a reação da moça, que se comportava como se duvidasse que ele deveria estar ali. Associou imediatamente à aversão que a maioria dos humanos possuía aos meio-yokais, por isso não se intimidou.
Ele já havia lidado com aquilo o suficiente durante sua longa vida.
Seus sentidos aguçados captaram o exato momento em que a moça suspirou resignada. Em seguida, ela levantou-se, secou o suor da testa com a parte de trás do braço e limpou as mãos nas coxas de suas calças jeans, deixando-as ainda mais sujas.
Calmamente, caminhou até encontrá-lo.
— Bom dia — saudou educadamente, quando a jovem adentrou o alcance de sua voz.
Não pôde deixar de reparar que ela era a personificação do estereótipo da jovem criada na roça: cabelos profundamente negros ajeitados em uma trança frouxa lateral; seios fartos acomodados em uma camiseta branca, sobreposta pela camisa xadrez azul; calças jeans velhas e sujas ajustadas na cintura com um velho cinto de couro marrom, que combinava com as botinas, tão gastas quanto.
Os olhos grandes e castanhos, entretanto, eram mais vivos e analíticos do que supunha deveriam ser os de uma garota que passara toda a vida no interior, mas os tempos eram outros, lembrou-se.
— Bom dia — respondeu ela, a voz melodiosa combinando perfeitamente com o rosto de traços delicados e seus pequenos lábios, em forma de coração.
Inuyasha supôs que sua feição bonita, combinado ao corpo abençoado com as curvas certas, provavelmente faziam daquela jovem a maior beldade da pequena aldeia. — Em que posso ajudá-lo? — indagou, com genuína curiosidade.
— Eu gostaria de falar com o proprietário ou o administrador da fazenda — respondeu, concisamente.
— Assunto? — a cabeça da moça tombou levemente para o lado, evidenciando que estava mais curiosa que interessada.
— Eu preciso tratar diretamente com ele — alegou, secamente.
— Bom, neste caso é melhor dizer porque o senhor está aqui, já que “ele” — falou, sinalizando as aspas com os dedos —, sou eu — concluiu, cruzando os braços em uma pose confiante, o que involuntariamente elevou seus seios.
Inuyasha arqueou as sobrancelhas, assumindo um semblante incrédulo, que não passou despercebido pela jovem, que estreitou os olhos para ele.
— Bom, por essa eu não esperava — admitiu, passando novamente os olhos pela figura da mulher, sem sequer disfarçar o movimento. — Será que podemos conversar lá dentro? — sugeriu.
— Antes de colocar um estranho em minha casa, supõe-se que eu deva saber o motivo de sua visita — respondeu, visivelmente irritada com a maneira desavergonhada que ele a encarava.
O hanyou resistiu ao impulso de rolar os olhos, porque, afinal, era justo.
— Eu gostaria de fazer uma proposta para comprar a fazenda — revelou, cruzando os próprios braços.
O semblante da jovem desanuviou-se em compreensão.
— Bom, nesse caso, não precisa entrar. Não está à venda — declarou a moça por fim, dando-lhe as costas para caminhar de volta para a horta. — Passar bem — saudou, afastando-se.
Inuyasha piscou indignado.
— Sequer ouvirá minha proposta? — questionou, seguindo-a.
— Não — a moça respondeu simplesmente, enquanto se ajoelhava de volta na horta.
— Mas é uma boa oferta. Deveria ao menos ouvi-la — insistiu, contrariado.
— Não interessa se é boa, porque não está à venda — repetiu ela, arrancando algumas ervas daninhas que assolavam os vegetais.
— Você está sendo infantil — acusou.
— E você, deselegante! — exaltou-se a mulher, os olhos castanhos encarando-o de baixo, em fúria contida. — Não há nada infantil em decidir não vender uma propriedade que pertence à minha família. Por outro lado, é no mínimo inconveniente insistir no assunto quando a outra parte demonstrou nítido desinteresse — discursou, voltando sua atenção para a jardinagem.
Inuyasha analisou a situação brevemente. Após anos dirigindo com sucesso a própria companhia, ele não estava acostumado a ser contrariado. E aquela jovem parecia saber exatamente como irritá-lo. Podia aparentar uma chucra moça de fazenda a primeira vista, mas suas palavras bem articuladas demonstravam que não era, de forma alguma, uma pessoa ignorante.
A compreensão o atingiu, então.
— Eu já entendi o que está acontecendo aqui — comentou, de maneira debochada, atraindo a atenção dela de volta.
A mulher arqueou as sobrancelhas, diante do comportamento jocoso do outro.
— Você sabe quem eu sou, e por isso está usando psicologia reversa, para tentar conseguir uma oferta maior — continuou ele.
Apesar de todo o seu receio, Inuyasha sabia que sua imagem era conhecida na mídia, atualmente.
Sua audição e olfatos aguçados, combinadas com sua velocidade aprimorada, fizeram com que, por anos, o rosto do CEO da Takahashi Corps fosse um mistério, já que ele fugia de fotógrafos com incrível facilidade. Mesmo a maioria de seus funcionários, não fazia a menor ideia de como era sua aparência. Isso foi bom para os negócios, considerando que muitos ainda tinham receio de negociar com um hanyou.
Claro, após o divórcio, Kikyou foi gentil o suficiente para oferecer fotografias particulares deles, para que a mídia tivesse imagens para divulgar, junto às notícias difamatórias.
Felizmente, sua empresa era gigante e estável o suficiente para que o fato de ser um hanyou tornar-se público, não a afetasse.
Sua privacidade, entretanto, não teve a mesma sorte, e ele julgava que a moça à sua frente, era uma das provas disso.
Reconheceu-o como o bilionário das fofocas, e agia com desinteresse na proposta, apenas para induzi-lo a subir a oferta.
Mas ele tinha que dar crédito a ela, que aparentemente, simulava com perfeição a confusão que ostentava seu semblante.
— É claro que eu sei quem você é — disse ela por fim, e Inuyasha sequer suprimiu seu olhar vitorioso. — Você é um idiota — afirmou, levantando-se e caminhando em direção à casa.
O hanyou encarou atônito as costas da mulher, até que a fúria assumiu o comando, fazendo com que a alcançasse num salto e a seguisse de perto.
— Não pode achar que vou acreditar nessa atuação! — bradou, indignado.
— Oh, desculpa! Isso tudo é irritação por eu não fazer a mínima ideia de quem é sua digníssima pessoa? — virando-se para encará-lo, questionou ela, com cinismo. — Talvez você deva me contar de uma vez, para eu saber quais as louças das antiguidades da família, eu devo selecionar, quando for servir o café — completou com sarcasmo.
O meio-yokai prendeu a respiração diante da petulância da mulher.
— Mas você nem me convidou para entrar! — lembrou ele.
— Oh, é verdade — concordou a mulher. — Nesse caso, você não tem nada o que fazer aqui. Fora! — gritou por fim, antes de subir os degraus que conduziam à entrada dos fundos e bater à porta na cara dele.
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alura · 1 year
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AMNÉSIA
Capítulo III
Kagome gostaria de dizer que os dias passaram em uma rotina tranquila.
Ela acordava, fazia o café da manhã, limpava todo o interior da cabana, fazia o almoço, cuidava da parte exterior da cabana, fazia a janta, tomava banho e dormia.
Tudo isso enquanto tentava se manter longe do caminho de Inuyasha, conforme prometera, o que não era difícil, considerando o tempo que ele passava na madeireira. O hanyou voltava para casa, basicamente, para comer e dormir.
Com pouco tempo, Kagome havia se habituado à rotina o suficiente para ter bastante períodos livre entre suas tarefas.
Inicialmente, ela gastou esse tempo assistindo o que quer que encontrasse na televisão, mas logo percebeu que deveria concentrar seus esforços no fato que precisaria partir em algum momento.
Logo, precisava encontrar um emprego.
Sem muitas maneiras de procurar, uma vez que não tinha como ir sozinha ao vilarejo ou cidades próximas e Inuyasha definitivamente não faria com ela as viagens necessárias para tanto, viu-se, certo dia, na hora do almoço, pedindo permissão ao hanyou para utilizar o computador de seu escritório.
Os olhos dourados a estudaram com desconfiança por um momento, mas Inuyasha cedeu, dizendo que criaria um novo usuário em seu computador, para que ela pudesse utilizá-lo quando necessário.
Kagome não poupou palavras em dizer o quanto estava agradecida, embora tenha recebido apenas grunhidos mal humorados em resposta.
Ignorando o fato, correu para o computador assim que lhe foi disponibilizado e começou a pesquisar por vagas de emprego nas cidades próximas anunciadas online.
Não demorou para que a angústia de não saber nada sobre a própria vida retornasse.
O que Kagome poderia fazer?
O que ela sabia fazer?
Profissionalmente, a única coisa que sabia sobre si mesma, era que havia concluído o ensino médio enquanto abrigada na casa de acolhimento, segundo o que os policiais haviam lhe contado.
Será que ela havia feito uma faculdade depois disso? Pouco provável se acabou fazendo parte do sistema assistencial do governo. Faculdades eram caras.
Com tais pensamentos, começou a procurar vagas para emprego que uma pessoa com ensino médio completo poderia fazer.
Balconista em mercearias.
Atendente em cafés.
Camareira em hotéis.
Salvou alguns endereços aqui e ali, pegando os endereços eletrônicos para os quais deveria enviar seu currículo, ignorando o desespero de ter que fazer um, quando não havia nada para preenchê-lo.
Ela lidaria com um problema de cada vez.
No fim, o maior deles seria convencer Inuyasha a levá-la a alguns daqueles locais, caso conseguisse as entrevistas.
Kagome recebeu muitas respostas educadas.
A maioria por escrito, duas ou três pessoalmente. Essas últimas foram as que incomodaram mais, pois não foi difícil para ela perceber que havia sido convocada para as entrevistas apenas por educação. Os recrutadores mal lhe perguntavam qualquer coisa antes de dizer que ela não preenchia o perfil pra as vagas.
Nas entrelinhas, ela entendeu que o real problema tinha nove semanas e estava em seu ventre. Ninguém queria contratar uma mulher grávida, e o fato a estava desesperando.
Porque fazia três semanas que ela estava hospedada na casa de Inuyasha, e o medo que ele simplesmente acordasse um dia e decidisse mandá-la embora crescia como uma praga em seu interior. Ela fazia o seu melhor para demonstrar que procurava um emprego, o tempo livre de sua última semana tinha sido dedicado basicamente a isso. Inferno, ele até mesmo a havia levado às cidades vizinhas para as entrevistas. No entanto, todas as vezes, Kagome voltou para a caminhonete com um intenso sentimento de vergonha, que só crescia ao ver a maneira que as mãos com garras agarravam o volante com força; os lábios se comprimiam em uma linha fina e a decepção preenchia os olhos dourados de seu benfeitor. Era nítido o quanto o hanyou a queria longe.
Só lhe restava uma entrevista e, honestamente, se não havia despertado o interesse dos recrutadores de duas lojas de conveniência e de uma lanchonete, não tinha grande expectativa em relação à vaga de recepcionista de um hotel chique. As poucas roupas espalhadas pelo sofá, pareciam proporcionais à chance que possuía. Sua melhor aposta, uma camisa de flanela vermelha e um jeans escuro, o mesmo que usara nas demais entrevistas, não era exatamente a imagem do profissionalismo, mas não é como se tivesse opção. Ainda eram melhores que os dois vestidos de verão ou ou os shorts e blusas que encontrou em sua mala.
— Você não vai impressionar com isso — o comentário repentino de Inuyasha fez com que ela pulasse de susto. Em sua concentração, não o vira chegar, tampouco parar ao seu lado.
— Considerando as alternativas, é o melhor que posso fazer — respondeu, embora ainda segurasse a destra contra o peito, na tentativa instintiva de desacelerar os próprios batimentos cardíacos.
O hanyou armou uma carranca, mas Kagome pôde ver nos olhos dourados que ele entendia seu ponto. Após algumas semanas, apesar da parca convivência, ela ganhou a habilidade de ler as emoções do homem rude, ao menos um pouco.
— Espere aqui — disse ele, antes de subir escada acima, e Kagome apenas deu de ombros. Não é como se tivesse outro lugar para ir, de qualquer maneira.
Nem três minutos depois, o meio-yokai desceu, uma pilha de roupas em uma mão e um sapato na outra, os quais empurrou em direção à jovem de olhos arregalados.
— Onde conseguiu isso? — indagou ela, colocando os itens no sofá para avaliá-los individualmente.
Um vestido azul marinho de mangas fofas, de cintura justa e saia esvoaçante; um cardigan de lã e uma sapatilha envernizada, ambos no mesmo tom de vermelho.
— Eram da minha ex-mulher — revelou. — Aparentemente, ela estava com tanta pressa em ir embora que não fez questão de pegar todas as suas coisas — acrescentou com indiferença.
Kagome contemplou novamente os itens espalhados no sofá, esforçando-se para ignorar a sensação amarga de saber que Inuyasha já fora casado.
— Mas ele não é mais — sua mente traiçoeira tentou consolar, mas a parte irônica de seu raciocínio levou a melhor. O que importava, afinal? Ele a queria longe dali. Ele não se importava com ela, nem ela com ele, então nem deveria se incomodar, em primeiro lugar.
— Não é grande coisa, mas ninguém que viva neste lugar precisa de muitas coisas chiques — Inuyasha justificou, e Kagome imaginou que ele havia lido erroneamente sua expressão.
