Tumgik
#girlneosworld
girlneosworld · 3 months
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2. conhece a luz?
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tw: tiro e menção a religião, quero dizer desde já que minha intenção jamais vai ser ofender a ninguém, é tudo para a narrativa.
espero que gostem, perdoem os possíveis erros e boa leitura ♡
Jeno nunca foi bom com trabalho em equipe. Sempre trabalhou muito melhor sozinho, desde seus anos no ensino fundamental da escola, até em sua carreira como policial. Ter como responsabilidade apenas as suas próprias ações e sua integridade física faziam as coisas fluírem com mais facilidade, realizava suas missões mais rápido e sempre com excelência. Se alistou no exército muito cedo, batalhou em nome do país antes de decidir que preferia, definitivamente, servir em casos mais específicos e aí entrar na polícia da cidade. Em um cenário ideal o Lee sonhava com o dia em que o coronel reconheceria aquilo, que ele não precisava de outra pessoa quando era tão melhor sem companhia. Jeno não tinha um bom histórico com parceiros, quase todos eles desistiam da missão na metade caso fossem designados a trabalhar com o rapaz. Com exceção de Jaemin, o tenente Na foi o primeiro a aprender como lidar com todo o individualismo acerca dele. Precisou, sim, de bons meses até que passassem um único dia sem discutirem sobre as mínimas situações e entrassem em consenso pela primeira vez, mas os tempos ruins não resistiram a amizade que os dois criaram. Então, além de serem a melhor dupla do batalhão, viraram, também, melhores amigos.
E diferentemente do Lee, você era uma líder nata. Desde a época em que se formou, sempre fora acionada para liderar operações em grupo, poucas delas as que não foram totalmente bem sucedidas. Tinha uma óbvia facilidade em tomar controle das situações e em designar funções, também não tendo problemas em seguir ordens quando necessário. Começou o seu treinamento quando ganhou uma bolsa para se alistar na marinha e logo foi transferida para as forças armadas e então, indo atuar no batalhão local. Tinha uma bagagem profissional que te permitia, de fato, experimentar todas as posições que se eram possíveis ocupar.
O problema inicial de operar juntamente do tenente Lee era justamente o fato de serem incompatíveis. Você tinha mesmo tendência a ceder e ouvir opiniões alheias, mas isso valia principalmente quando o outro lado se propõe a ouvi-lá também. O que obviamente não era o atual caso. Jeno era a teimosia em pessoa, é irredutível e não abre mão das suas próprias ideias com facilidade. E perceber tudo isso em primeira mão estava te enlouquecendo.
— Não ache que eu concordei com isso porquê é a melhor opção — o Lee aponta o indicador na sua direção — Só porque é a mais fácil.
— Idiota da sua parte admitir isso — você responde desviando do dedo dele e continuando a andar.
Duas noites de rodovia depois, vocês conseguiram finalmente entrar na cidade de Jung-gu. Era tudo um mar de quietude e prédios abandonados, todas as coisas possíveis estavam reviradas e não havia uma só alma viva além de vocês caminhando pelas redondezas.
E assim que chegaram entraram imediatamente no embate de como iriam até a igreja, a pé ou de carro. Você ficou bons minutos argumentando sobre como deixar o carro em um lugar estratégico e irem andando até lá era, definitivamente, mais prático do que dirigirem para todo canto que forem. Jeno, claro discordava.
— Quero só ver se a gente precisar sair correndo — ele diz — Torça para que isso não seja necessário.
— Não sei você, mas eu corro bem — se gaba e então para de andar, puxa o pé direito e estica a perna para cima, colocando o pé acima da cabeça — Antes de me alistar eu fui corredora por dez anos, não sei se sabe.
Jeno revira os olhos e te dá as costas.
— Você é muito exibida, Borboleta, isso sim — acusa — Se quando voltarmos esse carro não estiver mais lá eu nem sei o que sou capaz de fazer com você.
— Primeiro que pra pegarem o carro precisariam da chave, que está comigo — volta a acompanhá-lo — Segundo, quem exatamente vai tentar pegar o carro?
Jeno dá de ombros.
— Acha mesmo que não tem mais ninguém aqui?
— Não me surpreenderia, pelo menos pelas ruas — você olha ao redor, vendo os prédios e fachadas das lojas ou fechadas, ou destruídas — Mesmo que, a essa altura do campeonato, duvido que todo mundo ainda respeite a lei marcial.
— Eu não respeitaria — o Lee fala e você o mira com uma sobrancelha arqueada — Pelo amor de Deus, fazem dez meses desde que tudo desandou e nenhuma providência foi tomada. Nada que desse o mínimo de esperança para as pessoas, é de se esperar que comecem a buscar por sobrevivência.
— É, mas viemos para cá justamente por ser umas das cidades mais atrasadas do país na contaminação, enquanto o restante do país está doente há dez meses aqui tudo começou a se perder faz apenas cinco — aponta — Justamente esse mínimo de esperança que está dizendo. Ainda deve ter pessoas por aí que resistiram ao vírus.
— Ingênuo da sua parte pensar assim — desdenha e então olha para você — Mesmo que a proliferação não tenha sido tão rápida quanto as cidades maiores, o pânico já estava instalado. Qualquer sinal de infecção abre brecha pro desespero e pra inconsequência.
Sabe que ele não está de um todo errado, presenciou pessoalmente como o pânico e o medo podem ser, por vezes, mais prejudiciais do que o próprio vírus. Juntamente com a desinformação, isso tudo era o pacote completo de como fazer um apocalipse progredir para o fim do mundo.
Não demorou muito mais para que vissem a cruz alta acompanhada de toda a grandiosidade que acompanha o exterior das igrejas católicas. O lugar obviamente se destacava no meio dos outros imóveis por perto e estava quase intacto, com exceção de alguns vidros quebrados. Os portões estavam fechados e nenhum som saía para o lado de fora, tudo aparentemente silencioso.
— Coronel mandou que a gente viesse aqui porque tem um porão de desabrigados nos fundos e pode ser que alguém ainda esteja vivo — você diz e Jeno assente — Então precisamos ser cuidadosos na hora de entrar. Eu abro a porta e vejo se está tudo limpo para seguirmos, você vem logo depois para me dar cobertura enquanto eu desço na frente.
— Não me diga o que fazer — ele responde com uma cara de poucos amigos te fazendo revirar os olhos. Vocês estão um em cada lado dos portões da igreja, encostados nas extremidades prontos para abrir assim que fosse necessário — Melhor que eu entre depois que você abrir, se precisarmos arrombar vai fazer muito barulho.
— Ok — concorda e olha para o taco que ele está segurando — Está com o revólver que eu te dei? Sem ofensas ao seu taco.
Ele bufa.
— Sim, estou — Jeno olha para a metralhadora que você tem em mãos e franze o cenho — E qual a necessidade de trazer uma arma tão grande? Não precisa de tudo isso.
Você dá de ombros e sorri de canto, convencida. Respirando fundo, se preparam e ele acena em sua direção, indicando que está pronto. Você, então, se esquiva um pouco para trás e dá um chute certeiro no portão da igreja, fazendo assim com que ele se abra imediatamente. Jeno logo se coloca para dentro, averiguando como está a situação, e alguns segundos depois acena com a mão para que você entre também, e assim o faz.
Quando estão do lado de dentro não há muito para se observar, o que os surpreende, já que esperavam serem recebidos pelo menos por alguma praga. Os bancos estão intactos, enfileirados, inteiros. A igreja ainda tem o mesmo aspecto que deveria ter antes dos infectados e uma única faixa de luz entrava por um dos buracos de vidro quebrado. Se separando de Jeno, você indica que ele vá pela outra extremidade enquanto examinam a área com cuidado, estranhando que tudo estivesse tão quieto. Tão normal.
Do outro lado, Jeno percebe antes. Abaixo do altar, ajoelhado e com o corpo curvado para frente, um homem com uma batina de padre está murmurando o que parece ser uma oração, mas não tem como ter certeza porque não consegue ouvir com clareza. Arregalando os olhos na sua direção e apontando com a cabeça Jeno te mostra e você vê. Para de andar no mesmo instante, abruptamente.
Ambos tinham consciência de que precisavam estudar o que dizer para não assustá-lo, até porque não tinham como saber se ele era uma ameaça ou não – mesmo vocês estivessem armados e em maioria. Mas, aparentemente, a comunicação não-verbal entre você e Jeno falhou, já que ele se aproximou do indivíduo e encostou a ponta do taco na cabeça dele.
— Mãos onde eu possa ver ou vou estourar a sua cabeça — diz ele com a grave e autoritária.
Você imediatamente se irrita com a postura que o rapaz assume e se aproxima do lugar em que eles estão, olhando na direção de Jeno com uma expressão indignada. "Esse imbecil..."
Entende, porém, que uma vez que o Lee se imponha, não pode recuar e precisa manter sua imagem tão intimidadora quanto. Por isso, mesmo que contragosto – já que essa é uma abordagem que você definitivamente não usaria nessa situação –, aponta sua metralhadora na direção do padre também. Ação essa que surpreende Jeno, que te olha de cima a baixo com uma das sobrancelhas arqueada.
— Não ouviu o que ele disse? — usa o seu tom mais firme para falar mas o homem continua da mesma forma, murmurando o que pareciam ser várias palavras desconexas. Seu tenente parceiro percebe que está ficando impaciente quando empurra a bochecha com a ponta da língua e, de repente, destrava a arma, assustando aquele que estava ajoelhado — Mostre a porra das mãos e levanta daí. Devagar.
Mais eficaz dessa vez, ele coloca as mãos tremendo atrás da cabeça e aos poucos se ergue do chão, se virando devagar para vocês e possibilitando que vissem seu rosto. O homem, que deveria ter por volta de seus quarenta anos, tinha uma expressão cansada no rosto e parecia levemente assustado quanto se colocou de pé.
— Não façam nada comigo — diz com a voz sussurrada — Isso não o agrada, de forma alguma.
Você franze o cenho e olha para Jeno, que por sua vez está com o maxilar cerrado.
— Não agrada a quem? — o Lee pergunta, ríspido.
O homem assente diversas vezes com a cabeça e olha para você.
— Tenho comida aqui, se quiserem — esbugalha os olhos na sua direção, te causando uma careta — Vocês vieram me salvar? São os prometidos?
Nota, alí, que o homem deve ser um lunático religioso que está assustado, provavelmente não tem mais noção das coisas ao seu redor. Não duvida que estivesse trancado na igreja desde que tudo começou, seria uma forma completamente válida de sobrevivência. O rosto do homem está pálido enquanto os olhos correm por todos os cantos, agora evitando você e Jeno. Percebendo isso, você faz sinal para que o Lee continue do jeito que está.
— Está sozinho? — pergunta ainda com a arma apontada para ele, os olhos cerrados — A quanto tempo está aqui?
— Nunca abandonei a minha igreja, Ele nunca me perdoaria — e então ele levanta a cabeça e olha para o teto. Você franze o cenho, Jeno também o achando muito esquisito — Precisam me ajudar a sair daqui.
O tenente Lee respira fundo e segura seu taco com apenas umas das mãos, apontando para os portões.
— Foi infectado? — pergunta ao homem que nega, Jeno se aproxima ainda mais — Como eu vou saber se posso confiar em você?
— Não quero morder vocês. Não sinto fome, nem sinto calor — responde parecendo muito aflito e se ajoelha outra vez, de repente — Tudo que eu peço a vocês é que poupem a minha vida. Sejam misericordiosos e Deus os levará a graça eterna.
— Que papo torto do caralho... — você resmunga e abaixa sua arma, se afastando dos dois. Anda em círculos com as mãos na cabeça, pensando no que fazer. Jeno pigarreia para chamar sua atenção, que se vira para ele — O que a gente vai fazer com esse cara?
— O que você acha? Temos que levar ele junto, até a academia pelo menos — responde como se fosse óbvio — Lá vão saber o que fazer com ele.
— Ficar de babá pra você já é uma merda, pra você e pra esse maluco é demais pra mim — aperta os olhos e a ponte do nariz entre os dedos, logo ouve Jeno indignado.
— Você é intragável — nega com a cabeça e volta a olhar para o padre — E você vai vir com a gente.
Com as mãos juntas em frente ao corpo e os olhos fechados, ele assente alguma vezes e começa a sussurrar o que agora você reconhece ser uma oração em latim, mas não entende uma só palavra do que ele diz.
— Temos que ir até o porão — diz ao outro tenente por cima da voz sussurrada — Ver se tem mais alguém aqui.
— Vai, eu fico de olho nele.
Então, de maneira tão repentina como antes, o padre para de orar e te olha. A forma em que ele está posicionado, de joelhos e exatamente sob o único feixe de luz que entra na igreja, faz parecer que os olhos dele brilham ao olhar para você, quase como se ele te adorasse. Viu muita coisa em todos os seus anos de vida, muita coisa nos meses de apocalipse, mas nunca presenciou nada daquele tipo. Em outras circunstâncias, isso seria assunto das cervejas de fim de semana no bar.
— Você quer conhecer a luz? — ele te pergunta — Na bíblia diz que " Aos justos nasce luz nas trevas; ele é piedoso, misericordioso e justo. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. " Você quer conhecer a luz?
— É cada um que me aparece — dá as costas aos dois e vai em direção aos fundos igreja.
Apesar de não se considerar muito religiosa, frequentou a igreja católica durante alguns anos, muito por influência da sua família. Mas tudo o que sabia sobre as estruturas da igreja era o que via da parte externa, então não saberia dizer se o lugar que estava entrando era algo comum ou era uma particularidade daquela em específico. Quanto mais andava e mais adentrava, menos a luz chegava aos fundos e aos poucos a escuridão ia te engolindo. Em certo ponto já não conseguia mais ouvir Jeno e o padre, parecia estar em um grande vazio. Apertou a arma entre seus dedos e a posicionou apenas por precaução, já que não conseguiria enxergar o seu suposto alvo. Com o coração acelerado e as mãos suadas, você sente uma superfície lisa aparecer na sua frente, corre as mãos sobre ela com cuidado e um pouco mais abaixo tem uma maçaneta. Assume, então, que achou uma porta e essa que deveria finalmente dar no porão. Sentindo sua respiração pesada, você gira a maçaneta e abre a porta.
— Ele vai vir me salvar — murmura o padre, o corpo balançando de trás para a frente — Vai me levar para a luz.
Jeno franze o cenho. Conheceu pessoas de todos os tipos ao decorrer da vida e nenhuma delas o fez questionar tanto o conceito de sanidade quanto aquele homem.
— Que luz é essa que você tanto fala? — decidiu perguntar e o viu começar a rir.
— A luz — um sorriso aberto surge em seus lábios, as mãos se levantando para o céu — Nós estamos na luz! Somos iluminados!
— Eu, hein... — deu dois passos para trás — Se nós já somos iluminados, por que "Ele" — fez aspas com os dedos — Vai te levar para a luz de novo?
O padre desvia os olhos do teto e os direciona ao tenente.
— Ele vai me levar para a luz eterna. Quero brilhar para o todo e eterno sempre — e então como se algo o estivesse chamando, ele se vira na direção do lugar em que você entrou — Não quero entrar na escuridão.
— É mole? — ri soprado.
— Eles estão na escuridão. Deus não vai os perdoar — diz e arregala os olhos lentamente, ainda focado no mesmo ponto — E ela acabou de entrar na escuridão.
O sorriso de Jeno some no mesmo instante e dá lugar à uma expressão confusa, beirando a incomodada. Mira, então, o mesmo lugar que o outro olha fixamente. Ecoando por todas as paredes e as fazendo vibrar, eles ouvem um disparo e pulam de susto.
— Puta merda — murmura o Lee, inquieto. Não sabe se vai atrás de você, mesmo que tivesse certeza de que sabe se cuidar sozinha, ou se continua vigiando o padre. E o padre, por sua vez, age mais rápido quando aproveita da distração de Jeno e se levanta, saindo correndo em direção aos portões da igreja.
— Luz! Luz! Luz! — grita enquanto sai e desaparece nas ruas.
Jeno até pensa em seguí-lo, mas desiste da ideia assim que ouve o segundo disparo. E o terceiro, e o quarto, e o quinto. Então tudo se silencia outra vez. O rapaz corre até onde você está e segura firme o taco de basebol, atento a qualquer coisa que aparecesse. E aparece de fato, ele precisa ser ágil para acertar de forma certeira a cabeça da praga que corre desesperada em sua direção, a arremessando "sem vida" para longe. Jeno olha para o corpo sentindo sua respiração acelerada.
Você aparece logo atrás, ressurgindo da tal escuridão. Parece cansada enquanto segura a arma com uma das mãos, o cabelo desgrenhado e indo até ele em passos arrastados. Quando já estão frente a frente e o outro consegue ver os respingos de sangue no seu rosto, você bate com a mão desocupada no ombro dele e diz entre dentes:
— Lunático filho da puta.
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Algo na forma em que os acontecimentos do dia se seguiram te faziam sentir que estava prestes a explodir. Mesmo agora, meia hora de carro depois, seu pé ainda batia freneticamente no estofado do banco do carona enquanto ouvia Jeno falar, ainda se sentindo ansiosa como se algo fosse acontecer a qualquer momento e você estivesse despreparada.
— E então ele disse que você também tava na escuridão — o Lee conta — E sabe, eu entendi na hora o que isso significava.
— Seguindo a lógica do que ele tava falando... — você dá uma risada — Lógica. Isso não é uma palavra que se encaixa exatamente nesse contexto, né.
— O que você achou no porão, afinal?
Assim que abriu a porta e foi engolida pela escuridão de vez, demorou alguns segundos até que algo acontecesse. Não conseguia enxergar nada lá dentro, mas seus ouvidos eram treinados e sensíveis o suficiente para identificarem os grunhidos tão familiares e os sons de dentes se chocando, e logo percebeu que estava cercada. Infelizmente, o escuro tende a ser o melhor aliado das pragas que ganham confiança quando os vivos não conseguem ver o que está bem diante dos olhos. Através da pouca iluminação que entrava pela porta aberta, seu coração parecia ter parado de bater por uma fração de segundo quando reconheceu seis silhuetas se contorcendo, preenchendo a sala. É ágil em atirar na direção da primeira praga que te nota e corre até onde você está, o barulho ecoando por todo o lugar e chamando a atenção dos próximos infectados.
— Você matou a última, a que saiu correndo — termina de explicar e se espreguiça. — Isso tudo acabou sendo inútil.
Jeno concorda com a cabeça.
— Acho que vai servir de esquenta. Duvido que isso seja a pior coisa que vamos ter que lidar.
Confirmando o que já tinham ciência antes, passariam a maior parte da operação dentro daquele camburão em movimento. Acabaram de deixar o primeiro destino de vocês e ainda enfrentariam longos dias e noites mais longas ainda, realmente. Só pensar naquilo fazia sua cabeça doer.
— Preciso recarregar minha arma e logo mais vamos precisar abastecer.
— E logo mais você quem vai dirigir — Jeno avisa. Você arquea uma sobrancelha diante da convicção com que ele diz.
— Pensei que duraria mais quando se prontificou a ser o motorista da operação — provocou com um tom de escárnio — Você é muito mandão. Não sei porque acha que eu faria alguma coisas que você "manda" — faz aspas com os dedos — só porque tá me mandando fazer.
— Eu dirigi por quase quarenta e oito horas, caso não se lembre, Borboleta — responde — O mínimo que pode fazer é dirigir também, por um diazinho que seja.
— Você fala como se eu não tivesse feito nada — aperta os olhos enquanto o olha, que te ouve sem se dar ao trabalho de reagir a qualquer coisa que diga — Fui cercada por pragas que estavam seis vezes em vantagem. Matei quase todas e saí viva. Você nem conseguiu segurar aquele doido.
Jeno abre a boca, ofendido.
— O que exatamente faríamos com ele? Carregá-lo por aí como símbolo da nossa parceria e companheirismo? — ele pergunta de forma retórica — Ía ser só mais um fardo pra carregar.
— Não me estranha que tenha durado tanto tempo no exército se é assim que trata as pessoas — você murmura, desviando o olhar para a janela e olhando para o lado de fora que passava como um borrão.
— Você não sabe nada do meu tempo no exército, Borboleta.
Percebe como tom de voz dele muda, saindo do habitual que usava sempre para te irritar e brigar com você para um mais profundo e, definitivamente, menos aberto a retaliações. Acabam sustentendo um silêncio depois que Jeno encerra o assunto, ele na função de dirigir e você recarregando a munição das armas que trouxe. De repente, ouvem o walkie-talkie chiando no porta-luvas.
"Coronel na linha, aguardando contato, câmbio."
Se entreolhando você pega o aparelho e aperta o pequeno botão na lateral para falar também.
— Estamos ouvindo, coronel — é o que responde.
"Estou checando vocês pelo rastreamento, tenentes. Acabaram de deixar a igreja, correto?" Murmura em concordância e o ouve continuar falando. "Como seguiu a operação?"
— Ninguém lá, apenas infectados — Jeno diz — Tomamos controle da situação e saímos de lá.
— Eu tomei controle da situação — intervém e o Lee revira os olhos.
O coronel pigarreia do outro lado da linha. "Presumo que estejam a caminho da creche de Sunvylle. Assim que chegarem façam uma varredura também, não tivemos registros de crianças lá. Vivas, infectadas ou mortas. Mas antes de irem, vou pedir para irem a outro lugar primeiro."
Seus olhos imediatamente se fecham e sua respiração se engata na garganta, não sabia se queria continuar ouvindo o que o coronel tinha a dizer, muito menos se acataria o tal pedido.
"O Hospital Católico Universitário de Daegu."
E agora a respiração que antes prendia se liberta, alta e carregada. Jeno, não reagindo menos que você, bufa e passa as mãos pelo rosto, ambos nada contentes com o que tinham acabado de ouvir.
— Em Nam-gu? — ele pergunta, exasperando quando o outro confirma — Isso é loucura.
"Vocês não precisam procurar não-infectados no hospital, tenentes. Tudo que precisam pegar é o prontuário de Kwon Eunha e levarem até a academia."
Seu cenho se franze em confusão.
— Coronel, com todo respeito, não acha que deveria ter mandado uma equipe para fazer isso? — começa a falar, a indignação surgindo gradativamente — Porque, sinceramente, tudo que está nos mandando fazer seria infinitamente melhor realizado se feito por mais pessoas. Não que eu duvide da minha capacidade, mas mandar que apenas duas pessoas atravessem o país atrás de algo que você faz tanta cerimônia para explicar do que se trata, faz parecer que nos trata como fôssemos descartáveis.
"Não é disso que se trata, tenente." Ele tenta, mas você o interrompe.
— Mesmo? Então do que se trata? — ri soprado — Fica inventando motivos para nossa viagem ser mais longa, inserindo obstáculos desnecessários. Igual fez com o tenente Na quando mandou que ele deixasse a esposa grávida sozinha e fosse até a zona de quarentena só porque precisava dele. Quer que a gente vá até a creche, porque? Disse agora mesmo que sequer temos registros de alguém que ainda esteja lá. E agora nos mandando mudar a rota para pegar uma droga de prontuário. E quem diabos é Kwon Eunha?
