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vivaafrica · 1 year
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O fim da amizade entre o corvo e o coelho
O Corvo era muito amigo do Coelho. Combinaram, um dia, que cada um deles transportasse o companheiro às costas, indo de povoação em povoação, para dar a conhecer às pessoas a amizade que os unia.
O Corvo começou a carregar o Coelho. Andou com ele às costas pelas aldeias e a gente, quando o via, perguntava-lhe:
__Ó Corvo, que trazes tu aí?
__Trago um amigo meu que acaba de chegar de Namandicha.
Passou assim com ele por muitas terras.
Chegou depois a vez de ser o Coelho a carregar com o Corvo. Ao passar por uma aldeia, os moradores perguntaram-lhe:
__Ó Coelho, que trazes tu às costas?
__Ora, ora, trago penas, penugem e um grande bico – respondeu, a troçar, o Coelho.
O Corvo não gostou que o companheiro o gozasse daquela maneira, saltou logo para o chão e deixaram de ser amigos.
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Este conto africano fala sobre tratar suas amizades bem, onde não é só sobre reprocidade e também de respeito das duas partes.
Devemos respeitar todos, mas principalmente aqueles mais próximos de nós.
Referências:
www.educlub.com.br/o-fim-da-amizade-entre-o-corvo-e-o-coelho/
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vivaafrica · 1 year
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Criação do mundo
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No princípio, o Deus Niame criou o Sol e a Lua dando a eles a forma de cântaros. O Sol era branco e quente, rodeado por oito anéis de cobre vermelho que o faziam brilhar intensamente. A Lua tinha anéis de cobre branco e um brilho de prata. As estrelas nasceram de pedras brilhantes que Deus atirou para o espaço. Para criar a Terra, Niame espremeu um pedaço de barro e como fez com as estrelas, arremessou-o para o espaço. O barro bateu no universo e se achatou. Ficou com o Norte no topo e o restante espalhado em diferentes regiões, igual ao corpo humano quando está deitado de cara para cima.
E Niame continuou a moldar o barro e deu forma a todas as coisas. Igual as mulheres quando confeccionam potes de barro. Colocou os objetos lado a lado, construiu tudo o que existe, como faz o homem que constrói a casa: criou os animais, as plantas, os rios, os mares e tudo que existe no mundo.
Como o Niame vive no céu, preocupou se em criar a chuva, sem a qual os homens não podem viver. Quando a chuva começa a cair, a sensação agradável que ela traz fez os homens dizerem:
– Foi Deus que amaciou o dia.
Niame ficou feliz e criou o arco-íris.
Assim foi criado o mundo.
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Esse é um típico conto africano sobre a criação do universo, explicando a terra, seu formato, a lua, as estrelas, tudo dentro da terra.
Também é um mito africano de origem Dogon, um grupo étnico que vive na região do planalto central de Mali, na África Ocidental.
Tanto este conto como outros, durante as décadas de 1930, 1940 e 1950, foram contados por um velho cego, Ogotemmêli, o ancião e líder espitirual escolhido pela tribo, aos europeus pois narrava a cosmogonia, cosmologia e símbolos do povo Dogon, e esse "europeu" em mais específico era o antropólogo francês Marcel Griaule. E passaram a ser documentados e adaptados por estudiosos contemporâneos.
Assim foram contados os segredos e crenças da mitologia dos Dogons, relatado por este em "Conversations with Ogotemmêli: An Introduction to Dogon Religious Ideas".
Referências:
www.educlub.com.br/criacao-do-mundo/
muralafrica.paginas.ufsc.br/files/2011/11/CONTOS_AFRICANOS.pdf
en.wikipedia.org/wiki/Ogotemmeli
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vivaafrica · 1 year
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As quatro bolas
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Era uma vez um homem que tinha quatro filhos. Quando os filhos já estavam crescidos, em plena adolescência, fortes e sadios, o espírito do pai começou a ficar cheio de inquietações e incertezas.
Notou que cada filho tinha um jeito e um temperamento radicalmente diferente dos outros. O mais velho era caladão, sem ânimo para trabalhar, sempre tímido e preguiçoso para as coisas mais belas da vida. O segundo era cheio de manias, teimoso e quando se agarrava a uma idéia, não a deixava. O terceiro era inteligente, hábil e trabalhador. Esforçava-se por prosperar na vida. O quarto era violento, impulsivo e desonesto; queria tudo para si e nada para os outros.
Impressionado com aquela inexplicável diferença de temperamentos entre seus filhos o homem foi procurar um sábio eremita e consultou-o:
– Tenho quatro filhos, senhor. Foram por mim educados da mesma forma, com exemplos idênticos e orientados por iguais ensinamentos. Eu e minha esposa tratamos os nossos filhos com bondade e mostrando tudo que pode ser bom num ser humano. E agora que estão crescidos, prontos para a vida, o que vejo? Cada um deles tem um temperamento, um caráter, um gênio. Um é preguiçoso e caladão. Não gosta de trabalhar. Outro é teimoso e cheio de manias. O terceiro deseja progredir, prosperar, auxiliar seus amigos. E o último é violento e desonesto. Como se explica isso, sábio eremita, como se explica essa diferença entre pessoas que foram criadas do mesmo jeito, beberam a mesma água, comeram a mesma comida, viveram sob o mesmo teto e ouviram as mesmas histórias e conselhos?
O sábio levou o deprimido pai a uma sala ampla de paredes cor de barro. Havia nessa sala apenas uma mesa quadrada de ferro muito simples. Sobre a mesa estavam colocadas quatro bolas escuras. O sábio eremita colocou a mão no ombro do homem e assim falou com voz tranquila:
– Meu amigo, está vendo aquelas quatro bolas? Repare bem. Observe com atenção. São rigorosamente iguais na forma, no tamanho e na cor. Tem alguma dúvida? Todas as quatro tem o mesmo peso. As quatro bolas parecem perfeitamente iguais. Não acha?
O velho pai, depois de segurar as quatro bolas com as mãos, concordou:
– Sim, tudo é certo! Poderia jurar que estas quatro bolas são iguais.
E o sábio continuou:
– Pois bem as aparências enganam. Enganam até os mais atentos e os mais cuidadosos. Atire uma a uma, com a mesma força, com o mesmo impulso, as quatro bolas de encontro aquela parede.
Sem entender direito o pai atirou a primeira bola. Esta, com o choque, se achatou, se esborrachou e caiu sem forma ao pé da parede. O homem pegou a segunda bola e arremessou-a também. Exatamente como fizera com a primeira. A segunda bola, ao chocar-se com a parede, ficou pregada no lugar em que havia batido e dali não se desprendeu mais. Com a terceira bola aconteceu diferente. Ao ser lançada, como as anteriores, bateu na parede e saltou de novo, perfeita, como se fosse movida por mola. A quarta e última bola, atirada à parede, deu um estalo forte e quebrou-se em vários pedaços que saltaram para todos os lados. Um desses pedaços poderia até ferir quem estivesse ao seu alcance. O velho pai continuava sem entender nada e o sábio explicou:
– Essas quatro bolas são precisamente como os filhos do mesmo pai. Parecem iguais, deviam ser idênticos, mas cada um deles tem um caráter, um temperamento. A primeira bola, que bateu na parede e caiu como se perdesse a forma, é o filho inútil e preguiçoso. A segunda bola que ficou agarrada à parede, representa o filho teimoso, cabeçudo, que não atende a nada e não quer obedecer a ninguém. A terceira bola é o filho prestativo e bom que salta radiante para voltar às mãos do pai e servir de novo. E a quarta e última bola é a imagem do violento, impulsivo e agressivo. As pessoas são diferentes mesmo sendo criadas do mesmo jeito e no mesmo lugar. Assim é a vida. E essa verdade deve ser a que fica em seu coração.
O velho pai compreendeu. E assim acabou a história.
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Esse conto, assim como os outros, tem diversos meios de contar, uns mais compridos outro mais curtos, porém todos eles falam sobre as diferenças dos seres humanos, como mesmo crescendo juntos tem personalidades diferentes e portanto devem ser amados pelo jeito que são.
