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juventudepsiquica · 11 months
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Apesar de serem apontados como a maior potência militar da história moderna, os Estados Unidos parecem incapazes de ganhar uma guerra de forma "satisfatória". Na maioria dos casos, sofreu derrotas totais — Vietnã e Afeganistão.
Um artigo exaustivo do jornalista Nick Turse dá certos números a essa iniciativa de guerra total e até coloca um número na mesa: mais de US$ 4 trilhões gastos apenas com a interminável Guerra ao Terror. Sem uma vitória para estampar nos jornais.
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Mas, estrategicamente, tenta transmitir a imagem da vitória. Para isso, chupinhou uma tática dos vietcongues: para não perder, basta não parar de lutar.
No Vietnã, esses militares visavam “ superar a guerrilha ”. Isso nunca aconteceu e os Estados Unidos sofreram uma derrota esmagadora. Henry Kissinger – que presidiu os últimos anos desse conflito como conselheiro de segurança nacional e depois secretário de Estado – forneceu sua própria visão concisa de um dos princípios centrais da guerra assimétrica: “O exército convencional perde se não vencer. O guerrilheiro ganha se não perder”.
[Tom Dispatch]
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juventudepsiquica · 11 months
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Cortes de Jesus [OFICIAL]
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E abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço, como a fumaça de uma grande fornalha, e com a fumaça do poço escureceu-se o sol e o ar. E da fumaça vieram gafanhotos sobre a terra; e foi-lhes dado poder, como o poder que têm os escorpiões da terra.
— Apocalipse 9: 2 e 3
De férias, fui visitar meus pais. E com eles, meu passado como membro de uma igreja evangélica. Ao (re)visitar uma igreja, percebi que o ambiente religioso, aos poucos, parece ser transformado pelo virtual. Por motivos óbvios, muitas igrejas passaram a transmitir os cultos ao vivo durante a pandemia, mas não interromperam a prática com o fim do isolamento social. Transmissões agora são parte da rotina de muitas igrejas, mesmo as não tão grandes.
Cultos se transformaram em jogos visuais: "irmãos" reassistem à transmissão depois do almoço e pinçam detalhes que deixaram passar — roupas de outros membros, pedaços da mensagem, quem foi e quem não foi. Com um pouco de prática, cortam os vídeos e os redistribuem por grupos de Zap, seja com arquivos ou links de YouTube. Fofocas e interpretações bíblicas são comentadas no mesmo ambiente, transformando tudo em conteúdo. Vi ao menos quatro pessoas de um grupo de WhatsApp da minha mãe envolvido em coisas do tipo.
Como possível consequência, meus pais observaram, se seguiu certa rotatividade de membros, que escolhem que dias vão ao templo ou quando frequentam de casa. Alguns dos que vão presencialmente também reagem à observação da câmera: escolhem roupas específicas e sentam em lugares específicos.
Em outras palavras: surgem personas temporárias para o arquivamento virtual, uma sobreposição às personas já conjuradas em dias de culto, reação aos pequenos ritos e julgamentos integrantes da cultura de vigilantismo velado de muitas denominações cristãs.
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É bem possível que tais transformações causadas pelo virtual se aprofundem ainda mais. Além de todos os membros hoje assistirem cultos com celulares na mão, eles estão cada vez mais conscientes de que também pode estar sendo vistos nos celulares de outras pessoas, ao vivo.
Esse entrelaçamento entre religião e o ambiente virtual provavelmente causará sintomas similares ao de viver em contato constante com redes sociais: tudo se transforma em conteúdo, os pastores são produtores e os integrantes seus consumidores. A mídia como intermediária dilui o poder de transformação religiosa, mas amplia seu poder de comunicação massivo.
Obviamente ainda é bem cedo, mas não é difícil imaginar um futuro em que igrejas levarão mais a sério a competição de streamings. Afinal, é muito mais fácil atrair mais membros no poroso mundo virtual. Mas será a relação desses membros (seguidores de redes sociais) profunda o bastante para garantir um fluxo constante de dízimos e ofertas? O que tais igrejas terão a oferecer no mundo virtual quando disputarem atenção com outros pesos pesados das redes sociais, incluindo influenciadores e marcas com seus mascotes digitalizados?
