Conceptualização
A narrativa
Neste ponto da investigação, partindo da intenção, onde coloquei algumas hipóteses para o desenrolar da narrativa, tais como:
A narrativa poderá apresentar um exagero da ruralidade e da sonoridade obsessiva através dos cânticos (voz) das mulheres. Um ecossistema de seres que são confrontados com a feminidade, a sensualidade, e o silêncio.
Tomo a voz das mulheres como um manifesto que associa o canto a uma forma de expressão na luta pela visibilidade de ser mulher, dissociando a sua subalternidade em relação ao homem, no seu papel em sociedade.
O espectador contribui na concretização da obra passando da estética a uma possível inestética. O ritmo e repetição enleiam-se num ritual de composições que agitam tempo e espaço. - Mulher do futuro e do imaginário individual.
A instalação poderá ser um espaço de revisitação acolhedor ou não, que nos remete para um espaço íntimo, através da vídeo instalação generativa em ambiente imersivo, em que o espectador corporiza o espaço de estar.
Como criar a conexão da prática artística com o público?
No contexto social em que vivemos, a imagem e o simples modo de tirar uma fotografia através do telemóvel, o ecrã do smartphone espelha o reflexo que nem sempre corresponde às expetativas ambicionadas, e introduzimos as camadas, os filtros que fazem a mistura de cores e texturas. A comunicação entre pares, que realizamos nas redes sociais, através de vídeos, imagens, emojis ou símbolos que despoletam a necessidade de ver ou mostrar, fotogravar e gravar torna-se premente. (Sobral & Simões, 2020)
Num ciberespaço repleto de imagens perfeitas, surgem as cópias idealizadas, navegamos na fronteira entre o real e o representacional, e a necessidade de mascarar determinada pela sociedade tecnológica de consumo e dos ideais de beleza e perfeição.
A Memória coletiva pode ser definida como uma interação, de partilha de uma memória social, de tradições artísticas passadas ou futuras, e tornar-se-á em “memória histórica”.
Nesta etapa fica por perceber a questão da interação da obra, se a mesma se apropria das máscaras do público visitante.
Como desenvolver a experiência a partir de um registo sonoro?
Abordagem do conceito - a mulher, o erro e o silêncio. O diálogo das coisas no tempo das mulheres.
Neste ponto tenho algumas dúvidas, como a questão da apropriação de registo sonoros ou visuais de outros, a exemplo a filmografia completa (som e imagens) de Michel Giacometti já referenciada anteriormente pelo coletivo FLEE Project nos cânticos dos pescadores e disponível online no you tube em URL:
Como criar uma prática “artivista”? E qual o seu significado?
Esta viagem de transgressão dos limites leva-me à questão de como será a mulher do futuro partindo da ruralidade temporal? O canto que se transforma em bit? E como subverter a imagem?
O artefacto
A definição do artefacto prossegue para a próxima etapa, no entanto enumero duas das versões em hipótese.
A imagem em movimento aplicada à prática artística é projetada na tela papel que compõe a vídeo instalação. Nesta fase, ainda não me é possível definir as imagens, mas a intenção será fazer o enquadramento das imagens nas áreas da média arte digital de videoarte generativa e/ou realidade aumentada.
Nesta fase, a artista debate-se com algumas limitações que ainda se encontram por definir, no âmbito da interatividade da obra.
A primeira abordagem, da corporização metamorfose da mulher ao reconhecimento da mesma no imaginário futuro, partindo da versão experimental do algoritmo, como expressão em videoarte generativa, interativa e imersiva, que reage ao som, como diálogo e interação com o público.
A segunda abordagem com recurso da realidade aumentada através da app de leitura transporta o público espetador e interator para o cenário imaginário.
Em ambas as versões os aspetos técnicos serão semelhantes.
Vídeo instalação no espaço
A projeção da imagem, em grande escala com recurso ao projetor, de modo a preservar a imagem nítida e brilhante na tela, ou opção de pano ou papel, ambos brancos.
O som, acompanha a imagem em movimento, onde o diálogo é projetado, possível ponto na sala que através de um sensor ou câmara deteta a imagem do espetador, fotogravando-o.
A iluminação, será necessária em local específico que respeite a prática artística, e de forma a realçar o filme projetado.
O hardware, para exibir o filme serão necessários um projetor de vídeo, um reprodutor de media (computador) e uma câmara.
O espaço, a instalação poderá ser projetada num espaço interior, ou em qualquer espaço que respeite a experiência imersiva do espetador com a prática artística.