— Não, está ótimo — apressou-se em garantir. — Obrigada. Eu devolvo logo após a entrevista — prometeu.
— Keh! Não se preocupe com isso — o hanyou zombou. — Não tem qualquer utilidade para mim. Você pode fazer o que quiser com ele — afirmou, antes de se direcionar à cozinha e servir-se do almoço do dia.
Novamente, Kagome sentiu seu interior se contrair. Quem quer que fosse a mulher, Inuyasha deveria ter se importado muito com ela, se havia se machucado ao ponto de não conseguir disfarçar com a indiferença.
Infelizmente, as roupas emprestadas por Inuyasha não foram o suficiente para o sucesso de Kagome, que havia ido tão bem na entrevista de emprego no hotel, quanto nas outras.
Completamente frustrada, a garota não falou nada durante o percurso de volta, tampouco quando o hanyou anunciou que iria para a madeireira e voltaria apenas no jantar.
Na verdade, a ausência do meio demônio foi quase um alivio, pois permitiu que ela chafurdasse na própria miséria sozinha. A chateação minou toda a vontade de dedicar-se aos trabalhos domésticos e de fazer qualquer outra coisa, pelo que decidiu dar uma volta pelos arredores da cabana, para espairecer, preocupando-se em antes deixar o casaco e o sapato na varanda, para que não estragassem.
Seus passos foram tranquilos, a sensação da terra fria contra os pés acalmando-a gradualmente.
Após circular a área da cabana algumas vezes, a mulher decidiu que não faria mal se afastar um pouco, desde que ainda pudesse visualizar a clareira em que a construção se situava.
Notas: Isso é tudo que eu tenho da fanfic Amnésia. E sim, eu não terminei o terceiro capítulo.
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alura · 1 year
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AMNÉSIA
Capítulo II
Apesar de todo o ceticismo de Kagome, o plano de Inuyasha deu certo no final.
Como o hanyou presumira, o carro que ela aparentemente dirigia na noite em que foi encontrada vagando na floresta, foi localizado há alguns quilômetros da cabana de Inuyasha. Ela supostamente havia saído da estrada, rolado descido um barranco e batido em uma árvore. A causa do acidente, era desconhecida, e não havia muito mais no veículo que pudesse esclarecer o assunto, ou sua vida.
Uma pequena mala com roupas foi tudo o que encontraram, a qual foi devolvida para Kagome e estava, atualmente, no porta-malas da caminhonete de Inuyasha.
A mulher remexeu-se, no banco do carona, sua mente lhe dizendo o quanto havia sido irresponsável aceitar a ajuda de um estranho num plano que envolvia mentir para a polícia.
Ela estava cética no início, especialmente porque teve que inventar uma série de falsas memórias. Sua presença na floresta, foi justificada na suposta tentativa de recuperar o emprego de babá com uma das famílias milionárias que possuía casa de férias algumas milhas adiante.
A história foi comprada com desconfiança, e apesar do temor de Kagome, Inuyasha insistiu que ela só precisava evitar cair no sistema por agora. Se depois descobrissem falhas em sua história, ela poderia muito bem contar a verdade, que temia cair no sistema e mentiu para proteger seu bebê. Com certeza, seria mais facil comprovar sua capacidade mental, se ela fosse descoberta apenas depois de ter restabelecido a própria vida, com um novo emprego e tudo.
Isso é, se a história fosse descoberta.
Tratando-se de um acidente, não haveria muito para a polícia investigar, de qualquer maneira.
Essa última constatação deu confiança a Kagome e fez com que ela aceitasse seguir o plano traçado pelo hanyou.
Novamente, ela estava ciente que estava agindo conforme as orientações de um desconhecido, mas era um desconhecido que não parecia ter qualquer interesse nela. Estava, naquele momento, levando-a à rodoviária do vilarejo para que ela seguisse para onde quisesse.
E embora isso parecesse muito melhor do que uma casa assistencial, Kagome não conseguiu evitar que o pânico se elevasse no momento em que chegaram ao seu destino.
— Pronto — Inuyasha resmungou, de maneira brusca. — Quer ajuda para carregar as malas? — indagou, enquanto retirava o cinto de segurança.
Kagome encarou o hanyou por um momento, suficiente apenas para apreciar o dourado dos olhos rígidos.
Não havia empatia ali. Não havia calor ou gentileza.
Então, porque repentinamente ela sentia que deixá-lo era tão errado?
— Por favor, não me abandona — pediu, despindo-se completamente do próprio orgulho.
Os lábios de Inuyasha se apertaram e Kagome se retraiu por um instante, mas o pânico a motivou a continuar.
— Eu não tenho a menor ideia de onde ir. Não sei se tenho casa, lugar para viver. Eu sei que posso trabalhar, mas isso é tão assustador — deslanchou a falar, enquanto caía no choro. — Por favor, me leva com você! Eu limpo, cozinho, faço qualquer coisa que quiser! Só não me deixa! — implorou.
As mãos em garras de Inuyasha apertaram o volante, enquanto ele desviava seus olhos duros para frente.
— O que te faz pensar que eu posso ficar com você? — perguntou bruscamente.
Só então, a mente de Kagome clareou para a realidade: ela não sabia nada sobre Inuyasha.
Tudo bem, ele havia passado algum tempo em seu quarto de hospital nos últimos dias e não usava aliança, mas e se ele fosse casado? E se ele estivesse em um relacionamento? Que tipo de mulher aceitaria a situação que ela estava propondo a ele?
— Você vai ficar fora do meu caminho — a voz desprovida de emoção do outro a puxou de seus pensamentos e, por um segundo, Kagome sentiu a esperança crescer em seu interior.
Ele estava aceitando o pedido dela?
— Vai ajudar no que puder em casa, porque ninguém come de graça. Mas isso é temporário — alertou ele. — Na primeira oportunidade, você cai fora — concluiu, e imediatamente Kagome meneou a cabeça positivamente, enquanto o alívio lhe inundava.
Evidentemente contrariado, Inuyasha ligou a caminhonete, passou a marcha com brusquidão e começou a se afastar do vilarejo, por uma das estradas que cortavam a floresta.
Kagome tentou prestar atenção no percurso, mas a única coisa em que conseguia se concentrar, após um breve momento de consolo em saber que não mais estaria desabrigada, era um novo tipo de desespero.
Porque ela estava indo para casa de Inuyasha, um completo desconhecido.
E ela havia basicamente prometido fazer tudo o que ele quisesse em troca de abrigo.
Sentindo o rosto corar com as próprias palavras, enquanto imaginava se o hanyou que dirigia ao seu lado havia interpretado algo diferente do que havia proposto, Kagome tentou decifrar se havia feito aquilo por um motivo além do desespero da perspectiva de ficar desabrigada.
Porque a amnésia não fez com que perdesse a inteligência, aparentemente. Todos os sinais eram óbvios em relação ao perigo daquela situação.
Mas então, porque havia, lá no fundo, algo que dizia que ela poderia confiar no meio-yokai de cabelos prateados? Seria intuição? Instinto?
Suas divagações seguiram enquanto desviavam da estrada principal para outra sem pavimento, que se embrenhava cada vez mais na floresta, e cessaram apenas quando a caminhonete parou aos fundos da cabana.
Kagome mal conteve o alívio e suspirou.
Ao menos, ele a tinha levado para casa. Se quisesse fazer algo de ruim com ela, era mais lógico que parasse em algum ponto da floresta.
— Você sabe, eu poderia usar a cabana e depois desovar seu corpo em algum lugar. Tenho certeza que conseguiria fazer de modo que ninguém percebesse — Inuyasha comentou, enquanto caminhavam em direção à construção rústica, os poucos pertences de Kagome divididos entre eles.
A mulher congelou no lugar, encarando-o de olhos arregalados, enquanto a boca abria e fechava sem emitir som algum.
O hanyou riu ironicamente.
— Você é tão fácil de ler — zombou. — Meu comentário foi apenas para mostrar isso. E também para dizer que sim, essa foi uma péssima ideia. Tem sorte de um maníaco não ter cruzado seu caminho — concluiu, antes de continuar seu percurso, deixando-a para trás.
Com o coração disparado, Kagome o seguiu desajeitadamente, enquanto ele contornava a cabana.
Agora, à luz do dia e sem a névoa de sua mente confusa, ela conseguia avaliar melhor o local, que parecia ter saído diretamente de um conto.
Em vez de tábuas, as paredes eram construídas com toras em cor natural, o que dava um aspecto ainda mais rude à edificação, que não tinha o formato de quadrado único tradicional de uma cabana, mas se desdobrava em alguns anexos, lembrando mais a configuração de uma casa que podia abrigar uma pequena família.
O telhado era escuro e sustentava alguns painéis solares, o único item cuja modernidade destoava do ar pitoresco da construção, acentuado pelas trepadeiras que erguiam-se pelas paredes e se espalhavam na parte superior. Em meio as telhas escuras, erguiam-se outros anexos que constituíam o segundo andar, espaços evidentemente menores que o primeiro patamar, mas que pareciam poder acomodar tranquilamente ao menos dois quartos confortáveis.
O olhar de Kagome pendia entre a cabana e a vegetação que crescia majestosamente em volta, quando alcançaram a varanda dianteira, que se estendia pelo anexo principal da casa.
Inuyasha subiu os degraus de madeira enquanto apanhava as chaves do bolso, com a qual destrancou com fluidez a porta principal. Limpando as botas brevemente no tapete, adentrou, deixando as coisas de Kagome ao lado da porta, antes de jogar-se em uma das poltronas que ladeavam a lareira de pedra e cobrir o rosto com o antebraço, o couro do estofado rangendo para acomodá-lo.
Não que a mulher o conhecesse há muito tempo para ter parâmetros de comparação, mas ele parecia menos feliz que nunca.
Timidamente e sem ter certeza do que fazer consigo mesma, Kagome acomodou a bolsa que carregava ao lado dos itens que ele havia largado e observou ao redor.
O interior era decorado tão rusticamente quanto o exterior sugeria, com todos os móveis, armários e cômodas talhados em madeira escura, mas era agradável ao olhar.
Duas poltronas castanhas e um sofá verde escuro de três lugares, contornavam a lareira de pedra, que tinha poucas miniaturas em madeira decorando-a. A TV de tela plana estava fixada logo acima, uma boa estratégia para manter os espectadores confortáveis e aquecidos. A escada para o andar superior, podia ser vista atrás das poltronas e era construída da mesma madeira que as paredes, assim como o corrimão de finas colunas.
À direita de Kagome, separada por um amplo arco que não servia para nada mais além de demarcar a divisão de espaços, sem prejudicar a visão entre um cômodo e outro, estava a cozinha, que parecia bem equipada, apesar da configuração antiquada de manter todos os eletrodomésticos junto a uma só parede.
A mesa de jantar, com suas quatro cadeiras, aparentava cumprir melhor a divisão de ambientes entre a sala e a cozinha, que o arco em si.
Havia ainda duas porta aos fundos da cozinha, e Kagome só pode supor que uma levava para fora, enquanto outra deveria abrigar a lavanderia ou o banheiro.
Os olhos castanhos curiosos da mulher também estudaram as treliças de madeira que se estendiam em sustentação ao telhado, nos espaços que não eram ocupados pelo segundo piso.
Além do essencial, Kagome ainda notou as cortinas de um branco translúcido, presentes nas três janelas que avistou no andar inferior, assim como na toalha de mesa em xadrez vermelho e branco, que combinavam com os panos de prato em padrão. Não pareciam detalhes com que Inuyasha se importaria, mas estavam ali.
— Vai ficar parada aí o dia todo? — a voz rude de Inuyasha a tirou de suas divagações. — O almoço não se faz sozinho — resmungou ele.
Kagome piscou, levemente atordoada, ao passo que o outro rolou os olhos dourados para cima.
— Você disse que trabalharia em troca de abrigo. É melhor começar, porque eu estou com fome — avisou, caminhando em direção à porta da frente.
— Onde você vai? — questionou, ansiosa.
— Trabalhar — resmungou ele. — É bom que o almoço esteja pronto quando eu voltar — disse por fim, antes de sair pela porta e batê-la.
Kagome reprimiu a onda de raiva que percorreu seu interior, lembrando-se que ela é que havia se colocado naquela situação.
De fato, não podia lamentar a própria sorte, visto que todas as dicas que recebera da personalidade de Inuyasha, indicavam que ele era um homem antiquado, rude e grosso. E ainda assim, acabou por lhe pedir abrigo, de modo que teria que engolir o próprio orgulho e fazer algumas concessões enquanto permanecesse ali.
Orgulho.
A palavra se repetiu em sua mente.
Kagome não fazia ideia de quem era, mas aparentemente não era fã de homens com a atitude semelhante a de Inuyasha.
— Talvez eu seja feminista — murmurou, contemplando novamente a ironia de conseguir lembrar-se de um conceito de movimento social, mas nada a respeito da própria vida.
Suspirando desanimada, caminhou para a cozinha a fim de começar o almoço.
Kagome observou, um tanto orgulhosa de si, o modo como Inuyasha passou os olhos pela macarronada e pelas almôndegas, como se procurasse algo para reclamar. No fim, nada disse, apenas sentando-se à mesa para se servir imediatamente.
A mulher seguiu o exemplo e sentou-se diante dele, o que fez com que Inuyasha arqueasse levemente as sobrancelhas. Kagome retesou, por um instante, mas como ele não falou nada, começou a encher o próprio prato.