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O ambiente virtual provavelmente será a fronteira onde o ecumenismo genuíno e forçado ocorrerá. O sinal da Besta apocalíptico. Streamings cada vez mais são meros canais para zapear, e precisam fidelizar clientes com mais frequência que igrejas, que pensam em estratégias para anos ou até décadas à frente — pense na derrocada da Igreja Católica no Brasil, varrida por igrejas evangélicas, com táticas mais envolventes e agressivas que o conhecido e burocrático distanciamento entre membros e padres da denominação apostólica.
Assim como as redes sociais causaram a uniformização da informação sob o signo do "conteúdo" e da "viralização", igrejas precisarão viralizar para competirem com todos os outros atrativos de redes já sedimentadas de entretenimento criado para o vício e engajamento. Na internet, todas as igrejas serão parecidas — a segunda fase de um movimento que começou com a televisão aberta.
Não há dúvida da penetração da mensagem cristã e de suas igrejas, mas tal poder pode se pulverizar e reorganizar no ambiente online, como já ocorre com a ascensão de pastores midiáticos, como Silas Malafaia, que já tem certa vocação midiática por excelência.
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Outra possibilidade já ocorre com a consolidação do WhatsApp como uma internet por si só, ao menos no Brasil. É lá que muitos organizam fotos, compartilham todos os links de interesse e distribuem vídeos, o que o torna um programa de fácil utilização por igrejas evangélicas.
Mas pensar de forma imediatista é ignorar as transformações causadas pela internet nos últimos anos. Pense em organizações de notícia, que receberam as redes sociais de braços abertos até serem apunhaladas por elas e hoje implorarem por migalhas. Em um primeiro momento, o poder de viralização e fortalecimento das igrejas é óbvio no país após a simbiose com redes sociais, redes de comunicação massiva, conservadorismo pesado e política, mas tal dispersão de atenção e virtualização de relações pode ser fatal para instituições que dependem da manutenção constante de mensagens e a alimentação de um item cada vez mais raro — a fé.
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juventudepsiquica · 1 year
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Plataformas de petróleo como artefatos distópicos
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De fato, poucas construções combinam tão bem certa imponência assustadora, completamente contrária à natureza, com objetivos igualmente nefastos.
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juventudepsiquica · 1 year
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Comunidades suspeitas
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Nas últimas semanas, circularam por diversas redes e comunidades, dutos digitais, documentos secretos vazados do Pentágono. O que mais chamou a atenção foram planos de logística e posições de unidades envolvidas na Guerra na Ucrânia, tanto russas quanto ucranianas. Chama a atenção que tais documentos (alguns classificados como ultrassecretos) circularam não nas mãos de espiões inimigos, mas em servidores do Discord, boards do 4chan e finalmente o Telegram.
Como estamos na era onde a verdade praticamente não importa, os registros receberam todo tipo de análise. Os ucranianos os chamaram de propaganda russa, os russos como prova de profundo envolvimento dos Estados Unidos na guerra em seu quintal, os norte-americanos olharam com cautela, mas extraoficialmente concordaram que tinha uma aura de veracidade em boa parte da documentação — certos números foram apontados como falsificações. Em grupos pró-Rússia do Telegram, alguns chegaram a suspeitar de uma psyops norte-americana para desacreditar russos. Assim é o mundo da espionagem — e cada vez mais a internet assume para si sua missão primordial: ser a rede de comunicação entre militares e outros agentes de segurança.
Mas o componente mais estranho é justamente quem iniciou toda essa movimentação: um guarda que fotografou e vazou os dados secretos. Jack Teixeira não parece ser um idealista, como outros delatores — Chelsea Manning e Reality Winner são as principais. O jovem de 21 anos trabalhava na ala de inteligência da Guarda Nacional e também era administrador do um servidor Thug Shaker Central, do Discord.
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Segundo o New York Times, no local "20 a 30 jovens e adolescentes que frequentemente discutem armas, memes racistas e videogames". Além disso, Teixeira ajudava alguns integrantes (incluindo menores de idade) com depressão. E vazava documentos secretos na proto-maçonaria que mantinha no serviço de mensagens. Aparentemente, ele era professoral a ponto de querer atenção de tais seguidores.
Teixeira primeiro compartilhou informações vazadas digitando informações e postando o texto no canal. Quando isso não envolveu seus seguidores o suficiente, um membro disse que recorreu à postagem de centenas de capturas de tela dos documentos classificados, o que chamou mais atenção — Washington Post.
