Tumgik
#narrativas natimortas
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Talheres II
É possível observar presenças Perseverando olhares entre folhas Incansavelmente possuindo olhos mágicos Assistindo danças intoxicadas de pele Significativamente lhe recebo, desconhecida A tal visita permeia meus sonhos sublimes Maculada de hematomas, tens meu corpo teu refém Eu a encontro em suas vestes talhadas de roxo Há certa representação de asas maiúsculas Vislumbres se preferir, das preferências de deus Mutáveis, eis aves, eis a paz, eis o exílio Corroendo tuas retinas tão frágeis Repentinamente, folhetins endurecem Tipicamente fatídico, adere a tríade Romance, proteção e absolvição Aos crimes de desleixo, flores O mistério asfixia álibis, marcas e outras manchas Conserte e prometa, como um teatro, ensaie Contrastes e estranhezas diversas varridas Para dentro das frestas de unhas quebradiças Donos a gritos são efeitos tardios e rarefeitos aos preconceitos Escondidos, negados, amaldiçoados, resistidos, endossados, Envolver o interesse na graça da normalização, não fale Apenas entregue-se, redima-se para ser absorvido quando necessário Tal proximidade soprada como parto de deus Revestido de pólvora, containers e falsificação Quem controla a interpretação, controla a figuração Autoafirma-se ao velar a esperança de toda a gente A catástrofe é pop, a catástrofe é inesperada Quem diria, que agiríamos como Virgílios Apresentando a terra do inferno como um lote atrativo Para investimentos sem indagações e narrativas natimortas
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Brasil ou os 120 dias em Sodoma.
“O MAL DEVE SER PRATICADO SEM PAIXÃO”. A frase emblemática que inaugura o pensamento crítico sobre o filme de 1975 de Pier Paolo Pasolini “Saló ou os 120 dias em Sodoma”, diz muito sobre nós, é interessante que essa maldade é o nosso pecado original, e por isso, o cenário pandêmico brasileiro, tornou-se um espetáculo, um espetáculo da banalidade do mal. Com mais 66 mil sepultados pela indignidade em valas comuns e inumanas, sem direito ao rito funerário e as nossas tradições. Quando o mal passa ser a regra, o discurso volta-se para o cumprimento da lei e da ordem, os indivíduos médios de uma sociedade se sujeitam a papeis deploráveis, perseguindo, denunciando, acoitando inocentes e criando vítimas da tirania e a vida passa ser negligenciada.
Na semana que se completa os 120 dias de quarentena no Brasil, não poderíamos deixar passar triste a oportunidade de construir uma simetria desse cenário de crise epidemiológica, política, social e econômica. Com um filme que envelheceu como vinho. Elevando assim Salò ao status de documento e o documento aos status de monumento. É preciso construir um olhar que coloca o Brasil em perspectiva a tragédia imposta pela pandemia e como isso reverbera na história da civilização e, portanto, na história da arte. Salò e Brasília são monumentos da tragédia e da barbárie.
A obra do Pasolini que faz referência ao título desse ensaio, coloca em evidência a formação da nova República Fascista do Mussolini em 1943 na cidade de Salò na região da Lombardia, norte da Itália. Inclusive, Salò foi capital desse Estado-fantoche até 1945. Em Salò, um grupo de notórios atores políticos desse Estado fascista escolhe um grupo de jovens para passar uma quarentena de 120 dias numa Mansão. Que é uma clara referência ao livro do Marquês de Sade “Os 120 dias em Sodoma de 1785”. De maneira bem crítica, o olhar de Pasolini denuncia a barbaridade a depravação dessa grupo que era representado por um presidente de banco, assim configura um olhar para o poder econômico e burguês, por sua vez também tinha um representante da nobreza com o duque, um bispo que traduz o poder da Igreja e também um juiz, que em suma reflete o poder judiciário. Em resumo, coloca em evidência todos aqueles que de uma forma ou de outra colaboraram com o fascismo italiano e por isso é preciso escancara a verdade e com isso jogar luz sobre os fatos, de modo que a Itália passe a discutir o que foi o fascismo. É interessante, que o filme é lançado apenas trinta anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, e até hoje essas questões são sensíveis e muito caras quando são discutidas. Brasília é a Salò brasileira?
Sobre essas vicissitudes, o cenário pandemônico brasileiro parece compor o cenário de Salò durante a república fascista italiana. A discussão personalista resvala na realidade, é o mesmo que fazer aquele eterno debate, “a arte antecipa os debates”. E por isso, a nossa versão do banqueiro italiano é o Ministro da Economia, os nossos representantes religiosos estão congregados na Bancada evangélica, que se dizem arautos do cristianismo e na realidade são moralista e que anunciam o fim do próprio cristianismo, uma vez que é isso que acontece com a aproximação do cristianismo e o fascismo, são dois completamente incompatíveis. A nobreza sem dúvida é representada por uma falsa família real brasileira, que alimenta a absolutização e se colocam acima da lei da ordem. E por fim, a representação do judiciário é o advogado que escondeu o laranjal de Atibaia, o advogado ignora a isonomia do serviço que deve prestar e lisura com os valores republicanos. O Brasil é colocado nesse cenário de imoralidade e de terraplanismo pandêmico, e os 120 dias na Sodoma brasileira cria a expertise compreender que se existe algo revelador, esse algo é o poder. Afinal de contas, alguns santos tem os pés de barro.