Referências:
www.educlub.com.br/as-quatro-bolas/
www.historiasqueminhaavocontava.com/2022/03/28/as-quatro-bolas/
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vivaafrica · 1 year
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As duas irmãs
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Há muito tempo, duas irmãs, Omelumma e Omeluka, adoravam brincar ao ar livre, rir e correr para todo lado. Certo dia, seus pais saíram para a feira que era um pouco longe de casa, e recomendaram:
– Cuidado com os animais da terra e do mar, porque muitas pessoas já foram levadas pelos monstros. Fiquem dentro de casa e não façam muito barulho. Quando fizerem comida, acendam um fogo pequeno, para que a fumaça não atraia os animais. E, quando secarem os grãos, façam em silêncio, para que os monstros não ouçam.Porém – disse o pai – o mais importante, é que não saiam para brincar com outras crianças. Fiquem dentro de casa.
As duas concordaram com tudo. Acenaram em despedida quando os pais se afastaram.
Ficaram dentro de casa a manhã inteira, mas conforme as horas iam passando, aumentava a sensação de fome. Então, começaram a socar os grãos para fazer uma papa, e aquilo virou logo uma brincadeira. Elas riam e faziam muito barulho. Aí acenderam um grande fogo para que a comida ficasse pronta mais depressa, esquecendo-se da advertência dos pais.
Após comer até se fartar, as duas viram os amigos brincando no campo e foram correndo brincar com eles.
Enquanto brincavam, um rugido imenso saiu de dentro da mata e outro veio do mar, aparecendo muitos monstros que cercaram as crianças. Aterrorizadas, as duas correram, mas foram separadas. Os monstros do mar carregaram Omelumma e os da terra Omeluka.
As duas pensaram> “ se tivéssemos ouvido nossos pais. Agora seremos devoradas pelos monstros.”
Porém, eles não as devoraram, mas as venderam como escravas em lugares muito distantes de sua terra. Omelumma foi escolhida por um homem, que comprou-a e casou-se com ela. Omeluka, mais jovem, não teve a mesma sorte. Foi escolhida por um homem cruel, que a comprou, mas a fez de escrava, dando-lhe muitas tarefas dia e noite.
Passado um tempo ele vendeu-a para um outro homem ainda pior do que ele que a maltratava ainda mais. Assim, passaram-se muitos anos.
Enquanto isso, Omelumma vivia confortavelmente com o marido e deu à luz seu primeiro filho, um menino. O marido foi ao mercado para encontrar uma escrava que pudesse ajudá-la nas tarefas com o bebê e a irmã, Omeluka, estava lá, para ser vendida.
Assim, ele trouxe Omeluka para ser escrava da irmã, mas ela estava muito mudada, devido aos maus tratos que sofrera e Omelumma não reconheceu-a.
Todas as manhãs, Omelumma ia para o mercado e entregava o bebê aos cuidados da irmã, deixando também, muitas tarefas para serem realizadas. Omeluka se desdobrava, mas era muito serviço. Quando ia buscar água ou lenha, o bebê ficava em casa, todavia seu choro a trazia rapidamente de volta, e assim não trazia a lenha suficiente. A irmã quando chegava a surrava por não ter cumprido suas ordens, mas se ela deixava o bebê chorando, os vizinhos contavam e ela apanhava do mesmo jeito.
Ela tentou levar o bebê quando ia pegar lenha, mas não deu certo, porque não conseguia fazer o serviço com ele no colo.
Certa tarde, o bebê só interrompeu o choro, quando ela o colocou no colo e o embalou suavemente. Uma vizinha aproximou-se perguntando por que ela não fazia suas tarefas. Ela ficou com medo de ser denunciada e voltou ao trabalho. Mas o bebê começou a chorar e ela não teve saída senão se sentar e começar a embalá-lo de novo. Não sabendo mais o que fazer, finalmente entoou uma canção:
Shsh, shsh, bebezinho, não chore mais Nossa mãe nos disse para não fazer fogo grande, Mas nós fizemos Nossa mãe nos disse para não fazer barulho, Mas nós fizemos. Nosso pai nos disse para não brincar lá fora, Mas nós brincamos. Então os monstros do mato e do mar nos levaram embora, Para muito longe, muito longe! E onde pode a minha irmã estar? Muito longe, muito longe! Shsh, shsh, bebezinho não chore mais.
Uma velha que ouviu aquela cantiga, lembrou-se da história que Omelumma lhe contara, há muito tempo, sobre terem sido levadas pelos monstros do mar e da terra. Ela percebeu que a escrava devia ser a irmã de Omelumma, há tanto tempo sumida. Correu até o mercado para contar a novidade à Omelumma.
No dia seguinte, ela deu várias tarefas à irmã e em seguida saiu, para o mercado. Mas voltou em segredo e viu como a irmã corria de um lado para o outro tentando impedir o bebê de chorar enquanto fazia seu serviço. Finalmente a irmã sentou-se e começou a cantar a canção que a velha escutara.
Assim que Omelumma ouviu a canção, reconheceu que era sua irmã e, chorando de dor e remorso, chegou perto dela para pedir perdão.
As duas se abraçaram e choraram juntas. Em seguida Omelumma libertou a irmã, jurou nunca mais maltratar nenhum servo e quando o marido chegou também ficou muito feliz ao saber da novidade. Viveram depois disso, muito felizes.
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O conto fala sobre monstros, esses na verdade eram escravizadores, que sequestravam crianças e pessoas de suas casas/territórios para ganhar dinheiro as vendendo.
Assim como fala sobre obedecer seus pais, o conto também fala sobre como as pessoas que sofreram podem virar pessoas que fazem os outros sofrer também sem nem ter consciência do que realmente esta fazendo. A garota que foi vendida, devido a sua sorte de ter tido uma vida boa, virou uma dona de pessoas escravizadas que assim como ela também tinham sido capturados e vendidos.
Mas essa é somente uma versão da história, outra versão conta que e irmã reconheceu a outra no mercado mesmo quando estava sendo vendida.
Referências:
www.educlub.com.br/as-duas-irmas-conto-de-origem-africano/
www.historiasqueminhaavocontava.com/2022/03/04/as-duas-irmas/
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vivaafrica · 1 year
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A tromba do elefante
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Antigamente, Ajanaku, o elefante, tinha focinho curto como todos os animais. Não possuía a grande tromba que tem agora e que lhe é muito útil, servindo de braço e mão, além de nariz. Quando não tinha tromba, o elefante era muito curioso e gostava de saber tudo o que acontecia na floresta.
Certo dia, encontrou um buraco entre as raízes de uma grande árvore e, curioso como era, enfiou o nariz nele para saber do que se tratava. Acontece que aquele buraco era a entrada da casa de uma cobra muito grande que, vendo aquele nariz fuçando sua casa, abocanhou-o, tentando engolir nosso pobre Ajanaku. Lamentando sua curiosidade, Ajanaku andava para trás, para não ser engolido pela cobra, que o puxava para dentro do buraco.
– Socorro! – gritava Ajanaku desesperado, sentindo que não ia conseguir se livrar da grande cobra.
Ouvindo seus gritos, muitos animais vieram em seu socorro. Veio primeiro o rinoceronte que segurando em seu rabo do elefante puxou… puxou e não conseguiu. Depois veio a zebra para ajudar o rinoceronte e os dois puxaram… puxaram e não conseguiram. Depois veio a girafa para ajudar a zebra e o rinoceronte e os três puxaram… puxaram e não conseguiram. Por último veio o leão para ajudar a girafa, a zebra e o rinoceronte e todos puxaram… puxaram… puxaram com força. Não foi fácil mas, finalmente, conseguiram salvar nosso amigo, que, de tanto puxar, teve seu nariz esticado e transformado na tromba que agora possui.
No início, Ajanaku, envergonhado de sua nova e estranha aparência, ficou escondido dentro da floresta. Com o tempo, aprendeu a usar a tromba com muita habilidade, da forma como fazem todos os elefantes atualmente. Satisfeito, voltou ao convívio dos outros bichos.
Um dia, o macaco, que gosta de imitar todo mundo, foi enfiar o nariz no buraco, para ver se criava uma tromba igual à do elefante. A cobra, que ainda morava no mesmo lugar, engoliu o macaco inteirinho, com muita facilidade.
É por isso que, mesmo sentindo inveja, nenhum bicho nunca mais tentou imitar o elefante para ficar com uma tromba igual a dele.
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Esse conto africano traz diversos animais originários da África, como o elefante, rinoceronte, zebra, girafa e macaco.
Também apresenta uma explicação de como o elefante era, como ele passou a possuir uma tromba e também para que serve esta, sendo assim possui uma interpretação da evolução dos elefantes.
Além disso, traz uma lição moral de sobre como a inveja "mata", corroendo a pessoa, onde desejar aquilo que não é dela, pode acabar mal e sem volta.
