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leiathejules · 3 months
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Lupita Gostava de Engomar, de Laura Esquivel
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Lupita é uma policial na Cidade do México que vê sua vida já conturbada virar do avesso quando se torna a única testemunha do homicídio de uma figura importante da política da capital, alguém a quem ela dedicava extrema empatia e admiração.
Ela é bastante crítica da sociedade mexicana, que de certa forma ela acredita ter se acostumado com a corrupção, com o narcotráfico, com a letargia do governo e com o fato de que nada muda com o passar dos anos, com o povo sendo eternos marionetes de titereiros diferentes.
Lupita é uma personagem incrível. Ambígua porém consciente de suas contradições, sofre com profundas feridas do passado, com traumas e agressões que moldaram seu ser e a tornaram uma pessoa que teria tudo para ser pessimista mas que anseia por um México melhor.
Ela gosta de servir e talvez esse seja o principal motivo que a fez se tornar policial. Ela gosta de se divertir mas se entrega ao vício e as vicissitudes que tanto luta para aplacar. E ela gosta de engomar, que a faz pensar e fugir de sua realidade.
O livro ganha uma narrativa policial sem ser um romance policial. O fato de Lupita ser uma policial diz mais sobre quem ela é e quer ser de que sobre o livro que narra sua história. Há um crime, ela é a única testemunha, mas isso é mais um pano de fundo que o enredo principal do que nos é apresentado.
E o fato de ela ser falha mas utopicamente esperançosa faz dela uma personagem ímpar, em especial nos momentos que, como leitor, antipatizei com seus atos ao mesmo tempo em que meu coração se contraia em comiseração.
E todo o mérito para a autora, Laura Esquivel. Mais conhecida pelo fenômeno "Como Água Para o Chocolate" esse foi meu primeiro contato com sua obra e saio extremamente satisfeito e emocionado.
★★★★★
Ficha Técnica: Lupita Gostava de Engomar Laura Esquivel Editora Bertrand Brasil 208 páginas Título Original: A Lupita le gustaba planchar Tradução de Joana Angélica D'Avila Melo Crédito da Ilustração
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leiathejules · 3 months
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Projeto "Lendo Pelo Mundo"
A Sora, do Instagram jardimdelivroseartes propôs um desafio para se expandir os horizontes literários lendo um livro de um autor de nacionalidade diferente a cada mês do ano de 2024.
É uma excelente oportunidade para se conhecer novos autores, então prontamente aceitei.
Minhas escolhas foram:
JANEIRO - México: Lupita Gostava de Engomar, de Laura Esquivel FEVEREIRO - África do Sul: Foe, de J.M. Coetzee MARÇO - Austrália: A Seca, de Jane Harper ABRIL - Marrocos: Viver a Sua Luz, de Adbelah Taia MAIO - Islândia: A Marcação, de Frida Isberg JUNHO - Coréia do Sul: Bem-vindos à Livraria Hyunam-Dong, de Hwang Bo-Reun JULHO - Arábia Saudita: A definir AGOSTO - Índia: Dois Anos, Oito Meses e Vinte e Oito Dias, de Salman Rushdie SETEMBRO - Canadá: A Odisseia de Penélope, de Margaret Atwood OUTUBRO - Nigéria: Fique Comigo, de Ayòbámi Adèbáyò NOVEMBRO - Alemanha: Fera Dálma, de Hertha Muller DEZEMBRO - Chile: O Vento Sabe Meu Nome, de Isabel Allende
À medida que for lendo os livros atualizarei este post com os links para as resenhas.
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leiathejules · 5 months
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Uma Jornada no Inverno: Kingmaker Livro 01, de Toby Clements
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Livro de estreia do autor – e crítico literário – Toby Clements, “Uma Jornada no Inverno” abre a série de romance histórico “Kingmaker”, que vem a contar os fatos ocorridos na conhecida Guerra das Rosas, onde duas casas, os Lancasters e os Yorks lutavam pelo direito ao trono britânico, embasados em tratados de herdades e laços da casamentos complicadíssimos, que permitiam a um ou outro lado julgar como de seu pleno direito a posse do trono.
Uma das cosias que mais me agradaram no livro – e que, por sinal, faz com que ele se desvie dos demais romances históricos – é que o autor opta por utilizar como personagens principais não pessoas célebres como o Duque de York ou o Conde Warwick, mas duas pessoas do povo, que, graças ao acaso e por estarem “no lugar errado na pior hora possível”, veêm suas vidas transformadas para sempre.
Thomas é um clérigo que passa seus dias dedicando-se à manutenção das regras monásticas e a confecção de seu saltério, à mão, com delicadas ilustrações e arremates em gesso e ouro, e do qual ele muito se orgulha, consciente da delicadeza e da importância de seu trabalho. Já Katherine, é uma irmã que entrara no priorado muito cedo, tendo sido aceita como oblata, e, assim como Thomas, vive uma vida simples e dura, especialmente no inverno, sob o crivo rígido da madre superiora. Apesar de as duas instituições dividirem a mesma parede, irmãos e irmãs jamais se encontram, reclusos cada qual em seu território, até uma manhã.
Enquanto estão fora das paredes do priorado executando atividades diárias, são “emboscados” por alguns cavaleiros de Sir Giles Riven, e não pude deixar de ficar surpreso pelo desrespeito que os cavaleiros demonstram com os membros da igreja, de tal forma que Thomas sabe que, se o pegam será morto; e Katherine que, antes de matá-la, ainda lhe farão algo pior.
É preciso notar que Thomas e Katherine são totalmente alheios às causas exteriores ao priorado. Sabem muito pouco, e, apesar de deverem obediência à figura do Rei, claro, tem muito pouco conhecimento sobre as batalhas que vem sendo tratadas desde que o Rei, mentalmente frágil, vem sendo comandado por sua rainha, uma francesa. Assim, não tomam partido, não tem lados definidos, porque então merecem serem abatidos como animais?
Em um momento de desespero, Thomas e as irmãs decidem reagir e ferem gravemente o filho de Sir Giles Riven. Isso marca seu destino.
