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#Indicação Literária
contosequestoes · 3 months
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"Nossa Música"
O primeiro livro de Dani Atkins que li foi Uma Curva no Tempo, e me arrebatou, gostei muito, depois li A História de Nós Dois, gostei muito também, no entanto Nossa Música não me arrebatou, achei a leitura cansativa, talvez seja eu e não o livro. A história é interessante, mas estou um pouco cansada com essas leituras que estão no presente e voltam pro passado, isso me cansa, porque gosto de…
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emmieedwards · 9 months
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Resenha: Skyward, de Brandon Sanderson
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Livro: Skyward - Conquiste as Estrelas Série: #1 - Série Skyward Autor: Brandon Sanderson Gênero: Sci-Fi, Fantasia, YA Ano de Publicação: 2018 Editora: Planeta Minotauro Páginas: 400 Classificação: +12
Esse livro é uma das razões porque o gênero sci-fi (tanto na literatura quanto na arte visual) é um dos meus favoritos.
Há muito tempo, depois de passarem um período no espaço a humanidade foi obrigada a se refugiar em Detritus, um planeta um tanto hostil protegido por uma camada de detritos que separa a civilização do céu. Desde que seu pai mostrou as estrelas numa breve abertura nessa camada, Spensa ficou fascinada com a vastidão. Ela sabia que estava destinada a voar como seu pai e ser tão talentosa e respeitada quanto ele. Mas quando Chaser é chamado para uma batalha contra os temidos Krells — alienígenas que vira e mexe estão tentando aniquilar os humanos —, acaba sendo abatido por seus próprios amigos por ser um covarde e abandonar sua esquadrilha no meio da luta, Spensa ganha um título que ela nunca pensou receber: Spensa Nightshade, a filha de um covarde. Apesar de ela ter certeza que seu pai é inocente e que o que contam a ela não é a verdade, Spin (seu codinome) sabe que para ter alguma influência para alguém acreditar nela, precisa ter uma posição de destaque. Como a de piloto. Mas entrar para a Federação não vai ser tão fácil quanto ela pensa, mesmo tendo se preparado como pôde há anos. Ninguém está disposto a dar uma chance para uma possível covarde.
Mas tudo pode começar para mudar para Spin quando ela acaba achando um caça-estelar quebrado e antigo, mas com uma tecnologia muito mais aprimorada do que ela conhece. A nave tem até uma inteligência artificial capaz de se comunicar com ela e, apesar de ter parte do seu banco de dados corrompido, ela pode mudar todo o jogo. Isso se Spin conseguir consertá-la e convencê-la a voar. Tá aqui mais um livro que entrou fácil na lista de favoritos desse ano. A quantidade de surtos que eu tive lendo foi quase um recorde, acho que sinceramente nunca vibrei tanto quanto nessa leitura. Sanderson tem um jeito todo particular de te imergir na situação que é quase como se pudéssemos sentir a mesma adrenalina que os personagens estão sentindo. As cenas de batalha são enérgicas que quase faz você sair pulando de animação. Além disso, a protagonista, Spensa, é uma personagem extremamente bem construída. O crescimento e evolução de personalidade dela é visível e impressionante. E o M-Bot, a inteligência artificial, sem dúvidas foi um dos pontos altos do livro. Alô, mãe, estou apaixonada por uma máquina fictícia 🤣. O livro tem aquela pegada bem adolescente, mas uma profundidade bem madura. Certeza que vai entrar para os favoritos da vida ❤️ Esse foi o meu primeiro contato com Sanderson e eu já tô maravilhada. Skyward é o primeiro de possíveis quatro livros (e um conto) e é publicado pela Planeta Minotauro aqui.
Alguém aí já leu? Já pensaram em dar uma chance para o gênero? Conta nos comentários 🥰
NOTA: ★★★★★ 5/5 + ❤️
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*resenha escrita e publicada originalmente no instagram em 2020*
L I V R O D I S P O N Í V E L N O KINDLE UNLIMITED
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sonharavida-blog · 2 years
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Indicação literária: A pequena Alice. Autor: Lewis Carroll Ilustração: Sir John Tenniel Tradição e Posfácio: Cristina Porto Ed. @edicoesbarbatana Essa é uma leitura indicada para pequenos leitores, assim como eu e você. Ah, já podemos imaginar o que vai acontecer nessa história... Mas apesar dos outros contos, adaptações escritas e produzidas através de Alice no país das maravilhas; essa é um pouco além do olhar de cada um, que a experiencia. Essa adaptação reescrita e contada de forma sucinta e um tanto cômica, a brevidade não se limita a imaginação... Mas, preste atenção! Se não, CORTEM-LHE Á CABEÇA!!! Calmaaaa, ufaa é só um sonho. https://www.instagram.com/p/ChD7sRzrZJ6/?igshid=NGJjMDIxMWI=
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DIA 17 - Desafio de escrita #3 - Foreshadowing #desafiodeescritadiario #100diasdeprodutividade2022
Olá, como vão todos? Hoje é dia de desafio! Sei que estou atrasada uns quatro meses? Cinco? Agora que estou de volta vamos retomar nossos desafios mensais! Para esse mês pensei em algo diferente, focado em uma técnica de escrita literária, o Foreshadowing! Vocês conhecem o termo? 
Temos um texto sobre o assunto bem aqui >>> TUMBLR/WORDPRESS
 Para resumir, Foreshadowing em essência é deixar pistas pelo texto a fim de serem reutilizadas no futuro ou são uma indicação de que algo acontecerá mais adiante. É dar um contexto para o aspecto que você quer desenvolver para que nos próximos capítulos esse aspecto não pareça ter surgido como magica no seu texto, como o tão temido “Deus Ex-Maquina”. 
 Alguns exemplos podem ser: (x)
Menção em um diálogo, um elemento do cenário ou uma frase do próprio narrador. E pode ser dada tanto de maneira direta: — Ah, vai chover hoje à tarde!, quanto indireta: as nuvens estão carregadas.
Muitas vezes o foreshadowing só é percebido quando volta a ser citado, criando aquele momento de revelação. Em “A Câmara Secreta” há uma aula de herbologia sobre mandrágoras, mais tarde elas são usadas para curar os petrificados pelo basilisco.
Pode ser usados para criar expectativa antes de uma revelação. A intenção é sinalizar algum ponto-chave em que o leitor deveria ficar atento; um elemento aparece, mas não é explicado por inteiro ou uma conversa em que duas personagens frisam um nome desconhecido? Isso deixa o leitor curioso para saber quem é essa pessoa e por que ela é importante.
Apresentar as pistas em um mistério. Em “Assassinato no Expresso do Oriente”, há a conversa entre Mary Debenham e o Coronel Arbuthnot logo no início; o aviso de Ratchett de que vai ser assassinado e as doze facadas no corpo, algumas feitas com a mão esquerda e outras com a direita. Essas e outras pistas conduzem a atenção do leitor ao longo de toda a trama.
Criar suspense. Em “O Iluminado”, Dick diz que nenhuma das visões de Danny poderá machucá-lo, mas ele deve ficar longe do quarto 217. Mais tarde, quando Danny entra no quarto e vê a mulher na banheira, a tensão sobe vários pontos adicionais graças à menção anterior.
Criar humor. “O Guia do Mochileiro das Galáxias” começa com Arthur tentando impedir que sua casa seja demolida para a construção de uma rodovia. Pouco depois, os Vogons anunciam a destruição da Terra para construção de uma rodovia hiperespacial.
Uma profecia é um tipo de foreshadowing. Ela faz um prenúncio ao leitor e deixa ele supor como as coisas vão se encaixar para trazer aquele resultado. E ela não precisa ser o pronunciamento de um vidente, Deus, profeta ou algo do tipo; viajantes do tempo que tentam mudar/garantir o futuro também sabem o que deve acontecer.
Pode ser usado através de um simbolismo. Por exemplo, há a descrição de uma tempestade se formando no horizonte e depois as personagens passam por momentos difíceis. Em “Adeus às Armas”, Hemmingway diz que “as folhas caíram cedo naquele ano”; um prenúncio de uma morte prematura.
