Pirâmides no Japão: Diante da Pirâmide Budista Mahayana Esquecida e Ocultada de Nara
Por Cláudio Tsuyoshi Suenaga (texto e fotos)
Fotos com a presença de Suenaga por Célia Ito
Até o final de setembro de 2021, ninguém se dava conta da existência dessa pirâmide em pleno bairro residencial de Zuto, em Nara, a antiga capital e a região mais rica em história e arqueologia do Japão. Quando o hotel vizinho que obstruía a sua visão acabou por ser demolido no verão de 2021, deixando apenas um terreno vazio, os que diariamente transitavam por ali notaram a sua aparição súbita.
O terreno, agora vazio, em frente a Pirâmide de Zuto que antes era ocupada por um hotel que obstruía por completo a sua visão.
Turistas que afluem em massa para o Parque de Nara, onde está o templo Todai-ji ("Templo do Grande Oriente"), que abriga a maior estátua de bronze de Buda do mundo (com 15 metros de altura e um peso de 500 toneladas, construída no século 8, igualmente visitada e registrada por este autor), a apenas cerca de um quilômetro dali, passaram a dar uma esticada até Zuto para ver a pirâmide e tirar fotos dela. O melhor local para fotografá-la, aliás, é em torno do ponto de ônibus Wariishicho Nara Kotsu Bus Lines, na rodovia 80. Dali se pode capturar toda a forma de Zuto.
Do ponto de ônibus Wariishicho Nara Kotsu Bus Lines, pode-se capturar toda a forma da Pirâmide de Zuto.
A estrutura de solo e rochas, datada do Período Nara (710-794), ergue-se sobre uma base quadrada de 32 metros de lado (alguns calculam, na verdade, 24 metros), com sete camadas quadradas de terra e pedra formando uma pirâmide de 12 metros de altura. Possui três camadas principais (de 2 a 3 metros de altura), camadas baixas (de cerca de 1 m) entre elas e uma camada superior (de cerca de 1 m).
Plantas arquiteturais da Pirâmide de Zuto que se encontram no local.
Cada face da 1ª e 2ª camadas principais tem três nichos, cada um dos quais contém uma rocha em relevo de Buda com cerca de 1,20 metros de altura. Cada face da 3ª camada tem dois relevos, e cada face da camada superior tem um. A forma da rocha de relevo é variada, já que foi esculpida a partir de uma rocha natural cuja face foi polida. Quase todos os relevos são de granito – só alguns são de ardósia – e possuem um estilo refinado, familiar e modesto que levam à adoração e meditação simples.
Veados são os únicos guardiões desta pirâmide única que possui belos e refinados relevos de pedra de representações de Buda sob nichos.
Pode-se contornar e observar de perto todos os detalhes da Pirâmide de Zuto, como é chamada, adentrando-se por uma porteira que costuma ficar quase todo o tempo fechada, apesar da placa indicar que deveria haver alguém ali para recepcionar e orientar os visitantes e cobrar pela entrada. E quando se liga para o telefone indicado, ninguém atende. O que fazer? Ir embora? Não. Basta retirar a tranca de madeira do portão e entrar, simples assim. Quanto ao pagamento, basta depositar os 300 yen (pouco mais de dois dólares) na caixa de madeira que tem uma abertura apropriada. No Japão, tais procedimentos são comuns, devido a confiança na honestidade das pessoas, que nesse aspecto são de fato honestas. Há muitas bancas de frutas, legumes e verduras que não possuem vendedores e funcionam na base do pegue e pague, ou seja, a pessoa escolhe as mercadorias e ela própria deposita o dinheiro no caixa, que no final do dia é recolhido pelo dono da banca. A "bilheteria" da Pirâmide de Zuto funciona com base no mesmo princípio.
Cláudio Suenaga diante da porteira de entrada para os recônditos da Pirâmide de Zuto. Suas mãos estão sobre a tranca de madeira, que pode ser facilmente retirada. Não há ninguém na "bilheteria", o que não impede que o visitante possa ele mesmo depositar o valor do ingresso na caixa de madeira apropriada e adentrar. Foto: Célia Ito.
A escadaria que conduz à Pirâmide de Zuto.
A Pirâmide de Zuto vista pelos mais diversos ângulos desde sua base.
Em 767, o primeiro ano da era Jingo-keiun, Jitchu (?-824), um monge budista da seita Kegon, teria construído a estrutura sob as ordens do fundador clerical e sacerdote-chefe do templo Todai-ji, Roben (689-773). Em seus últimos anos, Jitchu já havia supervisionado a expansão do templo Todai-ji e introduzido a liturgia e os rituais ainda usados hoje. A mais notável dessas cerimônias é a de arrependimento Shuni-e, estabelecida por Jitchu a pedido da Imperatriz Komyo (701-760), esposa do Imperador Shomu (701-756), que esperava curá-lo de uma doença.
Diz-se que Genbo (?-746), um monge erudito e burocrata da Corte Imperial em Nara, com grande influência na política e que mais tarde foi exilado para Dazaifu na ilha de Kyushu, foi enterrado no local, e que esta foi a origem do nome Zuto, que é composto pelos caracteres kanji para “cabeça” e “torre”.
Há quem compare o seu design com o do Borodubur, monumento budista Maaiana (ou mahayana, “Caminho para Muitos”, a maior das duas principais tradições do budismo, a outra sendo o teravada, “Ensino dos Sábios” ou “Doutrina dos Anciãos”, a mais antiga escola budista fundada na Índia) situado na ilha de Java, Indonésia, construído a partir de 750 d.C., bem como a das pirâmides maias escalonadas do México e da Guatemala. Este estilo é único entre as inúmeras arquiteturas budistas japonesas.
O Borodubur, na Indonésia. Fonte: lonely planet.