Jeno te assiste esbravejar de olhos arregalados, sem se intrometer. Não que tivesse problemas em enfrentar o coronel, muito pelo contrário, tinha mesmo fama de ser indelicado e inconsequente, a única coisa que o mantém no batalhão sendo sua excelência no trabalho que executa. Porém, o surpreende que você exponha toda a sua insatisfação de maneira tão direta. Precisa esconder sua, positiva e inesperada, surpresa enquanto te ouve quase gritar para o walkie-talkie.
Uma pause divide suas palavras da resposta do coronel. Você respirando fundo e se recuperando, o coronel decidindo que ignoraria a maior parte das coisas que você disse e focando no que sabia que seria o suficiente para convencê-los do que havia pedido.
"Kwon Eunha é quem pode dar um fim a tudo isso." diz, sua voz começando a falhar pelas interferências do aparelho "De onde tiraremos a amostra da possível cura para o apocalipse."
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moonlezn · 7 months
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me assume ou me esquece eh SACANAGEM
essa pega demais no coração pai que isssssssooooo. mas perfume é a maioral ntj 😩😩
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imninahchan · 3 months
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amg poderia me recomendar escritores pt br?
demorei a escrever pq eu queria juntar todos os perfis que eu sigo (mas ainda deve ter mais perfis por aí, e eu ainda não consegui segui-los de novo depois de ter mudado de conta)
@lalajsn @hansolsticio @wintyher @amordelunes @liawuan @ncdreaming @mistiskie @sunriize @sunarchiv @sexybombom @skzoombie @sucosdelimao @kissgirly @xuxuzinhoo @chanelysz @lucuslavigne @cheolcam @sunshyni @nayuswifee @wlfllia @girlneosworld @yakuly @nonuwhore @nakakitty @yourcinnamoncake @winterrnight @bbacconzitos @dejuncullen @todo7roki @cruelyouths @tyongbrat @jenniejjun @moonlezn @markiefiles @mrkspo @jaemskitty @hyunjungjae @butvega @keeholover @lovesuhng @juyehao @xolilith @klimtjardin @doyupallet @tmuki
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butvega · 7 months
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qcho que era uma fic de zumbi tinha uns 4 capítulos sabe, n lembro direito
purgatório da @girlneosworld ❤️❤️❤️
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girlneosworld · 8 months
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1, 2, 3.
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fluff (isso mesmo que vcs leram) e friends to lovers. debut do mark aqui no blog, amo ele. é isso, boa leitura ♡
Sentado num dos cantinhos isolados do salão de festas, Mark te observa conversar animadamente com todos os convidados. Cumpria muito bem o papel de aniversariante, dando atenção a todo mundo sem tirar o sorriso simpático do rosto. E que sorriso. O Lee não se importa em ficar ali, quietinho, apenas te vendo aproveitar a festa que planejou durante meses. E estava tão linda. Usava um vestido rodado tomara-que-caia branco e tinha um laço da mesma cor enfeitando o cabelo.
É, Mark estava definitivamente apaixonado.
— Você conseguiria tranquilamente encher um balão só com a quantidade de suspiros que deu nos últimos cinco minutos — ouviu a voz de Donghyuck atrás de si e deu de ombros, fazendo um esforço para parar de te olhar e se virar para ele — Para de secar a coitada da garota e vai falar com ela.
— Não tá vendo que ela tá ocupada? Mais tarde a gente conversa — diz, amuado. Vê quando o amigo revira os olhos e vira o copo com um líquido transparente — Tá bebendo o quê?
— Vodka, ué. Trouxe escondido — o Lee mais novo dá uma piscadela — Sua princesa não viu, pode deixar.
Mark estava prestes a responder quando sente uma mão de unhas pintadas tocar seu ombro.
— A princesa de quem tá bebendo vodka? — você pergunta, ouvindo a conversa pela metade — Oi, meninos. Os outros já chegaram, devem estar por aí dando em cima de alguma das minhas amigas.
— Tenho quase certeza que vi o Chenle de papinho com a moça do bifê.
Rindo, você nega com a cabeça e se senta ao lado do mais velho, finalmente olhando para ele. O observa por alguns segundos, o analisando minuciosamente dos pés a cabeça, o que deixa as bochechas dele vermelhas. Você sorri.
— Tá todo engomadinho, nunca te vejo assim... — se refere ao fato dele ser adepto a um estilo mais despojado, sempre de moletons e jeans enormes — Vou achar que se arrumou pra mim, hein.
O garoto ri, envergonhado, e coça a nunca. Sente a garganta coçar quando se prepara para falar:
— Você tá linda — engasga um pouco para te elogiar e ouvem Donghyuck rir, o que só contribui para o rosto dele esquentar ainda mais — A festa tá daora também.
— Posso confessar uma coisa pra vocês? Esse vestido tá me apertando e eu sou muito grata por me deixarem usar tênis ao invés de salto, porquê eu tenho certeza que meus pés vão estar cheios de bolhas amanhã — sussurrou tudo num fôlego só — Acho bom os dois senhorios levantarem as bundas daqui e irem aproveitar essa pista de dança comigo.
Com isso, você se levanta e estende as mãos na direção dos dois, na esperança de que eles segurassem e fossem até o meio do salão onde várias pessoas dançavam ao som do pop anos 2000 que o dj tocava. Assim foi feito.
Dessa maneira se passaram as próximas horas. Com algum custo, conseguiu juntar seus sete amigos mais próximos e fazer até com que os mais tímidos se soltassem. Mark Lee incluído. Ele não conseguiu resistir aos seus olhos pidões e seu biquinho quando, devido ao barulho, você pediu bem pertinho do ouvido dele que dançassem a coreografia que sabiam desde o ensino médio, acelerando o coração do menino. Com a desculpa de que era seu aniversário, ele atendeu a todos seus desejos – como se já não fizesse isso em todos os outros dias do ano.
Quando a festa já tinha acabado e seus amigos estavam espalhados pelo caos do salão bagunçado, agora só um r&b romântico tocando baixinho de fundo, você e Mark estavam sentados em uma das mesas iluminadas pelas luzes coloridas do globo espelhado no teto. Seu cabelo já estava completamente solto, a maquiagem borrada e os pés já tinham abandonado os tênis a tempos. Comiam as sobras do jantar e Mark só conseguia pensar em como estava apaixonado por você, com cada célula do corpo cansado dele.
— Meu bem — ele começou dizendo mas travou quando ganhou sua atenção nele — Eu ainda não te dei o meu presente. Quis esperar até que estivesse mais tranquila.
— Agora eu sou toda sua — apoiou os cotovelos na mesa, o rosto entre as mãos. A imagem dos seus ombros desnudos pelo vestido e do seu cabelo desalinhado mexeram com a cabeça do garoto, o fazendo gaguejar e tremer. Te ver rir do estado dele só o deixava ainda mais deplorável, não era possível que fosse capaz de deixá-lo vulnerável sem fazer nada para tal. Mas você cumpria a missão.
Assistiu ele enfiar as mãos no bolso da camisa quadriculada e tirar uma caixinha preta de lá. Arregalou os olhos na mesma hora.
— Mark Rocky Lee — disse as sílabas separadamente o fazendo rir enquanto abria a caixinha. Lá dentro, um anel prata com uma pedra rosa em formato de coração estava guardada, brilhando.
— Sei que já sabe, mas esse não é meu nome — Mark estende a joia em sua direção e volta a dizer sem te olhar nos olhos, o coração batendo forte e as mãos suando pelo nervosismo — Você é provavelmente a minha pessoa mais especial. Eu te amo demais, espero que tenha tido o mais feliz dos aniversários.
Emocionada, você arrasta sua cadeira até que ficasse mais perto dele e segura em seu rosto. O garoto segura a respiração quando sente o contato dos seus lábios gelados e roxos pelo vinho que beberam no cantinho da boca dele. E em seguida, quando passa seus braços em volta pescoço dele e o puxa para um abraço, Mark sente que pode explodir ali mesmo ao te ouvir dizer:
— Você é a minha pessoa preferida também, Mark — a voz sai abafada e risonha — Espero que saiba.
Você se afasta e o olha nos olhos, sorrindo feliz. Mark imita seu ato e, com o peito cheio de paixão te responde:
— Eu sei.
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girlneosworld · 8 months
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.sometimes it's hurt;
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angst um pouco sensível, pode vir a ser gatilho. contém menção a agressão doméstica, esfaqueamento e ansiedade. me perdoem qlqr erro e boa leitura. <3
Os olhos se fecham com força e o peito se enche de ar. Odeia se sentir assim, o sentimento de angústia e a ansiedade que te faz tremer dos pés a cabeça. As vezes tudo que queria era poder desligar a própria cabeça.
Aquele apartamento escuro e abafado tem sido seu refúgio nos últimos dias, já se sente íntima do sofá de couro preto e da gatinha branca que se esgueirava entre suas pernas. Como de costume, se agacha quando entra e faz um carinho nos pelos macios de Luna. Logo ouve passos se aproximando.
— Trancou a porta? — a voz grave e rouca pergunta. Você levanta os olhos e assente. Jeno veste uma camiseta branca amassada e uma samba canção vermelha, presume que ele acabou de acordar.
Se levantando, você caminha até onde o rapaz está e entrega a ele as sacolas de papelão que carrega consigo. Vê quando o Lee arquea as sobrancelhas e espia para ver o conteúdo dali.
— Comida. De verdade — explica e dá dois tapinhas no ombro robusto — Quando eu vim na segunda só tinha macarrão instantâneo no armário.
Vai em direção a cozinha e abre a geladeira, tira de lá a garrafa de cerveja que deixou na última vez que esteve ali. Já está ruim, com gosto de velha e te causa uma careta.
Sente Jeno te observando do corredor e o olha, sorri fechado. Ele, porém, não retribui o gesto e se aproxima de você, deixa as sacolas sobre a mesa e para na sua frente, o corpo grande cobrindo o seu.
— Sabe que não pode ficar vindo aqui em casa desse jeito, não sabe? — ele diz depois de um tempo te encarando. O Lee respira fundo e segura seu queixo — A gente não 'tá mais junto.
— Tô atrapalhando? — pergunta, na defensiva. Dá dois passos para trás e aperta a longneck entre seus dedos.
— Não, flor. Sabe que não é por isso — ele bufa — Mas você tem um namorado. Um namorado que não sou eu.
Ouvir aquilo te abala mais do que deveria, principalmente porquê ele está certo. Você abaixa a cabeça e deixa os ombros caírem. Se sente burra e imponente. Burra por achar que Jeno te aceitaria assim, tão fácil depois de terminar com ele a um ano sem grandes explicações e sumir da vida dele por completo. Imponente por não conseguir explicá-lo agora o motivo da reaproximação repentina. Faz um mês desde que se reencontraram e que tem finalmente se sentido segura e cuidada outra vez. Mas já era de se esperar que ele não tolerasse aquilo por muito tempo.
Não percebe que seus olhos estão a ponto de transbordar até que sente uma mão em seu antebraço. O aperto não é forte mas desperta uma dor aguda que te assusta, e a garrafa que segurava cai no chão e quebra em vários cacos de vidro, espalhando o cheiro de cerveja pela cozinha. Jeno arregala os olhos orientais e imediatamente te puxa para perto dele.
— O que foi, hein? Sabe que pode me contar o que tá acontecendo — a voz serena e carregada de compreensão só serve para te fazer tremer, assustando o garoto — Vem aqui.
Ele te arrasta até a sala outra vez e vocês se sentam no sofá surrado, a gatinha se aconchega em seu colo e você sente as lágrimas ameaçando descer dos seus olhos. Então, ainda sem olhar para Jeno, tira a jaqueta jeans que usava e a aperta com as mãos suadas. Agora os braços e a clavícula estão desnudos.
Alguns minutos de silêncio se estendem. Começa a achar que foi uma má ideia, que não deveria despejar seus problemas sobre ele dessa forma e até pensa em levantar dali e ir embora para Deus sabe onde, mas é impedida quando o ouve dizer:
— Eu vou acabar com aquele desgraçado — finalmente o olha. Jeno tem a mandíbula travada e respira tão fundo que as narinas se expandem — Flor, desde quando ele tá fazendo isso com você?
Dá de ombros.
— Sei lá, uns três ou quatro meses. No começo eu batia de frente com ele, mas ele começou a ameaçar me matar — então você desabotoa a saia jeans longa que usa e expõe o corte que atravessa do seu umbigo até a virilha — Da última vez que eu tentei me defender ele me esfaqueou.
Não sabe ao certo o motivo de estar contando isso a ele, mas quando sente suas bochechas molhadas, não consegue parar de falar e falar.
— Eu... eu sei que isso não é da sua conta e que fui eu quem terminou com você. Mas eu sinto tanto medo, Nono. Eu temo pela minha vida todos os dias quando volto pra casa — continua a dizer e começa a soluçar. Sente suas mãos tremerem e acaricia Luna para tentar disfarçar — Não sei o que fazer. Me culpo tanto por deixar que aa coisas tenham chegado a esse ponto e...
É interrompida pelos braços fortes de Jeno que te envolvem e te apertam. Para de falar e se deixar levar pela segurança que ele te proporciona. Sente tanta falta dele, tanta falta de estar, de fato, em casa. Ouve quando ele funga e levanta a cabeça apenas para confirmar que, sim, ele está chorando também.
— Isso não é culpa sua, não repita isso nunca mais — a voz embargada diz, as mãos dele acariciando suas costas — Esse maldito nunca mais vai encostar em você. Nunca mais, me ouviu?
O Lee segura seu rosto choroso e te olha com toda aquela ternura que fez com que você se apaixonasse por eles anos atrás. Encostam as testas e choram juntos, você de alívio e ele, de preocupação.
— Você é e sempre foi o meu bem mais precioso. Nunca deixei de te amar e você não faz ideia do quanto dói ver as marcas que esse doente deixou em você — ele diz, trêmulo — Sei que não deve ser nem um terço da dor que tá sentindo e nos vamos cuidar disso, ok? Juntos. Vamos tratar dos seus machucados e do seu coração. Ele vai pagar por tudo que te fez passar. E eu vou cuidar você. Tá bom, meu amor? Juro que... — Jeno não consegue terminar de falar quando um soluço corta a garganta.
Ainda tremendo, você passa os polegares pelo rosto bonito do garoto e tenta sorrir para o tranquilizar. Vê quando ele morde o lábio inferior e olha para cima tentando cessar o choro, odiando toda essa situação. Odiando pensar que estava longe quando você estava sofrendo tanto.
— Isso é uma merda — você diz, por fim — Ele é um merda.
— É — concorda — Hoje você dorme aqui.
— Tá bem — concorda — Obrigada, Nono.
— Eu amo você.
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girlneosworld · 2 months
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3. certidão.
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olaaa a todos, tardo mas não falho (ou falho né, vai saber). tw de tiro, mas posso ter deixado algo passar. me perdoem qualquer erra e boa leitura. ♡
No reflexo do espelho, a sombra rosa parecia excessivamente cintilante nas pálpebras caídas da garota. Se daria o luxo de passar um algodão com demaquilante e refazer a maquiagem, mas não contaria com a sua sorte de demorar mais meia hora para sair de casa. Já se passavam das onze da noite e a casa estava em silêncio, todos aparentemente dormindo. Sentindo o celular vibrar no bolso da jaqueta jeans, ela entende que é um sinal para finalmente abrir a janela e sair de fininho.
— Caramba, Eunha, que demora — a garota no banco do motorista diz e então sorri — Tá gata.
— Você acha? — passa os dedos pelos fios tingidos de loiro — Fiquei com medo de ter exagerado.
— Não, ficou linda — começou a dirigir para longe da casa da Kwon e as duas foram em direção ao lugar que já era tão familiar para elas — Sabe quem vai concordar comigo?
— Ah, Zoe, para com isso — cobriu o rosto com as duas mãos, sentindo as bochechas esquentarem de vergonha — Ele deve me achar uma boba. Da última vez que fomos lá eu mal tive coragem de falar com ele.
— Eu concordaria com você se o convite para irmos até o SaxyClub não tivesse vindo diretamente da boca dele.
Aquilo faz Eunha arregalar os olhos, surpresa. Passa o restante da curta viagem de carro pedindo todos os mínimos detalhes para a amiga de tudo que o seu paquera tinha dito sobre ela quando conversaram no dia anterior. A garota sente seu coração batendo descompassado e as mãos suadas quando pararam na frente da balada que íam todas as sextas-feiras, religiosamente, no último mês. Mostraram as identidades falsas ao segurança e, enfim, entraram.
Do lado de dentro a música era alta e haviam muitas pessoas espalhadas por lá, fazendo com que as duas precisassem se espremer para passar por entre os corpos amontoados e chegarem até o bar. Beberam sozinhas por alguns minutos antes que um grupo de garotos chegasse para acompanhá-las, um entre eles se destacando aos olhos de Eunha.
— O que tá bebendo? — o garoto de cabelos compridos senta ao lado dela e diz ao garçom — Vou querer um igual ao dela.
— É uma piña colada, é bem gostoso — responde, tímida — Obrigada por ter nos convidado. Foi bem legal da sua parte.
Wonbin sorri e dá de ombros.
— Queria te ver de novo, não foi nada — ele pisca e pega sua bebida dando um gole generoso antes de voltar a falar — Depois daqui os caras vão fazer um after na casa do Eunseok, anima?
Eunha morde o lábio, receosa, e olha na direção de Zoe, que está sentada no banco ao lado conversando com dois dos garotos, procurando uma aprovação ou um sinal de que aquilo não fosse uma boa ideia. Mas, como já era de se imaginar, ela levanta os polegares e assente com a cabeça.
— Claro.
𖥔
De dentro do carro, você assiste o sol começar a nascer através da janela. Estava deitada no banco de trás, acordada não há muito tempo, abraçada de seu casaco e usando a mochila como travesseiro. Despertou do seu sono depois de ouvir um baque do lado de fora do armazém em que o carro estava parado, diferentemente de Jeno que não se moveu da posição que estava deitado a várias horas no banco da frente.
Como já era um consenso entre vocês, alternavam as noites nos bancos traseiros, que eram obviamente mais confortáveis para passar a noite. Quem dirigia durante o dia ficava atrás e o outro se espremia na carona. Em outras circunstâncias você sentiria pena de ver um homem enorme feito o Lee todo encolhido entre o pedaço nada espaçoso em que ele dormia, mas não tinha nenhum remorso te atormentando.
Depois do contato com o coronel vocês procuram algum lugar próximo do hospital para passarem a noite, e assim não correrem o risco de serem surpreendidos com muitas pragas lá dentro. Acharam um galpão na rua debaixo, que provavelmente era a parte de trás de algum supermercado, e depois de fazerem uma limpa no lugar e se certificarem de bloquear os portões com as caixas de madeira pesadas que estavam espalhadas, ficaram por lá mesmo. A única visão que dava para o lado de fora eram das vigas de concreto no alto, que possibilitava que a luz iluminasse o lugar.
— Que horas são? — ouviu a voz rouca do seu parceiro murmurar enquanto ele abria os olhos devagar.
— Meio dia e quarenta — você responde.
— O que? Tudo isso? — ele se exaspera.
— Não. O relógio tá aí no porta-luvas, olha você — dá de ombros e ouve quando Jeno bufa e resmunga algo que você não entende, te causando um sorriso — Acabou de amanhecer, tenente Lee.
Jeno vasculha o porta-luvas e tira o relógio de ponteiro que trouxeram de lá, checando as horas e se deitando no banco logo depois, aparentemente cansado.
— Cinco e cinquenta e quatro — ele suspira — A gente tem mesmo que ir até o hospital?
— Quer ser demitido? — pergunta, sem resposta — Pois é, eu também não quero.
— Eu tenho tanta pena do homem que vai se casar com você e ser obrigado a acordar do seu lado todos os dias — murmurou o rapaz, bocejando — Você é um péssimo estímulo matinal.
— Oi? — sua voz sobe duas oitavas.
— Sem ofensas — Jeno levanta as mãos — Apenas comentando.
— Vai ter "estímulo matinal" o suficiente quando arranjar uma mulher que se odeie o suficiente pra se casar com você — esbraveja e bufa logo em seguida — Por enquanto vai ter que se contentar.
— Me contentar com o que? Com o seu mau humor desnecessário tão cedo da manhã?
— É, com a minha desagradável presença matutina — diz com uma das sobrancelhas arqueadas e se levanta, colocando o corpo entre os bancos da frente pegando seus sapatos que estavam ao lado dos pés do Lee — E acho bom que se contente rápido. Precisamos sair daqui.
Jeno pragueja quando te ouve, sabendo que você tem razão. O rapaz passa as mãos pelo rosto cansado e também começa a calçar as próprias botas, te assistindo pegar sua mochila e abrir a porta, saindo do carro.
— Tá indo onde? — ele abre a janela e pergunta, vendo você tirar lá de dentro o moletom das Forças Armadas Contra o Terrorismo — Vai vestir isso por algum motivo especial ou...?
— Só gosto do meu antigo uniforme, Lee. E eu preciso trocar de roupa — explica a ele mesmo que não visse necessidade para aquilo — Tá planejando me ver sem blusa, por acaso?
— O que? Claro que não — arregalou os olhos e, se não estivesse ido para a parte de trás do carro, conseguiria ver a expressão indignada, quase ofendida de Jeno — Você é muito exibida de ficar andando para cima e para baixo com esse moletom, só isso.
— Só sabe me chamar de exibida, você não é muito criativo — tirou o casaco xadrez e a camiseta que vestia antes, os substituindo pela nova peça — Nem me ofende mais.
Embolou as roupas e jogou pela janela, pegando a arma que usou nos últimos dias e abrindo o porta malas. Ficou parada por alguns segundos, pensando qual seria a troca que faria.
— Não trouxe nenhuma arma de gente normal? — Jeno apareceu do seu lado de repente, ainda com uma cara de quem recém acordou, as roupas amarrotadas e cabelo bagunçado.
Você revira os olhos e pensa em como ele não troca o disco, nunca.
— Arma de gente normal? — franziu o cenho e olhou para ele — O que isso deveria significar?
— Sabe, armas fáceis de transportar, de recarregar, de atirar. Esse tipo de coisa — ele dá de ombros como se estivesse dizendo algo óbvio demais.
— Se você não sabe fazer todas essas coisas — usou o indicador para gesticular e o apontou no peito dele em seguida — O problema é todo seu. Nas Forças Armadas a gente usa não revólver.
Jeno, te olhando de cima, ri com sarcasmo e segura seu pulso, aproximando o rosto do seu enquanto aperta os olhos.
— No exército também não, e nem por isso eu saio me gabando do tamanho das minhas armas por aí.
Você arquea uma sobrancelha e puxa sua mão, o olhando de cima a baixo.
— Não deve ter muito do que se gabar mesmo — murmura e volta a se concentrar no porta malas, tirando seu fuzil de lá de dentro e checando se estava devidamente carregado, fechando o porta malas logo após.
O tenente revira os olhos.