DESAFIO DE ESCRITA #3: Foreshadowing
O desafio dessa vez é mais complexo, escrava uma série de cenas onde duas cenas tenham ligação direta, a primeira deve prever ou avisar algo que se concretizará nessa outra cena. O texto deverá ser em prosa, a classificação você escolhe, o importante para o tema de hoje é essa ligação de acontecimento entre as cenas.  As regras gerais são:
Os textos têm que ter no mínimo quinhentas palavras e não fugir do tema. (Seu texto pode ter quantas palavras você quiser, porém, analisarei até duas mil palavras, então capriche nesse começo);
Vocês podem usar a premissa que quiserem, podendo ter mais de um conceito;
Não há limites para capítulos ou histórias;
Não há classificação etária para esse desafio;
A data final será daqui a um mês, no dia 21 de julho.
Usar a  hashtag #desafiodeescritadiario
Tirando isso a escrita é livre. Se lembrem, esse projeto é para ser divertido e não se tornar uma obrigação. Quem quiser participar use a hashtag #desafiodeescritadiario (se você escreveu sobre algum tema anterior ou usou algum prompt do blog, também aceitamos a qualquer momento), você apenas precisa colocar no seu post as seguintes informações:
Ship: Se for fanfic, se não exclua esse campo.
Fandom: Se for fanfic, se não coloque apenas “original”.
Avisos: Coloque aqui todos os avisos importantes ou que possam trazer gatilhos.
Classificação: 
Escolha entre:
Livre: Qualquer pessoa poderá ler sua fanfic; +10: Voltado para crianças alfabetizadas. Conteúdo sem violência, sem conter insinuações de linguagem grosseira e ausência de temas adultos;
+12: Conteúdo com menor grau de violência, insinuações de linguagem grosseira e ausência de temas adultos;
+14: Não recomendável para menores de quatorze anos por conter alguma violência, linguagem levemente grosseira, e sugestão de temas adultos;
+16: Apenas maiores de 16 anos, geralmente fanfics classificadas assim possuem conteúdo um pouco mais puxado para o adulto, cenas de luta, ou insinuação de sexo (Ecchi);
+18: Histórias voltada ao público maior de idade, possuem conteúdo adulto, podem conter violência, pornografia ou sensualidade extrema.
Sinopse: Dê um pequeno resumo ou diga do que sua história ou conto se trata. E não se esqueça de uma capa. Como no desafio anterior as mesmas condições se mantêm:
Recompensa para o melhor texto:  uma análise de texto mais aprofundada. 
É claro que se você não quiser, você não precisa participar da recompensa. Meu objetivo seria escolher um ou dois textos e fazer a análise aqui no blog. Quem quiser participar é só usar o hashtag que por ela eu encontro o post de vocês e claro, postar até a data limite. Assim, anunciarei em um post os todas as histórias participantes e o vencedor. Seria legal preencher o formulário com suas informações básicas para que eu possa falar com vocês sobre as recompensas. 
Logo saí a análise do desafio anterior! Até a próxima!
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booksdudaaz · 2 months
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✨ Oi oi gente! Se você é novo por aqui, ou se quer me conhecer um pouco mais, eu sou a Duda! Sejam bem-vindos a esse cantinho de indicação e muito amor!
💫 Eu sou gaúcha, do interior do RS e meu amor pela literatura começou desde que eu me conheço por gente! Sempre amei ler e escrever, sou uma fanfiqueira raiz e meu primeiro crush literário foi o Edward, haha 💫Hoje em dia trabalho como Assessora Literária, ajudando autores a realizar o sonho da publicação do seu livro, e como Influencer Literária, indicando livros nacionais. 💫Como Assessora ajudo desde o planejamento de escrita do autor, até a publicação do livro físico. E as etapas são muitas! Os serviços que aconselho que são indispensáveis nesse caminho é a betagem e/ou leitura critica, revisão e preparação de designer de qualidade! ✨ Sou sagitariana, apesar de não entender nada de signos, tenho dois filhos e sou completamente apaixonada por esse mundão literário. ✨"Entre as páginas de um livro, é um ótimo lugar para estar"
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asultimasromanticaas · 2 months
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Quer um livro para sair da ressaca literária? Tenho a indicação perfeita!
Um livro muito bom para você que gosta de romance é "Amor & Gelato” , é um livro bom para quem quer começar a ler e e um livro ótimo para todas as idades, é uma leitura fácil já que possui uma escrita flúida. Ele se trata de um livro de romance que se passa na Itália, mais especificamente em Florença.
Lina uma adolescente que perdeu a sua mãe e que, de modo a cumprir o seu ultimo desejo, se mudou para Italia, para ir viver com o seu pai, que nunca conheceu. No entanto, Lina não faz ideia daquilo que te espera na Italia!
Quem gosta de romance que aquece o coração vai amar esse!
— Feito por Gabi F
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ligianogueira · 3 months
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Uma nova história
[Texto publicado na Revista da GOL em fevereiro de 2024]
Enquanto a venda de livros aumenta e as grandes livrarias fecham as portas, a gente se pergunta quais os novos caminhos da indústria editorial. Entre clubes de assinaturas e espaços especializados, uma coisa é certa: a curadoria personalizada nunca esteve tão em alta
Por Lígia Nogueira
“Quero um livro que conte a história de alguém que saiu do nada e conquistou tudo”, pediu o homem. Pensando em algumas biografias com esse tipo de narrativa, as livreiras sugeriram “Esforços olímpicos”, em que a autora Anelise Chen narra a trajetória de uma imigrante taiwanesa que usa o esporte como metáfora para refletir o que é vencer e o que significa desistir. “Gostei, vou levar”, disse, satisfeito, o leitor, passeando entre as prateleiras dedicadas a Oriente Médio, Ásia e Imigrantes deslocados da livraria Aigo, inaugurada no fim de julho em São Paulo. Se tivesse sido aberta há cinco anos, dizem as proprietárias, teria sido ainda mais desafiador encher as seções com a curadoria atual. Boa parte do acervo da loja, que se define como migrante diaspórica, é de livros lançados recentemente. 
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“Só para ficar em um exemplo, ‘A vegetariana’ (Todavia), da coreana Han Kang, que ganhou o Man Booker International Prize, um importante prêmio literário internacional, em 2016, foi provavelmente o primeiro livro coreano traduzido para o português que nós lemos. A partir de leituras como essa a gente pôde se reconectar com um país que apenas conhecíamos de segunda mão”, diz Agatha Kim, 38 anos, sócia da Aigo ao lado de Yara Hwang, 37, e de Paulina Cho, 32. Filhas de imigrantes coreanos, as três cresceram no Bom Retiro, deixaram o bairro e agora retornam ao local para ressignificar a relação com as suas origens e empreender, apostando na curadoria cada vez mais especializada e no atendimento ainda mais próximo do leitor. Por todo o espaço, há cartões escritos à mão pela equipe e por visitantes da vizinhança com indicações de leitura, uma prática comum em livrarias de bairro em outros países.
“Ler nos coloca em contato com a vida íntima daqueles que seriam nossos conterrâneos, vizinhos e amigos se nossas famílias não tivessem emigrado. E nos faz querer que mais pessoas tenham essa experiência”, continua Agatha, que, assim como Yara e Paulina, não era do mercado editorial e deixou um emprego na área de publicidade para cuidar do novo negócio. Elas também estão aos poucos trazendo livros em outros idiomas para suas prateleiras, para ampliar o acesso a quem não tem o português como primeira língua. “A ideia é expandir as narrativas literárias”, contam as sócias, que costumam receber pessoas de todos os lugares do Brasil e de fora, principalmente aos sábados, quando o movimento é maior. As estudantes Ana Paula Jacobson, 25 anos, e Giovanna Pires, 26, de São Paulo, aproveitaram o fim de semana para conhecer a livraria e aprovaram a visita. “Amei a experiência. O espaço passa uma sensação muito afetiva, é possível sentir o esforço que fazem para se conectar com a comunidade local de leitores e receber as pessoas”, diz Giovanna, que levou três publicações para casa. Ana Paula, que nunca tinha estado em uma livraria independente antes, comprou dois títulos por indicação das sócias. 
