Photo: Gabrielle Souza / Instituto Cervantes RJ.
A CIDADE QUE MORA EM MIM
LA CIUDAD QUE VIVE EN MÍ
Anotações corporais para uma filosofia da espacialidade
Performance coletiva site specific (25min)
Direção de Laura Corcuera
Laura Corcuera + Marta Moura + Muca Velasco + Dani Bargas
Colaboração transfeminista LA PEREREKA
6 dezembro de 2023, entre 19h-20h, Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Rio de Janeiro.
Qual a responsabilidade política, social e estética da arquitetura na perpetuação da desigualdade em uma cidade, tanto historicamente quanto na atualidade?
Existe uma parte do imaginário da cidade do Rio de Janeiro compartilhada pelas mulheres que vivem lá, tanto nativas quanto adotadas? Em caso afirmativo, qual é essa parte?
Se a identidade dessa cidade só é compreensível a partir de sua história colonial, racista, escravagista, machista e patriarcal, e também a partir de suas múltiplas histórias de resistência e criatividade coletivas, que memórias e arquivos corporais podemos canalizar aqui, agora, juntas, quatro artistas que moram no Rio?
Quatro células interconectadas, a partir de suas cargas experienciais e práticas feministas, realizam uma performance espacial no Instituto de Arquitetxs do Brasil no Rio de Janeiro. Durante 25 minutos, o quarteto cria uma partitura de ações que ativa o espaço (e vice-versa) para refletir, a partir do corpo, sobre as geometrias desiguais que constroem a cidade globalizada que habitamos e à qual sobrevivemos (ou não) hoje.
Em sua extensa carreira de pesquisadora e em sintonia com os ensinamentos de Milton Santos, a geógrafa Doreen Massey enfatizou a necessidade de uma profunda reflexão sobre o espaço como um instrumento indispensável de poder e enfatizou seu caráter social para provocar as mudanças necessárias em nosso tempo. A arquiteta Lina BoBardi fez algo semelhante.
Porque o espaço pode ser entendido como um organismo vivo, construído por uma multiplicidade de interrelações globais e locais que sustentam a vida ou a aniquilam. Essa performance é um convite para pensar em entender a cidade a partir do lugar que vive em você.
"A cidade que mora em mim" é uma ação site-specific dirigida pela artista, pesquisadora e jornalista espanhola Laura Corcuera, criada ad hoc junto com Marta Moura, Dani Bargas e Muca Vellasco, artistas feministas residentes no Rio de Janeiro e colaboradoras da Colab La Perereka para a exposição "Arquitetura e feminismos: Sem começo nem fim" do Instituto Cervantes. Essa ação artística tem como objetivo contribuir para a ampliação das formas poéticas de ativismo político e social.
----------------------------------------------------------
Laura Corcuera, artista peformer, escritora e jornalista espanhola. Diretora da Colab La Perereka e da Banda de Performance (Rio de Janeiro), cofundadora do jornal EL SALTO (Espanha), autora da Ruta de la Performance (Pikara Magazine). Sua experiência de mundo e seu corpo são o primeiro arquivo de Corcuera para uma investigação sobre práticas artísticas, tecnopolíticas e comunicativas e sua capacidade coletiva de transformação social. @laucorcuera
Marta Moura, artista visual, performer, ativista da pauta feminista, antirracista, anticapacitista e antilesbotransfóbica. Integra a Operativa Nacional do Levante Feminista Contra o Feminicídio Lesbocídio e Transfeminicído, a Articulação de Mulheres Brasileiras, a Rede de protecionistas Projetemos e as Inclusivass Feminista, e também o movimento de mulheres com deficiência do Rio Grande do Sul. @moura_marta_
Muca Vellasco, multiartista e produtora cultural, mãe solo de 5 filhos, mulher LGBTQIA, dirigiu e produziu o curta "Gente que brilha" (2016) e o documentário do festival Manas Raras. Fundadora e Produtora Executiva do Coletivo Coisa Rara e do Sarau Portas Abertas Teresópolis. Produtora Executiva das Mulheres da Pequena África e de Jonatas Belgrande. @mucathebest