— Vamos deixar para a minha futura mulher que se odeia o suficiente para checar esse detalhe — pisca para você, te causando uma careta enquanto ele abre a porta de trás e pega a própria mochila — Por mais que eu odeie admitir, é mesmo melhor que a gente leve armas para o hospital. Duvido que lá esteja vazio.
— É, pois é. Eu, como sempre, tenho razão — dá de ombros, convencida, e vai em direção ao portão — Vou tirar as caixas e você sai com o carro.
— Não sigo ordens debaixo, Borboleta — Jeno dá a volta para ir até o banco do motorista.
Você ri com escárnio e resolve que talvez seja melhor apenas ignorá-lo, preservando assim a sua paz de espírito e não começando o dia com sua paciência no zero. Então, faz o que disse que iria fazer, arrastando as grandes caixas de madeira e desfazendo o nó da corda que amarrou alí horas antes. Fecha um dos olhos para enxegar através do buraco da fechadura e, ao não ver nada do lado de fora, faz força para abrir os portões, liberando a passagem para que Jeno saísse com o carro do armazém. Assim que está do lado de fora, você entra e se senta no banco do carona, vendo o Lee já com sua jaqueta e o boné do batalhão na cabeça.
Seguem, então, rumo ao hospital. Durante o curto percuso, você pega uma das mochilas e coloca dentro dela algumas coisas que pensa serem necessárias. A corda, dois walkie-talkies, munição para as armas, lanternas. Acha no fundo do estofado o seu boné do batalhão e pega em mãos, analisando cuidadosamente e pensando sobre usá-lo ou não. Olha para Jeno e o analisa com o próprio boné na cabeça.
— Que foi? — ele pergunta quando sente que está sendo observado.
Você o deixa sem resposta e desiste da ideia, apenas jogando o objeto na parte traseira.
Não demora muito para chegarem no quarteirão do hospital e decidem deixar o carro estacionado na parte de fora do estacionamento, para que o acesso quando saíssem fosse mais fácil. Pegam seus respectivos pertences e deixam o veículo, indo em direção a entrada do lugar. Não deixam de observar ao redor, em estado de alerta para qualquer sinal de algo fora do normal, mas está tudo aparentemente no lugar. Como sempre, não ouvem nada que não seja o som dos próprios sapatos em contato com o asfalto.
As portas de vidro possibilitam que vejam a parte de dentro do hospital, o que facilita muito para que saibam qual seria a maneira mais inteligente de entrar.
— Tá tudo quieto.
— E escuro — você adiciona, aproximando o rosto do vidro para ter uma visão melhor do interior da recepção — Você tem razão, Lee. Tá tudo quieto, muito quieto.
Jeno te acompanha e também observa o espaço vazio que você olha.
— Pega as lanternas e destrava a arma — ele diz e você assente, o entregando uma das lanternas e segurando a outra, destravando o fuzil em seguida — Consegue segurar os dois ao mesmo tempo?
— Que merda de pergunta é essa? — indaga enquanto segura a fonte de luz entre os dentes e posiciona sua arma da forma correta nos braços. Aponta na direção de Jeno, o que o faz franzir o cenho, e aponta para a porta depois indicando que ele abra.
— Espertinha — e então, sem mais nem menos, ele dá um chute na fechadura. Você revira os olhos, pensando em como ele poderia ter transformado o vidro em milhares de pedacinhos com aquele agressividade desnecessária, e entra antes dele — De nada.
Assim como viram pelo lado de fora, lá dentro estava tudo aparentemente quieto. As lanternas facilitam para que consigam ver as extremidades da recepção. Os móveis, as plantas, estava tudo revirado e quebrado, uma verdadeira bagunça. Andaram um pouco pelo espaço e chegaram no começo de um enorme corredor que dava em várias portas, corredor esse que, diferentemente da recepção, tinha as luzes funcionando.
— Vou dar uma olhada nas salas e nos consultórios, procura na recepção — Jeno disse e saiu andando, não te dando a oportunidade de contrariá-lo.
Se dando por vencida, você dá meia volta e vai para atrás do balcão, se deparando com várias gavetas, algumas abertas, outras no chão, outras em seu devido lugar. Muitos papéis e envelopes estavam espalhados também, o que te faz fechar os olhos em derrota. Aceitando que não seria a tarefa mais fácil de todas, você aumenta a intensidade da laterna na sua boca e se agacha, começando a procurar por qualquer coisa que julgasse útil.
Toda aquela bagunça acaba por te dar trabalho, quase chora quando percebe que precisaria ler cada mínimo nome de todos os prontuários. Suspira enquanto pega uma das gavetas avulsas jogada, mais envelopes, mais papéis. Confere um por vez, joga de forma desleixada quando não encontra nada. Procura em outra gaveta, e outra, e mais uma. Nada. Vários nomes, muita gente doente, mas nada do que estava procurando.
Muda, então, o local de busca. Se ergue outra vez e varre o olhar pelo balcão, seus olhos parando no computador praticamente em pedaços que estava jogado sobre a superfície de madeira. Não perde tempo em tentar ligá-lo, ação essa que é mais lenta do que gostaria. O monitor do aparelho estava tão quebrado que dificultava que enxergasse grande parte da tela, tinha manchas pretas e coloridas espalhadas pelas extremidades, as partes rachadas triplicavam o número de letras escritas. Ficou aliviada, porém, quando o viu aceso, mesmo que com as limitações.
Inclinando o tronco para dar uma espiada no corredor, tudo que teve em resposta foi o silêncio. Logo volta sua atenção para o computador, arrastando a setinha do mouse pelas pastas da área de trabalho, precisando espremer os olhos para que conseguisse ver com mais clareza. E seu rosto se ilumina quando vê uma das pastas nomeada como 'Fichas de Anamnese'. Quando clica sobre o ícone, porém, uma mensagem de 'Acesso Restrito: Digite o código-chave' te decepciona.
— Merda... — observa ao decorrer da recepção, usando a laterna como auxílio. Procura por qualquer mínimo sinal de algo que poderia ser usado como senha, olha os post-its coloridos colados no mural, mas nada parecia promissor — Pensa, pensa.
Corre os dedos pelo mural e, quando desce o toque para a parte inferior, sente uma das pontas de madeira solta. Coloca a arma sobre o balcão e segura a laterna em uma das mãos, soltando a capa do mural e vendo uma data cravejada. 2017.04.17
E quando tenta os números no campo da senha de acesso, a pasta logo te é liberada. Você grunhe de felicidade.
Busca por Kwon Eunha na barra de pesquisa e dois documentos diferentes são liberados, clica no que aparece primeiro.
1) Dados gerais
Nome: Kwon Eunha
Idade: 18
2) Queixa Principal: Convulsões fortes e recorrentes.
Sexo: Feminino
Filiação: Kwon TaeHee e Lee Soojin
3) Avaliação do paciente:
Diabetes ( ) Tabagismo ( X ) Varizes ( )
Sinais vitais PA: 132 bpm
Peso: 48kg
Epilepsia ( X ) Lesões ( X ) Cirurgias ( )
Você suspira e direciona o documento para impressão, ficando muito grata pela máquina impressora acoplada ao computador. Enquanto o prontuário fica pronto, clica no segundo item que apareceu quando buscou pela nome da garota. Suas sobrancelhas imediatamente se erguem.
'Certidão de Óbito'
— Achou alguma coisa?
— Puta que pariu — pula de susto quando ouve, de repente, a voz do Lee no seu ouvido. Coloca a mão sobre o peito e sente o coração acelerado, se vira na direção do rapaz e o encontra segurando o riso — Você tem alguma problema? Seu imbecil.
Jeno dá uma risada contida e se aproxima de você.
— Não tinha nada sobre a garota nos consultórios do primeiro andar, preferi passar pra te ver antes de subir — explica ele se escorando no balcão.
— E o que é isso aí? — aponta com a cabeça para os lençóis envoltos em alguma coisa — Agora você rouba hospitais?
— Não é roubo se, tecnicamente, não é de ninguém mais — diz e desembrulha as coisas, te entregando em seguida. Você, por sua vez, pega os objetos com uma careta no rosto — Duas bolsas de soro, lençóis para o frio, curativos, bisturi, esparadrapos, camisolas e...
— Camisolas? — o interrompe com uma risada, Jeno dá de ombros.
— Nunca se sabe, Borboleta — ele tira um pote de remédios do fundo da bolsa improvisada — E por último, remédio.
Você semicerra os olhos para conseguir ler o nome do medicamento e o olha com uma sobrancelha arqueada.
— Jeno, isso é sertralina — diz devagar, o assiste voltar a guardar seus novos pertences e amarrar as pontas dos lençóis sobre um dos ombros e sob uma das axilas, e depois dar de ombros outra vez — Você, por um acaso, sabe pra quê isso serve?
— Pra dor? — responde o tenente como se fosse muito óbvio e você revira os olhos, tomando o frasco da mão dele, que se indigna — Ei, eu que peguei.
— Você é um idiota — guarda no bolso do moletom e aponta na direção da impressora — Achei o prontuário da Eunha. Parece que ela tinha epilepsia.
— Tinha? Não tem mais? — pergunta e pega o papel, lendo as informações.
— Achei uma certidão de óbito no nome dela também, aparentemente ela bateu as botas.
Jeno desvia o olhar da ficha e encara a certidão na tela do computador, fazendo uma careta confusa.
— Por que o coronel quer a amostra de uma pessoa morta?
Queria ter uma resposta para aquela pergunta, mas, infelizmente, estava tão confusa quanto ele. Não consegue encaixar as peças na sua cabeça, por mais que se esforce. Toda aquela história era muito estranha e sua vontade maior era questionar o próprio coronel sobre aquilo. Por que Eunha? Por que se ela está morta? Quem é Kwon Eunha?
Se questiona sobre tudo isso em silêncio e termina de imprimir o segundo documento quando de repente um barulho muito alto assusta você e Jeno. Trocam olhares rápidos e se armam, olhando na direção em que veio o barulho, e parecia vir do final do corredor. Logo ouvem outro baque, tão alto quanto o anterior, mas mais perto desta vez. Percebem, então, que seja lá o que estava no corredor, estava se aproximando.
Colocando o indicador sobre a boca em pedido de silêncio, você passa pelo Lee e caminha cautelosamente até estar entre a penumbra e a parte iluminada do primeiro andar. Consegue ouvir o som de pegadas arrastadas e alguns grunhidos, o que acaba por confirmar o que está indo até vocês. Uma praga, uma solitária, se estiverem com sorte. Você se agarra ao fato de que ela viria de um lugar iluminado e se inclina para conseguir enxergá-la. E estava certa.
Em frente a um dos consultórios, a praga bate sua cabeça contra a porta. Consegue ver quando, a cada novo impacto, cacos de vidro abrem a pele da testa do morto-vivo, deixando o rosto ainda mais deformado. Aparentemente ela não nota vocês, por isso, acena para Jeno e sinaliza para que saiam do hospital. Em silêncio, ele pega os papéis e te segue.
Na ponta dos pés, caminham até a entrada e ele abre apenas uma brecha para que se espremam entre ela e sigam até o lado de fora. E quando finalmente estão na rua e longe do hospital, um suspiro esvazia seus pulmões, aliviada.
— Eu odeio esse trabalho — o ouve resmungar do seu lado — Com quantos anos será que consigo me aposentar?
— E eu lá sei? — o encara com o cenho franzido — Podia parar reclamar por meia hora que seja.
— Não tô reclamando, só fazendo um comentário — ele justifica e você apenas assente, desinteressada — Tipo, esse trabalho já deve ter me tirado uns dez anos de vida. Envelheci uma década em trezentos e sessenta e cinco dias.
— Uhum — concorda sem olhá-lo e continua subindo o morro em direção ao carro de vocês.
— E eu aposto que ganho uma bolada de aposentadoria. Tô servindo ao país, afinal.
— Pois é, Jeno.
— Acho muito chique o posto de ex-militar. Imagina só, 'ex-tenente militar, Lee Jeno' — ele abre as mãos no ar, orgulhoso do futuro título, mas quando olha para você e percebe que não estava prestando atenção nele, Jeno murcha — Nem tá me ouvindo.
— Hum? — se vira para ele no instante certo para que visse a carranca que se apossou do rosto dele. As sobrancelhas imediatamente caíram junto dos olhos, o nariz se retorceu e os vincos de animação na testa dele sumiram.
— Como você é arrogante e prepotente, argh — ele falta rosnar quando diz, de repente assumindo um estado agressivo.
Seus olhos se arregalam.
— Ei, bonitão, calma lá — dá uma risada soprada — De onde veio isso? Você tá ficando muito gratuito.
— Não, não tô. Acho que não é exatamente agradável tentar conversar decentemente com alguém e a pessoa só fingir que você não existe — aquilo te arranca outra risada, uma mais sincera dessa vez.
— Não me diga que ficou magoado, Lee — semicerra os olhos na direção dele e tudo que recebe em resposta é ele bufando — Não fazia ideia de que é tão carente de atenção assim.
— Quer saber? É melhor assim, você se acha demais para que eu aguente — e então, Jeno aperta o passo e começa a andar na sua frente. Você percebe que ele ficou verdadeiramente irritado e, mesmo que ache bobo e absolutamente sem sentido, segura sua risada e tenta acompanha-lo.
— Ah, qual é, para de levar pro coração — diz ofegante — E suas pernas são muito maiores que as minhas, vai mais devagar.
Ele continua no mesmo ritmo e te ignora completamente.
— Tá bom, foi mal! Foi mal! Se isso machuca tanto o seu coração, eu não finjo que não tô te ouvindo mais, Jeno — continua tentando, sem sucesso.
Acha a situação muito cômica, para ser sincera. O tenente Lee, aquele mesmo com a fama de mesquinho do batalhão, estava genuinamente bravo com você. E melhor, estava bravo simplesmente porque não respondeu meia duzia de palavras dele. Não se importava realmente caso ele não quisesse mais falar com você, mas é engraçado demais para que deixe passar. E as suas risadas mal seguradas não falham em irritá-lo ainda mais.
— Só não começa a chorar, por favor — caçoa — Não sei lidar com pessoas chorando...
Ia continuar o enchendo até que ele parasse com de birra, mas parou de falar e, bruscamente, suas pernas travaram no lugar quando ouviu um som de tiro e, ao mesmo tempo, Jeno caiu no chão com as mãos no ombro e sangue jorrando dele. Arregalou os olhos, assustada, e destravou o fuzil que carregava, olhando em todas as direções possíveis.
Até que viu, atrás de uma das árvores daquela rua, uma arma que dessa vez estava apontada para você. E o suposto atirador, quando percebeu que tinha sido notado, se preparou para dar outro disparo.
— Mãos na cabeça na cabeça e armas no chão. Tem cinco segundos antes de eu estourar os miolos de vocês, seus militares de merda.
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girlneosworld · 9 months
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PAPAI.
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aqui eu coloco toda a minha vontade de ter o tae como maridinho e futuro pai de menina.
tw: altas doses de fofura e Lee Taeyong como um grande paizão.
No exato momento em que o sol deixava o céu e dava espaço para as nuvens alaranjadas e roxas darem a cor que refletia na janela do cômodo, foi o momento em que você tirava o excesso de tinta do pincel no pote d'água apoiado na mesa ao seu lado. Voltou sua atenção novamente para o quadro a sua frente, o lábio entre os dentes enquanto analisava seu mais recente poço de dedicação, uma vez que não saía mais trabalhar todos os dias.
Ouviu um pigarro e olhou na direção que o som vinha, dando um sorriso assim que viu Taeyong parado na batente da porta, um semblante cansado após um dia árduo de trabalho que logo foi substituído por uma expressão de carinho. Esperou que ele viesse até você e se inclinasse para deixar em selar singelo em sua testa. Ele tombou a cabeça para o lado.
— Está tendo sucesso no seu quadro? — O Lee perguntou observando sua pintura. Você deu de ombros, o mindinho afastando uma mecha de cabelo da frente do seu rosto.
— Hm, acho que sim. Mas ainda está pela metade. — Respondeu simplesmente enquanto tentava pegar outra aquarela, tendo um pouco de dificuldade pelo peso que vinha de seu abdômen. — Pretendo terminá-lo antes que sua filha nasça.
O homem riu e olhou diretamente para sua barriga enorme. Estava com 39 semanas exatas de gestação e mal podia aguentar o peso que carregava, mas o que te confortava era saber que a qualquer momento a neném de vocês viria ao mundo. Taeyong ficava completamente encantado, se já te achava linda antes, agora, grávida da filha dele, não conseguia simplesmente achar adjetivos que definissem como estava maravilhosa. E cenas como essa, você com um dos seus marcacões de moletom que começou a usar na gravidez, o rosto sujo de tinta e a luz da tarde ilumindo seu rosto, só contribuiam para que ele se apaixonasse por você outra vez, várias e várias vezes.
— E como está minha garotinha? — Se agachou a sua frente e deixou a mão descansar sobre sua barriga, um toque terno enquanto tentava sentir algum movimento vindo lá de dentro. O olhar do Lee era sempre tão carinhoso em sua direção que te deixava boba.
— Dando bastante trabalho. — Se apoiou no encosto da cadeira estofada, a voz com um pingo de cansaço — Está mais pesada do que nunca, não para de se mexer e está deixando minhas costas doloridas.
Ouviu o que pareceu ser uma risada soprada e arqueou uma das sobrancelhas.
— Você deveria ir descansar, seus pés estão parecendo pãezinhos de tão inchados. — Brincou lhe causando um riso nasal enquanto começava a organizar as coisas para fazer o que ele disse. — Deixe isso ai, eu arrumo. Vá tomar banho.
— Sempre tão prestativo, por isso engravidei de você. — Sorriu antes de deixar um beijinho nos lábios dele, se levantando com uma mão na base da coluna e a outra no topo da barriga. Taeyong logo te ajudou a ir até o corredor. — Sei andar sozinha, Tae. — Disse brincalhona.
— Claro que sabe, amor. Mas tenho medo que seus pés explodam se colocar muito peso neles. — Assim que chegaram na porta do banheiro de vocês, ele abriu a porta e sorriu — Não demore, eu já venho.
— Ok.
•••
Assistiu Taeyong abrir a porta do guarda-roupa e mexer em algumas coisas lá dentro. Estava deitada na grande cama de casal com dois travesseiros abaixo de sua cabeça. Sentiu vontade de rir quando percebeu que mesmo assim ainda não conseguia enxergar seus pés e nem nada que estivesse abaixo da sua virilha. Viu seu namorado voltar para perto de você com um vidro de creme em mãos e se sentar ao seu lado.
— Tenho que passar creme nessa barriguinha. — Ele disse enquanto abria seu roupão de banho. — Hoje é dia de conversar com essa pequenina aqui.
— Mas você fala com ela todos os dias. — Riu junto com ele, que deu de ombros concordando. Taeyong despejou um pouco do creme em suas mãos e começou a espalhar por toda circunferência de sua barriga. — Quem sabe ela fica quietinha se você conversar com ela.
— Ah, eu queria que ela mexesse. — Um bico se formou nos lábios do homem e você não pode evitar de achá-lo adorável. O Lee continuou passando as mãos pela pele dura e esticada quando aproximou o rosto e para sentir o perfume do creme.
— Porque não é em você que ela dança, 'né?!
— Minha linda, ela está apenas imitando o pai dela. Aposto que vai ser uma grande dançarina quando crescer. Não é, neném?
Você revirou os olhos.
— Filha, conta pro papai — Ele começou dizendo — Você vai parecer mais comigo ou com a mamãe quando estiver maior? Tomara que se pareça comigo.
— E por que ela não pode se parecer comigo? — Indagou rindo.
— Está doida? Imagina se ela fica bonita como você, com esse cabelo e esse rostinho? Vou passar por muita dor de cabeça. — Explicou gesticulando com as mãos antes de voltar a falar com sua barriga — Se bem que ela vai ser tão linda se vier igualzinha a você, vão ser as mulheres da minha vida.
— Eu queria que ela tivesse os seus olhos. — Você diz colocando uma das mãos ao lado da dele. — Filha, você vai vir igual ao papai, ou igual a mamãe?
Vocês dois ficaram uns segundos em silêncio, esperando alguma resposta da garotinha dentro de você. E então, como se ela realmente entendesse alguma coisa, ela chutou sua mão. Taeyong abriu um sorriso de orelha a orelha.
— Ah, eu vou sofrer pelo resto da minha vida — Choramingou fazendo drama — Em compensação, você vai ser a menina mais linda e perfeita desse mundo. — Ele deixou um beijinho sobre sua mão, já que era, aparentemente, onde a bebê estava.
Ele pegou mais um pouco de creme para espalhar em você antes de voltar a dizer:
— Mas sabe, filha, você já está ai a muito tempo, 'né? Acho que já está na hora de sair do forninho. — Voltou a passar as mãos na barriga — Sua mãe já está ficando cansada e com dor, acho que você já está grande demais para continuar na barriga da mamãe. E ficando sem espaço para dançar ai dentro. E o papai não vê a hora de ver o rostinho da minha princesinha, de pegar você no colo e sentir o seu cheirinho também. Você precisar sair daí logo para dançar com o papai aqui, e não dentro da sua mãe.
Enquanto ouvia tudo que ele dizia atentamente, você nem percebeu quando seus olhos ficaram aguados. Um sorriso espontâneo decorava o seu rosto com todo aquele amor que Taeyong transmitia e com o carinho que já tinha mesmo antes da bebê nascer. Quando descobriu sua gravidez, a nove meses atrás, não tinha dúvidas de que Lee Taeyong adoraria a notícia, e olhando para a cena que presenciava agora, não conseguia ter mais certeza disso.
— Meu amor, você está chorando? — Foi tirada de seus pensamentos com a voz macia de seu homem. Então notou que as lágrimas já estavam rolando pelas suas bochechas inchadas.
— Argh, são essas drogas desses hormônios. — Resmungou passando a mão pelo rosto. — Estou bem.
Taeyong fechou o vidro que estava sobre o cama e o deixou no móvel ao lado de vocês. O Lee se ajeitou deitando sobre seu busto, tomando cuidado para não deixar o peso em seus seios sensíveis e lotados de leite materno. Ele tornou a colocar as mãos em sua barriga enquanto falava com a voz mais baixa, você fazendo carinho nos cabelos rosa dele.
— Eu fico pensando, em qual o momento isso aconteceu. As vezes eu não sei como isso pode acontecer de uma para outra.
— Você quer mesmo que eu te diga como isso aconteceu? — Ele podia apostar que você estava com as sobrancelhas arqueadas agora e riu com esse pensamento.
— Claro que eu sei como você engravidou. Aliás, fui em quem colocou nossa neném em você. — Revirou os olhos quando ele riu outra vez. — Quero dizer que não sei como as coisas podem ser assim. A um ano atrás nós nem morávamos juntos ainda. As vezes, quando eu estou na sala de prática com o restante dos garotos, eu fico me perguntando: será que eu serei um bom pai?
