página 1

met: peitos? essas merdas só atrapalham sabia?

                                       página 2

met: mas não ter nenhum é bem patético hahaha

Maldito Deus,

Passaram alguns meses e as coisas evoluíram e retrocederam consideravelmente. Criei resistência ao álcool, fui a uma balada, beijei mais bocas do que gostaria, fui parar no pronto socorro mais vezes do que o esperado, tenho tomado mais remédios para controlar minha ansiedade do que um dia imaginei, seja comprimido ou injeção. Tenho saído muito, viajado demais, me ocupado a todo instante.

Maldito Deus, tenho comido muito bem e me alimentando muito mal. Tenho fugido de mim e agora só a escuto em minha rádio cabeça. Deus, tenho feito meu melhor para esquecer e superar alguém que escolheu não voltar e isso tem sido tortura. Tento ler, tento escrever, tento me distrair, evito cozinhar, evito ficar em casa e tenho dado o meu máximo em tudo, mas todas as noites ainda sonho com ela e cada detalhe do mundo faz o sorriso e os olhos brilhantes dela virem no meu imaginario. Deus, as vezes ainda acho que vou encontrá-la em algum lugar desse mundo.

Ontem fui parar no pronto socorro, tomei 2 soros cheios de outros remédios e uma fodida injeção para controlar ansiedade. Chorei de saudade dela e meu maior sofrimento em meio a tudo foi a pesada ausência da dona do meu coração.

As vezes queria ter amnésia, as vezes queria ter um relógio do tempo para passar por isso logo, as vezes queria ir para algum lugar tão longe quanto a nossa distância.

Deus, não sou mais capaz de suportar todos falando a todo instante que ela já tem outro. Não sou capaz de suportar que não irei vê-la ter um filho comigo ou vir de branco ao meu encontro dizendo "sim" para se casar comigo...

Eu tinha tantos planos para com ela e agora só me resta uma tristeza profunda e aguda cuja a qual não sei se ainda sou capaz de suportar.

Maldito Deus, por favor, me de sabedoria pois já não sei como prosseguir se não em um flagelo interminável de dor e culpa.

Todo riso é vazio, toda ausência é sentida, toda dor é tortura. Todo dinheiro é mal gasto, todo tempo é desperdiçado, tudo é obsoleto e inacabado. Tudo é sem sentido. Tudo é procrastinado, tudo é ilusório.

Deus, ela não vai voltar, ponha isso em minha mente e pare de me torturar.

Deus, ajuda-me com os sonhos em que ela insiste em aparecer, com os pensamentos que sempre voltam a ela e as músicas que a descrevem. Deus, ajuda-me com a ausência daquela que um dia desposei e hoje só me é lembrança de um triste passado imbecil.

Estou de luto por aqueles que ainda vivem...

Estou de luto por mim que ainda tenho viver...

-Em confusão e tormento, H

Torno-me uma estrela inominável em céus cadentes, mais distante da tua órbita; mas em sonhos, a sua língua povoa mundos em línguas estranhas ao redor do meu pescoço e os seus lábios são portais dos meus castelos de areia como a maré viva; mas não aqui, aqui ando assolando os rastros da tua voz falhada no telefone, em um domingo, ás 18:56, como se eu estivesse capturando a minha morte com um beijo sagrado na bochecha. Você se torna o ardor esvanecido, queimando lentamente tudo que eu faço ou digo, mais perto enfim do mar obsoleto; mas em sonhos, talvez eu lhe visite, como uma estranha, vestida apenas você despir as flores pingando dos meus dedos e os sussurros dos planetas nos meus ouvidos.

Not So Berry Legacy Challenge

Generation One: Mint

"Arredores obsoletos (De: Traço materialista) Sims materialistas ficam um pouco tensos se não admirarem algo que compraram recentemente."

"Perdendo Sonhos (De Medo de Sonhos Não Realizados) Pode ser frustrante quando uma tarefa simples continua sendo desconsiderada."

