Tumgik
#finalmente saindo essa task
cssabesta · 4 years
Photo
Tumblr media Tumblr media Tumblr media Tumblr media
𝐓𝐀𝐒𝐊 𝟎𝟏 : 𝐕. 𝐃’𝐑𝐎𝐒𝐄.
In   a   world   where there   is   so   much   to   grieve   and   so   little   good   to   take?   I   grieve   nothing .   I   take   everything  . – Warner, Unravel Me
𝙌𝙐𝙀 𝙏𝘼𝙇 𝘿𝙀𝙎𝘾𝙍𝙀𝙑𝙀𝙍 𝙊 𝙁𝙄́𝙎𝙄𝘾𝙊?
Voz: clara o suficiente para fazer-se ouvir, com algo rascante ao fundo, que lembra um rosnado. Tal traço fica ainda mais evidente quando o D’Rose se vê irritado ou envolvido em uma discussão mais acalorada. Em tudo, presente o sotaque arcadiano francês. Aliás, é costume que traga palavras da linguagem materna para sua fala, misturando-as com o idioma comum, por considerar a primeira língua mais elegante.
Idade: 25 anos recém completados (23/07).
Gênero: cis-masculino.
Peso: 83 kg.
Altura: 188 cm.
Sexualidade: heterossexual.
Defeitos físicos: uma série de lacerações mal curadas nas costas deixaram-no com horrendas cicatrizes que mantém escondidas em cem por cento do tempo. O DNA de Fera também rendeu a Vincent caninos pronunciados, o que o príncipe considera pouco atraente e faz com que sorria menos. Ainda, angariou algumas cicatrizes no abdômen – menores e pouco perceptíveis – depois de ter sido ferido por Margaery Pendragon. Por último, e a que mais tem lhe incomodado, recebeu, contra a vontade, uma tatuagem em tinta negra que parte do pulso direito e cobre parte do braço, sinalizando um laço de vassalagem.
Qualidades físicas: Vincent possui encantadores olhos azuis que lhe dão aspecto inocente. As feições do rosto como um todo são bem desenhadas, com maçãs proeminentes, pele sem marcas e nariz reto, tudo isso coroado por uma auréola de cachos loiro-escuros que costumam cair sobre a testa. A altura e o porte principesco, além do conjunto de músculos, o tornam bastante atrativo aos olhos.
É saudável? Uma infância traumática e repleta de exigências fez com que se tornasse mentalmente instável, embora não se tenha um diagnóstico exato sobre doenças psicológicas. Certo é que apresenta sintomas de transtorno de ansiedade e de personalidade limítrofe.
Maneira de andar: exigências quanto a um caminhar impecável eram comuns para o príncipe herdeiro quando mais novo, e mesmo que manter a postura tão tesa durante o dia todo lhe renda dores nas costas, ele é incapaz de relaxar. De modo geral, tem uma postura firme, sempre buscando o desempenho perfeito.
𝙌𝙐𝙀 𝙏𝘼𝙇 𝘿𝙀𝙎𝘾𝙍𝙀𝙑𝙀𝙍 𝙊 𝙋𝙎𝙄𝘾𝙊𝙇𝙊́𝙂𝙄𝘾𝙊?
Práticas / Hábitos: gostaria de ter a leitura como hábito, porém, esta é mais uma obrigação – como forma de agradar os pais – do que um prazer. Dentre os hábitos mais estranhos estão uma dieta vigorosa que consiste em seis pequenas refeições por dia e duas horas de treinamento, a fim de manter a saúde e aparência atlética, vez que é muito vaidoso. Suas roupas também precisam estar sempre muito limpas e bem passadas para que as vista, caso contrário, as descarta.
Inteligência: não é dos mais espertos – o que se provou uma decepção para os genitores. O cérebro de Vincent não assimila tantas informações; é desatento e desinteressado. Custa a entender o sentido de algumas frases, optando pelo literal, e detesta fazer análises aprofundadas do que quer que seja. Quando mais novo, era obrigado a engolir livros a contragosto, e somente por isso, e pela convivência com Belle, adquiriu algum vocabulário. As deficiências do arcadiano fazem com que se torne facilmente manipulável, mesmo que ele jure que ninguém poderia mexer com sua cabeça.
Temperamento: raivoso; colérico; uma besta. Não à toa foi assim rotulado por muito dos colegas, visto que pode ser bastante volátil diante de provocações. Ele ainda não aprendeu a controlar a raiva e dificilmente conseguirá em um curto prazo. Porém, na verdade, Etienne é muito dócil com aqueles que o bajulam, ainda mais se a pessoa fizer parte do grupo certo.
O que te faz feliz? Reconhecimento; estar rodeado de pessoas que concordam com que fala; elogios; organização; lugares amplos; coisas novas; simetria.
O que te faz triste? Rebeldia; deterioração; ausência de beleza; dias muito quentes; bruxas.
Esperanças: que a maldição que atingiu seu pai jamais o atinja. Afinal, faz o que pode para evitar feiticeiras, tanto que nenhuma pisará em seu reino quando se tornar regente de Arcádia. Vincent deposita todas as esperanças em seus esforços pessoais, crendo que poderá se proteger da magia.
Medos: tornar-se uma besta indefinidamente. Por ora, consegue controlar quando se transformará, e o faz com pouquíssima frequência. Contudo, se amaldiçoado, sabe que terá de permanecer como uma quimera até que encontre o amor verdadeiro e ele quebre a maldição. A ideia de depender de terceiro para retomar sua vida o assusta mais que a maldição em si.
Sonhos: expandir Arcádia; se tornar um governante invejado e adorado em seu reino; manter seus irmãos por perto como conselheiros e com casamentos vantajosos e, é claro, se tornar imune a qualquer feitiço para que não precise mais temer bruxas e feéricos.
𝙌𝙐𝙀 𝙏𝘼𝙇 𝘿𝙀𝙎𝘾𝙍𝙀𝙑𝙀𝙍 𝘼𝙎𝙋𝙀𝘾𝙏𝙊𝙎 𝙋𝙀𝙎𝙎𝙊𝘼𝙄𝙎?
Família: 
Pouca coisa boa poderia ter vindo do fato de ter sido criado por uma Fera. Como primeiro filho de Adam e Bella, e sucessor do D’Rose no trono, Vincent foi o que mais sofreu com as imposições e cobranças excessivas do pai. A verdade é que Adam não quer se desfazer tão facilmente do trono de Arcádia – pois se vê como forte e saudável para seguir no papel que lhe foi entregue pelo Narrador – e passou a projetar todo o desgosto decorrente disso no primogênito. Com o genitor, Vince mantém uma relação fria e distante, mas de completa submissão. O desespero para agradar o mais velho é tanto que o loiro praticamente se anula, ignorando os abusos físicos sofridos, os mesmos que marcam a pele de suas costas. A ideia era torná-lo mais obediente e temeroso, bem como resiliente – segundo Adam – e ao menos no que tange a temor o homem foi bem sucedido.
Quanto à mãe, por mais sensível e amorosa que seja, não é capaz de aliviar as tensões do herdeiro, muito menos de oferecer o apoio que ele necessita – é como se estivesse alheia demais ao que acontece em Rosehall, não tendo voz frente ao marido. Ainda assim, com ela Vincent mantém relação mais terna, acreditando que pode protegê-la, por ser figura tão sensível.
Já com os irmãos, as relações variam, pois alguns deles não compreendem os motivos que levaram Etienne a ser como é, e não aceitam seu tradicionalismo exagerado e decisões extremas. O loiro acaba sendo mais próximo de Basile por conta da idade, e considerando, também, que o rapaz sempre esteve ao seu lado. Antes, contudo, é aquele que melhor se alinha a suas ideias. Se esforça para que garotas mais novas entendam que só quer protegê-las, e Vivienne tende a ser muito mais compreensiva que Florence, aquela com que tem relacionamento mais turbulento por conta das inclinações da caçula à bruxaria.
Amigos: busca amizades, especialmente, dentro da Ralien, visto que considera que estas são as pessoas que mais combinam com sua forma de pensar, status social, posição e condições. Não tem o interesse, ou a disposição, para buscar amigos em outras casas.
Estado Civil: noivo da princesa Sonya Romanova.
Terra Natal: Arcádia.
Infância: entre uma mãe alheia e um pai abusivo, a infância do D’Rose não foi a mais feliz, embora seja inegável que tenha nascido privilegiado quando se trata de ouro, nada lhe faltando. No entanto, nem só de lembranças ruins é composta esta fase de sua vida, vez que sempre foi muito mimado por Lumiére e Cogsworth, que lhe educaram devidamente, ensinando os valores que conhece. E Mrs. Potts fazia as melhores sobremesas que já comeu ou comerá.
Crenças: conserva valores bastante rígidos que estão em consonância com sua criação e tradições da Corte Primaveril. Além disso, é um devoto fervoroso do Narrador e simplesmente não entende como algumas pessoas podem ignorar seus desígnios ou se afeiçoar a deuses estranhos.
Hobbies: A verdade é que Etienne não tem uma atividade que goste em particular. Ele faz o que tem de fazer e tenta ser excelente naquilo. O príncipe já tentou botânica, a fim passar mais tempo com a mãe, mas não é a pessoa mais indicada para cuidar de plantas. Pode-se dizer que a esgrima é uma distração que aprecia, mas está entre suas obrigações.
𝙌𝙐𝙀 𝙏𝘼𝙇 𝘿𝙀𝙎𝘾𝙍𝙀𝙑𝙀𝙍 𝙋𝙍𝘼́𝙏𝙄𝘾𝘼𝙎?
Comida favorita: Petit gâteau.
Bebida favorita: Espumante.
O que costuma vestir? Gibões ricamente ornamentados — que deixam-no com uma aparência mais provinciana em comparação com os colegas que optam simplesmente por jeans e camisetas — ou camisões de algodão em cores branco ou branco envelhecido. Além disso, é adepto de peças de couro boas para o trabalho braçal, mesmo que não faça nenhum, realmente. Os pés sempre estão calçados com botas que quase atingem os joelhos. Por último, não dispensa seu boldrié de couro trespassando o torso.
O que mais o diverte? Quase nada.
Por último, liste 𝙋𝙀𝙍𝙎𝙊𝙉𝘼𝙂𝙀𝙉𝙎 𝙁𝙄𝘾𝙏𝙄́𝘾𝙄𝙊𝙎 que serviriam de inspiração para o seu atual personagem.
Tamlin (Corte de Espinhos e Rosas); Aaron Warner (Shatter Me); Luke Skywalker (Star Wars); Nate Jacobs (Euphoria); Billy Andrews (Anne with an E); Serena Joy (The Handmaid’s Tale); Hera (Mitologia Grega); Stannis Baratheon (Game of Thrones).
21 notes · View notes
lxkasdiehl · 4 years
Text
         task: everyone has got a secret side; part one;
February 12, 2018
 Eu do futuro. Eu não sei porque estou escrevendo isso, e eu acredito que ninguém que eu conheça entenda alemão para entender nada que vai estar deposto aqui. Minha médica disse que expor meus sentimentos seriam a melhor maneira de deixar tudo bem claro para mim mesmo, e eu não consigo expor da melhor forma possível em inglês, então que fique claro a todos que estejam tentando ler que tudo aqui foi escrito com pura emoção. Eu sinto minhas mãos tremerem. Eu ainda não acredito no que aconteceu. Eu sei que eu vou ler isso no futuro e que meus olhos irão lacrimejar da mesma forma que estão agora. Eu estou prestes a perder tudo que você já perdeu.
Eu nunca morei sozinho. Antes de morar com minha ex-esposa, eu morava com meus tios e logo antes com meus pais. Estar sentado em uma escrivaninha em uma casa não mobiliada por mim era desconfortável. Eu não conseguia ouvir a musica alta no quarto de Elizabeth, eu não conseguia ouvir o barulho no chuveiro de alguém tomando banho, e Ada não esta em meu pé reclamando por atenção. Estou sozinho. Posso ouvir de longe o barulho dos carros passando e essa é a única coisa que me prende no presente. Não entendo o que fiz de errado. Criei Ada e Elizabeth junto a minha esposa e me mantive presente em todo relacionamento o máximo que podia. Dei prioridade a eles em toda a minha vida e parecia que aquilo não havia sido o suficiente.  Eu não fui o suficiente? Eu pensei que havia finalmente se tornado algo como meu pai era para a nossa família, mas será que ele estava certo? As minhas decisões que me levaram até esse momento foram dadas por um perdedor e por isso, não teriam um resultado diferente. Era essas as palavras que meu pai sempre me dizia.
Minha médica me disse que momentos como esse vem para me ensinar alguma coisa. Eu não entendo como essa dor pode me ensinar alguma coisa. Me desculpe, para você que usa o tradutor para tentar ler isso, por ser tão dramático e pessimista por todo esse texto. Eu não consigo confiar que isso não vá parar nas mãos de alguém. Não consigo confiar que qualquer coisa escrita não fosse ser lida, pois essa era a única razão pelo qual nós humanos começamos a escrever. Este texto não estaria fazendo o seu serviço se não fosse lido. Eu não sei se conseguiria ler isso novamente no futuro. Me desculpe estar saindo da questão. Eu só não consigo dissertar sobre algo que não entendo.
Eu ainda estou com as flores que eu comprei para ela em cima da mesa. Já estão secas e mortas em cima da mesa. Não tenho coragem de jogar fora. Ada ainda não veio ver a nova casa e Elizabeth também não. Ainda tenho algumas coisas minhas em caixas e eu não sei se tenho energia para olhar por elas e organizá-las novamente nesse ambiente vazio. Nunca fui uma pessoa com um olhar bom para decoração e minha ex-esposa sempre foi a responsável por cuidar dessas coisas. Ver a casa pronta para ser decorada e não ter ela aqui comigo para pensar em como arrumar as coisas e a ajudar com as coisas que ela não conseguia fazer machuca algo dentro de mim que eu não sabia que poderia doer tanto. O espaço que eu guardava tudo com bastante carinho agora me corrói aos poucos. Estarei eu quebrando por dentro? Espero que esteja tudo bem com você. 
5 notes · View notes
grimmauldyn · 4 years
Photo
Tumblr media Tumblr media
( TASK: 005. ) IS THE GOLD THRONE BETTER THAN THE BONE THRONE?
𝗍𝗁𝖾 𝗁𝖾𝗋𝗈'𝗌 𝗃𝗈𝗎𝗋𝗇𝖾𝗒.
“           I'll seek you out ............................          Flay you alive........     ...........................One more word and you won't survive    And I'm not scared of your stolen power......................................          .............See right through you any hour ” 
press start of the journey.
note: preciso agradecer ao ANJO @hawkingx​ por ter feito essa edit maravilhosa, e ter aguentado meu surto sobre essa task, e também a @fameili, por ser perfeita mesmo. também MUITO obrigado a @zanedetaubate​ e @bornoftheocean​ por me deixem usar seus bebês no plotzinho louco que eu fiz. 
inspos: once upon a time, buffy the vampire slayer, e the last hours. 
⋯⋯✘⋯⋯✘⋯⋯✘⋯⋯
DON’T BELIEVE HIS LIES.
“Venha até mim…. Venha até mim… Venha até mim… Venha até mim… Venha até mim resgatar seus amigos… Venha até mim ou os que ama serão os próximos…”
Grimm relia aquelas palavras, pelo que deveria ser a centésima vez, sua cabeça já começando a latejar de tanto tentar achar algum sentido secreto, algum enigma que poderia lhe dizer quem era o responsável por aquele tormento ou ao menos de onde estava vindo. Jogou o pergaminho no chão, esfregando sua mão em seus olhos. Não dormia há dias, o que não era exatamente um problema para o mago dos sonhos, conseguia resistir bastante acordado, mas estava começando a se sentir exausto de passar tanto tempo na biblioteca, lendo livros, fazendo poções ( escondido da bibliotecária, claro ), usando sua magia para tentar conseguir encontrar alguma resposta, e ser presenteado com nada. Absolutamente nada. Haviam milhares de anotações, páginas preenchidas de línguas mortas, encantamentos e enciclopédias demoníacas em cima de sua mesa, e nada lhe ajudava. O feiticeiro poderia agradecer ao menos pelo local se encontrar praticamente vazio, para que pudesse deixar sua frustração sair de dentro de si sem se sentir culpado. Não sabia mais o que fazer, e aquele o estava corroendo por dentro. 
Você é inútil. Era o que continuava martelando na cabeça do filho de Merlin há dias. Além das vozes lhe chamando para ir a floresta. 
Logo quando seu pai criou a doma, e esse chamado começou a importunar os aprendizes, Grimmauld não se preocupou nenhum pouco. Era óbvio que seu pai poderia dar um jeito naquilo, iria fazer algum feitiço para que ninguém se machucasse e tudo voltaria ao normal. E por pensar dessa forma, o feiticeiro continuou sua rotina normalmente, esperando pela resolução que seu pai iria trazer. A única coisa que atrapalhou esse seu pensamento positivo foi ver que talvez essa solução nunca chegaria. Já haviam passado de dias, e Grimm já havia encontrado muito de seus amigos feridos por ter tentado se aventurar na bendita floresta. Merlin não tinha a solução, e o seu filho se sentiu responsável a fazer aquilo em seu lugar. Manter os outros seguros. 
E se estivesse sendo honesto, o garoto teria que admitir que aquilo poderia ser considerado algo bem pessoal. Quando a maldição do sono caiu sobre todos em Mitica, Grimm fez tudo ao seu poder para tentar ajudar. Era até mesmo uma questão de honra. Uma maldição que envolvia sono e sonhos, quem mais poderia ser apto a resolver todo o problema do que o filho do feiticeiro mais poderoso de todos os reinos e mestre dos sonhos? Ele realmente achou que poderia salvar todo mundo, que ele poderia mostrar ao seu pai que poderia ser tão poderoso quanto ele. E falhou. Não conseguiu salvar ninguém, e não entendam errado, ficou feliz por tudo ter voltado ao normal, não tinha como não ficar. Ele só… no fundo, em um lugar bem egoísta de sua mente — tal lugar que tentava se livrar todos os dias — tinha ressentimento de não ter sido ele a quebrar a maldição. 
Inútil Inútil Inútil.  
Voltou a folhear outro livro mágico, usando sua mão e um feitiço básico de leitura para que conseguisse absorver toda a informação ali contida, mesmo que temporariamente, sem precisar o ler por inteiro. E por mais que fosse algo bem eficaz para ir fazer uma prova sem ter estudado, naquele momento não lhe servia de nada. não havia nada sobre vozes, nada sobre chamados misteriosos, nada sobre como pôr um fim em tudo aquilo. Grunhiu alto, mais uma vez, e praticamente se jogou na mesa, enterrando seu rosto em seus braços. “ — Preciso de uma resposta!” pensou alto. 
Entretanto o jovem precisava mais do que aquilo. Precisava se redimir, precisava ajudar. Não podia passar toda a sua vida sendo um completo inútil. Um bom feiticeiro resolver problemas mágicos, um feiticeiro é como seu pai, capaz de chegar no meio de um pandemônio, e parar o tempo com apenas sua força de vontade, com sua magia, e salvar o dia. Ele precisava ser daquela forma, ele precisava ser igual seu pai. Precisava salvar o dia. 
Pense!
Recapitulava o que sabia em sua cabeça. O chamado não podia ser bloqueado, e para ele, vinha em seus sonhos. Seus poderes de manipulação onírica não surtiam efeito algum, nem como um escudo para impedir as vozes de lhe chamarem. Mas o que aquilo poderia significar? Talvez aquilo viesse de um demônio maior? Um incubus? Como o seu provável avô? Mantinha sua cabeça abaixada, com seus olhos fechados, tentando se concentrar ao máximo. 
Um feitiço do sono poderia resolver aquilo, o Emrys acreditava. Tinha determinado, depois de todas as suas pesquisas, que a única forma que poderia combater aquilo seria com suas habilidades, mas já havia bebido uma poção fortificada para adormecer, na esperança de que se fosse para o mundo dos sonhos induzido pela mesma, pudesse ter mais controle, mais força, e rastrear o responsável, mas não obteve sucesso algum. E aquilo havia sido estranho, uma vez que o pergaminho que havia usado para tal feitiço lhe prometia mais domínio sobre sonhos. 
Levantou sua cabeça, estendendo sua mão e mexendo seus dedos. “— Dewch yma” recitou, fazendo com que o livro onde havia encontrado tal poção flutuasse até sua mão, com uma velocidade extrema. Passou as páginas, cheias de informações sobre pesadelos e monstros noturnos, até chegar no feitiço usado. 
“E para finalizar sua poção basta abençoá-la com os quatro pontos arcaicos. Uma vez abençoada, a poção só funciona uma vez, impossível de refazer.” 
Essa havia sido a única parte do feitiço que o jovem havia ficado confuso. Quatro pontos arcaicos. Não sabia o que poderia ser, por mais que tivesse muitas suposições. Abençoou a poção com os quatro elementos da natureza, com os quatro pontos cardeais, com as quatro estações, tudo que poderia pensar que era importante e em quatro. Esperava que ao menos uma dessas suposições estivesse correta, e realmente deveria ter estado, pois a poção parecia ter funcionado. Apenas não havia lhe dado mais poder. 