Os desdobramentos ao ataque ao filho de um Sir são drásticos e os acompanhei com a respiração suspensa. Aqui o autor nos brinda com uma narrativa de batalha primorosa pela qual já é bem reconhecido mesmo em seu romance de estreia, cheia de detalhes e nuances de movimentos, desenhando toda a ação de forma que a imaginamos sem muita dificuldade, e, por mais que sejam óbvios os desfechos, é impossível não fiar surpreso.
O que posso dizer é que Thomas e Katherine se veem em um bote, remando por suas vidas ao mesmo tempo que deixam para trás toda a vida que conhecem.
Com sua história se passando no século XV e em um momento dos mais conturbados, o livro é um prato cheio para quem gosta de romances históricos. É interessante acompanhar os costumes e ver uma sociedade que, ao mesmo tempo em que é fortemente embasada na religião, é capaz de demonstrações de puro desrespeito e cureldade.
Assim, quando Thomas e Katherine, perdidos, famintos, e temerosos de serem pegos e entregues a Sir Giles ou mandados de volta ao priorado, recebem ajuda de um homem, vendedor de indulgências para a Igreja, a gente sente um alívio tremendo. Este homem, por sinal, será o responsável por um dos maiores segredos da série até aqui: a posse de um livro onde estão anotadas as presenças de diversas tropas na guerra contra a França. É óbvio que se trata de um objeto de valor, mas Thomas neste volume ainda não tem uma ideia concreta do que se trata.
O outro segredo em si é o que me deixou mais curioso e envolve Khaterine. Ele não se lembra de quem a levara ao priorado, porém, em meio à Guerra é reconhecida. O autor deixa o assunto morto sem fornecer explicações minimamente convincentes – espertinho! – e, espero, será tratado mais a frente, em um futuro volume da série.
Existem batalhas belamente descritas – a despeito de todo o sangue e horror – personagens carismáticos por quem nos apegamos facilmente, como Sir John Fakenhan, e seu filho, Richard, mas as melhores partes do livro se baseiam na relação entre Thomas e Katherine. Enclausurados no priorado, cada qual com seus irmão de ordem, não estão acostumados à visão ou contato com o sexo oposto, então quando Katherine tem de se vestir como um garoto para que possam se mover com mais facilidade, e se camuflarem na multidão (seus eprseguidores esperam encontrar um casal, não dois homens) isso implica em um alto número de questionamentos e reprimendas que ambos fazem a si mesmos.
É, sem dúvida, um começo de série muito bom. Sinceramente, espero que o autor pare um pouco de praticar arco e flecha e passe a se dedicar integralmente ao livro. Preciso do próximo volume urgentemente.
★★★★☆
Ficha Técnica: Uma Jornada no Inverno: Kingmaker Livro 1 Toby Clements Editora Rocco 553 páginas Título Original: Kingmaker: Winter Pilgrims (Kingmaker Book 1) Tradução de Geni Hirata
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leiathejules · 5 months
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Foundryside: Às Margens da Fundição - Trilogia Os Fundadores Livro 1, de Robert Jackson Bennett
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Foundryside nos apresenta um mundo onde a magia foi formatada e industrializada: sábios são capazes de formatar frases - sigils - em ordens complexas e sequências lógicas que fazem os objetos inscritos questionarem sua realidade.
Por exemplo: ao inscreverem uma flecha, os inscritores podem fazer com que esta flecha, ao ser lançada, acredite que sua impulsão é equivalente à força gravitacional da terra enquanto ela é jogada de uma altura de mil quilômetros, e não apenas a impulsão normal de um arco e um cordão.
Assim, a flecha inscrita acredita que sua velocidade ao ser disparada é muito maior que a usual, e que seu peso, ao atingir o alvo, é milhares de vezes maior que uma flecha normal.
As inscrições também servem para tornam mais resistentes certos materiais: uma madeira pode ser inscrita para ter a durabilidade do concreto, ou uma pedra pode ser inscrita para ter a maleabilidade de uma árvore, podendo ser esculpida com maior facilidade.
Mas existem limites: não é possível fazer com que um objeto seja o que não é. As inscrições delimitam o quanto um material pode ser influenciado pela inscrição, mas as características e usabilidades normais desse material influenciam no resultado do processo.
No livro, Tevanne é uma cidade composta por quatro Casas Comerciais, em um sistema muito similar ao feudalismo, que detém o conhecimento das inscrições dentro de seus altos muros protegidos por sigils intrincados, onde os moradores vivem com conforto e opulência e a periferia, onde tudo é sujo, decrépito de difícil, onde uma pessoa pode matar a outra por um naco de pão.
É na periferia que vive Sancia, uma ladra, que é contratada por uma figura misteriosa para roubar uma mercadoria do porto de uma das casas comerciais mais influentes da cidade. Ela sabe que a tarefa é arriscada, mas o dinheiro é bom, e é um passo importante para que ela consiga o que mais quer: se tornar o que ela acredita ser uma pessoa normal.
Porque Sancia tem dons. Ela não sabe ao certo como eles funcionam, mas ela consegue ouvir as inscrições, não o que elas falam propriamente, mas como um farfalhar indistinto, e, ao tocar um objeto, ela conversa com ele em sua mente, e ele lhe fala sobre sua constituição, seu uso, seus pontos fracos.
Assim, quando vai roubar algo, Sancia pode colocar a mão sobre a parede do prédio que irá invadir, e em sua mente, pouco a pouco, a planta do prédio começa a se desenhar, e ela consegue vislumbrar inimigos, armadilhas, esconderijos.
Mas não sem um preço: usar sua habilidade lhe causa dor, e faz com que ela tenha plena consciência de que é diferente dos demais.
Sua vida já conturbada vira do avesso após o roubo e quando ela quebra uma das regras que a maioria dos ladrões se vê tentado a quebrar: não olhar dentro do pacote, não saber exatamente o que está roubando.
Ter esse conhecimento fará com que Sancia se envolva em tramas de poder das quais ela jamais quisera participar, e mostra a ela o quanto o mundo é cruel e complexo.
Tevanne é envolto em história e mistérios. Pouco se sabe como as inscrições foram descobertas, e há mitos de seres gigantes, onipotentes e sábios que foram os precursores dessa escrita, e histórias de guerras travadas através dos tempos justamente por causa desse poder.