A livraria de 60 m² fica no Centro Comercial do Bom Retiro, uma galeria com projeto do arquiteto polonês Lucjan Korngold inaugurada na década de 1960 onde estão instalados cafés, salões de cabeleireiro, brechós e restaurantes como o Prato Grego. Muita gente acaba passando por lá rumo à Feira do Bom Retiro ou incentivada pela cultura do k-pop. Para André Conti, editor e sócio da Todavia, esse movimento faz parte de uma tendência mais geral da indústria do livro no Brasil. “No caso de autoras e autores coreanos, temos visto a popularização dessa cultura por aqui, seja pela música, pelos doramas [espécie de novela], por onde for, então é natural que se publique também a literatura daquele país”, diz ele, lembrando que outras editoras vinham fazendo isso anteriormente – o próprio "A Vegetariana" teve uma edição pela Devir.
Assim como as donas da Aigo, o advogado Leo Wojdyslawsk, 50 anos, também contou com uma consultoria especializada antes de ingressar no mercado editorial e apostou em um local emblemático para abrir, em dezembro de 2022, a Eiffel, que ocupa uma loja térrea no prédio de mesmo nome assinado por Oscar Niemeyer na Praça da República, região central da capital paulista. Acostumado a frequentar o edifício, sonhava ver ali uma livraria independente focada em arquitetura, urbanismo, design e paisagismo, até que decidiu ele mesmo concretizar a ideia. “Liguei para vários clientes do mercado editorial para mapear o setor e muitos me deram força, mas outros disseram que eu não teria retorno. Não sei quem é mais meu amigo”, brinca Leo, que hoje reúne 4.500 títulos no acervo e enxerga o momento atual com otimismo. “A boa surpresa é que as pessoas estão voltando a ler sobre arquitetura e foi possível perceber que havia uma carência nesse nicho com o fechamento da livraria que funcionava dentro da sede do IAB/SP (Instituto de Arquitetos do Brasil), aqui no Centro.”
Mais do que um lugar onde se vendem livros, a livraria é um espaço de encontros, descobertas e de conexões reais entre as pessoas, algo que ficou ainda mais claro depois da pandemia do Coronavírus que afetou a economia de modo geral e manteve as lojas de portas fechadas por um longo período. Segundo uma pesquisa feita pela Nielsen Bookscan, conhecida como Painel do Varejo de Livros no Brasil, divulgada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), houve um crescimento de 8,33% no faturamento do mercado editorial brasileiro em 2022, em comparação a 2021. Já um balanço divulgado pelo SNEL em setembro mostra que 2023 não foi um ano tão bom quanto o anterior, mas os números seguem animadores. Em 2022 houve um número alto tanto de faturamento quanto de volume de livros comercializados devido principalmente ao fenômeno dos álbuns de figurinha da Copa do Mundo. O 9º Painel do Varejo de Livros no Brasil de 2023 mostra um volume 16,96% menor e uma queda de 11,41% na arrecadação para o setor. 
Mesmo diante dos obstáculos, os empresários do setor se mostram resilientes e permanecem investindo, o que tem colaborado com o aquecimento do mercado. 
Desde o segundo semestre de 2021, as livrarias físicas estão se recuperando e voltando a crescer. Em 2022, foram inauguradas cerca de 100 novas livrarias no Brasil – no mesmo ano em que a Bienal Internacional do Livro de São Paulo bateu recorde de público, com mais de 660 mil pessoas. A Bienal do Rio, em 2023, reuniu mais de 600 mil pessoas que levaram para casa cerca de 5,5 milhões de livros, uma média de nove títulos por visitante, de acordo com a organização.
Isso mostra que, se o brasileiro passou a ler mais durante a pandemia, a tendência é que mantenha o hábito da leitura daqui para a frente.
Beneficiados com o isolamento e a consequente procura por mais livros, os clubes de assinatura tiveram um aumento significativo em seus números a partir de 2020. Um exemplo é a TAG, que chegou a dobrar de tamanho e alcançar quase 70 mil associados. Fundada em 2014, a empresa tinha 10 mil assinantes em 2016 e hoje conta com aproximadamente 30 mil leitores. Em quase uma década de funcionamento, já enviou mais de 3 milhões de caixinhas e passou recentemente por uma fusão, anunciada em agosto, com a Dois Pontos, criada em 2021 como a primeira livraria 100% virtual do Brasil, com forte presença em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte e 150 mil títulos em seu portfólio. “A estimativa, com a fusão, é de faturar entre R$ 45 milhões e R$ 50 milhões anualmente a partir de 2024”, afirma Rafaela Pechansky, publisher da TAG.
As últimas pesquisas de venda do setor editorial de 2022, promovida pelo SNEL, CBL e Nielsen, apontam para um aumento da participação das livrarias virtuais nas compras gerais de livros para o patamar de 35% do mercado. Foi a primeira vez que a venda por e-commerce ultrapassou a de livrarias físicas. “Sabemos que isso é reflexo da consolidação da Amazon como vendedora de livros no Brasil e que esse foi um movimento acelerado pela pandemia que  preocupa o setor livreiro por conta da política de preços praticada por essas empresas, usando o livro como produto de entrada do cliente na plataforma”, analisa Ana Rocha, diretora de operações da TAG-Dois Pontos. 
A desvalorização do produto livro para aquisição de clientes é uma prática que prejudica a saúde das livrarias. Ao mesmo tempo, continua Ana, no mesmo período, se observou nos grandes centros o nascimento de livrarias de rua com foco em atendimento ao leitor, qualidade de curadoria e cuidado com os espaços. “Há uma valorização desse serviço do livreiro e do cuidado que as livrarias dedicadas têm, muito diferente do que vemos nas lojas que vendem tudo onde o verdadeiro servi��o oferecido é o de logística.”
O Brasil conta hoje com 2.972 livrarias físicas espalhadas pelos cinco cantos do país, de acordo com a 5ª edição do Anuário Nacional de Livrarias, lançado em agosto de 2023 pela Associação Nacional de Livrarias (ANL). No intervalo de uma década, entre 2013 e 2023, a queda no número de livrarias no país foi de 1,8%, um declínio considerado mínimo por Marcus Teles, presidente da ANL. De acordo com os dados do anuário, que tem por objetivo mapear a localização das livrarias e identificá-las, além de contribuir para ações empresariais futuras de investimento no setor livreiro, a região Sudeste lidera com 1.814 espaços, seguida por Sul (561), Nordeste (334), Centro-Oeste (165) e Norte (98). Foram considerados dados entre o segundo semestre de 2022 e o primeiro semestre de 2023 – desde então, houve uma movimentação no setor com a confirmação do decreto de falência da Livraria Cultura, a Saraiva fechando diversos endereços e a Travessa, com lojas no Rio e em SP, indo na direção contrária. 
“Nos últimos dois anos abrimos cinco novas unidades, o que levou a um aumento significativo do faturamento. Fazendo um exercício de considerar apenas as unidades já existentes verificamos que os bons números de 2019 se mantiveram”, avalia Rui Campos, que fundou a Travessa em 1975. Segundo ele, de setembro de 2022 a setembro de 2023 a empresa vendeu 1,5 milhão de livros e teve um faturamento de R$ 110 milhões. “Assistimos a grandes mudanças no setor com o desaparecimento de empresas que se tornaram inviáveis por estratégias equivocadas e o surgimento ou crescimento de outras mais adaptáveis aos tempos atuais”, diz. “Todo esse poder de mobilização que o livro suscita nos alerta para operações de e-commerce que o utilizam para atrair novos clientes, mas que comprometem a sustentabilidade desse mercado que não pode prescindir das livrarias, que é onde o encontro entre o leitor e o livro se dá.”
Outro veterano do setor, Samuel Seibel, que fundou a Livraria da Vila em 1985 no bairro paulistano da Vila Madalena, relaciona a longevidade do negócio à experiência do cliente em loja. “Oferecer acolhimento ao leitor é o nosso dia a dia”, afirma. “Nos últimos anos, com a saída dessas empresas, vemos que um número razoável de novas livrarias de uma loja só, independentes, se espalharam, não só em São Paulo, mas em vários lugares. Elas já nascem com essa vocação natural – são pessoas que têm no livro uma paixão como nós temos, mas pensando em vender títulos só para mulheres, como a Gato Sem Rabo, por exemplo, pensando em um público mais específico. O que tem em comum hoje no mercado é isso, essa certeza de que o atendimento pessoal é fundamental no nosso setor.”