Talvez fosse por sua habilidade nata de manipulação, talvez a poção fosse para um mago ou feiticeiro sem poderes sobre a terra onírica. Suspirou, enquanto passava a mão por aquele passo final do feitiço, se distraindo o suficiente para gritar assustado quando um pássaro negro subitamente invadiu o cômodo. 
Grimm se levantou de onde estava rapidamente, com o grimório ainda sem suas mãos, seus olhos se arregalando enquanto observava o pássaro se mover rapidamente de um lado para o outro, voando sobre todas as estantes repletas de livros, e usando suas asas, que pareciam ser feitas de metal, para derrubar tudo que visse. 
E falando em ver, os olhos da criatura, mesmo visto de longe, eram claramente feitos de puro fogo. Um fogo puro, parecendo que poderia incendiar aquela biblioteca em questão de segundos caso o pássaro por algum motivo decidisse chorar. O que estaria tudo bem até, não surtaria tanto o jovem aprendiz, se não fosse pelo fato de que o pássaro parecia crescer mais e mais a cada volta que dava pelo teto da biblioteca, suas asas ficando mais e mais fortes, agora conseguindo derrubar estantes inteiras, causando o maior desastre naquela biblioteca. 
Por um segundo Grimmauld se perguntou para onde o responsável dali, a bibliotecária, havia se metido, mas não teve tempo de desenvolver aquele pensamento, pois o pássaro decidiu voar em sua direção, o que o fez ter que se abaixar e esconder embaixo da mesa. Nunca havia ficado tão em pânico, mas também nunca havia sido atacado por uma criatura daquela maneira. 
Colocou o livro no chão, usando suas duas mãos para tentar lutar contra aquele pássaro demoníaco. Fechou seus olhos, canalizando toda a sua energia nas palmas de sua mão, e então recitou o primeiro feitiço ofensivo que conseguiu pensar.
“— Ewch allan o'r fan hon”  gritou, saindo de seu ‘esconderijo’ e direcionando a energia de magia no pássaro, que simplesmente desviou. O pânico do Emrys aumentou naquele instante, mas já se preparava para lançar o feitiço novamente, apenas para ser surpreendido ao perceber um livro mágico sendo lançado bem em suas mãos. 
O garoto o segurou, por reflexo. Nunca havia o visto antes, o que era estranho, uma vez que tinha vasculhado todas as estantes e prateleiras da sessão de magia. Seu olhar voltou para a criatura, novamente por instinto, mas essa, por sua vez, não parecia mais tão agitada, e estava retornando ao seu tamanho natural, voando de forma tranquila de um lado para o outro, até finalmente sair pela mesma janela que havia entrado.
O que havia sido aquilo? O que era aquela criatura? Como iria explicar para a bibliotecária que ele não tinha sido o responsável por destruir a biblioteca? Poderia passar horas refletindo, ou procurando algo sobre pássaros negros com olhos de fogo, mas sua mente focou em outro ponto bem importante. O livro. Era um livro sobre pontos, um livro que poderia lhe ajudar bastante. Por isso o colocou sobre a mesa, esticando sua mão para usar seu feitiço de leitura mais uma vez, e sorrindo ao perceber que havia encontrado a resposta. 
“Os Quatro Pontos Arcaicos: Coragem, Amor, Sabedoria e Nobreza.”
Grimmauld finalmente sabia como resolver tudo aquilo. 
⋯⋯✘⋯⋯✘⋯⋯✘⋯⋯
A conversa com a bibliotecária sobre o que havia acontecido naquela tarde foi surpreendentemente positiva, bem melhor do que o feiticeiro esperava. A mulher normalmente ficou irritada com a bagunça — ou melhor, com a destruição — mas não lhe puniu com nada além do trabalho de arrumar tudo. Aquilo fez o feiticeiro pensar sobre os privilégios que muitas pessoas falavam que ele possuía por ser filho do diretor… Era sobre isso que estavam se referindo? De qualquer forma, não havia sido Merlin que tinha lhe punido de forma tão leve, então no final do dia não foi seu parentesco com o mesmo que lhe livrou de talvez uma grande suspensão. Imaginava. De qualquer forma não demorou muito para arrumar tudo, sendo essa a vantagem de possuir poderes mágicos. Falou algumas palavras, mexeu seus dedos, e em alguns minutos, tudo já se encontrava na maior ordem. 
Na verdade, o que realmente impactou Grimmauld sobre todo aquele acontecimento tinha sido a resposta literalmente jogada em cima dele. Sabia como fazer o seu feitiço e poção do sono funcionar, e não perdeu tempo algum antes de se pôr a trabalhar no mesmo, pegando todos os ingredientes que havia usado no feitiço antes, e o fez perfeitamente mais uma vez. E também não foi muito difícil para o feiticeiro saber exatamente como abençoar o elixir, precisava de uma pessoa para representar cada um dos pontos arcaicos, e era bem óbvio para o filho do Merlin quem ficaria em cada um. 
Para coragem ele escolheu a Rhea, sem precisar pensar muito. Coragem era uma virtude que ele invejava bastante, muitas vezes se sentindo covarde em certas situações, como por exemplo quando os ogros atacaram. O feiticeiro não estava no local, mas mesmo depois de descobrir o que estava acontecendo, preferiu ficar ajudando em distância, usando seus poderes para tentar desnortear os monstros e curar as pessoas feridas. Rhea, por outro lado, nem ao menos pensou antes de se jogar no perigo e tentar ajudar, e por isso Grimm lhe colocou naquele ponto. 
Em amor… Ah, como não por Meili ali? Havia alguém mais perfeito para aquela posição do que sua melhor amiga? Meili era a sua pessoa. Quem ele mais confiava no mundo. O que poderia ser engraçado de se dizer, uma vez que Grimm confia bem cegamente em todos, mas com Meili sempre foi diferente. Seu relacionamento com ele parecia vir de outras vidas, uma conexão que ele ao menos sabia explicar. Era sempre ela que ele procurava para qualquer situação, fosse para conselhos, para se divertir, para tudo. 
Não foi muito difícil decidir em quem pôr em sabedoria. Zane. Ah, o seu mentor de se portar como um príncipe em Aether. Poderia ser que muitos não concordassem com o feiticeiro naquela escolha, mas para ele não existia ninguém mais sábio, e por isso mesmo sempre que estava para tomar alguma decisão, sempre que precisava de uma ajuda sobre o que fazer, era para ele que ele recorria. Obviamente não tinha ninguém melhor para aquela posição. 
E para nobreza. Hawke. O cavaleiro mais nobre que já havia conhecido, aquele que lhe ensinava todos os dias sobre honra e sobre caráter, sempre tentando fazer Grimm entender suas responsabilidades — por mais que o feiticeiro sempre conseguisse lhe distrair daquela tarefa — e lhe ajudando se tornar uma pessoa cada vez melhor. Talvez nobreza no sentido no papel significasse realeza, pessoas de sangue azul, ou o que quer fosse, mas para o feiticeiro não tinha como não ser Hawke. Ele era a personificação daquela palavra, no sentido que para ele importava. Uma pessoa merecedora de respeito por suas boas qualidades, uma pessoa que segue seus princípios e ideias, uma pessoa pura e honrada. 
Para o processo de benção, tudo que essas quatro pessoas precisaram fazer foi tocar a poção, enquanto Grimm sussurrava baixinho o encantamento, sem realmente falar quais eram seus planos. Tinha medo de tentassem lhe impedir. E o mais engraçado sobre tudo isso foi que ninguém estranhou seu pedido. Porém talvez fosse de se esperar, o Emrys sempre estava fazendo algo considerado “estranho”. 
Naquele momento ele já estava com tudo pronto. Havia relido tudo sobre a poção, e já tinha um plano perfeito a seguir. Iria para a floresta, e iria jogar a poção na criatura que estava fazendo tudo antes, e em seguida jogar em si mesmo, para que pudesse derrotá-la em seu reino. Seu domínio. Suas regras. Era perfeito, não tinha como dar errado. E por isso já estava preparado uma bolsa, com diversos itens mágicos, para qualquer coisa que pudesse se deparar naquele local. 
Hmn, poções, amuletos, nó de bruxa, bonecos de cera…. Começou a listar mentalmente, para ter certeza que não estava esquecendo nada. Fechou a bolsa, e olhou ao seu redor, procurando por qualquer coisa que fosse que poderia estar faltando pelo seu quarto. Ah, provavelmente deveria arrumar o mesmo qualquer dia desses. Seus olhos buscaram toda a bagunça dele e de seus colegas de quarto quando finalmente localizou algo. Uma espada. 
Não era um guerreiro, não sabia usar seus punhos, e muito menos armas. Mas Hawke pensou que seria uma boa ideia lhe dar algumas aulas de como se defender com uma espada em sua mão. Grimm não gostou nenhum pouco daquilo. Sabia que era comum para principes, ser cavaleiros, lutar em guerras e enfrentar vilões, mas não era aquilo que queria. Não queria ser um guerreiro, queria ser um mago. Grimm odiava violência, odiava batalhas, tinha poderes mágicos capazes de evitar confrontos sangrentos, e os usaria. Igual seu pai. Pegou sua bolsa, e deu as costas para aquilo. Para tudo que aquela arma implicava. Ser príncipe não era seu destino, sabia daquilo. 
Partiu em direção a floresta, sem pensar mais sobre aquilo. Ou pelo menos foi o que tentou se convencer, enquanto segurava forte o pingente real que sua mãe, a rainha da grã-bretanha, havia lhe presenteado. Ela o chamava de “Últimas Palavras”, Grimm riu sobre a ironia. 
⋯⋯✘⋯⋯✘⋯⋯✘⋯⋯
Ir para a floresta a noite não era uma novidade para Grimm, adorava o local, sempre fazia passeios noturnos para se sentir novamente em Brocéliande. Sentia falta do lugar onde havia nascido, apesar de ter sido sua decisão se tornar um aprendiz do instituto. A natureza sempre seria o lugar que o feiticeiro se sentiria mais em casa, sentir o ar e a energia, ser rodeado de criaturas mágicas, fadas, e ninfas, como era em sua casa. 
Porém, daquela vez a aura da floresta estava diferente. Não parecia ser o lugar encantado, mágico, que tanto gostava de visitar. Não tinha muito conhecimento com magia negra, mas toda a energia que sentia vindo dali lhe fazia pensar que era exatamente daquela forma que as artes das trevas se parecia. Além de calafrios, e sentir morcegos — ao invés de borboletas — em sua sua barriga, também conseguia enxergar sombras saindo, se movendo, como chamas se moviam. Aquilo poderia facilmente ter feito o mago desistir de se aventurar ali dentro, de descobrir o que poderia ser que estava causando tudo. 
Não. Não iria desistir tão fácil, não quando já estava ali, não quando sentia a responsabilidade de resolver tudo sozinho. Por seu pai, por seus amigos, e por si mesmo. Respirou fundo, mais uma vez apertando o pingente de sua mãe, e continuou caminhando.
Esperava ouvir algo, ou ver algo. Muito provavelmente a voz lhe chamando ou algo lhe hipnotizando para ir mais fundo, porém estava encontrando breu e silêncio absoluto. Bom, talvez não absoluto. Conseguia ouvir asas batendo, e qualquer que fosse o barulho que passarinhos faziam. 
O primeiro erro que Grimm cometeu foi não dar atenção, deixando sua guarda baixa, pois bem depois de escutar tudo aquilo, três pássaros negros surgiram das sombras, com nada além de seus olhos flamejantes para lhe destacar. De primeira até mesmo pareciam vagalumes, fazendo o feiticeiro apenas perceber do que realmente se tratava ao sentir suas garras em sua pele, lhe arranhando repetidamente. 
Tentou correr, mas o quanto mais se aprofundava na escuridão, menos conseguia enxergar, fazendo se tornar impossível prever de onde as garras iriam vir. Os pássaros seguravam suas roupas, lhe puxando para trás, e usavam, o que Grimm assumia ser seus bicos, para furar sua pele, e lhe machucar. Usou seus braços, com o intuito de assustar as criaturas, lhe mandar ir embora, mas não adiantava. E então começou a recitar feitiços de defesa, para se proteger, para criar escudo de força, mas ainda assim não adiantava. 
Sua magia estava sendo negada pela escuridão? Sentia aquilo, como se respirar aquele ar estivesse lhe incapacitando. 
Ficou mais e mais desesperado com aquela descoberta, sem magia o que poderia fazer? Não tinha como mandar aqueles pássaros embora, sequer tinha como voltar para o instituto. Se sentou no chão, colocando os braços sobre seu rosto, como uma última tentativa de se proteger, implorando para que algum espírito da natureza aparecesse para lhe proteger. Não tinha magia, e não tinha nenhuma arma. Não tinha nada. Era um momento perfeito para surtar e se arrepender de sua decisão, mas foi então que percebeu o quão errado estava. Ele tinha algo. A poção. 
Era pouco, e ele realmente não deveria desperdiçar, mas o que poderia fazer? Se deixar ser atacado por aqueles pássaros? Tirou a mesma da sua bolsa, a balançando para que se ativasse, e assim causando a mesma a brilhar, o que por si só já foi de grande ajuda, lhe permitindo ver onde estavam as aves. Sorriu. Uma vantagem. Abriu o frasco e se posicionou para jogar em cima dos bichos na próxima vez que lhe atacassem, mas como uma piada muito sem graça, os pássaros voaram em direção de si mesmos, se transformando em um só. Em um só pássaro gigante. 
Puta merda…
Por um lado positivo, aquela cena foi algo incrível de presenciar. No momento em que os três seres se impactaram, suas penas se transformaram em sombras, e tudo se juntou, como uma grande esfera negra, com um brilho vermelho forte cintilante dentro, que foi apenas crescendo até se tornar a criatura enorme em sua frente naquele momento. Por um lado negativo? Ele tinha grandes chances de ser assassinado. 
Engoliu seco, mas não saiu de sua posição. O pássaro ciscou no chão, o que fez Grimm se lembrar do que um touro fazia quando estava prestes a atacar alguém, e aquilo lhe fez ficar um pouco mais preparado quando o bicho fez exatamente aquilo, partindo em uma velocidade nunca vista antes em direção. O bico parecendo tão afiado quanto uma lâmina, mirado exatamente em seu peitoral, e poderia ter causado um grande estrago, se não fosse pela poção que o feiticeiro jogou bem em seus olhos, quando estava a centímetros de lhe acertar com tudo.  
O pássaro caiu no chão, e Grimm também. A diferença é que a criatura se desfez, como se nunca nem tivesse existido, enquanto o feiticeiro apenas ficou sem fôlego, e sem saber o que fazer. Seus olhos foram para o frasco em sua mãe, e alívio correu por todas as suas veias. Ainda tinha o suficiente para levar seu plano para frente. 
Só esperava que aquele ataque tivesse sido o primeiro e último daquela noite. 
⋯⋯✘⋯⋯✘⋯⋯✘⋯⋯
Não foi o último ataque. 
Logo depois dos pássaros, o feiticeiro se deparou com um cavaleiro feito de sombras. Um tema recorrente, aparentemente. Ele tentou mais uma vez usar seus poderes para lhe deter, recitando todos os tipos de feitiços, que não funcionavam, enquanto o ser de trevas lhe seguia, segurando uma espada de fogo, com a qual fazia os mais rápidos e suaves movimentos, que se não fosse por sorte, teria acertado Grimmauld logo de primeira. 
Ele não via nenhuma maneira de sair dali, sem ser a mesma da última vez. Tentou adiar aquilo o máximo que pode, mas ao sentir a espada lhe acertar em cheio no braço direito, lhe queimando e fazendo gritar como nunca antes, ele não teve muita escolha. A dor daquele ataque havia sido tão grande que o feiticeiro sentia como se tivesse sido dividido em dois, como se tivesse perdido um pedaço de si mesmo, e até mesmo checou para ver se ainda possuía um de seus braços. Graças aos espíritos ainda estava ali. Então sua ação seguinte foi pegar o elixir, jogando mesmo no cavaleiro das trevas, que assim como o pássaro, sumiu em sombras. 
“— O que vai ser agora? Uma princesa feita de sombras?” pensou alto, com uma irritação incomum. Mas tinha como culpar o garoto? Quem não ficaria irritado depois de tudo aquilo? E bem, sem fôlego também. 
Continuou sua jornada, mas a cada passo que dava adiante, sentia sua garganta se apertar mais e mais, como se tivesse punhos ao redor da mesma, tentando lhe matar. Era tão real, tão forte, que eventualmente o feiticeiro parou de andar, levando suas próprias mãos ao seu pescoço, para tentar tirar o que quer que fosse que estivesse lhe estrangulando. Mas não tinha nada. Nem sombras. 
Decidiu que continuaria andando até onde aguentasse com aquela sensação, passando por diversas vigas animadas magicamente que tentavam lhe prender, por árvores vivas, totalmente negras, que tentavam lhe arranhar, da mesma forma que o pássaro havia feito. Mas nada lhe parou. Inclusive, Grimmauld só acelerava mais o passo, pelo desespero de estar sendo sufocado. Andava cada vez mais rápido, até o ponto de estar literalmente correndo pela floresta, na esperança que se talvez chegasse em seu centro, aquela sensação sumiria. 
E estava certo. 
Estava correndo tão desesperado, que ao sentir aquela força que lhe sufocava sumir de seu pescoço, apenas caiu no chão, sem perceber onde havia chegado. Poderia apagar ali mesmo, na verdade. Cair em um sono profundo, e talvez nunca mais sair, mas felizmente não foi o que aconteceu. Levantou sua cabeça, após alguns minutos deitado, apenas recuperando seu fôlego, e então seus olhos se arregalaram ao ver aquele cenário. 
Era como um oásis, uma clareira. Porém, feito totalmente de cristal. Parecia um lugar sagrado, um lugar de magia de luz e bondade, e isso já fez com que todos os alarmes na cabeça de Grimmauld tocassem com força máxima. Era uma ilusão? Era a moradia da criatura responsável pelas vozes? Não sabia dizer. Só sabia que não iria abaixar sua guarda novamente. 
Decidiu investigar, procurando por qualquer que fosse o ser que morava ali. Olhou em todos os lugares possíveis, e nada foi encontrado, fazendo Grimm se sentir impotente. Havia passado por tudo aquilo para nada? Continuava sendo totalmente inútil. Respirou fundo, e foi em direção ao lago, afim de beber um pouco d'água, estava com sede e cansado, e precisava daquilo, mas acabou nem o fazendo, quando se aproximou da água, se olhou no reflexo e percebeu que não era ele ali. Ou era, mas totalmente diferente. 
Seu reflexo vestia roupas formais, um casaco branco, com detalhes azul celestial, botões feitos de pérolas, uma coroa dourada em sua cabeça, e seu pescoço cheio de jóias, colares, e cordões. Ouro, puro. Odiava aquilo, odiava todas aquelas roupas, todos aqueles acessórios, tudo aquilo lhe fazia se sentir…. Sufocado. Levou sua mão ao pescoço, agora sentindo tudo aquilo, e em seguida levou sua mão a sua cabeça, percebendo que uma coroa se encontrava ali. Abaixou seu rosto para ver que não era apenas seu reflexo que estava vestido daquela forma.  
Ele estava vestido como um príncipe. 
“— Mas que po…” não conseguiu terminar, escutando uma risada antes que lhe interrompeu. Levantou seu rosto no mesmo segundo, e encontrou um ser nas trevas, do lado de fora daquele oásis, bem em sua entrada. “— Quem é você? Saia agora!” a risada aumentou, mais e mais, parecia ecoar por todo o lugar. 
“— Quem sou eu?” o ser começou a andar para frente, saindo das sombras e quando finalmente chegou a luz, Grimm considerou ter sido levado a loucura por todos os arranhões que recebeu. “— Eu sou você.”
E não estava mentindo, ou pelo menos não mentindo totalmente. O ser em sua frente era uma cópia quase exata de si, com as únicas exceções sendo suas vestimentas negras, parecia fazer parte de algum tipo de círculo de bruxaria das trevas, e o seu rosto. O seu rosto era corrompido. Além de possuir um sorriso maligno, um sorriso que o feiticeiro nunca havia feito em toda sua vida, seus olhos estavam sem vida, estavam se cor, eram totalmente cinzas, e possuía linhas vermelhas saindo do mesmo, passando por toda sua bochecha, como se houvesse chorado sangue. Em sua testa também se encontrava um símbolo que ele nunca havia visto antes, feito da mesma forma que as lágrimas permanentes em seu rosto. E para piorar, as veias de seus braços também eram bem visíveis, pois parecia que fogo corria por elas, as fazendo brilhar, e seguia dessa forma até chegar em suas mãos, que pareciam carvão, como se tivessem sido totalmente queimadas. 