— No que você trabalha? — questionou, curiosa, uma vez que estavam no meio do nada e Inuyasha não tinha pegado o carro para sair e voltar.
O hanyou inspirou profundamente, como se apenas o som da voz dela a irritasse até o limite. Novamente, Kagome viu-se retraída.
— Eu tenho uma madeireira — disse por fim.
— Aqui perto? — incentivada pela resposta, seguiu perguntando, curiosa.
— Algumas centenas de metros daqui — respondeu, vagamente.
— E você tem funcionários? O lugar parece tão isolado… — seguiu questionando e divagando.
— Uma pessoa que tem a capacidade de trabalho de dez homens não precisa de funcionários para manter uma madeireira — disse, imediatamente enchendo a boca com uma garfada de macarrão, sinalizando que não queria mais conversar.
Kagome estava prestes a fazer o mesmo, quando Inuyasha cuspiu a comida no prato, sendo acometido por um acesso de tosse em seguida.
— Mulher estúpida! — xingou ele, após quase o minuto inteiro que levou para se recuperar. — Você colocou pimenta no molho! — alegou, de forma acusatória.
Kagome arregalou os olhos, sem saber onde estava o problema naquilo.
— Foi só uma pitada. Eu pensei que ficaria mais saboroso se queimasse um pouco — justificou, temerosa.
— Um pouco? — Inuyasha zombou. — Inu yokais não suportam nada apimentado — gritou.
Kagome abaixou a cabeça, constrangida.
— Eu não tinha como saber — defendeu-se, erguendo os olhos novamente.
Inuyasha pareceu estudá-la por um minuto, antes de expirar, contrariado.
— Claro que não — disse por fim, antes de apanhar um pacote de macarrão instantâneo no armário e colocar a água para ferver.
Chateada, Kagome seguiu comendo do prato que havia servido, apesar da perda de apetite. Ela pensou em deixar o prato e se afastar, mas lembrou a si mesma que estava grávida e precisava se alimentar.
“E eu quase havia me esquecido disso”, pensou, impressionada consigo mesma, sentindo-se ainda menor.
Afinal, Inuyasha não estava abrigando apenas uma mulher, mas uma mulher grávida.
E ela, que havia prometido ficar fora do caminho dele, conseguiu estragar o almoço no primeiro dia.
Fantástico.
O restante do dia seguiu sem outros problemas.
Inuyasha retornou para a madeireira e Kagome não o viu novamente, até que anoitecesse.
Antes que esse momento chegasse, ela havia limpado cada canto que pudesse alcançar do andar inferior da cabana: lavou a louça, esfregou os eletrodomésticos, tirou o pó dos móveis, varreu e passou pano.
Ela até mesmo cogitava uma maneira de alcançar as vigas de madeira para que pudesse espaná-las também, pela lógica, cuidar primeiro do andar superior.
Com receio, Kagome subiu as escadas, as quais já havia limpado, degrau por degrau, em sua tentativa de adiar o máximo possível a subida.
Porque embora Inuyasha não tenha proibido seu acesso a qualquer cômodo da casa, presumia que seu quarto ficava no segundo andar, e que ele não comemoraria exatamente a ideia de tê-la perto de suas coisas.
Mas bem, se ela fosse passar algum tempo ali, teria que subir em algum momento, certo?
Confiante nessa lógica, terminou de transpor os degraus, deparando-se com um pequeno corredor, com uma porta à esquerda, duas à direita e uma janela ao fundo.
Deduzindo que o lado com a porta única correspondia ao quarto principal, Kagome decidiu começar pelas duas outras portas, deparando-se com o banheiro e o escritório, os quais limpou tão minuciosamente quanto podia, sem retirar os pertences de Inuyasha do lugar.
Ela saia para o corredor, imaginando se deveria entrar no quarto de Inuyasha para limpar, quando deparou-se com o hanyou, terminando de subir a escada.
O meio-yokai a encarou por alguns segundos, antes de declarar:
— Você só tem autorização para entrar no meu quarto para limpar. Limpe o chão e os móveis, sem tirar as minhas coisas do lugar. O mesmo vale para o escritório.
Inuyasha mal havia terminado de falar, quando cruzou o corredor em direção ao banheiro, deixando-a sozinha.
Dando de ombros, Kagome correu para o quarto de Inuyasha, confiante na missão impossível de limpá-lo antes que saísse do banho.
Obviamente, não conseguiu, e foi com terror que assistiu o hanyou irromper porta adentro, com nada mais que uma toalha cobrindo sua modéstia.
— Fora — rosnou ele, e Kagome não perdeu tempo em obedecer.
A visão do torso nu e molhado de Inuyasha ainda assombrava sua mente, quando ela decidiu ocupar sua cabeça e seus esforços no jantar.
Rapidamente, cozinhou uma sopa, prestando atenção redobrada nos temperos, para não adicionar nada que pudesse incomodar o paladar peculiar do hanyou.
Inuyasha desceu para comer, os cabelos ainda úmidos e uma toalha ao redor dos ombros, e Kagome aproveitou o momento para subir e terminar de limpar o quarto principal.
Quando retornou, o meio-yokai terminava seu prato, e a mulher mal conseguiu reprimir a sensação de alívio, por ao menos ter obtido sucesso no jantar.
— Só há um quarto na casa — Inuyasha anunciou, enquanto ela se servia.
— Eu percebi — respondeu simplesmente.
— Isso quer dizer que você dorme no sofá — continuou ele, com sua indiferença costumeira.
Kagome assentiu levemente e pôs-se a comer.
Largando o prato na pia, Inuyasha deixou o ambiente e subiu, retornando um par de minutos depois carregando um cobertor, um travesseiro e um par de lençóis, os quais deixou sobre o sofá.
— Há toalhas no banheiro, caso precise — avisou, antes de subir novamente, e Kagome deduziu corretamente que não mais o veria naquele dia.
A mulher terminou o jantar com calma, lavou os pratos e subiu, desejando poder desfrutar de um banho na banheira que havia esfregado arduamente mais cedo, antes de dormir.
Enquanto a água quente enchia a banheira, certificou-se que a porta estava trancada, antes de tirar toda a roupa.
Aguardando a água chegar em um nível aceitável, deparou-se com o seu reflexo nu, no espelho.
Kagome havia se familiarizado novamente com seu rosto, mas o mesmo não podia ser dito em relação ao seu corpo.
Com estranhamento, estudou-o, tanto quanto conseguia visualizar no espelho da pia.
As sardas nos ombros.
A cintura delgada.
Os seios volumosos o suficiente para encher suas próprias mãos.
O dia de trabalho havia passado, e agora não havia mais nada para distrair Kagome do fato que ela era uma desconhecida para si mesma.
Lamentando a própria sorte, prendeu os cabelos e entrou na água quente, mal conseguindo impedir que as lágrimas rolassem por seu rosto.
Inuyasha havia lhe concedido abrigo, mas havia sido claro em estabelecer que a situação era temporária. Kagome teria que deixar sua cabana e estabelecer um rumo para a própria vida e para a vida de seu filho.
Contendo o próprio desespero, lembrou-se que nada daquilo precisaria ser feito naquela noite.
Naquela noite, ela tinha um teto para dormir.
Um pouco mais calma, terminou o banho e saiu da água, secando-se e vestindo o pijama de flanela verde que havia resgatado pouco antes dentre as poucas coisas que tinha em sua mala.
Exausta, desceu, forrou o sofá e enfiou-se embaixo do grosso cobertor xadrez, aconchegando-se enquanto aguardava o sono apagá-la.
Dentre as preocupações com seu destino e a angústia de não saber quem era, uma imagem distraiu-a, retornando aos seus pensamentos: a figura do torso nu e molhado de Inuyasha.
Repentinamente aquecida, Kagome remexeu-se, incomodada.
Mesmo com tantos problemas em que estava afundada, suas prioridades pareciam invertidas.
Com um estalo de língua, zombou de si mesma.
Não deveria focar em Inuyasha, mas em uma maneira de salvar a si mesma.
Afinal, ele não tinha demonstrado qualquer interesse nela, de qualquer jeito.
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alura · 1 year
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AMNÉSIA
Capítulo I
Quando abriu os olhos novamente, tudo era branco.
Dessa vez, ela pôde assimilar a cor junto a uma intensa dor de cabeça. Gemendo, sentou-se, pois aparentemente estava deitada no que parecia, após uma constatação rápida, uma cama de hospital.
— Mas por que eu estou aqui? — resmungou, tentando forçar a própria mente, porém nada veio.
— Esperávamos que pudesse responder essa pergunta — a voz gentil e feminina comentou à sua esquerda, atraindo a atenção da mulher recém-desperta para outra, de olhos escuros gentis e longos cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo alto, a qual trajava um jaleco branco. — Sou Sango, clínica geral. Você foi trazida ao hospital ontem à noite após vagar pela floresta, Kagome. — explicou a médica.
De maneira quase automática, a mente da mulher hospitalizada trouxe de volta as lembranças de caminhar sozinha, no breu da floresta, até que se deparasse com uma cabana e o homem que a encontrou.
Homem que, aparentemente, estava sentado ao lado entre seu leito e a médica, e lhe lançava um olhar que duvidava conter apenas um sentimento, embora não pudesse defini-los além do fato de não serem positivos.
Mas ao menos agora, ela conseguia apreciar devidamente as características marcantes que sua mente, apesar de enevoada, registrou para mais tarde: os cabelos longos prateados, olhos tão dourados quanto o sol poente e a pele bronzeada. As orelhas caninas no topo de sua cabeça faziam um contraste interessante com os traços rudes e masculinos, mas não prejudicavam a constatação de ser o homem mais bonito que já vira.
— Kagome? — Sango chamou sua atenção, visto que aparentemente estivera babando.
No entanto, passado o momento de contemplação, uma intensa angústia apossou-se do interior da mulher hospitalizada.
— Kagome? — repetiu, perguntando. — Esse é meu nome?
A médica e o homem de cabelos prateados trocaram olhares arregalados antes de se voltarem para ela.
— Kagome?! Do que você se lembra antes de chegar aqui? — Sango perguntou, gentilmente.
— Além da floresta e de ter encontrado esse homem? — indagou, apontando para a dita pessoa. — Nada — acrescentou, enquanto lágrimas desesperadas rolavam por sua bochecha.
Era engraçada a maneira que a amnésia funcionava.
Ao menos sua amnésia.
Kagome sabia o que era um hospital. Sabia o que eram médicos e enfermeiros, e não estranhou quaisquer dos objetos contidos no quarto.
Ela sabia o que era gelatina e torceu o nariz quando lhe trouxeram para comer, porque aparentemente não gostava.
Ela sabia para que funcionava um interruptor de luz e a luz em si, sabia diferenciar dias e noites, meses e semanas, anos e séculos.
Ela até mesmo se retraía e choramingava cada vez que as enfermeiras adentravam o quarto para lhe injetar medicamentos, pois ela definitivamente sabia o que eram injeções.
Mas ela apenas sabia que era Kagome Higurashi, porque Sango lhe contara.
Ela somente tinha conhecimento do nome dos seus pais e avós, porque estava escrito nos documentos pessoais que localizaram na bolsa transversal que usava no momento em que vagava pela floresta.
Inferno, ela até mesmo tinha consciência de conceitos complexos, como a própria amnésia.
Ela apenas não lembrava nada relacionado a pessoas, seja ela própria ou qualquer outra que tenha conhecido no decorrer da vida.
Sua lembrança social mais antiga, tratava-se do momento em que acabou na porta da cabana de Inuyasha, o homem cujo nome agora sabia.
E cuja presença não era tão constante ao lado de seu leito quanto gostaria, embora sequer soubesse porque a desejava.
Em poucas trocas de palavras, Inuyasha se mostrou uma pessoa extremamente rude, que pouco considerou seu estado hospitalizado para lidar com ela.
Mas ele havia salvado sua vida, e ficou ao seu lado até que despertasse, embora tenha afirmado categoricamente nunca tê-la visto ate o momento em que apareceu vagando na parte da floresta situada ao lado de sua cabana.
Se ele fez isso por uma desconhecida, tinha que significar alguma coisa, certo?
A importância desse evento esmaeceu exponencialmente no momento em que uma Sango um tanto nervosa, retornou ao seu quarto com notícias.
Kagome sentiu-se atordoada, no momento em que a médica pesarosa terminou de falar.
Grávida.
Ela estava grávida.
Outro conceito que ela conhecia.
Droga, ela sabia até a mecânica de se fazer um bebê, mas não tinha ideia de com quem havia feito aquilo.
Tudo o que ela sabia era que estava em um quarto de hospital, com uma médica lhe olhando com pena e com um hanyou que parecia muito desconfortável com a coisa toda.
E com um filho na barriga. Um filho que sequer se lembrava se queria.
— Nós achamos um teste de farmácia na sua bolsa, e então fizemos exames para confirmar — Sango explicou. — Nós agendamos uma ultrassom e comunicamos a ala obstetrícia para que você possa ter uma consulta durante a internação. Assim teremos mais informações como tempo de gestação, saúde do feto e… — A mulher engoliu em seco antes de continuar. — Honestamente Kagome, em casos de amnésia eu não tenho certeza de como proceder quanto à possibilidade de interrupção da gravidez.
Ah sim, um aborto.
Outro conceito que a mente de Kagome conhecia.
Mas no momento, ela sequer sabia o que fazer consigo mesma, então como poderia decidir sobre a criança sem ter a menor ideia do que a Kagome pré-amnésia pensava sobre aquilo?