— Tae, sinceramente, eu nem sei como você chega nesse questionamento. Você já tem um instinto de cuidar e zelar pelos outros, seja comigo, com os meninos do grupo ou com qualquer pessoa que você tenha o mínimo de carinho. Não consigo imaginar como seria diferente com nossa filha. Tenho certeza absoluta que você será o melhor pai do mundo para ela, vai amá-la incondicionalmente e fazer com que ela sinta orgulho de ser sua filha todos os dias.
— Eu te amo — ouviu ele dizer com a voz embargada enquanto se levantava para te beijar carinhosamente, as mãos agora em rosto. Assim que descolou os lábios do seus, ele ficou com o rosto ainda próximo, os narizes se tocando e olhos fechados. — Ah, e falando nos meninos, acabei de lembrar de uma coisa.
— O quê?
— Eles pediram para você ir até lá vê-los qualquer dia desses. Estão com saudades de você e querem te ver grávida antes que ela nasça. Palavras deles.
— Posso ir lá amanhã, se não tiver algum problema.
— Claro, problema nenhum. — Te beijou outra vez antes de você o empurrar repentinamente. — Yah, o que foi?
— Preciso fazer xixi. — Você foi até o banheiro o mais rápido que sua barriga permitia antes que fizesse tudo nas calças, deixando um Taeyong rindo na cama.
•••
Passaram pela porta da sala de prática da SMTOWN e logo uma explosão de comprimentos recebeu vocês. Taeyong estava segurando suas bolsas nas mãos, já que segundo ele, era melhor estar sempre prevenido e nunca se sabe quando você pode começar a entrar em trabalho de parto. Você estava vestindo um dos vestidos longos de alcinha e tecido leve que tinha ganhado ao longo da gravidez e estava com os cabelos soltos ao redor do rosto. Ouviu uma série de elogios do pai de sua filha antes de saírem de casa.
— Até que enfim você veio nos visitar. — Doyoung se aproximou de você e te deu um abraço. — A gente queria mesmo te ver antes da minha afilhada nascer.
— Yah, parece que você engoliu uma melancia — Ouviu Donghyuck dizer e semicerrou os olhos na direção dele enquanto abraçava o outro.
— Muito engraçado, Haechan. — Ironizou para ele.
Terminou de cumprimentar o restante dos meninos e agradeceu aos elogios de todos eles. Mesmo que tenha tido a oportunidade de conhecer os 23 garotos do grupo, com certeza tinha mais afinidade com os membros do Nct 127. Talvez por ser a unit que seu namorado fazia parte, não sabia ao certo, mas os considerava seus amigos também. Nunca se esquecia de como foi quando eles ficaram sabendo da gravidez, até hoje eles discutiam sobre quem seria o padrinho da bebê. Como estavam fazendo agora.
— Pare de chamá-la de afilhada, já sabemos que sou em quem vou ser o padrinho dela — Ouviu Taeil dizer em frente ao espelho da sala, o que causou um alvoroço com o restante dos membros — Sou o mais velho, tenho mais autonomia para cuidar de uma criança.
— Como assim? EU vou ser o padrinho dela, desencana disso ai — Foi a vez de Jaehyun dizer — Eu quem apresentou os dois, portanto, nada disso aconteceria se não fosse por mim.
— Mas eu sou o melhor amigo do pai. — Doyoung retrucou.
— E eu o melhor amigo da mãe. — Yuta cruzou os braços.
— Essa é claramente uma função para mim, quem vai conversar em inglês com essa criança? — Mark pergunta.
— Eu vou! — Johnny e Jaehyun dizem ao mesmo tempo.
— Mas eu fiquei sabendo da gravidez primeiro. — Jungwoo argumentou.
— Ah, parem com isso, ela nem saiu de dentro de mim ainda. — Você interrompeu a discussão, colocou a mão na coluna e fez uma careta. — Preciso sentar em algum lugar antes que a sobrinha de vocês me mate de escoliose.
— Vem cá, amor, senta aqui. — Taeyong te guiou até um dos sofás que havia ali, te colocando sentada confortável. Você soltou um suspiro de alívio quando encostou as costas no assento, mesmo que o desconforto não tenha passado.
— Você já sentou, como podemos notar — Haechan disse fazendo todos na sala rirem e você lhe lançar um gesto nada amigável com a mão. — Nossa, mas 'pra que isso.
O ignorando, você começou a acariciar sua barriga enquanto eles se distraiam com algum assunto que não prestou atenção em qual era, sentindo um incômodo no começo do abdômen. Antes que pudesse se questionar o que estava acontecendo, viu o Nakamoto se sentando ao seu lado.
— Como está? — Ele falou mais baixo, apoiando o rosto na mão. — Ansiosa com a chegada dela?
— Muito, na verdade. — Admitiu. Como ele mesmo já tinha dito anteriormente, Yuta realmente era seu melhor amigo entre todos. Mesmo que tivesse sido Jungwoo a ficar sabendo da gravidez antes de todos, foi o japonês quem te deu coragem a contar para o pai da criança. — Não vejo a hora dela sair daqui de dentro. Mesmo que eu ache que vou sentir falta da gravidez.
— Mas nada vai se comparar a conhecer finalmente a nova integrante da neo city. — Ele sorriu. — Estou muito feliz por você e pelo Taeyong. Certeza que vão ser pais incríveis para ela.
— Obrigada, Nayu. — Sorriu também, mas logo seu rosto foi tomado por uma expressão de dor. — Ah, merda.
— Hm? O que foi? — Yuta perguntou vendo você começar a ofegar.
Sentiu uma pontada de dor se alastrar desde seu ventre até suas costas, uma dor muito mais insuportável do que as que estava acostumada. Sentiu algumas cólicas durante a madrugada mas preferiu ignorar e não perturbar Taeyong com isso, mesmo que ele não se importasse nenhum pouco em te amparar durante a noite. Mas agora estava ficando impossível aguentar, ao ponto de você contorcer todos os músculos do seu corpo com a dor.
— Linda? O que foi? Está passando mal? — Taeyong correu até você quando ouviu seu gemido de dor, vendo que estava apertando os olhos e o estofado do sofá entre os dedos. Ele pegou sua mão a sentindo gelada, os meninos começando a olharem preocupados para você. — Amor, fala comigo.
— Lee Taeyong a sua filha está me dando muito trabalho. — Você gemeu outra vez, a dor ficando mais forte.
— Ok, fica calmo. — Ele sussurrou para si mesmo, um pouco perdido nos acontecimentos. O que ele tinha que fazer mesmo?
— Fica calmo o caralho. Eu te amo muito mas quero te esganar agora mesmo por ter me engravidado. — Colocou ambas as mãos na barriga enquanto os outros, menos Taeyong, riram pelo o que você tinha dito.
Até que, no meio de vários xingamentos e gemidos altos de dor, você sentiu algo escorrer entre suas pernas e molharem o sofá da sala de prática. No mesmo momento, direcionou seu olhar para Taeyong, que arregalou os olhos quando o líquido começou a pingar no chão.
— A bolsa estorou. — Você murmurou ainda estática.
— AH, MEU DEUS! A bolsa estorou! — Taeyong gritou exasperado e em pânico.
— Ah, meu Deus, o meu sofá!
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girlneosworld · 3 months
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1. ação ou efeito de salvar(-se), de libertar(-se);
2. pessoa ou coisa que salva (de perigo, situação difícil etc.;
3. passagem de uma situação difícil para outra confortável; triunfo, vitória, independência;
Após Jaemin perder a esposa e precisar tirar sua licença para cuidar da filha recém nascida, você e Lee Jeno são designados a patrulharem juntos uma vez que o rapaz fica sem a sua dupla de patrulha. Precisam sair da zona de quarentena e ir até a cidade, em meio ao apocalipse, em busca de uma amostra que o coronel diz ser a solução para o problema do país. E tudo seria infinitamente mais fácil, se você não sentisse vontade de acertar Jeno com vários tiros da sua arma a cada palavra que ele dissesse.
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1. antipatia.
2. conhece a luz?
3. certidão
4. sincronia
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girlneosworld · 3 months
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1. antipatia
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spin-off & "continuação" de purgatório, com o jeninho lee. esse primeiro capítulo é mais para a introdução então tá bem tranquilo, nos próximos o bicho começa a pegar. espero que gostem ♡
— Prefiro ter minha cabeça arrancada do meu pescoço.
Seus olhos se arregalam. O coronel está sentado a sua frente com uma expressão cansada, e não era para menos. Estão há, pelo menos, meia hora discutindo quem ocuparia as patrulhas noturnas das próximas semanas, separando as duplas. E deveria mesmo ter estranhado quando o homem te chamou separadamente para conversar sobre isso. Até chegar na sala de reuniões e ver que não foi a única.
— E eu vou mesmo acabar arrancando a cabeça dela do pescoço, coronel — diz o motivo de toda a sua impaciência, sentado na cadeira ao seu lado.
Sente seu sangue ferver só de ouvir a voz dele e toda a prepotência que ela carrega junto. Com os olhos espremidos e a língua entre os dentes, você se vira minimamente para olhá-lo e constatar que o sujeito tinha uma feição tão desgostosa quanto a sua.
— Experimenta tentar, Lee Jeno — responde em tom de desafio e o rapaz te olha de volta, as sobrancelhas arqueadas.
— Prefiro te jogar na floresta e ver as Pragas te comerem viva, Borboleta.
Você ri soprado e bufa.
— Saiba que se eu, por alguma maldição do destino, precisar patrulhar com você, as Pragas serão os menores do seus problemas — fala com tanta raiva que quase rosna na direção dele.
Ficam se encarando durantes alguns segundos e só se lembram do motivo de estarem alí quando ouvem o coronel pigarreando. Olham, então, para frente outra vez e veem o homem massageando as próprias têmporas. Tinha consciência de que não seria uma tarefa fácil juntá-los, qualquer pessoa que teve a experiência de trabalhar no mesmo ambiente que você dois tinha conhecimento disso, mas começava a perceber que estava beirando ao insuportável, impossível. E pensando com cuidado no que dizer, o coronel curva o corpo para frente e se apoia na mesa com as mãos juntas.
— Ouçam bem, chamei, especificamente, vocês dois aqui porquê estou levando dois fatores em consideração: — ergue o indicador — primeiro e principal; a competência e o comprometimento de vocês como tenentes e dois; a amizade de ambos com o tenente Na.
Ao citar o nome do seu colega de trabalho, seu corpo relaxa na cadeira e você solta a respiração que nem percebeu estar prendendo. Sabe o que viria pela frente.
— Jaemin acabou de perder a esposa e tem uma recém-nascida para cuidar. É um momento delicado, toda a base está se compadecendo com a situação. Mas a zona de quarentena ainda precisa de cuidados, ainda temos pessoas precisando de ajuda lá fora. E é o papel de vocês, como policiais tenentes, prezar pela segurança da população — o coronel diz firme — E com o tenente Na de licença em respeito ao seu luto e com a licença paternidade, você, tenente Lee, fica sem as patrulhas duplas.
— Reconheço tudo que está dizendo, coronel. Acredite, estou sensibilizado com a perda do meu amigo quanto qualquer um dessa base, mas posso muito bem fazer minhas patrulhas sozinho — Jeno tenta argumentar — Não preciso dela sendo minha sombra.
Você revira os olhos.
— Além do mais, eu tenho minhas próprias funções na base de armamento. E cuidar dos infectados aqui dentro é minha responsabilidade — você acrescenta ao coronel.
— Até porque você com certeza é única aqui que sabe destravar um rifle — o Lee resmunga.
— Na sua testa? Pode apostar que sei.
— O que eu estou tentando dizer — o homem interrompe vocês — É que agora, preciso que trabalhem juntos. Patrulhas individuais nunca foram uma opção e temos mais pessoas capacitadas cuidando dos infectados e do armamento.
Você suspira e desliza na cadeira. Sua cabeça dói ao constatar que, uma vez que o coronel toma uma decisão, não cabe a ninguém contestá-la. Só te resta praticar sua sabedoria e sua paciência, porque sabe que vai precisar até o último minuto.
Ao seu lado, Jeno tem o pé batendo freneticamente no chão. Quase pode ver fumaça saindo das orelhas do rapaz e sabe que ele está tão contente quanto você. As veias saltadas na testa dele deixam isso claro feito o dia.
— Mas além das patrulhas, tenho outra missão para vocês.
E você jurava que não tinha como piorar.
𖥔
Quando o apocalipse estava começando a se espalhar você se lembra de estar terminando sua mudança. Estava se mudando do dormitório da academia para um apartamento no centro da cidade, que ficava perto do batalhão em que foi transferia. Era um sonho se realizando, lindo de se ver. Durante a semana cumpria seus deveres como policial tenente e aos sábados ia às aulas de tiro. Foram provavelmente os melhores dois meses da sua vida, mesmo que o trabalho pesasse a barra na maioria esmagadora das vezes.
Enquanto jogava as coisas dentro da mochila, alcançou um estojo de dentro da sua cabeceira da cama e o enfiou em um dos bolsos. Não tinha certeza se queria necessário que levasse, mas preferia estar prevenida.
Logo se distraiu ao ouvir a porta de seu quarto se fechando. Desviando o olhar da corda que enrolava, você vê Areum entrando e sorrindo na sua direção. Logo ela se aproxima e espia dentro de sua mochila.
— Vai ficar quanto tempo fora?
— Sei lá, umas duas semanas. Não tenho como saber — dá de ombros e senta na cama, ela logo te acompanha — Talvez eu enlouqueça no caminho.
— Não seja dramática, Borboleta — Areum ri e você revira os olhos. A risada dela se intensifica.
— Até você com esse apelido ridículo? — pergunta com uma careta.
— Fazer o que se pegou — responde a garota. Ela suaviza e tudo que resta é um sorriso no rosto bonito — Toda essa pirraça só vai dificultar as coisas. E você sabe disso.
— Nem começa. Não tô nenhum pouco afim de virar amiga daquele cara — esbraveja e ela levanta as mãos em sinal de rendição — Você mais do que qualquer um sabe que eu prefiro engolir um copo de parafusos à... isso.
— Sim, amiga. Não ia dizer para virar amiga do Jeno. Só, talvez, para fazerem pelo menos as pazes. Por enquanto.
— Sem chances.
Sua amiga nega com a cabeça e parece se dar por vencida.
— Ok — diz contragosto e pega a mochila das suas mãos — Já que são nossas últimas horas juntas vou te ajudar a arrumar suas coisas. Ah, e passe no Jaemin mais tarde. Ele disse que quer falar com você.
Você franze o cenho enquanto tira seu par de botas sob a cama.
— Falar o que comigo?
— Ele não disse sobre o que era, mas eu suspeito que seja exatamente sobre você precisar patrulhar com o Jeno. Acho que ele tá se sentindo culpado, sei lá — dá de ombros dobrando seu casaco xadrez.
— Esse não, vou vestir agora — pega das mãos dela — Isso é besteira, ele não tem culpa de nada. Me sinto até egoísta de hesitar tanto enquanto ele, além de ter que cuidar da bebê sozinho, precisa conviver com a dor de perder a namorada. É quase injusto.
— É. Você e o Lee são mesmo meio egoístas.
Seus olhos se arregalam diante do que Areum fala e ela dá de ombros enquanto continua mexendo nas suas coisas.
— Perdão?
— Só dizendo — ela pisca — Vá falar com ele. Mas escolha um momento que o Jeno não esteja lá, senão vocês dois vão estressar a pequenina.
𖥔
Assim que o dia clareou, você e o tenente Lee já estavam dentro do carro havia duas horas. Ele no volante e você no banco do carona guiando o caminho pelo mapa que lhe foi entregue mais cedo. Nenhum dos dois dava qualquer sinal de estarem cansados ou com sono, muito concentrados no que foram enviados para fazer. E até então, só falavam um com o outro quando necessário. Bom, você falava, Jeno estava calado há pelo menos quarenta minutos. Não que fosse reclamar.
— Quando sair da floresta é só entrar na rodovia — diz e deita a cabeça na janela ainda olhando as coordenadas no mapa.
— E depois?
— Depois a gente entra na cidade, ora — responde como se fosse óbvio, e acha que é, de fato — Não sabe como as estradas funcionam?
— Não sei como é possível alguém ser tão arrogante — Jeno nega com a cabeça — Você é uma borboleta muito amargurada.
— E você é um pé no saco, se te conforta — força um sorriso.
— Pare de ser inútil e olha onde o coronel quer que a gente vá.
Voltando a olhar para o mapa, você confere o que Jeno pediu. Alí, três pontos estão circulados em vermelhos ao decorrer do caminho que seguiriam, um após o outro.
— Igreja, a creche Sunvylle e a academia — a surpresa vai aparecendo na sua voz enquanto diz cada um dos lugares, suas sobrancelhas se arqueando — O quê?
— A academia? — ele parece tão surpreso quanto você — Será que isso tem alguma coisa a ver com a amostra que o coronel disse? — o rapaz murmura a última parte mas mesmo assim você consegue escutá-lo.
— É, muito provavelmente — responde, confusa — Mas isso deveria estar em algum laboratório ou hospital. Não na academia.
— Meu Deus, eu só queria não ter que pisar naquele lugar nunca mais — Jeno choraminga enquanto passa as mãos pelo rosto, aflito. Você franze o cenho.
— Ué, e por quê? — pergunta, curiosa.
— Não te interessa — a resposta vem rápida e ríspida.
Precisa respirar fundo para não acertar o rosto mesquinho dele com seu punho, ele está dirigindo o carro que você também está dentro e nunca daria a Jeno o prazer de ser o culpado pela sua morte. Então, prefere só revirar os olhos e ignorar aquilo. Por enquanto. Por hora, resolve que é melhor se preocupar com o que realmente era importante no momento.
— Você tem tanta sorte de estar no volante — semicerra os olhos na direção dele que sorri de canto.
— Senão?
— Senão eu te acertaria com três balas na cabeça.
Agora ele solta uma risada sarcástica e olha para você através do boné e da franja preta.
— Como você é engraçada, Borboleta — desdenha e recebe mais um revirar de olhos — Ainda bem que tocou nesse assunto. Não vai usar essa glock que você trouxe.
— Oi?
Sua indignação é tamanha que acaba gritando. Jeno coloca a mão no ouvido do lado em que você está, numa reação exagerada. Sabia que aquilo seria motivo de discussão então foi direto em trazer o assunto à tona.
— É. Não vai usar — repetiu.
— O que exatamente te faz pensar que eu não usaria minha arma, e pior ainda, que eu não usaria porque você pediu? — pergunta exasperada e ele suspira dramaticamente.
— Já que é a mestre do armamento deveria saber que, no nosso atual cenário, armas de fogo não são lá a melhor opção — Jeno diz — Além de darem muito trabalho e serem esgotáveis, fazem um barulho desnecessário.
— Sabe muito bem que eu trouxe munição o suficiente e que uso silenciador nas minhas armas, Lee — respondeu num fôlego só. Alí, Jeno percebe que tinha encontrado um tópico sensível em você: as armas. Achava no mínimo estranho todo esse apego que você tinha a elas.
— Ainda daria muito trabalho. E o silenciador diminui, sim, o barulho. Mas se alguma praga estiver por perto iria atraí-la do mesmo jeito — ele argumenta.
— Já te falei que se continuar sendo um merdinha as pragas vão ser a última coisa com que vai precisa se preocupar — cruzou os braços na frente do peito e se recostou no banco.
— Claro, pode fazer birra já que sabe que eu estou certo.
Se irrita muito fácil com o que ele diz, outra vez.
— E o que você acha mais eficaz? Hum? Seu taco de basebol cheio de arame farpado? — esbraveja e aponta para o objeto no banco de trás, o que parece ofender Jeno — Não seja estúpido.
— Te garanto que meu taco é com certeza mais eficaz — ele se defende — É mais fácil de manusear, de transportar, é silencioso e muito certeiro. Se eu acertasse a sua cabeça com ele duvido que sobreviveria.
— Experimenta me acertar com o seu taco.
Jeno se virou para você e te olhou de cima a baixo, dando um sorriso de canto.
— Você não faz meu tipo.
Percebendo o que ele estava insinuando, você revira os olhos e o acerta no rosto com o mapa dobrado, mas não parece causar nem cosquinha nele.
— Tá, não tô nem aí — diz, por fim — Vou usar as minhas armas e não vai ser você quem vai me impedir. Só o que me faltava, me ensinando a atirar...
— Não disse que não sabia atirar, disse que... — Jeno começa a se explicar mas desiste no meio da frase — Quer saber? Que se dane, prefiro mesmo que abram sua barriga e eu termine isso sozinho.
— Ótimo.
— Ótimo.
O silêncio se instala no carro mais uma vez, agora por mais tempo que antes. Tudo que ouvem é o barulho das rodas amassando as folhas e as pedrinhas no chão da floresta. O dia já está totalmente claro e isso facilita muito para que saiam, já que as pragas apresentam muito mais perigo durante noite, quando ficam mais velozes e violentas. Durante o dia elas são lerdas e cegas, sendo mais atraídas pelo som. Por isso, não é difícil passar com o carro pela floresta.
Enquanto Jeno está focado em dirigir até chegarem à rodovia, você se lembra da conversa que teve com Jaemin antes de saírem da zona de quarentena. Te partiu o coração ver como o Na se sentia mesmo culpado de fazer com que você fosse parceira do melhor amigo dele, já que sabe que a relação de vocês não é das melhores. Passou o começo da madrugada na companhia do rapaz e sua filhinha, Sae Yoon, que crescia cada vez mais saudável. Todos na zona de quarentena acabaram se afeiçoando pela nova criança, dada as circunstâncias de seu nascimento e por ter perdido a mãe com menos de uma semana de vida. Jamais se esqueceria do pânico que sentiu quando, após ouvir o disparo vindo do quarto da família, abriu a porta e viu Jaemin deitado sobre o corpo da falecida namorada, chorando desesperado juntamente da filha dentro da mochila. A mulher, em seus últimos momentos de consciência, teve o cuidado de esconder a neném de si mesma, para protegê-la de sua fome; e além disso se amarrou no canto do quarto. Foram dias difíceis, tristes para todo mundo. Nem um enterro ela pôde ter, seu corpo foi queimado e as cinzas estão guardadas em um pote sobre a cômoda de Jaemin.
Quando se dá conta, estão saindo da área florestal e já conseguem ver o caminho se abrindo. Suspira de alívio, mas logo se arrepende quando vê o que os espera pela frente.
— Porra.
Como já deveriam imaginar, dezenas de carros estão parados e abandonados pela rodovia. Não há pragas visíveis, uma vez que elas desviaram para a floresta, mas eram muitos, muitos carros. Jeno grunhe do banco do motorista.
— Que droga — bate na buzina e você, com o susto, bate nele.
— Você é idiota? — se exaspera — Veio com toda essa palestrinha de eu não poder atirar mas ficando buzinando feito um palhaço de circo.
— Que merda de comparação é essa, Borboleta? — pergunta, confuso. Você bufa e o ignora, direcionando o olhar para a estrada outra vez, ele repete sua ação — É carro a beça.
— Será que dá pra passar? — pergunta ainda examinando a situação.