“— Você não sou eu? Eu… Sou eu…” era idiota falar aquilo, mas estava em choque, não sabia o que fazer ou como reagir. “— Revele sua forma verdadeira!”
Novamente o outro Grimm riu. 
“— Essa é minha forma verdadeira.” gesticulou com seu braço, o levantando e então passando sua língua pelo mesmo, pelas veias flamejantes, e queimando sua língua no processo. Algo que fez Grimm fazer uma careta e desviar o seu olhar para o chão. O que merda estava acontecendo? “— Eu sou Grimmauld Cygnus Emrys, o maior feiticeiro de todo o mundo.”
Sem Maddan? pensou. Por que aquele ser estava falando seu nome incompleto? Sem o nome que sua mãe havia lhe dado? 
“— Eu sou Grimmauld!” levantou seu rosto para lhe encarar, mas o outro continuava fazendo a mesma coisa, agora fumaça saindo do toque entre sua língua e sua pele, sangue descendo pelo seu braço e caindo no chão. 
“— Não não não, pequeno passarinho do verão.” sua voz era carregada de veneno, fazendo com que Grimm nem ao menos conseguisse considerar parecida com a sua própria. “— Você é Príncipe Maddan… Rei Maddan, para ser mais claro. Herdeiro da Grã-Bretanha.”
Balançou sua cabeça negativamente. Nem ao menos fazia sentido, nunca havia aceitado seu trono, seu papel como herdeiro, como poderia agora estar sendo chamado de príncipe, sendo chamado pelo seu nome real. Era mentira, claro que era totalmente mentira. Sua mente estava sendo enevoada, manipulada, para que ele se perdesse naquele lugar, para que não pudesse voltar.
“— Até eu sei mentir melhor que isso, e olha que eu sou um péssimo mentiroso.”
O outro Grimm parou de lamber seu braço, limpando o sangue que descia pela sua boca, sorrindo. E então levantou seu braço, fazendo um movimento que o verdadeiro filho de merlin conseguia identificar como a conjuração de um feitiço, o que fez um trono, feito de ossos e caveiras, surgisse do nada bem atrás da criatura, e então o mesmo se sentou ali, do outro lado do lago. 
“— Se sente, Maddy.” movimentou sua mão mais uma vez, e um trono, totalmente diferente do outro, cheio de ouro e pedras preciosas, apareceu. Grimm não ia se sentar no mesmo, mas uma força lhe empurrou, e quando se deu conta, já estava sentado. “— Maddy Maddy Maddy…. Por que parece tão triste? Está infeliz com sua vida? Percebeu que ser um príncipe não é nada?”
“— Não sou um príncipe!”
“— Não?” perguntou, sua voz com um pouco de deboche, o outro até mesmo fazendo um bico, como quem faz quando fala com uma criança. “— Hmnnn, vamos ver.” mexeu sua mão mais uma vez, o que fez um redemoinho surgir no lago. 
Grimm sentiu um pouco de raiva com aquilo. 
“— Como você tá conseguindo usar magia?” 
“— Eu sou um feiticeiro, dearie. Claro que consigo usar magia.” riu mais uma vez, e aquele som estava começando a fazer Grimm se arrepiar. 
Não teve tempo de falar algo em resposta a aquilo, pois logo o redemoinho se tornou uma imagem. Era como se o lago tivesse se tornado o espelho mágico da Rainha Má, mostrado uma visão para os dois jovens. 
“— O que é isso?” perguntou, enquanto se observava aparecer na imagem. Naquela visão estava mais uma vez vestido como um príncipe, mesmo que fosse um ‘figurino’ bem diferente do atual, e o Grimm da imagem, estava em algum palácio, segurando uma caixa roxa, parecida com as caixas proibidas que já havia lido sobre em um de seus livros. 
Não se lembrava muito bem o que elas faziam, mas sabia que não podia usá-las. Permaneceu fissurado naquela visão, vendo ele mesmo abrir a caixa, enquanto recitava palavras mágicas, de alguma língua morta que não sabia nada sobre. Grimm poderia esperar por tudo, mas não esperava pelo que viu em seguida. A energia, a aura, o mana do seu eu da visão começou a sair de seu corpo, como um processo cirúrgico bem doloroso, como quem troca de pele. O Grimm começou a gritar, mais e mais alto, um som agoniante, que fez o verdadeiro cobrir seus ouvidos, para que não precisasse ouvir. Aquilo demorou um bom tempo, com toda aquela energia mágica indo para dentro da caixa roxa, e o garoto na imagem cair apagado no chão. 
E a imagem se tornou preta. 
“— O que foi isso? O que aconteceu?” perguntou ao outro mais uma vez, que lhe respondeu com outra mexida de seu braço. 
Uma nova imagem apareceu no lago, agora Grimm estava sentado no trono. rodeado de servos, e de pessoas que lhe idolatravam. Não era nada do que o garoto realmente desejava, mas o príncipe naquela imagem parecia feliz, sorrindo de orelha a orelha, como se estivesse realizando um sonho. “Eu desisti dos meus poderes para ser o rei que vocês merecem, o Rei Maddan da Grã-Bretanha” gritou, e teve gritos de comemoração em resposta, de todos ali naquela corte. 
Sentiu morcegos em seu estômago mais uma vez, e uma vontade enorme de vomitar. Ele… Ele desistiu dos seus poderes? Mas seus poderes eram tudo que ele era. Eram ele. 
“— Isso é mentira!”
“— É o seu futuro, Maddy ~” atormentou, um ar infantil em sua voz. Parecia uma criança tirando sarro da outra.
“— NÃO!” 
Novamente o Grimm falso em sua frente mexeu seus braços, o que fez o lago voltar a se parecer apenas um lago normal. 
Bom, um lago normal congelado. 
“— Está irritadinho, Vossa Majestade? Estou apenas lhe mostrando a sua história.” falou, fingindo inocência em sua voz. O Grimm falso se levantou de seu trono, se aproximando mais ainda da água, colocando sua mão lá dentro para pegar um pouco do líquido e beber. 
O Grimm verdadeiro tentou se levantar também, mas o outro levantou seu braço, apontando para si e fazendo com que ele se sentisse preso em seu trono. 
“— Isso tá longe de ser minha história!” 
“— Parece que você é muito mais bravo como um humano inútil, não é?” começou a falar, se virando de costas para o verdadeiro, começando a mexer seus braços, recitando feitiços, e fazendo um exército de esqueletos saírem da terra, um por um, todos pareciam estar possuídos por um espécie de névoa cinza, que ficava dentro de seus olhos, brilhando. “— Um humano sem graça, sem poderes, sem capacidade de fazer nada além de… Ficar bravo.” parou, levando a mão a sua boca, como se houvesse acabado de perceber algo. De uma forma bem dramática. “— Talvez seja isso? Não tem como fazer mais nada, por isso fica bravo.”
Novamente tentou se levantar, mas parecia que possuía correntes lhe prendendo. 
“— Quero dizer, acho que consigo entender.” sinalizou para os soldados de ossos para irem em direção a Grimm, e todos começaram a fazer exatamente isso, mesmo que bem lentamente. “— Eu também ficaria tão irritado de ser um completo ninguém.”
“— Cala a boca!”
“— Oooh, quanta atitude.” nem o olhava no rosto. “—Chega a ser engraçado vindo de um ser tão… Miserável.”
Os soldados continuavam a marchar em sua direção, e um pouco de medo se instalou no corpo do herdeiro. Estava prestes a morrer? Aquela criatura queria lhe matar para tomar o seu lugar? Era isso? Não estava entendendo, só sabia que precisava sair dali o mais rápido possível. Tentava e tentava, mas era impossível. 
Não tinha como parar aquelas criaturas, eram mortos. Mesmo que pudesse se mover, não tinha como derrotar algo que não tinha vida. Nem a sua poção do sono teria efeito neles, nem nada que tinha consigo. Estava prestes a morrer, com toda certeza. 
E pela primeira vez em sua vida Grimmauld desejou pelos seus pais. Não como pais, não suas presenças, mas sim desejou que eles aparecem para lhe salvar. Para lhe tirar dali.
“— Quer o papai e a mamãe? Que patético, Maddy.” falou o outro, fazendo um biquinho, que foi seguido de uma risada debochada. “ — Mas é de se esperar de alguém que não sabe se defender. Não sabe nem segurar uma espada. O que um humano ridículo que nem lutar sabe vai fazer além de chamar o papai? Nada…. Que rei incrível, não é? A Grã-Bretanha tem que ser o reino mais azarado de todos. Um rei que não saber lutar por eles, que nunca vai vencer nenhuma guerra por eles. Um rei totalmente inútil.”
“— Eu não vou ser rei!” tentou argumentar, pois no fim de tudo, concordava. Seria um péssimo rei, seria o pior governante. Não havia nascido para aquilo, havia nascido para seguir os passos do seu pai, não da sua mãe. “— Não vou!”
O falso feiticeiro levantou sua mão, sinalizando para os soldados pararem. 
“— Não? Hmn ~” e virou, o encarando novamente. Aqueles olhos… Pareciam olhos da morte.  “— Vamos ver isso então.”
Estalou seus dedos, e novamente um redemoinho surgiu no lago, mas dessa vez o Grimm que apareceu não era um príncipe prestes a se livrar de seus poderes mágicos, e sim um feiticeiro no meio de um ritual. 
Nessa imagem o Grimm estava vestido com roupas pretas, bem parecidas com o do falso em sua frente, por mais que não estivesse com veias flamejantes ou olhos cinzas, muito menos lágrimas de sangue ou um símbolo em sua testa. Ele estava na floresta, segurando uma athame, e conjurando alguma coisa, novamente em uma língua morta que o garoto não conseguia reconhecer. 
Mas o que ele conseguia reconhecer era o ato de magia negra, e ficou bem claro que o feiticeiro naquela visão era um praticante daquela arte quando usou a adaga mágica para se esfaquear, enfiando a mesma com força em sua própria barriga. 
Grimm fechou seus olhos, não tinha forças para observar aquilo. 
“— Preste atenção, Maddy ~” 
E como se estivesse sendo controlado, seus olhos abriram novamente, para ver que nada havia acontecido com o Grimm daquela visão. Estava sorrindo, e uma ventania enorme começou, enquanto o mesmo ria mais e mais, até que o verdadeiro percebeu o que estava realmente acontecendo. Aquele Grimm havia acabado de se vender para magia negra, e nunca havia ficado tão poderoso. Ele pode testemunhar toda a transformação, suas veias se tornando aos poucos brilhantes com o fogo, que queimava sua pele, e queimava suas mãos. Pode ver as lágrimas que fogo também machucando suas bochechas, e seus olhos se tornando cinzas. Não conseguiu ver como o símbolo surgiu em sua testa, uma hora não estava e outra já estava, mas não deu muita atenção aquilo, pois em seguida lhe foi mostrado uma coleção de cenas. 
Depois de se vender, Grimm havia se tornado o feiticeiro mais forte de todos os reinos, e saiu nas mais diversas aventuras, diga-se conquistas, usando sua magia para tudo que bem entendesse, e quando mais a usava, mais forte ele ficava, mais poderoso podia se sentir. E o verdadeiro também estava sentindo aquela sensação de poder, como se ele mesmo estivesse vivendo aquela visão. 
O feiticeiro na visão estava destruindo vidas, destruindo reinos, pegando o que quem desejasse, sem que ninguém tivesse chance de ir contra ele. Estava tomado pelo poder, pela sede de poder. Um verdadeiro conquistador, que fazia todos aqueles em seu caminho se arrepender de tentar lhe impedir.
Grimm então não se sentia mais preso ao trono, agora se levantando sem perceber e andando em direção ao lago, devagar, mas bem determinado, seus olhos totalmente encantados por si mesmo tão cheio de magia. Era o que ele mais desejava não era? Ser poderoso, ser o maior. Superar o seu pai. 
E era exatamente aquilo que o lago mostrava agora, uma batalha épica entre Grimm e Merlin, ambos se enfrentando, usando suas magias em um embate magnífico, e Grimm sorriu ao perceber que estava com a vantagem, que estava com muita vantagem. Merlin não tinha chance contra ele, o feiticeiro mais poderoso de todos os tempos não tinha chance contra Grimm. Era o quão poderoso havia se tornado. 
“— Venha ~ Venha ~” o falso lhe chamava, e ele nem tinha noção de como estava atendendo esse pedido. 
Encantando pela ideia de poder, pela ideia de se tornar aquele mais poderoso do mundo, poderoso o suficiente para conquistar tudo, Grimm continuava andando adiante, e agora se encontrava na beira do lago, prestes a pular no mesmo, a pular naquela visão, a pular naquela realidade. Se ele pulasse tudo se tornaria verdade, não é? 
“— Sim, basta pular!” respondeu o falso. “—Pule!”
Se preparou para fazer exatamente aquilo, começando a colocar o seu pé dentro da água, quando escutou asas batendo. Pássaros. Poderia ser aquelas aves que lhe importunava tanto? Estavam tentando estragar seu momento de vitória? 
Parou onde bem estava, para olhar para as mesmas, e assim que seus olhos bateram nos olhos flamejantes daquelas criaturas, foi como se tivesse sido curado. Recebeu sua noção novamente, balançando sua cabeça e percebendo o que estava prestes a fazer. Ia se afogar, ele ia se jogar naquele lago e ia se afogar, tudo por conta de um feitiço, por conta de um feitiço de desejo. 
“ — MATEM!” escutou uma voz demoníaca gritar, levantando seu rosto para perceber que era o seu outro eu. Ele apontava para as aves, fazendo os soldados de ossos irem atacar as mesmas, mas dessa vez eles estavam bem mais rápidos e ágeis. Aquilo confundiu Grimm. “— DESTRUAM AQUILO AGORA!”
Por que o demônio estava atacando seu aliado? 
Merda. pensou. Merda Merda Merda. 
Grimmauld havia esquecido totalmente do seu objetivo ao entrar na floresta, havia esquecido totalmente de seu plano de derrotar a criatura, de salvar todo mundo e resolver todo aquele problema. 
Enquanto a sua cópia se preocupava e atacar as aves, o feiticeiro aproveitou para voltar ao seu foco, pegando o frasco, que ainda possuía elixir o suficiente para que seu plano funcionasse. Iria conseguir, precisava apenas parar de se deixar levar por distrações burras. Não iria mais cair em nenhum feitiço de desejo. 
Tentando não ser notado, o feiticeiro começou a andar com muita calma em direção ao falso, que parecia estar muito distraído seguindo os pássaros com seus olhos e ordenando seu exército para perceber o quão próximo o verdadeiro estava. 
Calma. Pensou. Você só vai ter uma chance….
E parecia que não teria nem mesmo ela, pois quando estava levantando seu braço para jogar a poção no comandante dos soldados caveiras, sentiu algo segurar sua perna, o fazendo cair com força no chão. O Grimm falso se virou, percebendo o que ele estava prestes a fazer. 
“— Muito corajoso para um ser tão desprezível!” disse, criando uma bola de fogo em sua mão. Por sorte, um dos três pássaros voou em direção ao bruxo das trevas, acertando sua mão, e fazendo a bola cair no chão, chamando sua atenção mais uma vez. “— MATEM ISSO DE UMA VEZ!” gritou novamente, agora ele mesmo tentando acertar os pássaros, jogando diversas rajadas de magia em sua direção. 
Enquanto isso vários soldados estavam se jogando em cima de Grimm, lhe arranhando, de forma tão violenta que até mesmo parecia que estavam tentando arrancar sua pele. “— Saiam de cima de MIM!” mas o pedido de nada adiantava, os mortos continuavam usando suas mãos, procurando por algo, e então o feiticeiro entendeu. “— NÃO!” mas era tarde demais, um deles já havia encontrado o elixir embaixo do seu corpo. 
Ver a poção ser jogada no chão, e ser desperdiçada foi o mesmo para Grimm do que saber que seu destino havia sido decidido. Morte. Já era a segunda vez que pensava que iria sofrer aquilo nos últimos minutos, mas naquele momento era mais real do que nunca. Não tinha nada para se proteger, não tinha magia, não tinha poção, não tinha espada. 
“— MATEM!” escutou o outro gritar mais uma vez, e seguiu a voz para ver os pássaros ainda bem determinados e voando de um lado para o outro, de vez em quando descendo para atacar o feiticeiro das sombrio. 
Sentiu uma dor enorme em seu pescoço, que logo viu que a mesma foi causada por uma mordida. Um dos soldados lhe mordeu com tanta força que podia sentir a pele sendo rasgada, e nem teve tanto tempo de reagir, pois logo já estava gritando de dor por outras mordidas em seu corpo. Haviam no mínimo três soldados em cima de ti, todos parecendo com muita fome por carne viva. “— SOCORRO!” gritou, e talvez tivesse sido uma péssima ideia. Não conseguia se controlar, a dor era enorme. “— SOCORRO, POR FAVOR!”
“— EMBORA!” Algo respondeu. Não. Não algo, os pássaros responderam. “— VAI EMBORA!” eles se moveram em direção aos soldados atacando o herdeiro de Merlin, parando de flutuar e distrair o falso, que por sua vez, aproveitou aquilo para lhes acertar com suas bolas de fogo. “ — GRIMMAULD!” foi o último som que fizeram, antes de caírem todas no mesmo lugar. 
“— Finalmente.” 
Ele então mudou sua atenção para Grimm, sorrindo ao ver o estado no qual ele se encontrava. 
“— O que eu tinha dito? Desprezível” se aproximou, se ajoelhando bem acima do rosto do garoto que parecia estar sendo devorado. E talvez aqueles soldados tivessem algum tipo de veneno, pois todos os lugares que haviam mordido agora estavam dormentes, e a cabeça de Grimm estava começando a ficar bem… Confusa, como se estivesse prestes a dormir. Fechou seus olhos, prestes a desistir de lutar, quando escutou o que o outro falou mais. “— Como você pode se chamar de feiticeiro, hmn? Tão idiota…” 
Levantou seu rosto, encarando o outro que estava lhe observando. Era um ser tão sombrio, seu sorriso, seus olhos, todo o seu corpo mostrava aquilo. 
“— Últimas palavras, Vossa Majestade?”
Tinha certeza que estava perdendo muito sangue, e estava cansado. Muito cansado. Mas não cansado o suficiente para não se lembrar de algo. Últimas Palavras. 
“— Da próxima vez esconda seu ponto fraco melhor, idiota!” respondeu, usando toda a força que ainda tinha em seu corpo para mover seu braço até seu pingente em seu pescoço, o pegando, o mesmo se transformando magicamente em uma espada e o enfiando com força na testa do ser das trevas, como sua mãe também havia feito durante a sua batalha contra seu ex-marido. “— Nada mal para um príncipe inútil” 
Havia sido uma tiro no escuro, mas pelo visto certeiro. Sabia da história, mas nunca achou que fosse verdade, que o pingente realmente conseguia se transformar daquela maneira, mas estava longe de reclamar, ou pensar demais.
Os soldados de osso se transformaram em pó, e o outro Grimm começou a gritar, mais e mais, desesperado, e mudando de forma como se não fosse mais o que ele era. Em um momento se pareceu com um inseto gigante, outra como uma mulher, e então como um cérebro, um inseto novamente, como o Grimm de novo, como uma junção de várias pessoas, e então como uma bolha de sombras, que explodiu, sujando tudo ao seu redor. 
O filho de Merlin percebeu não estava mais ferido, se sentia totalmente bem, como se nada tivesse acontecido. Estava confuso. Olhou ao seu redor, e o cenário permanecia o mesmo, seus olhos foram passeando desde o frasco quebrado no chão desperdiçando toda a bebida, até chegar nos pássaros queimados. 
“— Não!” exclamando, e correndo para se aproximar dos mesmos. Colocou suas mãos sobre os mesmos, se ajoelhando e sussurrando encantamentos para curar, sem se lembrar que na verdade não tinha magia. E não tinha como curar pássaros com uma espada mágica. “— Merda!”
Era idiota demais chorar por pássaros? Grimm não conseguia entender porque estava fazendo aquilo, mas aquelas criaturinhas haviam lhe protegido, e por isso ele sentia como se tivesse perdido um amigo. Como se tivesse perdido alguém importante. 
Pegou os três bichinhos em seus braços, e se levantou, para sair daquele lugar. Talvez no instituto tivesse uma maneira de salvá-los, e se tivesse, ele iria tentar. Iria tentar tudo. Começou a andar em direção a saída quando percebeu algo se movendo em uma das gosmas preta causada pela explosão do Grimm das trevas. 
Observou curioso enquanto a criatura minúscula se movia, saindo daquela meleca, e se revelando ser um pequeno besouro, com o símbolo vermelho em suas costas. “— Não não não, você não vai sair dessa fácil assim.” falou, pisando em cima do mesmo, sem algum remorso.
E tudo ficou preto.
⋯⋯✘⋯⋯✘⋯⋯✘⋯⋯
Grimm acordou no chão em seu quarto. 