Após sair do Discord, os documentos (que eram fotografados, e não digitalizados, algo muito mais complexo de fazer), os documentos seguiram o caminho para o 4chan e depois Telegram, onde conseguiram a atenção da mídia. Como informa o Bellingcat, que fez um rastreamento do caminho seguido pelos registros:
Estranhamente, os canais Discord nos quais os documentos datados de março foram postados eram focados no jogo de computador Minecraft e no fandom de uma celebridade filipina do YouTube. Eles então se espalharam para outros sites, como o imageboard 4Chan, antes de aparecer no Telegram, Twitter e, em seguida, nos principais editores de mídia em todo o mundo nos últimos dias.
O perfil da fonte do vazamento causou estranhamento em analistas ouvidos pela mídia norte-americana. Tal perfil, descrito como "exibicionista que quer demonstrar seu conhecimento interno", parece mais difícil de rastrear do que os perfis mais comuns (idealistas e gente a fim de grana).
Será esse o início de uma nova era em que documentos secretos circularão sem muitas cerimônias nos mais diversos canais? Se pensarmos que o auge do Medium foi um texto de Jeff Bezos em que revelava como foi chantageado por jornalistas de um tabloide, escrito totalmente sem aviso, talvez o Discord e outras redes descubram o poder de atrair pessoas com algo dizer, nem que tais coisas sejam segredos incriminadores, e invistam para receber tais conteúdos como o Santo Graal estava pronto para servir a Cristo.
Mas a imagem que fica é justamente do jovem que lia um livro quando foi abordado por forças federais.
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juventudepsiquica · 1 year
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Ressonâncias XIII
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OldBoy
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A Fantástica Fábrica de Chocolate
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Boy Erased
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Eu, Tônia
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Herói
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Kill Bill Vol. 2
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Matrix Revolutions
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Os Cavaleiros da Tempestade
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Police Story
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Yakuza Apocalypse
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juventudepsiquica · 1 year
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O fenômeno parece fácil de compreender, mas ainda assim vê-lo em funcionamento é um tanto chocante. Influencers fofinhas misturam um visual importado das waifu com uma cultura militarista. O objetivo praticamente explícito é fazer propaganda militar pura e simples — tanto para recrutar quanto para influenciar a opinião sobre ações militares. Como todos as ferramentas modernas, qualquer tipo de crítica é vencida pela união de massificação e estética.
Um do parágrafo dessa matéria da Dazed esboça a complexidade em camadas do que se denominou uma óbvia operação psicológica militar — e o fato de ser óbvia e quase descarada não elimina sua eficácia.
Conhecida nos círculos de memes esotéricos como a garota psicopata, Haylujan, também conhecida simplesmente como Lujan, autodenomina-se “especialista em operações psicológicas” do Exército dos EUA, cuja presença online levou a inúmeros memes especulando que ela é uma pós- operação psicológica irônica destinada a recrutar pessoas para o exército dos EUA. Lujan, que na verdade trabalha para a divisão de operações psicológicas do exército dos EUA, publica inúmeros TikToks e memes que fazem parte disso.
Tanto EUA quanto Israel parecem seguir o expediente de usar garotas com rostos praticamente infantis para atrair novos soldados e infectar tubos online com uma nova estética militar. Um caso estranho é a filipino-americana Bella Porch, uma das maiores tiktokers do mundo, que teve carreira militar.
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Tal empreendimento parece ser uma consequência direta da militarização da cultura gamer, onde militares usam encontros de jogo para recrutar futuros soldados — nos EUA não existe serviço militar obrigatório, e campanhas de recrutamento são necessárias de tempos em tempos.
"Ao fazer as pessoas duvidarem do que é real – essas garotas estão realmente no exército? As acrobacias são reais? Seus rostos são reais? A guerra é real? Eles apenas aumentam a confusão e a dissociação geral e podem levar à dessensibilização, em última instância” - Dra. Christiana Spens, autora de The Fear and Shooting Hipsters.
Como é uma psyop interna, a iniciativa borra a realidade e usa o ambiente virtual para transformar a imagem da guerra com essa associação direta com um dos maiores frutos da cultura online: as E-Girl.
Se levarmos em conta Baudrillard, que aponta que a capacidade de produção de sentido e signos superou a demanda (algo empiricamente observável no nosso século), a ideia pode ser ainda mais simples: fazer alguém de fato se importar com a existência de forças militares.