Referências:
www.educlub.com.br/a-tromba-do-elefante/
www.canva.com
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vivaafrica · 1 year
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Lenda africana da galinha d’Angola
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Os mais antigos contam que esta história aconteceu durante uma das piores secas ocorridas nas savanas ao Sul da África. O sol, inclemente, castigava todos os seres vivos: plantas e animais. Logo os rios e lagos secaram, aumentando o sofrimento. O calor abria fendas no solo e levantava uma espessa poeira que borrava de cinza o céu borrado de azul. Os habitantes dos vilarejos, desnorteados, fugiram para as montanhas, rogando por chuvas, mas não havia prece que desse jeito na calamidade. Um dia, porém, uma mancha escura despontou no horizonte. Todos ficaram excitados. Sinal de que as chuvas estavam se aproximando. Só que um elefante, desengonçado, atrapalhou tudo. Afugentando a nuvem. A galinha-d'angola que, naquela época, além de uma crista avermelhada no alto da cabeça, tinha as penas inteiramente pretas, não se conteve. Indignada com a atitude do paquiderme, correu horas e horas atrás da nuvem, suplicando para que ela retornasse, sem se importar com os espinhos que iam rasgando-lhe as pernas desnudas. - Por favor, Senhora, volte. Por favor, Senhora, volte – repetia sem cessar, enquanto o sangue escorria por suas feridas. A Dona das Águas, finalmente, parou e disse: - Por causa de sua perseverança, da sua dor e da sua preocupação com o destino de todas as outras criaturas, eu regressarei. Graças aos meus poderes, interromperei a seca. - Obrigada - agradeceu a ofegante corredora. - E, como você se dirigiu a mim de um modo tão respeitoso, receberá de presente o brilho das gotas da chuva, que cairão sobre o seu corpo. Assim, será uma das aves mais bonitas da terra. Não demorou muito para desabar um temporal, em meio a raios e trovões. A galinha,d'angola, toda molhada, ganhou como ornamento os pingos que foram resvalando em suas penas, transformando,a, como fora prometido, em uma das aves mais lindas de toda a África. Devido à canseira da galinha-d'angola, suas descendentes ciscam por vários cantos do planeta, agitando a penugem de cor negra, como a pele da maioria dos povos de seu extenso continente. Enquanto exibem as penas salpicadas de pintas brancas} as galinhas-d'angola cacarejam como se estivessem expressando, até hoje, o esforço empreendido por sua ancestral: _ Tô fraca, tô fraca, tô fraca, tõ fraca!
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Contam que esta história aconteceu durante uma das piores secas ocorridas nas savanas ao Sul da África e que foi dai que surgiu as pintas da galinha d'Angola. Esta é originária da África porém foi trazida ao Brasil pelos portugueses durante a colonização e escravização dos africanos.
Referências:
http://gutarocha.blogspot.com/2012/11/lenda-africana-por-que-galinha-dangola.
www.youtube.com/watch?v=giPmY8QXpX0&ab_channel=IsadoraMariotto
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vivaafrica · 1 year
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A onça e a raposa
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A onça estava cansada de ser enganada pela raposa, e mais irritada ainda por não conseguir pegá-la para poder fazer um bom guisado.
Um dia teve uma idéia: deitou-se na sua toca e fingiu-se de morta.
Quando os bichos da floresta souberam da novidade, ficaram tão felizes, mas tão felizes que correram na toca da onça para ver se a sua morte era mesmo verdade.
Afinal de contas, a onça era uma bicho danado! Vivia dado sustos nos outros animais! Por isso estavam todos muitos felizes com a noticia de sua morte.
A raposa porém, ficou desconfiada e como não é boba nem nada,ficou de longe, apreciando a cena. Atrás de todos os animais, ela gritou:
– Minha avó quando morreu, espirrou três vezes. Quem tá morto de verdade, tem que espirrar.
A onça ouviu aquilo e para demonstrar para todos que estava mesmo mortinha da silva, espirrou três vezes.
– É mentira gente! Ela tá viva! – Gritou a raposa.
Os bichos correram assustados, enquanto a onça levantava furiosa. A raposa fugiu rindo á beça da cara da sua adversária. Mas a onça não desistiu de apanhar a raposa e pensou num plano.
Havia uma grande seca na floresta, e os bichos para beber água tinham que ir num lago perto da sua toca. Então ela resolveu ficar ali.
Deitada.Quieta.Esperando…
Espreitando a raposa dia e noite, sem parar.
Um dia, irritada e com muita sede, a raposa resolveu dar basta naquela situação. E também elaborou um plano. Lambuzou-se de mel e espalhou um monte de folha seca por seu corpo cobrindo-o todo. Chegando ao lago encontrou a onça. Sua adversária, olhou-a bem e perguntou:
– Que bicho é você que eu não conheço?
Cheia de astúcia, a raposa respondeu:
– Sou o bicho folharal!
– Então, pode beber água.
Vendo que a raposa bebia água como se tivesse muita sede, a onça perguntou desconfiada;
– Está com muita sede hein!
Nisso, a água amoleceu o mel e as folhas foram caindo do corpo da raposa.
Quando a última folha caiu, a onça descobrindo que foi enganada, pulou sobre ela. Mas nisso, a esperta raposa já tinha fugido rindo às gargalhadas.
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Essa conto fala sobre como ser esperto pode salvar a sua vida, porém deve sempre ser cauteloso com as pessoas ao seu redor e como você as trata, pq até o mais esperto pode se dar mal uma hora e perder amiazades, etc.
Referências:
www.educlub.com.br/a-onca-e-a-raposa/
peregrinacultural.wordpress.com/2012/03/05/a-raposa-furta-e-a-onca-paga-fabula-brasileira-texto-de-camara-cascudo/
www.todamateria.com.br/contos-africanos/
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vivaafrica · 2 years
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A menina que virou coruja
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Era uma vez uma menina que se chamava Gerarda. Era uma menina  terrível, implicava com todo mundo, maltratava os animais, troçava dos mais velhos e era o diabo em figura de gente. Um dia, ela estava sentada na porta da casa onde morava, quando foi passando uma velhinha conhecida por ter poderes. Todo mundo sabia que ela era bruxa e todos daquele lugar tinham um grande medo e respeito por ela. Mas a danada da Gerarda não perdeu tempo, correu atrás da velhinha e começou a gritar:
– Velha bruxa! Coruja do inferno, o que foi que você veio fazer aqui?
A velha, indignada com a menina, respondeu dizendo:
– Sai daqui, menina do diabo! Você vai crescer, vai ter filhos, vai ficar velha também e vai sofrer pra você saber como é bom fazer os outros sofrerem. E um dos seus filhos vai virar coruja para você aprender a respeitar os outros!
Mas Gerarda nem ligou e continuou a xingar:
– Velha bruxa! Coruja do inferno, o que foi que você veio fazer aqui?
Deixa estar que o tempo passou.
Gerarda cresceu, ficou moça bonita e se casou com um rapaz que tinha uma roça. Os dois trabalhavam muito nessa roça. O casal teve duas filhas. A mais velha chamava Lalu e mais novinha chamava Besebé. Quando a mais velha tinha doze anos e a caçula apenas sete meses aconteceu uma tragédia: o marido de Gerarda morreu picado por uma cobra venenosa quando trabalhava na roça. Gerarda sofreu muito, mas continuou a trabalhar para criar as filhas e a vida seguiu.
Gerarda gostava muito de comer Amalá que é um caruru de quiabos. Um dia ela foi para a roça de manhã bem cedinho deixando em casa um bocado de quiabos prontos para fazer seu caruru quando voltasse na hora do almoço. Aconteceu que ela demorou muito e Lalu, que estava com muita fome, resolveu fazer o caruru. Os quiabos estavam na cozinha, mas a menina não encontrou carne. Ela não teve dúvida: pegou Besebé e matou. Depois temperou, cortou em pedacinhos e colocou na panela para cozinhar junto com os quiabos. Em seguida, temperou com sal e azeite de dendê.
Quando o caruru estava pronto, ela comeu e deixou o resto para sua mãe comer. Horas depois Gerarda chegou morta de cansada, com fome e pensando que ainda ia ter que fazer comida. Foi quando Lalu disse:
– Mamãe, já cozinhei o caruru e já comi! O da senhora está na panela.