Achei a narrativa incrível e um excelente começo para uma trilogia: nele se desenha um confronto que promete dar o tom aos próximos livros, todos eles já lançados no Brasil pela Editora Morro Branco.
★★★★☆
Ficha Técnica: Foundryside: Às Margens da Fundição - Trilogia Os Fundadores Livro 1 Robert Jackson Bennett Editora Morro Branco 640 páginas Título Original: Foundryside: A Novel (The Founders Trilogy Book 1) Tradução de Aline Storto Pereira Crédito da Ilustração
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leiathejules · 5 months
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O Hóspede Noturno, de Heather Gudenkauf
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Em uma noite quente de verão, Josie e Becky, sSua melhor amiga estão ansiosas pela viagem do dia seguinte, onde partirão para uma feira. Sem conseguirem dormir, as duas saem de madrugada para o quintal da fazenda onde Josie mora e começam a pular na cama elástica.
Quanto mais pulam mais as estrelas parecem próximas de modo que imaginam que com um pouco mais de esforço conseguiriam tocá-las, com se tudo que quisessem estivesse ao alcance das mãos e nada, na ingenuidade infantil, fosse impossível.
Até que ouvem um barulho. E outro, e outro. São tiros.
As duas partem para o abrigo da casa mas logo percebem o erro, é lá que o atirador deve estar, pois de relance Josie conseguiu ver clarões na janela do quarto dos pais, então enquanto fazem meia volta e partem disparada para o milharal onde poderiam se esconder, já é tarde, e Josie sabe que não têm tempo suficiente, e se desespera quando sente uma bala atravessar seu braço, e sua amiga cair.
A tragédia que se desenrola na casa é inimaginável: os pais de Josie estão mortos, elas está ferida e assustada, e tanto seu irmão mais velho quanto sua melhor amiga estão desaparecidos.
Josie não quer acreditar que o irmão tem algo a ver com aquilo, mas seu comportamento agressivo, as brigas com o pai, o fato de ele possuir uma arma dada pelo avô, a deixam temerosa de que essa possa ser a verdade.
Wylie é uma autora consagrada de true crime, e ela sente responsabilidade em contar da maneira certa a história dos crimes,  em honrar as vítimas e dar a elas um final digno na lembrança de seus leitores, mas ao mesmo tempo sua própria família está em frangalhos e ela se muda para uma fazenda no meio do nada, no inverno, para terminar seu último livro.
É aí que ela recebe, durante uma nevasca terrível, um hóspede inesperado
Esse é meu primeiro livro autora Heather Gudenkauf, que é mais conhecida pelo seu livro de estreia, "O Peso do Silêncio", mas posso afirmar que fui fisgado desde as primeiras páginas.
A narrativa é intercalada entre Josie, Wylie e um terceira pessoa que dá poucas indicações de quem ela é, como se tivesse medo de falar e estivesse acostumada com um silêncio que sempre me pareceu protetor: quanto melos ela falasse, melhor.
Isso dá uma agilidade enorme a narrativa, e há muitos cliffhangers que prendem o leitor e fazem com que os capítulos voem em frente aos seus olhos.
Há muitos anos não lia um livro em um dia só, mas não havia possibilidade de eu deixar para o dia seguinte todas as revelações que a leitura prometia. Eu simplesmente tinha que terminar de ler.
O leitor mais acostumado a thrillers eventualmente conseguirá ligar um ou dois pontos durante a leitura, mas nada pode prepará-lo para a revelação final que surpreende de tal forma que meu Kindle quase foi ao chão.
É uma leitura recompensadora. Existem poucos momentos tediosos no livro. É emocionante acompanhar a investigação do crime da família de Josie, assim como é emocionante acompanhar o desenrolar da relação de Wylie e seu hóspede.
Outro ponto que me chamou a atenção é o extremo posto do clima no decorrer a narrativa. Enquanto Josie transpira em um calor palpável, Wylie tem que lutar para se manter aquecida durante uma grande nevasca; quase que como se o clima fosse parte da trama, com toda a possibilidade de definir os rumos das personagens.
★★★★☆
Ficha Técnica: O Hóspede Noturno Heather Gudenkauf Editora Alta Novel 336 páginas Título Original: The Overnight Guest Tradução de Robson Falcheti
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leiathejules · 6 months
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Águas do Norte, de Ian McGuire
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Em "Águas do Norte", um médico irlandês, Sumner, embarca em um navio baleeiro que partirá ao gélido norte em busca de caça para fornecimento de gordura de baleia e outros produtos, apesar de já reconhecerem que há uma perceptível decadência econômica na atividade frente a novas tecnologias – como as lamparinas a querosene.
Sabem também que Brownlee, o capitão do navio, não deveria estar capitaneando aquele navio, pois em sua última jornada ao Ártico perdera sua embarcação e parte de seus homens para o mar e o frio, e que nenhum proprietário de navios no mundo daria uma nova chance a alguém marcado com o estigma de azarado.
Mas Baxter, o proprietário do navio encarrega Brownlee dessa nova expedição, com uma equipe não muito digna de confiança.
Há um contraste enorme entre Sumner e seus colegas de embarcação. Os baleeiros são grosseiros, rudes, despreocupados e supersticiosos, e Sumner acha difícil o convívio, apesar de que aquela é sua única chance de recomeçar a vida. Por isso, enquanto não está trabalhando, ele prefere se recolher a sua cabine, e, enquanto os outros acham que eles está lendo seu Homero ou rezando, na verdade ele está viajando na inconsciência para ele prazerosa do láudano.
Dos tripulantes, conhecemos logo cedo Drax, e suas características animalescas, suas atitudes impensadas e que dispensam explicações chocam o leitor pela simplicidade com a qual ele lida com elas: ele faz o que tem que fazer, no momento que precisa fazer. Não há nada pessoal em seus atos que não diga exclusivamente respeito a si mesmo e sua sobrevivência.
Essa falta de uma moral coletiva o transforma em um animal selvagem, perigoso, desconfiado e que terá uma papel importante na maneira como os fatos se desencadearão.
Percebe que a mentira sai fácil, como esperado. Palavras não passam de ruídos em determinada ordem, pode usá-las como bem entender. Os porcos roncam, os patos grasnam e os homens mentem: costuma ser assim.