Hoje tudo mudou: o sentido não falta, ele é produzido em toda parte, e sempre mais - é a demanda que está declinante. E é a produção dessa demanda de sentido que se tornou crucial para o sistema. Sem essa demanda, sem essa receptividade, sem essa participação mínima no sentido, o poder só é o simulacro vazio e o efeito solitário de perspectiva.
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juventudepsiquica · 1 year
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"Todo mundo se torna poroso"
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Antes de todos os escândalos de coleta esquizofrênica de dados praticada por agências governamentais que agem por uma misteriosa vontade própria, Marshall McLuhan discutiu os efeitos desse tipo de paranoia.
Não assisti a versão completa do vídeo, mas o argumento central dele parece ser que a coleta é um mero efeito colateral assustador, uma vez que nos tornarmos descarnados como seres midiáticos é o verdadeiro efeito sem retorno da era da comunicação de massa.
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juventudepsiquica · 1 year
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A história dos hackers e do desenvolvimento tecnológico (e, mais importante, da cultura e linguagem ao redor dela) é cheia de fantasmas, guerrilheiros anônimos e códigos secretos. Aqui está a biografia rápida de uma dessas personagens importantes: Jude Milhon, ou St. Jude.
Para Milhon, o hacking é uma ''forma inteligente de contornar os limites sejam eles impostos pelo governo, seu servidor de IP, sua própria personalidade ou as leis da física.
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juventudepsiquica · 1 year
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O céu sobre o porto tinha a cor de uma televisão sintonizada num canal fora do ar — William Gibson (Neuromancer)
Faz tempo que estou enrolando para escrever um texto completo apenas sobre essa frase de abertura de um dos livros mais importantes do século passado, mas fica aqui o registro do desejo.
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juventudepsiquica · 1 year
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Triângulo da Tristeza
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A essa altura já é fácil falar: essa nova leva de filmes que denunciam a corrupção e podridão de uma burguesia heterogênea e apodrecida não apenas carece de poder cinematográfico, como também se esforça para ser tão chata quanto o objeto para qual aponta o dedo.
Triângulo da Tristeza é o integrante com mais grife desse clube cinematográfico (ganhou a Palma de Ouro em Cannes), acompanhado do insosso O Menu, o ao menos violento e graficamente interessante Infinity Pool, e o engraçadinho Glass Onion.
Com algumas exceções, boa parte deles se envolve em um esforço exagerado para escancarar a mensagem, num óbvio movimento de mercado de adulação de massas que contemporaneamente parecem necessitar de tal reserva social. O alvo são os ricos, e tais filmes investem tempo para desnudar os novos fronts da guerra de classes, sem nunca de fato se envolverem diretamente com a questão.
A história é simples: ricaços interagem em um navio. A primeira parte mostra um casal de namorados que discute sobre pagar contas de um jantar, manipulação e salários altos. A segunda é o cruzeiro exclusivo em si.
O problema, para mim, é que o filme necessita desesperadamente da sátira escancarada para funcionar. Sem o componente exagerado ele é um mero exercício de vazio de voyeurimo de ricos que até poderia ser interessante se não fosse desprovido de drama. A opção rende bons momentos, como o jantar caótico no navio, e até o festival de vômitos, mas impede o filme de se renovar e aproveitar em outras possibilidades que ele até tenta explorar em vão.
Quando percebemos é tarde demais: o terceiro ato na ilha não consegue mais ser sério, tampouco uma sátira. A mensagem, no fim, é totalmente esvaziada.
Alguns consideraram o filme hipócrita (custou milhões e aponta o dedo para ricaços), um argumento tão bobo que mal merece ser refutado. A maior fraqueza do filme é a posição de seu diretor: no intuito de demolir tanto socialismo quanto capitalismo, ele ficou sem nada nas mãos a não ser uma longa piada que em certo momento se desgasta. Nem um possível niilismo é encorajado, de forma que só resta uma dinâmica de classes de posições invertidas.
Talvez o vazio do filme seja apenas reflexo do mundo que ele deseja espelhar. Mas isso não é o bastante.
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juventudepsiquica · 1 year
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Cachorros X-9
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Assim que os primeiros cães-robô dançaram pela primeira vez em videozinhos engraçados da Boston Dynamics todos nós já sabíamos: era mera questão de tempo para tais monstruosidades caminharem pelas ruas programados para vasculhar a cidade e selecionar indesejáveis. A Prefeitura de Nova York anunciou que uma frota delas ganhará as ruas.