Sobrecarregada, encostou a cabeça no travesseiro e tornou a chorar baixinho.
—-
A mente de Kagome ficava mais e mais confusa, e a consulta com o obstetra não fez nada para melhorar isso.
Ela descobriu que estava grávida de seis semanas e que o feto aparentemente estava saudável.
Ela ouviu o coração dele.
E ela soube que em condições normais, poderia realizar a interrupção da gestação até a décima segunda semana, se assim desejasse.
Mas ainda estavam especulando como a amnésia interferiria naquilo.
Enquanto a equipe médica se dedicava às próprias divagações, Kagome tentava lidar com o instinto protetor que cresceu em seu interior a partir do momento em que escutou o coração de seu bebê.
E apesar da resolução de protegê-lo, sua angústia não cedeu. Pois afinal, e se a Kagome antes da amnésia não o quisesse? E se isso afetasse a vida que sequer conseguia se lembrar?
Como se as coisas não pudessem ficar mais estranhas, a presença de Inuyasha se tornou mais constante ao seu redor, o que fez apenas com que se sentisse mais miserável, pois ainda que ele permanecesse ao seu lado, não parecia exatamente confortável em fazer aquilo.
— Eu não sou uma boa pessoa — disse ele, do nada, quando o céu escurecia ao lado de fora.
— Por que isso, agora? — Kagome perguntou, cansada, apertando o espelho de mão com que havia se distraído por um tempo, familiarizando-se novamente com as próprias feições.
— Apenas senti que deveria dizer — o hanyou deu de ombros. — Você olha para mim como se eu fosse uma tábua de salvação, mas eu não sou. Eu não me importo com pessoas — afirmou, taxativamente, novamente evidenciando que a condição hospitalizada de Kagome pouco importava na medição de suas palavras e delicadeza.
— Você quer dizer que não se importa com humanos — corrigiu ela.
— Humanos, yokais ou hanyous. Não me importo com nenhum deles — Inuyasha deu de ombros.
Mas permaneceu ali.
No dia seguinte, Sango considerou que Kagome estava bem o suficiente para prestar seu depoimento à polícia. Inuyasha não se importou em disfarçar o próprio desconforto quando a médica anunciou que dois oficiais viriam ao hospital para inquiri-la, mas deixou o quarto sem protestos maiores que um rosnado em direção à Miroku e Koga, quando ele chegou.
— Eu sou um homem casado agora! — o oficial Miroku defendeu-se do que quer que Inuyasha estava lhe acusando.
— Meu problema não é com você — Inuyasha respondeu, entredentes, desviando o olhar para Koga, que lhe fitou de volta com superioridade. — Mas ainda acho que Sango só pode ter pedido o juízo por ter aceitado você — voltando-se para Miroku, foi a última coisa que o hanyou disse antes de deixar o quarto.
Kagome observou a troca com confusão, e apesar do próprio desconforto, não se absteve de iniciar a conversa com um diálogo descontraído sobre o fato de Miroku ser casado com Sango e adorá-la, apesar de a médica ser sempre desconfiada em relação ao seu passado mulherengo.
Ela se sentia mais confortável com ele, que com o oficial yokai, que a encarava como se ela fosse um pedaço de carne. Hospitalizada e vulnerável como estava, não era preciso muito esforço para interpretar a situação como totalmente inadequada.
Mas ela não teve muita energia para se concentrar nisso, uma vez que as perguntas começaram. Claro, havia apenas questionamentos, nenhuma resposta, apesar do fato de Miroku saber especular.
— O seu prontuário aponta que os traumas e cortes se assemelham a àqueles adquiridos em acidentes de trânsito. Não se lembra se dirigiu ou pegou carona naquela noite? — insistiu.
— Não lembro de nada antes de vagar pela floresta — era basicamente a resposta padrão de Kagome.
— Bem, com as informações que Inuyasha nos deu, podemos começar uma busca e averiguar a existência de veículos abandonados pela região — ponderou, voltando-se para Koga, que assentiu brevemente antes de questionar:
— E seu celular?
— Não fui encontrada com um — Kagome respondeu, dando de ombros.
— Pode ter se perdido no acidente — Miroku ponderou. — é comum as pessoas deixarem os telefones fora da bolsa quando estão em seus veículos.
— Mas o fato de Kagome ainda ter a bolsa presa ao seu corpo, demonstra pressa. Pela lógica, o aparelho deveria estar dentro dela — Koga insistiu, olhando para a mulher com desconfiança.
Kagome empertigou-se, irritada com o tom sugestivo do outro. Do que ele poderia estar desconfiado? O fato de ter perdido a memória lhe tornava suspeita de algum crime, por acaso?
— Se de fato encontrarmos o veículo, podemos fazer uma busca nos arredores. Talvez o aparelho tenha sido lançado fora — vendo o desconforto da outra, Miroku sugeriu. — Bom, nós não temos mais perguntas por enquanto, mas temos algumas informações que precisa sabe, Kagome — anunciou Miroku, com um ar de pesar ainda maior que o de Sango ao anunciar sua gravidez.
As razões, eram compreensíveis.
Quando Inuyasha retornou ao quarto, Kagome parecia mais derrotada que nunca.
— O que aconteceu? — indagou, apesar de todo seu discurso “não me importo com ninguém” anterior.
— Minha família está morta — Kagome anunciou. — A polícia pesquisou e parece que meu avô, minha mãe e meu irmão morreram em um acidente quando eu tinha 17 anos. Meu pai morreu quando eu tinha seis.
— Sinto muito — Inuyasha murmurou enquanto se sentava, embora não houvesse alteração em seu timbre.
— Eu passei por uma casa de acolhimento até os dezoito anos, mas é a última informação que eles conseguiram sobre mim — continuou. — Não há registros de emprego em quaisquer sindicatos. Não há redes sociais. Logicamente eu não sou deste vilarejo, já que ninguém me conhece, mas não acharam nada relevante nas cidades próximas também. É como se eu tivesse passado, o que, cinco anos sem existir? Já que minha identidade diz que tenho vinte e três — concluiu.
— Parece uma merda — o hanyou observou.
— O fato de eu não me lembrar de nada da minha própria vida e aparentemente não existir mais ninguém que possa fazer isso? Sim, é — concluiu, com sarcasmo. — E com a amnésia, há a possibilidade de eu ficar aos cuidados do governo e retornar para uma casa de acolhimento, já que minhas faculdades mentais estão em circunstâncias duvidosas — emendou.
Pela primeira vez, Kagome viu os olhos dourados de Inuyasha se arregalarem. Foi tão breve que ela quase duvidou da reação, visto que ele logo se recompôs.
Ainda assim, o que ele lhe disse, posteriormente, fez com que acreditasse não ter imaginado coisas:
— Não entre no sistema, Kagome — falou com seriedade. — Não vai querer criar seu filho desse jeito. Isso se eles a deixarem criar.
Os olhos da mulher se encheram de lágrimas.
— E o que espera que eu faça? Eu estou desamparada e sem memórias, Inuyasha! — finalmente explodiu, os olhos escorrendo lágrimas em ritmo torrencial.
O hanyou assumiu um semblante sombrio, antes de sugerir:
— Finja que lembrou.
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alura · 1 year
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AMNÉSIA
Sinopse: Kagome não possui qualquer lembrança anterior ao momento em que vagava pela floresta e deparou-se com a cabana de Inuyasha, um inu hanyou tão atraente quanto misterioso.
Ela luta para controlar os sentimentos que rapidamente afloraram pelo meio yokai, apesar de todos os alertas que ele lhe fizera para que permanecesse longe, quando começa a desconfiar que seu salvador rude pode não ser quem realmente aparenta.
Em meio ao caos dos próprios sentimentos e à ânsia de recuperar as próprias memórias, tudo o que Kagome quer é saber quem realmente é e como foi parar naquela floresta.
Se ela ao menos recordasse do ditado “cuidado com o que deseja”…
Notas: Sim, mais uma das fics que dificilmente serão continuadas. Eu particularmente amo este plot, porque é o meu único em que o foco principal é o mistério. Queria ter inspiração e tempo para continuar, mas não é a minha realidade.
Prólogo
Escuridão.
Deveria mesmo estar tão escuro? Pois apesar das enormes árvores ao redor e da copa folhada acima, a noite deveria ser um pouco mais clara, se os vislumbres de lua entre as frestas dos galhos indicasse alguma coisa.
Não que a mulher assimilasse isso.
Aparentemente, sua mente tinha perdido a capacidade de processar o ambiente ao seu redor.
Estava numa floresta?
No momento, sequer sabia o que era isso.
As árvores em seu caminho não passavam de obstáculos que seu corpo desviava automaticamente.
Automaticamente.
Era assim que parecia se mover. Como se num instinto de sobrevivência aflorasse a memória mecânica dos movimentos, fazendo com que ela se deslocasse sem rumo, os olhos não passando de meros auxiliares na tarefa de evitar possíveis choques e piorar os danos.
Não que ela sentisse qualquer coisa também. Ou talvez sentisse, mas a sobrecarga sensitiva deixou-a incapacitada de processar, como todo o resto.
O sangue na bochecha? Não sentia escorrer.
Os cortes nos braços e pernas? Pareciam não doer.
Os pés descalços, mal sentiam os efeitos do congelamento por caminharem contra a terra fria.
Ela seguiu em sua caminhada de sobrevivência, assemelhando-se muito ao que muitos chamariam de uma casca vazia, quando sua mente finalmente começou a desanuviar. Repentinamente, o raciocínio voltou ao mínimo, para que assimilasse o clarão em meio às árvores.
E seu corpo a levou direto para lá.
A confusão ainda embotava sua existência para que pudesse perceber que a cabana que havia alcançado significava ajuda.
Felizmente para ela, não houve necessidade de forçar sua mente ao razoável de ter que bater à porta para obtê-la.
Pois a porta abriu-se abruptamente, revelando a criatura que, em condições sãs, A mulher teria julgado como o homem mais lindo que já vira: olhos de ouro, cabelos de prata e pele de bronze. Um tesouro completo em um homem.
Sem surpresas, seus olhos castanhos vidrados não apreciaram as belíssimas características físicas do ser a sua frente, mas apenas começaram a se fechar, enquanto tudo girava e desaparecia.
Seu estado entorpecido, não permitiu que registrasse adequadamente o desespero contido nos olhos dourados do ser à sua frente, ou os gritos desesperados que ele emitia.
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alura · 1 year
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FREAKSHOW
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Capítulo V
Sem surpresa, as instalações da nova emissora para a qual Arturo Rodríguez trabalhava, eram decadentes, de modo que, por tabela, o departamento jornalístico era igualmente ruim.
Como esperado, ele não ganhou sua própria sala no novo jornal, mas um cubículo, que mal cabia sua escrivaninha, sua cadeira, e ele próprio. Ao menos consolava-se no fato de estar situado em um dos cantos, o que lhe concedia o benefício de ter duas paredes em seu espaço, uma delas com uma pequena janela e, a outra, sem qualquer detalhe especial além do papel do horrível papel de parede marrom e turquesa. Isto é, até que ele chegou ali e pendurou um enorme mural de cortiça, o qual já se encontrava repleto de recortes com as principais notícias da carreira dos Jivens Titãs, desde a que continha a primeira foto que tiraram oficialmente como um grupo, até aquela que vira no jornal digital na estação.
A linha do tempo que havia formado com os recortes, permitia que ele visse com mais facilidade as mudanças que o grupo sofrera ao longo dos anos. Enquanto a primeira foto exibia uma equipe que não passava de um bando de adolescentes que mal havia deixado a infância, com seus uniformes de cores vibrantes que gritavam suas personalidades, na última foto era possível constatar o amadurecimento dos heróis, tanto no aspecto físico, quanto no aspecto mental, mais perceptível na mudança de seus trajes, que embora seguissem a mesma paleta de cores, haviam adotado recortes e tons mais sóbrios.
— Uau, temos um obstinado aqui — a voz jocosa se sobrepôs à cacofonia constante da redação.
Arturo não fez questão de suprimir sua expressão de desgosto ao virar-se, o que apenas acentuou o desdém que o recém chegado trazia em seu semblante.
Arnold Denner cumulava os cargos de redator chefe e chefe de reportagem daquela pocilga, sendo, portanto, a pessoa que definia as pautas dos repórteres e filtrava as reportagens antes que passassem para o diretor e seu superior imediato. Em outras palavras, a principal pedra no sapato de Arturo, que sempre aparecia com os temas mais esdrúxulos — sério, aquele lugar precisava desesperadamente renovar a equipe de pauteiros —, impedindo-o de focar-se em notícias realmente relevantes.
A aparência do homem parecia tão desalinhada como tudo naquele lugar. Suas roupas e sapatos causavam a impressão de serem todas de um número maior, como se fossem herdadas de um irmão mais velho; os óculos de grau estavam sempre escorregando pela ponte do nariz. Nem os cabelos negros escapavam da desordem que era sua aparência, e lembravam constantemente a alguém que havia acabado de acordar. Todavia, Arturo não havia sido tolo em ignorar que havia inteligência, e até mesmo perspicácia, nos olhos quase negros de Arnold Denner. O fato de ele ter trabalhado na redação do Daily City News pelos últimos quinze anos o fazia duvidar seriamente disso, no entanto.
— Você vai cobrir o roubo dos guaxinins — avisou Denner, e Arturo estalou a língua em deboche.