Gerarda mais que depressa correu para a panela, se serviu de um bocado de caruru, comeu de lamber os beiços e fico por ali descansando. Depois que ela descansou bem, notou que Besebé estava muito quieta e foi espiar. Quando ela chegou na porta do quarto e não viu a menina, chamou Lalu e perguntou:
– Cadê Besebé, minha filha? Onde é que ela está?
Lalu, correndo pela porta da rua, disse:
– Eu botei no caruru, pra senhora comer.
Gerarda, com as mãos na cabeça, alucinada, correu atrás de Lalu. Mas a menina correu rápido e desapareceu no mundo. A mulher ficou doente e sentindo remorso de todas as coisas terríveis que já tinha praticado na sua vida. Mas o tempo cura tudo e Gerarda seguiu resignada pela vida.
Lalú ficou à toa pelas ruas até que encontrou Ogun, que a levou para casa, para que a menina cuidasse das suas roupas e ferramentas. Lalu, depois que chegou na casa de Ogun, começou a abusar, dando e vendendo tudo que tinha na casa. Um dia, Ogun tinha que fazer uma viagem,chamou Lalu e perguntou sobre suas coisas. Lalu saiu pela rua gritando como doida:
– Vendi todas as suas roupas e ferramentas!
Assim ela passou pela casa de quase todos os orixás e fazia sempre a mesma coisa.
Por fim ela chegou na casa de um velhinho, que estava todo enrolado com panos bem alvos, se aquecendo ao fogo. Quando Lalu viu o velhinho pensou consigo mesma:
– Aqui deve ter pouco trabalho! Está bom pra mim!
Depois ela perguntou ao velhinho como ele se chamava. Ele disse que o seu nome era Oxalá e convidou Lalu para tomar conta de sua casa. E a menina terminou fazendo a mesma coisa que já tinha feito na casa dos outros orixás.
Só que dessa vez foi diferente. Quando ela saiu pela porta gritando como doida, Oxalá lhe jogou uma maldição:
– Lalu, de agora em diante você será uma coruja e só terá direito de vagar pela noite!
Imediatamente Lalu se transformou em uma coruja. Na primeira noite ela pousou justamente no telhado da casa de Gerarda e começou a cantar um pio triste. Dentro da casa, a mulher reconheceu a voz da filha e se lembrou da praga que a bruxa havia lhe rogado. Gerarda teve um ataque de tristeza e morreu.
E a coruja ficou eternamente vagando pela noite
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Esse conto é uma lição de moral para crianças desobedientes, desordeiras e sem educação que não respeitam os mais velhos, os costumes, religião e nada, e por isso são castigadas.
Pessoas desrespeitosas e ruins sempre serão castigadas.
Referências:
pt.dreamstime.com/coruja-bonito-em-uma-refeição-matinal-de-noite-dos-desenhos-animados-ilustração-lisa-do-vetor-image107658771
www.educlub.com.br/a-menina-que-virou-coruja/
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vivaafrica · 2 years
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A lua feiticeira e a filha que não sabia pilar
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A lua tinha uma filha branca e em idade de casar. Um dia apareceu-lhe em casa um monhé pedindo a filha em casamento. A lua perguntou-lhe:
– Como pode ser isso, se tu és monhé? Os monhés não comem ratos nem carne de porco e também não apreciam cerveja… Além disso, ela não sabe pilar…
O monhé respondeu:
– Não vejo impedimento porque, embora eu seja monhé, a menina pode continuar a comer ratos e carne de porco e a beber cerveja… Quanto a não saber pilar, isso também não tem importância, pois as minhas irmãs podem fazê-lo.
A lua, então, respondeu:
– Se é como dizes, podes levar a minha filha que, quanto ao mais, é boa rapariga.
O monhé levou consigo a menina. Ao chegar a casa foi ter com a sua mãe e fez-lhe saber que a menina com quem tinha casado comia ratos, carne de porco e bebia cerveja, mas que era necessário deixá-la à-vontade naqueles hábitos. Acrescentou também que ela não sabia pilar, mas que as suas irmãs teriam a paciência de suprir essa falta.
Dias depois, o monhé saiu para o mato à caça. Na sua ausência, as irmãs chamaram a rapariga (sua cunhada) para ir pilar com elas para as pedras do rio e esta desatou a chorar.
As irmãs censuraram-na:
– Então tu pões-te a chorar por te convidarmos a pilar?… Isso não está bem! Tens de aprender porque é trabalho próprio das mulheres.
E, sem mais conversas, pegaram-lhe na mão e conduziram-na ao lugar onde costumavam pilar.
Quando chegaram ao rio puseram-lhe o pilão na frente, entregaram-lhe um maço e ordenaram que pilasse.
A rapariga começou a pilar, mas com uma mágoa tão grande que as lágrimas não paravam de lhe escorrer pela cara. Enquanto pilava ia-se lamentando:
– Quando estava em casa da minha mãe não costumava pilar…
Ao dizer estas palavras, a rapariga, sempre a pilar e juntamente com o pilão, começou a sumir-se pelo chão abaixo, por entre as pedras que, misteriosamente, se afastavam. E foi mergulhando, mergulhando… até desaparecer.
Ao verem aquele estranho fenômeno, as irmãs do monhé abandonaram os pilões e foram a correr contar à mãe o que acontecera. Esta ficou assustada com a estranha novidade e tinha o coração apertado de receio quando chegou o monhé, seu filho.
Este, ao ouvir o relato do que acontecera à sua mulher, ralhou com as irmãs, censurando-as por não terem cumprido as suas ordens. Apressou-se a ir ter com a lua, sua sogra, para lhe dar conta do desaparecimento da filha.
A lua, muito irritada, disse:
– A minha filha desapareceu porque não cumpriste o que prometeste. Faz como quiseres, mas a minha filha tem de aparecer!
– Mas como posso ir ao encontro dela se desapareceu pelo chão abaixo?
A lua mudou, então, de aspecto e, mostrando-se conciliadora, disse:
– Bom, vou mandar chamar alguns animais para se fazer um remédio que obrigue a minha filha a voltar… Vai para o lugar onde desapareceu a minha filha e espera lá por mim.
O monhé foi-se embora e a lua chamou um criado ordenando:
– Chama o javali, a pacala, a gazela, o búfalo e o cágado e diz-lhes que compareçam, sem demora, nas pedras do rio onde desapareceu a minha filha.
O criado correu a cumprir as ordens e os animais convidados apressaram-se para chegar ao lugar indicado. A lua também para lá se dirigiu com um cesto de alpista. Quando chegou ao rio, derramou um punhado de alpista numa pedra e ordenou ao porco que moesse.
O porco, enquanto moia, cantou:
– Eu sou o javali e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som da minha voz!
Nesse momento ouviu-se a voz cava da menina que, debaixo do chão, respondia:
– Não te conheço!
O javali, despeitado, largou a pedra das mãos e afastou-se cabisbaixo. Aproximou-se em seguida a pacala e, enquanto moia, cantou:
– Eu sou a pacala e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som da minha voz!
Ouviu-se novamente a voz da menina que dizia:
– Não te conheço!
A gazela e o búfalo ajoelharam também junto do moinho, fazendo a sua invocação, mas a menina deu a ambos a mesma resposta:
– Não te conheço!
Por último, tomou a pedra o cágado e, enquanto moía, cantou:
– Eu sou o cágado e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som da minha voz!
A menina cantou, então, em voz terna e melodiosa:
– Sim, cágado, à tua voz eu vou aparecer!…
E, pouco a pouco, a menina começou a surgir por entre as pedras do rio, juntamente com o pilão, mas sem pilar. Quando emergiu completamente parou e ficou silenciosa.
Os animais juntaram-se todos, curiosos, à volta da menina.
Então, a lua disse:
– Agora a minha filha já não pode continuar a ser mulher do monhé pois ele não soube cumprir o que me prometeu. Ela será, daqui para o futuro, mulher do cágado, pois só à sua voz é que ela tornou a aparecer.
Então o cágado levantou a voz dizendo:
– Estou muito feliz com a menina que acaba de me ser dada em casamento e, como prova da minha satisfação, vou oferecer-lhe um vestido luxuoso que ela vestirá uma só vez, pois durará até ao fim da sua vida.
E, dizendo isto, entregou à menina uma carapaça lindamente trabalhada, igual à sua.
Da ligação do cágado com a filha da lua é que descendem todos os cágados do mundo…
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Em Moçambique "Monhé" seria o mestiço de árabe e negro, muçulmano asiático, um termo obsoleto e ofensivo nos dias atuais.
