Tumgik
#Tradição Apostólica.
studentgarden · 10 months
Text
"Mas como a Igreja Católica pode reivindicar autoridade para interpretar corretamente a Bíblia? E quanto a outras denominações cristãs que têm interpretações diferentes sobre certos temas?"
GPT: A questão da autoridade para interpretar corretamente a Bíblia é um ponto crucial de discussão entre diferentes tradições cristãs. A Igreja Católica baseia sua autoridade em uma combinação da Sagrada Escritura (a Bíblia), a tradição apostólica e o ensino magisterial.
Em primeiro lugar, a Igreja Católica acredita que a Bíblia é a Palavra de Deus inspirada e é parte fundamental da revelação divina. No entanto, ela também reconhece que a interpretação da Bíblia pode ser complexa e que diferentes pessoas podem chegar a conclusões divergentes sobre alguns temas.
Para evitar interpretações errôneas e divisões, a Igreja Católica afirma que Jesus Cristo confiou à sua Igreja a autoridade de ensinar e interpretar corretamente a Palavra de Deus. Isso se baseia em passagens bíblicas como Mateus 16:18-19, onde Jesus diz a Pedro: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja [...] Eu te darei as chaves do Reino dos Céus". Acredita-se que essa passagem confere uma autoridade especial aos sucessores de Pedro, ou seja, os Papas, que são considerados os líderes da Igreja Católica.
Além disso, a tradição apostólica é vista como uma fonte importante de ensinamentos e práticas que foram transmitidos desde os tempos dos apóstolos até o presente. Essa tradição ajuda a compreender a Bíblia de maneira consistente com o que os primeiros cristãos entenderam.
Quanto às outras denominações cristãs com interpretações diferentes, é verdade que existem várias interpretações das Escrituras dentro do cristianismo. Isso ocorre em parte devido à liberdade individual de interpretação, mas também à falta de uma autoridade centralizada em algumas tradições. A Igreja Católica considera importante o diálogo ecumênico com outras denominações para buscar a unidade em pontos fundamentais da fé cristã e respeitar as diferenças secundárias.
É essencial lembrar que a busca pela verdade é uma jornada contínua e que, para os católicos, a autoridade da Igreja na interpretação das Escrituras é um fundamento importante para a unidade e preservação da fé apostólica.
A importantíssima Constituição Dogmática do Concílio Vaticano II “Dei Verbum” (A Palavra de Deus), que explica como Deus se revelou a nós pela Bíblia e pela Tradição Apostólica (“Bíblia não escrita”), diz o seguinte:
“O ofício de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou transmitida [Tradição] foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo… Fica, portanto, claro que segundo o sapientíssimo plano divino a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja estão de tal maneira entrelaçados e unidos que um perde sua consistência sem os outros e que, juntos, cada qual a seu modo, sob a ação do Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas” (n.10).
0 notes
o-amor-nao-e-amado · 8 months
Text
⚜️ A devoção Mariana ao longo da história da Igreja e o papel de São Luís Maria Grignion de Montfort. Parte 1.
Tumblr media
Sub tuum preasidium confugimus, Sancta Dei Genetrix. Mostras deprecationes né despicias in necessitatibus, sed a periculis cunctid libera nos sempre, Virgo gloriosa et benedicta. Amen.
Das profecias do antigo testamento à saudação Angélica, ou da visita à sua prima Isabel para enfim ser dada como mãe ao discípulo amado junto à Cruz, a devoção a Maria, podemos dizer com segurança e amparados pela tradição, sempre esteve presente na igreja. De fato, somente as três pessoas da Santíssima Trindade são dignas de adoração — aqui chamamos culto de latria; já os Santos que viveram as virtudes teologais e foram elevados a glória dos altares, recebem a veneração ou culto de dulia.
À nossa Senhora, porém, a igreja reserva o culto e a veneração especiais, pois ela participa de modo único do mistério da Redenção. É o culto de hiperdulia, mas condizente com a grandeza da Virgem Santíssima, superior a todos os santos, mas criatura de Deus — muito menos que um átomo diante do Deus eterno. Pretendemos neste artigo, ainda que ele muito breve, percorrer a belíssima história de Piedade do povo cristão ao longo da história da igreja dirigida a Virgem Maria, mãe de Deus.
As veneráveis catacumbas dos mártires revelam que, desde a era apostólica, já estava presente na igreja o culto à Nossa Senhora. As pinturas mais antigas que retratam a Virgem Maria datam do século II, podendo ser encontradas nas catacumbas de Santa Priscila. Na pintura mais conhecida a Mãe de Jesus é representada com o menino no colo ao lado de um profeta, tradicionalmente identificado como sendo Isaías. Do século seguinte, por exemplo, são pinturas de Maria com os santos apóstolos Pedro e Paulo, que estão nas catacumbas de São Pedro e São Marcelino nos indicando que ela já era venerada como Mãe da Igreja.
Entre os séculos III e IV foi escrita (provavelmente) a primeira oração completa a Virgem Maria, colocada no começo deste artigo, que a reconhece como protetora dos cristãos e dirige a ela o seu título mais excelso: Mãe de Deus. A sua antiguidade foi confirmada na primeira metade do século passado, pois em um fragmento de papiro foi encontrada a oração, em língua grega.