Referência em Porto Alegre quando se fala em livraria independente, a Baleia se especializou em temáticas de gênero, sexualidade e direitos humanos. Foi fundada em 2014 pela jornalista e produtora cultural catarinense Nanni Rios, que já havia trabalhado na Câmara Catarinense do Livro, atuando em feiras e eventos literários por todo o estado, e na gaúcha L&PM Editores, como editora de mídias sociais, e decidiu abrir um espaço que fosse “diferente das lojas convencionais”. “Queria algo como uma biblioteca de casa, sem o ar comercial das livrarias que eu conhecia”, conta. Saiu, então, em busca de móveis usados, sofás e tapetes, dispensou o balcão e criou um lugar totalmente voltado para as conversas sobre livros e o contato com autores e autoras. A livraria precisou se reinventar na pandemia e está sem sede fixa desde agosto de 2022, quando passou a funcionar dentro de um trailer. A previsão é inaugurar a loja nova, no Centro Histórico da capital gaúcha, em janeiro de 2024 e assim retomar o modelo de negócio original. “Foi o que sempre garantiu à Baleia o seu diferencial, que é estar conectada à produção literária contemporânea por meio de encontros e eventos na loja e fora dela”, diz Nanni, que, assim como tantos livreiros pelo país, continua investindo em curadoria especializada, clubes de leitura e na relação humanizada como principais estratégias – algo que o leitor sempre desejou e que agora finalmente está encontrando em muitas livrarias.
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joseabraoportfolio · 7 months
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"Nós do Centro-Oeste ainda somos muito pouco lidos", avalia Paulliny Tort
Acesse em https://www.aredacao.com.br/cultura/195174/-nos-do-centro-oeste-ainda-somos-muito-pouco-lidos-avalia-paulliny-tort
José Abrão
Goiânia – A escritora Paulliny Tort estará em Goiânia para uma roda de conversa sobre seu livro de contos Erva Brava, finalista do Prêmio Jabuti 2022. O evento será no sábado (16/9), às 17h, na Livraria Tekoá, no Coletivo Centopeia.
Publicado pela editora Fósforo, o livro Erva Brava reúne histórias de Buriti Pequeno, cidade fictícia localizada em Goiás, e de suas gentes e costumes. Em entrevista exclusiva ao jornal A Redação, a autora falou um pouco sobre a obra e seu processo de escrita. Paulliny também fez uma análise do cenário literário fora do eix Rio-São Paulo e avaliou que o espaço para escritores do Centro-Oeste ainda é pequeno. "Ainda somos muito pouco lidos", pontua. Confira entrevista completa:
Quando se vê pessoas do Sudeste se referindo à obra Erva Brava, é comum chamarem de ‘regional’. Queria saber o que você acha dessa percepção de que o que acontece fora do Eixo Rio-SP é “regionalismo”. Existe essa tendência de trazer esse rótulo para a literatura produzida fora desses grandes centros, mas confesso que não me sinto incomodada, desde que isso desperte interesse pelo livro. Guimarães Rosa também foi rotulado dessa maneira. Num país que lê tão pouco, qualquer sombra de interesse pela literatura já é válida. Se esse rótulo faz com que as pessoas se aproximem do livro, eu não me perturbo. Nós aqui do Centro-Oeste ainda somos muito pouco lidos. Entendo que é problemático, que é uma redução do nosso trabalho, mas nós precisamos conquistar leitores de ficção e, se é por esse caminho, que seja.
Ao mesmo tempo, para além disso, é reconfortante ler histórias que não se constrangem em dizer que são do Centro-Oeste. Esse recorte de alguma forma atrapalhou na hora de encontrar uma editora e publicar? O livro foi apresentado pela Fósforo pela minha agente literária, a Mariana Teixeira Soares, do Rio de Janeiro. O livro Erva Brava foi a estreia do catálogo de ficção nacional da Fósforo. Eles escolheram esse livro. Quando compraram a ideia da obra Erva Brava foi justamente por achar que o livro passava a mensagem que a editora queria para o mercado. Acho que isso mostra uma mudança do mercado nos últimos anos. Acho que o sucesso do Torto Arado, do Itamar [Vieira Júnior], também teve um papel nisso, assim como as editoras independentes que vez ou outra estão emplacando autores em prêmios nacionais e esses autores não são necessariamente do eixo Rio-SP.
Algo que chama a atenção é que cada conto do livro aborda temas muito pertinentes e muito presentes na vida brasileira e os textos carregam um comentário social forte. Como você escolhe esses temas e como abordá-los de forma orgânica? Não é o autor que escolhe o tema, é o contrário. Eu escrevo sobre as coisas que eu vi, que eu vivi, que eu li e que me tocaram de uma maneira profunda. A construção da palavra passa por uma série de escolhas, mas o tema vem de uma forma muito inconsciente. Depois que o livro estava pronto e publicado, eu comecei a ver muitos elementos familiares, minhas tias-avós muito presentes, coisas que minha avó, que era da cidade de Goiás, me contava. Eu escrevi sobre aquilo que me toca de verdade e talvez por isso o texto não ganhe um tom muito panfletário. Além disso, dois elementos são muito importantes na minha escrita: o espaço e o personagem. O personagem em ação no espaço é o que conduz esses contos enquanto o tema se infiltra nisso a partir da vivência dos personagens. Isso ajudou com que os contos fiquem mais naturais.
Obviamente tenho que perguntar sobre a indicação ao Jabuti. Gostaria de saber como foi isso, como você se sentiu e se acha que isso bota alguma pressão ou expectativa na sua escrita. O Jabuti com certeza ajuda o leitor a comprar aquele livro e investir o tempo dele naquela leitura. São muitas obras sendo publicadas e não é fácil a gente se orientar e saber aquilo que a gente vai gostar. Um livro de ficção custa, em média, R$ 60 e nem todo mundo tem condição de fazer esse investimento sem ponderar um pouquinho. Então a gente precisa chegar nesse livro por alguma indicação.
Mas então não dá uma pressão em relação ao próximo livro? O tema do meu próximo livro, pra mim, é próximo ao de Erva Brava, talvez o leitor ache um tema muito diferente. O autor tem que escrever sobre aquilo que pulsa dentro dele, independente das expectativas. É um romance, estou escrevendo desde 2021. Poucos meses depois de entregar o original de Erva Brava eu finalizei a primeira versão desse romance, só que eu escrevo muitas versões, eu reescrevo muitíssimo. Ainda vai um tempo considerável em cima dele.
Você integra uma geração de escritoras brasileiras que têm se destacado cada vez mais no mercado literário. Nessa turma incluo também Ana Paula Maia, Carla Madeira, Aline Bei e Micheliny Verunschk. Você acha que é um novo momento de destaque para a mulher na literatura brasileira? Eu sempre tomo cuidado para não falar de algo que não sei a fundo e que não pesquisei. Nós temos uma série de pesquisadoras nas universidades brasileiras debruçadas sobre isso. A impressão que a gente tem é que é um momento muito favorável para a autoria de mulheres, só que a gente tem que tomar muito cuidado para não virar uma literatura de nicho: que mulheres têm que escrever sobre tais temas. Vejo com certa cautela uma segmentação de uma literatura “feminina” porque isso também pode ser uma armadilha. Um modismo passa, uma onda boa passa, e a gente quer a permanência dessas autoras no mercado com a visibilidade que estamos tendo hoje, mas sem paternalismos. Tem que se olhar mais para o texto do que para as autoras.
O último conto do seu livro me lembrou o final de Cem Anos de Solidão. Eu quero saber se foi a inspiração por trás do destino de Buriti Pequeno. Talvez inconscientemente. Sou uma super leitora de Gabriel García Márquez. Cem Anos de Solidão foi uma leitura muito marcante pra mim e é óbvio que Macondo foi uma inspiração para o livro. Eu titubeei em escolher em que cidade ia se passar essas histórias. Pensei: bom, Macondo está aí, por que não criar a minha cidade? E eu tinha vontade na minha escrita de fazer algo para ser destruído, construir algo que depois colapsasse, acabasse, e eu queria brincar com essa ideia de impermanência.