No domingo acordei um pouco tensa, minha vida não estava indo da maneira como eu imaginei. Pensei que quando adulta teria dinheiro para ter coisas mais bonitas.

**On Sunday I woke up a little tense, my life was not going the way I imagined. I thought that as an adult I would have money to have more beautiful things.**

"Propósito de vida (De Medo de sonhos não realizados) Que prioridades Carola realmente tem? O que ela quer fazer sempre fica fora de alcance, substituído apenas por uma diretiva abrangente do que ela tem que fazer."

Será que eu realmente não vou conseguir fazer nada que eu sonho?

**Will I really not be able to do anything I dream of?**

Pergunto-me como serei uma boa escritora, como irei descrever as magnitudes fantásticas e o miserável sem os conhecer, vivendo presa entre quatro paredes brancas e sem vigor, escondendo-me por trás do argumento da solitude afundada em solidão. Mesmo minha imaginação, motivo de orgulho e sofrimento, uma dádiva dolorosa de carregar que me toma por refém, não consegue ir tão longe, é falha, cheia de limitações, pois eu o mundo não conheci. Dizer mundo chega a soar patético, contentaria-me com esquinas desconhecidas, árvores ainda não vistas e pessoas peculiares aos meus olhos.

Toda minha inspiração vem das obras dos outros. Será então tudo que escrevo uma imitação? Uma farsa tentando a grandiosidade daqueles que experimentaram a vida. Uma amadora cheia de sonhos vagos, e nesses sonhos tive muitas conquistas: paixões, talentos dignos, reconhecimento.

Amaria poder viver por absoluto nesse mundo ideal, sou impotente e não sei jogar conforme as regras do real e do comum, sou inútil para eles, de nada sirvo aqui, mas continuarei. Embora deprimida ainda tenho esse tinido de esperança, meus demônios e fadas ao meu lado, a companhia de milhares de pensamentos, que são agora uma entidade viva e fantasmagórica a aguçar meus sentidos e pavor.

Neste instante sigo uma razão, a qual me privei por tempos, mas vivo em desespero, com medo da minha musa não mais me visitar, do meu único instrumento me largar, sem isso serei mais um objeto obsoleto, e antes dessa fatalidade me fadar, prometo ao meu futuro, como os grandes, o ápice alcançar.

Perdido na cidade

Graphic novel argentina Cidade é uma metáfora pra Internet contemporânea.

Tenho uns quatro ou cinco pesadelos que se revezam ocasionalmente. Num, estou perdido na cidade. Tento decifrar a malha de transporte público pra voltar pra casa, sem sucesso. Por aí se vê como meus sonhos são obsoletos. Ou melhor, vintage, pra usar uma linguagem mais positiva. Não há Google Maps ou celulares no meu inconsciente. De qualquer forma, acaba que dois quadrinistas argentinos tiveram…

View On WordPress

Onde está a felicidade?

Onde está a criança alegre que você era?

Você era tão inteligente, a criança prodígio, "orgulho da familia".

Quando foi que você se tornou isso?

Cansado, exausto, sem perspectiva de vida, e sem um objetivo concreto, em vez de viver só sobrevivendo. As vezes me pego pensando se você esta mesmo no caminho certo.

Você se odeia, a cada segundo, cada minuto, cada dia que passa, se sente mais obsoleto e inútil.

Esta se tornando alguém sem propósito, em que momento aquela criança tão feliz se tornou alguém tão amargurada?

Você tinha tantos amigos, tantos sonhos, e oque houve com eles? Você simplesmente abandonou tudo, desistiu

igual você faz com todas as coisas.

Você era tão esforçado, tinha tanta determinação e força de vontade.

Eu não nos reconheço mais, onde estão os nossos sonhos, nossas metas, íamos fazer tantas coisas.

Nós éramos incríveis, iluminados, tão

radiantes.