A era patrística exaltou as virtudes de Maria e a proclamou bem-aventurada. São Gregório Magno (séc. vI) tem escritos, cartas e homilias reconhecendo-a como Mãe de Deus, superior aos anjos e perpetuamente virgem. O grande Padre e doutor da Igreja do Ocidente, Santo Agostinho, dedicou diversos sermões à Virgem. Nos seus comentários à Sagrada Escritura, defende a predestinação de Maria, uma vez que foi escolhida antes do seu nascimento para ser mãe do verbo feito carne. São duas as principais prerrogativas de Nossa Senhora: ser virgem e mãe.
No oriente, as meditações não se concentraram na maternidade divina, pois o enfoque naquelas escolas era a humanidade de Cristo. Assim, São Crisótomo expõe que Cristo teve um corpo não somente aparente como defendiam os donatistas, mas real, pois foi concebido e nascido de Maria. Ele vê as palavras do profeta Isaías, no capítulo 7, como uma verdadeira profecia da concepção e o nascimento de Cristo e o paraíso terrestre — "terra virgem" — como uma prefiguração de Nossa Senhora. E Santo Atanásio de Alexandria, sublime defensor da divindade de Cristo e outro dos grandes Padres Orientais, explica em alguns de seus escritos que a obra da restauração humana foi realizada por Cristo, o Logos eterno, o qual tomou um corpo recebido da Virgem Maria.
São muitos mais numerosos os exemplos de textos dos Santos Padres que se referem a Nossa Senhora do que estes que citamos, o que demonstra já na época em que eles viviam, ou seja, até o século VII, que a devoção e o culto a Maria Santíssima se se encontravam muito bem estabelecidos em toda a igreja.
Toda essa tradição de culto a Nossa Senhora como Mãe de Jesus e, consequentemente, Mãe de Deus (Mater Dei), foi de algum modo sintetizada no Concílio de Éfeso (431) com a proclamação do primeiro dogma mariano (em grego): Theotókos. Assim na primeira sessão daquele sagrado com Círio, convocada por são Cirilo de Jerusalém após longa espera, o santo e os bispos católicos declararam errônea a doutrina do herege na Nestório. O patriarca da Constantinopla foi deposto e, conforme a tradição conta, o povo celebrou com muito júbilo a declaração e acorreu à Igreja da Santa Maria em Éfeso, aquela mando os padres conciliares por toda a cidade ao final da celebração.
Atestando toda a história transferida até então, em 533 no segundo concílio de Constantinopla Maria foi aclamada oficialmente com o título de "sempre Virgem". Desta forma a Igreja quer afirmar que Maria foi virgem antes, durante e depois do nascimento de Cristo, de acordo com o esclarecimento do Papa Martinho I.
Tumblr media
📜 O Apóstolo de Maria, Pág. 05 a 12. Guia - Ano 2 - N⁰ 21 | Agosto de 2023. Minha Biblioteca Católica.
6 notes · View notes
byamarthinsrod · 2 years
Text
Tumblr media
Das contribuições mais latentes que Lutero deixa para todo protestantismo, revivida como uma herança pela tradição reformada, a rica expressão “Sola Fide” é a plena declaração do retorno a doutrina Biblica da justificação e salvação de pecadores somente em Cristo Jesus, o Ressurreto.
“Sola Fide” é o termo para “por fé somente” em latim, exposta por Lutero no combate a doutrina do comercio de indulgencia e penitencias para perdão de pecados e garantia de salvação dos fiéis da igreja apostólica romana.
Lutero, contudo, não foi o primeiro a expor que somente a fé basta para salvar. Vemos o apostolo Paulo já defendendo a doutrina da justificação somente pela fé em sua carta aos Romanos. O Espírito Santo abriu os olhos de Lutero com o próprio texto de Paulo aos Romanos 1.16-17.
Somente por fé (Sola Fide) podemos ter a plena convicção que fomos alcançados pela obra de Cristo na cruz. Isto significa que somos feitos justos perante Deus pelo sacrifício de Cristo e esta justiça nos é imputada somente pela fé em Jesus como nosso Salvador.
Paulo é enfático ao dizer que a justificação só pode ser recebida pelo cristão, não por merecimento (Gl 2.16, Ef 2.8-9), mas sendo uma dádiva de Deus para toda a vida cristã. E isso implica em entendermos que a fé é primária para a salvação, mas também na vida cristã diária. E talvez, esta seja nossa maior dificuldade.
Assumimos, por vezes, em nossa rotina, uma maneira meritocrata de se viver com Deus. Gostamos de acreditar que Deus nos abençoa porque somos “bons filhos”. Ou preferimos julgar as dificuldades como uma injustiça de Deus, porque afinal “sou dizimista fiel”. Dizemos até que “fomos nós que escolhemos crer em Deus”.
“Sola fide” vem exortar como nós, cristãos, vivemos a vida perante Deus (coram Deo): “O justo viverá por fé” (Hc 2.4). Esta fé não é produzida por nós. Ninguém pode se gloriar por ser salvo, pois todos pecaram e decidiram, em Adão, desobedecer a Deus (Ef. 2.8-9; Rm 3.23).
É Deus quem promove a fé no coração dos seus para que creiam na justiça de Jesus. A fé é resultado da ação de Deus para conosco. Ele nos amou antes de nós sequer existirmos.