Por hora são três tipos de máquinas: os que disparam projeteis em automóveis suspeitos no melhor estilo dos stalkers munidos com AirTags, os que avaliam situações perigosas a exemplo de tiroteios, e, claro, os controlados por uma inteligência artificial que patrulharão instalações e condomínios.
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A retórica de Keechant Sewell, comissário de polícia de NY, aparentemente saída diretamente de filmes B de ficção é igualmente impressionante:
Para proteger nossa cidade moderna em um mundo voltado para o futuro, é essencial que nossos oficiais estejam equipados com as ferramentas, treinamento e tecnologia necessários para fazer esse trabalho com segurança e eficácia.
Em menos de cinco anos será possível ver versões armadas de tais produtos.
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juventudepsiquica · 1 year
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Abaixo de Zero
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Anos 50: surgem os beatniks. Sujeitos livres que agora encontravam um país para ser descoberto, com paisagens que não não eram os cacos da Zona de guerra europeia. Românticos e um tanto poéticos, eles encontraram nas drogas e religião forças impulsionadoras para expandir o próprio modo de vida e se tornaram símbolos dos Estados Unidos por algum período. Jack Kerouac assim a descreveu: uma geração de loucos, iluminados hipsters, fez subitamente a América ascender e avançar, seriamente a vadiar e a pedir boleia em todo o lado (...) significa características de uma espiritualidade especial que não agia em conjunto mas eram Bartlebies solitários olhando para fora da janela da parede nua da nossa civilização.
Anos 90: o horizonte de eventos foi devidamente explorado e nos confins do universo só resta o Enigma e a Culpa, nada entre os dois. A Humanidade agora perdeu toda e qualquer inocência e só restou saída na acumulação e no Espetáculo um modo de vida que, no fundo, já não oferece o mesmo senso de descoberta de décadas antes. Abaixo de Zero é o símbolo desse momento cultural e ontológico, específico dos norte-americanos, agora plenos vírus multiplicadores de seu Sonho apodrecido e maligno.
Em Abaixo de Zero contemplamos a frieza destrutiva de uma geração de riquinhos, que parece ver no abismo a certeza de que a vida é mera nuança da Morte. Não há fim, sentido e mal um princípio em todas as ações. Clay, o protagonista, parece o inocente que vaga em certos círculos infernais — não abrasivos, mas frios e desprovidos de qualquer emoção. Seus amigos tomam conhecimento dos pais por fofocas de revistas, ele evita sentir qualquer coisa por ser mais fácil assim. Alguns desvairados tentam quebrar essa roda perpétua com atos insanos (estupros, snuff movies).
É radical por ser vazio. Mas não um gesto em si, mas um movimento de queda. Não há nada muito depois do que o romance propôs, caso seja levado como retrato de uma geração. O que vem depois é justamente o sucesso: O Psicopata Americano, uma armadura que quase abandonou a humanidade para viver nas ruínas conceituais de um sistema que sabe perfeitamente que deu errado — e essa sabedoria melancólica é justamente a maior fonte de sua força. É o exemplo de crítica que se funde tão umbilicalmente ao alvo que pode parecer um mero espelho, um produto indistinto do mal que condena.
Por isso resta a pergunta: o que há depois disso aqui? Apenas o retorno por uma estrada sangrenta e colonizada pelo mais puro mal.
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juventudepsiquica · 1 year
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Cenas de Branded to Kill (1967)
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Um dos maiores de todos.
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juventudepsiquica · 1 year
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Invertendo uma fórmula famosa de Hegel, já em 1967 notava eu que «num mundo realmente invertido, o verdadeiro é um momento do falso». Os anos passados desde então demonstraram os progressos deste princípio em cada domínio particular, sem exceção.
Assim, numa época em que não pode mais existir arte contemporânea, torna-se difícil julgar as artes clássicas. Aqui, como em tudo o resto, a ignorância só é produzida para ser explorada. Ao mesmo tempo que se perdem simultaneamente o sentido da história e o gosto, organizam-se as redes da falsificação.
— Guy Debord (A Sociedade do Espetáculo)
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juventudepsiquica · 1 year
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Teletubbies + Midsommar
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Admito que há realmente certa consciência artística assustadora nas IA.