Em contrapartida, Otto é um sueco de pensamento filosófico e intrincado saber teológico com quem Sumner consegue conversar mais a fundo, apesar de não ser um crente e achar que a maioria das coisas que Otto diz não passa de superstição alienadora. Mas ter Otto para conversar é uma fonte de alívio para Sumner em meio a tanta – ele considera – bestialidade.
Sumner carrega consigo um segredo que é desvendado logo na primeira metade do livro. Foi médico do exército imperial em uma revolução na Índia colonizada, e saíra de lá com um ferimento a bala que o deixara mancando e viciado em opioides.
Insinuou que o trabalho de um médico num navio baleeiro era um detalhe da legislação, uma exigência a ser cumprida, mas na prática não havia porcaria nenhuma a fazer - daí a remuneração ridícula, é claro.
Poucas pessoas entendem a presença dele em um navio daquele, pois o cargo de médico de bordo geralmente é ocupado por estudantes desesperados por dinheiro ou profissionais com um passado sombrio e poucas alternativas, e o irlandês misterioso e bem apessoado simplesmente não se encaixa.
O ambiente vil da embarcação é muito bem descrito pelo autor, McGuire, que não perde tempo em gastar seu francês e ser bem franco quanto aos cheiros, objetos e ocupantes.
Este é o segundo livro do autor britânico Ian McGuire e meu primeiro contato com sua prosa, que me agradou por não ser cheia de rodeios, dedos ou bem-me-queres: as coisas acontecem em um ritmo acelerado e entorpecido de álcool e láudano.
Ele não perdoa ninguém de suas descrições despidas de pudor e quando faz uso delas através dos diálogos dos marinheiros elas se tornam ainda mais pungentes e certeiras.
A narrativa se desenvolve de forma competente e envolvente. Há no clima um cheiro de maquinação e traição que vai se tornando palpável e não demora muito até que entendemos que aquela viagem não foi organizada para terminar bem; e os desdobramentos que vão se desenrolando a cada página são um lembrete constante de como a crueldade humana pode ter tons tão escuros.
O livro foi adaptado para minissérie de mesmo nome, com Colin Farrell e Jack O’Connell, e está disponível no Globoplay.
★★★★☆
Ficha Técnica: Águas do Norte Ian McGuire Editora Todavia 304 páginas Título Original: The North Water Tradução de Daniel Galera
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leiathejules · 6 months
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A Arte de Ouvir o Coração, de Jan-Philipp Sendker
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“A Arte de Ouvir o Coração” é um livro que já impressiona pelo projeto gráfico da capa. Não há como deixá-lo passar despercebido: diversos insetos tomam conta da capa que, em mãos, ainda nos surpreende por serem estes insetos, na metade de baixo, em verniz, e na superior em alto relevo. Gostei muito, acho que é uma das mais belas capas que já vi, mas ela casa com o título do livro? Sim, faz todo o sentido.
No livro, que marca a estreia do autor, o alemão Jan-Philipp Sendker, escrevendo em língua inglesa, somos guiados por Julia, que parte em busca de seu pai, um proeminente advogado que desaparecera sem deixar rastros após viajar em segredo para a Birmânia. Para aumentar o mistério, sua família — inclusive sua esposa — pouco sabem de sua juventude no país, sendo esse um dos poucos assuntos acerca dos quais ele não aceita ser questionado.
Como imigrante, Tin Win, o pai de Julia, se diferenciava dos demais americanos por ter mantido um estilo de vida discreto, apreciando música e se portando de forma que os outros achariam peculiar, sem, no entanto, dar qualquer mostra à sua família de que um dia poderia desparecer.
Julia decide, quatro anos após o desaparecimento, partir em busca de seu pai, saber o que aconteceu. Na Birmânia, é abordada por um velho que diz conhecê-lo, e, mesmo com ela relutando em acreditar, lhe conta uma história, e ela demora em aceitar sobre quem se trata.
O livro alterna constantemente a narrativa, mesclando as memórias de Julia, e sua busca pelo pai desaparecido, com os relatos do velho, chamado U Ba. Enquanto ela narra a história em primeira pessoa, U Ba utiliza a terceira, demarcando, claro, que tomou conhecimento dela por outra pessoa. Já questionei muito esse tipo de estrutura em outros títulos, mas aqui ela se dá de forma perfeitamente harmônica, e torna o livro agradável de ser ler, os fatos não acontecem precipitadamente, e, ainda, as inserções narrativas de Julia entremeadas às de U Ba nos permite acompanhar o que ela pensa sobre o que lhe vai sendo contado.
E a história impressiona. Tin Win, um garoto que é personagem da narrativa de U Ba, nasceu em uma data propícia para sortilégios — os birmaneses são supersticiosos e acreditam fervorosamente na influência dos astros em suas vidas — então seus pais ficam preocupados com seu futuro. Quando por fim algo ruim acontece, sua mãe compreende que os sinais já presentes em seu nascimento foram confirmados, e acaba abandonando-o. Penalizada, Su Kyi, uma vizinha, passa a cuidar dele como se fosse seu filho.
Tin Win sempre fora uma criança peculiar, isolada, dada a observar, sozinho, a natureza, então quando ele perde a visão, Su Kyi pensa consigo mesma que não sabe ao certo se ele ficou cego devido a uma doença ou se apenas se recolhera a um recanto ainda mais profundo de sua personalidade, onde ninguém mais conseguiria alcançá-lo.
O modo como ele passa a perceber o mundo à sua volta, através, principalmente, da audição, é o que dá título ao livro, e se complementa quando ele conhece Mi Mi.
Mi Mi é uma garota que nascera com um problema ortopédico que a impede de caminhar ereta. Dona de uma personalidade altiva e alegre, além de uma voz belíssima, é uma das personagens mais marcantes com a qual já tive contato em um livro, e seu encontro com Tin Win um “casamento” perfeito.
Ele não pode ver; ela, andar. Juntos têm todo o mundo diante de si.
Ela não era um peso, era necessária.
Um dos pontos positivos na construção dos personagens do livro é que o autor não faz deles heróis sem pontos fracos, nem, tampouco, portadores de necessidades especiais que são dignos da nossa profunda pena e admiração. Ao contrário, Tin Win em nenhum momento quer ser visto como inválido, e Mi Mi, apesar de ter de se locomover rastejando, mantém uma postura e asseios impressionantes, fazendo com que seja respeitada por todas as pessoas que a conhecem.