— A menos que os guaxinins estivessem armados com pistolas, facas, ou o que quer que seja, duvido que haja um roubo para cobrir — zombou.
Apesar da troça, o semblante de Denner apenas tornou-se mais divertido.
— Você entendeu errado. Não é um caso de roubo, ou furto, como prefere, praticado por guaxinins. Os guaxinins é que foram furtados — esclareceu. — Um maluco da periferia da cidade criava um bando e o treinava para praticar pequenos furtos, e ontem à noite levaram todos eles.
O semblante de Arturo se contraiu. Não era exatamente o tipo de furto que um profissional de seu nível deveria cobrir, mas não deixava de ser uma situação curiosa.
— Vamos, eu sei que não é algo que alguém você merece cobrir, mas também não é tão ruim. — Arturo se surpreendeu com a maneira que Denner o leu com facilidade. — É por isso que a chefia mandou passar o caso para você. Uma cortesia de boas vindas — concluiu.
“Um prêmio de consolação”, foi o que Arturo pensou, enquanto observava Arnold Denner se afastar de seu cubículo.
— Vocês viram? O novato pegou o caso dos guaxinins — um de seus colegas de redação, que encontrava-se a dois cubículos de distância, avisou para a mulher que ocupava o módulo ao lado.
E apesar ter ficado subitamente enfurecido por ter sido chamado de novato, o que realmente chamou a atenção de Arturo foi o fato de aquelas pessoas considerarem que ele tirou a sorte grande por cobrir o furto dos guaxinins.
Realmente, havia caído em um antro de insanidade.
— Quem diria que os Titãs deixariam de ser meus captores para se tornarem meus guarda-costas — Neil Richards, na maior parte do tempo referido por Mad Mod, vangloriou-se, encarando Ravena com uma feição zombeteira e fazendo com que ela se questionasse o que era mais irritante: seu timbre agudo ou seu sotaque britânico.
Apesar da provocação e das risadinhas vindas dos detentos das celas vizinhas, a empata escolheu fazer o que fazia de melhor: ignorá-lo e apenas vigiá-lo através das grades que os separavam.
Uma veia pulsou na testa enrugada do vilão.
— Não acham que se estamos sob a iminência de um ataque, deveríamos saber mais informações? — indagou o velho, irritado, atraindo murmúrios de apoio.
— A direção do presídio foi informada de tudo que é necessário — respondeu ela, calmamente, embora aquilo fosse apenas uma meia verdade.
Em minutos, a maior parte da equipe principal dos Titãs faria uma reunião na sala de operações da Torre, na qual Robin compartilharia suas últimas descobertas. Ravena acompanharia por chamada com o ponto eletrônico, já que havia sido elegida pelo jovem prodígio para ficar responsável pela segurança do próximo alvo.
A empata entendia a escolha do líder. Ela era um dos membros da equipe que poderia circular pelo presídio sem comprometer a segurança do local, já que seu poder permitia que atravessasse as portas e grades, ou se teleportasse entre elas. Ainda, contava com as habilidades emergenciais de cura e de poder abrir um portal para trazer o restante de sua equipe ante o menor sinal de perigo. Isso não significava que achava a tarefa divertida.
Ela já havia aprendido a lidar com a sua empatia em meio à multidões, mas estar em lugares como aqueles, onde os sentimentos perversos praticamente transbordavam entre as grades, tornava as coisas, no mínimo, desconfortáveis.
E agora ainda havia a ansiedade.
Em conjunto com a polícia investigativa e o departamento de segurança da penitenciária, Robin decidira não compartilhar com os prisioneiros a informação que se tornaram possíveis alvos de um assassino em série, atribuindo a presença de Ravena ali a uma suposta ameaça de ataque.
Isso dividiu os sentimentos dos detentos. Era como se todos eles sentissem simultaneamente o temor de serem atingidos e a excitação de uma possibilidade de fuga.
Mas Mod inclusive. Ele não tinha a menor ideia que a empata estava ali para protegê-lo especificamente, e não guardar todo o pavilhão, como os prisioneiros haviam sido informados.
— Como se pudéssemos nos sentir seguros com as migalhas que forneceram, Bruxa — Mad Mod resmungou, antes de caminhar até o leito de sua cela e deitar-se casualmente de lado, como se Ravena não estivesse ali.
Os olhos da empata se estreitaram por baixo do capuz, enquanto uma nova onda de risadas se espalhava pelo pavilhão.
— Ela é das trevas, mas eu pegava — um dos detentos comentou, intensificando a zombaria geral.
Ravena apertou a ponte do nariz, percebendo repentinamente que não estava tão preocupada com o bem estar de Mad Mod assim.
Felizmente, a voz de Ciborgue começou a ser transmitida pelo ponto eletrônico, lhe dando a opção bem vinda de se concentrar em outra coisa além de ter que suprimir os gritos de sua emoção vermelha em sua mente.
— Será que é agora que você vai nos dizer o que descobriu que é grave o suficiente para você ter feito a Ravena abrir um portal direto para a penitenciária e deixá-la plantada lá antes de saber com quem estamos lidando? — Ciborgue indagou.
— Sim, eu gostaria de saber disso — a voz de Ravena ecoou pelo alto falante lembrando-os que ela acompanhava o diálogo do presídio, usando um ponto eletrônico.
— Nós já sabemos o próximo alvo, mas não sabemos quando o criminoso atacará — o líder justificou-se.
— Cara, nós sabemos que apesar de tudo, essa não é a principal razão — Mutano argumentou.
— Você já tem uma suspeita de quem seja o homicida, não tem? — Estelar indagou.
Para responder, Robin pegou as cópias impressas das cenas dos três homicídios e, com um pincel marcador vermelho, começou a traçar linhas que iniciavam na cabeça, passavam pelos troncos, pernas e terminavam nos pés dos cadáveres.
— Cara, você não pode estar falando sério — Mutano comentou, observando o formato familiar que resultou dos desenhos feitos sobre os corpos de Conley e Bolton.
O formato da letra “S”.
— O que exatamente está acontecendo aí? — O questionamento de Ravena ecoou pelos altos falantes.
— Isso não bate, Robin. Fagan morreu em uma posição diferente — lembrou Ciborgue, observando o registro do detento com a cabeça enfiada no vaso sanitário.
Sem dizer nada ainda, Robin começou novamente a desenhar com o marcador, dessa vez, iniciando sobre o vaso, onde estimava que a cabeça do criminoso estaria, passando pelo tronco e joelhos dobrados e terminando nos pés.
Um “S” novamente.
— De novo, o que está acontecendo? Se vocês não forem transmitir suas conclusões, avisem de uma vez e eu encerro a transmissão — a empata reclamou, o timbre apático levemente alterado fazendo com que Ciborgue se apressasse em registrar uma foto das três figuras rabiscadas com seu comunicador e enviasse para ela. — Oh! — a exclamação que veio pouco tempo depois denunciou que ela havia sido rápida em compreender o contexto.
— Não sei, cara… — Mutano comentou, incerto. — O Slade não dá notícias há anos. E mesmo que soubéssemos ele daria as caras algum dia, homicídios em série não faz o tipo dele — observou, com cautela.
— Tem certeza que não está enxergando o que está querendo enxergar? — Ravena foi mais incisiva. — Talvez seja sua mente automaticamente buscando justificativas para esse sumiço de longo prazo — Ciborgue complementou.
— Eu sei que parece obstinação — Robin parecia chateado com a resignação da equipe, mas não os culpava. Sempre que havia a possibilidade do envolvimento do vilão da máscara laranja, ele tendia a se tornar obcecado. — Por isso eu fui ao presidio em busca de outras pistas, antes de discutir isso com vocês.
— Slade sempre nos deixa avisos de que está agindo — Estelar lembrou.
— Exato — Robin concordou. — A princípio, eu não encontrei nada, mas depois que vocês informaram o nome do próximo alvo — começou, enquanto abria no monitor principal a planta baixa da penitenciária. —, eu vi isso — completou, desenhando com uma caneta digital uma linha que começava na cela de Conley, passava pela de Fagan no pavilhão à esquerda, retornava para a cela de Bolton no pavilhão da direita e terminava novamente no pavilhão da esquerda, sobre a cela do novo alvo, Mad Mod.
Mais um “S”.
Sem perder tempo, enviou um print do mapa para o comunicador de Ravena.
— De fato, muitas coincidências. Seríamos levianos em ignorá-las apenas por nossa cautela em razão de seu histórico conturbado com Slade — a tamaraneana falou, e embora soubesse que se tratava de um apoio, Robin não pôde deixar de se sentir repreendido também.
— Quando o Slade está envolvido, não é difícil nós só descobrirmos o que ele quer que saibamos — Ciborgue lembrou, jogando-se contra a cadeira, finalmente aceitando a possibilidade, o que lhe trouxe um gosto muito amargo na boca. Robin podia até ter uma tendência maior de investigação maníaca em qualquer caso que abrisse possibilidade para a participação do vilão mascarado, mas o fato é que todos eles haviam sido muito feridos por ele.
“Uns mais que os outros”, foi o que se lembrou ao notar a expressão apavorada que Estelar mantinha, e a dor que havia acendido no olhar de Mutano.
— E o fato de ele ter elegido um vilão conhecido logo após nosso envolvimento nas investigações, apenas reforça isso — Robin continuou. — Ele queria que nos envolvêssemos e já começou a mover suas peças. O ponto é, o que ele está planejando dessa vez? Como Mutano observou, o título de homicida em série não combina muito com ele. Considerando os padrões de ataque do Slade, podemos concluir que esses homicídios são um meio para um fim.
— Mas para variar, temos pistas de que ele está envolvido, mas nenhuma em relação à sua intenção — Mutano comentou, desanimado.
— No momento, nossa prioridade é a proteção das vítimas. É por isso que mandei Ravena para lá, já que não sabemos quando ou como ele atacará, e ela tem habilidades de cura que podem ser cruciais — o líder explanou.
— Se impedirmos as mortes, atrapalharemos seu objetivo — Estelar seguiu o raciocínio.
— E com isso ganhamos tempo para investigar seus verdadeiros intentos — Robin concluiu, sentindo-se minimamente satisfeito pelo curso de ação ter aliviado um pouco a desolação que caíra sobre sua equipe.
Contudo, qualquer alívio foi destroçado pelo grito de gelar a alma que ecoou pelos altos falantes.
— Não!!! — o timbre de Ravena era desesperado.
— Ravena! O que está acontecendo aí? — Robin foi o primeiro a perguntar, mas antes mesmo que terminasse de expressar sua preocupação, um falcão peregrino de estranha colocação verde voava para fora da Torre pela janela.
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alura · 2 years
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Sinopse: Os Titãs já não eram tão jovens.
Novos romances surgem, os antigos continuam, tudo isso em meio a casos de homicídios em série, ao retorno de antigos inimigos e ao surgimento de novos, todos dispostos não apenas a tomar a vida dos heróis, mas também a destruir a reputação que construíram e tornar a existência deles miserável antes que o momento chegasse.
A amizade e as convicções que construíram durante anos seriam sólidas o suficientes para resistir à pressão popular e ao terror psicológico dos oponentes?
Capítulo IV
Como esperado, Robin não teve problemas para conseguir autorização para examinar as celas onde ocorreram os dois primeiros homicídios — embora tenha mantido o fato que já tinha conhecimento que as mortes não tratavam-se de suicídios para si mesmo. Não queria arriscar outro anúncio precipitado para a imprensa.
Com rápidos comandos emitidos pela direção do presídio via rádio, logo os novos detentos que ocupavam as celas foram removidos, para que o Titã pudesse fazer seu trabalho.
— Neste pavilhão se localizam as celas onde ficavam encarcerados Conley e Bolton. Fagan era do pavilhão seguinte — avisou um dos agentes penitenciários, enquanto caminhavam pelos corredores.
— Quero visitar as celas na ordem das mortes — o líder dos Titãs declarou, e embora os carcereiros não tenham dito nada, praticamente podia sentir a insatisfação emanando deles, uma vez que para isso, teriam que se deslocar a outro pavilhão, e então retornar para o que estavam.
Robin compreendia que sua atitude poderia não aparentar muita lógica, mas considerando que estavam atrás de um homicida em série, uma das linhas investigativas para tentar compreender a dinâmica de seu comportamento, era seguir a ordem dos crimes, então assim faria. Mesmo que suas deduções iniciais tenham lhe apontado que não estavam lidando exatamente com alguém que matava pelo prazer de matar.
Chegando na cela de Fagan, examinou minuciosamente o local. Não se deu ao trabalho de colher impressões papiloscópicas, uma vez que a cena do crime já havia sido “manchada”, mas certificou-se de conferir se os peritos não haviam perdido algumas pistas.
Não perderam, assim como não perderam na cela de Fagan. A cela de Bolton, o próprio Robin havia verificado antes que removessem o corpo ou que a perícia fosse acionada, mas voltou até ela mesmo assim, cuidando de prestar atenção na segurança no acesso e nas posições das câmeras de monitoramento pelos corredores.
Quando alcançou a cela de Bolton, suprimiu a vontade de gemer de frustração em razão da busca infrutífera.
Não havia encontrado nenhuma pista, mas se ele estivesse mesmo lidando com quem acreditava estar, sabia que haveria uma, não por descuido, mas por vontade do criminoso.
— Preciso de uma planta da unidade prisional — avisou aos agentes. — De preferência, uma que inclua especificações elétricas, hidráulicas e do sistema de ventilação — especificou.