Espaço possível para a vídeo instalação. O espaço será definido em curadoria coletiva, poderá estar dependente do espaço disponível.
Exemplo (1) Simulação protótipo
Exemplo (2) Simulação protótipo
Vídeo instalação audiovisual, videoarte generativa / interativa e/ou realidade aumentada, em ambas as práticas artísticas o filme procura interagir com o espectador através do controlo de certas ações, movimentos das personagens no desenrolar da narrativa.
Hashtag
#conceptualização #narrativa #identidade #mulher #território #memóriacoletiva
Conclusão
Os tempos presentes são feitos de muitas camadas históricas que tendem a projetar-se no futuro. As imagens herdadas de passados mais ou menos recentes marcam a nossa vivência quotidiana, refletindo-se tanto nas conexões que estabelecemos uns com os outros como nas formas que vão tomando as relações e os conflitos ligados à comunidade económica e geopolítica.
O projeto parte das várias camadas sob o angulo da história, a apropriação e captação das mesmas, imagens em movimento e do conceito do território, começando com uma perspetiva que aborda a mulher do passado, presente e futuro e ambas se misturam.
A investigação prossegue para a prototipagem.
Referências Bibliográficas
Beauvoir, Simone de. (1970). O segundo sexo. 4. ed. São Paulo: Difusão Europeia do Livro.
Marzo, Alan. Dupont, Olivier. (2022). Leva, Leva. Ladainha de Pescadores Portugueses. FLEE 004. Saison France Portugal.
França, A. & Correa, R. (2020). Sónia Andrade e Letícia Parente, duas videoartistas brasileiras em uma exposição de arte feminista de vanguarda dos anos 1970. MODOS. Revista de História da Arte. Campinas, v. 4, n.2, p. 301-315, mai. 2020. DOI: https://doi.org/10.24978/mod.v4i2.4553. Disponível em URL https://www.publionline.iar.unicamp.br/index.php/mod/article/view/4 553.
Fonseca, T. 2020. A mulher e o trabalho no Alentejo e Algarve do Antigo Regime. In Barros, M. F. L. d., & Gato, A. P. (Eds.), Desigualdades. Évora: Publicações do Cidehus. DOI: 10.4000/books.cidehus.13132
Pestana, M. (2011). "A fala" é a voz das mulheres: textos e contextos do feminino em Manhouce (1938-2000). TRANS - Revista Transcultural de Música / Transcultural Music Review 15.
Weffort, A.B. (2019). Povo que Canta – a fixação documental das tradições musicais portuguesas, de Michel Giacometti a Tiago Pereira. In M. L. Martins & I. Macedo (Eds.), Livro de atas do III Congresso Internacional sobre Culturas: Interfaces da Lusofonia (pp. 190-197). Braga: CECS.
Veiga, P.A. (2020). O Museu de Tudo em Qualquer Parte: arte e cultura digital - inter-ferir e curar. Coleção Humanitas, Centro de Investigação em Artes e Comunicação. Grácio Editor. ISBN: 978-989-902-325-3.
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BAIRRO DA LUZ: POLO CULTURAL E CONTRADIÇÃO SOCIAL
06 Jan 2013 - 25 Ago 2022 @jornalismolotov
Por #ACTardoque
Por Adriano Tardoque
A questão da cultura suscita reflexões que precisam sempre ir além. Nas últimas semanas, pensei muito sobre a região da cidade de São Paulo, hoje conhecida pejorativamente por “Cracolância”. Localizada no centro do bairro da Luz, mais precisamente no entorno das estações Luz e Júlio Prestes, este local é o exemplo de uma das maiores contradições sócio-culturais brasileiras. Paredes de quase um metro de espessura, ajudam a compor o belo prédio da antiga Estrada de Ferro Sorocabana, projetado em 1925 e concluído em 1938, que hoje abriga a Sala São Paulo. No local, se apresentam os maiores nomes da música erudita mundial e também estão instaladas as dependências da Secretaria do Estado da Cultura, onde se constituem as políticas públicas culturais da maior cidade do país e uma das maiores do mundo. Existem ali dois mundos distintos: dentro, a apresentação e a definição de diretrizes culturais que possam aprimorar e integrar o público pela oferta do que se entende ser o capital cultural estruturante para a sociedade; fora, um bairro abandonado, passando por um processo arbitrário de reestruturação urbana, por onde perambulam milhares de pessoas tomadas pela dependência química e mendicância.