Ele não entendeu o que aconteceu logo quando aconteceu, observando os seu arredores, procurando sentido, e procurando memórias do que havia acontecido, até perceber. Nada havia realmente acontecido, nada daquilo tinha sido real. Ele sequer tinha saído de seu quarto, percebeu isso ainda mais ao se sentar, vendo a sua bolsa ainda recheada de todos os itens mágicos.
Um sonho. Tinha tudo sido um sonho? 
Levou sua mão a sua nuca, por instinto devido a confusão, e nesse movimento percebeu algo em sua mão. Um besouro. E não um simples besouro, era o mesmo que havia pisado no mundo dos sonhos, o besouro que havia se transformado em uma versão corrompida e sombria sua. 
Ele agora estava totalmente esmagado, e qualquer outra pessoa poderia considerar aquilo bem nojento, mas Grimm estava acostumado, uma vez que havia crescido na floresta. O Emrys, entretanto, limpou sua mão mesmo assim, no chão, então olhando para sua palma mais uma vez e percebendo uma ferida na mesma. 
“— Um demônio do sonho…. Como eu não percebi?” era tão óbvio agora que havia saído daquele mundo de armadilhas. Todas as dicas jogadas durante sua pequena aventura, e o porque que não estava conseguindo usar seus poderes. Aquele besouro estava lhe bloqueando, estava lhe sugando. “— A poção…” se lembrou no mesmo instante, se virando rapidamente, apenas para encontrar a mesma totalmente jogada no chão. 
Era esse o objetivo do demônio, tinha certeza. Lhe matar primeiramente, claro, mas também lhe impedir de ir a floresta com aquela poção. Quem quer que havia feito aquilo sabia que Grimm poderia ganhar, ou ao menos tinha uma chance, e também deveria saber que a poção só funcionava uma vez. Queria que ele desperdiçasse tudo, queria que ele não tivesse chance alguma de resolver o problema. 
“— Droga…” reclamou, e então fechou sua palma, recitando um feitiço de cura, tanto porque precisava quanto para testar. A felicidade dentro do coração do aprendiz nem poderia ser contabilizada ao perceber que havia funcionado, que sua teoria estava certa, o besouro que estava lhe impedindo de usar magia. 
Ele se levantou, se sentindo ainda tonto. O besouro havia bebido bastante do seu mana, precisava sem dúvidas fazer uma visitinha na enfermaria, apenas para se recuperar daquilo, mas antes dessa visita, foi até sua cama, onde encontrou várias de suas anotações e pesquisas, o que fez o garoto rir. Tanto trabalho para absolutamente nada. 
Pegou os pergaminhos em sua mão, para lhes organizar e guardar, não queria deixar toda aquela bagunça ali, mas então percebeu uma página tirada de um livro no meio de tudo. Ele nunca havia visto aquilo antes, e o que mais lhe chamou atenção foi o desenho na mesma. Três pássaros pretos. 
“— Morrigan….” leu, fazendo algo clicar em sua mente. Já havia ouvido falar daquilo. Morrigan, os três pássaros sagrados da Grã-Bretanha. “— Morrigan, ou Mór-Ríoghain, são um trio de irmãs corvos, responsáveis por mensagens de guerra e destino, capazes de prever perda, vitória ou mortes em batalhas. São famosas como grandes profetas.” sabia daquilo, se lembrava bem. Já havia ouvido sua tia falar sobre aquilo, ainda quando morava em Brocéliande. Muitas fadas e ninfas adoravam a Morrigan.  “— Entretanto esse não é o único papel do trio, uma vez que elas são as protetoras de heróis, de cavaleiros prometidos e principalmente do herdeiro da Grã-Bretanha.” aquilo fez Grimm engasgar um pouco, e o levando a ler o resto em silêncio. 
“Em muitas lendas são consideradas as guardiãs do futuro rei, ou rainha, que lhes ajudando, guiando e protegendo de todo o mal, especialmente em guerras e batalhas. São um ser poderoso e imortal, existindo enquanto heróis ainda existirem. Se comunicam através de sonhos, passando mensagens sobre o futuro ou passado, sendo esses encontros extremamente raros. Uma verdadeira honra, a qualquer um que consiga ver sequer uma das três Morrigan.”
Grimm piscou seus olhos confusos. O que ele havia acabado de ler?
O feiticeiro não conseguia acreditar, não tinha como acreditar naquilo. Os pássaros que surgiram no seu sonho não podiam ser aquele trio, certo? Protetor de heróis, protetor de herdeiros do trono. Aquilo não era ele…. Ou era? Levar sua mão ao seu pingente foi quase como uma reação automática. Grimm apertou o mesmo, como se estivesse pedindo por uma resposta, e no mesmo instante percebeu algo. Ele gostando daquilo ou não, ainda era o filho de sua mãe. Herdeiro do trono. 
Escutou um barulho de asas batendo, e olhou para sua janela, encontrando apenas penas pretas caindo dentro do seu quarto. O feiticeiro sorriu.  
19 notes · View notes
margaerythings · 4 years
Photo
Tumblr media Tumblr media Tumblr media Tumblr media
                                                     into the woods 
                                               where’s nothing's clear.
                                                   where witches, 
                                           ghots and wolves appear. 
                                    into the woods and though the fear. 
                                        you have to take the journey.
NOTA OOC: a jornada da margaery é um enfrentamento dos maiores medos dela, portanto vou colocar aqui embaixo a inspiração dos desafios e o significados deles dentro do conto da mae pra quem não sabe muito do plot dela.
um agradecimento mais que especial para minhas lindas @neryltooth e @snowanika que me aguentaram falando dessa task o tempo todo toda hora por dias, pra @naimxl que me motivou a continuar escrevendo mesmo com toda minha insegurança e pra perfeita da @theswordinstone por ter topado minhas ideias malucas pra esses irmãos {um beijo pra ela e pra toda família pendragon do rp}
SKON, o goblin do porão: ele não tem uma inspiração certa, mas a participação dele na task é importante para que a mae perceba que não vai conseguir resolver tudo com seus poderes já que ela é muito dependente de sua magia. ele também é aquele que a motiva para ir pra floresta, percebendo que a bruxa está só fugindo do chamado.
SALAMANDRA-DE-FOGO: inspirada na mitologia, a salamandra aqui aparece em seu tamanho grande, sendo considerada uma criatura magica poderosa pela mae e simbolizando o começo dela na jornada. dentro do rp, o primeiro desafio físico ser o fogo é uma referencia a ultima vez que a pendragon perdeu o controle de seus poderes, mas o motivo real da presença dela na task é a analise feita por Carl Jung: ele define o arquétipo da salamandra como um simbolo de paz interior, ligando-o a transformação e superação de obstáculos para o caminho da individuação. me desculpa gente é q eu curso psico
VISGO-DO-DIABO: inspirado em harry potter. o visgo representa como ela precisou chegar ao limite de si mesma para conseguir encarar seus verdadeiros sentimentos sobre algumas coisas. é através dele que ela consegue a paz que é simbolizada pela salamandra. 
BICHO PAPÃO: inspirado em harry potter. aparece aqui solto pela floresta. representa o maior medo de sua vida. AVISO: as ações do bicho papão representam o medo da mae e não o personagem em si, portanto nem tudo que aconteceu ali é algo que ele já fez, entretanto levem em consideração que o que foi dito tem um fundo de verdade e por isso o bicho papão se transforma.
INSPO: harry potter e a pedra filosofal, harry potter e o cálice de fogo, caminhos da floresta, jogos vorazes: em chamas & coraline e o mundo secreto.
TRIGGER WARNING: menção a suicido, menção a mutilação, incêndio, violência contra a mulher, abuso psicológico, sufocamento e tortura. 
                                                        task 005
CAPÍTULO 1:  you have to take the journey.
AVISO: o trecho a seguir contém menção a sangue, suicidio e ferimentos, então caso seja sensível a esse conteúdo é melhor não ler. 
O vento uivava do lado de fora da Anilen. As árvores balançavam, dançando alegremente para o bel prazer daquela criatura que as observava, voando pelo céu protegido de Aether. Dentro do dormitório, os olhos azuis de Margaery pouco se atentaram para esse fato. Tomada pela escuridão de seu sono a feiticeira contemplava o mundo dos sonhos ao contrário do seu próprio. Ainda assustada com os últimos acontecimentos, sonhava com o ataque da escola. Mais precisamente com o fogo saindo de sua mão, atingindo a criatura mágica. Era como se o calor machucasse seus dedos, causando um ardor incômodo. Ouvia-se gritar de uma dor que não sabia de onde vinha, mas com Brandon caído no chão suspeitava que o motivo era ele. A voz que ouvia jurava que todos aqueles que ela amava iriam morrer. Internalizou aquelas palavras como se fossem uma maldição, afundando-se ainda mais no medo de perder tudo que tinha. Debatia-se pela cama, derrubando os pertences que residiam no criado mudo ao seu lado.
Quando levantou, sentando-se na cama de supetão, as árvores não passaram de se mexer e nem o vento de cantar. O mundo ao seu redor continuou o mesmo, silencioso como sempre. Surpresa com o fato de o quarto estar inteiro após um pesadelo ou após um sonho profético, Margaery passou a mão pelo rosto. Sem saber muito bem o motivo, levantou-se e passou a fitar a janela. Se suas colegas acordassem, se encontrariam com uma visão um tanto fantasmagórica, onde os olhos da bruxa nem ao menos se mexiam ao olhar para o lado sombrio da floresta. Pensou em mil e uma maneiras de vencer o frio para ir até lá, debruçar-se em alguma clareira, rodopiando com os monstros assombrados. Suas mãos tocaram o vidro da janela, preparadas para abri-la, mas um movimento mais repentino de Olivia a fez acordar de seu transe. O coração bateu rápido, confuso e amedrontado. Com um pulo, Margaery voltou para cama sem nem ao menos se lembrar de ter levantado.
As noites que se seguiram imitaram essa, fazendo com a jovem Pendragon passasse de uma figura imponente nos corredores para um pequeno corpo encolhido e cheio de olheiras. Tola como sempre, julgava que a culpa fosse sua e incapaz de verbalizar sua insegurança para qualquer outro aprendiz, vivia a se martirizar por algo fora de seu controle.
Foi lá, deitada em um dos sofás da Anilen em um horário vago de aula que Margaery decidiu dar um fim em seu tormento. Se estivesse mais deprimida, o parapeito da torre de astronomia seria seu destino, mas estava destinada a não ser esquecida, portanto passou a andar pela sala. Como se os passos significasse decisões, a princesa pensava em maneiras de lidar com os próprios problemas. Suas aulas de feitiço haviam resolvido em parte suas dificuldades em manter o foco, havia se interessado muito por magia negra após alguns eventos e estava mais calma nos últimos dias. A decisão mais saudável era ir até a sala de Merlin, não como filha do rei Arthur, mas como aprendiz com problemas e relatar as vozes que ouvia, mas Margaery possuía ressentimento demais com o diretor e nunca foi boa para expressar seus sentimentos. Como sempre fazia quando estava em dúvida, rumou para a biblioteca.
Cansada, com a vista turva e percebendo que preferia o caminho mais rápido a precisar ler todos os livros do mundo, Mae se recordou de uma coisa pouco convencional: o porão de Aether. Era comentado pelos alunos sobre as assombrações que circundavam pelo local, entretanto a princesa pouco julgava que tais afirmações eram reais e, sem nem ao menos guardar o que tinha pegado da biblioteca, rumou para o quarto. Ao colocar a cabeça no travesseiro, todo o ritual aconteceu novamente: a voz, o sonho, o comportamento hipnótico, o susto por nada, mas dessa vez, ao acordar, não estava tão temerosa quanto antes.
Era de tarde quando a descendente de Arthur rumou decidida para o porão, deixando para trás todo seu medo e confiando única e exclusivamente em si mesma. Deveria ter avisado Brandon? Sim, mas afinal o que o mais velho poderia fazer para impedi-la de realizar sua vontade? Nada. Contentou-se em mandar uma mensagem avisando que ela poderia aparecer morta no porão em algum momento antes de finalmente entrar no local. Sua primeira reação foi tossir. Uma enorme quantidade de pó subiu pelo ar, encharcando suas vestes de sujeiras. Com sua melhor expressão de nojo, Mae limpou um pouco do que pode.
Estar no subsolo de Aether pela primeira vez era no mínimo peculiar. A pouca luz solar que entrava não era suficiente para iluminar todo recinto, portanto a feiticeira conjurou uma luz mágica que a seguia para todos os lugares. Assim que pode dar uma olhada melhor no ambiente que estava notou que não seria nada fácil achar algo capaz de controlar seus poderes. O lugar era extremamente bagunçado. Apesar de não conseguir ver, ela ouvia o barulho de uma espada encantada brigando sozinha, conseguia ver livros jogados no chão, amuletos e varinhas já quebradas pelo tempo paradas e vassouras que varriam sozinhas o chão. Talvez aquela não tivesse sido uma boa ideia no fim das contas.
Margaery andou pelo local, sentou-se no chão, vasculhou os livros, mas foi incapaz de achar algo que a ajudasse. A sensação de estar sendo sempre observada não foi de grande ajuda, pois fez com a feiticeira olhasse por cima dos ombros mais de uma vez para se certificar de que estava sozinha. Infelizmente para os seres humanos capazes de enxergar, os olhos são extremamente traiçoeiros. Se não fosse tão dependente de sua visão, teria notado o barulho incomum dos objetos caindo e ouvido as pequenas risadinhas que antecederam a confusão que estava por vir. Já cansada de procurar por algo que simplesmente não existia, decidiu ir embora. Para não considerar sua viagem perdida, afanou uma pedra preciosa roxa – provavelmente uma ametista – e dirigiu-se para a porta, porém nunca chegou a cruza-la. Com um forte baque, Margaery foi retirada do chão, presa em uma armadilha de corda preta, balançando de um lado para o outro do recinto. O Goblin, que havia finalmente se revelado, dançava embaixo dela, gargalhando.
Apesar do som da risada chegar a seus ouvidos, Mae não podia espiar a pequena criaturinha verde que a cutucava com uma arma. – Você vai ficar aqui pra sempre, pra sempre. – cantarolava o bichinho muito animado com a nova companhia. A feiticeira precisava arrumar um jeito de sair dali, pois apesar de ter avisado o irmão de que poderia morrer lá no porão, sua vontade de ser lembrada como a princesa que foi burra o suficiente para se aventurar pelo subsolo de Aether não era das maiores. Desistiu de tentar se mexer, ignorando as cantorias malucas do Goblin a respeito de como ela iria ficar linda quando estive sobrado só os seus ossinhos. Tentava se recordar de sua aula de Trato de Criaturas Mágicas. Como se adivinhasse as intenções da bruxa, o serzinho começou a cantar mais alto, chacoalhando a armadilha enquanto andava pela sala.
- Cala a boca! Eu não vou morrer aqui! – exclamou enquanto ia de um lado para o outro no ar. De fato poderia sair dali com um feitiço, pois as cordas mágicas não pareciam mais tão resistentes quanto já haviam sido um dia. O problema era que o Goblin continuaria a impedindo de ir embora.
Ele achou divertido a resposta malcriada da feiticeira e riu mais uma vez, algo que irritou profundamente Margaery. Sem pensar estrategicamente, realizou um feitiço de corte que rasgou com dificuldade as cordas. Caiu com tudo no chão, mas para seu grande azar não em cima do seu inimigo. Assustado e maravilhado, ele apontou para ela enquanto dava pequenos pulinhos no lugar. – A princesinha tem magia! A princesinha tem magia! Uhu, que divertido. – e enquanto ela se levantava, ele a atacou.
É importante salientar que apesar do pouco interesse de Margaery pela vida da maioria dos aprendizes, ela realmente se preocupava com as criaturas mágicas. Sua ideia não era atacar o Goblin, porém o corte em sua perna a fez mudar totalmente de ideia. – Seu pestinha! – ele riu, ela atirou uma bola de energia mágica roxa nele, mas ele fugiu. A investida dela contra ele continuou, entretanto não conseguia achá-lo. Era como se a criatura se escondesse de sua visão, aproveitando-se dos objetos confusos que ele tanto conhecia. Muito bem, Mae, arrumou briga com alguém que conhece melhor o campo que você. O que Diana e Brandon iriam dizer?
Enquanto olhava ao redor, com as mãos envolvidas na energia roxa, decidiu tentar fazê-lo se manifestar: - Eu achava que Goblins viviam em bando. Onde está o seu? Foi expulso, é? Eles não gostaram dessa sua cara feia? – e seu plano deu certo ou se o ataque já era premeditado ela não sabia, o que tinha conhecimento era que agora estava caída, sendo arrastada pelo chão sujo do porão e batendo em todos os objetos possíveis. Que o Narrador tivesse pena dela e nunca a deixasse ir para uma batalha!
Depois do que pareceram minutos, ele finalmente parou de puxá-la. A feiticeira sentou-se rapidamente no chão, levando as mãos aos tornozelos e se livrando das novas amarras. Desesperada para fugir, ela nem via que ele estava em cima de uma mesa, segurando um vaso grande, preparado para atirá-lo na cabeça da princesa.
- Ok, okay. – sem nenhuma intenção de desmaiar e ficar a mercê do Goblin, Mae estendeu as mãos em sinal de rendição, deixando que o roxo sumisse. – Viu? Não vou mais te machucar.
A criatura a olhou desconfiada e não vacilou na sua postura. Ainda pensando em suas possibilidades, Margaery se perguntava o que poderia fazer para sair daquela enrascada. Goblins eram uma raça guerreira. Não conseguia compreender o que aquele fazia ali, sozinho no subsolo de Aether. Pouco importava as razões de sua residência, ela precisava atacar ele antes que o vaso fosse arremessado. Recordando-se finalmente de suas aulas, procurou tomates ou sal rapidamente pela sala. Sabia que provavelmente tinha o segundo em sua bolsa encantada, porém nunca seria rápida o suficiente para pegar o saleiro antes que ele a atacasse. A outra informação que possuía era a de que aquela era uma raça muito manipulável, o que não ajudava em nada a feiticeira, afinal Mae era muito mais propensa a brigar, explodindo com seus poderes, do que a conseguir alguma coisa na base da lábia. Ela deixava esse dom para os integrantes da Ralien. – Olhe, eu vou devolver, ta bom? Me desculpe. – abaixou a mão esquerda, colocando-a no bolso do casaco e retirou de lá a pedrinha que havia afanado. Levitou-a até a mesa dele.
- É uma ametista. – confidenciou o Goblin. – Uma bruxa que estudou aqui a usava para melhorar todas as poções que fazia. É encantada, mas não funciona mais. Foi burra de vir aqui pegar ela.
- Eu não vim aqui por ela. – disparou, deixando-o confuso. Notou que os bracinhos verdes abaixaram um pouco o vaso.
- Veio pelo que?
- Queria descobrir uma maneira de controlar meus poderes. – vendo uma ponta de abertura, Mae ajeitou-se no chão, colocando os fios loiros para trás e descansando a mão nas pernas. Odiava se sentir exposta daquela forma, incapaz de utilizar seus feitiços. – Eu estou... Tendo problemas para dormir. Ouvindo vozes. – a criaturinha olhou de relance para a floresta, sentindo um arrepio, mas isso foi não foi notado pela princesa. Ele abaixou ainda mais o vaso. – Pode me ajudar? – se havia alguém que poderia a auxiliar a achar alguma coisa no meio daquela confusão era ele que vivia lá o dia todo. Detestava ter que pedir ajuda, mas deixaria a criatura magia a ver daquela forma se significaria que não iria acabar desmaiada no chão.
- Não! Você invadiu minha cabeça, me roubou e falou que meu bando me abandonou! – recordando-se dos atos da Pendragon ele levantou novamente o vaso. – E ainda me atacou!
-Desculpe, desculpe. Eu não sabia que morava aqui, então não tive intenção de invadir ou de te roubar. Não sabia que um Goblin podia viver sozinho.  Achava que viviam juntos. O que aconteceu? – bancar a princesa prestativa estava sendo fácil demais graças a sua incrível curiosidade para saber o que havia acontecido.
- Eles morrem. Merlin me deixou ficar aqui. – com essa única frase o Goblin tocou o coração de Margaery. Sentiu empatia por ele e relaxou os ombros. Fitava ainda os olhinhos verdes da criatura, procurando algum sinal de tristeza ou fraqueza, mas não a achando.
- Eu sinto muito. Meu pai... Costuma ser bem violento com criaturas mágicas. É horrível. Desculpe. – foi sua primeira fala sincera naquela breve conversa. Odiava as políticas de Arthur, sendo contra todas as manifestações de preconceito que o rei manifestava. - Mas eu, como uma bruxa, não vou te machucar. Você pode jogar esse vaso ai na minha cabeça e eu fico desmaiada aqui o quanto você quiser. Não vou te atacar. Palavra de princesa. – brincou Mae, fazendo uma cruz em cima do coração. O Goblin riu.