Danielle Bargas, artista performer, atriz, educadora popular, articuladora comunitaria, em breve sanitarista. Colaboradora do Institute for the Developmente of Humans Art – IDHA (NYC – EUA). Componente da Rede Latino Americana de Arte e Saúde Mental. Colaboradora do Bloco carnavalesco Doido é Tu! de Fortaleza (CE) Colaboradora do coletivo carnavalesco Tá Pirando, Pirado, Pirou! (RJ). @pedagogiadoscuidados
CRÓNICA A OCHO MANOS
MUCA VELLASCO
O espaço de IAB estava receptivo e senti que a potência já estava conosco ao me demarcar em minha posição ao início da performance. Percorri, em diagonal, rumo ao ponto de enraizamento onde sentei no círculo preto e logo as cabeças e as energias de minhas companheiras se acopladas a minha e então me concentrei profundamente ao centro da terra de onde senti a limpeza energética e a sua renovação. De olhos fechados, sentia um sol brilhando sobre nós, proporcionando uma confiança que expandia meu plexo solar. Aquietei e pedi permissão ao espaço e ao meu corpo para que ele comandante dali em diante, quando senti de me movimentar os braços na vertical segurando minha torre de madeira. Notei que as xonoanheiras estavam em movimentos sincronicos. Senti a criança interior pedir para explorar com toda a planta dos meus pés o espaço e assim fui explorando enquanto alguns corpos humanos e não humanos interagiam comigo. Em determinado momento, uma energia potente e agressiva pedia licença para ser liberada e precisei chutar e derrubar todos os monumentos que eu olhava. Uma moça se conectou com isso e adentrou à performance e jogou uma das placas de madeira no chao .Entreguei uma cidade a um espectador que olhou-me e interagiu timidamente embora o chamei para vir ao centro, ele preferiu ficar no lugar.
O fio de meu vestido se soltou e eu medianamente percebi que ele também estava performando , quando instintivamente o trouxe ,esticado, à altura dos olhos e assim, brinquei de buscar/esconder outros olhares. Algumas pessoas participaram dessa interação e entraram na performance. Uma criança participou da performance tanto quanto nós. Ao perceber que nosso tempo acabava movimentos de todas paras as janelas e então lá estávamos olhando a cidade pelas janelas e olhando as pessoas que nos olhavam.
DANI BARGAS
Blocos de madeira e tubo de ferro dispostos no centro do espaço em linhas retas, com perspectivas diferentes.
1 a 1 as corpas de 4 mulheres, que estão nos extremos de um espaço quadrado, se deitam no chão, entre os objetos.
Cabeças conectadas.
Respirando. Juntas visualizam um fio que sai da buceta, e cresce e engorda quando se conecta ao centro da terra. Se nutrindo e se limpando ao mesmo tempo. Enraizamento.
Cada uma ao seu tempo, começam a nascer movimentos nas corpas dessas mulheres.
As cabeças se desconectam fisicamente para se conectarem também ás suas corpas, aos objetos, ao espaço e às pessoas. Ativar.
Experimentam fluxos e relações. Play.
Brincam. Divertem-se.
Conexão.
Mover dentro e fora.
Relação.
Espaço.
Corpo.
25 minutos.
As mulheres seguem para grandes janelas que habitam o espaço da cidade que essas mulheres habitam. Sobem pelas janelas, observam, não pulam. Observam o público que as observa.
Relação.
O espaço está imenso.
MARTA MOURA
1. Eu tenho o entendimento que não temos um corpo e sim, que "somos nosso corpo". Somos tudo que pensamos, comemos, sentimos, falamos, ouvimos..."o corpo é o território do sujeito", mas
hoje, enquanto acontecia a palestra de abertura, fiquei a maior parte do tempo no espaço onde iríamos performar "a cidade que mora em mim"...e comecei um exercício de visualizar "meu corpo cidade". Foi
divertido e muito interessante imaginar que se eu estivesse na água onde seria "meu litoral", gostei de imaginar as "minhas montanhas", como se meu corpo se transformasse em um mapa, imaginei pessoas,
famílias, histórias que me habitavam...estabeleci uma conexão com "nossa cidade", criada com os objetos, o espaço, meu corpo-pele-cidade e minha cidade interna, de mulher carioca.
