Você vai deixando rastros pela casa.
Tem uma foto nossa na minha carteira
e na parede do meu quarto.
Tem um girassol na varanda, que está vivo há 15 dias e insiste em não morrer.
Tem um bonequinho que você trouxe de Recife pra mim na minha biblioteca.
Meu cachorro está andando pela casa com a pulseira que estava no seu braço hoje.
Às vezes o medo de paralisa, porque sei que é você.
E, se não for, também sei:
Vai ser o pior término da minha vida.
(Iraque)
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REINO DESSE MUNDO> CHRISTIAN CRAVO
Reino desse mundo ( Ed.do Autor, 2022) do fotógrafo baiano Christian Cravo, reúne, por definição do mesmo, sua série definitiva sobre a África, já encontrada em parte no belo Luz & Sombra (Ed.Apuena, 2016) comentado aqui neste blog [ leia aqui em https://blogdojuanesteves.tumblr.com/post/163676757171/luz-e-sombra-christian-cravo ]. É uma edição requintada, em três versões, com capa de tecido; em uma caixa exclusiva de madeira e capa em couro acompanhada de uma print e a edição tradicional em capa dura em grande formato, bilíngues inglês e português, com texto da curadora carioca Ligia Canongia.
Aos 13 anos, o fotógrafo mudou para Dinamarca, país de sua mãe, que acolheu suas fotografias durante 8 anos entre idas e vindas à Bahia. Neto do escultor Mario Cravo Júnior (1923-2018) e filho do fotógrafo Mario Cravo Neto (1947-2009), celebrados por seus originais trabalhos, sempre teve como influência a luz tropical de sua terra natal. Já em seu Luzes e Sombras, realizado na África, durante o ano de 2015, ele arrefece seus tons mais duros e se debruça por tonalidades mais amplas, elencando diferentes protagonistas outrora vistos em suas mais antigas publicações e calcados na diáspora africana para belos animais selvagens e a ancestral paisagem do continente africano intacta em sua beleza.
No prefácio do curador Emanoel Araújo (1940-2022), conterrâneo do autor e um dos mais importantes integrantes da arte brasileira originária da África, Christian Cravo é o mais obstinado dos fotógrafos que conhecia, lembrando que suas imagens do Haiti, traziam uma versão profunda da vida e da cultura daquele país “tão negro quanto a África, tão religioso quanto um vodum do antigo reino do Dahomey" cuja fotografia é mais do que um exercício puro e simples, onde sua expressão traz um olhar voltado para criação e para o momento, "o tempo além do clique, além do olhar, além do registrar, uma obra à qual se acrescenta emoção, pulsação dos sentidos."
Certamente, o leitor das primeiras páginas às últimas perceberá, ou melhor, sentirá, a pulsação a que Araújo refere-se, nas sequências de paisagens grandiosas, bem como nos representantes da fauna peculiar africana, e a fusão destas duas condições para além do inventário tradicional que pulula nos livros paralelos ao tema, mas em direção ao inefável que Cravo nos oferece, em meio a "brancos, cinzas, pretos, um todo composto, abstrato, sintético, reducionista como a própria arte africana, com seus dogmas e a natureza de falar com suas próprias vozes e seus encantos" na poética descrição de Araújo.
A curadoria do próprio autor e o design dele e da LadoB, elaboram uma narrativa poética sustentada no caráter dialógico entre as duas fontes do livro, os imponentes animais e as deslumbrantes paisagens construídas pelas dunas, como as que abrem a publicação no Parque Nacional Namib-Naukluft, na Namíbia e os leões do Parque Nacional Serengeti, na Tanzânia; elefantes no Parque Nacional de Amboseli, no Quênia ou no Parque Nacional do Chobe, em Botsuana. Além deste países o fotógrafo capturou suas imagens na República Democrática do Congo, Uganda e Zâmbia.
Diferentemente das obras apresentadas em outros livros como Irredentos (Áries, 2000) onde o cineasta carioca Walter Salles escreve que "Não há nessas imagens a visão apriorística de quem julga aquilo que enquadra..." e Ligia Canongia que as imagens se enquadram nas "visadas do êxtase religioso na cidade de Salvador, Bahia.", neste livro ela aponta que diferente, portanto da neutralidade do documento, do registro imparcial que se distancia do objeto fotografado, "as imagens de Christian Cravo, nestas séries, são apaixonadas, dramáticas e comoventes sem perder, paradoxalmente o teor documental que sempre as acompanha. É no fio da navalha que suas fotos se sustentam, na ambivalência entre a objetividade e a expressão, ou entre o rigor formal e a exaltação lírica."