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leituranlouisecruz · 11 months
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Quais são as características de uma introdução de edição crítica?
Resp.: Preliminarmente, devemos salientar que edição crítica é um instrumento produtivo de trabalho literário, linguístico e cultural. Dito isso, com a finalidade de responder à questão apresentada, nos debruçaremos sobre a edição crítica das obras não póstumas de Eça de Queirós — volume que apresenta as 2.ª e 3.ª versões de O Crime do Padre Amaro (doravante simplesmente denominada por nós de Padre Amaro), trabalho sob a coordenação do professor Carlos Reis (da Faculdade de Letras de Coimbra) e de Maria do Rosário. Assim vejamos:
Descrição da gênese do romance:
questão do plágio – no decorrer da produção da obra, Eça de Queirós sofreu acusações de que Padre Amaro seria plágio de La Faute de l'Abbée Mouret, comprometendo a originalidade e a autenticidade textual, assim como o próprio autor, no que diz respeito à criatividade,
quantidade de vezes que o romance foi escrito –  O romance foi reescrito, resultando em três versões (datadas de 1875, 1876 e 1880), as quais possibilitaram o amadurecimento da obra. Em 1889, foi impressa uma versão definitiva do romance (ne varietur).
No que tange ao enredo:
(i) nas duas primeiras versões, o Padre Amaro mata o filho logo após nascer; e
(ii) na terceira, o reverendo não comete infanticídio, porém, o rebento morre misteriosamente pouco antes de sua mãe Amélia.
No que concerne ao estudo literário norteador:
(i) na 1ª versão, o romance lembra-nos os moldes românticos exibidos nas Prosas Bárbaras;
(ii) na 2ª versão, o autor demonstra uma aproximação à doutrina Naturalista, com uma ênfase na influência do meio sobre as personagens; e
(iii) na 3ª versão, comprova-se o esmiuçador trabalho de composição realizado por Eça de Queirós. Como resultado, a obra torna-se mais equilibrada.
as índoles literária e ideológica do autor:
Eça de Queirós era severo crítico de seus escritos. Pesquisa indicou-nos o escritor lusitano possuir paixão pelo ofício da escrita e, em face disso, zelava com esmero pela forma de suas produções literárias. Aditamos que, não somente em Padre Amaro como em suas demais obras, o autor exprimiu toda uma visão pessimista em relação à sociedade portuguesa.
Quanto à índole ideológica, Eça de Queirós adotou em Padre Amaro a estética realista e naturalista. Cabe, também, comentarmos que em Padre Amaro o autor faz uma crítica aos costumes eclesiásticos buscando comprovar duas teses:
(i) o sacerdócio sem vocação leva o sacerdote à perda dos valores morais, e
(ii) a fanatização religiosa da mulher acarreta a destruição do padre.
Quanto à índole literária, Eça utiliza-se do narrador para, com acurada caracterização das personagens, enfatizar temas que interessam ao Naturalismo;
descrição dos critérios e orientações de apresentação adotados para a elaboração dessa edição crítica. São eles:
(i) a 2ª versão surgirá na continuidade das páginas pares;
(ii) o texto da edição ne varietur (1889) surgirá na continuidade das páginas ímpares;
(iii) os rodapés das páginas ímpares integrarão o aparato que resulta do confronto entre o texto da edição ne varietur com o da 3ª versão, assim como casuais notas do editor, devidamente indicadas; e
(iv) o rodapé das páginas pares integrará o aparato que resulta do confronto do texto da edição ne varietur com o texto da 2ª versão, bem como eventuais notas de editor, também devidamente indicadas;
indicação do aparato crítico utilizado e sua respectiva formatação: aparato que resulta do confronto dos textos  das versões ne varietur com a 3ª versão;
estabelecimento do texto-base a ser adotado para produzir a edição crítica de Carlos Reis e Maria do Rosário: a 3ª versão, tendo em vista ter sido a versão que fez Eça ficar satisfeito em relação às versões anteriores; e
pesquisa histórico-literária da obra.
Resumindo, mediante as características citadas e comentadas nas alíneas (a), (b), (c), (d) e (e) anteriores — aspectos já presentes na introdução da edição crítica de Carlos Reis e Maria do Rosário — percebemos que esses críticos textuais mostram-nos a complexidade e a relevância de seu instrumento de trabalho. Utilizando esse instrumento, tais críticos buscam interpretar a gênese em Padre Amaro — um romance de escrita muito complexa — e os acidentes de percurso que essa gênese conheceu. Por último, mas não em menor importância, a crítica textual permite-nos verificar, também, os “bastidores da escrita”, isto é, as modificações inseridas no decorrer da elaboração das diferentes versões, do aperfeiçoamento da obra e de sua maturação, tanto em relação ao conteúdo quanto à forma.
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Apesar de situado nos anos de chumbo da ditadura militar, “As Meninas” não é bem um “livro de ditadura”. Quando tal pano de fundo histórico e social é mencionado, é fácil presumir que nos depararemos com um livro centrado em questões como tortura, guerrilha, censura e movimentos sociais. Contudo, apesar de tais temas estarem presentes no romance e exercerem grande influência sobre tudo que se desenrola, eles não são o seu eixo, e, acima de tudo, aparecem na obra de uma forma que transcende o mero testemunho histórico, objetivo e pragmático. Isso se dá pelo fato de “As Meninas” não ser um romance de grandes acontecimentos, mas uma obra intimista e moderna. Como apontado por Hélio Pólvora em um blurb contido na edição da Companhia das Letras, “[g]ente é o material do romance.”. Isto é, apesar de a realidade histórico-social do tempo se infiltrar em todos os aspectos da vida das personagens, a autora escolhe contar essa história dando voz total ao íntimo daquelas meninas que dão título ao livro. Essas meninas são Lorena, Lia e Ana Clara, três jovens estudantes da USP que vivem juntas em um pensionato de freiras e, apesar de muito diferentes entre si, desenvolvem um laço de afeto e lealdade.
Lorena Vaz Leme é uma garota rica que vem de uma família quatrocentona, descendente de bandeirantes. Alienada por opção, Lorena se autodenomina “contemplativa-passiva” e, ao longo de todo romance, só sai do seu quarto – ao qual dá o apelido sugestivo de concha – uma vez. É considerada pela mãe como tendo “jeito de menina antiga”, e assim se enxerga: é a única das três que não perdeu a virgindade, não gosta da modernidade, da televisão, dos automóveis; prefere passar o seu tempo na concha, lendo poesia, “latinando” e desenvolvendo suas filosofias pessoais acerca da vida. Essa tendência à introspecção e à contemplação, aliada ao gosto pela literatura, faz com que Lorena tenha um olhar apurado e poético. Todas as suas ruminações passam por um filtro floreador, tornando a voz da personagem a mais “literária”. Até mesmo episódios como a observação de um homem na rua a comer um pêssego, que Lorena vê sob uma luz erótica, na sua voz se torna um belo exercício de prosa, em vez de uma mera anedota de cunho sexual. Isso exemplifica bem a tendência da moça ao embelezamento, à romantização de tudo, mesmo dos mínimos detalhes. Todas as coisas para ela tem uma simbologia, um eco literário. Entretanto, Lorena também possui conflitos pessoais: é amante de um homem casado e passa o livro todo esperando por uma ligação deste. O homem é um personagem que se faz presente no romance por meio de sua ausência, e seu silêncio nos dá uma indicação a respeito da forma como ele vê esse relacionamento com a estudante. Além disso, Lorena tem conflitos familiares: após o adoecimento e morte de seu pai, a mãe casou-se novamente com um homem mais novo que torra seu dinheiro em caprichos sem futuro. Esta possui ainda um emocional instável e não se conforma com a chegada da velhice, sentimento muito propulsionado pela sua obsessão por aparências. De certa forma, é possível ver resquícios disso na personalidade da filha, que age como uma mãe em relação às amigas: tenta colocar ordem em tudo, está sempre ajeitando uma roupa de Lia, limpando pertences pessoais de Ana, chamando a atenção de ambas para os cuidados com a aparência. Contudo, essa sua preocupação e vontade de ajudar não se resumem ao nível superficial: a moça também fornece auxílio financeiro e emocional para as amigas, chegando a tirá-las de enrascadas mais sérias, como gravidezes indesejadas.