— Dar até que dá. Mas vai ser insuportável — suspira já imaginando o trabalho que daria desviar de todos os veículos e se vira na sua direção — Talvez seja uma boa dar uma olhada.
— Tá sugerindo que a gente saia do carro e ande no meio disso tudo?
— Viu? Não é tão burra assim.
Fechando a cara você destrava a porta e a abre, saindo de dentro do automóvel. Logo Jeno faz o mesmo e vocês andam com cautela entre os carros, prestando muita atenção em tudo ao redor. Você, com sua pistola glock 9mm e ele com o taco de basebol em mãos. E a princípio, tudo está quieto. Dentro de alguns dos carros tem pessoas mortas e a julgar pela forma em que estavam, suspeitava que a maioria das mortes tivessem sido causadas por acidentes.
— Pegue o que achar útil — diz a Jeno e ele assente, cada um indo para um lado.
Você acha canivetes, fitas cassetes, barrinhas de cereal e um caderno. Não são coisas de fato úteis mas achou que eram interessantes, por isso pegou com um sorriso no rosto. Mas ele se desfaz assim que vê Jeno aparecer com dois celulares.
— Um pra você e o outro pra mim — te entrega um dos aparelhos — Isso vai ser bom caso a gente precise se separar. Depois eu vejo as configurações e se tem algum chip aí.
— É, é — concorda e volta a vasculhar o carro que estava ao seu lado. Lá dentro um homem tem o vidro do parabrisa partindo sua cabeça ao meio e, no banco de trás, uma mulher está com a nuca encostando no cóccix. Você faz uma careta e abre a porta do carona, entrando no carro para procurar algo.
— A maioria desses carros parecem ter capotado — Jeno observa — Acho que se pegarmos a contramão vai ser mais fácil de passar. Duvido que alguém venha da outra via.
— Uhum — é o que diz, mexendo no porta luvas, sem dar muita atenção. Acha um isqueiro e um carregador. Então, vira para trás e vasculha o que deveria ser a bolsa da mulher.
— Alguma coisa?
— Espera.
Você vê tudo que tem lá dentro e decide, por fim, levar a bolsa inteira consigo. Uma bolsa com coisas femininas por vir a ser muito útil, afinal.
Decidindo que o que pegaram era o bastante por enquanto, você e Jeno vão a caminho do carro de vocês para irem até a cidade. O silêncio chegava a ser ensurdecedor, fazendo com que qualquer mínimo ruído fosse ouvido. E você tinha os ouvidos bem treinados.
Jeno ainda está andando na sua frente quando se assusta ao ter a boca tampada pela sua mão. Sente seu corpo se aproximando e, apesar da clara diferença de altura entre vocês, fica na ponta dos pés para entrar no campo visão dele e apontar na direção oposta a que estão.
No limite entre a floresta e a rodovia, três pragas estavam ajoelhadas comendo o que parecia ser um cervo morto. Do lugar em que estavam elas só notariam vocês caso fizessem algum barulho, por isso, você se abaixa lentamente até que estivesse agachada no chão. Jeno entende o que planeja fazer e imita sua ação.
Então, apoiando os cotovelos no asfalto juntamente dos joelhos, começam a rastejar enquanto se esgueiram entre os carros, com o máximo de cuidado possível. Agradece por estar vestida com seu casaco e a calça de tecido grosso a cada vez que se arrasta no chão.
De repente, o homem para bruscamente e, num movimento rápido, te puxa para deitar de bruços junto a ele. Não entende a razão por trás da agressividade até que o Lee apontasse para cima e você visse mais outras duas pragas andando entre os carros. Grunhindo e gemendo, elas praticamente se arrastam enquanto se aproximam, e graças ao sol, não conseguem vê-los deitados alí. Sente o cheiro de podridão que as acompanha e esconde a cabeça entre os braços, é quase insuportável. Meses de apocalipse e você não consegue se acostumar. Jeno, por outro lado, não esboça reação alguma quando as pragas estão praticamente em cima de vocês, muito pelo contrário, continua estático do jeito que está. Quase sente inveja.
Não sabe ao certo quanto tempo ficaram parados até que sentisse a mão do homem cutucando seu braço em um sinal para que voltassem a se rastejar até o carro. E é o que fazem, num processo lento e, ao seu ver, chato demais.
— Espero que eu receba uma bonificação quando tudo isso acabar — resmunga quando finalmente senta no banco do carona outra vez.
Jeno não te responde, mas vê quando ele suspira e dá partida desviando para o outro lado da rodovia. Vocês então, finalmente seguem rumo a cidade até o primeiro destino do mapa.
A igreja.
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girlneosworld · 8 months
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Mateus 12:36–37
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“De toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado.”
tw: sugestivo e aquela tristeza/melancolia de sempre, vômito, menção a morte, tiro. acho que só.
oi, lindezas. nesse capítulo ainda estamos no mesmo corte de tempo do anterior, ok? esse serve mais como um conectivo e, pelos meus cálculos, purgatório terá 5 capítulos, isso quer dizer que estamos exatamente na metade. espero que estejam gostando e me perdoem qualquer erro. um beijo!
O pé que bate no chão incessantemente te ajuda a controlar a ansiedade que sente só em estar onde está. As paredes do tom alaranjado fazem seus olhos doerem e o piso de madeira faz um barulho muito irritante, mas nada disso te deixa mais nauseda do que a incerteza acerca do motivo que lhe traz ali. O crachá que está ao redor do seu pescoço parece te enforcar.
Finalmente, depois de minutos que pareceram mais uma eternidade, ouve seu nome sendo chamado pela voz eletrônica e levanta num salto, atravessando o corredor na velocidade da luz.
Vê Jaemin na porta de uma das salas e o abraça apertado, o rapaz procura qualquer sinal que pudesse indicar que está ferida e suspira aliviado quando percebe que você está bem. Fisicamente bem, pelo menos. Ele respira fundo e segura seu rosto com as mãos geladas.
— Desculpa ter ligado tão de repente — ele começa dizendo, os olhos passam por todo o seu rosto coberto. O Na cola suas testas e você sente o hálito cafeínado que sai da boca dele — Tava com tanta saudade.
Você concorda com a cabeça diversas vezes e abre o que seria a ideia de um sorriso mesmo que ele não conseguisse ver por causa da máscara cirúrgica que usavam.
— Eu também, amor — acaricia o braço malhado dele — Você volta pra casa hoje?
Vê quando Jaemin vacila por meio segundo e percebe ali que tem alguma coisa errada. Vocês estavam há cinco dias sem se verem com ele muito atarefado no batalhão, só conversando por mensagem quando você estava dispensada do estágio e sem ir a faculdade por recomendações superiores. Então, algumas horas cedo – enquanto você limpava o apartamento pelo quinta vez na semama –, recebe uma ligação do rapaz pedindo para que fosse até o Centro Acadêmico de Segurança de Daegu o mais rápido possível. E era por isso que estava ali.
— Além de ter que fazer alguns exames, preciso que veja uma coisa — ele diz depois de um tempo. Jaemin morde o lábio e pega um walkie-talkie no bolso da calça — Te pedi pra vir até aqui pra isso. Tem outra coisa também, na verdade, mas primeiro o que está dentro dessa sala.
Você franze o cenho e estranha aquele papo todo. Na Jaemin não é de fazer mistério, e se ele está tendo toda essa cautela é porque algo definitivamente não está certo. Tendo consciência disso, sua ansiedade só aumenta.
— Ok... e o que exatamente tem dentro dessa sala, Jaemin? — pergunta.
Ele não diz mais nada a você, apenas abaixa a própria máscara e deixa um selar em sua testa. Então, antes de abrir a porta, murmura um "estamos entrando" para o aparelho em sua mão e gira a maçaneta, te dando espaço para entrar.
Lá dentro, repara ser uma espécie de enfermaria, exceto pelo fato de ser bem mais espaçosa e estar cheia de pessoas fardadas carregando fuzis enormes. No centro uma maca abriga a mesma figura que viu dias antes. Dessa vez, contida por correntes e com diversos acessos em seus braços. No rosto, uma máscara de couro que mais parecia uma focinheira cobria os lábios rasgados e sangrentos e os dentes que batiam na tentativa de morder alguma coisa. O corpo se contorce e tenta escapar, gemendo e rugindo alto.
Você para no lugar onde está, os pés grudados no chão e os olhos arregalados. Se assusta quando sente uma mão em seu ombro, se vira e vê Jaemin te olhando preocupado.
— Achamos que era justo que a visse enquanto ela ainda está... não sei se posso chamar isso de estar viva, mas antes que ela morra de vez.
— O que? Não vão conseguir salvá-la?
Ele nega. Se aproxima de você e olha na direção da maca. Você repete o ato dele.
— O vírus já evoluiu para o estágio mais agressivo. Ocupou mais que 80% do sistema nervoso dela, a essa altura é impossível fazer qualquer coisa a respeito — um dos guardas explica, a voz abafada pelo capacete — Por isso é uma infecção tão delicada. Uma vez que o infectado sacia sua fome, o vírus começa a se desenvolver muito rápido e dificulta a cura.
Ouvir aquilo embrulha seu estômago e mareja seus olhos. Sabe muito bem como aquela fome foi saciada, tinha a cena bem vivida na sua cabeça e era assombrada por ela todas as noites. Não conseguia fechar o olhos e não ver Sae Bom morta em seus piores pesadelos. Sente a bile subir a garganta.
— E já sabem como a infecção está se propagando? — se esforça para perguntar.
— O palpite mais aceito até agora é que seja pela água e por alimentos vindos de lugares em que a água esteja infectada.
Assente sem saber exatamente responder e não consegue mais ficar naquele lugar sem sentir uma vontade absurda de vomitar, por isso pede licença e corre até o banheiro mais próximo e coloca tudo que comeu no dia para fora. Não bastasse toda aquela situação horrorosa ainda precisava lidar com os hormônios da gravidez. "Sei que é péssimo, mas você precisa ajudar a mamãe" murmura com a cabeça deitada sobre a tampa da privada depois de apertar a descarga. "Assim que chegarmos em casa eu peço seu pai para fazer um chá de limão para nós, okay, neném? Ele ficou craque em chá de limão, a Bomie adorava".
Sua voz embarga no meio da frase. Se escora na parede e funga. Estava falando sozinha e chorando num banheiro. Era tudo uma merda mesmo. Chega até a rir, desacreditada.
Depois de se recompor, lavar o rosto e beber um pouco de água, você se prepara para voltar para a sala e pedir a Jaemin que fossem para casa. Que fizesse os exames outro dia. Mas quando está pronta para abrir a porta, pega o final de uma conversa que presume que não era para ter ouvido.
— A viatura vai buscá-los amanhã às seis da amanhã. Estejam prontos — a mesma voz abafada de antes diz e você franze o cenho — Levem o que julgarem necessário.
— Não podem esperar mais alguns dias? Sae Bom faleceu a menos de uma semana, tá tudo muito recente — agora é Jaemin quem fala — E... eu ainda não contei a ela.
— Já te demos tempo o suficiente, tenente Na. Vamos fazer o nosso melhor para manter a segurança de vocês e, para isso, precisam deixar o apartamento amanhã. O aviso da Lei Marcial será transmitido durante a tarde.
Confusa, você se afasta da porta e aperta as mãos. Sente uma pontada no peito e queria mesmo poder culpar a gestação pela visão embaçada, mas não pode. E quando a porta se abre e Jaemin a vê com a respiração errática ele até tenta se aproximar, mas você ergue o indicador entre vocês dois. O rapaz se desarma e as sobrancelhas se juntam. Ele então percebe, e antes que algo fosse falado, você dá as costas e sai dali imediatamente.
— Sabe que não pode me ignorar pra sempre.
Mesmo que não veja, sente a presença de Jaemin em seu encalço para todo lugar que vai. Está segurando uma caixa de papelão entre os braços e joga tudo que vê pela frente ali dentro. Não o responde e completa suas ações sem olhá-lo, em completo silêncio.
— Caramba, eu ia te contar, ok? — a voz angustiada dele diz — Eu juro que ia. Só tinha esperança de conseguir adiar isso mais um pouco. Poxa, amor. Não faz isso comigo. Por favor.
Ouví-lo tende a deixar a situação mais difícil porque sabe que ele não tem motivos para mentir. Mas isso, infelizmente, não diminui sua chateação. Então, deixa a caixa sobre a cama e se vira para ele. Cruza os braços e ergue os ombros, o ar deixando o peito de forma quase dolorida. Jaemin entende como um sinal para continuar falando.
— Essa praga tá se espalhando feito uma maldição, só tô pensando na nossa segurança. Na de nós três — o olhar dele desce para sua barriga e você imediatamente coloca as mãos sobre ela — É uma cabana perto da divisa, vai ter tudo que precisarmos para passar umas semanas. Comida, cobertores, remédios. Água tratada.
"É difícil pra mim também. Moramos aqui desde sempre. Desde que eu e você somos eu e você, e isso tem tempo. Mas não tenho escolha. Ninguém sabe até quando a situação vai estar controlada, os infectados estão começando a sair do controle. O condomínio vai ser interditado e o batalhão vai se dispersar. Eu quero cuidar de vocês, mas eu tô morrendo de medo. Eu sinto muito medo, meu amor. E tudo que preciso é de você ao meu lado porque sozinho eu não consigo. Você só tem que confiar em mim."
A essa altura, os olhos marejados de Jaemin são o suficiente para toda sua resistência ir ralo a abaixa e se sente horrível só de ver que fez seu amor chorar. Quebra seu coração o tom angustiado em que ele fala e ver as mãos grande dele tremendo. O Na abre a boca duas vezes e o pomo de adão dele sobe e desce, o peito faz o mesmo movimento antes de dizer:
— Você não confia em mim? — e quando a voz dele vacila no fim da frase que você perde as estribeiras.
— Claro que eu confio em você. Céus — o puxa para se sentarem juntos na cama e enxuga o rosto molhado pelas lágrimas. Sorri para ele, na intenção de passar algum conforto — Confio em você de olhos fechados e talvez até mais do que confio em mim mesma, e não ligo se acha que isso não é saudável. É a verdade.
Jaemin funga e assente.
— Vamos fazer com que dê certo. Eu prometo — ele diz antes de colar os lábios nos seus e te apertar em seus braços. Jaemin te beija como se estivesse com saudade; e realmente estava, sentia saudade mesmo que estivessem a apenas meia hora longe um do outro. Enquanto uma das mãos segura a lateral do seu rosto, a outra desce e para dentro da blusa de malha que você usava e seus pelos todos se arrepiam quando sente os dedos gelados dele entrando em contato com a pele quente da sua cintura. Te puxa para o colo dele, abraça seu corpo e você joga o boné preto longe para emaranhar as falanges entre os fios escuros e macios do cabelo dele. O quadril dele vai de encontro ao seu algumas vezes e sente quando a respiração de Jaemin vacila, te causando um sorriso entre os selares cada vez mais urgentes. E, ao te ver sorrir de seu estado necessitado, o garoto arquea uma sobrancelha e ri soprado. Te vira e num único movimento você está deitada no colchão, sob o corpo alto dele. Agora é a vez do outro de sorrir de lado antes de voltar a beijá-la.
Momentos depois, quando o quarto já está escuro e silencioso, vocês dois estão suados e ofegantes embaixo do lençol, você se deita de lado e observa Jaemin olhando para o teto. Morde o lábio inferior e usa o indicador para desenhar formas imaginárias no peito nú dele. Virando apenas a cabeça, os olhos escuros dele te encaram silenciosamente.
— Vou poder levar minha coleção de sutiãs de renda? — pergunta de repente e ouve a risada grave reverberar pelo cômodo — Tô falando sério, seu babaca. Sabe que eu tenho apego emocional à Sevage X Fenty.
— Então vai precisar tomar decisões difíceis — ele dá de ombros ainda sorrindo.
— Ok. De qual você mais gosta? — o olha com as sobrancelhas levantadas e a próxima coisa que sente é o impacto do travesseiro batendo no seu rosto.
Ver a cidade não passando de borrões e ter aquela maldita viatura balançando não ajuda em nada com os hormônios rabugentos da sua gravidez. Ainda não era nem oito da manhã e seu humor era semelhante ao de uma porta. Não importa que a viatura fosse grande e espaçosa, você ainda se sentia sufocada mesmo com a janela aberta e o vento batendo no seu rosto cansado. Estava cansada, definitivamente. Nem mesmo a mão entrelaçada a sua era o suficiente para fazer com que se sentisse menos desamparada. Mais cedo, quando deu a hora de saírem do apartamento, Jaemin se surpreendeu com sua frieza em sair do lugar que passaram os últimos anos da vida de vocês. Saiu impassível, em passos firmes e sem olhar para trás.
A única coisa ouvida ali além dos ruídos da estrada eram as instruções que viam do rádio. Não se dava o trabalho de entender o que era, muito focada em olhar o dia cinza do lado de fora. Até que algo chama sua atenção e seu corpo se ergue de imediato.
— Para o carro — diz em alto e bom som, mas não recebe reação nenhuma além dos olhos de Jaemin em você. Então, troca a abordagem — Para a droga do carro ou eu vou vomitar nesse estofado inteiro.
Agora, a atenção está em você. Satisfeita, volta o corpo para a posição anterior.
— Meu amor, está se sentindo bem? — seu namorado pergunta enquanto a velocidade do carro diminui.
— É só que viagens embrulham meu estômago — murmura e solta a mão dele — Coisa de grávida, sabe como é. Será que eu posso sair rapidinho antes que eu bote tudo para fora aqui mesmo?
Os dois policiais nos bancos da frente se entreolham e olham para Jaemin pelo retrovisor. E então, assentem e param a viatura no acostamento. Você sorri e destrava o cinto de segurança.
— Quer que eu vá com você? — preocupado, o Na pergunta. Mas você nega com a cabeça e abre a porta.
— Preciso de privacidade pra vomitar, querido — pisca pra ele e pega discretamente seu celular, o guardando no bolso traseiro da calça.
Com isso, sai da viatura e bate a porta. Entretanto, diferentemente do que disse, não abaixa o corpo para expulsar tudo que comeu na noite anterior, não. Ao invés disso, aproveita o vidro escuro da parte de trás do veículo e sai, subindo a pequena colina daquele pedaço da estrada. Olha para trás algumas vezes e tenta aumentar a velocidade, não querendo demorar muito para não levantar suspeitas. Só para de correr quando vê os grandes portões e o letreiro em letras garrafais bem acima de sua cabeça. "Cemitério de Daegu", é o que ele diz.
Depois de se familiarizar com o lugar quieto; vasto e mórbido, finalmente acha o que procurava. Sua garganta fecha, os olhos ardem. Com as pernas vacilantes você se agacha diante do túmulo de pedra e coloca a mão esquerda sobre a escritura em prata, a direita tampa sua boca para abafar o choro que chega.
"Kim Sae Bom. 2016 - 2023"
— Meu amor... — sussurra — Me perdoa. Me perdoa, me perdoa. Me perdoa, meu amor — diz entre os soluços — Eu queria ter vindo falar com você antes, falar uma última vez. Sinto muita saudade, todos os dias. O Jaemin não sabe, mas as vezes eu paro o carro em frente a sua escolhinha, fico lá por horas e horas, esperando pra te ver pulando até mim, pra te dar um abraço bem apertado e te levar pra tomar chá de limão comigo e o Nana. Os chás de limão dele agora estão mais doces do que azedos, igual você pedia. O mundo não é o mesmo sem seu sorriso banguela pra alegrar meus dias mais sombrios. E tudo tem sido tão sombrio desde que você se foi. O neném, o nosso neném, ele está saudável e crescendo bem. Estamos nos mudando agora, então só vou saber se é seu irmãozinho ou sua irmãzinha quando nascer. Bomie, eu vi sua mamãe. Não consegui olhar pra ela e pensar que... que foi ela que...
Não consegue terminar de falar, o choro engata e fica cada vez mais alto, dolorido. Deita a cabeça no túmulo da sua menina, nunca se sentiu tão vulnerável antes. Ali, sente tanto medo de perder mais alguém. Tanto medo de perder seu brotinho. Tanto medo de perder Jaemin. Seria a mais sofrida de suas dores, ficar sem ele ao seu lado. Sabe que nunca aguentaria mais aquela perda, seria demais para você. E só pensar na possibilidade de, algum dia, ficar sem Jaemin, faz seu peito doer. As lágrimas escorrem pelo seu rosto e pingam na pedra, deixando marcada toda sua tristeza.
Abre o zíper de seu casaco e tira o peludinho de lá, beija a pelúcia branca e a deixa sobre o túmulo.
— Agora eu vou voltar, o Nana já deve estar vindo atrás de mim — suspira — Bomie, eu...
Para de falar quando ouve um grunido, parecido com aqueles que ouviu naquela sala no dia anterior. Entrando em alerta, você olha para os arredores e aperta os olhos quando enxerga uma figura entre os outros túmulos, um pouco distante e de costas. Aquilo faz seu coração acelerar e sua mente começa a trabalhar no automático.
Com toda a cautela que conseguia, você se levanta sem desviar o olhar do corpo que se contorce e geme, usando todo seu autocontrole para respirar de forma silenciosa. Teria dado passos rápidos para trás se, assim que o corpo estava completamente ereto, não tivesse ouvido o toque do seu celular no bolso da calça, ecoando por todo o espaço. O som foi alto o bastante para fazer com que o infectado ouvisse, te visse e, imediatamente começasse a correr na em sua direção.
— Merda.
Sua única reação é correr também, o mais rápido que consegue e que seu fôlego escasso permite. A adrenalina faz com que suas pernas sejam o mais ágeis possível, o seu instinto de sobrevivência fala mais alto que sua garganta queimando por ar. Entende, ali, o porquê de assemelharem aquela praga a doença da raiva, vendo a velocidade em que é perseguida.
Comete o erro de olhar para trás e conferir a distância que te separa da praga e, ao constatar que estão mais perto do que o seguro, não vê o relevo dos paralelepípedos abaixo de você e tropeça. Seu corpo cai e seu rosto se arrasta no chão, mas não há espaço para a dor física quando tudo que sente e desespero. Até tentaria se levantar, voltar a correr, mas não adiantaria, não. Trava no chão quando percebe que já estava praticamente cara a cara com aquela coisa que corria faminta de encontro a você. Aperta os olhos, coloca as mãos na frente do corpo, mas ouve um disparo alto e seco, e então sente um peso caindo sobre você.
Grita, assustada e tenta tirar aquilo de cima de você, não aguento sentir aquele cheiro forte e podre. Agora sim, se vira para o lado e vomita bastante, tremendo dos pés a cabeça. Vê Jaemin parado com um revólver em mãos e entende que o disparo veio dele. Se prepara para suspirar aliviada e agradecê-lo por salvar sua vida, mas é impedida quando olha para o rosto dele. Nos olhos bonitos que tanto é apaixonada, não tem amor agora. Eles estão cheios de um sentimento que não deseja ver nunca mais. Escuros, profundos.
Então, aqueles olhos sombrios olham para você. E acaba por ter certeza que nem um tiro da arma nas mãos dele doeriam tanto quanto doeu sentir todo aquele ódio sendo sendo progetado em sua direção.