- A palavra de uma princesa não significa nada. Ainda mais uma cujo pai mata minha espécie. – é, ele ganhou mais essa. Mae já havia sido amarrada, arrastada e feita de prisioneira, mas o corte do Goblin foi pior que todas aquelas coisas. Odiava ser contrariada.
- Bem, palavra de bruxa então. – refez o sinal, deixando sua energia roxa selar o acordo. Aquilo pareceu ter o feito abaixar novamente a guarda. – Se me ajudar, eu posso vir aqui todo dia antes de escurecer pra te ver. Não vai ficar mais sozinho. – propôs. Ela não tinha de fato a intenção de aparecer ali sempre, mas talvez isso fizesse algum sentido para o pequeno ser esverdeado. Por sorte, fez mesmo e ele finalmente abaixou o vaso.
- Todos os dias?
- Todos os dias. – facilmente manipuláveis. Havia sido mais fácil do que ela imaginava. – Pode me ajudar? – disparou sem temer que sua pergunta levantasse novamente a desconfiança de seu novo aliado.
- Então volte aqui amanhã e eu vou te ajudar. – a voz animada da criatura mágica foi o suficiente para fazer com que a anilena sentisse que havia vencido aquela discussão. Concordou com a proposta dele, levantando-se.
- Até amanhã então. – ainda que estivesse com medo de ser atacada ao virar de costas, Mae tentou não demonstrar nenhuma desconfiança e rumou para fora do porão. A caminhada de volta para a casa da árvore onde residia seu dormitório foi um tanto vergonhosa. Suas vestes pretas estavam sujas de pó e mofo, sua calça estava cortada e um pequeno corte na sua panturrilha era notado, deixando um fio de sangue escorrer pela pele branca de sua perna. Apesar de se sentir derrotada, pensava que havia ganhado toda a discussão e arrumou-se para passar o resto da tarde no quarto com uma calma que normalmente não era sua.
Ao cair da noite, com os olhos já velados e a mente em outro mundo, Margaery ouviu novamente a voz entrando em sua mente, mas dessa vez não via nada além de uma profunda escuridão, consumindo-a de dentro para fora. Diversas palavras eram gritadas, o som de metal batendo contra o metal era ouvido e sua magia roxa se acendeu no meio do sonho, mas foi incapaz de mostrar algum vislumbre do que havia ao redor. Venha até mim. Me deixe te ver. Morte, sangue. A morte de todos aqueles que te que amam. Venha até a floresta. Desperta de forma mais tranquila, reproduziu como sempre o ritual de ir até a janela avistar a dança das árvores na madrugada. Dessa vez uma sombra de traços humanos a observava de volta. O olhar entre a princesa e a criatura foi mantido por muito tempo, sendo desfeito apenas com a chegada do amanhecer. Um toque gentil e curioso foi responsável por trazer a feiticeira de volta para sua realidade.
Confusa, assustada e tentando se recordar do sono da noite anterior, Mae passou um bom tempo ainda deitada na cama. O sentimento de angústia que sentia era gritante, deixando-a desanimada para enfrentar qualquer coisa naquele dia, porém a camelotiana levantou-se com muita dificuldade, vestiu-se e desceu novamente ao porão do Instituto.
Dessa vez não houve nenhuma surpresa quanto à sujeira e desorganização. O Goblin a esperava sentado em cima de uma estante de livros, balançando as pernas esverdeadas para trás e para frente. Muito mais animado do que ela, ele saltou para o chão. – Eu sou Skon. – apresentou-se, esticando a mão direita para ela. Margaery abaixou-se, tentando ficar na altura dele e aceitou o cumprimento.
- Margaery. - a ânsia em sua voz pela ajuda era nítida, mas não foi o suficiente para fazer com que Skon a entregasse as respostas logo. Ao contrário disso, o goblin pediu que a bruxa realizasse uma série de coisas. Não podendo ameaçar a nova e frágil relação, Mae obedeceu fingindo estar de bom grado.
No final da tarde ela já havia mudado armários de lugar, limpado um caldeirão velho que insistia em se sujar de novo e tentado desenfeitiçar uma cadeira dançante, mas o esverdeado nada disse. Não ofereceu nenhuma informação ou auxílio por mais que a princesa pedisse. Ao dar seis horas, ele se despediu dela e sumiu por entre as tralhas. Não precisou muito para que a Pendragon compreendesse que estava sendo enganada. Sua fúria foi responsável pela levitação de alguns objetos, porém temendo que ele pudesse se irritar com sua bagunça ela resolveu ir embora. Seria inútil o procurar naquele dia.
Na tarde seguinte, Mae voltou. Sua postura já não era tão receptiva, algo que o goblin não deixou de perceber. Achando tudo aquilo muito divertido, os pedidos da pequena criaturinha mágica foram maiores: queimar um armário, tentar fazer uma varinha voltar a funcionar, experimenta uma vassoura pra ver se ela ainda sabia voar em linha reta e lidar com os livros temperamentais de magia. Novamente antes que Margaery pudesse se queixar a criatura sumiu, deixando-a sozinha com sua raiva.
Ao voltar para o dormitório, afirmou para si mesma que não desceria para o ver novamente. Claramente estava sendo feita de tola, algo que ela não precisava, pois já se sentia mal o suficiente ouvindo as profecias sobre sua família. Entretanto, o chamado da madrugada foi mais forte. Se na noite anterior havia ficado apenas olhando a sombra preta na beira da floresta, dessa vez Mae havia investido em ir atrás daquilo que a procurava. Abriu a janela com as duas mãos, sentou-se no parapeito e pulou, levitando-se até que seus pés descalços tocaram o chão. Se estivesse com plena consciência de suas ações nunca conseguia ter feito uma levitação em si própria tão reta, coesa e certeira, mas sua mente parecia voar para longe, focada apenas na voz que a induzia a ir para a floresta. Sem sentir frio ou medo, a bruxa andou por alguns segundos, seguindo o monstro preto. O caminho, entretanto, não foi concluído. Com um grito de dor ela acordou, caindo no chão. A sola de seu pé sangrava e não foi preciso uma busca muito rápida pra ela ver que o responsável havia sido um graveto ridiculamente afiado. Levou a destra até o machucado, mentalizando um feitiço de cura. Assistiu sua pele se colando novamente como se estivesse sendo costurada por uma linha invisível e foi só a após a dor ter passado que a feiticeira pode notar onde estava.
A clareira era inconfundível. Foi ali que ela havia tentado o feitiço de Morgana para salvar Aether e foi ali também que ela falhou, nunca mais voltando ao local depois de ter quase morrido. O vento frio parecia cortar suas bochechas, jogando seu cabelo para trás. Abraçou o próprio tronco assim que se levantou. O medo de estar perdendo o controle de si mesma foi tão grande que fez lágrimas escorrem pelo rosto delicado da princesa enquanto ela voltava para o seu dormitório.
A tristeza que havia sentido na madrugada foi substituída pela raiva. Marchou até o porão furiosa. Abriu a porta para avistar o goblin lendo algum livro sobre a arte da guerra. Ao contrário do que era de se esperar, ele não se assustou com sua fúria. – Você está mentindo pra mim! Eu não sou uma empregada ou um elfo doméstico! Não tenho que ficar te obedecendo. Eu vim aqui em busca de ajuda e você me enganou! Mentiu pra mim e me usou pelos meus poderes! – com os olhos verdes já retirados das páginas do livro, Skon sorriu para Margaery, indo em sua direção.
- Não tem nada aqui que possa te ajudar. – irritada, Mae respirou fundo e segurou a vontade de jogá-lo para longe. – Você já sabe o que tem que fazer, aonde tem que ir. Acho até que foi lá ontem a noite. – a feiticeira cerrou os dentes, orgulhosa demais para concordar com ele.
- Eu não posso ir pra floresta. É proibido. O Merlin colocou a gente nessa droga de vidro porque alguma coisa está acontecendo.
- Mas está te chamando, não está? Eu posso ver nos seus olhinhos azuis de menininha assustada que está. – para isso a garota ficou em silêncio, desviando o olhar dele para evitar mais revelações. - Não é só com você. Alguma coisa está lá fora, esperando. – com essa frase dita, Mae sentiu um calafrio. Era possível que não fosse ela a culpada de suas maluquices noturnas?
- Por que está me dizendo isso?
- Você me devolveu minha pedra.  Me ajudou nos últimos dias. Prometeu vir me ver.
- Então deveria me ajudar, não me mandar pra morte certa.
- Nem sempre a ajuda é o que a gente quer princesa-bruxa. – o tom de voz empregado por ele era de superioridade, quase como se achasse graça na inocência da anilena de ter acreditado nele por um segundo.
Frustrada com sua ideia de resolver tudo rápido ter sido jogada fora, Mae deu meia volta e saiu do porão. Ouviu um “até mais tarde” sendo gritado, entretanto sua resposta foi apenas fechar a porta com muita força. Passou o resto do dia na biblioteca lendo sobre criaturas que controlavam o sono, poções para dormir sem sonhar e sobre as dez maneiras mais simples de se vingar de criaturas mágicas quando finalmente desistiu de ser produtiva.
A noite continuou calada como sempre, mas os olhos de Margaery se recusava a fechar. Temia ter algum sonho, temia acordar novamente no meio de algum lugar perigoso e se recusava a dormir. Via a respiração tranquila de suas colegas de quarto, invejando-as por um breve momento, pois logo sua atenção foi novamente para a voz que tomou conta de sua mente. Venha até mim. Me deixe te ver. Morte, sangue. A morte de todos aqueles que te que amam. Venha até a floresta. Dessa vez acordada, sua resposta foi outra. Se arrepiou por completo, sentindo calafrios até nas partes cobertas de seu corpo e fechou os olhos, como se temesse ver o dono daquela voz na sua frente. Apesar de não enxergar mais nada, ainda ouvia. A voz entrava dentro de si, tomando-a por dentro, consumindo-a. Sentiu um medo que nunca havia sentido antes. Mas percebeu, com certo grau de alívio, que se ouvia aquilo mesmo desperta, não era culpa sua e de seus dons irregulares. O alívio logo foi substituído por medo. Se não era loucura sua, então era uma ameaça real. Seus amigos iriam morrer.
Pulou da cama no mesmo momento que as palavras sumiram de sua mente. Vestiu-se com um grosso casaco preto e com sua bolsa encantada transpassada pelo corpo. Ir pelos caminhos convencionais estava fora de cogitação. Não queria ser pega por monitores e ouvir sermões enormes de professores, portanto abriu a janela do quarto mais uma vez. Nessa noite, olhou para a grama verde com medo de se machucar caso seu feitiço desse errado, mas arriscou da mesma forma. A levitação pouco foi graciosa, fazendo-a cair de cara na terra úmida da madrugada. Ótimo, pensou Margaery, ótimo jeito de começar.
O caminho até a clareira foi rápido, conhecido e sem grandes surpresas, porém quando foi finalmente adentrar na parte desconhecida da floresta o ar dos pulmões de Mae ficaram presos. Não era a melhor garota para sentir medo, sempre vacilando quando o sentimento se manifestava. Seu irmão valia mesmo aquilo? Seus amigos? Seus pais? Se Brandon morresse, ela finalmente seria rainha. Tombou a cabeça para os lados em dúvida. Talvez a criatura tivesse sentindo sua resistência porque a voz afiada voltou a sua mente, chamando-a. Era nítido que entrava em uma armadilha. Se realmente fosse capaz de brigar com o monstro e vencer, ele não a chamaria. Que ideia completamente ridícula a de se colocar em perigo para salvar a pele de outras pessoas! Ainda resistente, Mae girou no lugar, andou de um lado para o outro, xingou o Narrador, mas se deu por vencida e começou a caminhar.
- Feraverto. – com o feitiço sendo conjurado, a bruxa sentiu suas morcegas ganhando vida, saindo de onde quer que estivessem, escalando-a até seus ombros e se lançando no ar. Onyx ficou grudada a ela, recusando-se a voar junto com as irmãs, entretanto os olhos negros dela não olhavam para sua dona, mas sim para a escuridão da floresta a sua frente. – Me avise se tiver algo perigoso, ok? – a conexão psíquica de Mae com suas familiares era forte, bastante conveniente para os momentos que ela não fazia ideia do que iria acontecer.
Os únicos barulhos que conseguia ouvir eram os de suas botas quebrando galhos enquanto pisavam no chão e as asas de suas morcegas voando acima de sua cabeça.O silêncio começou a deixar desesperada e mais amedrontada. Suas mãos batiam freneticamente nas pernas e, ainda que o tecido escuro e grosso de sua calça a protegesse, ela podia sentir o gelo de seus dedos. Ao longe ouviu um grito profundamente incômodo. Um daqueles gritos que pareciam vir de dentro da alma. Olhou ao redor, não procurando alguém para ajudar, mas para se atender ao motivo daquela reação. – Tem alguém ai? O que aconteceu? O que você viu? – gritava Mae, mas ninguém foi capaz de respondê-la. Ter o vazio como resposta não havia sido reconforte.
Misturando o silêncio e frio, Margaery sentia como se tudo tivesse parado. Nada ali aconteceria ou estava acontecendo. O vento balançava seus fios loiros, jogando-os para todas as direções, enquanto a princesa focava seus olhos azuis em dois pontos brilhantes que havia chamado sua atenção no meio da floresta. Andava devagar, concentrada e hipnotizada pela luz cintilante que vinha do meio da mata. Era incapaz de pensar melhor em sua ação, movendo-se única e exclusivamente graças a sua curiosidade em compreender o que é que estava a encarando. A cabeça pendia ora esquerda e ora para direita, na tentativa de acompanhar o movimento que o par de olhos fazia. Como se estivesse em câmera lenta, Mae começou a ver a criatura com mais precisão, assustando-se ao avistar uma enorme garra e dentes afiados que logo pulariam em sua direção. O coração disparado a fez dar passos para trás no momento em que um jato de fogo acertou a árvore na sua esquerda, fazendo-a queimar. Ao olhar novamente para o arbusto, não via nada além da escuridão.
CAPÍTULO 2: burn, mae, burn.
AVISO: neste capítulo há a presença de fogo e relatos de incêndio, então se é sensível a esses conteúdos é melhor pular. 
Com aquilo que a distraia já longe, Margaery pode ver a salamandra alaranjada que a cercava em posição de ataque. Um turbilhão de pensamentos passou por sua mente, mas ela foi incapaz de reagir em um primeiro momento, portanto Onyx voou de seu ombro e as outras quatro desceram do céu, liberando sua fúria na criatura mágica que a ameaçava a anilena. O confronto que se dava a sua frente a confundia, pois tudo acontecia muito rápido para que ela pudesse compreender com precisão, entretanto não tardou para que notasse que precisava se levantar. A reação veio após quase ser acertada por uma bola de fogo que passou raspando por sua cabeça. Mae se colocou de pé, andando ao lado da batalha, pensando em como iria lidar com aquela situação.
Salamandras eram criaturas feitas pelo fogo, consideradas divindades e uma das mais poderosas criaturas elementais de toda Mitica. Podiam mudar de tamanho caso precisassem e são, acima de tudo, espíritos muito travessos. A única coisa que Margaery conseguia pensar era que precisava de uma quantidade muito significativa de água para apagar o fogo daquele animal. Olhou para o céu, implorando para que chovesse, mas a ausência de nuvem demonstrava que ela teria que lidar com aquilo sozinha.
Uma de suas grandes dificuldades era feitiços que tinham como fundo elementos da natureza. Não era atoa que seu descontrole se manifestava com a levitação de objetos e o vento confuso e também não havia sido obra do Narrador seu descontrole nos jogos ao ter conjurado aquele fogo. Margaery não sabia como controlar coisas são incontroláveis e, sendo assim, fugia daquele tipo de feitiço sempre que podia. Porém, não havia outra forma de lidar com a criatura que machucava suas morcegas. Deixou que a magia se manifestasse nas mãos, pensando no feitiço – galeus zipuctus – que logo fez com que o ar ao seu redor criasse vida, girando em torno dela e atacando a medida que a feiticeira indicou com a destra o inimigo. A rajada de vento fez suas morcegas subirem no céu, fugindo do feitiço e da possibilidade de voarem para longe de sua dona, entretanto a salamandra teve seu fogo apagado por alguns momentos antes de reacender mais forte do que antes. Com a atenção chamada para si, não teve como a princesa fugir da investida da criatura, que logo tratou de atacá-la com uma grande quantidade de fogo. Para se defender, Margaery criou um escudo roxo, cercando parte de seu corpo.
Os ataques continuaram com a salamandra atirando uma vez atrás da outra, sem dar descanso para os braços postos da anilena que mantinham o escudo em pé. O ar já ficava quente ao seu redor e ela já era capaz de sentir o suor escorrendo por sua face. Precisava descobrir um jeito melhor de lidar com aquilo. Esticou os braços, fazendo o escudo explodir, deixando uma fumaça roxa em seu lugar. Aproveitando a distração, Margaery correu para o outro canto da clareira, escondendo-se atrás de uma árvore. O animal começou a rodar, a procura de seu alvo e provavelmente sentindo o cheiro da carne humana. A medida que procurava, novos ataques de fogo eram lançados.
A princesa bateu a cabeça algumas vezes na árvore, pensando que a melhor maneira de lidar com aquilo era usando um feitiço de água para apagar o animal, entretanto quanto maior o elemento conjurado, menos controle Mae possuía sobre ele. Conseguiria lidar com um pequeno jato de água, mas era incapaz de conduzir uma onda para cima da salamandra. Atacá-la com uma quantidade mínima de água não parecia muito seguro, entretanto era a única possibilidade de Pendragon. Deixou novamente que suas mãos manifestassem a magia, pensando no feitiço enquanto saia de seu esconderijo. A salamandra estava de costas, incendiando outra árvore quando à água saiu das mãos da feiticeira, alcançando as costas do animal. Com um grito, a criatura não se apagou, mas diminuiu. Ao ser atingida, virou-se com tudo para sua nova oponente. Antes de se permitir ficar feliz com o feitiço, Mae jogou novamente a água na criatura, tentando manter sua posição o máximo possível. A tarefa não se mostrou fácil, pois o feitiço demandava muita concentração da anilena que, depois de alguns segundos, o soltou. A salamandra estava ainda menor, todavia ainda temendo um ataque, Mae saltou rapidamente para o lado, desviando de uma bola de fogo. Por muito pouco não caiu novamente no chão. Notou que ela tentava crescer novamente, o que fez com que a Pendragon desistisse da ideia de se recuperar e a atacasse. Dessa vez segurou o feitiço até sentir suas pernas tremendo, desejando ir de encontro ao chão e, quando finalmente soltou, debruçando-se sobre a mata, Mae pode ver que o tamanho dela já era igual de um de seus morcegos.
Com o fôlego já recuperado ela pode ir até o pequeno animal que corria de um lado para o outro, jogando pequenas bolinhas de fogo nos gravetos. Conseguiu a encurralar em uma pedra, abaixando-se para poder observá-la mais de perto. Ali, daquele pequeno tamanho, ela não se mostrava nem um pouco assustadora. Conseguiu notar com mais calma as escamas vermelhas e douradas, com pequenos toques de laranja e os olhos negros curiosos, mas já amedrontados. Onyx voltou a seu ombro, observando com raiva a pequena oponente, e as demais morcegas pousaram ao seu redor, seguindo o comportamento de sua líder. A pequena salamandra se encolheu, escondendo-se nos matos e sumindo de vista.
Antes de dar continuidade a sua caminhada, Margaery sentou-se em uma pedra e inspecionou cada uma de suas familiares, garantindo a segurança delas. Morgana e Ametista tinham pequenas queimaduras nas asas, fazendo com que voassem mais devagar e com dificuldade. Por esse fato, Mae voltou a transfigura-las, prendendo-as no próprio corpo. As outras três não apresentavam nenhum problema. Assim que garantiu a segurança delas passou a lidar com o incêndio causado pela criatura mágica. Após uma hora conseguiu conter quase todo o estrago. 
A meia noite já devia ter chegado quando voltou a andar, com seus bichos voando na sua frente. Uma pequena parte sua se sentia feliz com o embate contra a salamandra, agradecendo por ter conseguido vencê-la mesmo com medo. Apesar do pequeno feito, sua atuação ali havia sido algo novo. Margaery não era uma garota de lutas, deixando esse posto para seu irmão mais velho. Mantinha-se distante, focada em seus livros de magia e treinamento de feitiços. Até o incidente com os ogros não havia estado de fato em uma batalha. Perder o controle no final, pouco antes de Merlin aparecer, havia a deixado extremamente chateada e se sentia culpada por todo o mal que havia causado. Sendo assim, conseguir vencer uma criatura tão incrível como uma salamandra e sozinha pela primeira vez havia sido um grande feito para a princesa. Enquanto um lado seu brilhava de animação, o outro temia pelas inseguranças que a floresta apresentava. Estava mais do que claro que havia algo de estranho ali dentro, esperando que os aprendizes se machucassem ou até mesmo morressem. Para a escuridão que aumentava cada vez mais, Mae conjurou uma pequena bolinha de luz que passou a acompanhar.