Aqui a lua questiona-o sobre como um Mulçumano, que não come carne de rato, porco e nem toma cerveja pode casar com sua filha que tem esses costumes. O motivo é porque os muçulmanos são proibidos de beber coisas que contenham álcool, o Alcorão proíbe tudo o que cause intoxicação, e também são proibidos de comer carne de porco e de rato pois existem regras alimentares que são chamadas de Halal, e a carne de porco é considerada impura, maligna e ilegal, e a do rato também.
Outro quesito na história é que sua filha sendo branca, não sabia pilar, um costume do povo da região, então esta não seria de ajuda dentro da casa deste, onde as mulheres pilavam.
Porém este faz uma promessa em que esta nunca precisará pilar, mas esta promessa foi quebrada, e como a confiança, a menina sumiu e só conseguiu ser reavista por outro, que conquistou a confiança da menina e da lua, e assim todos os cágados descenderam dos dois com cascos duros e que os protegiam, assim como protegia a filha da lua.
O conto fala principalmente sobre como as vezes fazemos promessas que não podemos cumprir, e assim perdemos a confiança das pessoas.
Referências:
corujapedagogica.com/conto-popular-africano-a-lua-feiticeira-e-a-filha-que-nao-sabia-pilar/
www.educlub.com.br/conto-popular-africano-a-lua-feiticeira-e-a-filha-que-nao-sabia-pilar/
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vivaafrica · 2 years
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A Hiena e o Gala-gala
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A Hiena estabeleceu relações de amizade com o Gala-Gala.
Um dia, a Hiena preparou cerveja e foi chamar o seu amigo lagarto:
– Vamos beber cerveja.
Foram. O Gala-Gala embriagou-se. Perguntou à sua amiga Hiena:
– Amiga, tu que gostas tanto de carne, se me encontrares morto no caminho, és capaz de me comer?
– Não, isso nunca. Eu quero ser tua amiga.
O lagarto embriagou-se muito e despediu-se:
– Amiga, vou para minha casa.
– Está bem.
O Gala-Gala partiu. A meio do caminho, deitou-se a dormir. A Hiena pensou: “O meu amigo bebeu muito. É melhor ir ver se ele chega bem a casa”.
Encontrou-o no caminho, deitado. Levantou-o:
– É sono, amigo? É embriaguez?
Segurou-o, virando-o. O lagarto calou-se, sem respirar. A Hiena agarrou nele e atirou-o para o mato. Depois saiu do caminho, foi ver onde é que o Gala-Gala tinha caído e encontrou-o.
– O meu amigo morreu.
Cortou lenha, fez fogo, e agarrou no lagarto para o assar na fogueira. O Gala-Gala, sentindo o calor do fogo, bateu com a cauda nos olhos da Hiena e subiu, depressa, para uma árvore.
A amizade entre eles acabou ali. O Gala-Gala passou a viver nas árvores e a Hiena continuou a andar no chão, para nunca mais se encontrarem.
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Esse conto moçambicano fala sobre o porque destes dois animais viverem em ambientes longe um do outro, para não se cruzarem, sendo o gala-gala um lagarto originário desta região de Moçambique.
Mas, também fala sobre amizade e confiança, onde não se pode confiar cegamente em alguém, porque você nunca conhece a pessoa e suas intenções plenamente, em que num momento ela pode estar do seu lado e no outro traindo você. Temos que sempre cuidar de nós mesmos e ficarmos atentos com as pessoas.
Referências:
www.youtube.com/watch?v=OmJOVpALS1Q&ab_channel=CadaLivro%2CUmaHistória-MahSantana
www.educlub.com.br/a-hiena-e-o-gala-gala/
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vivaafrica · 2 years
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Conto da mulher que tinha uma filha fabricante de azeite-de-dende
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Um dia, uma menina tinha terminado de preparar seu azeite e tinha arrumado todos os seus negócios em casa, foi à feira vender o azeite, onde ficou até escurecer. Quando chegou a noite, apareceu um Velho, comprou azeite e pagou com alguns cobres. A menina contou os cobres, e viu que estava faltando um. Ela pediu ao Velho que completasse o valor. O Velho respondeu que não tinha mais cobres. Então a menina começou a chorar, dizendo:
– Não posso voltar para casa com cobres a menos, pois minha mãe me baterá.
O Velho foi-se e a menina seguiu-o.
– Vai embora, menina, pois ninguém pode entrar no país onde eu moro – falou o Velho quando viu que a menina o seguia.
– Não – disse a menina – eu vou até onde você for e só voltarei quando pagar o meu cobre.
Então seguiram. Caminharam muito até que chegaram à margem do riacho. Aí, o Velho disse:
– Menina vendedora de azeite-dendê, agora você deve voltar.
– Só voltarei quando receber o meu cobre.
– Cedo este rastro de sangue no rio desaparecerá e você deve voltar – replicou o Velho.
– Não voltarei.
– Está vendo aquela floresta escura?
– Estou, mas não voltarei.
– Está vendo aquela montanha pedregosa?
– Estou, mas não voltarei sem receber o meu cobre.
Daí, andaram por um caminho comprido, até que chegaram na terra dos Mortos. O Velho deu alguns cocos de dendê para a menina fazer azeite e disse:
– Coma o azeite e me dê à casca.
Quando o azeite ficou pronto, ela comeu a casca e deu o azeite para o Velho. O Velho deu uma banana e disse:
– Coma a banana e me dê à casca.
A menina comeu a casca e deu a banana para o Velho comer. Então, disse o Velho:
– Está vendo aquele monte de cabacinhas? Apanhe três daquelas cabacinhas. Não tire das que pedirem, e sim das que ficarem caladas e volte para sua casa. Quando estiver no meio do caminho, quebre uma; na porta de sua casa, quebre a outra; e a última, quando você estiver dentro de casa.
– Muito bem, será feita a sua vontade – disse a menina.
A menina apanhou suas cabacinhas como o Velho ensinou e voltou para casa.
No meio do caminho quebrou a primeira cabacinha e apareceram muitos escravos e cavalos que lhe seguiram. Quando estava à porta de casa, quebrou a outra e logo apareceu muita gente, carneiros, cabras, bois e muitas aves que a seguiram. Chegando dentro de casa quebrou a última. De repente, a casa ficou cheia de cobres por tudo quanto foi canto. A mãe da menina então, com toda aquela riqueza, resolveu mandar para uma senhora vizinha, vinte panos da costa, muitas voltas de contas e vinte animais de cada espécie que a menina ganhou no presente.
Esta senhora era muito invejosa e tinha uma filha mais invejosa ainda, e, sabendo como a filha da outra tinha recebido os presentes, fez azeite-dendê e deu à sua filha para ir vender na feira. Explicou a filha que ela deveria fazer o mesmo que a filha da vizinha. A menina foi e o Velho apareceu comprando azeite, pagando com o número certo de cobres. A menina invejosa escondeu um, dizendo não ter recebido os cobres completos.
– O que eu posso fazer? – perguntou o Velho – Não tenho mais cobre.
– Eu vou até sua casa e lá você me paga?
– Está certo – respondeu o Velho.
Quando estavam caminhando, o Velho começou a dizer o que tinha dito para a outra menina.
– Jovem vendedora de azeite-dendê,agora deves voltar para sua casa.
– Não voltarei – disse a menina.
– Então vamos adiante – respondeu o Velho.
E seguiram até a terra dos Mortos. O Velho deu cocos de dendê para fazer azeite e disse:
– Coma o azeite e me traga a casca.
A menina assim fez e o Velho disse:
– Muito bem.
Deu a banana. A menina comeu a banana e devolveu a casca.
Então, o Velho disse:
– Esta vendo aquele monte de cabacinhas? Vá, tire três cabacinhas, mas só tira das que estiverem caladas. Das que pedirem para ser tiradas, você não tira.
A menina fez o contrário e tirou as que pediram para ser tiradas.
O Velho então disse:
– No meio do caminho, você quebra uma; na porta de sua casa, quebra a outra; e dentro de sua casa quebra a última.
No meio do caminho, ela quebrou a primeira cabacinha. Aí, apareceu uma porção de cachorros correndo atrás dela, dando-lhe dentadas. Já exausta, ela chegou à porta da casa, quebrou a outra cabacinha, saindo leões ferozes, que caíram em cima dela mordendo e rasgando seu vestido. Quando ela quis entrar, a porta estava fechada e não tinha pessoa nenhuma em casa, pois até a mãe dela estava na rua. Na porta mesmo a menina foi morta pelos animais que lhe acompanhavam.