E não são isentos de falhas. Até aprender a usar seus novos sentidos, mais aguçados pela necessidade de compensarem a perda da visão, Tin Win cai e se machuca — principalmente em seu íntimo — diversas vezes; e Mi Mi, por sua vez, inveja silenciosamente as outras crianças que podem andar.
É uma bela história de amor, e, como tem de ocorrer nas melhores delas, assume na segunda metade do livro um tom melancólico, um sentimento de perda que vai aumentando a cada página, e segue até o desfecho. Esses trechos me fizeram questionar Tin Win, suas atitudes, sua passividade, permissividade e inércia quando não age, não busca o que todos os leitores que tiverem o livro em mãos acreditarão ser o natural, a coisa certa a se fazer.
Por outro lado, em um dos diversos momentos nos quais parei com os livros em mãos, pensando a respeito do que havia lido, me veio a noção de que nada é da maneira que esperamos para nossas próprias vidas, ainda mais nos casos onde não somos donos de nossos caminhos ou estamos presos a tradições, sentimentos de dever e subserviência aos quais apenas uma pessoa tão boa quanto Tin Win poderia se sujeitar e não se rebelar.
A última parte — o livro é divido em três — é bela, o final, tocante, terno, mas tenho comigo que ela não aplaca todas as perdas, as falhas; e fica aquela sensação de que os personagens deixaram tanto em aberto que jamais conseguiriam suprí-las, mesmo que se esforçassem muito.Tal qual na vida real.
Talvez por isso o livro tenha mexido tanto comigo.
★★★★☆
Ficha Técnica: A Arte de Ouvir o Coração Jan-Philipp Sendker Editora Paralela 256 páginas Título original: The Art of Hearing Heartbeats Tradução de Carolina Caires Coelho
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leiathejules · 6 months
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‘Our Town’s Libraries’ which I drew for the @nytimes recently… Speaking of libraries, I have a new book out titled REVENGE OF THE LIBRARIANS and I am visiting Brooklyn NY, Philadelphia PA, and Columbus OH with it in the next week. Visit tomgauld.com for details…
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leiathejules · 6 months
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172 Horas na Lua, de Johan Harstad [Resenha]
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Que sou fã de ficção científica quem acompanha o blog há algum tempo sabe, então foi com muitos bons olhos que vi o lançamento de 172 Horas na Lua, do autor Johan Harstad.
A premissa do livro é interessante: a NASA, carecendo de recursos que lhes permitam desenvolver seus projetos, e pegando carona no sentimento de nostalgia que muitas pessoas ainda mutrem quase cinquenta anos após a chegada do homem na Lua, decide retomar as viagens lunares, mas desta vez, atraindo a maior quantidade de atenção possível: promovendo um concurso mundial que levaria os três primeiros adolescentes da história em uma missão de 172 horas na Lua.
Mas desde o começo fica muito claro que há muito mais por trás desta história. Pra começo de conversa, a missão ocupará uma base lunar que ninguém sabia que existia, a DARLAH 2, construída nos anos 70 e que jamais fora utilizada, permanecendo em segredo até então. Segundo a NASA, apesar dos quase cinquenta anos desde que fora construída – o livro se passa em 2018 – ela é totalmente operacional e pode recebê-los sem problemas.
O autor nos apresenta então os três protagonistas, os adolenscentes que serão sorteados para a viagem: um francês, Antoine; uma japonesa, Midori; e uma norueguesa, Mia. O problema aqui é que os três são muito pouco carismáticos, e o autor opta por focar a narrativa – apesar de alternar entre eles – em Mia, que é claramente construída para agradar ao público do livro: ela é uma garota descolada, vocalista de uma banda, que vê na viagem uma oportunidade para conseguir atingir o sucesso.
Eu sinceramente preferiria que Midori fosse mais ativa nos acontecimentos, ela, entre os três, me pareceu bem mais genuína.
O livro é dividido em três partes, com a primeira introduzindo os personagens e a situação, além de mostrar os preparativos para a missão. Esta parte poderia ser bem mais maçante do que é, então ponto para o autor. Na segunda temos a viagem em si, e é aqui que a mágica acontece.
O autor tem um estilo que me pareceu roteirizado. Seu texto é sempre bem pontuado pelas ações a serem tomadas e as implicações que elas trarão ao enredo. Por exemplo: desde o começo sabemos que há um mistério na Lua e que a NASA desistira das missões Apolo por temer este segredo, e não pela justificativa oficial, de que, finda a Guerra Fria, o interesse do cidadão americano em conquistas espaciais diminuíra. Então o autor procura soluções que façam com que seja justificada uma nova missão. Ele é prático, e eu tendo a gostar disto.
Gostei muito do ambiente lunar que ele criou e da forma como conduz o leitor em meio ao mistério. Se a primeira parte do livro é um pouco devagar, já aviso que aqui as coisas acontecem de maneira rápida. Há tensão no ar e ela chega a ser palpável, o que só faz bem ao texto.
Mas, tenho ressalvas.
A ideia de uma trinca de adolescentes em uma missçao espacial não me agrada. O livro poderia ser muito mais atrativo para mim se, ao invés de uma porção de personagens sem qualquer experiência – e com dramas de vida um tanto fúteis pra falar a verdade – trouxesse especialistas que sabem do assunto. As surpresas, o mistério, tudo ficaria melhor assim.
Em Encontro Com Rama, por exemplo, a coisa toda flui muito bem porque pessoas bem treinadas se deparam com o desconhecido e, em um primeiro momento, não sabem como reagir. Se 172 Horas na Lua seguisse essa premissa sinto que teria embarcado muito mais na história.
Outro ponto é que, em favor da surpresa, o narrador, onipresente, solta a mão do leitor em diversos momentos durante a trama, deixando-o em suspenso e usando de artimanhas para explicar e reverter fatos que o leitor já dava por definitivos. E isto é o que mais me incomoda em uma leitura. Tudo bem que, em favor do mistério, estes artifícios tenham de ser empregados, mas eu sou sempre a favor da cumplicidade entre o leitor e o narrador. Em livros onde o suspense e o mistério são os pontos fortes, essa ligação tem de existir, e tem de ser sincera.