Havia ouvido uma vez que bruxas não deveriam temer a floresta, pois deveriam saber que eram a coisa mais perigosa que circulava por lá. A anilena gostaria de acreditar nessa frase, mas não se considerava capaz de colocar medo em ninguém que não fosse ela própria. Sua ambição era se tornar o tipo de feiticeira que faz as pessoas tremerem de medo apenas por ter seu nome mencionado, entretanto ainda estava muito longe dessa realidade. Acreditava fortemente que era odiada em sua terra natal, vítima dos preconceitos que seu avô, Uther Pendragon, havia proferido contra magos anos atrás. Quando nasceu, Mae havia trazido ambiguidade para o reino. Os antigos temeram seu parto feito na noite chuvosa, afirmando se tratar de algum mau agouro, mas as mulheres de Camelot suspiraram aliviadas, esperançosas em um futuro mais digno. O problema foi à pressão colocada em seu nascimento e a decepção depois de todos ao descobrir seus dons para magia. Arthur e Gwen já haviam perdido um filho antes de Mae, portanto esperavam ansiosos a chegada do próximo herdeiro. O rei de fato a amou por algum tempo, mas se mostrou incapaz de manter o carinho ao sentir a feitiçaria da filha. Junto com o amor dele, o amor do povo de Camelot se foi. Por mais que Arthur fingisse que tudo estava bem para garantir a segurança do reino, sua tentativa de nada valia se os próprios habitantes não confiavam nela. Retomando a frase mentalmente, Mae não entendia porque temiam tanto ela. Uma jovem bruxa, sem controle algum não deveria ser capaz de trazer muitos problemas.
Andava distraída demais para alguém que havia acabado de ser atacada, mas havia algo naquele silêncio e naquela imensidão que a faziam pensar. Infelizmente, sua reflexão não durou muito. Seu pé esquerdo, ao se mexer para dar o próximo passo, se prendeu em um galho e a fez cair no chão. O tombo não seria um problema – e nem o primeiro daquela noite – se não fosse pelas raízes fortes que passaram a se enrolar nas pernas e nos braços da princesa. Seus morcegos logo atacaram, mas as investidas não funcionaram.
CAPÍTULO 3: welcome to the inner workings of my mind.
AVISO: se você chegou nessa parte já tem meu amor todinho! esse aqui tem a presença de sufocamento, menção a mutilação e idealização suicida. 
Com uma das mãos ainda livres, Margaery tentava atacar o que quer que estivesse a atacando, entretanto seus poderes se mostraram ineficientes contra as raízes que se enrolavam em seu corpo. Era incomum que suas morcegas gritassem, entretanto o barulho dos animais desesperados por ver sua dona sofrer era a única coisa capaz de se ouvir na calada da noite. A luz que conjurou havia sido apagada no momento de seu tombo, portanto além do silêncio ela encarava a escuridão.
Ela dependia totalmente de seus poderes para se livrar de qualquer situação e, ao ver que eles eram inúteis, entrou em desespero. Debatia-se com força, ficando cada vez mais presa nas raízes, gritava assustada por uma ajuda que ela sabia que seria incapaz de vir. As lágrimas saiam rapidamente de seus olhos, demonstrando a fragilidade e o medo que a bruxa sentia. Seu corpo começou a se cansar rapidamente das investidas, mas também começou a formigar nas partes em que o sangue já parava de circular. Sentindo-se traída por si mesma, Margaery tentou pela última vez se mexer e, ao ter sua tentativa frustrada novamente, gritou o mais alto que pode, liberando com o som uma forte rajada de energia mágica roxa que foi capaz de balançar algumas árvores, entretanto as raízes que a sufocavam estavam tão fortes quanto antes e já chegavam ao seu pescoço.
A falta de ar começou a embaralhar sua visão, deixando-a apenas com a própria mente para auxiliá-la. Uma pena que a cabeça de Mae fosse tão bagunçada e cruel, pois ao invés de pensar em soluções para sua situação, ela se xingava das coisas mais horríveis possíveis. Não era como os xingamentos ruins do dia a dia onde se sentia tola por perder uma caneta ou por falar demais quando não devia. O que circulava pelos pensamentos da Pendragon era uma amostra real de sua insegurança. Sentia-se descartável, inútil, sem nenhum futuro. O que ela esperava ao ter entrado naquela parte da floresta? Sentia-se com raiva de si própria, podendo se machucar se tivesse livre para poder descontar sua fúria. Conseguia até mesmo visualizar seu sangue escorrendo de seus pulsos, indo parar no chão do banheiro de Aether. Apesar de nunca ter feito tal ação, já havia sentido vontade. Às vezes Mae pensava que seria melhor se ela simplesmente não existisse, pois assim a família real de Camelot seria perfeita. Ela poderia ser substituída por qualquer outro descendente com qualquer outra personalidade. Seria melhor para todo mundo que a princesa simplesmente parasse de se debater, deixando que as raízes grossas do Visgo do Diabo se enrolasse em seu pescoço até que ele se quebrasse.
E foi exatamente isso que ela fez. Ao dar calma pra seus pensamentos infundados e ao relaxar o corpo, passou a entrar em contatos com sentimentos que ela fugia desde sempre. Algumas pessoas dizem que na hora de sua morte você vê um pequeno resumo de sua vida, mas o que a jovem garota viu não foi nada disso. Sentiu cada raiva guardada, cada sofrimento escondido, cada feitiço não conjurado. Viu o rosto de Arthur e de Guinevere, avistou seu irmão lutando e o quadro de seu avô pendurado no corredor principal de seu castelo. A cada nova imagem sua raiva aumentava, fazendo seu corpo todo tremer – o que podia ser o último sinal de sua última respiração – em puro ódio. Ela nunca havia feito nada para nenhum deles e, mesmo assim, continuava sendo tratada de forma péssima, como se fosse a escória da própria família. O que ela havia feito de tão ruim para que Arthur falasse tão mal dela? Para que Guivenere não a defendesse? Para que Brandon fosse tão melhor do que ela em tudo? Seus comportamentos tinham como base apenas a vontade incontrolável de chamar a atenção de seus progenitores, implorando por um amor e atenção que nunca vinham. Ali, pertinho do final de sua vida, Mae percebeu que não valia de absolutamente nada o amor deles dois e finalmente se sentiu em paz.
Com seu novo estado de espírito, uma parte do visgo se soltou, confusa com o novo comportamento de sua vítima. Ainda sem muita noção do que acontecia, mas sentindo uma parte de si livre, Margaery tentou abrir os olhos. Ficando cada vez mais solta ela viu a possibilidade de se livrar daquela situação se ficasse quieta o suficiente para que ele a deixasse. As raízes foram se afastando aos poucos até que a destra da feiticeira finalmente se viu livre e, com o resto de suas forças, a Pendragon conjurou novamente a pequena luz solar que a guiava minutos atrás. Com o menor contato com a luminosidade, o visgo se afastou rapidamente, retornando para a parte mais úmida da floresta. Viva, Mae sentou-se rapidamente, fugindo do local de onde estava e se sentou na grama, encostando-se num tronco caído. Sua garganta doida e suas narinas ardiam com o novo ar que entrava. Apesar de acordada, não demorou muito para que a feiticeira tombasse a cabeça para o lado e apagasse.
CAPÍTULO 4: margaery would dance with her ghosts.
AVISO: se você chegou até aqui está de parabéns porque isso está enorme! obrigada pela paciência viu? neste capítulo temos menção a sangue, insanidade e tortura. 
Os olhos de Mae voltaram a se abrir quando sentiu uma forte mordida em sua orelha. Onyx a mordiscava preocupada. Ainda que desperta, Margaery não entendia muito bem onde estava e nem o que estava fazendo. Tentou se levar, mas seu corpo todo reclamou de dor. Levantou a manga de seu casaco somente para poder ver marcas roxas em sua pele. Estava machucada. Fisicamente machucada pela primeira vez em anos. Ver os hematomas a trouxeram de volta para a realidade. Vozes, visgo do diabo, floresta durante a madrugada.
Sempre havia se sentindo exatamente ao contrário de como estava: com o interior fraco, quebrado, mas o exterior forte, intacto devido a sua autopreservação. Entretanto, enquanto se levantava com o auxílio do tronco da árvore que havia sido seu travesseiro, Mae sentia muito mais dores nos braços do que no coração, o que era algo completamente novo. Decidiu ir embora, pois já havia esgotado mais do que deveria naquela madrugada. Olhou ao redor, procurando qualquer sinal de onde deveria ir ou para onde o castelo ficava, entretanto nada parecia capaz de indicar o caminho correto. Olhou para Onyx e para as outras duas que estavam apoiadas em seu corpo procurando uma força que elas com certeza deram. Voltou a caminhar.
O caminho continuou escuro, sendo iluminado apenas pela luz conjurada que ainda a seguia, mas pareceu mais simples dessa vez já que ela já não se perguntava o que tanto fazia ali. Iria embora, estava certa disso. Deveria haver outras formas de ajudar seus amigos que não fosse aquela. Lutaria ao lado deles se fosse preciso, mas precisava sair de lá o mais rápido possível. Pouco conhecida por suas habilidades sociais, Mae se assombrou ao ver outra pessoa em seu caminho, mas após os ataques ela correu esperançosa para o corpo feminino que a aguardava. O toque no ombro foi respondido de imediato, fazendo com que a garota virasse para ela e a encarasse com os olhos azuis marcantes. Margaery a analisou por algum tempo, confusa com o que via a sua frente. A única diferença entre ela e o corpo que tocava eram as cores do cabelo. – Isso é impossível. – sussurrou a Pendragon verdadeira antes de ser arremessada para longe, batendo as costas no chão.
O barulho do bater de asas de seus morcegos não era a única coisa que ela ouvia, pois o som dos feitiços conjurados da outra Mae passou a chegar a seus ouvidos. Os familiares avançaram contra ela, porém foram interrompidos em seu ataque pela outra versão deles mesmo e passaram a travar uma batalha nos céus. Ainda sentia o corpo dolorido graças ao visgo-do-diabo e o cansaço apenas piorou ao cair de costas na grama folheada de galhos. Levantou-se com dificuldade, deixando que a luz roxa tomasse suas mãos. Ao olhar para sua própria versão, ela também a encarava demonstrando sua magia, entretanto sua manifestação parecia muito maior. Havia um toque de loucura em seus movimentos, algo que fazia a Pendragon sentir uma vontade gritante de poder sair dali para chorar. Não tinha certeza se sua versão encantada de fato conjurava feitiços ou se apenas tentava a enganar, pois era incapaz de compreender o que ela tanto repetia. Temendo ataca-la, Mae ficou quieta, andando pela clareira.
- Tão fraca. – ouvir sua própria voz fez seu corpo todo se arrepiar. – Esperando ajuda, esperando amor. Coitada da Mae, sempre esperando e esperando. Patética, ridícula! – gritou a outra Margaery, fazendo os olhos tomados pela magia roxa cintilarem. – Medrosa.
- Eu não tenho medo de você. – respondeu incerta enquanto parava no lugar.
- Medrosa, boba, nojenta. – os xingamentos continuavam, fazendo a fúria da Pendragon crescer ainda mais. Era como se sua outra versão tivesse sentindo a raiva nascendo, pois atacou no exato momento em que Mae se deu conta de sua ira latente. Um milhão de lanças foram jogadas em sua direção. O escudo novamente foi um aliado da anilena, porém uma das facas escaparam de sua proteção, cortando o casaco preto e marcando sua pele de sangue.
- Por que não vai chorar pro papai? Pai! Pai! Pequena Mae está machucada! Ela não consegue se defender sozinha! Ela precisa de ajuda! – a garota colocou a mão na boca, fazendo uma concha, deixando o som mais alto enquanto circulava pela floresta. – Oh, eu esqueci. Ele odeia a gente. – foi a vez de Margaery atacar, fazendo-a levitar e largando-a ao ouvir o barulho de suas costas batendo contra uma pedra. Esperava alguma manifestação de dor, porém o silêncio foi cortado pela risada dela. – Você só sabe fazer esse feitiço? O mesmo de sempre o tempo todo. Eu nunca vi uma bruxa tão fraca. – demonstrando totalmente sua loucura, a outra Mae levou a mão a seu corpo ensanguentado e depois levou o líquido aos lábios antes de se levantar.
O raciocínio de Mae estava abalado com a visão de si mesma andando a sua frente, machucada, rindo alto e lançando rajadas fortes de magia negra. Demorou um pouco para que ela notasse que as coisas ao redor da sua versão encantada flutuavam no ar.  – Está com medo? Esse é o seu problema? De virar alguém igual a mim? Melhor que você, mais poderosa que você.
- Você não consegue nem ao menos controlar o seus poderes. – pontuou.
- Cala a boca. Isso não é descontrole, é poder.
- É poder, mas você não consegue controlar. Tadinha faltou algumas aulas, não foi? – provocou Mae, sentindo que não demoraria muito mais para o descontrole desse lugar a ira. – Ou desistiu de ser boa mesmo porque viu que nada nunca vai superar o quão ruim você é? – fazer essa pergunta doeu no próprio coração, mas cumpriu seu propósito. A outra Mae voou para cima dela, totalmente controlada pela cor roxa de seus poderes. O choque dos dois corpos fez com que a pele da Margaery verdadeira queimasse. Sua versão encantada ria alto em seu ouvido. Irritada com o comportamento dela, Mae começou a conjurar mentalmente todos os feitiços de ataque que conseguia. A medida que a atacava a cor dos cabelos dela mudava, voltando a se tornar loira, mas a voz maníaca e divertida com seu sofrimento continuava saindo.
- Vai! Isso! Agora corta a perna! Usa aquele feitiço de queimação! – implorava ela, ficando completamente imóvel a medida que Mae levanta-se, golpeando-a com todos os feitiços que se recordava. Em sua mente, lançou um feitiço de dor e o grito alto da outra feiticeira tomou conta da floresta, tão agonizante quanto o que ela ouviu horas antes. Havia algo no fato de ser ela própria ali, gritando de dor, que trazia uma pequena pontada de prazer para a bruxa. Era como se finalmente colocasse para fora toda a raiva que já havia sentido de si mesma, matando as partes que mais odiava na própria personalidade e destruindo aquela sua versão futura.
Com lágrimas nos olhos, a outra Mae disse: - Eles sempre vão ter medo de você.
- Eu não posso controlar o medo deles. Eu posso controlar o meu. – ergueu a mão direita, preparada para usar seu feitiço mais forte e desmaiar ali mesmo quando a outra virou uma fumaça preta, escapando do chão e voando por cima dela. Enquanto seguia a nuvem preta pelo céu, notou o estranho formato de um dragão, entretanto ao virar-se para encará-la novamente se deparou com um par de olhos diferentes.
- Pai?
CAPÍTULO 5: i’ve got a list of names.
AVISO: finalmente o final. será que ouviu um amém? nesse aqui temos menção a morte, muita insegurança, abuso psicológico e violência contra a mulher. caso seja sensível a esses conteúdos é melhor não ler, ta?
Arthur Pendragon andava em direção à filha cujas mãos já estavam abaixadas ao lado do corpo, mortas e sem vida. Os morcegos, confusos com a nova liberdade, mas machucados da antiga batalha pousaram em uma arvore ao lado de Mae. O rei mantinha excalibur longe das mãos, algo que foi observado por Margaery, mas era possível que o pai estivesse realmente ali. Aquela era a arma de Brandon, não a dele. O pai parou a poucos centímetros dela, permitindo que ela sentisse seu cheiro de cobre, notasse as cores vermelho e dourado em sua roupa, reconhecesse o brasão dos Pendragon em seu braço direito e, acima de tudo, olhasse para os olhos azuis penetrantes de seu progenitor.
A mão do pai foi levantada para poder descer diretamente para o rosto da garota. – Sua ingrata. Eu fiz tudo por você. Eu te amei mais do que tudo e é desse jeito que me agradece? O que eu fiz pra merecer uma filha como você?
Com a mão direita no rosto, Mae sentiu as lágrimas voltando a rolar. Seu coração batia mais rápido, assustando-se muito mais com a presença do rei de Camelot do que com qualquer outra criatura que ela havia enfrentado naquela madrugada. – E-Eu não fiz nada. – gaguejou a jovem, dando passos para trás. O mais velho continuou a vir em sua direção, demonstrando uma ira controlada.
- Você tem que entender, Margaery. Eu te amo mais do que tudo. Por isso é que quero que seja melhor. Você poderia ser diferente, poderia ser como todas as outras princesas se só seguisse o que eu te falo, mas você tem que ser tão... Fraca. Tem que demonstrar com tanta lealdade sua feitiçaria. – a última frase foi dita com um claro nojo. Seu pai parou de andar, colocando a mão sobre excalibur e passou a contemplar o céu.
- Pai, eu... Eu não tenho como mudar o que eu sou. Eu não sei por que eu nasci desse jeito. Me desculpe, me desculpa. Eu nunca quis... – outro tapa foi o suficiente para calá-la.
- Nunca quis? – ele gritou encarando-a. – Tudo que você faz é pra me machucar, tudo que você faz é pra ser contra mim. Eu que te dei tudo! Você não seria nada se não fosse por mim, ouviu? Eu sou o rei, eu te dou um lar, eu te dei um irmão, eu te dei uma casa. Sem mim você seria só mais uma bruxa jogada pelos reinos passando fome. Você deveria me agradecer ao invés de ficar agindo desse jeito! Você me envergonha. Eu queria que você tivesse morrido.
Com a última frase sendo dita, Margaery passou a chorar desesperadamente, sentindo o corpo todo tremer. Na falha tentativa de fugir do monstro que a assombrava, a feiticeira ergueu a mão a procura de se defender, mas o Pendragon foi mais rápido. Sacou excalibur, apontando-a para o pescoço da filha. A garota recuou, passando a andar para trás até que bateu as costas em uma árvore. – Você ia me atacar? – ele perguntou. – Seu sou seu pai! Você não pode me atacar! Sua bruxa ridícula e nojenta! – ele gritou. Debulhando-se em lagrimas, Mae escorregou pelo tronco até o chão. O mais velho continuava gritando insultos. Ele dizia como ela era uma vergonha, uma péssima filha, como provavelmente era fruto de um caso de Guinevere, como Uther teria a queimado na fogueira se pudesse. Os gritos aumentavam, entrando na mente da jovem Pendragon que tapou os ouvidos com a mão.
O choro foi alto e mesclado com os soluços que ela não conseguia guardar na garganta. Ouvir Arthur dizer tudo que ela sempre havia temido ouvir era a forma mais cruel de dilacerar seu coração. Havia passado a vida toda sentindo como se devesse estar morta, invejando a liberdade e o amor de Brandon, mas uma pequena parte de si ainda se apegava a voz doce do pai. Queria ser amada mais do que tudo. Apegava-se ao menor carinho. Sentia prazer nas demonstrações públicas de afeto, fingindo para si mesma que não sabia que elas não passavam de jogo político. Agarrava-se às inúmeras brigas, pois eram o único momento em que os olhos do pai recaiam sob ela. Se ele dizia que ela era uma vergonha e uma desgraça, Mae não ousava duvidar. Sentia como se gritasse todo os dias, esperando ser ouvida, mas apenas se sufocava cada vez mais. 
Quando era criança, seus pais costumavam a colocar pra dormir, contando histórias dos grandes guerreiros de Camelot, mas de repente tudo sumiu. Desapareceu. Ela ainda deixava a porta aberta, esperando Gwen ir lhe desejar boa noite, porém a mãe nunca mais foi a ver. Criou uma indiferença pela presença da filha, dando atenção também somente nos momentos de briga. Margaery se viu desejando fortemente os maus tratos, a prisão na torre mais alta, as queimaduras e as feridas. Se Arthur e Gwen tivessem coragem de manifestar aquele ódio, ela entenderia a relação que haviam construído. Mas o abuso dos pais vinha por meio de meias verdades, de um afago que parecia um tapa e da imposição da culpa. Eles a faziam se odiar e diziam que isso era amor. Que tipo de amor xinga? Humilha? Machuca? Que tipo de amor te faz desejar ter morrido? 
Se seus próprios pais não podiam a amar, então ninguém amaria. Estava fadada a passar o resto de sua vida sozinha até finalmente ser esquecida, deixando de existir para todos os mundos. Os gritos do pai tocavam a parte mais exposta de seu coração. Ela implorava para que ele se calasse, mas o rei continuava gritando, proferindo até mesmo as ameaças de morte que ela e Brandon tanto temiam. Ela sentia as próprias unhas entrando na carne de suas orelhas. A dor a distraía um pouco do sofrimento que sentia, mas não era o suficiente para fazer com que tudo parasse. Depois de um tempo suas súplicas viraram pedidos de desculpas e finalmente se calaram. Assustada, perdida em seus pensamentos dolorosos, não percebeu que Arthur havia abaixado, beijado a cabeça da filha e dito que a amava, que tudo que fazia era apenas para o bem dela. Margaery continuou exatamente na mesma posição, chorando ao lado de seu maior agressor. 