Portanto, essa fé é viva nos verdadeiros filhos de Deus, pois somente Deus pode os manter. Logo, as boas obras não são a causa de sermos salvos. Nem nosso amor para com Deus é fruto nosso. Somente pela fé que vivemos as práticas da vida de um regenerado pela Graça de Deus.
Neste mês da Reforma Protestante, Sola Fide nos lembra quem é o verdadeiro autor da fé. Sola Fide nos lembra quem é o verdadeiro produtor das boas obras em nós. Somente pela fé podemos viver a vida cristã para o grande propósito do ser humano:
'Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus. ' - Romanos 5:1-2
Texto por: Álvaro César Rodrigues Foto: João Calvino, reformador francês
7 notes · View notes
Text
💥OMISSÃO E RECEIO DOS PADRES!!!!
https://youtu.be/IlalWGCsYW0
“A exigência impetrada no âmbito sacerdotal equivale a um Juramento Eterno, portanto inviolável. Ignorais tais Mandamentos e Regras sacerdotais? Pois não penseis em equivocar-vos nas numerosas imposições que o cargo vos demanda!! O peso de uma Ordem Sagrada não significa apenas uma renúncia, mas principalmente uma Promessa diante do Altíssimo, o que não há precedente na face da Terra!!!
Com Deus não se brinca; com Deus não se omite, não se justifica, muito menos se esconde. O que poderia haver de mais sério que uma Ordenação Sacerdotal, considerando-se ser um ato voluntário e livre, uma escolha pessoal e intransferível? Não existe coação, imposição ou cobrança superior no que se refere à subordinação.
Existe sim, a trilha demarcada como Norma de conduta. Existem Regras básicas, Regulamentos e Disciplinas; mas não há a imposição, nem obrigatoriedade. Portanto, a decisão tomada deve ser resultado de reflexão profunda e de um severo autoconhecimento e íntima proximidade no conhecimento das Coisas Divinas. Correspondidas tais exigências, a decisão de vos doar como instrumento Celestial à Comunidade, passa a ser severíssima e de tremenda responsabilidade, não só aos comandados, como principalmente a Deus que vos chamou e escolheu!..”
“Seria oportuno falar sobre o que pensais ser Meus Sacerdotes isentos da EXTRAORDINÁRIA FORÇA DO ESPÍRITO SANTO!!... A resposta que pode inquietar, não dá margem de erro!!... Todos os que não foram dóceis à Ação do SANTO ESPÍRITO, que de forma agressiva sacudiu toda a IGREJA, fazem parte dos discípulos ‘descartáveis’ no momento que a renovação e o ressurgimento da Igreja tornou-se imperativo!!...
Sem o Espírito Santo de forma ostensiva e assumida diante dos desafios da comunicação global, acabará sendo estrangulada qualquer tentativa de reavivamento da Igreja!!..
Eis o que acontece em tantos e tantos locais que outrora fervilhava a Tradição Católica!! Somente a Tradição já não basta!!... A ‘fragilidade’ com que a maioria dos Sacerdotes com mais de cinquenta anos transmite sua vivência pessoal, fere frontalmente os Desígnios de Deus Pai que aguarda o ressurgimento da Unidade sólida que arrastava pelo testemunho e pelas Obras!!
Se o fogo não é capaz de incendiar, eliminai-o; se o sal não salga mais, destruí-o; se a vibração na Palavra não mais contagia, substitui-a!... É necessário por fogo no Mundo, aglutinar ideais nobres, pensamentos arrojados, firmeza e determinação em não se abater facilmente!!.. Assombrosa coragem de dar passos inéditos ao encontro do próximo!!...
Se houvesse isenção de ‘vaidade’ muitas Comunidades poderiam se dar as mãos para elaborar programas em grande escala, atendendo às necessidades prementes de cada Movimento individualmente!!... Bloco coeso em torno de um único Objetivo Centralizador:
ANUNCIAR O REINO DE DEUS AOS MAIS JOVENS de forma inovadora e atual. A Sabedoria da Igreja Una Católica e Apostólica deve ressurgir GLORIOSA com esforço conjunto de lideranças conscientes e engajadas num trabalho de divulgação nos Meios de Comunicação Global!!...
Grandes Movimentos simultâneos cobrindo a Face da Terra!! O tempo se abrevia.... A Palavra deve ser propagada aos quatro Cantos do Universo. Utilizai os jovens e sua força propulsora. Inflamai seus corações e colocai fogo onde impera o descaso e a frieza. Digladiai contra Poderosas Forças insuflados pelo ESPÍRITO que suscita um NOVO PENTECOSTES em larga escala.
Dom Alberto Taveira: Nome de consenso entre grandes Movimentos Pastorais; liderança singular em se tratando de carisma e afeição. Interlocutor sagaz de uma Nova geração que desponta sedenta com a ausência do grande pai, João Paulo II. Dinamismo que contagia e faz acontecer. Personalidade cativante que sabe liderar com delicadeza e amor. É o escolhido de Maria, Minha doce Mãe, em seu mais alto fulgor à espera da grande virada no desenrolar dos fatos.”
Teu Pai Filho Espírito Santo a Marjorie Dawe (2006)
Tumblr media
0 notes
itoblog · 3 months
Video
youtube
GÁLATAS CAPÍTULO 1 Descobrindo a Verdadeira Liberdade Uma Jornada Atravé...