Deram-nos tantos votos de fé, tantas expectativas e o que fizemos com tudo isso? Desistimos de tudo e todos.

Eu me perdi a muito tempo, e acho que não tem um jeito de sair dessa areia movediça em que eu me enfiei, estou cansado de culpar os outros e tentar achar um motivo pra eu estar assim, quando no fundo eu já sei que o verdadeiro culpado desde o começo sempre fui eu mesmo...

O quebra-cabeça

Há quem diga que a vida é um grande quebra-cabeça.

Com o tanto de lógica e racionalidade que venho carregando comigo, preciso dizer que até concordo, mas não-literalmente, óbvio.

A vida é a vida, quebra-cabeças são quebra-cabeças.

Mas, afinal de contas, de onde vem essa metáfora?

Porque no quebra-cabeça você já sabe a imagem final.

E na vida?

Talvez, em alguma medida.

E é aí que mora minha concordância.

Não acho que a vida seja um grande quebra-cabeça, mas sim uma sucessão deles.

E nesses recortes menores é mais possível de se imaginar as imagens que serão montadas. É até mais fácil saber as que deseja.

E bom, as peças estão aqui, na nossa frente.

Do lado, em cima e embaixo.

São as pessoas, os caminhos e até a parede da baia onde você trabalha.

E sabe o que é bom? O mesmo que também pode ser ruim: a possibilidade de entender a próxima figura antes mesmo de monta-la, só olhando as peças.

Bom porque te adianta, salva tempo.

Ruim porque pode te contar antes da hora algo que você não quer.

A cor pastel da parede da baia onde você trabalha não está aí no meio?

Sonho ou pesadelo.

A cor do cabelo daquela pessoa que você diz que ama também não está?

Talvez ela tenha pintado e vai fazer surpresa.

Mas mais provável que ela já não caiba mais no seu quebra-cabeça.

Monte-o pra ver e viver.

Viva pra monta-lo e vê-lo, e entender que viver é quebrar a cabeça e a cara.

E o coração.

E que ele pode ficar obsoleto a qualquer momento, mesmo que eternizado como um quadro na parede da tua memória.

05/04/2023

1:30

Vinícius Fregnani

30 de março

Você me persegue nos meus sonhos. Eu nunca tinha sonhado tanto com você como agora, já que não nos falamos mais. Nos meus sonhos você repete as palavras vazias, me dá as costas, me chama de louca. Você me deixa esperando, mas não me abandona. Você me toca, beija minha boca com um sorriso de canto que parece maldoso, e de fato o é. Quero seguir em frente, eu quero mesmo. Mas não consigo me imaginar fazendo tudo de novo, sussurrando segredos pra uma pessoa nova de madrugada, revelando partes de mim redescobertas, criando hábitos em cima de outros obsoletos.

Então talvez não faça nada disso por um tempo. Até eu ter expulsado você por completo daqui de dentro.

yagi: ei sullivan bora tomar uma

sullivan: eu não gosto

yagi: é uma ordem

sullivan: eehh......

sullivan:.........................................

yagi: zzzzzzz

sullivan: posso ir embora?