Lia de Melo Schultz, por sua vez, é uma jovem que mudou-se da Bahia para São Paulo, filha de um alemão ex-nazista e de uma típica mulher baiana. Diferente das outras duas meninas, Lia se preocupa com as questões sociais e políticas do seu tempo, o que a leva a se juntar a um grupo da esquerda armada para combater a ditadura. Seu namorado, Miguel, também militante, foi preso (aparentemente por ter participado do sequestro do embaixador americano Charles Elbrick), o que acaba por alterar os rumos da vida da moça. O apelido que ganhou de Lorena, “Lião”, é indicativo de sua personalidade. Não tem preocupações com a aparência, se coloca como uma mulher prática, moderna e racional. De certa forma, ela é uma representante típica de uma jovem engajada do seu tempo: condena a burguesia e seus valores, é a favor dos movimentos de libertação das mulheres, lida com o sexo de forma desmistificada e não vê a homossexualidade como tabu. Contudo, é possível notar que Lia tenta se apresentar como uma pessoa cínica, cerebral e pragmática mas, ao meu ver, isso é uma fachada desenvolvida por uma influência dos amigos e do namorado. Tendo acesso ao íntimo de Lia, vemos que ela é uma pessoa mais sensível e conflituosa do que deixa transparecer. Acima de tudo, acredito que Lia seja uma pessoa apaixonada, alguém que tem paixão por quem tem paixão. Por diversos momentos ao longo do romance, ela deixa claro seu horror por aqueles que se conformam – “se apoltronam”, como a própria diria. Penso que Lia tem uma força propulsora interior que canaliza na sua militância, e admira pessoas que também possuem essa força, mesmo que não canalizem da mesma forma. Isso se observa na sua admiração por padres que se juntam ao combate à ditadura –  apesar de ela mesma ser ateia – e na sua condenação àqueles que reivindicavam o direito ao matrimônio (o direito de se apoltronar), o que parece contraditório à visão progressista da moça. De qualquer forma, e contrariando todas as expectativas, Lia é a personagem mais estável dentre as três, e isso se faz evidente até mesmo na sua voz interior, que é a mais “pé no chão” e facilmente deglutível.
Por último, há Ana Clara Conceição, de longe a personagem que possui a maior desordem interior, o que faz com que receba o apelido irônico de “Ana Turva”. Ana veio de uma família miserável e cresceu sendo abusada – e vendo a mãe ser abusada – por diversos homens. Após a morte da mãe, foi embora de casa e cortou qualquer tipo de vínculo com familiares, tornando-se uma flor que nada sabe da sua raiz, na visão de Lorena. Por ser uma moça muito bonita, tenta a vida como modelo enquanto cursa psicologia na USP. Contudo, os traumas do passado fazem com que entre em uma espiral descendente que a lança no mundo das drogas. No momento em que os acontecimentos do livro se desenrolam, Ana está completamente viciada, trancou o curso, tem uma carreira de modelo que não vai para lugar nenhum e mantém um relacionamento com um jovem traficante enquanto tenta se casar com um homem rico para ascender socialmente. Essa é a sua maior aspiração: apagar o passado de miséria e adentrar o mundo dos ricos, ter o conforto, o luxo e a afluência que sempre lhe foram negados. Extremamente machucada pela vida, Ana acredita que o mundo seja dividido entre os que esmagam e os que são esmagados. Cansada de fazer parte dos últimos, quer a qualquer custo se juntar aos primeiros e ignorar completamente qualquer sofrimento e injustiça que existam fora da bolha que pretende construir para si, o que a leva a olhar com desdém para os ideias de Lia. Apesar de tudo isso – ou talvez justamente por isso –, é a favorita de Madre Alix, a diretora do pensionato, que tenta oferecer suporte à moça. Esta conta para a Madre a mesma história que conta para si mesma e para Deus: ano que vem tudo será diferente, vou me casar, voltar ao curso, largar as drogas, desfilar em passarelas internacionais, sair em capa de revista... A mente confusa e atormentada pelas drogas e pelo sofrimento emocional fazem com que a voz de Ana Clara seja a mais difícil de acompanhar. Seus pensamentos são delirantes, muitas frases ficam incompletas, as visões causadas pela droga se confundem com a realidade, o passado invade o presente de forma abrupta, as lembranças aparecem desordenadamente e se mesclam de forma confusa. 
Apesar de o ponto de vista de Ana Clara levar esse estranhamento ao extremo, o romance todo pode ser difícil para alguns leitores devido às técnicas de que a autora faz uso. O livro é narrado a partir de quatro pontos de vista: o de cada uma das três meninas e o do narrador em terceira pessoa. Este aparece muito de vez em quando, apenas para dar liga no texto. Na maior parte do tempo, temos a oportunidade de mergulhar no íntimo das personagens. Contudo, uma técnica inusitada que Lygia adota é a da mudança súbita de pontos de vista. Em um mesmo parágrafo, podemos começar ouvindo a voz de Lorena e, sem nenhum tipo de indicação prévia, passamos a acompanhar o pensamento de Lia. Em seguida, com a mesma sutileza, o narrador em terceira pessoa toma a palavra. Ademais, a autora faz uso do fluxo de consciência, portanto, os pensamentos das personagens não são ordenados e se confundem com lembranças, num sistema de “uma coisa puxa a outra” que emula a consciência humana autêntica. Há ainda outra técnica interessante que funciona junto desta última: a da memória involuntária, cunhada por Proust. Esta se manifesta especialmente nos pontos de vista de Lorena e Ana Clara. A prosa da última é muito sensorial, e os cheiros e barulhos da infância fazem com que a personagem seja constantemente puxada para o seu passado traumático.
A maior parte do livro é composta por reminiscências, não ação propriamente dita. Dessa forma, é fácil nos perdermos na cronologia dos fatos. Não é possível saber exatamente o período de tempo que o livro abarca, apesar de muitos defenderem que seja de apenas dois dias. O fato é que, na maior parte do tempo, acompanhamos as meninas pensando, divagando, e não agindo. Como no âmbito dos pensamentos as fronteiras entre passado, presente e futuro se tornam muito tênues, é possível ter a sensação de que a história não possui começo nem fim muito bem delimitados.
Diante de tudo o que foi exposto, é possível afirmar que o romance possui um grande valor literário aliado a um interesse histórico e social que justifica sua inserção entre os maiores clássicos da literatura brasileira. Pode não ser um livro fácil para aqueles que não estão acostumados às técnicas nele presentes, mas acredito que isso seja apenas uma questão de se acostumar e estar atenta durante a leitura.
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contosequestoes · 4 months
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ANTES DE PARTIR
O que tenho para dizer desse livro é que ele me surpreendeu, primeiramente porque tem uma pegada totalmente diferente dos suspenses de Charlie Donlea, nesse livro além do suspense, encontramos romance e aventura. E o suspense dessa vez não é para descobrirmos o assassino e sim para descobrirmos o que vai acontecer na história, daí vem nossa surpresa quando tudo se entrelaça no final e ficamos com…
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emmieedwards · 9 months
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Resenha: Renegados, de Marissa Meyer
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Livro: Renegados Série: #1 - Renegados Autora: Marissa Meyer Gênero: Fantasia, Sci-Fi, YA Ano de Publicação: 2017 Editora: Rocco Páginas: 576 Classificação: +12
Como uma boa viciada em conteúdo de super-heróis, quando Meyer anunciou que estava trabalhando numa saga desse gênero, eu fiquei completamente fora de mim.
Mas, claro, também como a boa procrastinadora que sou levei anos para tomar vergonha e pegar "Renegados" para ler.
Sabe aquela sensação de "meu Deus, por que eu não li isso antes?"...Quem acompanha minhas resenhas (oii, mãe kkkk) já está ciente que essa é 90% minha energia kkkkkk.
"Renegados" se passa num mundo onde Prodígios existem entre os seres humanos normais. Essas pessoas têm poderes especiais e desde que passaram a existir foram renegadas da sociedade, discriminadas e até mesmo mortas.