Horas se passaram com a garota permanecendo de olhos fechados e de orelhas tapadas, encolhida no chão, chorando desesperadamente. Quando teve a coragem de abrir novamente os olhos, Arthur Pendragon havia sumido. Levantou-se trêmula procurando o pai, mas a única coisa que notou foi um velho baú atrás de um pequeno arbusto. A caixa estava aberta. Com um estalo, Margaery percebeu que o monstro da outra noite era um bicho-papão cuja única função era transforma-se no maior medo de seu oponente. Os gritos vindos de outro lugar sinalizavam que ele provavelmente havia ido atormentar outra pessoa. A cabeça de Mae latejava demais para que ela pudesse se importar com outro aprendiz. A feiticeira se abaixou, terminando de abrir o baú e encontrando lá um livro antigo. Procurou por alguma assinatura para entender quem era o responsável por tê-la feito sofrer tanto na noite passada, porém a única coisa que achou foi um M.P cravado em dourado na contracapa. Levantou-se confusa, pois sabia que o grimório não era seu, entretanto decidiu que não iria o devolver para seu lugar de origem. O guardou dentro da bolsa encantada para que pudesse o analisar melhor no resto do dia.
Duvidava seriamente que as criaturas que havia enfrentado possuíam alguma ligação com a voz que a chamava, entretanto não possuía forças para continuar dentro da floresta, procurando uma salvação para alguém que não era ela. O monstro misterioso parecia satisfeito, pois sua voz gélida não entrou na mente da feiticeira mais. Com a luz solar já iluminando o caminho não foi difícil para que Mae finalmente encontrasse a trilha que a levava de volta para Aether e para seu dormitório na parte segura da floresta. Os passos dados foram calmos, incertos e devagar. O corpo todo parecia reclamar das aventuras da noite anterior e a leveza que havia sentido após o encontro com o visgo-do-diabo havia ido embora. As palavras duras de Arthur ecoavam em sua mente bem como os olhos cheios de ódio do pai. Já segura, Mae soltou Morgana e Ametista que voaram tranquilas pelo nascer do sol com suas irmãs, porém a feiticeira andava para o castelo com os braços grudados no corpo, a cabeça baixa, o rosto dolorido e o coração torturado por seus maiores medos. . 
21 notes · View notes
callieasuaboca · 4 years
Text
task 005 // i can hear you, but i won’t.
when the sun came up i was looking at you. remember when we couldn't take the heat and i walked out, i said “i'm setting you free” but the monsters turned out to be just trees and when the sun came up, you were looking at me. 
Novamente, os pesadelos tornavam o mundo dos sonhos da princesa um verdadeiro inferno.
Lembrava-se somente de um vazio, como se estivesse prestes à entrar no Salão do Cosmos. Um sonho singular, com nenhum dos componentes comuns dos pesadelos que lhe assolavam à noite: protegida pela cama de dossel e as portas pesadas de seu quarto, Callie costumava a imaginar multidões revoltadas com as atitudes de uma rainha ruim, que corria pelo meio da floresta usando um vestido azul completamente destruído. Em certo ponto, pessoas viravam lobos, lobos viravam árvores estranhas e as árvores estranhas viravam o escuro, engolindo-a sem alguma cerimônia. Todavia, em dias bons, Calliope sempre encontrava o caminho da praia, onde uma versão mais limpa e arrumada de si a esperava de braços abertos, pronta para acolher a jovem e maltrapilha princesa. Talvez fosse um receio de um dia passar pelos mesmos maus tratos que a progenitora ou um querer irracional de permanecer impecável em qualquer situação: a visão de si própria arruinada a totalidade era uma das piores partes de seus pesadelos, como se o próprio subconsciente zombasse da necessidade de controle da princesa. 
Dessa vez em específico, a mente não foi capaz de criar armadilhas e labirintos para torturar Apolina: ela estava só, num nada interminável. Depois de um tempo imensurável no limbo, a garota começava a sentir falta dos lobos ao seu redor. O rosnar era melhor do que um silêncio ensurdecedor, onde nem mesmo a própria voz se fazia presente. Quiçá tivesse aprendido a domesticá-los naquele meio tempo, pois a humanidade já havia atingido tal proeza em algum ponto da história. A solidão, no final das contas, era pior do que as críticas e as facas lançadas à herdeira, então era melhor aprender a conviver com lupinos do que se entregar ao esquecimento. Será que acontecia daquele jeito? Nos devaneios de Calliope, nunca pensara em ser esquecida: era a primeira filha de Cinderela e nunca seria deixada de lado, mesmo que quisesse, a coroa pairando sobre sua cabeça não permitiria tal coisa. 
No entanto, a solitude não perdurou tanto quanto esperava. Se não ter a presença das feras a antagonizando já era ruim, o silêncio esmagador ainda era mais confortável do que o canto maligno entoado em seus ouvidos. O cântico ressoava soberano pelo vazio, envolvendo a morena numa dança perigosa e deslumbrante. Ao mesmo tempo que sentia o âmago temeroso gritar palavras de ordem para despertar daquele transe, Apolina deixava a música da noite lhe guiar pelos campos escuros da consciência, docemente intoxicada pelo o que poderia ser se abraçasse a escuridão de vez. “Venha até mim. Venha para mim.” Os pés descalços seguiam a melodia, negando enfim a luz do dia. Aos poucos, o Nada se transformava na Floresta Assombrada, sendo presenteada com a intensificação do chamado. Podia deixar o seu pior lado vencer caso desse o primeiro passo. E, com certa hesitação, pisou fora dos limites permitidos por Merlin pela primeira vez.
Bom dia, Calliope. Os raios de luz invadiam a sua janela, provocando um incômodo nos olhos e uma preguiça de levantar. Ao piscá-los, notou que o seu fio de Ariadne já estava acordado: Rhea a chamava com cuidado para não assustá-la, convocando-lhe para mais um dia de atividades no Instituto. O suspiro pesado veio acompanhado de um aceno de cabeça, logo a princesa estava de pé encarando as árvores dançantes — e agora silenciosas — da Floresta pela janela do dormitório. Graças à atlante, não cedeu à tentação da canção da noite daquela vez, mas quem garantia que permaneceria assim?
 “Eu posso te ouvir, mas eu não vou.”
A fala parecia desconexa, mas o seu destinatário a receberia e compreenderia o sentido. “Eu sou mais esperta do que você.”  A jovem pensou, temerosa. “Mesmo se eu não for, eu preciso ser.” 
Quando escutou a canção da noite pela segunda vez, Apolina estava preparada para tal. Ao invés de engajar numa valsa silenciosa que flutuava pelo ar gelado, seguiu decidida até o mesmo ponto que parou anteriormente, olhando direto para a mais pura escuridão. Qualquer pessoa observando a cena pelas janelas do castelo acharia que a jovem era um espectro de uma donzela há muito desencarnada, por conta do robe branco esvoaçante e o contraste entre os cabelos escuros com a pele pálida, quase transparente. A expressão de destemor estava iluminada pela luz da lua, o resultado de anos de treinamento dentro do castelo real de Diamandis. Esconder o próprio medo não era somente uma habilidade adquirida para se defender como rainha: se tornara uma parte de si, não tão bonita ou bem quista como a gentileza de Cinderela ou a capacidade de tecer discursos inspiradores do pai. O que poderia fazer, afinal? Nem sempre conseguia exceder as expectativas corretas.
Talvez a expectativa sobre si mais contraditória fosse a de preencher as lacunas deixadas pelo casamento do pai com a mãe, tal como encontrar um parceiro que poderia trazer ou forças militares ou poder aquisitivo para Diamandis, afim de fortalecer a influência do reino nas terras vizinhas. Tudo o que Apolina fazia era voltado para o próprio país, visando um futuro ainda mais brilhante e inquebrável. Contudo, como poderia fazê-lo se não era corajosa e gentil como a rainha Cinderela, ou mesmo forte e imponente como Apolo? Se comparava incessantemente com os progenitores, até mesmo ao encarar o abismo de frente naquele delírio descabido. Podia não ser tão extraordinária quanto eles, mas precisava tentar. E, com uma determinação característica dos Iraklidis, ergueu sua voz na noite, desafiando quem quer que estivesse lhe perturbando.
“Mê dê um motivo para eu te seguir.” 
Tal como pedido, o sonho espiralou imediatamente, se adequando aos desejos da princesa.
Ao invés da maior parte dos pesadelos que terminavam com ela encontrando uma versão pristina de si mesma na praia privada da família real, Calliope olhava para si mesma corrompida pelo ódio, cheia de desprezo e raiva no olhar. Essa outra de si parecia mais velha, mais cansada e muito, muito mais desgostosa com a vida do que estava agora. Ela se virou para o castelo no qual reinava soberana, sem esperar para ver se a garota dos robes brancos iria segui-la ou não. A princesa, então, deixou a sua versão tenebrosa guiar o caminho pela areia, logo achando a passagem secreta que conectava o castelo de Diamandis com a orla. Costumava ir ali com Clio, Rhea e Hugo quando mais nova, e sozinha quando precisava de um descanso. Eram boas memórias, mas não tinha tempo hábil para se arrastar nelas.
Não demorou para perceber que algo estava errado — seria tolice não perceber que várias peças do quebra cabeça não se encaixavam desde o início —, com o cheiro insuportável de um braseiro tomando todo o túnel secreto e o hall desenhado para a limpeza das pessoas que passavam por ali. Callie bateu os pés descalços para remover os grãos de areia antes que tomasse alguma bronca por sujar a casa sem alguma descrição. Certo, sua mãe não estava perto, contudo, velhos hábitos eram difíceis de morrer. Como ela conseguia reconhecer o cheiro das brasas queimando, algo que só piorou conforme subia as escadas do palácio? Quando era pequena, fora inocente o suficiente para tentar dormir na frente de uma lareira como a mãe, acordando repleta de sujeira e sufocada com as cinzas de borralho. Desde então, não suporta a sensação de estar cheia de suja, levando seus produtos para cima e para baixo. Desde então, as cinzas nunca mais a deixaram em paz.
Depois de seguir a si mesma pelos quartos, Apolina finalmente chegou à própria varanda, apenas para encarar a fogueira viva que Diamandis havia se tornado aos seus pés. Seu reino, consumido por labaredas altas e sem amarras, que devastavam tudo o que chegavam perto. Podia ouvir na distância os gritos de súplica e terror, implorando por misericórdia, implorando por uma rainha que lhes protegesse enfim. Por mais que sua expressão estivesse endurecida, as lágrimas grossas que rolavam por seu rosto demonstravam uma humanidade pouco lembrada, afinal, era muito mais fácil pintar a máscara de inquebrável do que assumir seus pontos vulneráveis. Antes que Calliope acordasse novamente, a sua versão escura chegou perto de suas costas, enfim sussurrando em seu ouvido.
“Seu reino inteiro vai queimar e seus amigos irão virar cinzas. Venha para floresta, Apolina. Você não queria um motivo?”
Apolina acordou sobressaltada, com o coração quase saindo do peito.
Lutava contra o próprio coração desde que se entendia por gente — ou melhor, por princesa —, afogando os desejos mais profundos com os inúmeros deveres reais que apareciam pela sua frente. Agora, lutar contra a própria mente? Não se sentir segura nem mesmo no mundo dos sonhos não era uma novidade, contudo, as vozes eram. Ver Diamandis ardendo em flâmulas era. Não podia vacilar, entretanto. Por mais que seus instintos clamassem por uma madrugada na Floresta Assombrada para impedir que seus amigos fossem os próximos, Calliope não podia se dar o luxo de escutá-los. Era só olhar para Rhea na cama ao lado, que lutava para dormir todos os dias. Era só pensar um pouco em Aquiles e como ele ficaria desamparado se ela não estivesse mais ali. Contava nos dedos as pessoas que ainda permaneceram ao seu lado durante todos aqueles anos erguendo sua muralha, imaginando que logo eles iriam também. Seus motivos para ir para a floresta, por fim, eram os mesmos para ficar. Lidaria com as vozes do melhor jeito possível, escondendo os sentimentos como sempre fazia. Naquela manhã, ao olhar da janela para a floresta que os cercava, a herdeira sentiu a aventura escapar por seus dedos.
“Eu vou bloquear os seus chamados.” Disse, mais para si mesma do que para qualquer outra pessoa. “Você espera que eu cometa um erro e abaixe a minha guarda, mas eu não vou fazer isso. Eu não vou ceder às vontades. Continue me importunando, se quiser — eu não vou te escutar.”
Deixar de lado era o suficiente. Teria que ser o suficiente.
13 notes · View notes
jandeullehq · 4 years
Text
finalmente chegou o post gigante sobre a pesquisa de satisfação! yay! pedimos perdão pela demora pra sair, anjos, mas é que tínhamos muita coisa a analisar, sumarizar e trazer pra vocês. antes de tudo queria agradecer a cada um que participou! significa muito pra gente. apesar de nem todo review ter sido positivo, era justamente isso que a gente queria ver com esse form, pra saber se íamos continuar com o sistema ou não. cliquem no read more para ver o post inteiro!
como o form foi todo anônimo, vamos publicar alguns questionamentos de vocês no final de tudo, pra que a gente possa esclarecer algumas coisas por aqui.
em primeiro lugar, a grande maioria de vocês achou o sistema atual de pontos satisfatório ou muito satisfatório, o que nos deixou bem contentes! um ponto importante, no entanto, foi que pelo menos metade dos players que participaram da pesquisa não compreendeu por completo o sistema, e entendemos que é um pouco complicado, mesmo. infelizmente não conseguimos arranjar outro jeito melhor pra explicar, então nas últimas duas semanas de jogos temos nos esforçado para deixar os prazos e valores mais transparentes. várias pessoas vieram tirar dúvida via dm nas últimas semanas, e sentimos que conseguimos esclarecer tudo o que não havia sido entendido, então se você ainda tem alguma dúvida em relação a isso, nos contatar é o melhor jeito pra entender direitinho!
um pouco mais da metade dos participantes gostaria que houvesse uma maior frequência de tasks ooc além do sistema de pontos atual, para maior integração dos players. nós vamos nos esforçar pra lançar mais algumas, anjos, mas esse tipo de sistema não pode ser o único, uma vez que o horário de disponibilidade dos nossos players é bem distinto, o que acabaria causando uma desvantagem inevitável aos que não possuem muito tempo disponível pra jogar. se vocês tiverem alguma ideia de uma task assim, que pareça legal pra todo mundo, nos sugira via dm! temos algumas em mente, mas sempre é bom ter mais opções. essas tasks valerão alguns pontinhos extras, mas o método majoritário de pontuação ainda será a tag #JDEPOINTS.
essas foram as conclusões que tomamos diante das perguntas objetivas. agora vamos esclarecer alguns pontos notados na parte de críticas e sugestões:
Estou muito contente com a forma como o rpg está, é um dos melhores que já joguei! Minha única sugestão é que se for possível, e não for trabalho demais para vocês, coloquem ao fim dos jogos até quando podemos postar os povs da competição valendo pontos extras porque fiquei um pouco confusa no dia para saber até quando podia postar, mesmo sabendo que pode ser por dois dias (por exemplo, no mesmo tweet que colocam o resultados dos jogos colocar um "povs da competição podem ser postados até dia X as 23h59"). Ademais, estou amando a comunidade!
agradecemos demais pela sugestão, anjo! já estamos usando desse recurso desde a segunda semana de jogos. aparentemente ajudou muito ♡
Acho que em relação a competição, fica um pouco desregulado pra faculdade que tem menos participantes de ganhar, mesmo que postem POV's e muitas coisas na hashtag, no outro lado a outra faculdade ainda tem mais participantes e tudo mais, então em minha opinião fica um pouco desequilibrado. Se tivesse uma parte no tumblr com os personagens e as histórias também seria legal.
sobre os pontos, isso de ter mais personagens na verdade acaba sendo uma desvantagem no final, anjo. como fazemos uma média de pontos por personagem na hora da avaliação, é até mais fácil pontuar quando só se tem um personagem, já que os pontos só dependem desse personagem em questão. times onde só um dos personagens não pontua já leva uma desvantagem significativa na pontuação final, então não faz muito sentido que os times com mais gente tenham algum tipo de vantagem no final!
e sobre a página de personagens e histórias, juro que tá saindo. é que a mod aqui é horrível pra mexer com html, e essas html de masterlist são grego pra mim. mas tô na luta, um dia vem aí...
Acho que seria legal fazer uma mistura do sistema atual e das tasks em ooc, por exemplo, além das competições focadas em esportes, seria legal ter competições fora que iriam "ajudar" e essas competições seriam feiras por meio de tasks, assim deixaria mais animado
como citamos lá em cima, vamos procurar fazer exatamente isso, anjinho! queremos todo mundo bem animado com o rp.
a jandeulle está sendo um lugar divertido de se jogar e faz muito tempo que não me sentia a vontade assim em um rp. mas acredito que a competição poderia se tornar mais interativa para de alguma forma os players se sentirem engajados e com vontade de participar. Como alguns esportes tem mais personagens em tal universidade do que as outras, as competições ooc poderiam se dar de forma coletiva e se criar algum sistema para dividir esses pontos e afetar os times em ic (competições ooc valendo x pontos para serem distribuídas com as pessoas que participaram talvez?)
em primeiro lugar ficamos felizes, bebê! esperamos que continue se sentindo assim. e sobre a sugestão, realmente vamos tentar integrar esse tipo de task na competição, mas pelos motivos que citamos acima (o horário de disponibilidade dos players ser bem diferente), esse não poderia ser o método majoritário de obtenção de pontos ):
Mod, eu acho que essa semana o sistema de pontuação ficou meio confuso, sinceramente... Não entendi direito se o ponto não seria contabilizado ou sei lá. Eu acho que seria mais divertido e engajado se fosse algo em ooc mesmo, do tipo de task que envolvesse a galera pra participar na hora mesmo. Se for pra manter como está, acho melhor esclarecer mais um pouco de como é a contagem dos pontos e avisar como que isso é em longo prazo, estabelecer algo fixo e etc. ❤️
sentimos muito que se sentiu assim, anjo ): estamos realmente tentando deixar mais claro essa questão de até quando os pontos são contabilizados. não podíamos deixar fixo isso dos POVs de competição porque daria uma vantagem de tempo pros jogos que ocorreram primeiro, entende? aí temos que relativizar tudo. 
seria bom se nesse sistema de pontuação e quem vence ou ganha os jogos fosse algo mais bem explicado e organizado, ainda é um pouco difícil de entender :(
não entendemos bem a dúvida, anjo, você poderia explicar melhor exatamente o que não tá entendendo? pode vir na dm caso ache melhor! tiramos várias dúvidas por lá. mas basicamente quem vence os jogos é quem pontua mais, e se o outro time não tem integrantes, é resolvido através de sorteios, com a probabilidade de ganhar afetada pela pontuação do time com integrantes. os times sem integrantes de nenhum dos dois lados são resolvidos através de um sorteio 50/50 mesmo! 
Eu não entendi nada do sistema em questão de pontos porque sou horrível em matemática mesmo, mas tá show mods 💜
ô meu deus ksdjksd agradecemos, meu amor. mas não precisa se preocupar com a questão da matemática, porque essa parte nós cuidamos! é só fazer uns posts na tag de vez em quando que é sucesso ♡
Acho o sistema de pontos um pouquinho confuso, especialmente as datas/horas quando fecham os pontos.
os pontos fecham sempre na segunda feira, nenê, mas só se o jogo do seu esporte for acontecer naquela semana. se não tem jogo de tênis na semana x, então os pontos do tênis continuam a ser contados até a semana do jogo em questão!
Na minha opinião, uma boa alternativa seria os próprios players juntares os tweets que fizeram com a tag e enviar via dm para a moderação, pois usar apenas a tag é um pouco incerto já que ás vezes o Twitter esconde alguns tweets.
achamos que essa opção daria um trabalho desnecessário pra vocês, anjo, porque o jeito que pesquisamos aparece todos os posts mesmo! usamos o método “from:user #jdepoints”, para ver posts específicos por perfil, e já testamos várias vezes, ele não exclui nada. não precisa se preocupar ♡ vocês só precisam nos mandar caso seja um POV em conjunto e seu char não tenha sido o que postou!
phew, finalmente terminamos! tentamos resumir colocando todos os pontos apresentados, sem repetir os que diziam basicamente a mesma coisa. e pra todo mundo que colocou uma mensagenzinha de amor na parte de críticas e sugestões, vocês têm nosso amor todinho, viu? ficamos com o coração quentinho lendo todos. esperamos que esse post tenha esclarecido algumas dúvidas e quaisquer outras possíveis vocês podem vir tirar. muito obrigada de novo pelo feedback! 
1 note · View note
sunvhee · 7 years
Text
✰–❛ task 007: a farewell letter
TRIGGER WARNINGS: tirando drama excessivo e leves menções de distúrbios alimentares, none.