GÁLATAS CAPÍTULO 1 Descobrindo a Verdadeira Liberdade Uma Jornada Através de Gálatas 1 No emocionante início de sua carta aos Gálatas, o apóstolo Paulo estabelece uma fundação poderosa para o entendimento da verdadeira liberdade cristã, confrontando frontalmente distorções do evangelho que ameaçavam a comunidade. Gálatas 1 não é apenas uma introdução formal; é um apelo apaixonado à autenticidade do evangelho que Paulo pregava, recebido diretamente de Cristo Jesus. Paulo começa com uma saudação que rapidamente se transforma em uma expressão de surpresa e desapontamento pelo rápido desvio dos Gálatas de "para outro evangelho, que na verdade não é outro". Ele reafirma sua autoridade apostólica, não derivada de fontes humanas ou instituições, mas diretamente de Jesus Cristo e Deus Pai. Esta afirmação estabelece a importância crítica da revelação divina sobre a tradição humana. Além disso, Paulo compartilha brevemente sobre sua conversão e início de ministério, destacando a transformação radical de sua vida como evidência do poder do evangelho. Seu testemunho pessoal não apenas legitima sua mensagem, mas também serve como um poderoso lembrete da graça transformadora de Deus. Aplicação Prática: Esta passagem nos convida a refletir sobre a pureza do evangelho que abraçamos e a origem da autoridade por trás das mensagens que seguimos. Em uma era de informações e interpretações diversas, o chamado de Paulo para voltarmos à essência do evangelho é tanto relevante quanto revitalizador. Ele nos desafia a avaliar nossa fé e práticas à luz da verdade revelada por Cristo, incentivando-nos a viver em liberdade que vem através da graça, e não de observâncias exteriores. "Descobrindo a Verdadeira Liberdade: Uma Jornada por Gálatas 1" é mais do que um estudo; é um convite para embarcar numa jornada transformadora, reorientando nossas vidas para a liberdade gloriosa encontrada somente em Cristo. Ideal para aqueles que buscam aprofundar sua compreensão do evangelho, fortalecer sua fé, e viver a liberdade autêntica como filhos e filhas de Deus. Este resumo e aplicação prática destacam o essencial de Gálatas 1 para o leitor moderno, promovendo tanto a reflexão quanto a ação, essenciais para o crescimento espiritual e o engajamento com a verdade do evangelho.
0 notes
ablogtopost · 9 months
Text
O SIGNIFICADO DE TRADIÇÃO NO CRISTIANISMO
O texto abaixo é uma tradução da primeira parte da obra "Die Heilige Schrift und die Tradition", do Pe. Josef Rupert Geiselmann.
"1. A Natureza da Paradosis
Tumblr media
Segundo o Novo Testamento, a Paradosis (παράδοσις) é a forma pela qual o Evangelho de Jesus Cristo chega até nós (Judas 3). A Segunda Epístola de Pedro (2,20) assume que o conhecimento da nossa Salvação em Jesus Cristo nos é transmitido pela Paradosis. Tem a sua fonte no testemunho dos Doze, e o conteúdo da sua Paradose é o seu testemunho dos sofrimentos, da Morte e da Ressurreição de Jesus como acontecimentos Salvíficos; em outras palavras, a História Sagrada da Redenção que é concluída pela Ascensão. Em última análise, a Paradosis é baseada no fato de que a História da Redenção está concluída.
Esse caráter fechado não era tão natural quanto alguns podem pensar hoje. Na Igreja Primitiva, as pessoas podem ter acreditado que o Senhor deveria aparecer aos seus sempre que seu conselho e ajuda se mostrassem necessários. Essa teria sido uma interpretação possível da sua afirmação: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,20). Mesmo na Igreja Primitiva poderia ter havido pessoas que, como Simeão, o Novo Teólogo mais tarde, sustentavam a crença de que cada geração precisa do seu próprio líder, e que poderiam ter afirmado ter visto a glória do Senhor tal como Paulo viu (cf. até certo ponto, Swedenborg). Se eles estivessem certos, não poderia haver dúvida de que o paradoxo era a única forma pela qual a mensagem salvadora de Jesus Cristo chega até nós. Mas de acordo com a Fé da Igreja Primitiva esse não era o caso. A existência daquela Igreja foi determinada pelo facto de o dia da ascensão do Senhor marcar o fim do tempo em que Ele entrava e saía entre nós.¹ A partir de então a situação da Igreja é constituída pelo fato de que “que o Céu o receba (Jesus Cristo) até os tempos da restauração universal, da qual falou Deus, outrora, pela boca dos seus santos profetas” (At 3,21). Isto indica claramente que o que aconteceu na terra em Jesus está concluído e pertence ao passado.² Doravante, portanto, estes acontecimentos só podem ser conhecidos como a história em geral é conhecida, por meio do testemunho (Martyria - μαρτυρία), isto é, pela Tradição. O modo da Tradição, no entanto, é determinado pela natureza daquilo que deve ser transmitido, e como os eventos relacionados com o nome de Jesus não são eventos históricos do tipo usual, mas a ação salvadora e redentora de Deus, a Paradosis não pode simplesmente ser do mesmo tipo que a Tradição pela qual os eventos históricos comuns chegam até nós.