2. Iniciamos a performance, e no enraizamento, percebi que estava com "frio na barriga" e meu objeto ajudou a perceber e sentir minha respiração, no aqui e agora. Entrei no fluxo do CsO - Corpo Sem
Órgãos - de Deleuze, onde estava inteira e plena, durante o tempo todo de performance, a biologia e a ideia de funcionalidade, não existia mais. Era eu, repleta de vida e desejo, por isso, tenho dificuldade de descrever cenas e/ou desmembrar em momentos. Me diverti, olhei minhas companheiras, brinquei com nossos objetos, experimentei livremente...fui bem egoísta: não estabeleci relação com o público, mas fiquei bem assim. Amanhã tento escrever mais a respeito. Estou feliz e grata por esse encontro e pela oportunidade desse momento, que ainda reverbera em mim.
LAURA CORCUERA
La nave del Instituto de Arquitectos de Brasil (IAB) en Río de Janeiro se calienta cuando colocamos las maderas y el hierro en el suelo de cemento pulido. El público se queda acuerpado en los laterales de la nave y nosotras empezamos nuestra acción con la geometría del cuadrado. Cada una desde una esquina de un cuadrado imaginario caminamos hasta el centro del espacio, donde se encuentra la composición maderas y hierro que hemos creado previamente. Una estrella de cuerpos tumbados boca arriba sostienen otros cuerpos objeto en el vientre. Madera, hierro y carne respiran a la vez. En el aquí y en el ahora del 6 de diciembre de 2023, en aquella bochornosa tarde carioca, despierta una energía colectiva que va a homenajear, señalar y denunciar la ciudad al mismo tiempo. Empiezo con micro-movimientos desde el pecho. Tengo un hierro sobre mi cuerpo. Es un hierro que he roto antes de la performance, un hierro que encontré en la calle, paseé por el Hospital psiquiátrico Nise da Silveira y llevé al IAB junto a las maderas recicladas de la calle Frei Caneca donde se ubica la colab La Perereka. El hierro nos guía. La madera nos guía. Movimientos espasmódicos, ojos semiabiertos, el cuerpo saca los miedos y las violencias que la ciudad me inocula y contra las que lucho a diario. El objeto se hace sujeto y mi cuerpo simplemente se deja llevar. Salto. Corro. Siento cerca a mis compañeras, pero me siento sola. Entonces una mano llega a mi espalda. Lentitud. Creamos imágenes en quietud. Son imágenes que hacemos las cuatro, con la participación de algunas personas que entran en el juego de sostener una madera, un hierro, una posición. Las trabajadoras y trabajadores del catering que habrá después de nuestra performance son invitadas a sostener una madera. Un trabajador se queda hasta el final de la acción sosteniendo una madera como una bandeja. Mantener una posición es a veces doloroso y a veces cómico. Un niño de dos años nos imita. Reúne maderas y las deja caer en el suelo. Pide aplausos tras el derrumbamiento. Y vuelve a empezar. Como nosotras. Maderas edificios cuerpos de la ciudad caen y vuelven a erigirse con otra dirección, con otra intención. Las maderas siguen sus propias trayectorias. El hierro también. De la rectitud a la diagonal. De la dureza a la maleabilidad. Vamos vestidas de blanco, en medio del gris y del marrón. Alineamos las maderas y el hierro, creando otra escultura que desplaza la imagen inicial de las maderas. Maderas edificios dominó, como el ineuietante diseño que hizo Carmen Portinho en 1936 para la ciudad de Brasilia. Nosotras recorremos ahora los huecos de esas maderas, los entretiempos de una ciudad sentida y palpitada en sus bellezas y horrores. De la complicidad con otras mujeres nacen las lágrimas de un recuerdo. Algo que pasó, que pasa, que pasará. No somos cuatro, somos 4.000 millones. Me acerco con una madera en la boca hasta el público. Una mujer agarra con su boca el otro lado de la madera. Otra mujer se resiste a sostener la madera con las manos, pero transformo su timidez en juego, complicidad y negociación. Las amplias ventanas del IAB, abiertas para la acción, se convierten en nuestra línea de fuga, un horizonte compartido que reclama el derecho a la ciudad. Al terminar la performance, cada una de nosotras en una ventana, otra mujer vestida de rojo se cuela en la foto. Blanco y rojo se unen en el incomprensible significado de las casualidades. Muca, Dani, Marta y yo hemos creado un vínculo nuevo y poderoso basado en algo que puede llamarse “afecto creativo”. Una herramienta de resistencia al capitalismo que nos ayuda a levantarnos cada mañana y seguir creando juntas otra idea de ciudad. Tras la acción recibimos felicitaciones, pero nadie habla lo que ha sentido al ver nuestras partituras corporales durante 25 minutos y 16 segundos. Quizás aquí, en esta ciudad global, lo más importante sea aquello que no se dice.