O Brasil repete os mesmos círculos infernais de Salò. A composição cinematográfica é dividida em três atos. O círculo das manias, o círculo da merda e o círculo do sangue. Cada ato é guiado por três prostitutas contratadas pelos libertinos e cada círculo faz uma reflexão narrativa sobre a degradação da natureza humana, e essas narrativas são inspiradoras para os depravados exercerem o ímpeto de sua violência pela garantia de micro poderes que são maximizados nessas circunstâncias. O mal é praticado indiscriminadamente. As Manias são os comportamentos repetitivos, com costumes esquisitos. A Merda é encarar a fisiologia de outra maneira, quase genial a maneira da Gargantua e Pantagruel de Rabelais, ou seja, uma forma sofisticada e aprimorada daquilo que causa repulsa, um festim da merda e para a merda. O Sangue coloca o suprassumo da banalidade e da violência, a mutilação, a tortura, o sadismo e a morte. Com esses 120 dias de banalidade da pandemia, é preciso nos afastar dessa escalada degenerativa do cenário brasileiro. Não podemos nos render a banalidade, a violência e a eliminação da humanidade. A sociedade brasileira não pode ser leniente com o governo que perpetua uma verborragia em nome da lesa-humanidade.
Os últimos 120 dias de pandemia no Brasil foram simplesmente civilizadores em ponto de vista social, ético e político, mas ousadia dizer que também foi revelador para aqueles que ainda tinham certos questionamentos sobre a depravação política perpetrada no triangulo de Brasília. As evidências são esclarecedoras, a “Nova Política” inaugurada pelo bolsonarismo é uma falácia, e portando, natimorta. Desde a fuga de Weintraub para Miami, passando pela Reunião Ministerial do dia 22 de abril, e também pela aproximação da presidência da República com os fura poços do Centrão, não há dúvidas, o governo envelheceu rápido, e talvez o ponto de viragem foi a denúncia apresentada pelo ex-Ministro Sérgio Moro, que acusa Bolsonaro de interferência política na Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Óbvio que para as velhas raposas políticas, essa idiossincrasia de Bolsonaro não representa nada de novo no front e existem diversos focos. 120 dias, sendo submetidos estelionatos eleitorais, torturas e humilhações de todo tipo.
Mas é importante deixar em evidência também que os contrassensos não são exclusivos desse viés mais pragmático de uma realpolitik. É interessante, muito embora lamentável, que o presidente insiste em manter um discurso de ideologização política pandemia, sobretudo, no que tange a coordenação do combate a pandemia, o isolamento, protocolo de uso de máscaras, medicamentos e terapias. É importante dizer também, que o presidente não tem formação técnica para esses debates e tão pouco quer ouvir os especialistas, em suma, é um descalabro, pois, a falta de coordenação federal, a ausência de uma chancelaria que busque de fato combater o vírus e também criar uma planejamento estratégico para a economia está longe de aparecer nesse horizonte de infinitas trevas. Com mais de 1.6 milhões de casos de contaminação no Brasil, ainda com baixos índices de testagem e alto nível de subnotificação, certamente que esse vírus está longe de ser chinês, é um vírus brasileiro. É o governo precisa parar de obliterar a disseminação e a morte dos indivíduos, é um dever e uma herança da nossa civilização dar os túmulos escriturários para as vítimas e o os derrotados, é o dever que nos foi deixado por Walter Benjamin, Hannah Arendt e por Jesus Cristo.
A tragédia pandêmica na Lombardia fez o brasileiro viver o luto pelas mortes na pandemia, e nessa esteira, quando a pandemia chegou no Brasil, o governo se viu atônito, negacionista e isso reverbera de maneira trágica sobre a sociedade. O filme Saló ou os 120 dias em Sodoma já supramencionado, é um bom exercício para entendemos o que acontece no Brasil, de maneira muito genérica, a perversão da presidência da República deixa isso exposto as vísceras, o flerte com o fascismo é de fato algo manifesto, a falta de esclarecimento também. Ou seja, as diretrizes são muito óbvias, a destruição da verdade e das epistemologias, questionamento das narrativas com o objetivo de construir sua versão dos fatos, uma tentativa de controle da informação, a guerra cultural, o culto ao Estado e a figura política que teoricamente emana toda essa nova racionalidade como se fosse algo de fato virtuoso. Mas esse fascismo brasileiro, não tem aparo sob os pilares tecnocráticos do Estado, pois esses incessantemente colocando os discursos fascistoides em perspectivas para derruba-los, ou seja, esse assanhamento autoritário não se estabelece, sobretudo, quando são fascistas de chinelo guiados por um guru terraplanista.