— Podemos acessar da sala de segurança — os agentes disseram e imediatamente o grupo começou a se dirigir para lá.
— Ele disse para olharmos as fotos dos inquéritos, mas tirando o fato que os homicídios foram cometidos para parecer suicídio, não vejo semelhanças relevantes nas cenas dos crimes — Ciborgue comentou, observando as três fotos dos homicídios investigados que escolhera destacar no monitor gigante da sala de reuniões.
Uma vez que ele e Ravena terminaram o serviço de cruzamento de informações mais depressa — nada surpreendente se você tem um cérebro que pode acessar mecanismos de busca, ou poderes telecinéticos que podem pressionar as teclas do computador enquanto suas mãos se ocupam de outra forma —, decidiram seguir a pista do líder e revisar as fotos que registraram as cenas do crime.
No entanto, suas análises não estavam alcançando resultados muito positivos.
— A posição da cabeça e das pernas nos casos do Conley e do Bolton coincidem — Ravena observou, notando que a cabeça de Conley pendia para a esquerda dele e, suas pernas, depois que o pescoço cedeu na corda em que fora enforcado, permaneceram caídas no chão, apontadas para a direita. Os mesmos sentidos que a cabeça e as pernas de Bolton apontavam, embora este tivesse morrido no chão, em meio a uma poça do próprio sangue.
— É, mas o Fagan morreu afogado na privada. Ou seja, de joelhos, com a cabeça abaixada — o meio robô lembrou.
— Bom, alguma coisa o Robin viu. E foi ruim o suficiente para perturbá-lo além do fardo de um homicida em série para localizar — informou, reforçando a teoria de seus colegas com suas habilidades empáticas.
Nem o meio robô, nem a empata ignoraram que, mesmo sem deixar de encarar o monitor do computador que vinha trabalhando, o cenho de Estelar franziu em chateação.
— Então, vamos continuar olhando — Ciborgue declarou, voltando a passar todas as fotografias que instruíam os inquéritos no telão, uma por vez.
— Err, gente… — Mutano chamou, fazendo com que Ravena, Ciborgue e Estelar cessassem suas atividades para fitá-lo. — Encontrei o próximo alvo — avisou, digitando alguns comandos no computador que utilizava para projetar a própria tela no monitor que o meio-robô e a empata vinham usando. — O obituário foi publicado hoje de manhã — completou.
Os quatro Titãs encaravam a tela, onde eram exibidos, simultaneamente, o obituário e a ficha carcerária da vítima em questão, embora os olhos de Estelar, Ravena e Ciborgue, se fixassem nesta última, que continha a foto do prisioneiro.
Após um breve momento de silêncio, foi a empata quem primeiro se manifestou:
— Quem quer que seja o homicida, decididamente resolveu sair do campo da discrição.
Estudando o display onde era exibida a planta baixa da penitenciária, Robin não encontrou nada nos sistemas elétricos, hidráulicos ou de ventilação que sugeria uma ligação especial entre as celas das vítimas.
Frustrado, analisou a posição dos três pontos mais uma vez. Interligando-os, formaria um triângulo retângulo, em que a linha entre as celas de Conley e Fagan seria hipotenusa; de Fagan a Bolton, estaria o cateto adjacente, e de Bolton a Conley, o cateto oposto. Era estranho, sim, considerando que a triangulação de locais de crimes, na maioria das vezes, gerava a forma de um triângulo isósceles, dada a irregularidade entre seus ângulos e lados. No entanto, no contexto, não aparentava ser um fato relevante. No fim, sua visita no presídio não havia resultado em elementos que reforçassem sua teoria.
— Vou querer uma cópia disso — apontando para a tela, pediu para o agente que o acompanhava, o qual apenas afirmou que mandaria por e-mail.
Percebendo que não havia mais nada a fazer ali, o líder dos Titãs refletia sobre como contaria sua teoria a seus amigos, sem que eles lhe julgassem como um louco obstinado, quando seu comunicador tocou a sequência de bipes característicos.
— Falando nos diabos — murmurou antes de atender. — Robin na escuta — informou, encarando a imagem de Ciborgue exibida no pequeno display.
— Err… Cara… Nós achamos o próximo… Cara — o meio-robô informou, atrapalhadamente e cautelosamente, não querendo transmitir aspectos sigilosos da investigação, uma vez que não sabia de quem o líder estava perto.
— Alguém que conhecemos? — indagou.
— Definitivamente conhecemos — a voz sarcástica de Ravena parecia um pouco distante, mas era perfeitamente audível ainda assim.
— Me envie os dados — pediu o jovem prodígio e Ciborgue assentiu, antes de desligar.
Segundos depois, um novo bipe em seu comunicador e Robin viu-se encarando a ficha de um prisioneiro que conhecia bem.
— Acho que alguém decidiu que é a hora de chamar nossa atenção — pensou, antes de voltar-se para o agente penitenciário. — Pode me mostrar onde fica a cela do prisioneiro Neil Richards? — pediu, sem se preocupar em alardear os funcionários do presídio. Afinal, eles precisariam informá-los se fossem tentar impedir o próximo crime, de qualquer maneira.
O agente estudou o monitor alguns segundos, antes de indicar o local com o dedo: um ponto abaixo de onde se localizava a cela de Fagan.
A expressão de Robin tornou-se instantaneamente mais sombria.
Sua visita à penitenciária não havia sido infrutífera, afinal.
Aparentemente, estava certo em sua teoria. Mas qualquer divindade existente saberia o quanto o Jovem Prodígio desejara estar errado.
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alura · 2 years
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Sinopse: Os Titãs já não eram tão jovens.
Novos romances surgem, os antigos continuam, tudo isso em meio a casos de homicídios em série, ao retorno de antigos inimigos e ao surgimento de novos, todos dispostos não apenas a tomar a vida dos heróis, mas também a destruir a reputação que construíram e tornar a existência deles miserável antes que o momento chegasse.
A amizade e as convicções que construíram durante anos seriam sólidas o suficientes para resistir à pressão popular e ao terror psicológico dos oponentes?
Notas: Está é uma das fics que eu não tenho perspectiva de terminar, mas acabei começando.
Capítulo III
Antes da parada do trem, Arturo Rodríguez fitou o céu com desgosto, através do vidro embaçado da janela.
Muito azul. Muito irritante. Completamente diferente da atmosfera cinzenta e sombria de Gotham, provocada pela fumaça e pela poluição.
Não conseguiu evitar de se sentir miserável e revoltado enquanto apanhava suas bagagens e descia do vagão. Aquela era a sua realidade agora. Viver numa cidade de idiotas. Até já se sentia como um.
Se ele tivesse que definir Jump City em um termo, seria “decepcionante”. A cidade com habitantes dóceis e heróis juvenis que não eram nada menos que adorados pela população local, por sempre a defender de uma cota imensa de vilões bizarros.
Tinha, sim, que admitir os Titãs tinham alguns feitos memoráveis em suas fichas, considerando que tratam-se de uma equipe que iniciou com adolescentes independentes, recém saídos da infância. Ele não era alheio ao evento que quase destruíra o mundo em fogo e pedra anos atrás (o que quer que tenha provocado aquilo), à coleção de vilões congelados que eles haviam enviado aos presídios ao derrotarem a Irmandade Negra, ou à conspiração envolvendo o serviço policial de Tóquio que derrubaram. E ainda havia Slade, o vilão psicopata que afugentaram mais de uma vez.
Mas feitos memoráveis à parte, o histórico perfeito da equipe era chato; o modo que os populares os idolatravam, mais ainda. Era quase como se toda Jump City tivesse saído de um quadrinho dos anos oitenta: vilões atacam, heróis salvam, cidade exalta. Muito diferente de Gothan City, onde a corrupção emanava de cada rachadura de parede e sempre havia conspirações para averiguar e transformar em um escândalo. Por isso era o cúmulo da hipocrisia ser demitido por suspeitas de envolvimento em esquemas de corrupção e favorecimento de vilões, em um Município onde o corrompimento vinha de berço.
Ele, jornalista que havia conquistado seu próprio programa, viu-se obrigado a voltar a cobrir reportagens externas e a escrever matérias digitais para um jornaleco de qualidade duvidosa em Jump City, por ser o único estabelecimento no país que aceitou contratá-lo com seu histórico. E por recebê-lo, viam-se como generosos o suficiente, ao ponto de não acharem necessário o pagamento de um salário decente. Com o que ganharia, mal poderia pagar um quarto na periferia da cidade.
Afastando-se do trem, riu da própria desgraça, enquanto entranhava os dedos da mão livre de bagagens entre os cabelos castanhos, gesto que evidenciava seu real desespero.
Estava acabado.
Não querendo gastar o pouco que tinha com um táxi, preparou-se para pedir informações a respeito da estação de metrô mais próxima, quando seus olhos cor de café se fixaram na notícia publicada no jornal digital exibido em uma das inúmeras telas espalhadas pela estação. Mal preocupou-se em ler o título. O que lhe chamou a atenção, foi a fotografia que a acompanhava: Robin, o jovem prodígio, entregando um bandido algemado à polícia, enquanto os demais Titãs ajudavam os civis ao fundo. Uma onda de familiaridade, seguida por ressentimento, o atingiu. Ele reconhecia aquela postura, aquela confiança, mesmo que fosse em outra pessoa. Naquele momento, sentiu como se o ódio pudesse consumi-lo e viu-se à beira de um dos inúmeros ataques de raiva que tivera nos últimos dias.
No entanto, respirou profundamente e acalmou-se, a semente de um plano plantando-se em sua mente.
Ele não estava totalmente acabado. Ainda não.
Arturo Rodríguez podia ter sido afastado do mentor, mas ainda estava perto do pupilo. Foi o que ele pensou ao encarar a fotografia que acompanhava a notícia uma última vez.
Como de costume, os Titãs haviam pulado cedo da cama. Se seguissem a programação semanal normalmente, teriam um treino de combate naquela manhã. No entanto, receberam em seus comunicadores uma notificação do líder da equipe, de se direcionarem à sala de reuniões assim que terminassem o café da manhã, o que demonstrava que não teriam um dia fácil.
O fato de o ruído de fritura vindo da frigideira que Ciborgue remexia ser o único barulho presente na cozinha, evidenciava o desânimo geral com a perspectiva do dia que tinham à frente.
— Robin não vem para o café? — Ciborgue indagou, ao colocar os ovos mexidos e uma torre de waffles sobre a mesa.
— Ele sequer veio para a cama — Estelar respondeu, nitidamente preocupada e alheia ao modo que Ciborgue engasgou com os waffles, ao assimilar suas palavras.
A princesa Tamaraneana ainda era tímida ao propor aprofundar sua intimidade com o namorado, mas deixava escapar normalmente — e sem perceber — detalhes do relacionamento do casal para o resto da equipe.
— Isso explica porque eu dormi tão bem — Ravena murmurou, baixo demais, mas não o suficiente para impedir de ser ouvida pelo membro de audição avançada da equipe.
Dessa vez, Mutano foi quem engasgou, espirrando café pelo nariz, em meio ao acesso de riso que o acometeu.
Após o metamorfo recuperar-se, trocou um olhar cúmplice com a empata.
Na noite anterior, enquanto deixava a sala de reuniões, não conseguiu evitar que sua audição avançada captasse a proposta indecente que Estelar fez a Robin. Quase ao mesmo tempo, Ravena estremeceu ao seu lado, o que o fez deduzir que a empata sentira uma onda de luxúria emanando do casal.
Isso significava que os dois provavelmente teriam uma noite complicada. De novo. Diante da conclusão, ambos gemeram em desânimo, consolando-se com o fato que já não era tão ruim quanto meses atrás.
Fazia algum tempo que Mutano percebeu, por acaso, que os momentos de descoberta do novo casal da Torre vinham tirando o sono de Ravena tanto quanto o dele. Pensando bem, ele não deveria ter demorado tanto a notar, pois ela era uma empata, afinal. Se ele, com seus sentidos animais conseguia escutar cada gemido e sentir cada cheiro que Robin e Estelar exalavam, evidentemente, Ravena poderia captar cada emoção.
Foi numa das noites que ele desistiu de dormir e foi para a sala comum assistir alguma coisa (sem se preocupar com a altura do volume da TV, porque se ele não estava dormindo por causa dos outros, pouco se importava se os outros não estavam dormindo por causa dele), que acabou se encontrando com Ravena, que chegou pouco depois, também desacreditada da hipótese de uma boa noite de sono e desesperada por uma boa caneca de chá.
Por não ter nada melhor para fazer e diante da perspectiva de receber uma caneca de chá calmante, Mutano acabou por conversar com a empata, e foi durante um diálogo particularmente coberto de animosidade que ele começou a ouvir os ruídos que denunciavam que, bem, Robin e Estelar haviam acabado mais uma vez.
“Paredes a prova de som a minha bunda, Cib!”, pensou com amargura, tentando desesperadamente manter um comportamento normal diante da amiga.
Que, no entanto, empalidecera como um cadáver.
Foi nesse momento em que uma chave clicou em sua mente e ele percebeu que a companheira de time passava por uma situação semelhante à sua. E por mais que fosse constrangedor o estopim de toda aquela situação, ele não podia simplesmente deixar sua descoberta de lado, agora que finalmente tinha alguém para desabafar.
— Eu não sei do que você… — na ocasião, Ravena tentou se fazer de desentendida, mas o metamorfo mostrou que não se deixaria enrolar.