É assim que acontece com as pessoas que são invejosas.
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Esse conto fala sobre a importância da humildade, ela te faz aprender e crescer, já a ganância e a inveja te matam, seu espírito fica corrupto e você se perde.
Fala também sobre um dos condimentos mais usados na culinária africana e na brasileira também, trazida pelos então escravos ao Brasil, o azeite de dendê, que tem origem no oeste da África.
Este além de ser usado em comidas como vatapá, acarajé e moamba de galinha, na Angola, também pode ser usado com óleo diesel, óleo de fritura, para fazer sabão, velas, proteção para chapas, graxa, lubrificantes, etc.
Referências:
www.educlub.com.br/conto-da-mulher-que-tinha-uma-filha-fabricante-de-azeite-de-dende
pt.wikipedia.org/wiki/Azeite_de_dendê
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vivaafrica · 2 years
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A Gazela e o Caracol
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Era uma sexta-feira, quando uma Gazela que adorava se sentir mais do que os outros animais, encontrou um pequeno e miudinho Caracol e falou para provocar:
— Você é só um Caracol! É incapaz de correr ou de fazer coisa alguma que não seja se arrastar pelo chão que outros animais, maravilhosos como eu, passam. Você só se rasteja!
O Caracol, que já estava cansado de ser posto em posição inferior, respondeu:
— Aé? Você acredita mesmo nisso? Me encontre aqui, exatamente aqui, no domingo, e vamos correr para ver quem é o melhor animal.
— AHAHHA! Você acha que tem alguma chance contra um animal como eu? Eu sou linda, forte e rápida! Você é pequeno, feio e lento! AHHAHA! Mas concordo, te encontro aqui no domingo para corrermos.
Dito isso, os dois animais se despediram.
Enquanto a Gazela ficou rindo por aí, o Caracol se preparou!
Ainda na sexta-feira, ele arranjou vários papéis e passou o restante do dia escrevendo em cada uma das folhinhas:
"No Domingo, quando uma Gazela passar por você e disser 'Caracol', você tem que pular de onde estiver e responder 'Eu sou o Caracol'."
Quando terminou de escrever em todas as folhinhas, foi dormir.
E quando acordou, era sábado!
— Preciso encontrar os meus amigos Caracóis — o Caracol pensou.
E lá foi ele.
Passou o sábado inteirinho encontrando os amigos.
Encontrou 100 deles! E para cada um, ele entregou um papel, dizendo:
— Por favor, leia esse papel e amanhã, quando a Gazela passar por você, você saberá o que tem que fazer.
O domingo chegou, e o Caracol e a Gazela se encontraram para a corrida.
A Gazela, que continuava rindo, mal se conteve para falar:
— E ai, Caracolzinho de nada, podemos começar esta corrida logo? Está pronto para perder? AHAHAH! Você vai ficar para trás.
O Caracol só se deu o trabalho de responder:
— Vamos!
Eles contaram até 3 para dar a largada.
1…
2…
3....
Quando falaram o “três”, a Gazela saiu correndo desesperada…
Já o Caracol pulou para trás de um arbusto para se esconder....
A Gazela ia indo, frenética, correndo sem parar, e por todo lugar que passava, perguntava para verificar se o Caracol estava por perto:
— Caracol?
E havia sempre um Caracol que respondia:
— Eu sou o Caracol!
Porém nunca era o mesmo, isso apenas acontecia por causa das folhas distribuídas entre eles…
E a Gazela ia correndo mais rápido e cada vez mais rápido, porque de jeito nenhum que ela iria perder para um Caracol!
— Caracol?
— Eu sou o Caracol!
E ela ia correndo e continuou correndo, até que não aguentou e se cansou demais, caindo no chão derrotada.
E o Caracol, por mais que fosse pequenininho, conseguiu vencer a corrida, isso devido à esperteza de ter escrito 100 papéis e de ter tantos amigos com quem pode contar.
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A fábula é um gênero de contos muito popular na literatura africana e de todo mundo, sobretudo entre as crianças, sempre trazendo uma moral. A Gazela e o Caracol nos ensina, que as características físicas não determinam o animal/pessoa e sim sua capacidade pensar e agir corretamente para com os outros. Seu caráter é o que importa de verdade.
Referências:
https://www.jessicaiancoski.com/amp/a-gazela-e-o-caracol-conto-africano
https://eixodoleitorcrateus.blogspot.com/2018/12/conto-africano-gazela-e-o-caracol
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vivaafrica · 2 years
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Coração-Sozinho
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O Leão e a Leoa tiveram três filhos; um deu a si próprio o nome de Coração-Sozinho, o outro escolheu o de Coração-com-a-Mãe e o terceiro o de Coração-com-o-Pai.
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Coração-Sozinho encontrou um porco e apanhou-o, mas não havia quem o ajudasse porque o seu nome era Coração-Sozinho.
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Coração-com-a-Mãe encontrou um porco, apanhou-o e sua mãe veio logo para o ajudar a matar o animal. Comeram-no ambos.
Coração-com-o-Pai apanhou também um porco. O pai veio logo para o ajudar. Mataram o porco e comeram-no os dois.
Coração-Sozinho encontrou outro porco, apanhou-o mas não o conseguia matar. Ninguém foi em seu auxílio. Coração-Sozinho continuou nas suas caçadas, sem ajuda de ninguém. Começou a emagrecer, a emagrecer, até que um dia morreu.
Os outros continuaram cheios de saúde por não terem um coração sozinho.
………………………………………………………………………………….
Uma história moçambicana que fala sobre o papel da família e sobre o valor de termos alguém do nosso lado, que nos ensine, proteja e cuide.
Demonstrando a importância da ajuda e companheirismo do próximo, trazendo a lição para o leitor de não se isolar do mundo e sempre contar uns com os outros.
Quando o leãozinho escolhe "coração-sozinho" como seu nome, ele traça o seu fim, pois seus dois irmãos tem alguém ao lado deles os ajudando e ensinado, e este não, portanto morre, pois ninguém consegue viver sozinho, todos precisamos de alguém ou uns dos outros.
Referências:
pt.dreamstime.com/coração-vermelho-num-canto-sozinho-solitário-solidão-renderização-d-vazio-quer-encontrar-um-par-image170635653
www.educlub.com.br/coracao-sozinho
https://eixodoleitorcrateus.blogspot.com/2018/12/conto-africano-coracao-sozinho
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vivaafrica · 2 years
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O dia em que explodiu Mabata bata
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De repente, o boi explodiu. Rebentou sem um múúú. No capim em volta choveram pedaços e fatias, grão e folhas de boi. A carne eram já borboletas vermelhas. Os ossos eram moedas espalhadas. Os chifres ficaram num qualquer ramo, balouçando a imitar a vida, no invisível do vento.
O espanto não cabia em Azarias, o pequeno pastor. Ainda há um instante ele admirava o grande boi malhado, chamado de Mabata-bata. O bicho pastava mais vagaroso que a preguiça. Era o maior da manada, régulo da chifraria, e estava destinado como prenda de lobolo do tio Raul, dono da criação. Azarias trabalhava para ele desde que ficara órfão. Despegava antes da luz para que os bois comessem o cacimbo das primeiras horas.
Olhou a desgraça: o boi poeirado, eco de silêncio, sombra de nada.“Deve ser foi um relâmpago”, pensou. Mas relâmpago não podia. O céu estava liso, azul sem mancha. De onde saíra o raio? Ou foi a terra que relampejou?
Interrogou o horizonte, por cima das árvores. Talvez o ndlati, a ave do relâmpago, ainda rodasse os céus. Apontou os olhos na montanha em frente. A morada do ndlati era ali, onde se juntam os todos rios para nascerem da mesma vontade da água. O ndlati vive nas suas quatro cores escondidas e só se destapa quando as nuvens rugem na rouquidão do céu. É então que o ndlati sobe aos céus, enlouquecido. Nas alturas se veste de chamas, e lança o seu voo incendiado sobre os seres da terra. Às vezes atira-se no chão, buracando-o. Fica na cova e a deita a sua urina.
Uma vez foi preciso chamar as ciências do velho feiticeiro para escavar aquele ninho e retirar os ácidos depósitos. Talvez o Mabata-bata pisara uma réstia maligna do ndlati. Mas quem podia acreditar? O tio, não. Havia de querer ver o boi falecido, ao menos ser apresentado uma prova do desastre. Já conhecia bois relampejados: ficavam corpos queimados, cinzas arrumadas a lembrar o corpo. O fogo mastiga, não engole de uma só vez, conforme sucedeu-se.