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juventudepsiquica · 1 year
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A semana agitada do Papa
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Muito se especulava sobre como inteligências artificiais avançadas já em uso no mercado nos afetaria. Tivemos uma mostra recente, com a foto do Papa usando um casacão estiloso. A foto viralizou rapidamente e chegou a ser dada como verdadeira pelo site da Vogue Brasil, que quando percebeu o erro, simplesmente apagou a matéria e publicou outra que mostrou que algumas pessoas acreditaram que a foto era real — seria um exemplo de jornalismo pós-irônico?
A imagem foi gerada pela IA midjourney, e foi postada no Reddit, para logo depois viralizar no Twitter. Foi na segunda rede social onde começou a ser dada como real.
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O interessante aqui também é que a resposta estava na própria imagem: uma falha perceptível na mão direita revelava a farsa, mas a velocidade do motor de conteúdo do nosso século cada vez mais dispensa olhares apurados. Além do mais, a imagem não era estranha o bastante para exigir investigações mais profundas.
Pouco antes, imagens falsas de uma prisão do ex-presidente Donald Trump circularam pela rede social, mas com consequências menos bombásticas.
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Os dois casos fizeram a midjourney encerrar os testes gratuitos da ferramenta por "demanda extraordinária e abuso de testes. Agora, será necessário pagar uma taxa de pelo menos US$ 10 mensais para brincar com a ferramenta.
Ainda restam certas perguntas: tais possibilidades não seriam fáceis de prever? a barreira econômica é mesmo suficiente?
Outra questão é: por que o Twitter não estabelece regras claras de conteúdo para punir imagens geradas por IA sem avisos, como estabeleceu o TikTok recentemente? A gestão tresloucada e suicida de Elon Musk não parece combinar com nenhuma clareza, talvez.
Esse é um claro prenúncio do futuro: provavelmente serão as IAs, cada vez mais capazes de criar novas realidades a todo momento, que novamente dividirão o real e o virtual. Não será o real que não mais existirá no virtual, mas sim se tornará pequeno demais para ele.
Enquanto isso, veja mais momentos da semana papal.
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juventudepsiquica · 1 year
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Queda livre
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Recentemente, completou 50 anos desde que O Arco-Íris da Gravidade, de Thomas Pyncon, foi lançado. Muitos já escreveram sobre o livro, um dos mais importantes do século passado — inclusive Eu, assim que o li.
Após todo esse tempo, resta uma grande leitura a se fazer do livro: a de que vivemos nos tempos descritos por Pynchon em seu romance, que ainda que seja uma aventura com a II Guerra Mundial como pano de fundo, é essencialmente contemporânea.
Um texto da Wired é basicamente sobre isso:
Para chegar ao fundo dessa grande questão, Pynchon deve ter lido muito: sobre química sintética, profecia calvinista, cabala e reforma do alfabeto turco. Mas, acima de tudo, parece que ele leu sobre foguetes . Há um ponto na parábola de um foguete chamado Brennschluss (“burnout”, em alemão). Ele marca o momento em que o míssil esgota seu combustível e continua sua trajetória auxiliado apenas pelo impulso e pela força da gravidade. Como ele enquadra em seu romance seminal O Arco-Íris da Gravidade, a Segunda Guerra Mundial - com seus mísseis, campos de extermínio e bombas atômicas que selaram o pacto suicida da humanidade com a tecnologia - foi o Brennschluss da civilização, e estamos em queda livre desde então.
Guerras comerciais, complexos tecnológicos que não encontram problemas em negociar com nazistas, discussões sobre livre arbítrio, bruxaria, etc, Pynchon explodiu a cultura em pedaços e montou seu romance baseado nos cacos que repousam em tal Zona (após ele, apenas Neuromancer parece ter avançado em tal discussão, o que devo escrever em um texto futuro).
Antes de Don DeLillo e George Romero mostrarem supermercados e shoppings como templos do anseio espiritual, décadas antes de Fukuyama proclamar “o fim da história”, Pynchon viu que a nova ordem mundial era a incorporação: um arranjo tecnológico do capital global que desafiaria a nacionalidade e a moralidade . Cinquenta anos depois, essa consolidação do poder parece total. Os impérios individuais rivalizam com os PIBs de muitos países. Industriais privados efetivamente realizaram a fantasia do enlouquecido Capitão Blicero de Pynchon, que chama sua plataforma de lançamento de foguetes/masmorra sexual de “Pequeno Estado”
Vivemos todos em tal Era agora, que transformou um romance complexo, caótico, depravado e vulgar em um espelho da realidade cotidiana.
[Wired]
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