A Paradosis é relato e Kerygma (κήρυγμα), não um mero relato sobre o Jesus histórico, como sustentava a teologia liberal do final do século XIX e início do século XX. Tampouco, porém, é apenas um Kerigma em relação a Jesus, como Bultmann diria. É relato e Kerygma, ou melhor, relato em forma de Kerygma, relato do que aconteceu em Jesus Cristo, e Kerygma, anúncio da alegre mensagem de Salvação que se realizou nestes acontecimentos históricos e que se torna presente novamente e novamente no Kerygma, para que sejamos chamados a “ouvir” e a acreditar. Isto confronta-nos com o notável paradoxo de que este Kerigma une em si o então e o agora: o “então” que aconteceu e é passado, e o “agora” em que esse acontecimento se torna presente. Mas este “agora” não significa simplesmente o instante empírico no sentido comum, situado entre o passado e o futuro, o momento do chronos (Χρόνος), mas também o “agora” que Deus realizou, o kairós (καιρός), isto é, o momento de Graça que me foi dada por Deus, que vem sobre mim e me coloca diante de uma decisão a favor ou contra, e assim decide o meu futuro, o eschaton (ἔσχατον) que inclui o futuro: “Agora é o dia da Salvação” (2Cor 6,2). É por isso que a concepção da história de Jesus contida na Paradosis é “uma compreensão da história baseada no Fim e em vista do Fim”.³ O Kerigma em sua forma Apostólica original mostra isso. Os Apóstolos anunciaram Jesus como o Cristo tomando como ponto de partida da sua proclamação a profecia do Antigo Testamento e interpretando-a como cumprida em Jesus Cristo à luz dos acontecimentos da Páscoa e do Pentecostes, isto é, com base no Fim. Mas o Kerygma Apostólico não faz isto simplesmente em relação ao Antigo Testamento. As palavras outrora pronunciadas por Jesus, e os acontecimentos da sua vida, foram também submetidos na Pregação Apostólica a uma interpretação baseada no Fim, ou seja, no acontecimento pascal. Consequentemente, a Paradose não reproduz o “então” que aconteceu com detalhes historiográficos, mas na forma do que está agora presente, isto é, no seu significado histórico. Na verdade, pode-se até dizer que a precisão dos detalhes históricos destruiria a unidade paradoxal de então e de agora, em favor do “então”. Consequentemente, a Paradosis não pode realmente reproduzir o que Jesus disse uma vez “literalmente”, porque se pretende que seja a palavra de Jesus agora, na situação da Igreja tal como Deus a criou. Essa é a razão das duas marcas aparentemente contraditórias da Tradição: por um lado, a sua incontestável fidelidade e apego às palavras de Jesus e, por outro, o surpreendente grau de liberdade relativamente ao seu teor histórico literal.⁴
Se procurarmos a razão desta liberdade surpreendente, é evidente que ela não pode residir no capricho humano. A questão revela, de fato, uma nova característica da Paradosis. A Igreja só pode permitir-se um grau tão surpreendente de liberdade na sua Paradosis das palavras de Jesus, porque essa liberdade é baseada e apoiada pela operação do Espírito Santo dentro do domínio da Igreja e, portanto, na própria Paradosis. E essa liberdade não foi praticada apenas pela Igreja dos Apóstolos, mas continuou na Tradição Eclesiástica do período pós-apostólico, que naturalmente tinha a tarefa de preservar a Paratheke (1Tm 6,20). Essa guarda não poderia consistir “na reprodução e transmissão mecânica de uma Tradição que não foi compreendida e que logo se tornou ininteligível”.⁵ Pelo contrário, quando a Gnose com a sua falsa visão da Paradosis invadiu a Igreja, a nova situação exigiu uma compreensão correta e a Paradosis tornou-se doutrina também. Isso aconteceu mesmo na Paradosis Apostólica, como por exemplo quando Paulo (1Cor 15,3-5) reproduz a Paradosis que recebeu dos Doze e o faz de tal maneira que ao mesmo tempo a interpreta. Isto mostra que o “agora”, a perpetuação das palavras de Jesus na Paradosis da Igreja, exige uma recepção e transmissão inteligentes de uma Tradição Apostólica, por trás da qual está a operação do Espírito Santo que faz de uma tradição uma substância doutrinal viva que deve ser preservada da falsificação e da desintegração e submetido a um processo histórico de compreensão cada vez mais profunda dentro da Igreja. O Kerygma sob forma de Tradição Eclesiástica é sempre uma interpretação das palavras de Jesus em vista do Fim, ou seja, do ponto de vista do aqui e agora, da situação presente. Pois só assim as palavras que Jesus pronunciou uma vez são a sua Palavra aqui e agora.