O descaso com a região nos últimos 30 anos, levou a desvalorização e o abandono gradativo de imóveis, causando perdas econômicas, sobretudo para os donos do comércio local. Hotéis e prédios desocupados, que apresentavam alguma condição, passaram a ser ocupados por movimentos que lutam por moradias, que procuraram implantar nestes locais, condições mínimas para viver; os imóveis que estavam em situação crítica, foram ocupados por dependentes químicos que viviam pelas ruas do centro da cidade. Com o aumento da oferta das drogas e do consumo do crack nas imediações, a região passou a ser uma “referência de lugar inabirável ou intransitável” e teve a alcunha popular corroborada pelas próprias autoridades públicas e imprensa. Moradores do bairro, então, se viram obrigados a conviver com a violência e com a incerteza sobre o destino da região.
Sem debate com a sociedade, sobretudo com os moradores do bairro e adjacências, motivados pela abertura de investimentos de infraestrutura para a Copa do Mundo de 2014, a prefeitura aprovou na câmara a Lei N.o 14917 de 07/05/2009, chamada de Lei de Concessão Urbanística, dando ao Poder Público o direito de desapropriar imóveis do bairro, de acordo com “sua vontade”. Com uma proposta dita “estrutural” surgiu o Projeto Nova Luz, que "libertaria o paulistano do mal estar" que se instaurou na região e traria novamente "o sentido do nome Luz ao bairro”. Com o tempo a proposta mostrou em nada contribuir para a questão social, privilegiando a exploração territorial pelo mercado imobiliário. Só restava então a unificação dos movimentos de moradia e associações de moradores com outros movimentos sociais, constituindo assim um núcleo de resistência, que avançou neste processo, pedindo minimamente o diálogo. Sobre os desdobramentos:
“Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 9031477-73.2009.8.26.0000 - Em 12/06/2015 transitou em julgado a decisão do Órgão Especial do Tribunal de Justiça, em ADIn movida pelo Procurador Geral de Justiça do Estado de São Paulo que, por maioria de votos, analisou o mérito e julgou procedente a demanda, reconhecendo-se a constitucionalidade do art. 5º e § 1º desta Lei, desde que o Município, na aplicação desse diploma legal, garanta a participação das entidades comunitárias atingidas em fase anterior à edição de lei específica autorizando cada outorga de concessão urbanística. DOC 04/08/2015 p. 88 c. 4.”
As diversificadas linhas de pesquisa sobre a territorialidade da cultura, no desenvolvimento de diálogos culturais das instâncias micro para o macro, são a tabula rasa da dos projetos culturais. Com base nisso, nas últimas duas décadas, as políticas públicas fizeram dos aparelhos culturais os interlocutores entre as propostas e a comunidade do entorno. Às instituições têm procurado criar pontes de relação entre o arcabouço cultural que administram e o público, a fim de proporcionar o chamado capital cultural tão determinante para o desenvolvimento da cidadania. Os resultados trazem esperança, comoção, pedidos de reforços e ampliação de programas do gênero, dentre outras coisas.
Por trás de plantas e maquetes de grandes parques e centros de entretenimento que "dignificariam" a existência da Sala São Paulo, Memorial da Resistência, Museu da Língua Portuguesa, Pinacoteca do Estado e Museu de Arte Sacra, via Projeto Nova Luz, existe a justificativa urbano-sócio-cultural para o processo de gentrificação* empreendido no bairro. Se esta lógica do diálogo da instituição cultural com o entorno fosse pragmática, o Bairro da Luz seria hoje o principal pólo cultural do país.
* Do inglês gentrification, consiste num conjunto de intervenções no espaço urbano, sob a alegação do desenvolvimento, promovido com ou sem a intervenção governamental. Ocorrido em diversas cidades do mundo, está direcionado a retirada de moradias que pertencem às classes sociais pouco favorecidas.
Para saber mais:
Projeto Nova Luz – Contra a Cracolândia ou Especulação Imobiliária?
https://www.youtube.com/watch?v=cptmzku7vhk
Museo De Los Desplazados
http://www.lefthandrotation.com/museodesplazados/
Sem teto reformam prédio no centro de São Paulo:
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/sem-tetos-reformam-o-proprio-predio-no-centro-de-sao-paulo/
Lei 14917/09 de 07 de maio de 2009 – Concessão Urbanística.
http://cm-sao-paulo.jusbrasil.com.br/legislacao/709868/lei-14917-09
http://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/lei-14917-de-7-de-maio-de-2009/detalhe
Tags: urbanização, cultura, aparelhos culturais, gentrificação, políticas públicas
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