yagi: não

Sabe quando parece que o dia amanhece mais cinza que o normal? Talvez seja culpa do meu pessimismo insistente, não sei. Mas é que já acordei com aquela dor de cabeça incômoda, não tão forte a ponto de me impedir de ter que levantar e seguir com meu dia, mas o tipinho insistente que não vai embora não importa quanta aspirina você engula como medida de desespero. Além de tudo ainda to gripada. Pensando bem não é tão só pessimismo mas talvez um olhar aberto pra realidade. Acordei com uma vontade insana de te ver x plena quarta-feira e eu queria te dizer isso. Talvez você tenha sonhado comigo pra completar a terceira vez e mexer ainda mais com meu psicológico, e se seu celular obsoleto não tivesse quebrado de vez você me mandava uma mensagem só pra me contar. É muito incerto passar bem devagar pela minha rua de caminho de volta pra casa só pela esperança remota de você passar porque isso já aconteceu umas duas vezes, mas não dá pra ter a liberdade o bastante pra ligar no telefone da sua mãe só pra te contar sobre como eu chorei ontem e eu precisava só de você. Isso é coisa de namorada. Alias da sua namorada. Ela deve ter sua mãe na discagem rápida pra poder te alcançar mesmo quando sua falta de tecnologia impõe barreiras irritantes, e com certeza ela te fala sobre quando ela tem uma vontade infundada de te ver só porque a alternativa é tão melhor do que passar pela semana sem rir de uma das suas piadas. Ela é seu futuro. E eu nem ao menos mereço um tempo verbal.Sou só uma hóspede oscilante que aparece durante a noite nos seus sonhos pra te fazer acordar suando com o coração na boca de tão perturbada que é a ideia de nós dois juntos. Não importa o nível de confiança que existe entre nós, as nossas guerras de comida, nossa parceria iminente. Não é relevante como o nosso riso é bonito quando soa em conjunto ou como compartilhamos um amor infindo pela música. Porque no final, sou uma amiga. Sou personagem secundário do seu principal que já tem par romântico definido. Sou um dos possíveis desvios que existem antes do seu felizes para sempre, que é com ela. Como você mesmo disse, não existe pessoa melhor pra ser sua esposa que ela. E eu sou um desvio improvável que você realmente não devia tomar. Preciso esquecer como é divertido ter sua companhia só pra mim durante as noites de segunda-feira, e usar de todo o poder que eu tenho pra me forçar a colocar alguma distância significativa entre a gente. Preciso precisar só de mim porque precisar de você é o oposto do que é certo e saudável. E pela primeira vez na vida, acho que não quero estar errada nem acabar sozinha segurando toda uma intensidade melancólica dentro do peito enquanto transbordo felicidade forçada no dia mais feliz da sua vida. Quero ser sincera quando dizer que o único sentimento que me paira no dia em que você junta as escovas de dentes com o amor da sua vida é felicidade. Por Deus, como eu quero.

Os Sebos

Uma das coisas mais legais da cultura humana são os sebos de livros.

Entro neles como se fossem santuários e poderia passar horas folheando algumas das preciosidades que se pode garimpar.

Em alguns livros podemos encontrar dedicatórias tocantes de pessoas anônimas, e outras assinadas por amigos ilustres.

Manusear as páginas desses livros, que foram tocadas por mãos leitoras de pessoas ávidas por viver os sonhos, as fantasias, a vida de escritores e escritoras, é sempre muito estimulante.

Imagine o prazer de sentar nas poltronas de um deles, e folhear os exemplares escutando discos de vinil tocados naqueles aparelhos considerados obsoletos, percebendo o chiado da imperfeição das coisas que valem a pena pela energia e pelas lembranças que carregam.

É como se entrasse em um túnel do tempo e fechando os olhos sentisse a vida voltando aos seus melhores momentos.

A última empresa.