O Evangelho na forma de Paradosis e mais particularmente na forma de Paradosis Apostólica interpretativa permanece, no entanto, do primeiro ao último o Evangelho anunciado por Jesus ("𝘌𝘷𝘢𝘯𝘨𝘦𝘭𝘪𝘶𝘮 𝘢 𝘑𝘦𝘴𝘶 𝘊𝘩𝘳𝘪𝘴𝘵𝘰 𝘱𝘳𝘰𝘮𝘶𝘭𝘨𝘢𝘵𝘶𝘮", cf. Concílio de Trento, Sessão 4; Denzinger 783), a palavra de Jesus e a palavra de Deus, por assumir a forma de Paradosis, não é afetado o facto de ter sido recebida do Senhor (1Cor 11,23). É claro que deve ser preservado como tal e isso significa não ser complementado ou alterado, mas compreendido, exposto transmitido; deve ser explicado e desdobrado como o mesmo Evangelho Apostólico e legado Apostólico. Mas do início ao fim, visto que o Evangelho, mesmo na forma de Tradição, permanece a Palavra de Deus na boca dos apóstolos e revelada pelo poder do Espírito Santo, ele continua a ser preservado 'com auxílio do Espírito Santo que habita em nós' (2Tm 1,14) e é entendido e exposto precisamente como aquele Evangelho. O Evangelho como Palavra de Deus na boca dos homens não só não perdeu a sua natureza pela sua transmissão à Igreja nas mãos dos Apóstolos e dos seus seguidores; só então alcançou a plena expressão de sua natureza".⁶
A Paradosis, portanto, é a forma pela qual o Evangelho é proclamado no âmbito da Igreja. A Igreja deve a sua existência à acção de Deus em Jesus Cristo para a salvação do mundo. Consequentemente, a Paradosis é a norma da pregação correspondente à natureza da Igreja. O próprio Novo Testamento dá testemunho disso. O Evangelho é a Palavra, transmitida pela Tradição. Isto foi claramente afirmado nos últimos tempos por R. Bultmann, uma testemunha que certamente não pode ser suspeita de parcialidade, quando em oposição a R. Sohm, se viu obrigado a observar:
“Sohm imagina os membros das comunidades cristãs unilateralmente , como individualistas e entusiastas religiosos, e considera a operação do Espírito unilateralmente, como ocorrendo em inspirações momentâneas. Ele considera como normal aquilo que Paulo (1Cor 12 e 14) se opôs como um perigo ou pelo menos restrito. Por mais que a inspiração momentânea possa determinar a fala daqueles dotados de dons carismáticos, a palavra que eles falam não deriva seu conteúdo de uma revelação que lhes foi concedida pessoalmente por iluminação interna. Eles anunciam a 'Palavra da Fé' (Rm 10,8), o Evangelium, no centro do qual está Cristo e o acontecimento salvífico, a 'Linguagem da Cruz' (1Cor 1,18), a 'mensagem da reconciliação' (2Cor 5,20). Por mais variada que seja a forma que possa ocorrer, como mostra o Novo Testamento, é uma palavra definida, transmitida pela tradição, e nunca houve um Evangelium sem Paradosis (1 Cor 15,1ss.)."⁷
E há uma razão para isso.
“Como a comunidade não é fundada pelas pessoas que a compõem como associação ou fraternidade, mas sabe que é fundada pela ação de Deus, ela precisa, como a comunidade judaica do Antigo Testamento, da Tradição em que a história em que se baseia é contida e tornada presente.”⁸
O Kerygma na forma da Paradosis da Igreja nunca é, portanto, dirigido diretamente a um indivíduo como indivíduo, mas à comunidade como um todo e ao indivíduo como membro da comunidade. Com isto estamos de posse dos pressupostos necessários para levantar a questão dos traços constitutivos da Tradição.
2. Tradição Externa na forma de Martyria
Tumblr media
Como a Tradição diz respeito aos acontecimentos da história redentora ligados ao nome de Jesus, a Paradosis na forma equivale à proclamação pela Martyria, isto é, pelo testemunho desses acontecimentos. Esta testemunha dá testemunho da Fé na salvação em Jesus Cristo e é um testemunho que deriva da Fé nele. É portanto possível dizer quem deve prestar este testemunho. Só podem ser todos os membros da comunidade de Fé, isto é, toda a Igreja, senão todos da mesma forma. Dentro desta Martyria existem diferenças de valores e pode-se distinguir uma hierarquia na prestação de testemunho. Mas não é o facto de dar testemunho que pode servir de critério para distinguir, no conjunto da comunidade, alguns que testemunham e outros que simplesmente