Mas, ainda assim, 172 Horas na Lua é um bom livro. Acredito que ele é uma excelente porta de entrada para que leitores que ainda não tiveram contato com ficção científica possam se interessar pelo gênero. Ele não é tão complicado que assuste os novatos, ao mesmo tempo em que apresenta bons argumentos que não fazem feio frente a titulos consagrados.
Destaque ainda para a edição, que é repleta de ilustrações e diagramas que são muito válidos e acrescentam bastante à experiência de leitura.
★★★★☆
Ficha Técnica 172 Horas na Lua Johan Harstad Editora Novo Conceito 288 páginas Título original: Darlah-172 Timer Pa Manen Tradução de Camila Fernandes
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leiathejules · 6 months
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É a Ales, de Jon Fosse [Resenha]
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A comunidade literária recebeu sem surpresa a notícia de que Jon Fosse seria o laureado pelo Nobel de LIteratura este ano, já que ele há muito vem sendo considerado um dos melhores autores de sua geração. Decidi então embarcar no hype e ler uma de suas poucas obras disponíveis em português, "É a Asle".
Signe e Asle vivem em uma pequena cidade dinamarquesa a beira de um fiorde. O tempo passou, não tiveram filhos, vivem na mesma casa onde os antepassados de Asle viveram, e ele passa quase todas as tardes em um passeio, que pode acabar em uma pequena viagem no fiorde em um pequeno barco.
Signe sabe que seu marido não se encaixa na maioria das situações e que há algo mais complicado em sua essência. Ela sabe que deveria ir com ele quando ele sai para o fiorde, ela sabe que poderia se fazer mais presente, mas existe algo cru na relação deles que a impede de segui-lo, mas que a mantém acordada esperando por ele olhando pela janela da velha casa de gerações.
Asle tem um apego enorme pelas coisas: o fiorde, as ruas do vilarejo, seu barco feito por um amigo que já se fora e que Signe diz que é muito pequeno e instável para navegar no fiorde, mas que Asle diz que ele pedira assim, e seu amigo fizera o barco da forma como ele pedira, e que ele não gostaria de trocar seu barco pois aquele fora um dos últimos barcos que seu amigo construiu.
Tudo bem mas volte logo, diz Signe Eu só vou ver o barco, diz Asle E estou bem agasalhado, você sabe, ele diz Você tricotou para mim um excelente blusão, ele diz
A narrativa de Fosse é impregnada de repetições que mostram um relacionamento gasto pelo tempo mas sem grandes marcas: eles se explicam uns aos outros e respondem uns aos outros com frases que muitas vezes são redundantes mas que mostra que ainda se importam.
Os parágrafos longos, a pontuação rebelde, e o tempo que flutua entre as ações dos personagens fazem desse livro uma obra a ser admirada em cada frase de sua curta duração.
Me perdi algumas vezes. Tive que voltar algumas vezes. Em certo momento Asle sai para um passeio que ele sabe que não deveria estar fazendo, que o frio, a chuva, e o sol que se põe cada vez mais cedo durante o outono torna impraticável, mas ele vai mesmo assim.
Então ele vê uma fogueira acesa no embarcadouro, e vê sua trisavó, Ales, que dera seu nome a seu tio avô, Asle, que faleceram em criança, e do qual Asle herdará deu nome.
Nesse momento, Fosse coloca na mesa boa parte daquilo pelo qual é conhecido: história, filosofia, relações humanas e sociais.
O velho Asle, vendo Ales, se pega repetindo é a Ales, e de um momento para outro ele é apenas a lembrança de um menino que esperava sua avó chegar com as compras até a casa onde agora ele mora com Signe, e Asle criança ajuda sua avó a entrar em casa, mas é Signe, sua esposa, que pede que ele se adiante e não deixe o calor escapar pela porta aberta.
Não é confuso, é lindo pois se parece com uma trama bem tecida com tempo e dedicação mas que lhe é apresentada como leitor em um tempo que te tira o chão.
E não há como escapar da solidão, do medo, da preocupação da Signe, a percepção de que falta algo quando Asle não está presente e essa sensação aumenta conforme a narrativa avança, de tal modo que ela se questiona se aquela casa ainda é a casa dela, ou a casa dos anteássados de Asle.
o que foi feito dele afinal?, por que ele desapareceu, simplesmente não voltou mais, ela pensa, afinal ele sempre este ve aqui, e simplesmente desapareceu, e o barco dele, ela pensa, foi encontrado à deriva, no meio do Fiorde, vazio, em uma tarde escura de outono, no fim de novembro, muitos anos atrás, já se passaram vinte e três anos,
Jon Fosse imprimiu em mim uma escrita forte, ritmada, que em nenhum momento se propôs a ser grandiosa. É a Ales é um livro que para em pé pois cada palavra escrita, cada recurso empregado, cada sentimento é percepção tem seu lugar e não são meras ferramentas de estilo.
É lindo. É muito lindo. É das melhores coisas que li na vida.
★★★★★
Ficha técnica: É a Ales Jon Fosse Editora Companhia das Letras 112 páginas Título original: Det Er Ales Tradução de Guilherme da Silva Braga
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leiathejules · 7 months
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Asle: Eu só estou aqui parado
Signe: Você só está aí parado
Asle: é
Signe: Que dia é hoje
Asle: Terça-feira. É uma terça-feira no fim de novembro, e o ano é 1979
Signe: Os anos passam depressa
Asle: Incrivelmente depressa
Signe: É uma terça-feira no fim de novembro
Asle: É.
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leiathejules · 7 months
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O Papel de Parede Amarelo e Outros Contos, de Charlotte Perkins Gilman [Resenha]
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O Papel de Parede Amarelo é um conto da escritora estadunidense Charlotte Perkins Gilman, publicado pela rimeira vez em 1892 pela New England Magazine. Aqui incluído em uma coletânea com outros contos, o texto ganhou popularidade recentemente no tiktok em listas com os textos mais perturbadores já escritos, o que me motivou a lê-lo.
Nele, a personagem está convalescendo, em repouso quase forçado por um marido médico caridoso e preocupado. Em certo momento ela menciona um bebê, que está sendo cuidado por sua cunhada, que é a governanta da casa para onde se mudaram por um curto período para ajudar em sua recuperação, então talvez o motivo do repouso tenha sido dar a luz ao bebê.