Desde jovem Carlos é um neoliberal. Na faculdade, discursava sobre a iniciativa privada e falava muito sobre o sucateamento e ineficiência do poder público. Carlos torcia pela privatização dos correios. Começou desde cedo na construção civil. Carlos se formou em engenharia. Foi estagiário em obra, trabalhou com planejamento e no decorrer da carreira fez de tudo um pouco. Periodicamente mudava de empresa… Afinal de contas, todos temos “prazo de validade” no mundo corporativo. Trabalhou como analista durante anos na empresa X. Se candidatou para o cargo de supervisor na empresa Y e foi contratado. No período de 5 anos em que esteve na empresa, ascendeu à coordenador. Foram anos pulando de um galho para o outro, entre coordenação e gerência. Para Carlos, a iniciativa privada funcionava e era tudo! Adorava dar ideias para melhorar a produção! “Performar” era o seu bordão! Tinha pós em Gerenciamento de processos, MBA em gestão de pessoas e uma caralhada de cursos de aprimoramento. O novo sonho de Carlos era ser diretor. Foi demitido de sua última empresa aos 57 anos e não conseguiu voltar ao mercado. Vendeu seu “Jeep”, comprou um “kwid” e começou a trabalhar de Uber, pois seus investimentos não foram o suficiente para manter seu padrão de vida. Não fazia parte de seus planos ser demitido tão próximo de sua aposentadoria… Carlos continua discursando sobre o neoliberalismo e defendendo com unhas e dentes o “patrão”. Ontem, levaram o carro de Carlos em uma de suas corridas habituais, nas 8 horas diárias de corrida de Uber. Carlos não sabe mais o que fazer, pois não consegue comprovar renda para tirar outro carro. Carlos chora no banho, para que sua mulher não saiba o quão preocupado ele está. Carlos ainda lembra da última empresa. Lembra do café na copa e das conversas homofóbicas com seus “amigos”. Carlos cria coragem para pedir ajuda a sua irmã, concursada, pra tirar um carro usado na loja de um “amigo” na “Zé Bastos”. Ele apela pela memória dos pais já falecidos e pede que a irmã não comente com o marido. Carlos diz que não se arrepende de nada. Carlos diz que a vida é assim mesmo e que uma hora todo mundo fica obsoleto. Carlos diz isso, porém ele sabe, que no fundo queria ser tratado como ser humano, se aposentar eventualmente, em vez de inchar em uma gaveta, como seu antigo iPhone 4. Carlos sente dores estranhas na barriga, porém cancelou seu plano de saúde e não sabe o que fazer. Carlos sente falta do Carlos que um dia ele foi. Sente falta do café amargo que servia como mote para uma conversa curta enquanto comia sua torrada.

Júlio Lucena.

à titulo de experiência

‘’Para desorganizar o corpo é preciso aniquilar o juízo e substituí-lo por um fluxo de consciência’’ Artaud

Adeptos de ofícios obsoletos e inconcebíveis balbuciam em etrusco, viciados em drogas ainda não sintetizadas, traficantes do mercado negro na Terceira Guerra Mundial, praticantes de sensibilização telepática, osteopatas do espírito, investigadores de infrações denunciadas por suaves jogadores de xadrez paranóides, servidores de multas fragmentárias escritas em hebefrênica taquigrafia que acusa indescritíveis mutilações do espírito, funcionários de Estados policiais ainda não constituídos, corretores de sonhos estranhos e nostalgias, testadas nas células sensibilizadas da doença da droga e trocadas pela matéria-prima da vontade, bebedores do Fluido Pesado lacrado no translúcido âmbar dos sonhos. — William Burroughs (Almoço Nu) O que é todo o corpo senão o desejo materializado? (…) Todos os homens são servis à grande inconsciência de seu propósito no desejo. O “eu” pensa, o si-mesmo faz. Não há salvação do desejo, não há dia ou noite em que ele cesse sua extensa procriação de causa e efeito, penetrando todas as coisas inexplicavelmente. — Austin Osman Spare (O Foco da Vida)

"A virtualidade aproxima-se da felicidade somente por eliminar subrepticiamente a referência às coisas. Dá tudo, mas sutilmente. Ao mesmo tempo, tudo esconde. O sujeito realiza-se perfeitamente aí, mas quando está perfeitamente realizado, torna-se, de modo automático, objeto; instala-se o pânico" (Baudrillard, 1997, p. 149)

‘‘Todos os homens da história, no fundo, sou eu” Nietzsche adpt. de Deleuze e Guatari 

Detino puto e amargo. Todos se vão. (Avalovara)