— Robin e Estelar estão fazendo sexo! — exclamou, colocando ambas as mãos no balcão marmorizado. — E você sente isso por causa dos seus poderes — emendou.
A heroína suspirou derrotada.
— Assim como você — resmungou ela, de forma rabugenta, tentando expressar o quanto ela não gostava do assunto em pauta.
— Assim como eu — confirmou.
— Ok, então nós podemos fingir que essa conversa imprópria nunca aconteceu e seguirmos com as nossas vidas ignorando esse fato — decidiu a garota.
— O quê? Não! — protestou. — Eu aguentei meses sem falar nada a ninguém e agora que sei que alguém passa pela mesma coisa, não posso simplesmente manter isso para mim mesmo — reclamou.
— Ok, se eu entendi direito você quer conversar sobre como tem captado por meses as atividades que Robin e Estelar se envolvem na privacidade do quarto deles. Comigo — Ravena parecia incrédula ao apontar para si mesma.
— Não — negou. — Eu quero desabafar com alguém que entenda o que estou passando, sobre como eu tenho tido um sono péssimo nos últimos meses - retrucou. — E sobre como precisei ficar noites acordado assistindo alguma coisa, ouvindo música ou até mesmo chegar ao ponto de sair da torre, apenas para não ouvir ou sentir o cheiro do que eles faziam — continuou —, só para no dia seguinte ser tratado como um irresponsável pelo Robin, porque estou cansado demais para treinar — completou, irritado.
Bom, ela parecia envergonhada após sua pequena explosão: Mutano sentiu mais orgulho que culpa com o fato.
— É por isso que você vem assistindo televisão até de madrugada - concluiu a empata.
— Bom, não dá para sair da torre sempre que eles fazem isso, então tenho que me acostumar à situação, ocupando minha mente com algo que me distraia da conversa deles durante o… Você sabe — emendou envergonhado, notando que a companheira de time corou também. — E você? O que faz para não enlouquecer nessas horas? - perguntou. — Honestamente, preciso de sugestões, se tiver alguma.
— Nada funciona, na verdade — ela parecia desanimada. — Eu não consigo me concentrar o suficiente para meditar, e não é como se qualquer outra atividade que eu faça pudesse ajudar. Empatia não é um sentido a ser bloqueado — explicou. — As vezes, quando estou no meu limite, também saio da torre, para algum ponto distante da cidade, ou mesmo para outra dimensão. Mas não é como se eu me sentisse segura para dormir em qualquer desses lugares — completou.
— Ok, estamos ambos ferrados então — foi o que concluiu, desolado, enquanto caminhava em direção ao sofá, com sua xícara de chá, sendo acompanhado de perto pela empata.
Mas a conversa não acabou ali. De alguma maneira, em meio ao sentimento de miséria em que estavam afundados, Mutano e Ravena concluíram que o que não funcionava para eles próprios, poderia funcionar um para o outro.
Foi a conversa mais estranha da vida de ambos mas, de alguma maneira, suavizou o problema que vinham enfrentando.
A partir de então, Ravena passou a ser vista, com mais frequência, na companhia do metamorfo, assistindo séries e filmes de ficção (Mutano ainda se divertia com a maneira que os olhos de seus companheiros de time pareciam prestes a cair de seus rostos, tamanha a surpresa que sentiram ao testemunhar a cena pela primeira vez).
Por outro lado, Mutano começou a meditar com ela, a fim de ter um domínio maior de seus sentidos. E por mais que achasse a atividade um saco, tinha que admitir que ela não ajudou apenas com a situação que envolvia Robin e Estelar, mas com outro problema, que o afligia ainda mais, o qual não compartilhou com ninguém.
— Apenas ajudou. Você sabe que ainda estou aqui — aquela voz interior que desprezava, manifestou-se novamente.
— Cala a boca — o metamorfo pensou, suprimindo-a com muito mais facilidade agora. De fato, a meditação não apenas tornou mais fácil controlar essa voz em sua mente, como tornou as situações em que ela se pronunciava muito mais raras.
Percebendo que Ravena o encarava com incerteza, o mutante sorriu para ela, que sorriu de volta, antes que ambos voltassem suas atenções para os pratos diante deles.
Do lado oposto da mesa, Ciborgue franzia o cenho metade humano.
Fazia algum tempo que percebera que Mutano e Ravena haviam se tornado mais próximos, de alguma maneira, mas tentava não estranhar o fato, considerando que Robin e Estelar passavam grande parte de seu tempo livre juntos e ele mesmo constantemente prestava auxílio em centros de tecnologia, quando não estava pulando de, “gata em gata”, como gostava de definir. Isso fez com que, involuntariamente, o metamorfo e a empata, constantemente, se vissem como a única companhia um do outro.
Não que a Ravena fosse a pessoa mais sociável que existia, mas ela não era totalmente reclusa também, certo? Frequentemente assistindo filmes com os amigos, saindo para as noites da pizza ou no parque, disputando partidas de bola fedida e até mesmo meditando em áreas comuns. Inevitavelmente, eles acabariam se aproximando, ao menos era o que a mente de Ciborgue processava, para evitar explodir.
Dando de ombros, também voltou sua atenção para seus waffles, e logo o silêncio se instalou novamente, cada Titã se alimentando enquanto remoía seus próprios pensamentos.
Isto é, até que a voz de Robin gritou com eles pelo auto-falante, para que comessem depressa e comparecessem logo na sala de reuniões.
Ciborgue, Mutano e Ravena ocuparam seus lugares ao redor da mesa de reuniões, enquanto Estelar flutuava até onde Robin estava acomodado para colocar diante dele uma caneca de café e um prato com torradas.
— Bem, vamos começar — disse o líder, jogando ao centro da mesa quatro maços de papel idênticos, que não demoraram a ser apanhados pelos demais Titãs. — Observem as três primeiras folhas — orientou, antes de pegar a caneca e sorver um longo gole, ignorando as torradas.
— São obituários — Ciborgue comentou. — Ih, o do Bolton já saiu? Você não disse que pediu para eles não divulgarem a morte dele para a imprensa ainda? — questionou, olhando para o líder.
— Parece que fomos ignorados — Ravena comentou, sem expressar qualquer emoção.
— Os outros dois são dos outros detentos que se mataram? — Estelar indagou, passando os olhos pelos nomes Norman Conley e Jordan Fagan, sem reconhecê-los.
O líder engoliu mais um gole de café, antes de responder:
— Sim, também encontrei os obituários dos outros prisioneiros que se suicidaram — falou, olhando para Estelar. — E sim, inicialmente também pensei que fomos ignorados — continuou, voltando-se para Ravena. — Mas olhem com mais atenção. As cópias dos boletins de ocorrência policial que notificaram as mortes estão nas folhas de baixo — instigou, sempre testando a capacidade dedutiva de sua equipe.
Apenas então, ele apanhou uma das torradas e deu uma mordida, apreciando o sabor da geleia de frutas vermelhas enquanto notava a mudança no comportamento do grupo.
Ravena foi a primeira a adotar uma postura mais rígida, o olhar tornando-se ainda mais sombrio. Pouco depois, Ciborgue expressou sua compreensão praguejando em voz alta. Quase em seguida, os olhos verdes fluorescentes de Estelar se arregalaram, ao mesmo tempo que uma interjeição de surpresa abandonava sua garganta. Finalmente, Mutano assumiu uma expressão chocada e, como membro mais vocal que era, narrou a descoberta em voz alta:
— Os obituários foram publicados dias antes das mortes! — esganiçou. — Todos eles! Isso quer dizer que…
— Estamos diante de um caso de homicídios em série — Ciborgue concluiu.
— E ele está avisando previamente quais serão seus alvos — Estelar acrescentou.
— As três vítimas até o momento são criminosos que já foram capturados por nós, pelo menos uma vez — Ravena observou, folheando as últimas páginas do maço, onde estavam as fichas carcerárias.
Apesar do clima sombrio que havia se instalado, Robin sentiu-se satisfeito com a rapidez de sua equipe.
— Nós ainda não temos elementos o suficiente para concluir que o autor dos crimes é um psicopata, porque não há padrão na aparência das vítimas ou no modo de execução — explicou. — As únicas características que coincidem entre Bolton, Conley e Fagan, são os fatos de serem criminosos em cumprimento de pena e de terem sido capturados pelos Titãs em algum momento, embora essa última circunstância possa ser uma coincidência, dada a quantidade de chamados que atendemos ao longo dos anos. Não a ignoraremos, no entanto — anunciou, apanhando outro maço de papel, que até então tinha estado à sua frente, na mesa. — Vamos começar cruzando informações. Aqui está a lista de todos os criminosos em cumprimento de pena na Penitenciária de Jump City, e eu também a enviei para vocês, junto com as fichas deles — explanou, enquanto dividia os documentos em quatro partes, para em seguida distribuir entre os companheiros de time. — Quero que vocês pesquisem o nome de um por um, em sites de busca e junto aos jornais locais, para conferir se há obituários publicados no nome deles e identificar possíveis novos alvos. Deem especial atenção àqueles que já foram capturados por nós — concluiu, antes de colocar o último pedaço de torrada na boca e levantar-se.
— E você? — Mutano questionou, desanimado com a perspectiva das próximas horas de trabalho de pesquisa.
— Vou voltar na penitenciária e dar uma olhada nas celas das duas primeiras vítimas — respondeu, afastando-se em direção à saída.
— Por que eu sinto que você não nos contou tudo o que sabe? — Ciborgue indagou, cruzando os braços metálicos, a expressão preocupada que Estelar mantinha apenas lhe dando mais convicção de sua constatação.
— Eu contei tudo o que precisava — Robin redarguiu com seriedade, fazendo menção de deixar a sala novamente, quando um chamado o interrompeu.
— Dick — o timbre de Estelar era sério, e o fato de ela usar o real nome do líder, indicava que não estava disposta a aceitar esquivas.
O líder voltou-se para a namorada e em seguida passou os olhos pelos demais amigos, que o encaravam com preocupação.
— Se eu dissesse agora, vocês não me levariam a sério — afirmou, afastando-se novamente. — Talvez queiram das uma olhada nas fotos das cenas dos crimes, juntadas nos inquéritos. Também está no e-mail de vocês — foi a única dica que forneceu, antes de deixar a sala, sendo acompanhado atentamente pelos olhos verdes da Tamaraneana.
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Sinopse: Os Titãs já não eram tão jovens.
Novos romances surgem, os antigos continuam, tudo isso em meio a casos de homicídios em série, ao retorno de antigos inimigos e ao surgimento de novos, todos dispostos não apenas a tomar a vida dos heróis, mas também a destruir a reputação que construíram e tornar a existência deles miserável antes que o momento chegasse.
A amizade e as convicções que construíram durante anos seriam sólidas o suficientes para resistir à pressão popular e ao terror psicológico dos oponentes?
Notas: Lembrando que são apenas postagens de plots aleatórios que vêm na minha cabeça, sem compromisso de continuação.
Capítulo II
Acomodados nos assentos em torno da mesa circular, os Titãs ficaram até tarde da noite lendo suas cópias da ficha do prisioneiro suicida — Paul Albert Bolton, era o nome dele —, analisando as fotografias que Robin registrara da cena do crime e discutindo possíveis falhas em seus campos de análise.
No entanto, o progresso da equipe não foi relevante. Ainda que a ocorrência de outros dois suicídios recentes fosse suspeita, enquanto não recebessem a ficha dos demais prisioneiros e as cópias dos três inquéritos relacionados aos casos, teriam um avanço limitado.
Para todos os efeitos, ainda se tratavam de suicídios.
De mãos atadas, Robin observou Ciborgue e Estelar discutirem possíveis burlas que um eventual suspeito poderia ter feito aos sistemas de segurança da penitenciária, ao passo que Ravena se comprometia a revisar feitiços que suprimiam a magia, só para garantir que a faca usada pelo suicida — ou mesmo um possível assassino —, não havia adentrado a penitenciária por meios místicos.
E Mutano, bem, ele não podia fazer muito além de admitir que existiam meios de tapear o faro, mas tal condição só poderia ser constatada pelo monitoramento das câmeras de segurança, que não apontou nada anormal nos últimos dias (Robin conferiu pessoalmente).
— Certo, chega por hoje — decidiu o líder, dispensando-os.
— Quem é você é o que fez com o Robin? — Ciborgue brincou. — Eu já estava preparado para passar a noite aqui — acrescentou, puxando um travesseiro sabe-se lá de onde para provar seu ponto.
— Bem, eu faria se fosse de algum proveito, mas não adianta forçar vocês a ficarem acordados se não há mais o que extrair dos elementos que temos no momento — o jovem prodígio deu de ombros. — E mesmo se ainda houver algo para absorver, provavelmente só veremos com a mente descansada — emendou.
— Certo, vamos antes que ele desista ou que alguma outra coisa aconteça — Mutano chamou, levantando-se, recebendo um murmúrio de concordância dos demais.
Contudo, antes que atravessassem a porta da sala de reuniões, ouviram o bibe ofensivo do comunicador do líder dos Titãs.
— Eles enviaram as fichas dos outros dois — avisou, sendo respondido com um gemido coletivo de desânimo.
— Você tinha que abrir a boquinha — Ravena resmungou, voltando-se para Mutano, que abriu um sorriso amarelo, enquanto coçava a nuca.
— Tudo bem, vocês podem ir. Continuamos amanhã — decidiu Robin, uma vez que já havia dispensado a equipe.
— E você está voltando para a sala de reuniões por…? — Ciborgue apontou, enquanto o líder se afastava.