A banalidade do mal também está no atravessar dessa fronteira da ilegitimidade, obstaculizar a justiça, um grande passo para tiranos. Alguns êxitos nefastos desse grupo é preciso destacar também, como: a capacidade de comunicação rápida via midas sociais, sobretudo, quando há necessidade de criar Fake News e desestabilizar politicamente a nação e também, em virtude de algo ainda mais perversos, que a banalização do mal, a figura do bolsonarismo está inebriada dessa concepção de eliminar a sensibilidade e criar a amor pelo hediondo e o inumano. E vão além, aperfeiçoam a maldade, racionalizado e catalogam. Assim, a vitória do bolsonarismo se manifesta, e quando falamos sobre as mais de 66 mil mortes por COVID-19 no Brasil os números viram mera paisagem. O que acaba fazer com que esse parágrafo volte a parte inicial do ensaio, “O mal deve ser praticado sem paixão?”.
Se existe algo mais grego que um destino trágico eu desconheço, sobretudo, com aqueles que incorrem nas desmedidas, a verdadeira hýbris é feita quando o crime é realidade contra o próprio sangue, e isso pode ser interpretado como a própria pátria. Por isso, é possível elencar uma série de declarações infelizes do presidente Bolsonaro que o coloca inserido nessas desmedias e pronto para enfrentar um funesto destino. A politização da pandemia não é um caminho sem volta, mas é o caminho que ele insiste em colher certas flores malditas. Nesse cenário, é desesperador quando lembramos que agora é o período de sazonalidade de outros vírus que agridem o sistema respiratório. Quem pisará na cabeça da serpente?
Mesmo aquele que desprezou a capacidade de disseminação do coronavírus em detrimento da salvação da economia, hoje, vê-se como parte das estatísticas. Não obstante, a infecção parece não ter esmorecido a sua truculência e insensibilidade, pelo contrário, usa a própria moléstia para incendiar o país e tocar violino, só que isso prova, que o vírus não faz distinção política, tão pouco é seletivo, já se mostrou fiel a universalidade. Seria esse também uma manifestação das Fúrias? E no fim das contas, o presidente conseguiu salvar a economia? Entre cacos e ruínas, os 66 mil mortos foi um sacrifício fasto para economia? Parece que não, e ao que tudo indica, agora até os prefeitos e governadores que antes faziam uma oposição pungente contra o Governo Federal no que tange a reabertura econômica atendem as pressões políticas, estando eles banhando-se nas águas do equívoco, “morra quem morrer”, sobretudo, quando não há sinal claro do fim da pandemia, e a reabertura entra numa rota de colisão com o a curva ascendente de casos, sem mesmo sabermos o fim retumbante desse horizonte. É shakespeariano: “Não joga estrume sobre ervas daninhas. Que elas crescem ainda com mais força”. Como se não bastasse, é preciso atribuir uma série de inflexões, principalmente em um período em que uma onda reacionária que vem se manifestando de forma virulenta no Brasil, onde políticos que defendem torturadores são exaltados, eleitos elevados aos patamares messiânicos.
O governo eleva ao máximo o conceito alemão Schadenfreude: literalmente, alegria ao dano que designar o sentimento de alegria ou satisfação perante o dano ou infortúnio de um terceiro. A palavra deriva do alemão Schaden “dano, prejuízo” e Freude “alegria, prazer”. Esse é o verdadeiro espírito da banalidade e do exercício de uma Saló brasileira. Até onde vai essa fronteira do que é autocrático e se faz valer de forma escatológica e o que de fato são as permissões de uma democracia em favorecer a criação dessas ervas-daninhas? Qual caminho optaremos: a luz da civilização ou o terraplanismo autoritário? A resposta está na própria maldade, essa não pode ser praticada, pois é implacável e sempre reprovável. O mal o pecado da original da modernidade. Aqueles que incorrem pela maldade merecem o sepulcro de direito. O Brasil não pode se tornar uma Sodoma moderna. E sobre o exercício do mal, não podemos esperar uma ode, mas uma batalha, pois no fim das contas, os castelos de areia pelos quais nós lutamos são temporários, mas só a maré é eterna.
Gabriel Costa Pereira é Professor e Historiador da Arte na rede particular de ensino, é pesquisador dos temas estética, arquitetura e estética política nazista, esse ensaio foi escrito no dia 07 de julho de 2020.
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pedrosasposts · 3 years
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A CPI fake natimorta vai derretendo e as narrativas mentirosas com opos...
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