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girlneosworld · 9 months
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Uns acreditam que os mortos são julgados por suas ações enquanto ainda estão na terra, e isso vai definir o destino dos que já se foram no que diz respeito a alma, consciência e ideologias. O que não se pode confirmar, é para onde vão nossos corpos uma vez que estamos vazios e sem vida. A ignorância humana pode chegar em níveis exacerbados e mudar o rumo das coisas, e o que deveria ser o descanso da carne, pode se tornar o tormento dos vivos.
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Juízo Final.
Inferno.
Mateus 12:36–37.
Perdão.
Céu.
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girlneosworld · 7 months
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CÉU.
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tw: não quero falar muito pra não dar spoiler, mas é aquele mesmo esquema de sempre ok? assuntos sensíveis descritos e tal.
n/a: eh gente, enfim, o fim. qro agradecer todo mundo que leu e viu potencial em purgatório, eu fico imensamente feliz com o rumo que essa história pequena tomou. chegou a hora de dar adeus ao nosso tenente Na. tá meio grandinho ent me perdoem se tiver algum erro. muito obrigada pelo apoio e boa leitura, vejo vocês depois!
Jaemin nunca hesitou em tomar decisões difíceis. O Na, geralmente, sabe qual é a coisa certa se fazer.
Acordar naquela manhã não foi um grande desafio, uma vez que teve seu sono parcelado durante toda a noite. Toda vez que fechava os olhos e tentava dormir por algumas horas sua cabeça o assombrava com diversos cenários onde segurava um corpo pequeno e sangrento envolto numa manta rosa. Então, quando olhou pela pequena janela do quarto que estava e viu que o sol já começava a nascer, desistiu de tentar descansar e se levantou.
A zona de quarentena era grande e Jaemin ficou surpreso que ela estivesse tão silenciosa àquela hora da manhã. Seus muros altos de concreto isolavam qualquer som que pudesse ser ouvido do lado de fora, impossibilitando qualquer coisa de entrar sem ser convidada. Os corredores do antigo alojamento eram compridos e repletos de portas por todos os lados, e a medida que ia andando por lá sentia a sensação de que nunca chegaria no final.
Dando um suspiro cansado, o rapaz para em frente uma das portas e dá dois toques, sendo autorizado a entrar logo em seguida. Ao girar a maçaneta e entrar na sala a primeira coisa que vê é o coronel sentado atrás da mesa em sua cadeira giratória, vendo alguma coisa através da tela do computador. Mas logo ele direciona sua atenção a Jaemin.
— Tenente Na, bom dia. Está de pé cedo — o homem diz e aponta para a cadeira em sua frente — Vamos, sente-se. Temos coisas a conversar.
Soltando um pigarro, ele faz o que lhe foi dito e se senta a frente do coronel. E então, entrelaça as mãos na frente do corpo. Qualquer um que o visse perceberia a aparência cansada do Na, os olhos fundos e a pele pálida. Estava impaciente e ansioso, tinha dias que não fazia ideia do que era uma noite tranquila. E, principalmente, estava preocupado.
— Coronel — respirou fundo — Meu rastreador parou de funcionar. Tem, pelo menos, duas horas que eu não tenho nenhum sinal vindo dela.
— Veja isso — o coronel vira a tela do computador na direção de Jaemin e o permite ver o que ele assistia ali — Temos pelo menos três acessos de rastreio e nenhum deles está funcionando agora. Meu palpite é que ela está em alguma área mais alta que dificulte o sinal. E, caso eu esteja certo, ela não deve estar muito longe.
Jaemin passa a mãos pelos cabelos e bufa alto, escorregando o corpo na cadeira.
— Que droga, e o que vamos fazer a respeito? Já não devíamos ter ido atrás dela? — a voz dele treme ao dizer — Caramba, não temos como saber onde ela está. Isso não é motivo pra comoção?
O coronel assente e ajeita os óculos.
— Com certeza, tenente. Não ache que estamos ignorando o fato da sua namorada estar vulnerável e sozinha — o mais velho diz e Jaemin teme ter sentido uma pitada de veneno escorrendo entre as palavras dele — Vamos colocar uma das tropas atrás dela daqui a uma hora, não tem com quê se preocupar.
Ao ouvir o Na sente como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros, mesmo que sua vontade fosse de sair atrás de você naquele momento. Mas sabe que aquilo é o melhor que conseguiria dentro das possibilidades que tinha, então só lhe resta deixar com que o alívio tome conta de seu corpo.
— Fico grato em ouvir isso. Já que sairemos logo, eu vou me preparar. Onde nos encontramos pra ir? — agradece e faz menção de se levantar, sendo impedido pela mão estendida do coronel.
— Na verdade, Jaemin — ele começa e o Na estranha o uso de seu segundo nome, já nunca o chamam de algo senão o seu sobrenome — Tinha pensado que talvez fosse uma boa ideia que você ajudasse os outros tenentes a supervisionarem a zona. É um dos melhores em sua função.
Aquilo faz com que uma expressão incrédula estampe o rosto do rapaz, que agora sim se levanta e apoia as mãos na mesa, aproximando seu corpo do rosto do coronel.
— Não está sugerindo que eu fique aqui enquanto vocês vão atrás da minha mulher, está?
O tom de voz que Jaemin assume causa uma certa hesitação no coronel ao responder, afastando a cadeira alguns centímetros para trás.
— Vamos fazer questão de trazê-la em segurança, sabe que...
A fala do coronel acaba tão rápido quanto começou, quando, com sua paciência em seu estopim, Jaemin avança sobre ele e lhe desfere um murro no rosto, jogando longe o seu óculos e quase o fazendo cair pelo combo do impacto com a surpresa. O Na se afasta e sacode a mão que usou para socá-lo, suspirando e tombando a cabeça para o lado.
— Uh, nada mal — dá uma risada soprada e volta a olhar para o homem que tenta se recompor — Então, onde nos encontramos, coronel?
— Pode se colocar a postos em frente ao camburão, Tenente Na.
Nos próximos sessenta minutos que se seguem, Jaemin gasta seu tempo ajeitando o quarto para a sua chegada. O colchão é de casal e inflável, assim como o que compartilhavam na cabana e estava forrado com lençóis e edredons limpos. Ao lado, um colchão de espuma sobre um estrato de madeira estava posto com um edredom branquinho e fofo. Lá, o rapaz planejava colocar o cesto que tinha feito a algumas semanas, numa espécie de berço improvisado. Não sabia qual seria o estado que te encontraria, mas queria deixar tudo o mais confortável possível. Pensando nisso, ele usa um dos lençóis como cortina e até consegue uma escova de cabelo, pois sabe que você odeia ficar com o cabelo despenteado.
Ele para no centro do quartinho não muito grande. Olha ao redor, a procura de mais alguma coisa que possa arrumar. O espaço não era muito, mas presume que seria o suficiente para abrigar a sua pequena família, pelo menos por enquanto. Logo mais você e o neném de vocês estariam ali, com ele, finalmente. E não importa o quanto a cabeça de Jaemin tente o convencer do contrário, o garoto se agarra fielmente na esperança de tê-la em seus braços dentro de algumas horas, de conversarem sobre como passaram esses últimos dias e matarem a saudade que sentem um do outro.
Saudade. Jaemin sente saudades suas, a todo momento. O peito dele vibra ao pensar em você, toda santa vez. E apenas a possibilidade de algo te acontecer faz com que todos os pelos do corpo dele se arrepiem. Por isso, ele evita pensar nisso, distrai a mente traiçoeira com o novo rádio que ganhou quando chegou até a zona de quarentena. Ouve as músicas chiadas que tocam, com o aparelho dançando entre os dedos.
( • • • )
— O que aconteceu com seu olho, coronel? — um dos tenentes pergunta com a voz abafada pelo capacete. O coronel, que está sentado no banco da frente no camburão de seis lugares, solta um pigarro desconfortável.
Em um cenário diferente, Jaemin precisaria disfarçar seu sorriso de escárnio enquanto assiste o homem procurar alguma desculpa para o hematoma que ficou em seu rosto mais cedo. No cenário atual, porém, ele está mais preocupado em controlar sua ansiedade que o corrói aos poucos.
Estão dirigindo sem um destino certo faz alguns minutos, o que só aumenta a tensão dentro do veículo. O Na está sentado em um dos bancos do meio e tem seu olhar alternando entre o rastreador no painel e as janelas, a procura de qualquer coisa que indique que você esteve alí.
O percurso é complicado. Uma chuva grossa cai sobre a estrada dificultando a visibilidade do motorista, além dos corpos que causam solavancos repentinos no carro. O sinal continua falhando e a junção de tudo aquilo resulta na atmosfera pesada que todos os oficiais compartilham, todos atentos e em alerta.
— Foi por essas bandas onde tivemos o último sinal dela — o coronel diz, quebrando o silêncio — Não dá pra saber exatamente qual caminho ela seguiu depois daqui.
— Pode ser que ela não tenha tentado ir pra zona de quarentena — um dos tenentes do banco de trás pontua — O que dificultaria ainda mais a busca.
— Ela tem um mapa, eu deixei na mochila — Jaemin entra na conversa, os olhos ainda na janela — Ela sabia exatamente pra onde tinha que ir.
— Isso não quer dizer nada — o mesmo tenente continua — As chances dela ter desistido no meio do caminho são consideráveis. Ela, inclusive, deve achar que você está morto agora, tenente Na.
Assim que termina de ouvir aquelas palavras, Jaemin vira o corpo para trás e arquea as sobrancelhas, indignado.
— Qual o seu problema? O coronel já não disse que ela está nas redondezas? — se exaspera.
— Acontece que não dá pra descartar a hipótese. Nenhuma hipótese — a voz venosa diz, o que faz Jaemin sentir seu sangue ferver — Isso inclui a hipótese de termos perdido o sinal porquê ela...
— Você não ouse terminar essa frase caso não queira que eu quebre seu nariz.
O tom esbravejado do Na faz com que o outro tenente engula suas palavras e fique quieto, levantando as mãos como quem se rende. Jaemin, satisfeito com o fim da conversa, volta para sua posição original e precisa de todo seu autocontrole para não começar a hiperventilar. Sabe que tudo o que menos precisa no momento é deixar que sua ansiedade tome conta da situação.
— Parece... Parece que estamos com sinal — o motorista fala, finalmente, o que causa uma comoção no camburão.
— Como é? — Jaemin inclina o corpo para frente para conseguir ver o rastreador e enxerga, com a imagem bem falhada, a setinha parada no lugar — Mas está parado.
— Vamos até lá, antes que o sinal caia de novo — o coronel ordena e o motorista acena positivamente com a cabeça — Quando chegarmos lá eu quero que se coloquem a postos. Estão todos devidamente equipados?
Todos concordam, então o coronel direciona seu próximo comando a Jaemin.
— Tenente Na, deixarei que tome frente. Sei que cumpre seu trabalho com excelência no batalhão e não será diferente agora — faz uma pausa — Seja cauteloso e tome cuidado.
Jaemin assente.
— Obrigado, coronel. Eu não serei nada além de cauteloso — agradece.
Então, finalmente chegam no ponto que o rastreador marcava. Todos descem do camburão com suas armas prontas e o Na assume a frente de todos os tenentes.
O lugar é terrível. É um córrego que dá direto no esgoto e corre veloz até o rio mais próximo. De primeira, não veem pragas pelos arredores, na parte superior. Mas Jaemin vê uma coisa, uma que faz com que seu coração imediatamente aumente o ritmo das batidas. Ele vê a mochila que deixou com você algumas semans antes, aberta. E de longe, consegue enxergar a ponta rosa lá dentro.
— Aguenta aí só mais um pouquinho, por favor.
Você implora ao bebê dentro da sua barriga. Bebê esse que estava se preparando para conhecer o mundo. E você estava mais que ciente disso, sentia em cada célula do seu corpo o quanto ele estava pronto para, enfim, conhecer a realidade em que estavam vivendo.
Passou o dia inteiro sentindo dor, no começo eram só incômodos e te atrapalhavam na hora de andar. Agora estavam insuportáveis. Sabia o que aquilo significava, o que os intervalos cada vez mais curtos entre as dores queriam dizer. E estava apavorada. Aproveitava os poucos segundos de sossego que tinha para correr e a cada começo de contratação que sentia, seus olhos se aguavam e suas pernas tremiam.
Estava dando seu melhor para achar uma saída, para achar uma forma de ter seu neném em segurança, mas parecia cada vez mais difícil. Se sentia fraca, física e mentalmente. Tentava encontrar forças entre os episódios doloridos, procurando por uma direção em que pudesse seguir. E é no meio do seu percurso quando sente seu ventre repuxando, a sensação agonizante descendo por suas coxas e se estendendo por suas costas.
A dor é tanta que te enfraquece as pernas e te tira a estabilidade, o que te leva diretamente ao chão, caindo de joelhos na água suja e corrente do córrego. Em outras circunstâncias seu estômago se embrulharia pelo cheiro terrível de esgoto, alí, no entanto, só tem espaço para a dor. É de longe a pior coisa que já sentiu.
Apoia as mãos no chão também, tenta controlar sua respiração quando a contração começa, a água da chuva escorrendo por suas costas e molhando seu cabelo, suas roupas e tudo ao redor. É preciso muito esforço para não gritar, a última coisa que precisa é que alguma praga te ouça e vá atrás de você. Por isso, se limita a gemer angustiada, apertando as unhas na ferida quase cicatrizada em sua perna para se distrair da dor do seu trabalho de parto. Seus dedos afundam na carne aberta, o sangue se acumulando sob suas unhas. Sente arder e morde o lábio inferior.
— Filha, m-meu amor, me ajuda. Eu preciso de f-força pra tirar a gente d-dessa — murmura com a cabeça baixa, as lágrimas se misturando com a chuva — Vou achar um cantinho p-pra você sair daí, o-ok? Só segura as pontas pof m-mais um temp-pinho.
E então, você espera até que o próximo intervalo chegue e se levanta com dificuldade, deixando a mochila com o restante de todas as suas coisas para trás. É porém, surpreendida quando seu corpo é fortemente jogado para frente por um peso que vem de trás. Cai com a barriga no chão e bate o rosto na terra molhada, tem pouco tempo para assimilar o que aconteceu quando ouve os grunhidos que já estava tão familiarizada.
É ágil para virar com as costas no chão e ficar frente a frente com a praga que te derrubou. O infectado é obviamente mais forte que você naquele momento, que usa de todo o resto da força física para segurar o pescoço dele e manter aquela boca asquerosa longe de você. Porém, teme que não consiga se livrar da praga antes que sua próxima contração aconteça, e pensar nisso faz com que seu corpo aja no automático, porque isso sim seria um problema.
Em um movimento arriscado, você usa o antebraço para se proteger da fúria do morto-vivo enquanto a outra mão procura por qualquer coisa que te ajude a se defender. A cada segundo que passa fica mais complicado impedir que a praga se aproxime muito de seu rosto e é quando ela está com a boca em volta do seu moletom que você acha o revólver que foi jogado da mochila e atira na cabeça da praga. O tiro faz com que ela caia para trás e você sente a fúria tomar conta de seu corpo, o que te faz usar a arma para bater no crânio do bicho diversas vezes. Você bate, bate com tanta força e tantas vezes que o sangue espirra no seu rosto, a cabeça que golpeia já está aberta e o corpo imóvel. Você só para quando sua barriga volta a endurecer, te fazendo levantar devagar.
Vai em passos apressados na direção em que o córrego corre, descendo uma pequena ribanceira que dá na área coberta e apertada do canal de esgoto. Alí a água bate em seus tornozelos e o pouco espaço te deixa claustrofóbica, mas o que realmente traz a tona seu desespero é ouvir os grunhidos vindo do lado de fora ao mesmo tempo que sente uma pressão em seu baixo ventre.
E também quando percebe que a água agora está abaixo de seus joelhos.
Não tem muito tempo para assimilar quando volta a sentir dor. Essa diferente das anteriores, vem acompanhada de uma ardência na sua região vaginal. Sua consciência vai se formando, ao decorrer da intensificação da dor você sente uma urgência em empurrar. E em gritar. Precisa desesperadamente externalizar aquilo que está sentindo e que te rasga por inteira.
— Merda — geme e aperta os olhos com força, as pernas começando a ficarem submersas e as têmporas suando — Meu neném, perdoa a mamãe, tá bem?
E então você grita. Vem de dentro do peito e rasga a garganta, acompanhado de lágrimas grossas que caem dos seus olhos. Mas, incrivelmente, você não ouve sua própria voz. Ela é abafada por um barulho de tiro que não falha em te alarmar.
Está prestes a entrar em estado de pânico, com aquela dor infernal e a água já em sua barriga quando inclina o pescoço para cima, pronta para gritar outra vez quando vê a silhueta de alguém.
E o seu grito fica preso quando o boné preto chega ao seus olhos.
São necessários alguns minutos até que você consiga abrir completamente os olhos. A claridade incomoda um pouco e te é estranha, assim como a superfície macia em que está deitada. Respira fundo, uma, duas, três vezes antes de olhar ao redor, não reconhecendo o lugar que está e a mente trabalha devagar. Flashs de memória te doem a cabeça e seu corpo está pesado, se sente cansada mesmo que tivesse acabado de despertar.
Inclina o pescoço para o lado e então visualiza a provável cena mais linda que já presenciou na vida, aquela que ficará gravada para todo o seu sempre. Que faz o ar se esvair do peito.
Ao seu lado, sentado no colchão de espuma e com as costas apoiadas na parede, Jaemin tem em seu braços um pequeno corpo embalado na manta rosa. Ele se remexe devagarinho para os lados e tem um sorriso bobo nos lábios enquanto murmura alguma coisa que você não consegue ouvir.
Jaemin te olha. O sorriso, então, dobra de tamanho.
— Bom dia, mamãe.
Você engasga um pouco para responder, é muita coisa para assimilar. Jaemin está vivo? Onde estão? Nos braços dele, é o neném de vocês? O que aconteceu? Tem vontade de disparar todas essas e mais algumas perguntas, mas tudo que seu cérebro processa são os resmungos que vêm daquele serzinho minúsculo.
— Oi — é o que consegue dizer, enfim. Morde o lábio antes de continuar, confusa — Está... é... tudo bem?
Ele ri soprado e se arrasta para sentar ao seu lado.
— Estamos bem — responde, então se inclina na sua direção — Eu e essa mocinha aqui.
Ouvir a confirmação só colabora com seu estado fragilizado. Sente o nariz arder e não sabe se o motivo é o choro chegando ou a cicatriz que o enfeita.
— Ela? — pergunta, o pomo de adão sobe e desce devagar a medida que vai tomando consciência das coisas — Então você tava certo.
— Vamos dar oi pra mamãe? — Jaemin fala com a bebê e olha para você — Quer carregar?
Assente repetidas vezes, os braços se estendendo na direção dos dois. Tudo que mais quer é finalmente conhecer sua filhinha, tê-la nos seus braços. E quando finalmente a tem contigo, sente como se estivesse carregando o mundo. O soluço se prende na garganta quando a olha, pequenina e quietinha. Os olhinhos estão abertos e a linguinha brinca dentro da boca enquanto ela resmunga. Usa seu dedo indicador para acariciar o cabeleira escura dela e logo o sente ser agarrado pelos dedos miúdos dela.
— Oi, filha — sua voz embarga e os olhos marejados olham para Jaemin — Oi, amor.
Vê quando o rapaz ri e se deita ao seu lado, deixa um beijo singelo na sua testa.
— Ei, minha linda. Como está se sentindo? — ele pergunta, manso e suave feito uma pluma — Você tirou uma soneca e tanto.
— Por quanto tempo eu dormi?
— Pouco mais de quinze horas.
Seus olhos se arregalam em espanto.
— Caramba, você ficou sozinho com ela todo esse tempo? — Jaemin assente e você suspira. Tem muitas coisas que gostaria de perguntar a ele no momento, mas escolhe esperar. Volta a olhar para sua pequena e sorri acanhada — Ela é linda, Nana. Tem o seu nariz.
Ouve quando ele concorda, usando os cotovelos para se apoiar no colchão e ficar mais próximo de vocês.
— Vocês foram muito fortes, juntas. É compreensível que tenha ficado tão cansada —Jaemin diz — Ela é muito boazinha, chorou muito pouco desde que nasceu.
— Coitadinha, deve estar morrendo de fome.
— Como você apagou, as enfermeiras deram mamadeira com fórmula para ela — ele explica, cuidadoso — Espero que não se importe.
Você suspira aliviada.
— Acho até melhor, na verdade. Não devo estar no meu estado mais saudável — aproxima o nariz do rostinho bochechudo da sua filha, sentindo seu cheirinho de bebê — Minha pequena. Nem acredito que está aqui, finalmente.
Você e Jaemin sorriem em sincronia, então você direciona o olhar a ele.
— Isso serve pra você também, temos muito o que conversar — e ele concorda, ciente de que precisariam se atualizar das coisas — Mas, por agora, eu tenho outra coisa para perguntar.
Jaemin sinaliza para que diga.
— A gente não falou sobre nomes — pontua.
Durante sua gestação conturbada, a última coisa que paravam para pensar era em qual nome dariam ao bebê quando ele nascesse. Até mesmo quando estavam nos estágios finais, aquilo nunca chegou a ser uma pauta.
— Eu pensei em Sae Yoon — Jaemin diz, baixinho — E olhando pra ela agora, acho que realmente combina.
O nome te soa agradável aos ouvidos, sabe exatamente de onde vem aquele sentimento de familiaridade que te arde os olhos. Quando olha para a recém nascida, que agora tem os olhinhos fechados e a respiração serena de seu sono sossegado, não imagina que tenha outra alternativa. Então, sorri para ela.
— Sae Yoon é bom. É ótimo na verdade — compartilha, alternando o olhar entre a criança e o pai — Combina com a sua irmãzinha, né? A Bomie ia adorar te conhecer, minha princesa. Ela ama você, assim como a mamãe e assim como o papai. Minha Sae Yoon.
Porquê não querem perturbar o soninho dela, vocês a deixam descansando no cesto e Jaemin se em prontifica ficar de olho nela enquanto você vai tomar banho e comer alguma coisa. A água do chuveiro é gelada e o banheiro é apertado, mas nada pior do que o que teve que passar nos últimos dias, então tira a roupa de bom grado por ter, pelo menos, onde se limpar.
Tira a calça e o moletom em seguida, esse último que gruda ao passar as mangas pelos braços. Você estranha o acúmulo de sangue no tecido e usa o pequeno espelho para ver seu antebraço. Para ver seu antebraço machucado em tons roxos, verdes e vermelhos. E com marcas pontiagudas naquela área, marcas de dentes.
Se dá conta mais rápido do que queria. Está infectada.
Jaemin terminava de tirar os pertences de dentro da mochila quando você deixou a mamadeira de lado, a neném aparentemente satisfeita. A coloca com o corpo ereto e dá tapinhas nas costas dela, tentando fazer com que ela arrote. Tudo isso enquanto observa o Na organizar as poucas coisas que tinham.