Pelo menos até Ace Anarchy se revoltar contra tudo isso e derrubar os governantes criando consequentemente uma Era da Anarquia. Nessa Era, o mundo se tornou um caos, não havia lei e crimes eram cometidos vinte quatro horas sem nenhuma justiça.
Foi então que numa resposta a tudo isso, surgiram os Renegados, um grupo de Prodígios que agiam como super-heróis e prometiam que onde quer que alguém precisasse deles, eles estariam para salvá-los.
Era com isso que Nova estava contando quando um criminoso invadiu em sua casa e ameaçou toda a sua família.
Mas os Renegados não vieram e seus pais e sua irmã acabaram mortos. A partir daquele dia Nova jurou que se vingaria de todos os Renegados que falharam com ela e sua família.
Anos depois, Nova é Pesadelo , uma supervilã planejando um ataque ao líder dos Renegados, que agora são o grupo governante depois de derrotarem Ace Anarchy. Porém, quando as coisas dão errado Nova se verá assumindo mais uma identidade para se infiltrar no meio deles.
Será que Nova conseguirá manter a sua identidade de Pesadelo escondida agora que ela é uma das vilãs mais procuradas?
Mais uma vez, Meyer consegue criar um universo incrível que prende o leitor na história do começo ao fim. Sim, tem uns diálogos entre vilão x herói bem clichezão, mas não é essa a graça? (pelo menos, para mim é!!) Os personagens são bem cativantes, principalmente o Adrian, que compartilha a narração com a Nova. A Nova é meio chatinha às vezes com o lance da vingança dela porque, apesar de entender o lado dela com o motivo que o mundo seria melhor sem os Renegados, eu acho meio "zzzzz" ela ter levado tudo para o lado pessoal. O final me deixou com o coração na mão, do jeito que eu gosto, e eu mal posso esperar para ler o próximo! O livro tem uma representatividade bem bacana: o Adrian é negro, com dois pais adotivos, a Nova é parte filipina e um dos personagens secundários (que aliás é tudinho para mim) é PcD. Recomento demais porque foi uma das leituras mais legais do ano!
NOTA: 🌟🌟🌟🌟🌟 - 5/5 + 💖
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*resenha escrita e publicada originalmente no instagram em 2022*
Renegados tem alguns gatilhos, entre eles estão: assassinato, descrição de lutas e violência física, sangue, tentativa de homicídio e morte.
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tatodomundolendo · 1 year
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INDICAÇÃO LITERÁRIA Livro: O Herdeiro Roubado Autora: Holly Black Descrição: Oito anos após os acontecimentos da trilogia O Povo do Ar, as intrigas e traições do universo de Elfhame estão de volta em O herdeiro roubado, primeiro livro da nova duologia de Holly Black, autora best-seller mundial e um dos maiores nomes da fantasia na atualidade. Uma nova aventura se inicia em Elfhame! O príncipe Oak já não é mais apenas o irmãozinho de Jude. Agora ele é um jovem adulto em busca das próprias batalhas e paixões. Não por acaso, seu caminho se cruza novamente com o de Suren, a pequena rainha da Corte dos Dentes, que um dia já foi sua prometida. Os dois parecem destinados a se encontrar em épocas conturbardas. Dessa vez, Lady Nore, da Corte dos Dentes, tomou posse da Cidadela da Agulha de Gelo, e usa uma antiga relíquia para criar monstros de graveto, neve e carne para realizar suas vontades e ajudá-la em sua vingança. A única que pode é Suren, filha de Lady Nore e única pessoa com o poder necessário para comandá-la. No entanto, a menina fugiu para o mundo dos humanos, onde vive como uma selvagem na floresta, solitária e assombrada pelos traumas vivenciados na Corte dos Dentes. Ela acredita que sua existência já foi esquecida, até que Bogdana, a bruxa da tempestade, surge em seu encalço. Por sorte, Suren (ou melhor, Wren) é salva por ninguém menos que o herdeiro de Elfhame, que aos dezessete anos se tornou um jovem extremamente belo, charmoso e... manipulador. Oak está em uma missão que o levará até a Cidadela da Agulha de Gelo e precisará da ajuda de Suren, mas, caso a jovem aceite, sua primeira tarefa será proteger o próprio coração dos sentimentos que um dia já nutriu pelo príncipe. #OHerdeiroRoubado #hollyblack #hollyblackbooks #fantasia #livrosdefantasia #indicaçãodelivros #Quotes #frasesdelivros #trechosdelivros https://www.instagram.com/p/CnXse00vBep/?igshid=NGJjMDIxMWI=
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lamplitpages · 1 year
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As Meninas de Lygia Fagundes Telles
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Apesar de situado nos anos de chumbo da ditadura militar, “As Meninas” não é bem um “livro de ditadura”. Quando tal pano de fundo histórico e social é mencionado, é fácil presumir que nos depararemos com um livro centrado em questões como tortura, guerrilha, censura e movimentos sociais. Contudo, apesar de tais temas estarem presentes no romance e exercerem grande influência sobre tudo que se desenrola, eles não são o seu eixo, e, acima de tudo, aparecem na obra de uma forma que transcende o mero testemunho histórico, objetivo e pragmático. Isso se dá pelo fato de “As Meninas” não ser um romance de grandes acontecimentos, mas uma obra intimista e moderna. Como apontado por Hélio Pólvora em um blurb contido na edição da Companhia das Letras, “[g]ente é o material do romance.”. Isto é, apesar de a realidade histórico-social do tempo se infiltrar em todos os aspectos da vida das personagens, a autora escolhe contar essa história dando voz total ao íntimo daquelas meninas que dão título ao livro. Essas meninas são Lorena, Lia e Ana Clara, três jovens estudantes da USP que vivem juntas em um pensionato de freiras e, apesar de muito diferentes entre si, desenvolvem um laço de afeto e lealdade.
Lorena Vaz Leme é uma garota rica que vem de uma família quatrocentona, descendente de bandeirantes. Alienada por opção, Lorena se autodenomina “contemplativa-passiva” e, ao longo de todo romance, só sai do seu quarto – ao qual dá o apelido sugestivo de concha – uma vez. É considerada pela mãe como tendo “jeito de menina antiga”, e assim se enxerga: é a única das três que não perdeu a virgindade, não gosta da modernidade, da televisão, dos automóveis; prefere passar o seu tempo na concha, lendo poesia, “latinando” e desenvolvendo suas filosofias pessoais acerca da vida. Essa tendência à introspecção e à contemplação, aliada ao gosto pela literatura, faz com que Lorena tenha um olhar apurado e poético. Todas as suas ruminações passam por um filtro floreador, tornando a voz da personagem a mais “literária”. Até mesmo episódios como a observação de um homem na rua a comer um pêssego, que Lorena vê sob uma luz erótica, na sua voz se torna um belo exercício de prosa, em vez de uma mera anedota de cunho sexual. Isso exemplifica bem a tendência da moça ao embelezamento, à romantização de tudo, mesmo dos mínimos detalhes. Todas as coisas para ela tem uma simbologia, um eco literário. Entretanto, Lorena também possui conflitos pessoais: é amante de um homem casado e passa o livro todo esperando por uma ligação deste. O homem é um personagem que se faz presente no romance por meio de sua ausência, e seu silêncio nos dá uma indicação a respeito da forma como ele vê esse relacionamento com a estudante. Além disso, Lorena tem conflitos familiares: após o adoecimento e morte de seu pai, a mãe casou-se novamente com um homem mais novo que torra seu dinheiro em caprichos sem futuro. Esta possui ainda um emocional instável e não se conforma com a chegada da velhice, sentimento muito propulsionado pela sua obsessão por aparências. De certa forma, é possível ver resquícios disso na personalidade da filha, que age como uma mãe em relação às amigas: tenta colocar ordem em tudo, está sempre ajeitando uma roupa de Lia, limpando pertences pessoais de Ana, chamando a atenção de ambas para os cuidados com a aparência. Contudo, essa sua preocupação e vontade de ajudar não se resumem ao nível superficial: a moça também fornece auxílio financeiro e emocional para as amigas, chegando a tirá-las de enrascadas mais sérias, como gravidezes indesejadas.