Ela é bastante consciente de sua situação nos diversos estágios da narrativa: ela entende a preocupação do marido apesar de não concordar com ela. Ela sabe que não pode dizer determinadas coisas ou agir de determinadas maneiras para não ser repreendida e cercada de mais cuidados.
Até que ela nota, no grande quarto que ocupa no segundo andar da casa o papel de parede amarelo.
“O papel de parede foi arrancado em grandes áreas ao redor da cabeceira de minha cama, mais ou menos até onde posso alcançar com as mãos, e também do outro lado do quarto, perto do assoalho. Em toda a minha vida, nunca vi papel de parede pior que este”.
Começa então uma obsessão em observar o papel de parede e tentar definir o padrão que ele tem mas ela logo se dá conta de que não há um padrão, e, quanto mais ela tenta seguir as linhas e contornos, mais acaba se perdendo até que ela acredita ver algo nas tramas intrincadas do desenho no papel.
“Não gosto nem um pouco de nosso quarto de dormir. Eu queria ficar num quarto do andar de baixo que dá para o alpendre, com rosas enfeitando a janela e cortinas antigas de chita, muito bonitas! Mas John não quis nem discutir”.
Eu não sei como explicar o estado da protagonista sem ser o de confusão consciente: ela sabe que há algo que considera errado, mas também sabe que não é prudente verbalizar isso para o marido que vai certamente minimizar o fato dizendo que ela se preocupa demais e que está criando em sua cabeça situações que não existem.
O conto é repleto de gaslighting por parte do marido:
– Meu amor – disse ele. – Eu lhe imploro, pelo meu bem e pelo bem de nosso filho, e também pelo seu, que você jamais, nem por um instante, deixe essa ideia (de que está fisicamente melhor, mas não mentalmente) entrar em sua cabeça!  Não existe nada mais perigoso e mais fascinante para um temperamento como o seu.  É uma tolice sem fundamento algum. Você não confia em mim, como médico, quando digo isso?
A maneira como ele sugestiona que ela não está bem, como usa de passivo agressividade para questionar os motivos pelos quais ela não confia nele – seu marido e seu médico! – e em como ele é quem define o que vai deixá-la melhor ou pior te dá calafrios e te deixa com um pé atrás.
Meu querido John!  Ele me ama tanto, e odeia ver-me doente.  Outro dia tentei ter uma conversa de verdade, franca e sensata com ele, e dizer-lhe o quanto gostaria que me deixasse ir visitar o primo Henry e Julia. Mas  ele  disse  que  eu  não  estava  em  condições  de  ir,  e  que  não  ia aguentar  ficar  lá.  Não  consegui  argumentar  a  meu  favor,  pois  caí  no choro antes de terminar.
O interessante aqui é que o conto foi publicado originalmente em 5 de janeiro de 1892 na New England Magazine, como já mencionei, quase cinquenta anos antes da peça teatral Gas Light, de 1938, e que cunhou o termo gaslighting. Na peça, um marido abusivo tenta convencer sua esposa de que ela esquece fatos e inventa situações quando ela aponta mudanças no ambiente onde vivem e que foram causadas por ele. O título da peça faz referência ao fato de que o marido diminui a intensidade das lâmpadas da casa para procurar um suposto tesouro, e quando sua esposa menciona o fato ele alega que é pura imaginação dela.
Segundo a wikipedia, “O termo "Gaslighting" é utilizado desde 1960 para descrever a manipulação do sentido de realidade de alguém”.
“Se um médico afamado, que também é seu próprio marido, garante aos amigos e à família que não há nada de errado com você, exceto uma depressão nervosa temporária, uma certa tendência histérica, o que se há de fazer”.
Em certos momentos é desesperadora a situação da personagem, e todo o mérito vai para a autora por conseguir criar essa ambientação, tão densa, tão sinistra, em tão poucas páginas.
Recomendo fortemente.
“O fato é que estou ficando com um pouco de medo de John”.
★★★★☆
Ficha Técnica O Papel de Parede Amarelo e Outros Contos Charlotte Perkins Gilman Editora Via Leitura 96 páginas Título original: The Yellow Wallpaper Tradução de Martha Angel
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leiathejules · 7 months
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©️ Abigail Larson
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leiathejules · 7 months
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Our next opera, The Yellow Wallpaper, is based on the story by Charlotte Perkins Gilman, and features music by RPS prize winner Dani Howard, with whom we are excited to collaborate again. Catch it at the Copenhagen Opera Festival on August 19-20, or at Sadler’s Wells Lilian Baylis Studio on September 14-15
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leiathejules · 7 months
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Por onde começar: Jon Fosse
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Há muito apontado como o próximo ganhador do Nobel, o escritor norueguês finalmente foi o laureado este ano. Para aqueles que, como eu, desconhecem o trabalho do aclamado dramaturgo e romancista, aqui estão algumas boas maneiras de conhecê-lo:
O romancista, dramaturgo, ensaísta e poeta de 64 anos, Jon Fosse, foi o vencedor deste ano do Nobel de Literatura. Ele está agora prestes a se tornar o escritor norueguês de ficção contemporânea mais conhecido do mundo, talvez até ultrapassando seu ex-aluno, Karl Ove Knausgård. Em sua carreira como dramaturgo, Fosse foi aclamado como “o novo Ibsen” – confirmado pelo fato de as suas peças serem as mais encenadas na Noruega, depois das de Ibsen. Apesar de anos de aclamação internacional, no entanto, foi apenas há pouco tempo que os livros de Fosse começaram a alcançar o mainstream com suas publicações traduzidas para o inglês – então é aqui por onde começar.
O ponto de partida
Suas histórias poderosas (e frequentemente muito curtas) na coletânea Scenes from a Childhood abrangem a carreira literária de Fosse de 1983 a 2013. Elas servem como uma introdução aos temas centrais de sua obra – infância, memória, família, fé – juntamente com um forte sentimento de dualidade e de fatalismo. Fragmentados, elípticos, por vezes deliberadamente simplistas, marcam o percurso da vida desde a extrema juventude até à velhice. Os destaques incluem "Red Kiss Mark of a Letter", "And Then My Dog Will Come Back to Me".