0 notes
Maria Lamas (1893-1983)
“Olhei à minha volta e comecei a reparar melhor nas outras mulheres: umas resignadas e heróicas na sua coragem e silêncio.”
Maria da Conceição Vassalo e Silva da Cunha Lamas foi uma escritora, tradutora, jornalista e ativista política feminista portuguesa.
Publicou poemas, crónicas, novelas, folhetins, textos para crianças, adolescentes e mulheres, sendo estes últimos de cariz interventivo e político sobre a reivindicação dos direitos das mulheres.
Foi uma das primeiras mulheres jornalistas profissionais, iniciando-se na Agência Americana de Notícias pela mão da jornalista Virgínia Quaresma, com salário, horário e hierarquia. Dirigiu a Revista Modas e Bordados (1928-1947), onde realiza a monumental reportagem sobre As Mulheres do Meu País (1950) publicada em fascículos distribuídos entre 1948 e 1950.
Em 1945, tornou-se presidente da Direção do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, até ter sido proibida pelo governo, cessando a sua existência. Foi presa pela PIDE três vezes, entre 1949 e 1962, acabando por se exilar em Paris até 1969.
Uma mulher que fez história e que deixa uma obra repleta de histórias vê agora, 75 anos após a primeira edição e décadas em que se vira esgotada, “As Mulheres do Meu País” conta com uma nova re-edição em 15 fascículos mensais, fac-similados, pela editora A Bela e o Monstro e o Público.
1 note
·
View note
Consejos para la mujer fuerte por Gioconda Belli
Si eres una mujer fuerte
protégete de las alimañas que querrán
almorzar tu corazón.
Ellas usan todos los disfraces de los carnavales de la tierra:
se visten como culpas, como oportunidades, como
precios que hay que pagar.
Te hurgan el alma; meten el barreno de sus miradas o sus
llantos
hasta lo más profundo del magma de tu esencia
no para alumbrarse con tu fuego
sino para apagar la pasión
la erudición de tus fantasías.
Si eres una mujer fuerte
tienes que saber que el aire que te nutre
acarrea también parásitos, moscardones,
menudos insectos que buscarán alojarse en tu sangre
y nutrirse de cuanto es sólido y grande en ti.
No pierdas la compasión, pero témele a cuanto conduzca
a negarte la palabra, a esconder quién eres,
lo que te obligue a ablandarte
y te prometa un reino terrestre a cambio
de la sonrisa complaciente.
Si eres una mujer fuerte
prepárate para la batalla:
aprende a estar sola
a dormir en la más absoluta oscuridad sin miedo
a que nadie te tire sogas cuando ruja la tormenta
a nadar a contracorriente.
Entrénate en los oficios de la reflexión y el intelecto.
Lee, hazte el amor a ti misma, construye tu castillo
rodéalo de fosos profundos
pero hazle anchas puertas y ventanas.
Es menester que cultives enormes amistades
que quienes te rodean y quieran sepan lo que eres
que te hagas un círculo de hogueras y enciendas en el centro de tu habitación
una estufa siempre ardiente donde se mantenga el hervor
de tus sueños.
Si eres una mujer fuerte
protégete con palabras y árboles
e invoca la memoria de mujeres antiguas.
Has de saber que eres un campo magnético
hacia el que viajarán aullando los clavos herrumbrados
y el óxido mortal de todos los naufragios.
Ampara, pero ampárate primero.
Guarda las distancias.
Constrúyete. Cuídate.
Atesora tu poder.
Defiéndelo.
Hazlo por ti.
Te lo pido en nombre de todas nosotras.
0 notes