Reparou em volta: os outros bois, assustados, espalharam-se pelo mato. O medo escorregou dos olhos do pequeno pastor.
— Não apareças sem um boi, Azarias. Só digo: é melhor nem apareceres.
A ameaça do tio soprava-lhe os ouvidos. Aquela angústia comia-lhe o ar todo. Que podia fazer? Os pensamentos corriam-lhe como sombras mas não encontravam saída. Havia uma só solução: era fugir, tentar os caminhos onde não sabia mais nada. Fugir é morrer de um lugar e ele, com os seus calções rotos, um saco velho a tiracolo, que saudade deixava? Maus tratos, atrás dos bois. Os filhos dos outros tinham direito da escola. Ele não, não era filho. O serviço arrancava-o cedo da cama e devolvia-o ao sono quando dentro dele já não havia resto de infância. Brincar era só com os animais: nadar o rio na boleia do rabo do Mabata-bata, apostar nas brigas dos mais fortes. Em casa, o tio adivinhava-lhe o futuro:
- Este, da maneira que vive misturado com a criação há-de casar com uma vaca.
E todos se riam, sem quererem saber da sua alma pequenina, dos seus sonhos maltratados. Por isso, olhou sem pena para o campo que ia deixar. Calculou o dentro do seu saco: uma fisga, frutos do djambalau, um canivete enferrujado. Tão pouco não pode deixar saudade. Partiu na direção do rio. Sentia que não fugia: estava apenas a começar o seu caminho. Quando chegou ao rio, atravessou a fronteira da água. Na outra margem parou à espera nem sabia de quê.
Ao fim da tarde a avó Carolina esperava Raul porta de casa. Quando chegou ela disparou a aflição:
— Essas horas e o Azarias ainda não chegou com os bois.
— O quê? Esse malandro vai apanhar muito bem, quando chegar.
— Não é que aconteceu uma coisa, Raul? Tenho medo, esses bandidos...
— Aconteceu brincadeiras dele, mais nada.
Sentaram na esteira e jantaram. Falaram das coisas do lobolo, preparação do casamento. De repente, alguém bateu porta. Raul levantou-se interrogando os olhos da avó Carolina. Abriu a porta: eram os soldados, três.
— Boa noite, precisam alguma coisa?
— Boa noite. Vimos comunicar o acontecimento: rebentou uma mina esta tarde. Foi um boi que pisou. Agora, esse boi pertencia daqui.
Outro soldado acrescentou:
— Queremos saber onde está o pastor dele.
— O pastor estamos à espera — respondeu Raul. E vociferou:
— Malditos bandos!
— Quando chegar queremos falar com ele, saber como foi sucedido. E bom ninguém sair na parte da montanha. Os bandidos andaram espalhar minas nesse lado.
Despediram. Raul ficou, rodando à volta das suas perguntas. Esse sacana do Azarias onde foi? E os outros bois andariam espalhados por aí?
— Avó: eu não posso ficar assim. Tenho que ir ver onde está esse malandro. Deve ser talvez deixou a manada fugentar-se. E preciso juntar os bois enquanto é cedo.
— Não podes, Raul. Olha os soldados o que disseram. É perigoso.
Mas ele desouviu e meteu-se pela noite. Mato tem subúrbio? Tem: onde o Azarias conduzia os animais. Raul, rasgando-se nas micaias, aceitou a ciência do miúdo. Ninguém competia com ele na sabedoria da terra. Calculou que o pequeno pastor escolhera refugiar-se no vale.
Chegou ao rio e subiu as grandes pedras. A voz superior, ordenou:
— Azarias, volta. Azarias!
Só o rio respondia, desenterrando a sua voz corredeira. Nada em toda volta. Mas ele adivinhava a presença oculta do sobrinho.
— Apareça lá, não tenhas medo. Não vou-te bater, juro.
Jurava mentiras. Não ia bater: ia matar-lhe de porrada, quando acabasse de juntar os bois. No enquanto escolheu sentar, estátua de escuro. Os olhos, habituados à penumbra desembarcaram na outra margem. De repente, escutou passos no mato. Ficou alerta.
— Azarias?
Não era. Chegou-lhe a voz de Carolina.
— Sou eu. Raul
Maldita velha, que vinha ali fazer? Trapalhar só. Ainda pisava na mina, rebentava-se e, pior, estoirava com ele também.
— Volta em casa, avó!
— O Azarias vai negar de ouvir quando chamares. A mim, há-de ouvir.
E aplicou sua confiança, chamando o pastor. Por trás das sombras, uma silhueta deu aparecimento.
— És tu, Azarias. Volta comigo, vamos para casa.
— Não quero, vou fugir.
O Raul foi descendo, gatinhoso, pronto para saltar e agarrar as goelas do sobrinho.
— Vais fugir para onde, meu filho?
— Não tenho onde, avó.
— Esse gajo vai voltar nem que eu lhe chamboqueie até partir-se dos bocados — precipitou-se a voz rasteira de Raul.
— Cala-te, Raul. Na tua vida nem sabes da miséria.
E voltando-se para o pastor:
— Anda meu filho, só vens comigo. Não tens culpa do boi que morreu. Anda ajudar o teu tio juntar os animais.
— Não preciso. Os bois estão aqui, perto comigo.
Raul ergueu-se, desconfiado. O coração batucava-lhe o peito.
— Como ? Os bois estão aí?
— Sim, estão.
Enroscou-se o silêncio. O tio não estava certo da verdade do Azarias.
— Sobrinho: fizeste mesmo? Juntaste os bois?
A avó sorria pensando no fim das brigas daqueles os dois. Prometeu um prémio e pediu ao miúdo que escolhesse.
— O teu tio está muito satisfeito. Escolhe. Há-de respeitar o teu pedido.
Raul achou melhor concordar com tudo, naquele momento. Depois, emendaria as ilusões do rapaz e voltariam as obrigações do serviço das pastagens.
— Fala lá o seu pedido.
— Tio: próximo ano posso ir na escola?
Já adivinhava. Nem pensar. Autorizar a escola era ficar sem guia para os bois. Mas o momento pedia fingimento e ele falou de costas para o pensamento:
— Vais, vais.
— É verdade, tio?
— Quantas bocas tenho, afinal?
— Posso continuar ajudar nos bois. A escola só frequentamos da parte de tarde.
— Está certo. Mas tudo isso falamos depois. Anda lá daqui.
O pequeno pastor saiu da sombra e correu o areal onde o rio dava passagem. De súbito, deflagrou um clarão, parecia o meio-dia da noite. O pequeno pastor engoliu aquele todo vermelho: era o grito do fogo estourando.
Nas migalhas da noite viu descer o ndlati, a ave do relâmpago. Quis gritar:
— Vens pousar quem, ndlati?
Mas nada não falou. Não era o rio que afundava suas palavras: era um fruto vazando de ouvidos, dores e cores. Em volta tudo fechava, mesmo o rio suicidava sua água, o mundo embrulhava o chão nos fumos brancos.
— Vens pousar a avó, coitada, tão boa? Ou preferes no tio, afinal das contas, arrependido e prometente como o pai verdadeiro que morreu-me?
E antes que a ave do fogo se decidisse Azarias correu e abraçou-a na viagem da sua chama.
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O conto causa interesse no público ouvinte e leitor, pela sua narrativa cativante, pois além de elementos de fantasia traz ainda demonstrações de sobrevivência, força e coragem.
Referências:
https://www.culturagenial.com/contos-africanos
Fonte: Mia Couto, Vozes anoitecidas (1987)
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vivaafrica · 2 years
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Os Dois Reis de Gondar
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Era um dia como os de outrora… e um pobre camponês, tão pobre que tinha apenas a pele sobre os ossos e três galinhas que ciscavam alguns grãos de teff que encontravam pela terra poeirenta, estava sentado na entrada da sua velha cabana como todo fim de tarde. De repente, viu chegar um caçador montado a cavalo. O caçador se aproximou, desmontou, cumprimentou-o e disse:
— Eu me perdi pela montanha e estou procurando o caminho que leva à cidade de Gondar.
— Gondar?
Fica a dois dias daqui — respondeu o camponês.
— O sol já está se pondo e seria mais sensato se você passasse a noite aqui e partisse de manhã cedo.