Se você vai ler apenas um
Em sua novela de 2003, É a Ales, uma idosa, Signe, está deitada perto do fogo em sua casa ao lado de um fiorde, sonhando consigo mesma 20 anos antes e com seu marido, Asle, que um dia durante uma tempestade remou rumo ao mar e nunca mais voltou. É típico de Fosse – sombrio, com grande uso de uma imagem central repetida, a da escuridão, e estruturado em torno das garras da história ancestral (a Ales do título é a tataravó de Asle).
Se você estiver com pressa
Publicado em 1989, The Boathouse é a coisa mais próxima que Fosse escreveu de um romance policial. O narrador de 30 anos parece ter falhado em tudo na vida – ele mora com a mãe, é um recluso, não parece capaz de fazer coisas básicas sozinho. Sua conquista mais importante está no passado – a banda de rock que teve com seu amigo de infância Knut, com quem perdeu contato. No entanto, num verão, um encontro casual com Knut, agora casado e relativamente bem-sucedido, levará a um desfecho devastador. Paralelamente a isso, o narrador também está escrevendo um romance que é uma observação aguda de cada instância de sua existência “inquieta”: um exemplo perfeito da máxima “escreva, não pense” como Fosse instruiu seus alunos no final dos anos 80 em Bergen, quando este livro estava sendo preparado.
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Traduzido livremente daqui.
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leiathejules · 7 months
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Encontro com Rama, de Arthur C. Clarke [RESENHA]
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Os meteoros sempre foram corpos celestes que, ao mesmo tempo, fascinaram e amedrontaram a raça humana, devido ao seu inegável potencial de causar um evento de extinção – como, de fato, ocorreu a milhões de anos com os dinossauros. Muito desse medo está relacionado, também, a completa impotência do ser humano ante esses corpos: o que fazer para mudar sua trajetória e impedir que um corpo errante se choque contra a Terra?
A essas perguntas diversas respostas foram dadas, todas elas no campo das teorias, e muitas absurdas. Em Encontro com Rama, livro lançado em 1973 por Arthur C. Clarke, um dos maiores nomes da ficção científica de todos os tempos – basta dizer que é o autor de 2001: Uma Odisseia no Espaço – a Terra fora atingida 3 vezes por estes corpos, causando incontáveis mortes, e grandes prejuízos materiais.
A fim de evitar que o fato se repetisse, foi criado o programa Spaceguard, que tratava de localizar, catalogar e vigiar estes corpos celestes, sendo possível inclusive reconhecer sua rota no espaço e saber se tratava-se de um risco a humanidade. Foi assim que avistaram um objeto além da órbita de Júpiter, catalogado pelo número 31/439, que não parecia ter nada de especial, até que se tomou consciência de que seu tamanho era gigantesco e que sua trajetória cruzaria com a órbita de diversos planetas do sistema solar. Passaram a chamá-lo Rama, e ele tornou-se, de repente, o centro das atenções.
Neste ponto do livro os acontecimentos acontecem bastante rápido: sabe-se em sequência que Rama é cilíndrico e, provavelmente, oco. Tal objeto tão singular, e talvez o primeiro encontro interestelar de duas formas de vida inteligentes da história da humanidade devia ser visto mais de perto, então designam o Comandante Norton, da Endeavour, para pousar no “asteroide”. Em Rama, o Comandante Norton terá a difícil missão de explorar o lugar, grandioso, convivendo com o dilema de não ter tempo suficiente para proceder com uma exploração minuciosa, assim como não gostaria de provocar qualquer tipo de dano à estrutura, tudo isso somado ao fato de que, em hipótese alguma, deseja expor sua tripulação a riscos desnecessários.
A partir daqui, Clarke diminui a velocidade dos acontecimentos, liberando homeopaticamente as informações sobre o estranho mundo. A narrativa é bastante consistente, e Clarke se mostra “de posse” dos fatos, mantendo o ritmo de forma que cada nova descoberta produza no leitor uma surpresa única, tornando-a ainda mais impactante. As descrições do interior de Rama são o ponto forte do livro, mas não é tão fácil imaginar um mundo cilíndrico, onde tudo parece ser feito em grupos de três, e a intervalos de 120º. Existe, por exemplo, escadarias com milhares de degraus, estendendo-se a alturas quilométricas, e o mais curioso de tudo, um mar cilíndrico.
Foi o ponto da descrição de Rama que tive mais dificuldade em assimilar. A imagem que se forma ao imaginarmos que navegamos por um mar com as mesmas dimensões e quantidades de água subindo pelas paredes ao nosso redor e também no teto é de esmagar qualquer coração. Imaginem uma garrafa com água em seu interior, agora coloquem a garrafa na horizontal e imaginem que a água, por força de uma estranha gravidade, fique colada a parede, formando um imenso vazio no centro, como em um anel. Agora coloque isso numa escala milhares de vezes maior e podem ter uma ideia.
Fora isso e o texto é bastante leve, e até mesmo bem-humorado, como na passagem em que Norton questiona a presença de mulheres com certas “aptidões” físicas à bordo de naves espaciais:
"O Comandante Norton havia decidido há muito que certas mulheres não deveriam ser admitidas a bordo; a imponderabilidade tinha, sobre os seus seios, efeitos tremendamente perturbadores. O caso já era sério quando ficavam imóveis; mas quando se punham em movimento e estabeleciam-se vibrações harmônicas, a dose era excessiva para quem não tivesse autocontrole. Estava convicto de que pelo menos um grave acidente espacial fora causado pela estupefação dos tripulantes à passagem de uma bem-dotada oficial pela cabine de comando."
Primeiro de quatro livros da série Rama, Encontro com Rama é, em muitos aspectos, uma grande introdução do que virá a seguir, e é pressentido por um dos personagens no final do livro
Os ramaianos fazem tudo em grupos de três.
★★★☆☆
Ficha Técnica Encontro com RAMA Arthur C. Clarke Editora Nova Fronteira 190 páginas Título original: Rendezvouz with RAMA Tradução de Leonel Vallandro
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leiathejules · 7 months
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Os ramaianos fazem tudo em grupos de três.
-Arthur C Clarke, Encontro com Rama
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