o recebem. É trégua que a preeminência pertence ao testemunho do ofício Apostólico, do Episcopado e do Primado, isto é, ao testemunho que deriva da Missão e do ofício Apostólico. É claro que isso é um testemunho autêntico e, em certas condições, oficial; em qualquer caso, é um testemunho público. Mas como o que é preeminente atrai inevitavelmente a atenção, há sempre o perigo de lhe atribuir valor absoluto e de ver a Tradição pura e simplesmente no testemunho do Magistério (Dieckmann, A. Deneffe). Esta linha, se levada mais longe, levaria logicamente a identificar a tradição apenas com o testemunho do Primaz Romano, e assim forneceria um fundamento dogmático e uma justificação para as palavras alegadamente proferidas em 19 de Junho de 1870 por Pio IX, “Eu sou a Tradição”.⁹ O testemunho do Magistério em todas as suas formas é eclesiasticamente autêntico e, quando dado por um concílio geral ou por uma decisão doutrinária 𝘌𝘹 𝘊𝘢𝘵𝘩𝘦𝘥𝘳𝘢 do Papa, é o testemunho autorizado da Paradosis Apostólica na Igreja. Mas este próprio Magistério, pela forma como dá o seu testemunho autêntico, opõe-se a qualquer equiparação dos pronunciamentos do Magistério com a Tradição. Afinal, os Padres do Concílio de Trento referiram-se repetidamente à Tradição nos seus pronunciamentos¹⁰ e a proclamação por Pio IX e Pio XII dos dois Dogmas da Imaculada Conceição e da Assunção de Maria à Glória Celeste só ocorreu após o testemunho dos Bispos, Sacerdotes e fiéis a respeito deles foram reunidos e assim a Paradosis da Igreja foi verificada pelo testemunho de toda a Igreja. A introdução da festa da 𝘉𝘦𝘢𝘵𝘢𝘦 𝘔𝘢𝘳𝘪𝘢𝘦 𝘝𝘪𝘳𝘨𝘪𝘯𝘪𝘴 𝘙𝘦𝘨𝘪𝘯𝘢𝘦 baseia-se, na Encíclica de Pio XII de 18 de novembro de 1954, "𝘈𝘥 𝘊𝘢𝘦𝘭𝘪 𝘙𝘦𝘨𝘪𝘯𝘢𝘮", “𝘌𝘹 𝘊𝘩𝘳𝘪𝘴𝘵𝘪𝘢𝘯𝘢𝘦 𝘪𝘨𝘪𝘵𝘶𝘳 𝘷𝘦𝘵𝘶𝘴𝘵𝘢𝘵𝘪𝘴 𝘮𝘰𝘯𝘶𝘮𝘦𝘯𝘵𝘪𝘴, 𝘦𝘹 𝘓𝘪𝘵𝘶𝘳𝘨𝘪𝘤𝘪𝘴 𝘱𝘳𝘦𝘤𝘪𝘣𝘶𝘴, 𝘦𝘹 𝘪𝘯𝘥𝘪𝘵𝘰 𝘊𝘩𝘳𝘪𝘴𝘵𝘪𝘢𝘯𝘰 𝘗𝘰𝘱𝘶𝘭𝘰 𝘙𝘦𝘭𝘪𝘨𝘪𝘰𝘯𝘪𝘴 𝘴𝘦𝘯𝘴𝘶, 𝘦𝘹 𝘰𝘱𝘦𝘳𝘪𝘴 𝘢𝘳𝘵𝘦 𝘤𝘰𝘯𝘧𝘦𝘤𝘵𝘪𝘴”.¹¹ Aqui, portanto, foi feito um apelo ao Povo Cristão dotado de um “sentido” religioso como testemunho da Tradição. Assim, todos os membros da comunidade da Igreja, tanto os que anunciam como os que ouvem, são reconhecidos como testemunhas da Tradição, e como todos são Crentes, isso significa a comunidade dos fiéis em geral.
Mas qual é a natureza deste testemunho Eclesiástico e, consequentemente, da Tradição da Igreja? A transmissão da Paradosis à Igreja pelos Apóstolos ocorreu 𝘚𝘱𝘪𝘳𝘪𝘵𝘶 𝘚𝘢𝘯𝘤𝘵𝘰 𝘥𝘪𝘤𝘵𝘢𝘯𝘵𝘦 (Denzinger 783). Os Apóstolos eram, portanto, órgãos do Espírito Santo; a transmissão foi uma Ação Divina. A entrega à escrita da Paradose Apostólica também ocorreu 𝘚𝘱𝘪𝘳𝘪𝘵𝘶 𝘚𝘢𝘯𝘤𝘵𝘰 𝘪𝘯𝘴𝘱𝘪𝘳𝘢𝘯𝘵𝘦, de modo que o Espírito Santo é, se não o próprio compositor, no entanto, por meio dos escritores sagrados, o autor da Sagrada Escritura. Em contraste com isto, o testemunho da Tradição eclesiástica é uma ação humana. Mas isso não significa que seja uma questão puramente humana, pois por trás desta ação humana está a Missão de Cristo, na qual a missão do Filho pelo Pai é continuada, e por trás dela está também a operação do Espírito Santo no domínio da Igreja. É o 𝘊𝘦𝘳𝘵𝘶𝘮 𝘊𝘩𝘢𝘳𝘪𝘴𝘮𝘢 𝘝𝘦𝘳𝘪𝘵𝘢𝘵𝘪𝘴, quando se trata da Tradição Apostólica.¹² E parece-me que este carisma está longe de se esgotar pela mera “assistência” do Espírito Santo e pela preservação do erro, pela assistencia meramente negativa. Compreende os vários dons do Espírito Santo quando os fiéis estão em questão; pois esses dons não estavam restritos à Igreja Primitiva. O Espírito continua a soprar onde quer. O ofício profético continua na Igreja. Em todo o caso, trata-se de homens dotados do Espírito Santo quando se trata do testemunho dos fiéis à Tradição Apostólica, pois o seu testemunho é dado pela Fé e pelo amor, no Espírito Santo. Este é o seu fundamento quando os fiéis participam ativamente na Tradição Eclesiástica. O seu testemunho é um testemunho relativamente independente, produzido pelo Espírito Santo, da verdade em Cristo confiada à Igreja no depósito Apostólico da Fé. É por isso que Paulino de Nola nos adverte: “𝘋𝘦 𝘰𝘮𝘯𝘪𝘶𝘮 𝘧𝘪𝘥𝘦𝘭𝘪𝘶𝘮 𝘰𝘳𝘦 𝘱𝘦𝘯𝘥𝘦𝘢𝘮𝘶𝘴, 𝘲𝘶𝘪𝘢 𝘪𝘯 𝘰𝘮𝘯𝘦𝘮 𝘧𝘪𝘥𝘦𝘭𝘦𝘮 𝘚𝘱𝘪𝘳𝘪𝘵𝘶𝘴 𝘋𝘦𝘪 𝘴𝘱𝘪𝘳𝘢𝘵” (Epistula 4 - PL 61, 280).