Lia de Melo Schultz, por sua vez, é uma jovem que mudou-se da Bahia para São Paulo, filha de um alemão ex-nazista e de uma típica mulher baiana. Diferente das outras duas meninas, Lia se preocupa com as questões sociais e políticas do seu tempo, o que a leva a se juntar a um grupo da esquerda armada para combater a ditadura. Seu namorado, Miguel, também militante, foi preso (aparentemente por ter participado do sequestro do embaixador americano Charles Elbrick), o que acaba por alterar os rumos da vida da moça. O apelido que ganhou de Lorena, “Lião”, é indicativo de sua personalidade. Não tem preocupações com a aparência, se coloca como uma mulher prática, moderna e racional. De certa forma, ela é uma representante típica de uma jovem engajada do seu tempo: condena a burguesia e seus valores, é a favor dos movimentos de libertação das mulheres, lida com o sexo de forma desmistificada e não vê a homossexualidade como tabu. Contudo, é possível notar que Lia tenta se apresentar como uma pessoa cínica, cerebral e pragmática mas, ao meu ver, isso é uma fachada desenvolvida por uma influência dos amigos e do namorado. Tendo acesso ao íntimo de Lia, vemos que ela é uma pessoa mais sensível e conflituosa do que deixa transparecer. Acima de tudo, acredito que Lia seja uma pessoa apaixonada, alguém que tem paixão por quem tem paixão. Por diversos momentos ao longo do romance, ela deixa claro seu horror por aqueles que se conformam – “se apoltronam”, como a própria diria. Penso que Lia tem uma força propulsora interior que canaliza na sua militância, e admira pessoas que também possuem essa força, mesmo que não canalizem da mesma forma. Isso se observa na sua admiração por padres que se juntam ao combate à ditadura –  apesar de ela mesma ser ateia – e na sua condenação àqueles que reivindicavam o direito ao matrimônio (o direito de se apoltronar), o que parece contraditório à visão progressista da moça. De qualquer forma, e contrariando todas as expectativas, Lia é a personagem mais estável dentre as três, e isso se faz evidente até mesmo na sua voz interior, que é a mais “pé no chão” e facilmente deglutível.
Por último, há Ana Clara Conceição, de longe a personagem que possui a maior desordem interior, o que faz com que receba o apelido irônico de “Ana Turva”. Ana veio de uma família miserável e cresceu sendo abusada – e vendo a mãe ser abusada – por diversos homens. Após a morte da mãe, foi embora de casa e cortou qualquer tipo de vínculo com familiares, tornando-se uma flor que nada sabe da sua raiz, na visão de Lorena. Por ser uma moça muito bonita, tenta a vida como modelo enquanto cursa psicologia na USP. Contudo, os traumas do passado fazem com que entre em uma espiral descendente que a lança no mundo das drogas. No momento em que os acontecimentos do livro se desenrolam, Ana está completamente viciada, trancou o curso, tem uma carreira de modelo que não vai para lugar nenhum e mantém um relacionamento com um jovem traficante enquanto tenta se casar com um homem rico para ascender socialmente. Essa é a sua maior aspiração: apagar o passado de miséria e adentrar o mundo dos ricos, ter o conforto, o luxo e a afluência que sempre lhe foram negados. Extremamente machucada pela vida, Ana acredita que o mundo seja dividido entre os que esmagam e os que são esmagados. Cansada de fazer parte dos últimos, quer a qualquer custo se juntar aos primeiros e ignorar completamente qualquer sofrimento e injustiça que existam fora da bolha que pretende construir para si, o que a leva a olhar com desdém para os ideias de Lia. Apesar de tudo isso – ou talvez justamente por isso –, é a favorita de Madre Alix, a diretora do pensionato, que tenta oferecer suporte à moça. Esta conta para a Madre a mesma história que conta para si mesma e para Deus: ano que vem tudo será diferente, vou me casar, voltar ao curso, largar as drogas, desfilar em passarelas internacionais, sair em capa de revista... A mente confusa e atormentada pelas drogas e pelo sofrimento emocional fazem com que a voz de Ana Clara seja a mais difícil de acompanhar. Seus pensamentos são delirantes, muitas frases ficam incompletas, as visões causadas pela droga se confundem com a realidade, o passado invade o presente de forma abrupta, as lembranças aparecem desordenadamente e se mesclam de forma confusa. 
Apesar de o ponto de vista de Ana Clara levar esse estranhamento ao extremo, o romance todo pode ser difícil para alguns leitores devido às técnicas de que a autora faz uso. O livro é narrado a partir de quatro pontos de vista: o de cada uma das três meninas e o do narrador em terceira pessoa. Este aparece muito de vez em quando, apenas para dar liga no texto. Na maior parte do tempo, temos a oportunidade de mergulhar no íntimo das personagens. Contudo, uma técnica inusitada que Lygia adota é a da mudança súbita de pontos de vista. Em um mesmo parágrafo, podemos começar ouvindo a voz de Lorena e, sem nenhum tipo de indicação prévia, passamos a acompanhar o pensamento de Lia. Em seguida, com a mesma sutileza, o narrador em terceira pessoa toma a palavra. Ademais, a autora faz uso do fluxo de consciência, portanto, os pensamentos das personagens não são ordenados e se confundem com lembranças, num sistema de “uma coisa puxa a outra” que emula a consciência humana autêntica. Há ainda outra técnica interessante que funciona junto desta última: a da memória involuntária, cunhada por Proust. Esta se manifesta especialmente nos pontos de vista de Lorena e Ana Clara. A prosa da última é muito sensorial, e os cheiros e barulhos da infância fazem com que a personagem seja constantemente puxada para o seu passado traumático.
A maior parte do livro é composta por reminiscências, não ação propriamente dita. Dessa forma, é fácil nos perdermos na cronologia dos fatos. Não é possível saber exatamente o período de tempo que o livro abarca, apesar de muitos defenderem que seja de apenas dois dias. O fato é que, na maior parte do tempo, acompanhamos as meninas pensando, divagando, e não agindo. Como no âmbito dos pensamentos as fronteiras entre passado, presente e futuro se tornam muito tênues, é possível ter a sensação de que a história não possui começo nem fim muito bem delimitados.
Diante de tudo o que foi exposto, é possível afirmar que o romance possui um grande valor literário aliado a um interesse histórico e social que justifica sua inserção entre os maiores clássicos da literatura brasileira. Pode não ser um livro fácil para aqueles que não estão acostumados às técnicas nele presentes, mas acredito que isso seja apenas uma questão de se acostumar e estar atenta durante a leitura.
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crisbarbosa · 2 years
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Quer ler um livro conforme o seu estado de espírito?? O que você quer hoje?? ✅se apaixonar ✅se emocionar ✅esquentar🔥 ✅sair da ressaca literária ✅passar raiva Aqui temos livros para todos os gostos!! Arraste a tela para o lado e confira a minha indicação para cada um deles. 🔗todos os links na bio https://www.instagram.com/p/CjQy-_Du-_U/?igshid=NGJjMDIxMWI=
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portalmozemprego · 2 years
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Técnicos Eletrotécnicos
Descrição da Vaga
A Norman Energias SA, é uma empresa do ramo de Energias, pretende recrutar para o seu quadro técnico Técnicos Eletrotécnicos para Maputo para o exercício de suas actividades em todo território nacional.
Requisitos:
Diploma de Técnico medio em Sistemas de Energia, com pelo menos (10) anos de experiência comprovada em fiscalização e projectos;
Experiência na implantação de projectos similares;
Ter fiscalizado no mínimo 3 (três) projectos de distribuição de até 33kV;
Ter uma carta de condução;
Ter proficiência linguística em língua inglesa e portuguesa será uma vantagem.
Documentos Necessários:
Curriculum Vitae, Certificado de habilitações literárias, fotocópia do Bilhete de Identidade, indicação de referências e outros documentos relevantes para a candidatura.
Como se candidatar?
As candidaturas deverão ser submetidas através do email: [email protected], indicando no assunto, a vaga que pretende se candidatar.
DATA LIMITE DE CANDIDATURA: 9 de Setembro de 2022.
Indique a fonte da vaga na sua candidatura.
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