— O coronel falou alguma coisa com você? — pergunta depois de um tempo, atraindo a atenção de Jaemin para si.
— Não. Você precisou ir fazer aqueles exames, né — ele diz sem te olhar. E ainda bem, porquê ele te conhece bem e perceberia seu nervosismo apenas em olhar para você — Como foram?
Hesita. Seu primeiro pensamento é contá-lo, dizer a ele que foi mordida e não sabe quanto tempo tem até que sinta fome e sede demais, que seus instintos falem mais alto e você precise se saciar com a sua família. É dizer que sente medo de que, agora que finalmente estão juntos, tenha que se separar deles outra vez. Que tem medo de ficar sozinha.
Mas não diz nada disso, engole todas essas palavras e disfarça sua ansiedade em ninar sua filha em seus braços, dormindo serenamente.
— É, tudo certo — então ouvem o arroto meigo que ela dá, o que causa uma risada nos dois. Você a deixa deitadinha no colchão que compartilham e se levanta, indo até ele e o abraçando pela cintura, o rosto escondido em seu pescoço — Senti saudades.
Sente o corpo dele vibrar.
— Eu também, não faz ideia do quanto — Jaemin confessa com um suspiro — Não consigo nem imaginar como seus dias devem ter sido.
— Acho que nem alguns anos de terapia vão ser suficientes quando tudo isso acabar — brinca e o vira para você — Nana, eu quero que me prometa uma coisa.
Vê o cenho dele se franzindo.
— Quero que me prometa que vai proteger Sae Yoon antes de tudo, independente do que acontecer — a voz treme ao pedir, as mãos sobem até os ombros dele e seguram ali — Ela precisa de você. Igual eu preciso de você, sabe? Mas eu... eu não consigo protegê-la sozinha. Então eu quero que você me prometa que sempre vai colocar ela em primeiro lugar.
— Não tô te entendendo — o rosto dele está repleto de confusão — Que história é essa?
— Me promete.
Engolindo em seco, o rapaz desvia o olhar para a bebê encolhida no colchão e logo volta a olhar para você, então, ele assente.
— Sim, meu amor. Vou proteger nossa pequena a todo custo, nem que minha vida dependa disso.
Você balança a cabeça positivamente, satisfeita, e a deita no peito dele.
Quando tiveram aquela conversa, Jaemin não a associou a nada naquele momento. Viveram os próximos dias tranquilamente, vocês três em seu próprio mundinho que consistia apenas na pequena família. Os dias na zona de quarentena ficaram mais agitados ao decorrer do tempo, as pessoas iam chegando e o lugar ia ficando cada vez mais cheio. Com aquilo, Jaemin era chamado de vez em quando para ajudar em alguma patrulha ou até mesmo para ajudar a abrigar as novas pessoas que iam chegando.
Em uma das tardes em que estava com o restante dos tenentes no saguão do alojamento, o rapaz volta para o quarto que dividiam e, assim que entra, ele estranha quando não vê nenhuma de vocês duas alí.
Se prepara para dar meia volta e ir procurá-las no refeitório ou nos banheiros quando é surpreendido com o som de dentes batendo. Virando o corpo, ele te vê no cantinho do quarto. Você se contorce no chão, tentando se soltar das cordas amarradas em volta do pescoço e dos pulsos, cordas que provavelmente foram você mesma quem amarrou. E Jaemin não reage de imediato.
Ele acha que está sonhando ou que aquilo era um tipo de miragem. Era mesmo você? Não, não podia ser. É do que ele tenta se convencer. Mas seu moletom de bolso é inconfundível, mesmo que coberto de sangue como estava agora.
Sangue. Jaemin se alarma.
Sua visão percorre toda a extensão do quarto e ele não a encontra. Nem sinal dela e aquilo o desespera, o fazendo correr até você.
— Droga, cadê ela? — ele tenta. Chega tão perto que te deixa agitada e permite que ele enxergue seus olhos brancos e as veias aparentes por todo seu rosto e pescoço — Você não... né?
Apenas pensar na possibilidade o deixa em pânico. Jaemin se coloca sobre seu corpo e aproveita da sua imobilidade para te cercar.
— Onde ela tá, hein? Me diz. Me diz onde ela tá. Porra, eu não acredito — o rapaz se exaspera, grita cada vez mais alto e se frusta quando isso surte cada vez menos efeito — Eu não acredito.
O pânico ameaça a dar lugar para o medo a medida em que ele te vê não corresponder a nenhum de seus comandos. A consciência do que está acontecendo o toma, e os olhos se embaçam, o peito sobe e desce com velocidade. Sente seu aumentando. Se sente derrotado. O corpo inteiro tremelica e ele se aproxima cada vez mais do seu corpo.
— Isso não tá acontecendo, né?,
Mas enquanto as lágrimas grossas molham todo o rosto bonito do rapaz, mais ele tem certeza. Te ver daquele jeito crava nele, alí, a maior das cicatrizes que nem seu trabalho arriscado o daria. O deixa arrasado e rasga seu coração. Ver seu olhos se revirando e sua boca tentando mordê-lo a todo custo deveriam ser o suficiente para fazer com que ele tivesse certeza do que o destino reservou a vocês.
Jaemin nunca hesitou em tomar decisões difíceis. O Na, geralmente, sabe qual é a coisa certa se fazer.
E suas mãos tremem quando pega o revólver que parece dez vezes mais pesado do bolso. Ele te fez uma promessa, e vai cumpri-lá olhando para o que sobrou de você naquele chão. Os incontáveis soluços de Jaemin lhe tiram um pouco da estabilidade mas não o impedem de enfiar a arma na sua boca. E o dedo no gatilho não demora mais que dois segundos para disparar.
Enquanto observa você morta por suas próprias mãos, a única coisa que o tira a atenção é o som do choro fino e abafado vindo de dentro da mochila, sobre o colchão o inflável de casal.
E Jaemin, finalmente, se permite respirar.
O sol é agradável o suficiente para aquecer pai e filha que caminham pela área externa do alojamento, a bebê com a bochecha no ombro dele e ele, com uma das mãos ocupadas pelo seu pequeno rádio. Estão sentados no chão "conversando".
— Pois é, Yoonie. Você acredita que ela não queria que eu comesse o donut? Eu sei, zero necessidade — deu uma risada quando ela resmungou, entendendo aquilo como um sinal de concordância — Enfim. Tenho uma coisa pra te mostrar, minha princesa. Está ouvindo o papai?
Jaemin esperou cinco segundos e balançou a cabeça.
— Ótimo, vamos lá.
O Na, então, tirou um cartão de memória do bolso da calça e o conectou no rádio, dando play na gravação de áudio logo em seguida.
"Que coisa de velho. Enfim, bom dia! Se vocês estão ouvindo isso é porque hoje é meu aniversário! E com 'vocês' eu quero dizer Nana, nenê e eu, só que alguns meses mais velha. Amor e filha, não preciso de grandes presentes, ok? Vocês são meu maior tesouro. Mas, Jaemin, não se esqueça do meu Oasis, quero ouvir Wonderwall o dia todo, se vira pra arrumar esse seu rádio velho. E pelas minhas contas nossa garotinha já deve ter nascido, então não vou fazer graaandes planos. Quem sabe no ano que vem, né? Enfim. É isso. Um beijo pra vocês e parabéns pra mim!"
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girlneosworld · 7 months
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Perdão.
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tw: menção a sangue, a morte e a armas, sugestivo, descrição de machucado e uns assuntos relativamente sensíveis. acho que só.
galera, estamos na reta final de purgatório e mesmo estando com o coração na mão agora, vou guardar a lamentação pro próximo cap, que é o último. espero que gostem do capítulo e me perdoem os possíveis erros. boa leitura, amo vcs.
um mês antes.
— Sabe que dia é amanhã?
Jaemin, que estava sentado no colchão inflável e tinha um emaranhado de fios nas mãos, desvia os olhos do rádio que tentava consertar e olha para você. Estava vestindo uma das camisas verde-exército dele e usando uma calça de moletom enorme. A visão o faz sorrir e abandonar o aparelho, apoiando os cotovelos nos joelhos. E então, dá uma risadinha.
— Talvez, se estiver perguntando o dia do mês — diz ele — E se eu ainda não tiver perdido minha noção de tempo e espaço...
A fala dele te causa um saltinho empolgao. Caminha até o cantinho onde guardam os pertences de vocês e pega uma agenda e um lápis que já estava pequeno, tudo sob o olhar atento de Jaemin. Enquanto vai até ele, passa as folhas cheias e para na última em que escreveu. O rapaz te guia para se sentar ao lado dele e lê o que estava escrito:
— "34 semanas e seis dias" — lê em voz alta e te olha de cima a baixo, parando em sua barriga já bem grande e pesada — O que isso quer dizer na língua das grávidas?
— Isso quer dizer que a partir de amanhã, nosso bebê pode nascer a qualquer momento — conta animada e deixa a agenda de lado, pegando nas mãos dele — Eu sinto, do lado esquerdo da minha barriga, que ele nasce no meu aniversário.
— Nossa, isso é daqui umas duas semanas, né? — Jaemin reiterou — Odeio a ideia de você ter que passar pelo trabalho de parto e essas coisas todas sem assistência médica.
Você dá de ombros.
— Eu optaria por um parto natural, de qualquer maneira — estica as pernas e olha para seus pés inchados — Só quero que ele saia daqui logo, eu tô pesada e inchada. Além das dores nas costas, claro.
Jaemin ri e alisa sua barriga, subindo a blusa tentando sentir algum movimento vindo lá de dentro. Nada. Tudo parado e quieto a algum tempo. Ele só esperava que o bebê gostasse de te dar sossego e não que algo estivesse errado com ele.
As horas naquela cabana passam devagar e tendem a ser tediosas. Estão vivendo alí nos últimos meses, dividindo o espaço de apenas um cômodo, racionando a comida que mandam para vocês e tomando banho no pequeno lago atrás do cubículo de madeira. Os dias têm sido tranquilos e sem muita emoção, enquanto o sol ainda está no céu aproveitam para lavarem as roupas e explorar os arredores, e quando ele se põe vocês trancam muito bem a porta e ficam calados e seguros lá dentro. A noite as coisas são perigosas do lado de fora.
Em mais um dos dias que se seguem, Jaemin acorda primeiro que você e te deixa dormindo enquanto sai da cabana com seu habitual boné preto, o revólver, seu walkie-talkie e o rádio recém consertado. Não vai muito longe, só até onde o sinal é um pouco melhor e consegue colocar seu cd de pop-rock dos anos 90 para tocar baixinho e com um chiado de fundo. Ali, aproveita para terminar de trançar o cesto de palha e tricotar o cobertor rosa que vinha fazendo a alguns dias. Não acreditava que cores e gênero tivessem alguma ligação e nunca gostou de estereótipos de coisas designadas a serem femininas e masculinas, mas achava rosa uma cor bonita e, as vezes, sentia que seria pai de uma linda menininha.
— And after all, you're my wonderwall... — cantarolava baixinho. Oasis era sua banda preferida, consequentemente, virou a dele também. Era muito grato a eles por terem feito o caminho de vocês se cruzar. Ainda se lembrava quando, ainda adolescentes, vocês se conheceram.
Como uma pequena borboleta perdida, você entra na loja de discos. Olhando tudo ao seu redor e segurando na barra da saia de pregas xadrez. Parecia meio deslocada e confusa, e a julgar pelo seu cabelo suado e bagunçado, devia estar cansada também. E ainda meio hesitante, se dirige até o caixa. Até Jaemin, que te olha com uma expressão engraçada.
"Como posso ajudar?" ele pergunta, cordial. Vê quando você morde o lábio como se medisse as palavras e então tira um disco de vinil da mochila surrada. Parecia estar voltando da escola, então deviam ter praticamente a mesma idade.
"Quero trocar isso aqui, por favor." o deixou sobre o balcão. Jaemin pegou e o analisou por alguns segundos antes de te ouvir voltar a dizer "É que eu ganhei de presente. Tenho a nota fiscal aqui, se precisar."
"Preciso sim" responde ele e te observa procurar no bolso frontal da mochila "Não curte Red Hot Chili Peppers?" pergunta, então.
O garoto repara nos seus olhos contornados por um lápis preto e nos piercings da orelha. Ele conseguiria te encaixar no estereótipo de pelo menos três bandas de rock e talvez no de fã da Avril Lavigne, mesmo que uma coisa não se ligasse necessariamente a outra. Mas gosta do mistério que você o traz, por isso não deixa de sorrir quando você o responde:
"Não muito, mas até gosto do Californication. Só quero trocar por um que vou realmente ouvir, sabe... " dá de ombros e o olha "Quero o Heathen Chemistry." diz por fim e o sorriso dele aumenta.
"Do Oasis?"
"Aham".
"Tenho que confessar que isso é inesperado... Nada de Nirvana? Black Sabbath? Evanescense?" Jaemin sugere enquanto pega o disco que você pediu na vitrine "É o último, deu sorte, gatinha".
"Você é meio babaca, né" pega o álbum da mão dele e dá uma boa olhada, suspirando encantada. "Sinto te decepcionar, bonitinho. Talvez o próximo cliente tenha morcegos no cardápio do café da manhã. Obrigada e tchau."
Então você sai da loja e deixa um Na Jaemin sorrindo abobalhado na porta da loja.
— Tenente Na, está na linha? Aqui é o coronel falando. Câmbio. — Jaemin é disperso da música quando ouve a voz grave vindo de seu walkie-talkie, imediatamente abaixa o volume do rádio e pega o pequeno aparelho em mãos.
— Tenente Na falando, coronel. Estou ouvindo.
A resposta demorou alguns segundos para chegar, deixando o rapaz ansioso e inquieto. Estava esperando por um contato a algumas semanas. Ele não te dizia para não te preocupar, mas temia que tivessem sido abandonados ali.
— Estamos com problemas de comunicação, serei breve — uma pequena pausa — Não tenho certeza quanto ao reabastecimento de mantimentos dos oficiais, as vias estão começando a ficar cheias e impossibilitadas de passagem.
— O quê? Mas eu não posso ficar sem comida e sem água limpa aqui, minha mulher tá grávida e meu filho deve nascer nos próximos dias, coronel. Vocês prometeram que teríamos auxílio até que a situação se controlasse.
— Estou ciente, tenente Na. Não cortaríamos seus recursos se não fosse necessário — aquilo faz Jaemin bufar, desacreditado — Uma zona de quarentena foi colocada a postos a alguns quilômetros da cabana onde estão hospedados. Num antigo complexo de dormitórios da Federal, em Gyeongsan.
— Caramba, isso é loucura. Estamos em Seonhwa-ri, vai levar alguns bons dias até chegarmos. E não sei se me ouviu quando eu disse, mas minha mulher pode entrar em trabalho de parto a qualquer momento, coronel. Sinceramente, não quero colocar minha família sob esse tipo de risco. — disse exasperado. — Isso é impossível.
Jaemin respirava pesado e tinha as mãos tremendo enquanto seguravam o walkie-talkie com força, fazendo os nós de seus dedos ficarem brancos. As narinas se expandiam pela força com que o ar passava, o coração dele igualmente agressivo dentro do peito, batendo rápido a ponto de fazê-lo ter uma parada cardíaca. Ainda baixo no rádio, Stop Crying Your Heart Out tocava quando ele ouviu as próximas palavras do coronel.
— Não sei como conseguiu chegar até onde chegou se é tão covarde, Tenente Na. Tem sorte de não ter sido meu aluno quando chegou na academia, porque se dependesse de mim, eu nunca deixaria que você se formasse se soubesse que é tão fraco — a voz soa chiada e grave — Na zona de quarentena sua esposa terá assistência médica e seu filho roupas quentes e vitaminas. A escolha de dar a sua família uma vida mais tranquila dentro do possível é toda sua, mandaremos um carro e um mapa para vocês. Mas se decidir ser egoísta só porque não consegue protegê-los, tudo bem também, pode viver com a culpa de deixá-los pra morrer por negligência sua. A nossa promessa será cumprida. Agora é com você, tenente. Câmbio, desligo.
Quando a ligação termina, Jaemin funga e tem sua visão embaçada pelas lágrimas. Pega o cobertorzinho cor de rosa e o embala em seus braços, a voz do coronel o chamando de corvarde, fraco e egoísta ecoando em sua cabeça. Não percebe como o magoou ouvir tudo aquilo até sentir uma lágrima solitária escorrendo pelo rosto e pingando no rádio. Tem seu coração pequeno com todo aquele sentimento de incapacidade que o apossa, mas precisa segurar o choro porque a última coisa que quer é você o vendo daquela maneira.
Quando te ouve chegando até onde ele está, é rápido em secar as lágrimas e sorrir para você, que obviamente percebe que algo não está certo quando deixa um pote com uvas verdes sobre o colo do rapaz. Observa a mantinha, o cesto e ouve a música tocando. Então, sorri.
— Amo essa música. — diz atraindo a atenção dele para si.
— Eu sei.
Jaemin sabe a coisa certa a se fazer. E nunca hesitaria em fazer a coisa certa.
Cinco dias depois, já dirigiram até a metade do caminho. Revezavam no volante para que não se cansassem ao extremo, dando pausas durante o dia para fazerem suas necessidades, beber água e comer o que tinham trazido da cabana. Você, no entanto, estava começando a ter seus dias contados. Naquele ponto da gravidez, existir era um grande desafio e morria de medo de sobrecarregar Jaemin. Ele não reclamava, mas você conseguia ver como ele ficava cansado.
Voltando de uma das pausas para o xixi, você ajeita o moletom de volta no corpo e vê Jaemin escorado do lado de fora do carro com o mapa em mãos. Anda até ele e para em sua frente.
— Pronto, esvaziei — bate uma mão na outra e encosta o indicador no nariz bonito dele — Está com sono? Posso assumir daqui até de manhã.
Ele nega com a cabeça.
— Já já vamos precisar abandonar o carro. Vamos passar pela estação de trem e depois pela área florestal. A partir daí é só a pé — ele diz e então dobra o mapa, o jogando pela janela — Como estão as coisas aí dentro? Consegue fazer uma caminhada de alguns dias?
Averiguando, você segura na parte de baixo da barriga. Está muito pesada e dura, dói suas costas e seus joelhos. Também se sente constantemente sem fôlego e esmagada. Além da bexiga sempre cheia, é claro. Os seios também estão enormes e doloridos e as vezes pingam, mas tirando tudo isso, diria que está apta de andar alguns quilômetros.
— É, acho que sim — traz a mão de Jaemin até a parte superior da barriga e o faz alisar o neném na esperança de que ele se mexesse pelo menos um pouquinho — Ai, ele bem que podia dar um sinal de vida, não é? Me deixa muito aflita toda essa tranquilidade aqui dentro.
— Ela vai nos avisar se algo estiver errado, ok? Também deve estar cansada. Tá grande e já deve estar apertado aí, nem deve ter espaço para se mexer.
— Como tem tanta certeza de que é ela? — você pergunta sorridente e sente ele fazendo um carinho ali, sorrindo apaixonado.
— Instinto paterno — te puxa pela cintura, até onde sua circunferência permite, e te dá beijinhos molhados que sobem do pescoço até sua boca. Você suspira quando sente a respiração dele atrás do seu pescoço, o ventre ocupado formigando com o contato.
— Eu bem que queria você me comesse nesse carro agora mesmo. Mas eu tô enorme e redonda, não vou caber nesses bancos traseiros. Além de não ter certeza se consigo gozar sem entrar em trabalho de parto ou sei lá — dispara e ouve a risada gostosa dele, te deixando emburrada, cruzando os braços em frustração.
— Como consegue pensar em sexo uma hora dessas, meu amor? — ele se afasta e segura seu rosto entre as mãos grandes e quentinhas — Amo que esteja "redonda" e te acho mais linda do que nunca enquanto está gestando minha filha, e pode ter certeza que eu faria de tudo pra te colocar nesse carro e te fazer gozar vezes o suficiente pra que tudo que você consiga pensar é em mim dentro de você. Mas... — termina sorrindo e você dá um tapa no peito dele.
— Cretino.
—... temos um longo caminho pela frente e um tempo não tão longo assim, então não posso te dar esse luxo, minha gostosa — Jaemin te dá um último beijinho na testa antes de bater na sua bunda e apontar para o carro — Vamos acabar com isso.
— E EU dirijo — diz, por fim.
Quando abandonam o veículo, as coisas escalonam rápido demais. O trajeto dentro da estação de trem foi o mais difícil, já que não contavam que estação estaria cheia das pragas que a meses vocês não precisavam lidar pessoalmente. Assim que entraram, tiveram poucos minutos de caminhada até que pulassem nos trilhos e fossem recebidos por dezenas dos vivos-mortos que não perderam tempo em ir atrás de vocês, não lhes dando outra escolha a não ser, correr.
Para Jaemin que trabalhava a anos como policial, na adrenalina e na velocidade, correr não era um desafio. Ele tirava de letra e já era tão natural quanto respirar, demorando até que ele se cansasse ou vacilasse. Para você, em contrapartida, não dominava aquilo com tanta maestria quanto seu namorado. Acabava por ficar um pouco atrás dele e tinha uma dificuldade visivelmente maior, sua respiração estava descontrolada e seu peito queimava, além de sentir todo seu corpo latejando de dor.
Vez ou outra Jaemin dava um checada em você e ficava aflito com seu estado desesperado, vendo claramente como estava cansada. Mas ele sabia que não podiam parar de correr, mesmo que a concepção daquilo o enchesse de preocupação, ouvir todas as pragas gemendo também não ajudava em nada. E foi no momento em que ele ouviu seu grito, que Jaemin sentiu toda aquela adrenalina o subindo até a cabeça.
— Cacete, o que aconteceu? — ele perguntou indo até você que estava caída no chão, a checando dos pés a cabeça, parando o olhar em sua perna que tinha um arame cravado na coxa — Merda.
— Jaemin, a minha perna... porra, tá doendo muito, eu não conseguir continuar — você começou a hiperventilar a medida que a dor ia se alastrando por toda a extensão do machucado — Pode ir, me deixa aqui. Eu só vou atrasar você.
Sentindo seu sangue ferver, o Na solta um grunhido e se abaixa na sua frente.
— Meu amor, me perdoa — ele diz, te deixando confusa.
— O que...
E então, o que antes doía começa a queimar quando, sem aviso e sem piedade, Jaemin arranca o arame da sua perna de uma vez só e te pega em seus braços, voltando a correr na maior velocidade em que conseguia. Em seus braços, você grita de dor e chora desesperadamente até entrarem na cabine de madeira do trocador da estação.
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Jaemin passou todo aquele tempo sendo atormentado por seus medos e suas fraquezas. Porém, encontrava motivação em você para não parar, continuar a correr e correr. Te deixar naquela árvore foi o maior dos desafios que um dia teve que encontrar. Ainda se lembra do aperto em seu coração quando acenou pela última vez e se afastou de você. E agora, em frente aquela lareira, com um aparelho de rastreio em mãos, ele sente o sentimento de imponência tomar conta de si como nunca antes.
— Boa noite, tenente — ouve aquela mesma voz de semanas atrás e levanta o olhar — Espero que esteja muito bem acomodado.