— Só vou dar uma olhada no que chegou — respondeu, sentando-se novamente em frente ao computador. — E fazer mais uma checagem em sites de busca — complementou.
Três dos Titãs deram de ombros e seguiram seus caminhos, mas um deles, a bela alienígena tamaraneana, dona de olhos verdes fluorescentes e um longo cabelo ruivo, flutuou até onde seu líder estava.
— Prometa que não vai passar a noite em claro de novo — pediu, preocupada.
— Só uma olhada, Estelar — garantiu, embora não se esforçasse em disfarçar o timbre evasivo.
A tamaraneana arqueou as sobrancelhas, mas suspirou, por fim.
— Eu esperava que pudesse ter sua companhia durante o pernoite — murmurou.
A proposta era sua última cartada – acreditava que, segundo Mutano e Ciborgue, a expressão adequada seria “jogo sujo” –, e apesar da ousadia em fazê-la, Estelar não conseguiu evitar de bater seus indicadores um no outro, ainda muito constrangida com aquele tipo de conversa, mesmo que já namorassem há algum tempo.
— Só uma olhada — o líder repetiu, dessa vez, com muito mais confiança e até mesmo um pouco de ansiedade.
A alienígena sorriu, antes de lhe dar um beijo carinhoso na bochecha e flutuar para fora da sala de reuniões.
O sorriso abobado de Robin diante do gesto afetuoso durou alguns segundos, mas logo desvaneceu, conforme ele se concentrava na tarefa em mãos.
Após uma breve olhada na ficha dos outros prisioneiros mortos por suicídio, constatou que se chamavam Norman Arnold Conley e Jordan Phillip Fagan que, assim como Paul Bolton, haviam sido capturados pelos Titãs em pelo menos uma oportunidade.
— Isso não ajuda muito — murmurou para si mesmo, atualizando suas anotações a respeito dos tipos penais praticados. Enquanto Bolton e Fagan eram reincidentes em crimes de roubo, Conley havia sido preso uma única vez, por estupro. O jovem prodígio recordou-se, a partir disso, como na ocasião conseguiram impedir Conley de manter o intercurso sexual com a vítima, uma universitária, embora ele ainda a tenha molestado de outras maneiras. Um dos choques de realidade que tomaram como jovens heróis.
Concluindo que eventual ligação entre as mortes só poderia ser avaliada a partir da remessa dos inquéritos, resolveu checar brevemente as informações ligadas aos prisioneiros em sites de busca, a mente cada vez menos ligada aos crimes em questão, para focar-se na lembrança que namorada que o aguardava em seu quarto.
Começou por Paul Bolton, mesmo que já tivesse feito uma vez, durante a reunião com os Titãs, apenas para garantir que não havia perdido nenhuma informação, agora que tinha acesso às fichas.
No entanto, o retorno da busca o irritou exponencialmente.
— Sério? — resmungou, mal humorado, notando que um dis resultados indicava o obituário de Bolton.
Ele havia sido taxativo quanto à limitação da divulgação de informações à imprensa, e mesmo na hipótese de o obituário ter sido publicado antes de seu aviso, não conseguia compreender o fato de agentes penitenciários divulgarem uma morte relacionada a um possível homicídio, cientes que isso poderia afetar as investigações.
Resignado, clicou no link que abriu o site, para ver se havia algum comentário no assunto da morte que pudesse ser de utilidade para a investigação.
Contudo, o que encontrou o deixou estarrecido.
Sentindo o nível de adrenalina subir exponencialmente, Robin pesquisou freneticamente também pelos nomes de Conley e Fagan.
— Droga — praguejou após analisar os resultados e, quase ao mesmo tempo, um pop up indicou o recebimento em seu e-mail dos inquéritos relacionados às três mortes, provavelmente enviados por alguém que, como ele, trabalhava melhor no período noturno. — Vai ser uma longa noite — pensou, a proposta de sua namorada totalmente esquecida enquanto fazia o download dos anexos do e-mail.
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alura · 2 years
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FREAKSHOW
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Sinopse: Os Titãs já não eram tão jovens.
Novos romances surgem, os antigos continuam, tudo isso em meio a casos de homicídios em série, ao retorno de antigos inimigos e ao surgimento de novos, todos dispostos não apenas a tomar a vida dos heróis, mas também a destruir a reputação que construíram e tornar a existência deles miserável antes disso.
A amizade e as convicções que construíram durante anos seriam sólidas o suficientes para resistir à pressão popular e ao terror psicológico dos oponentes?
Notas: Está é uma das fics que eu não tenho perspectiva de terminar, mas acabei começando.
Se passa no universo do desenho de 2003, considerando também o filme “Missão Tóquio”. O foco seria no meu OTP Mutano e Ravena, mas com cenas dedicadas ao casal Robin e Estelar também. Honestamente, romance é sempre meu eixo ao escrever, mas não sei até onde conseguiria desenvolvê-lo em um enredo de suspense, serial killer e terror psicológico. Aliás, esse é o motivo de eu não ter tanta perspectiva para terminar.
Ah, a fic é meio que um spin off de uma oneshot BBRAE que eu publiquei no Spirit. Mas acho que não depende da leitura dela a compreensão. Aqui o link para quem quiser ler.
Por fim, o título da história é por causa da música de mesmo nome da banda Skillet. A música realmente da o tom da história, que também é inspirada em Death Note e no filme Batman: O Cavaleiro das Trevas.
Capítulo I
Lentamente, Ravena abandonou a posição de lótus em que flutuava, seus olhos violetas fitando o chão para que pudesse pisar em um lugar livre de sangue, antes de se voltarem para o líder da equipe, que a encarava com leve expectativa.
Suspirando, meneou a cabeça antes de afirmar:
— Não detectei nenhum traço mágico, Robin.
— Entendo — o jovem herói respondeu, levando as mãos enluvadas ao queixo.
Apenas então, Ravena voltou os olhos para o corpo sem vida no chão, contorcido em uma estranha posição: cabeça jogada à esquerda dele, pernas dobradas à direita. Isso em meio a poça de sangue que jorrou dos pulsos cortados. O provável objeto responsável pelo corte, a faca tipo borboleta, descansava a poucos centímetros da mão direita do que um dia foi um bonito rapaz, embora a feição estivesse desgastada pelo tempo de cadeia.
Um movimento na entrada da cela atraiu a atenção da empata, que virou-se a tempo de ver um pastor alemão verde assumir novamente a forma humana — e ainda verde — de seu colega de equipe mais novo.
— Não farejei nenhum rastro estranho. Num espaço de dias, parece que todos que estiveram aqui, frequentavam este lugar há algum tempo — Mutano explicou para Robin.
Tanto o recém chegado quanto Ravena, observaram o líder franzir o cenho bonito. Não é que ele não contasse com a ausência de pistas óbvias, mas ele ainda não era obrigado a ficar satisfeito diante de um potencial homicídio disfarçado de suicídio. O desgosto emanava do líder em ondas, e Ravena captou o sentimento facilmente, como a empata que era, junto à aversão de Mutano, especialmente porque tais sensações combinavam com suas próprias.
Fazia algum tempo que os Titãs vinham sendo chamados para investigar crimes contra a vida, com potencial participação de meta-humanos ou super-vilões na autoria, e eles não festejavam o fato, exatamente. Antes, os homicídios que acabavam por investigar, decorriam de ataques de larga escala de vilões espalhafatosos, com o ego grande o suficiente para impedi-los de fazer as coisas discretamente. A jovem equipe de heróis era a força principal de auxílio na ação da polícia de combate, e na investigação em casos que envolvessem super vilões. Casos isolados, como aquele, em que não havia certeza se o autor do crime era de fato um meta-humano ou inimigo declarado dos heróis, ficavam com a polícia investigativa até que tais circunstâncias fossem demonstradas.
Mas aparentemente, agora eles eram considerados grandes o suficiente para se envolverem cada vez mais na resolução de delitos dessa natureza.
É por isso que estavam ali, para investigar um caso que gritava suicidio, pois a polícia e os carcereiros preferiam acreditar que a faca de natureza proibida havia entrado magicamente no presídio, que admitir a possibilidade de contrabando. E como as leis do estado não permitiam câmeras no interior das celas, as autoridades esperavam que os Titãs fizessem a sua mágica.
— Bem, acabamos aqui. Vamos deixar os exames aprofundados da cena para os peritos — Robin decidiu. — Ciborgue também já terminou de verificar o sistema de segurança e os registros das câmeras, e Estelar concluiu a varredura aérea. Vamos continuar a operação da Torre, mas vou levar cópia da ficha da vítima — acrescentou, voltando-se para um dos agentes que os acompanhavam, o qual assentiu em concordância. — O nome dele me é familiar, estou quase certo que esteve entre os oponentes dos Titãs. Vamos trabalhar melhor com nossos dados de batalha em mãos.
— Sim, acho que vocês trouxeram Bolton para cá uma ou duas vezes — o agente respondeu, a voz afetada pelo sistema de comunicação do capacete branco de seu uniforme. — Apesar de ser um ladrãozinho salafrário, ele não tinha envolvimento aparente com facções que justifique a suspeita de homicídio. Sinceramente, achei um exagero incomodarem vocês, suicidio entre presidiários não é exatamente incomum — concluiu.
— Mesmo que tenha havido três no último mês — o outro agente acrescentou, atraindo a atenção de Robin.
— Talvez não seja suicidio, afinal — Ravena pensou, diante da informação e, com uma breve troca de olhares com Mutano, percebeu que ele pensava o mesmo.
— E vocês não me contaram isso quando perguntei os acontecimentos relevantes recentes por…? — incitou o menino prodígio, levemente irritado.
— Como eu disse, suicidio não é exatamente incomum — justificou o primeiro agente.
— Certo — concordou Robin, não desejando iniciar uma discussão, embora nem a máscara que usava disfarçasse seu semblante contrariado. — Vou querer a ficha dos outros dois prisioneiros que se suicidaram também — avisou e os parceiros de time praticamente puderam escutar as engrenagens de seu cérebro trabalhando. Seria uma longa noite quando retornassem para a Torre.
— Essas foram arquivadas. Exige um pouco mais de tempo e burocracia para acessar, mas enviamos para vocês — garantiu o primeiro agente.
— Compreendo — o jovem prodígio respondeu. — Evitem a divulgação de informações à imprensa, até que a perícia seja concluída e o corpo liberado para o enterro. Especialmente em relação à suspeita de homicídio e o envolvimento dos Titãs na investigação do caso — orientou, por fim, não querendo que a sede de informações dos repórteres e a divulgação de informações incompletas alertassem o possível criminoso.
Os agentes assentiram e com isso o grupo começou a caminhar para fora da cela.
— Tudo bem, Rae? — indagou Mutano, parando ao perceber que a empata ficou para trás e encarava o corpo sem vida uma última vez.
Não, não estava.
Ravena podia não ter sentido nada mágico no ambiente, no entanto, não conseguiu evitar a sensação ruim que a acompanhava desde que pisara ali, a qual tentava se convencer estar ligada ao horror da cena macabra do suicídio do detento, e não ao seu dom de previsão.
Todavia, naturalmente, ela não disse isso ao amigo verde.
— Tudo — mentiu em timbre brando ao passar por Mutano, refletindo que já não o corrigia há algum tempo pelo uso do apelido.
Internamente, viu-se satisfeita com a habilidade que o metamorfo tinha de sempre desviar sua atenção nos momentos de tensão.
Considerações finais: eu usei nomenclaturas diferentes para as forças policiais, pq é nítido que no desenho dos Jovens Titãs de 2003, a força policial não segue exatamente o sistema presente nos EUA. Também não dá para usar exatamente o sistema brasileiro, então: Polícia de Combate, seria semelhante à Polícia Militar; Polícia Investigativa, seria semelhante à Polícia Civil e Polícia Penitenciária seria semelhante à Polícia Penal.
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alura · 2 years
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Acho que vou começar a postar aqui os plots que eu começo a escrever e provavelmente nunca serão concluídos.
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Eu faço isso com muita frequência. Tenho muitas ideias de plots, mas a vida profissional e a disposição para escrever não conseguem acompanhar isso. Com isso, eu acabo desanimando dos plots de fics que já estão em publicação, as quais seriam minha prioridade.
Eu já pensei em me associar com outro escritor, mas acho que acabaria querendo revisar e meu trabalho de revisão as vezes demora mais do que escrever um capítulo do zero.
De qualquer maneira, na maioria das vezes que eu crio um novo plot, eu escrevo os capítulos iniciais, pelo menos para eu me saciar e desencanar da ideia. Isso provavelmente não vai parar de acontecer, então decidi trazer para cá, sem o compromisso de continuar, pelo menos por enquanto.
Então lembre-se: se você achou alguma fic minha aqui (eu não tenho essa perspectiva, meu tumblr é tão parado que de vez em quando passa uma bola de feno quicando) e ela não for postada no Spirit também, saiba que ela foi publicada sem compromisso de continuação.
Aproveitando, para ver minhas fics em andamento, visite meu perfil do Spirit.
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alura · 2 years
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Raven 80's outfit
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alura · 2 years
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alura · 2 years
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O jeito que o Inuyasha se esconde atrás da Kagome quando a Sango está pistola ainda é uma das melhores coisas da obra para mim.
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alura · 2 years
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503 Week, Day 3: Glow
Prompt for the day was artist’s choice. :) Glow didn’t make the vote this year, but I liked it too much to pass up.
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