Appaji,
Quando se trata de sentar e escrever meus sentimentos, nunca houve outro destinatário no universo além de você. Não acho que possua a profundidade emocional com mais ninguém para dirigir o tipo de conteúdo que os produtores esperam. Você, apenas você, desperta os sentimentos de melancolia, solidão, raiva, mas também, alguma forma de gratidão que ao meu ver é bastante similar ao que eu experienciei na minha estadia por aqui. Esta é, afinal de contas, uma carta de despedida, e o que está aqui são apenas algumas de milhares de coisas que nunca tive a chance de te dizer.
Quando eu penso de volta à quem eu era quando na infância e parcial adolescência que passei ao seu lado, em essência, concluo que sempre estive sozinha. Por anos, eu tentei omitir as memórias das longas horas que eu, como uma criança, passei abandonada e trancada à quatro paredes, muito antes de sua partida definitiva. Lembrar de você sob uma luz positiva era o único fio de esperança ao qual eu conseguia me agarrar para aguentar todos os anos de treinamento intensivo, e também, concordar em participar desse reality. Você, mesmo não conhecendo a pessoa que sou hoje, deve saber que não nasci para o entretenimento. Facilmente julgaram que eu tinha o rosto para a coisa, mas carisma e paixão é algo que nem mesmo o melhor cirurgião do país conseguiria injetar em mim. Confidencio aqui, e apenas aqui, que tornar uma figura pública verdadeiramente me assusta. Sempre me assustou. Estar na MI, ao mesmo tempo que uma salvação, foi um enorme castigo. Por mais que a maioria das pessoas que conheço se surpreenderiam com essa afirmativa, baseado na minha atitude, estar perto de quem não conheço é profundamente estressante para mim. Eu nunca soube como fazer amigos, não tinha o sorriso gentil ou o tipo de aura que atrai os outros como um imã. Ao contrário, até os mínimos esforços que fazia parecia repeli-los. Para mim, era como se o universo estivesse coagindo para garantir que eu nunca pudesse ter o tipo atenção e amor que almejava. E eu me resignei com isso; fazia sentido para mim. Se nem o meu próprio pai, que deveria me amar incondicionalmente, foi capaz de me deixar sem nem mesmo um bilhete, porque qualquer outra pessoa deveria se dar o trabalho? Era mais fácil não se arriscar. Naquela idade, eu escutava sobre amor tão levianamente, sem entender o quão profundo realmente era, que meu maior temor era amar tanto, tanto alguém como a você, a única família que tinha, e ter de assistir essa pessoa desaparecer novamente. Tudo o que eu poderia fazer então depositar meu tempo e dedicação à vida escolar e de trainee, já que não havia ninguém em quem investi-lo. Verdadeiramente, me esforcei. Na minha concepção, talvez, apenas talvez, se tivesse um exterior absolutamente perfeito, as pessoas não se importariam tanto com o que havia por dentro. Que poderia alcançar o estrelato baseado na minha aparência, e então, teria orgulho de mim e eu não estaria mais sozinha. É por isso que hoje, não posso olhar para o meu próprio reflexo sem procurar algum defeito, nem me alimentar mais do que eu preciso para sobreviver sem sentir fortes náuseas. É isso que acabei me tornando, nada além disso: um exterior sem vida.
Me assusta, às vezes, o vazio em meus olhos quando me vejo no espelho. Vazio pode parecer uma palavra exagerada, mas depois de ter o privilégio de olhar diretamente a tantos semblantes cansados, melancólicos, alegres ou apaixonados, é assim que me sinto sobre a apatia: um profundo vazio. Um vazio deixado por você, que pelo mais longo tempo, eu não sabia como - e possuía medo - de preencher. A coisa é que, não importe o quanto tente negar, existe uma dependência em mim da qual não consigo me livrar. Não importe quantos dias, tardes e noites eu passe absolutamente sozinha, eu sempre serei a criança que chora em lojas de departamento porque não tem ninguém para segurar sua mão. Eu nunca conseguirei não precisar de alguém. Foram nos momentos de solitude que passei no reality que tive de lidar com essa realidade. Foi bom por um tempo, me sentir tão superior e intocável, nada doía mais. Mas conforme o tempo passava, era quase como se pudesse ter um vislumbre da criança que eu era, implorando por permissão para voltar. Aqui, nessa mesma casa, eu tive o fortúnio (ou infortúnio) de conhecer alguém que teve contato com todas as minhas piores facetas e, ainda assim, optou por ficar. Só então, pude ver claramente: o problema nunca foi comigo. Apenas com você.
E então, quero dizer que essa é uma carta de despedida, mas não de redenção. Eu não me desculparei mais a você pelas coisas que nunca pude controlar. E sim, durante o curso desse reality, fiz coisas ruins que muitos considerariam imperdoáveis. Eu tratei mal as pessoas, as rebaixei e me aproveitei de cada fraqueza que consegui captar em prol do meu próprio benefício. Mas eu também não me desculparei por isso. Ninguém nunca se desculpou comigo por me tornar desse jeito, então porque eu deveria? Palavras pouco adiantam. A prova disso é eu, estar aqui, escrevendo tudo de mais pessoal que poderia para alguém que não vejo há anos e muito provavelmente não se importa. Além do mais, não sei se um pedido de desculpas vindo de mim poderia algum dia realmente soar sincero. Porém, o que eu sei é, não quero mais usar o que você fez comigo como uma desculpa para ser a pior versão de mim mesma. Sempre pensei, que no momento em que soubesse que nunca mais o veria novamente, todo o sentido dessa carreira de idol acabaria pra mim e eu me estaria totalmente sem rumo. Mas não é assim que me sinto. É libertador. Eu dediquei muito tempo e imensurável esforço para entrar nesse ramo, e agora, me sinto feliz em estar finalmente me aproximando do produto dessa dedicação. O amanhã é imprevisível, mas independente de estar saindo daqui direto para os palcos ou de volta para MI, eu estarei em paz e contente comigo mesma. E esperançosamente, não mais sozinha.
                                                                                  𝓁𝑜𝓋𝑒,                                                                                                                        𝓈𝓊𝓃𝒽𝑒𝑒.
6 notes · View notes
margaerythings · 4 years
Text
sleeping beauties | margaery; brianna & grimmauldyn | 002/002 | task 003
 Aquele em que uma bruxa descontrolada, o filho do diretor e uma traficante de poções decidem fazer um ritual.     
                                           @grimmauldyn  point of view
Grimm estava longe de considerar sua experiência no mundo dos sonhos como algo bom, havia sido terrível, e a única coisa que lhe impediu de desabar totalmente, foi encontrar Brianna logo que acordou, e abraçar a mesma. Sem mencionar o seu foco em acabar com tudo aquilo, em acabar com aquela maldição de uma vez por todas. Agora já sabia o que eles precisavam saber, Merlin havia lhe dado a resposta, e o garoto confiava em seu pai com todas as suas forças, afinal ele era o feiticeiro mais poderosos de todos. 
“Bree, precisamos…” tentou falar a garota, mas estava sem fôlego, como se ainda estivesse naquele mundo. Como se ainda estivesse rodeado de fumaça e fogo, sentindo o suor em seu corpo, o seu pulmão parar de trabalhar aos poucos, e sua pele queimar, como se estivesse se aproximando do sol. “Precisamos… de uma feiticeira poderosa.. da Morgana… S-seu cajado.” engoliu seco, sua cabeça doendo, talvez por conta do feitiço, ou por conta da poção tão forte. mas uma coisa era certa, como poderia realmente explicar aquilo? Nem ele havia compreendido. ‘E… Três feiticeiros…. Precisamos de três pessoas falando o encantamento.” o garoto sentia como se pudesse desmaiar a qualquer momento, mas mesmo se sentindo assim, se forçou a se levantar. “Precisamos de você, Bree. Você precisa ajudar… Com sua magia. Talvez para eu e a Mae canalizar… Não sei muito bem, mas precisamos de três pontos de magia” levou sua mão a sua testa, percebendo o quão quente sua pele estava. Mas não queria preocupar a outra. “E eu preciso encontrar a Mae…” foi tudo que disse antes de apertar sua mão, e procurar a menor. 
Por algum motivo que o feiticeiro não podia explicar, mas talvez estivesse começando a entender, ele sentia uma conexão com a outra. Sentia que podia sentir sua aura, sua energia, e assim, andou pelo castelo, como se soubesse exatamente onde a garota estava, como se seguisse um rastro. E então a encontrou, novamente na biblioteca, e para ter certeza que ninguém iria escutar o que ele estava prestes a lhe contar, sussurrou um feitiço de sigilo, mesmo tão cansado quanto estava, o que até mesmo lhe fez sentir dor por forçar mais de sua energia de vida. “Mae…” a chamou, se sentando em sua frente. “Não se preocupe, essa conversa não pode ser escutada” explicou logo, então se aproximando mesmo assim por instinto. “Eu… Eu consegui. Eu sei a resposta.” E então o garoto prosseguiu em contar tudo que já havia falado para a bruxinha ruiva para a sua parceira de lenda, nem ao menos conseguindo sorrir como sempre fazia, tanta tensão nas suas costas. 
“Meu pai garantiu… Se usarmos corretamente, se conseguirmos o cajado e o feitiço, e tiver três feiticeiros, cada um simbolizando um elemento, não tem como o feitiço dar errado.” falou, e em teoria estava mentindo, seu pai havia deixado bem claro que para não ter falha alguma a pessoa a segurar o cajado precisava ser um descendente direto de Morgana. Mas não precisava dizer aquilo, naquele momento precisava que Margaery confiasse no feitiço, confiasse que aquilo iria funcionar. “E bem, se três feiticeiros normais era suficiente, nós somos mais que o necessário… Quando eu e você estamos juntos, sinto que minha magia é equivalente a dez feiticeiros” disse honestamente, e realmente o filho de Merlin estava se segurando naquele fato. Sentia que seria mais do que relevante para que todo o plano funcionasse. 
No final da conversa, Grimm praticamente correu para fora do castelo mais uma vez, dessa vez para usar o resto de energia vital que lhe restava para rastrear um ponto de convergência. Aquilo poderia dar ainda mais poder aos três, e menos chances de erro. Demorou alguns minutos, e começou a temer ser descoberto por alguém, fazendo feitiços em um lugar tão aberto, mas finalmente viu em sua mente o lugar onde toda a magia se encontrava, mas nem ao menos teve forças para andar, desmaiando ali mesmo. 
***
Passou a tarde quase inteira apagado, quando acordou, nem ao menos sabia onde se encontrava. Foi apenas ao se levantar e explorar mais do local que percebeu ser a enfermaria, mas não tinha tempo a perder para descobrir quem havia o levado para lá, principalmente com um grande risco de tentarem lhe prender. Não podia mais gastar seus poderes com coisas desnecessárias como fuga de guardas. 
Decidiu que seria burrice ir para o seu quarto, então foi diretamente para o ponto mágico que havia descoberto. Uma clareira, e no momento em que chegou ali, sentiu seus poderes aumentarem, como se fosse uma espécie de bateria, que lhe deixava ainda mais poderoso. Sorriu com aquilo, era um sentimento ótimo, e até mesmo viciante. Mas tentou não se deixar levar. 
Se sentou no chão, e fechou seus olhos. Precisava avisar as duas onde lhe encontrar, e para isso precisava mandar uma mensagem. Conectou sua energia com a da Mae, sabendo muito bem que a conexão que os dois tinham poderia lhe ajudar com aquilo, era como se suas magias fossem totalmente gêmeas, como se eles fossem gêmeos. Gêmeos mágicos. 
E se aproveitou daquilo para lhe dizer exatamente para onde ir, e qual horário ir. A hora das bruxas, é claro. Todos os pontos de magia se encontrando, um ponto de convergência, três feiticeiros, o cajado de uma feiticeira poderosa e o contra-feitiço. Tinha certeza que aquilo iria funcionar, tinha certeza que iriam conseguir salvar todo mundo. Sorriu mais uma vez, enquanto esperava as meninas.
                                      @breedingwall point of view
Lá estava Brianna, andando feito uma barata tonta pelo quarto com os fones de ouvido no máximo, agradecendo ao Narrador que não havia nenhuma de suas roomates ali! Tudo começou com as pessoas questionando sua lealdade à Guarda, depois Njord pirando no pó de fada e falando para não ajudar os alunos que fossem contra o “seu regime”, e então surgiu o pedido de Grimm e Mae para acabarem com a maldição!
Se lembrava muito bem do susto que tomou achando que o garoto não acordaria, do abraço apertado ela lhe deu quando ele finalmente abriu os olhos, dizendo para procurarem Mae, bem como da conversa. Uma das conversas mais malucas que as velhas paredes do Castelo deviam ter ouvido, era necessário juntar o poder dos três, como as fadas de Aurora fizeram antes, cada um deles representaria um elemento da magia, sendo que somente unidos teriam a força suficiente de romper com a magia.
Em um ímpeto de empolgação, raiva e ansiedade, a DingWall concordou em ajudá-los, estava cansada daquela loucura em que a escola estava se tornando, pessoas com armas, saindo no soco, se ferindo, sendo atacadas,vilões colocando as asinhas para fora, MUITO PARA FORA! Já bastava de diversão para todos! Mas agora trancada no quarto começava a temer pelo pescoço dos amigos, se os integrantes da Guarda os pegassem, não sabia o que Njord era capaz de fazer com os dois bruxos por ela ter ajuda-os… E os integrantes da Guarda de Aether? O que aconteceria com eles? Afinal, não tinham simplesmente tomado o poder, tinham invadido e roubado as tendas e armas dos temidos Guardiões! Njord estava frito!
Foi quando ouviu uma batida que não era da música, vinha da porta, jogou o transmissor com os fones na cama, abrindo-a: era Magaery segurando o lendário cajado de Morgana! A bruxinha só conseguia pensar em quantas vezes quis colocar as mãos naquela poderosa arma quando era mais nova! Sabia da lenda que estava na sede de Anilen, mas vê-lo ali! Se beliscando com uma mão fez sinal para que a Pendragon entrasse com a outra, precisavam agir rápido a ideia de deixar o principal item para o feitiço no quarto do affair do líder doido dos opressores, não parecia mais tão boa!
--- Vamos, Mae! Coloque ele aqui em baixo da minha cama! --- falou quase que sussurrando. --- Vou passar o dia aqui… Ninguém vai dar falta de mim, mesmo! Daí encontro vocês aonde o Grimm falou com o cajado, o que acha? ---.
***
Quando anoiteceu, Brianna saiu com o cajado enrolado em sua capa de frio até o ponto de encontro. Sem saber muito bem o que aconteceria, rezava para dar certo. A ideia de irem até uma clareira que Grimm descobrira ser o ponto de maior magia a deixava-a: insegura; ao menos dessa vez a espada estava no cinto junto à calça jeans.
--- Hey! Vocês! --- chamou quando viu as figuras conversando --- Vamos logo com isso! Não quero que… Vocês sabem! Se alguns dos opositores descobrir que estou ajudando vocês acho que viro picadinho….. Ou sou presa…
Aguardou em um silêncio inquieto os dois terminarem de organizar o ritual, não parando de encarar o caminho pelo qual viera, se alguém aparecesse, bem… Tinha trazido duas poções de fumaça que lhes garantiriam alguma bagunça para a fuga.
***
Precisou de algumas instruções dadas duas vezes por Mae e outras vezes por Grimm para que se achasse naquela “coisa”. Com o círculo formado, o cajado na mão da Pendragon, repetiram o encantamento em coro. Brianna encarou a amiga com os olhos lilases e arregalou os seus próprios, aquilo estava ficando amedrontador!
O vento em redemoinho subia e as árvores balançavam ao redor deles, as magias se misturavam, tinha ouvido falar sobre os poderes dos membros da história de Arthur se misturarem, mas se aquele era o poder deles, o que ela estava fazendo ali? Sentiu a grama furar sua bota e subir por sua perna,eram seus poderes? Quer dizer ela estava fazendo aquilo?
Quis gritar para os outros, mas quando olhou para baixo viu uma luz mágica apoiando-se em cada uma de suas pernas e sorrindo para ela enquanto a as gramas subiam a ponto de se tornarem vinhas em seus dedos.
Por fim, o redemoinho acabou.
--- Será que deu certo? --- falou puxando o celular e conferindo: sim! a nimbo estava ativa! --- Gente! A nimbo voltou! --- então viu as luzes dos quartos, que tinham ficado apagadas por dias começarem a acender!
                                       @margaerythings point of view
Karou dormia ao seu lado. A cena poderia ser muito parecida com a que vivenciou de manhã se não fosse pela falta da luz do sol e pelo fato de que Margaery possuía o corpo todo tremendo. Ela sabia que estar nervosa não era uma boa alternativa, já que perder o controle de seus poderes não era uma opção naquela noite. Faltava pouco para as 23h, horário que os três bruxos haviam marcado de se encontrar, e tentando se acalmar um pouco, Mae virou-se para Karou e a abraçou. A garota dormia, tranquila em seu sono. A anilena cogitou contar para a companheira sobre sua tentativa de quebrar a maldição, porém decidiu manter o segredo. Não por maldade, mas porque sabia que a Bredenberg passava por problemas e que estava sofrendo. Seria melhor se ela pudesse descansar naquela noite. Beijou a testa de uma Karou adormecida antes de levantar-se da cama para poder se arrumar para o que quer que fosse acontecer naquela madrugada.
Rumou para fora de seu quarto com uma capa preta sob os ombros e com mãos nervosas que enrolavam os fios de cabelo loiro nos dedos. Evitou ver qualquer reflexo seu enquanto ia saia da casa da arvore que era a sede da Anilen. Suas mãos foram dos cabelos para as pernas, onde batiam impacientemente em suas coxas a medida que ela andava pela floresta a procura de @grimmauldyn. Quando finalmente encontrou o garoto na clareira foi como se todo o medo de Margaery saísse, dando lugar para uma certeza e confiança que raramente faziam parte dela. – Grimm... Acho que vai dar certo. Eu sinto que vai dar certo. – ela comentou antes mesmo de o cumprimentar com um abraço. Atrás de si ouviu os passos de alguém e já estava preparada para lançar algum feitiço de ataque quando reconheceu a silhueta de Brianna vindo em sua direção. Abraçou a bruxa ruiva do mesmo modo que havia feito com o filho de Merlin e pegou o cajado que ela oferecia. Notou que na mão de Bree, ele não soltava faíscas verdes, mas em sua mão sim. Esperou que nenhum dos dois tivessem notado. Enquanto terminavam de montar o circulo para o ritual, Margaery olhava para o objeto de Morgana. A ideia era de que tivesse ido o pegar no quarto da amiga para que Njord não o visse, porém Karou ficou com ela a tarde toda e tornou essa missão impossível. Não que Mae tivesse ligado, afinal a companheira fez com que ela se acalmasse durante as horas que se passaram. Quando tudo estava pronto, a feiticeira se colocou no circulo juntamente com os amigos. Se seus pensamentos estivessem corretos, Brianne seria o grande diferencial para que tudo desse certo.
- Qui somno uigiliarum. Remove quod tu vigilando de indústria. Conteram in quas maledicta congessi. – à medida que ia repedindo as palavras que Morgana havia escrito, Margaery sentia sua força vital aumentado e diminuindo, com grandes ondas de oscilação. Sua voz, assim como a seus amigos, ia ficando mais forte e mais alta. - Qui somno uigiliarum. Remove quod tu vigilando de indústria. Conteram in quas maledicta congessi. – nesse momento, já sabia que seus olhos haviam trocado de cor, pois os sentia queimar e pode notar o assombro de Brianna ao olha-la, mas teve que conter um sorriso ao ver que as pupilas da amiga agora apresentavam a cor de um azul claro. Notou também as gramas subindo pelo corpo da bruxa, envolvendo-a como se fossem uma coisa só. A visão que tinha da amiga poderia ter sido assustadora, mas Margaery sentia orgulho de ver todo aquele poder se formando. Foi quando a ajudou a parar com o envenenamento que Pendragon cogitou a ideia que os poderes da ruiva estavam apenas evoluindo para os feitiços e via agora que estava certa. A energia colocada pelos novos dons de Bree fez com o feitiço tomasse mais corpo. Os ventos ao redor dos anilenos passou a correr mais rápido, uivando nos ouvidos de Mae. Foi quando repetiu o feitiço pela terceira vez, como havia orientado Morgana, que começou a sentir toda sua força indo embora. Ela sabia que não era forte o suficiente, não havia maneira de ser. Malévola e Morgana eram bruxas milhares de vezes mais fortes, mais experientes e Margaery contava com apenas com um cajado e os novos poderes de Bree para conter a maldição e a energia dentro de si. Quando tudo se calou, os olhos de Mae já haviam deixado de ser roxo para adquirirem uma coloração preta. Ela não sabia, mas uma mecha loira de seu cabelo agora estava escurecendo. A voz da amiga anunciando a volta da nimbo foi a ultima coisa que a feiticeira ouviu antes de cair no chão, fazendo o cajado rolar de seus dedos para a grama.
grimm 001 | a solução de merlin |brianna 001 | margaery 001 | carta da morgana
4 notes · View notes