Pirámide de los Nichos na zona arqueológica de El Tajín, capital do estado Totonaca e que fica próxima da cidade de Poza Rica, no estado mexicano de Veracruz. Fonte: Arquivos de Cláudio Suenaga.
Outros a comparam com a estupa, monumento em forma de torre cônica, circundado por uma abóboda, criado pelo imperador Ashoka no século III a.C. (embora alguns considerem que tenham uma origem megalítica, no segundo milênio a.C.) na Índia para conter as cinzas de Buda e que depois passaram a ser construídos sobre os restos mortais de uma pessoa importante dentro da religião budista. No Japão, a estupa (palavra sânscrita que significa literalmente “empilhar”) era geralmente construída em madeira no estilo da arquitetura chinesa. Zuto, portanto, é um caso excepcional. Um documento antigo do século XI diz que Zuto é uma “torre de 13 camadas”, como as construções em forma de guarda-chuva ornamentais geralmente encontradas em estupas na Índia.
A grande estupa em ruínas de Chaukhandi ou a Stupa Chaukhandi é uma das importantes estupas budistas em Sarnath, localizada a 13 quilômetros de Varanasi. Foi nesse lugar que Buda conheceu seus primeiros discípulos. Fonte: Walk Through India.
Dentro do mesmo estilo arquitetural da pirâmide escalonada de Zuto em Nara, está a de Doto (literalmente “pagode de barro” em japonês), na cidade de Sakai, província de Osaka, construído a sudeste do salão principal do Templo Onodera, fundado pelo monge Gyoki (668-749), pertencente à seita budista Shingon. De forma piramidal, é o único pagode de barro em todo o Japão. Costumava ter 13 camadas, e Gyoki foi quem começou a construí-lo em 727. Com 53,1 metros de lado e mais de 8,6 metros de altura, o pagode tem a forma de uma pirâmide de base quadrada com o topo cortado e é adornado com 50.000 azulejos marrom-avermelhados em toda a sua volta. Entre os azulejos escavados, 1.200 estão inscritos com o que parecem ser os nomes das pessoas e grupos que contribuíram para a construção do pagode.
O pagode de barro de Doto. Fonte: Osaka Info.
Também enquadrada no mesmo estilo arquitetural da pirâmide escalonada de Zuto, a de degraus na cidade de Kumayama, província de Okayama, região de Chūgoku, na ilha de Honshu, foi construída no topo do Monte Kuma, a 508 metros de altura. Tem três camadas com os lados do nível mais baixo medindo 7,8 metros de comprimento. No centro de todos os lados do segundo nível há uma pequena alcova retangular chamada Gan, que se acredita ter sido um pequeno santuário onde as oferendas eram armazenadas, incluindo estátuas budistas. Este estilo de sítio arqueológico raramente é visto e acredita-se que tenha sido um tipo de pagode do período Nara.
A pirâmide de degraus de Kumayama. Fonte: The Megalithic Portal.
Alguns estudiosos acreditam que as estupas antecederam o budismo e originalmente eram montes de terra ou rochas construídas para homenagear reis mortos. Mais tarde, dizem eles, o Buda os imbuiu de significado espiritual. Esta explicação, entretanto, vai contra a tradição budista, que sustenta que como a estupa transmite qualidades iluminadas, ela só poderia ter sido revelada por mentes que atingiram a iluminação.
Cláudio Suenaga agradece a Célia Ito, que o acompanhou nessa viagem e lhe proporcionou todo o apoio e o suporte necessário para o bom transcurso das pesquisas.
6 notes
·
View notes
Acala Vidyârâja is one of the Vidyârâjas (Myôôs) class of deities, and a very wrathful deity. He is portrayed holding a sword in his right hand and a coiled rope in his left hand. With this sword of wisdom, Acala cuts through deluded and ignorant minds and with the rope he binds those who are ruled by their violent passions and emotions. He leads them onto the correct path of self control. Acala is also portrayed surrounded by flames, flames which consume the evil and the defilements of this world. He sits on a flat rock which symbolizes the unshakeable peace and bliss which he bestows to the minds and the bodies of his devotees.
Purpose and Vows
Acala transmits the teachings and the injunctions of Mahâvairocana to all living beings and whether they agree to accept or to reject these injunctions is up to them, Acala's blue/black body and fierce face symbolize the force of his will to draw all beings to follow the teachings of the Buddha. Nevertheless, Acala's nature is essentially one of compassion and he has vowed to be of service to all beings for eternity.
Acala also represents his aspect of service by having his hair knotted in the style of a servant: his hair is tied into seven knots and falls down from his head on the left side. Acala has two teeth protruding from out of his mouth, an upper tooth and a lower tooth. The upper tooth is pointed downward and this represents his bestowing unlimited compassion who are suffering in body and spirit. His lower tooth is pointed upward and this represents the strength of his desire to progress upward in his service for the Truth. In his upward search for Bodhi and in his downward concern for suffering beings, he represents the beginning of the religious quest, the awakening of the Bodhicitta and the beginning of his compassionate concern for others. It is for this reason that the figure of Acala is placed first among the thirteen deities.
His vow is to do battle with evil with a powerful mind of compassion and to work for the protection of true happiness. To pray for recovery from illness and for safety while traveling is to rely upon his vow and power to save. Acala is also the guide for the deceased, to help save them and assist them in becoming buddhas for the first seven days after death.
Mantra
Nômaku sanmanda bazaradan senda makaroshada sowataya un tarata kanman. (Jpn.)
Namah samanta-vajrânâm canda mahârosana sphotaya hûm trat hâm mâm (Skt.)
Homage to the all-pervading Vajras! O Violent One of great wrath! Destroy! hûm trat hâm mâm
Shingon.org
0 notes