“Quero dizer que descobri a maneira de acabar com esse macaco de uma vez por todas e já que ninguém acredita mais em Deus, todos acreditam cada vez mais no homem. Assim, agora é preciso emascular o homem.” (ARTAUD, 1974: 103)

Ao deslizar dedos sobre a pele quente No toque consciente da canícula Penso nas tuas mãos frias nos dias em que não guardavas debaixo da língua Palavras em brasa Os sonetos eram outros, outrora Não tínhamos medo da rima molhada e Deus estava encaixado nas palavras cruzadas fáceis dos jornais obsoletos à nascença Com que cedíamos inteiros à sedução do silêncio. Hoje, em insónia estival Sou menos impermeável a ti. O cair dos teus olhos inclina-se para os meus sonhos e Os cavalos relincham diante do precipício dos recantos em ruínas Que guardam ferozmente o teu odor O teu pescoço Onde penduro as pérolas das noites em claro Diante de infernos primordiais que não te rosam a tez. Ensimesmada Em ti não durmo ou desperto Em ti não fico ou despeço e Febril aliterada Multiplico em dois o pão dos nossos lábios. Ao deslizar dedos sobre a pele quente Sob peitos alheios Descanso crente fervente De que a cama morna por todo, tal como o jejum ou o fastio Penitencia.

17.08.2022

Doses solitárias de um final de domingo

Sonhos Em um mundo ideal eu tinha uma casa. eu tinha mais do que uma casa, eu tinha um lar. eu tinha uma família funcional, eu tinha um irmão no qual eu conhecia desde pequeno, ele me protegia e brigava com os amiguinhos da escola para me proteger. no mundo ideal, eu não tinha medo, eu não chorava, não me culpava. no mundo ideal, meus pais se amavam e nossa família era unida. meu irmão biológico me conhecia.

  Éramos três Eles eram tudo para mim, quando eu tinha catorze anos eles eram meu mundo. Eu só queria estar perto deles, ser amado. Tudo desmoronou, nós se desfazemos, se afastamos, nossas famílias foram nos destruindo. Éramos crianças e tínhamos sonhos. Depois de anos eu a encontrei, mas não encontrei ele. A gente mudou tanto, ficamos cristalizados no passado, momentos que não voltam nunca mais.

Fotografia rasgada Eu prometo que não vou mais mandar mensagem, vou guardar minha dignidade, vou cuidar de mim. Eu prometo que não vou deixar mais você me machucar, não vou mais vivenciar sonhos que não se realizam, não vou mais lembrar de nós. Eu fico triste, eu quero desistir, eu penso em você o tempo todo e não penso em mim. Eu quero te beijar, eu quero te levar para o bar, eu quero que você passe os dedos sobre minhas cicatrizes e cure todas as dores que há em mim.

  Sou jovem, mas não adolescente Quando eu era mais novo eu tinha medo da maturidade. Tinha medo de ficar obsoleto, tinha medo de ficar sério, tinha medo de responsabilidades.  Não quero apenas só diversão, não quero apenas drogas e fugir da vida, quero construir algo, quero de fato aprender, mas ensinar também.  A maturidade não é velhice, a maturidade é aceitar erros e acertos se estiver tempo de vida o suficiente para isso.

Supernova

Eu fui um cometa que caiu sobre você, eu te tirei da órbita, mudei sua rotação. Explodiu como uma estrela sobre mim, entre luzes das galáxias, entre o calor do fogo, entre o gelo do espaço, você me deu o infinito para entrar no seu coração. Era um dia comum até eu aparecer na sua vida e mudar todo o seu calendário cósmico.

Melancolia Depressão para mim é ir para o mar e não ver a cor azul. É olhar diante da praia e não poder tocar na água. É olhar para as estrelas a noite e sentir medo do desconhecido é a vida parando de fazer sentido, é o sol indo embora e não voltando mais, não há um outro dia, só existe a eterna escuridão. É a tristeza sem fim, é o vazio.