O camponês pegou uma das suas três galinhas, matou-a, cozinhou-a no fogão a lenha e preparou um bom jantar, que ofereceu ao caçador. Depois de comerem os dois juntos sem falar muito, o camponês ofereceu sua cama ao caçador e foi dormir no chão ao lado do fogo.
No dia seguinte bem cedo, quando o caçador acordou, o camponês explicou-lhe como teria que fazer para chegar a Gondar:
— Você tem que se enfiar no bosque até encontrar um rio, e deve atravessá-lo com seu cavalo com muito cuidado para não passar pela parte mais funda. Depois tem que seguir por um caminho à beira de um precipício até chegar a uma estrada mais larga…
O caçador, que ouvia com atenção, disse:
— Acho que vou me perder de novo. Não conheço esta região… Você me acompanharia até Gondar? Poderia montar no cavalo, na minha garupa.
— Está certo — disse o camponês —, mas com uma condição. Quando a gente chegar, gostaria de conhecer o rei, eu nunca o vi.
— Você irá vê-lo, prometo.
O camponês fechou a porta da sua cabana, montou na garupa do caçador e começaram o trajeto. Passaram horas e horas atravessando montanhas e bosques, e mais uma noite inteira. Quando iam por caminhos sem sombra, o camponês abria seu grande guarda-chuva preto, e os dois se protegiam do sol. E quando por fim viram a cidade de Gondar no horizonte, o camponês perguntou ao caçador: — E como é que se reconhece um rei?
— Não se preocupe, é muito fácil: quando todo mundo faz a mesma coisa, o rei é aquele que faz outra, diferente. Observe bem as pessoas à sua volta e você o reconhecerá.
Pouco depois, os dois homens chegaram à cidade e o caçador tomou o caminho do palácio.
Havia um monte de gente diante da porta, falando e contando histórias, até que, ao verem os dois homens a cavalo, se afastaram da porta e se ajoelharam à sua passagem. O camponês não entendia nada. Todos estavam ajoelhados, exceto ele e o caçador, que iam a cavalo.
— Onde será que está o rei? — perguntou o camponês.
— Não o estou vendo! — Agora vamos entrar no palácio e você o verá, garanto!
E os dois homens entraram a cavalo dentro do palácio. O camponês estava inquieto. De longe via uma fila de pessoas e de guardas também a cavalo que os esperavam na entrada.
Quando passaram na frente deles, os guardas desmontaram e somente os dois continuaram em cima do cavalo. O camponês começou a ficar nervoso: — Você me falou que quando todo mundo faz a mesma coisa… Mas onde está o rei?
— Paciência! Você já vai reconhecê-lo! É só lembrar que, quando todos fazem a mesma coisa, o rei faz outra.
Os dois homens desmontaram do cavalo e entraram numa sala imensa do palácio. Todos os nobres, os cortesãos e os conselheiros reais tiraram o chapéu ao vê-los. Todos estavam sem chapéu, exceto o caçador e o camponês, que tampouco entendia para que servia andar de chapéu dentro de um palácio.
O camponês chegou perto do caçador e murmurou: — Não o estou vendo!
— Não seja impaciente, você vai acabar reconhecendo-o! Venha sentar comigo.
E os dois homens se instalaram num grande sofá muito confortável. Todo mundo ficou em pé à sua volta. O camponês estava cada vez mais inquieto. Observou bem tudo o que via, aproximou-se do caçador e perguntou: — Quem é o rei? Você ou eu?
O caçador começou a rir e disse: — Eu sou o rei, mas você também é um rei, porque sabe acolher um estrangeiro!
E o caçador e o camponês ficaram amigos por muitos e muitos anos…
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O conto “Os Dois Reis de Gondar”, é um conto originário da Etiópia, demonstrando os valores necessários para um bom rei, exaltando a amizade, generosidade e parceria.
Referências:
https:culturagenial.com/contos-africanos
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vivaafrica · 2 years
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Todos dependem da boca
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Certo dia, perto da hora do almoço, quando o corpo todo esperava para comer, a Boca com um ar vaidoso, perguntou:
- Olha, sabemos que o corpo é um só! Mas qual a parte mais importante?
- Somos nós, porque observamos tudo o que acontece e vemos as coisas - responderam os Olhos.
- Besteira! Somos nós, porque ouvimos - retrucaram os Ouvidos.
-Ai que todos vocês se enganam! Somos nós, porque agarramos as coisas! - disseram as Mãos.
O coração então interveio:
- E eu? Eu sou o mais importante! Eu faço o corpo funcionar, bombeando o sangue!
- Nada disso! Sou eu que cuido dos alimentos - pontuou a Barriga.
- Mas veja bem, o importante é sustentar o corpo, como nós, as pernas, fazemos!
Essa conversa na parecia não ter fim! Todas as partes do corpo tinham um pronunciamento importante a fazer…
E permaneceram nisso, até que o almoço ficou pronto e o corpo foi chamado para comer.
Os Olhos viram a massa, o Coração se emocionou, a Barriga roncou de fome, os Ouvidos escutaram, as Mãos estavam prestes a pegar um bocado…
Até que a Boca, bem debochada, disse:
- Aí, querem saber? Vou me recusar a comer hoje…
E continuou se recusando…
Então, a Boca voltou a perguntar:
- Qual é mesmo a parte mais importante do corpo? Não lembro a que conclusão chegamos…
E todos responderam:
- É você! Sem dúvidas, agora podemos comer?
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Os contos africanos muitas vezes direcionados às crianças estimulam o imaginário e o mundo da fantasia através de elementos reais e com significado.
Referências:https:jessicaiancoski.com/post/todos-dependem-da-boca-conto-africano
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vivaafrica · 2 years
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O homem chamado Namarasotha
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Havia um homem que se chamava Namarasotha. Era pobre e andava sempre vestido com farrapos. Um dia foi à caça. Ao chegar ao mato, encontrou uma impala morta.
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Quando se preparava para assar a carne do animal apareceu um passarinho que lhe disse:
__ Namarasotha, não se deve comer essa carne. Continua até mais adiante que o que é bom estará lá.
O homem deixou a carne e continuou a caminhar.
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Um pouco mais adiante encontrou uma gazela morta. Tentava, novamente, assar a carne quando surgiu um outro passarinho que lhe disse:
__ Namarasotha, não se deve comer essa carne. Vai sempre andando que encontrarás coisa melhor do que isso.
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Ele obedeceu e continuou a andar até que viu uma casa junto ao caminho. Parou e uma mulher que estava junto da casa chamou-o, mas ele teve medo de se aproximar pois estava muito esfarrapado.
__Chega aqui!- insistiu a mulher.
Namarasotha aproximou-se então.
__ Entra – disse ela.
Ele não queria entrar porque era pobre. Mas a mulher insistiu e Namarasotha entrou, finalmente.
__Vai te lavar e veste estas roupas – disse a mulher.
E ele lavou-se e vestiu as calças novas. Em seguida, a mulher declarou:
__ A partir deste momento esta casa é tua. Tu és o meu marido e passas a ser tu a mandar.
E Namarasotha ficou, deixando de ser pobre.
Um certo dia havia uma festa a que tinham de ir. Antes de partirem para a festa, a mulher disse a Namarasotha:
__ Na festa a que vamos quando dançares não deverás virar-te para trás.
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Namarasotha concordou e lá foram os dois. Na festa bebeu muita cerveja de farinha de mandioca e embriagou-se. Começou a dançar ao ritmo do batuque. A certa altura a música tornou-se tão animada que ele acabou por se virar.
E no momento em que se virou, ficou como estava antes de chegar à casa da mulher: pobre e esfarrapado.
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Com origem na tradição oral de Moçambique este conto foca num costume da região, onde é costumeiro que os homens passem a integrar o núcleo familiar feminino quando se casam, entram para a família da noiva e moram com ela, falando também sobre a importância do casamento e da família.
O conto mostra a pressão que existe para que os homens encontrem uma companheira correta e casem. Assim o protagonista, solteiro, durante todo o caminho é aconselhado pelos passarinhos, que representam seus antepassados o guiando, e portanto evitam que ele se envolva em romances sem futuro, simbolizados pelos animais mortos.
E como este acaba escutando os pássaros, o homem acha uma esposa e assim uma vida feliz e rica. Porém quando quebra o combinado com sua esposa, perde tudo e volta à miséria e pobreza. A família é tudo.
Referências:
Fonte: Eduardo Medeiros (org.). Contos Populares Moçambicanos, 1997.
www.culturagenial.com/contos-africanos-comentados/#anchor-homem
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