O paradoxo aqui encontrado vem do fato das imagens do fotógrafo surgirem de uma manifestação inequívoca da subjetividade encontrada, por exemplo na ousadia dos fragmentos dos animais e paisagens, provocando uma certa ligação à interioridade destas. O lírico em oposição ao documental mais rígido é expressado mais fortemente na situação poética, ainda que não advenha somente de seu olhar, mas sim da materialização desta no conjunto da publicação, bem como o afastamento de uma descrição, como as publicações que cuidam do ambiental costumam fazer, o localizando essencialmente na seara artística.
Ao transformar em arte, o que era estritamente documental e conhecido, Christian Cravo, definitivamente deixa o mainstream fotográfico. Ligia Canongia analisa em seu texto: Paul Virilio, por exemplo, declara que o sujeito contemporâneo, diante do quadro geral de torpor causado pelos meios públicos de massa, ingressou em uma "imensa conspiração do silêncio", perdeu sua razão crítica e sua capacidade de reflexão, não se deixando mais "tocar" pelas coisas. No livro Reino desse mundo, o marasmo fica para trás, diante da estese provocada no leitor.
As representações expostas pelo fotógrafo inserem-se no conjunto maior da arte africana, uma produção que originou-se ainda no período pré-histórico, em um mundo sem a escrita, o que aproxima ainda mais do meio fotográfico Lato sensu, quando nos expressamos somente por imagens, e estas bastam em sua busca pela espiritualidade e ancestralidade. Afinal, estas fotografias contemporâneas percorrem a mesma geografia de outrora e já desde o século XIX vemos o surgimento do legado africano para a arte ocidental em obras como as do malaguenho Pablo Picasso (1881-1973) e suas versões para as máscaras africanas. Christian Cravo, dá mais um passo importante e perene na incorporação e na construção de uma necessária celebração de um continente que continua sendo nosso berço.
Imagens: ©Christian Cravo - Texto © Juan Esteves
Ficha técnica básica
Imagens Christian Cravo
textos: Emanoel Araújo e Ligia Canongia
Editora do Autor, 2022
Impressão em Full Black- Gráfica Ipsis
Papel Garda Kiara
Tiragem 650 ( 200 numerados e 50 com acabamento de luxo em um box e cópia assinada)
Encadernamento especial- O Velho Livreiro
Revisão de Texto- Estúdio Apuena
Todas as imagens podem ser adquiridas em cópias assinadas em tiragem limitada em www.christiancravo.com
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quando você voltou eu pensei que fosse um sonho.
achei que estivesse ficando louca. que era só sexo. ou que não fosse nem isso. que era ego. ego ferido por eu ter ido embora, mesmo depois que você ter me destratado, me maltratado, me deixado pequena.
achei que eu estivesse delirando.
que era bom demais pra ser verdade.
você apareceu, meio trêmulo meio tímido, me parou no meio-fio da augusta e me lançou um “agora você tá fumando?”.
fiquei paralisada.
minhas pernas não respondiam ao comando - porque, se respondessem, talvez eu tivesse saído correndo - e só me restou dar um sorriso meio falso, meio perturbado, e soltar um meu-deus-há-quanto-tempo-a-gente-não-se-vê, e ir inalando teu cheiro de novo. teu cheiro de saudade.
e confundi com recomeço.
confundi tudo com recomeço.
as noites foram incríveis porque você é incrível.
o sexo foi incrível porque nossa química é perfeita e o tempo não mudou isso.
não mudou seu gps interno, que reconheceu cada esquina do meu corpo. não mudou a hora perfeita de colocar e tirar, de acelerar e desacelerar. o tempo não mudou meus pelos e minhas costas respondendo a você, meu corpo cedendo ao seu toque.
achei que fosse amor de recomeço.
e, sinceramente, é bem provável que até fosse uma tentativa de sermos mais sinceros, mais compreensivos e mais entregues, mas a verdade é que eu não posso fazer isso.
não posso recomeçar com você.
porque você não quer dividir sua vida com ninguém. e eu não vou mais me colocar no papel de tentar destruir essa barreira por sabe-se lá que motivo você criou com a vida. porque não é justo com quem eu tô agora. e porque, acima de tudo, não é justo comigo.
não quero e não posso ficar com ninguém que me faça abdicar de mim.
não vou mais me adaptar.
te amo pra sempre sempre sempre.
não se esqueça de mim.
(iraque)
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“Eu queria dizer que é inadmissível que a gente passe a vida toda procurando por algo que no final vai doer. Mas eu sei que o que dói não é o amor, sabe? As pessoas que não sabem amar. Elas te obrigam a ser pequena, elas te obrigam a se desfazer do que você é, das suas peças, a se desencaixar de você mesma pra se encaixar em um lugar que você nem pertence. E você tem tanta certeza que um dia o amor dos seus sonhos vai finalmente florescer que nem se importa de se quebrar um pouquinho. Se é tudo em nome do amor, por que mesmo assim você não se sente amada?”
— INTERlude (Luisa Sonza)
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