— Preciso ir buscá-la — diz com os olhos na chama laranja a sua frente — Você me prometeu que ela estaria em segurança.
Com um suspiro, Jaemin sente o coronel se sentar ao seu lado e dar dois tapinhas em seu ombro.
— O rastreador ainda funciona? — perguntou.
— Está no cobertor.
E então, com um pigarro, o coronel continua:
— Assim que amanhecer nós colocamos uma das equipes atrás da sua namorada, ok? Vamos pegá-la em segurança e fazer o nascimento do seu filho, tenente Na. É uma promessa.
Dando uma risada carregada de escárnio, Jaemin se levanta. Ajeita o boné na cabeça e encara o homem de cima, e mesmo que estivessem mal iluminados naquela penumbra, o Na faz questão que seu tom seja claro o suficiente para passar o recado:
— É bom mesmo que ela esteja segura quando a acharmos. Porque se algo acontecer com a minha mulher enquanto eu estiver longe, por negligência de vocês, eu faço questão de provar o quanto você estava errado em me chamar de covarde, Coronel. Boa noite.
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girlneosworld · 7 months
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💌 [22h14] lee donghyuck.
bjss, mwahh 💋💋
Com as mãos tremendo e o coração batendo descompassado, Donghyuck deixa o corpo escorregar até que chegue no chão. Então, o garoto se escora na porta do seu quarto e aproxima a boca da madeira. Com um suspiro profundo, ele verbaliza tudo aquilo que tanto guardava:
— Ei, não sei se me consegue ouvir, mas... Eu tenho pensado muito em você, sabe? E em mim, pensado em nós dois. É meio repentino e até meio egoísta, eu sei, só que é impossível esconder isso por mais tempo. Quando eu te deixei em casa semana passada e você me mandou aquela mensagem, agradecendo pelo dia, lembra? Eu não consegui dormir naquela noite, minha cabeça sempre voltava pra sensação das suas mãos nas minhas, pro som da sua risada escandalosa, pra dormência nas minhas bochechas pela quantidade de sorrisos que eu dei em tão pouco tempo. O fato é que: eu não consigo parar de pensar você. Duvido que um dia eu consiga, você é o meu... Como é que dizem? Meu porto seguro, isso. Você é meu porto seguro. E eu queria muito ter sido o seu, porque não é justo. Não é justo que você faça com que eu me sinta tão livre, tão amado. Que você me salve todos os dias e faça meus problemas parecerem balela. Não é justo eu não ter sido o mesmo pra você. Que, enquanto você me embalava no seu abraço e me salvava um pouquinho todos os dias, eu não conseguia te salvar também. É isso. Amanhã pode até fazer dois dias, mas hoje eu sinto como se fosse pra sempre. Saudades, meu amor. Te vejo do outro lado.
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girlneosworld · 9 months
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INFERNO.
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• tw: descrição violenta e sangrenta, pode vir a ser sensível. isso aqui é só tragédia sem fim, estejam prontos.
gente, purgatório é o meu xodó e eu vejo potencial nisso aqui. espero que gostem, de coração. caso tenha passado algum errinho mesmo depois da revisão, me perdoem. boa leitura ♡
oito meses antes.
Ouve o bip do sistema de segurança do apartamento apitar assim que passa pela porta. As luzes estão acesas e sente um cheiro de alho vindo da cozinha junto de um farfalhar do que deveriam ser folhas. Sorri. Jaemin chegou antes de você.
— Amor, estou em casa! — anuncia trocando os tênis pretos e pesados por um par de pantufas cinzas. Anda preguiçosamente até a cozinha e joga sua bolsa no sofá durante o percurso.
Assim que chega no cômodo é agraciada com a figura alta do seu namorado picando cebolinha na pia, de costas para você. Ele ainda está com o uniforme preto do trabalho abraçando os ombros largos e tem um boné também preto na cabeça. O garoto se vira para você e balança as sobrancelhas.
— Chegou tarde. Dia puxado? — ele pergunta e você concorda com a cabeça.
— É. Estagiar está sendo mais complicado do que eu pensei — responde com a voz cansada, sem revelar o real motivo por trás do seu atraso. Se coloca ao lado dele para lavar as mãos, bate seu quadril no dele para conseguir mais espaço. O ouve rir — O que foi? Precisa de ajuda aí?
Procura pelo pano de prato para secar as mãos e se apoia no mármore da pia. Vê o rosto bonito dele se contrair numa careta e o sorriso aumentar. Inconscientemente acaba sorrindo também. Bate com o pano branco no peito dele.
— Assim que eu saí da operação eu passei no mercado. Vamos comer yakisoba no jantar — ele diz e direciona os olhos da faca para você — 'Tô rindo porque estava com saudade. Só isso.
Agora é sua vez de rir. Tira o objeto cortante das mãos dele e se põe entre ele e a pia. Passa os braços pela cintura magra e descansa a cabeça no peito malhado. Ali, consegue ouvir os batimentos tranquilos do coração alheio. Encontra em Jaemin o descanso para todo o seu tormento do dia. Se aperta ainda mais nele. Sente os olhos ficando úmidos quando ele passa a acariciar seu cabelo. Droga.
— Senhorita? Está me ouvindo?
A voz da mulher a sua frente te tira do devaneio rápido, estava desassociando. Os olhos piscam alguns pares de vezes antes de voltar a enxergar as luzes fortes, as paredes brancas. Morde o lábio quando se recorda de onde está, é o consultório da sua médica. Está no hospital. Suspira.
— Sim, doutora Kim, estou ouvindo. — responde finalmente e dá um meio sorriso. Ou tenta sorrir, pelo menos.
Observa ela assentir e te entregar um amontoado de papéis sobre um envelope pardo. As mãos tremem na hora de receber e só sabe ficar atônita. Até mesmo respondê-la era uma missão difícil. Portanto, opta apenas por ouvir e acenar com a cabeça na esperança de que ela apenas termine logo a consulta.
— É uma notícia difícil de se digerir, meu bem, eu sei. Mas eu fico feliz de te dizer isso, te contar que estão saudáveis e vou ficar mais feliz ainda em acompanhar vocês daqui para a frente — ela diz com um sorriso acolhedor no rosto.
Você olha para os exames. Volta a olhar para ela.
— Quanto... É. Quanto tempo? — tenta perguntar.
— Quatro semanas e três dias.
— Nossa, ok. É tempo a beça, 'né? E o que eu faço agora?
— Vou te passar alguns exames importantes, te recomendar algumas maternidades e dietas. Vamos começar a preparar seu pré-natal e quem sabe até pensar no seu plano de parto, hein? Mas não se preocupe, terá tempo para... — a voz da doutora é interrompida pelo toque do telefone — Querida, me dá um instante? Estão ligando da recepção.
— Claro.
Mais tarde, você bate a porta do carro com tanta força que, em outras circunstâncias, se preocuparia em ter quebrado ou a estragado. Mas tudo que consegue fazer é repassar todas as palavras daquele maldito exame de sangue que fez horas mais cedo. Quase não consegue enxergar quando as lágrimas se acumulam no canto dos olhos. A respiração fica descompassada e o coração acelera.
O silêncio naquele estacionamento atormenta sua cabeça, deixa os papéis de lado e afunda no banco do motorista. Sente uma carga de emoções de apossando de todo seu corpo e, enfim, parece tomar consciência da notícia que acabou de receber. Está grávida.
Dá uma cotovelada na janela. Chuta os pedais e soca o volante. E é só quando sua cabeça bate na buzina, causando o tão familiar som estridente por todo o espaço, que se permite chorar copiosamente.
Funga forte e sente a fragrância reconfortante de Jaemin. Sua agonia o deixa momentaneamente agoniado também. O garoto pega seu rosto entre as mãos e te olha nos olhos. Ele carrega uma feição tão carinhosa, transbordando tanto afeto e preocupação que faz sua garganta fechar.
— Minha linda? — a voz aveludada dele ecoa — Que cansaço é esse que está te fazendo chorar? Certeza que é só trabalho demais?
Aperta os lábios numa linha reta. Bate a testa na clavícula dele.
— É tudo tão... Estressante naquele laboratório. — responde, resolve não contá-lo sobre a gravidez naquele momento — E ser só uma estagiária não ajuda muito em algumas situações.
Jaemin murmura para que você continue a falar. Ele adora ouvir você falando sobre seu dia, mesmo que, geralmente, não entenda um terço das coisas que diz sobre seu curso e seu trabalho. Está no último ano da faculdade e graças as boas recomendações da escola técnica, aos projetos de extensão bem sucedidos e as excelentes notas, conseguiu um estágio num dos laboratórios de controle agrícola do estado. É, sem dúvida alguma, o maior orgulho de Jaemin.
É colocada sobre o balcão que divide a cozinha da sala e o assiste voltar a cuidar do jantar de vocês. Com isso, continua contando.
— Parece que estão com um projeto de "fertilização" do solo de grandes áreas da agricultura. Alguma coisa sobre jogar agrotóxicos para as plantações de soja e açúcar. Só ouvi por cima.
Morde o lábio e pensa por alguns segundos.
— Aparentemente já começaram os testes para ver se isso tem algum dano a áreas de seca ou sei lá o que mais.
— Sabe que eu não entendo esses termos da sua engenharia ambiental, 'né, amor? — Jaemin diz quando passa por você para pegar um prato no armário ao seu lado — É tudo só um grupo de palavras desconexas. A única que eu conheço é a palavra plantação.
— Sei — você ri e suspira, olhando para seus pés pendurados na ilha da cozinha — O que me aborrece é que eles acharam uma ótima ideia fazer esses testes em terrenos de fazendas e lavouras de trabalhadores independentes — completa indignada — E o meio de convencer essa gente de que isso é uma boa ideia é compensando eles com um "auxílio por cooperação governamental". Isso é tão.. tão baixo. É baixo porque é claro que trabalhadores em condições de fome extrema e trabalho sub-humano vão aceitar um dinheiro "fácil" — faz aspas com as mãos.
Dá um suspiro profundo. Botar tudo isso para fora realmente tirou um peso de seus ombros. As vezes tudo que precisava era de alguém para ouvi-lá. Graças a Deus tem esse alguém em casa.
— Enfim, acho que vou tomar um banho, sabe, tirar as impurezas do corpo e tal — desceu do balcão.
— Claro, vai lá. A comida já vai estar pronta quando você voltar.
— Ok, chefe — deu um beijinho na bochecha do garoto antes sair do cômodo e dar um tapinha na bunda de seu namorado, que ri e te empurra para fora da cozinha.
Assim que saiu do banheiro com a tolha em mãos e vestindo seu pijama quentinho e confortável, ouviu a campainha tocando um par de vezes. Olhou para o relógio do corredor e viu que já se passavam das oito da noite. Franziu as sobrancelhas e foi até a área de serviço colocar a roupa suja para lavar. Logo, ouve a campainha tocando outra vez.
Quando chega na cozinha vê Jaemin terminando de empratar o jantar.
— Está esperando alguém? — pergunta ele.
— Não. Vou ver quem é, já volto — você vai até a porta e olha pela câmera quem está ali.
Quando vê uma figura pequena do lado de fora, franze o cenho imediatamente, reconhecendo a moradora do andar abaixo do seu. Logo destranca e abre a porta, a encarando com confusão. Se agacha e fica de frente para a garotinha, que sorri para você e aperta o coelho de pelúcia que tem entre os braçinhos finos.
— Sae Bom? O que está fazendo fora de casa a essas horas? Está muito tarde — diz a ela, preocupada.
Vê a menina formar um bico rápido nos lábios antes de te responder.
— Oi, é que a minha mãe ainda não chegou do trabalho e eu tô sozinha em casa — ela suspira — Eu assisti desenho mas comecei a sentir fome, mas não alcanço os armários da cozinha.
Você se apressa a colocá-la para dentro do apartamento, a guiando em direção ao sofá e se sentando ao lado dela. Jaemin aparece no canto da sala e sorri para Sae Bom que acena em resposta. Ele te pergunta com os olhos o que aconteceu? e você dá de ombros, igualmente confusa.
— Faz quanto tempo que você está sozinha, meu bem? — volta sua atenção a ela e pergunta.
— Desde que cheguei da escola de van. Mamãe costuma chegar antes de mim, mas hoje a casa estava vazia — responde — Posso ficar aqui até ela chegar?
Sae Bom olha de você para o Na esperando uma resposta, essa que o rapaz não tarda a dar. Ele vai até onde vocês duas estão e se abaixando diante do sofá, sorri amistoso.
— Claro que sim. Avisou sua mãe? — a menina assente com a cabeça, a franjinha dela balança junto de seu rosto.
— Mandei uma mensagem, ela já deve ver.
— Então ótimo! Vem, vamos lavar as mãos e comer uma comida bem gostosa — Jaemin pega na mãozinha dela e a guia em direção a cozinha — Espero que goste de legumes, mocinha.
— Eu como tudo, tudinho! — respondeu entusiasmada.
Você, ainda sentada, assiste a interação dos dois e sente seu coração errar as batidas e quase pode jurar que está novamente com vontade de chorar. Passa as mãos pela barriga coberta pela blusa de pijama e sorri ao ouví-los rindo, não demorando a ir atrás dos dois e se juntar a eles na mesa.
O jantar ocorre de maneira leve. Conversam com a pequena Sae Bom e comem da comida gostosa de Jaemin, a garota não falhando em entreter vocês durante toda a refeição. Ela faz várias perguntas sobre os trabalhos de vocês e conta sobre o dia dela. Descobrem que ela fica sozinha em casa com frequência, uma vez que moram só ela e a mãe em casa, e a mais velha trabalha numa lavouraque fica a duas horas do bairro onde moram. Você e Jaemin se olham preocupados, pensando como pode uma garota de sete anos ficar tanto tempo sem a supervisão de um adulto. Quando sente uma angústia ainda desconhecida em seu peito, pensa saber de onde vem aquele sentimento tão novo, mas logo o afasta e volta a focar nos dois ali presentes.
Decidem deixar a menina dormir ali com vocês, onde ela está segura, alimentada e aquecida, e ajeitam um colchão para que ela durma no quarto de vocês naquela noite. Depois de assistirem um pouco de televisão juntos no sofá, ela logo diz estar com sono e começa a coçar os olhinhos. Você se prontifica a emprestá-la uma escova de dentes nova e deixa um selar singelo na testa dela, a desejando boa noite e avisando para ela que a luz do corredor está acesa. Minutos depois, quando você entra de fininho no quarto para pegar seu carregador, vê que Sae Bom dormiu com celular ligado no peito.
— Mandou mensagem para a mãe dela? — pergunta a Jaemin quando volta a se sentar ao lado dele no sofá — Acho que ela 'tá no grupo do prédio.
— Mandei. Chegou, mas ela ainda não viu — Jaemin diz e te olha — Tomara que ela apareça até de manhã, Sae Bom precisa ir para a escola.
— Ah, verdade — você morde o lábio, pensando — Caso ela não a busque, eu mesma deixo ela lá de carro. É caminho, de qualquer forma.
— Isso, boa ideia — ele concorda — Eu faço um café da manhã bem gostoso para ela. Acho que tem achocolatado na geladeira, criança gosta dessas coisas, 'né?
Você ri soprado, esticando a mão para mexer no cabelo liso e escuro dele. Vê seu garoto fechar os olhos e aproveitar do seu carinho. Ele vai se aconchegando em você feito um gatinho manhoso e quase ronrona quando se deita entre suas pernas. Seus dedos descem dos fios sedosos para o pescoço e se acomodam nos lóbulos das orelhas, onde acaricia de forma suave, do jeito que sabe que Jaemin gosta.
— Desde quando você tem tanto jeito com criança? — ele te pergunta, a voz mansinha de quem está pegando no sono.
— Ah, não sei. Tenho um carinho muito grande pela Sae Bom — o responde e deita a cabeça no encosto do sofá, melancólica — Quando viemos morar aqui ela era praticamente um bebê, mal sabia andar.
Jaemin ri e concorda.
— Verdade, eu bem que me lembro de quando a mãe dela convidou o bloco inteiro 'pra festa de dois anos dela — o garoto complementa — A gente meio que viu ela crescer.
— Pois é.
Alguns minutos de silêncio se instalam no ambiente, apenas o tictac do relógio digital da mesa de centro é ouvido. De repente, Jaemin volta a falar:
— Sabe o que seria muito legal? — você sinaliza para que ele continue — Ter uma nossa.
— Um nosso o que?
— Criança.
E ali que o mundo fica abafado e você sente seu corpo gelar. Diferentemente de mais cedo, quando chegou em casa, agora quem com certeza conseguia ouvir as batidas do seu coração era ele. E não estavam iguais as batidas calmas e reconfortantes que viam do peito dele, elas te socavam e eram tão rápidas que faziam parecer que você infantaria ali mesmo. E então percebe. Não tem porquê esconder dele. É o seu Jaemin, seu Nana ali, deitado em você, dizendo que gostaria de estender o amor imenso que sentem em uma outra pessoinha.
— E se... E se eu te disser que nós ja temos? — diz com a voz hesitante, embargada. Já sente os olhos umedecidos outra vez. E por incrível que pareça, sabe que não precisa temer a reação dele.
Jaemin imediatamente se apoia com as mãos no sofá, em volta do seu corpo. Ele vê seus olhos brilhantes e as bochechas já molhadas pelo choro que não conseguiu segura.
— Amor, 'tá falando sério? — se exaspera.
Você assente, dando uma pequena risada enquanto suas mãos sobem pela nuca do rapaz. O rosto dele fica alguns segundos estático mas o choque logo dá lugar a um sorriso. O sorriso mais lindo e iluminado de todos os sorrisos. É o sorriso dele. O sorriso.
Aceita todos os beijos, abraços e os agradecimentos dele por fazê-lo o homem mais feliz do mundo. A partir dali, conversam horas a fio, papeiam sobre a vida e a visão que ambos têm sobre família. Criam mais laços, fazem promessas e não se importam que já esteja de madrugada e precisariam acordar cedo, o despertador faria seu serviço.
E mesmo quando se deitam na cama de casal, entram na pontinha do pé para não atrapalhar o sono sossegado da menina deitada, se aconchegam embaixo das cobertas e se abraçam. Sente Jaemin afagar seu estômago e seus pelos se arrepiam com a respiração dele na sua nuca. Ele chega a boca bem pertinho do seu ouvido e sussurra:
— Eu amo você.
As semanas se passaram depois daquela noite. Agora, estabeleceram um combinado com a mãe de Sae Bom de buscarem a menina na escola e ficarem com ela até que a mulher chegue em casa. Eufemismo é dizer que os dias vocês estão melhores. Ela ilumina vocês sempre que dá um sorriso banguela de boa tarde, quando vai em direção ao carro, saltitante com a pelúcia branca entre os braços e a mochila rosa nas costas. Sae Bom também já sabe da gravidez e tem se mostrado bastante empolgada. Você e ela conversam com a barriga por horas, a garotinha vive te perguntando quanto falta para o bebê nascer. Uma vez, enquanto trançava o cabelo dela, ela te disse que você daria a ela o irmãozinho ou irmãzinha que a mamãe dela não deu. Seu namorado precisou de algum tempo para acalmar seu choro na noite daquele dia.
E, como virou de costume nas tardes de vocês, Jaemin estava no banco do motorista enquanto você dirigia em direção a escola de Sae Bom. Tinha saído mais cedo do estágio e o buscou no batalhão onde ele trabalhava. O rapaz passou na lanchonete da rua minutos antes e comprou três donuts rosas, e estava lutando com você que não o deixava comer no momento.
— O que custa esperar, hein, homem? Eu que 'tô grávida e os desejos são seus...
— É que estão quentinhos! Minha boca não para de salivar e — foi interrompido por você que deu um tapa para que ele ficasse calado, aumentando o rádio. Jaemin fez bico e acariciou o próprio braço.
Ouviram a voz chiada que vinha do autofalante.
"Médicos e cientistas de todo o país estão expondo sua preocupação diante do que parece ser uma nova doença infecciosa. Os centros das cidades têm apresentado casos muito parecidos com os de raiva, onde uma pessoa ataca agressivamente com arranhões e mordidas qualquer que seja o indivíduo que estiver a sua frente. Os infectados são supervelozes e tem a pele descascada, similar ao estado de decomposição. Os primeiros casos foram identificados em zonas rurais e é possível que a contaminação seja..."
— Jaemin! — gritou quando ele desligou o rádio antes do fim da transmissão.
— Eu já estava ficando agoniado com a sua cara de aflição ouvindo isso — ele se defende.
Estava pronta para rebater quando percebeu que já estavam na frente da escola. Não demorou para conseguirem ver a figura pequenina de Sae Bom correndo na direção de vocês e acenando pela janela com um grande sorriso no rosto. Você sorri junto e sinaliza para que ela entre no carro.
— Oi, maninha. Oi, Nana!
O caminho até o condomínio é tranquilo, foi composto por Jaemin e Sae Bom cantando cantigas populares – essas que ela havia aprendido naquele mesmo dia e o Na se empolgou na missão de cantar – e na garota comendo o donut de morango que ganhou dele. E Jaemin muito feliz por final poder comer o seu também, claro.
Como naquele dia a mãe da menina avisou mais cedo que já estaria em casa, vocês apenas se despediram dela e a deixaram na porta do apartamento em que morava, subindo para o de vocês em seguida.
Mais tarde, quando estava estudando e se lembrou de ter esquecido sua pasta no carro, voltou no estacionamento para buscar e viu o coelhinho de pelúcia no banco de trás. Automaticamente um sorriso se abre.
— Ela esqueceu de novo — negou suavemente com a cabeça.
Você então pegou o elevador e foi até o andar da menina para que pudesse devolver. Sabe que ela não dorme se não estiver abraçada do seu peludinho, como o chamava, então não tarda a tocar a campainha da casa. Uma, duas, três vezes. Até bate na porta. E nada.
Estranha a falta de resposta e chega o ouvido perto da fechadura, também não consegue ouvir nada. Pensa que talvez elas já pudessem estar dormindo, afinal, os dias são cheios para ambas as moradoras da casa. Até que, apenas por desencargo de consciência, você gira a maçaneta da porta e se surpreende ao ver que estava destrancada. Franze o cenho. Decide, então bater outra vez e abrir de mansinho, colocando a cabeça para dentro.
— Ei, desculpa a intromissão! A Bomie esqueceu o peludinho no carro outra vez e...
E é quando você adentra a sala do apartamento que se vê diante da cena mais traumática que já presenciou em toda a sua vida. Seus olhos se arregalam e os dedos apertam o coelho no próprio peito.
Seus reflexos trabalharam muito, muito rápido. O estômago embrulha.
E você precisou de toda sua agilidade para virar as costas e bater a porta quando, depois de te perceber, a mulher completamente ensanguentada parou de comer os órgãos do estômago aberto da filha – que tinha o corpinho flácido, estirado no chão, o pescoço mordido e o rosto coberto de sangue – de maneira animal e te olhou no exato momento em que te ouviu, com os olhos completamente brancos e a boca cheia de carne da própria primogênita.
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