Este testemunho é de um tipo especial e pela natureza do caso é diferente do testemunho daqueles a quem foi confiada a Pregação do Evangelho. Não é um testemunho autêntico e muito menos oficial, nem um testemunho oficial e público. Mas torna-se testemunho público quando os fiéis, como membros da comunidade no culto Divino, fazem a confissão litúrgica de Fé, quando se unem ativamente na realização da liturgia da Igreja. John Michael Sailer viu no solene culto público a Deus “de acordo com a sua dignidade original, como se fosse uma propagação viva da Religião no mundo circundante e uma transmissão viva da Religião à posteridade”.¹³ E se para Sailer o Credo Apostólico era a essência da Tradição Apostólica em palavras, os domingos e festas do Senhor eram “um credo vivo e levam a confissão de Fé de boca em boca para a posteridade”.¹⁴ Nesta participação viva na vida de culto Divino da Igreja, os fiéis, em união com os fiéis de toda a Igreja, dão testemunho público da sua crença, como também o fazem nas diversas formas de serviço Divino que variam de Diocese para Diocese,¹⁵ cada um com seus livros de orações e hinários, e nas festas especiais próprias de cada localidade (padroeiros, festa de dedicação de uma Igreja), em seus hinos e orações especiais e costumes especiais de Advento, Natal, Festa da Paixão e Páscoa, nas várias peregrinações locais que são muitas vezes determinadas pela ancestralidade, como, por exemplo, a peregrinação a Maria Einsiedeln é uma das favoritas dos Alemanni, uma última expressão remanescente do que outrora foi a unidade da sua nação - um testemunho etnológico da Fé.
O testemunho de Fé dado pelos fiéis encontra, porém, uma expressão eminente na vida prática de Fé que anima as suas famílias. A família, claro, é a realidade sociológica que, em grau excepcional, é a guardiã da Tradição. Mas, além disso, existe o testemunho privado do crente individual na sua confissão de Fé na fidelidade de uma vida conforme à Fé, uma Martyria que em certas circunstâncias pode levar ao martírio. O que Maurice Blondel diz com tanta pertinência sobre a natureza da tradição é particularmente verdadeiro no que diz respeito a este testemunho dos fiéis; “Guardar a Palavra de Deus é antes de tudo praticá-la; e o depósito da Tradição que as infidelidades da memória e a estreiteza da inteligência distorceriam inevitavelmente, se nos fosse entregue numa forma inteiramente intelectual, não pode ser transmitido, muito mais, não pode ser usado e desenvolvido; apenas se for confiado à obediência prática do amor. A ação fiel é a Arca da Aliança, onde permanecem as confidências de Deus, o tabernáculo, onde Ele perpetua a sua presença e os seus ensinamentos."¹⁶
Mas o testemunho dado pelos fiéis é apenas a expressão externa de um testemunho interior que corresponde a uma atitude mental especial da sua parte.
3. Tradição Interior. O Sensus Fidelium.
Melchior Cano ("De Locis Theologicis", IV, 1) e com ele os teólogos espanhóis Valencia, Suarez, Ripalda, De Lugo falam do 𝘚𝘦𝘯𝘴𝘶𝘴 𝘍𝘪𝘥𝘦𝘭𝘪𝘶𝘮.¹⁷ Möhler vê a fonte do testemunho dos fiéis em um tato ou talento Cristão especial, um sentimento profundo e seguro que guia e direciona para toda a verdade, um profundo sentido interior.¹⁸ Em sua tradução francesa da 𝘚𝘺𝘮𝘣𝘰𝘭𝘪𝘬 de Möhler, Lachat traduz a palavra “tact” de Möhler por “instinto”.¹⁹ Newman então pegou a palavra “instinto” desta tradução e descreveu essa atitude mental como uma espécie de instinto.²⁰ A Encíclica 𝘈𝘥 𝘊𝘢𝘦𝘭𝘪 𝘙𝘦𝘨𝘪𝘯𝘢𝘮 de Pio XII (18 de novembro de 1954) fala do 𝘐𝘯𝘥𝘪𝘵𝘶𝘴 𝘊𝘩𝘳𝘪𝘴𝘵𝘪𝘢𝘯𝘰 𝘗𝘰𝘱𝘶𝘭𝘰 𝘙𝘦𝘭𝘪𝘨𝘪𝘰𝘯𝘪𝘴 𝘚𝘦𝘯𝘴𝘶𝘴, o “sentido” Religioso especial de que é dotado o Povo Cristão.²¹
Seria igualmente equivocado, porém, considerar este “sexto sentido”, por assim dizer, que os fiéis possuem através da Fé e do amor neles produzidos pelo Espírito, como um sentimento irracional sem objeto, como seria dar-lhe estatuto independente, isolando-o do testemunho duradouro dos sucessores dos Apóstolos na Igreja. O “sentido” permanece sempre ligado ao testemunho do Ministério Apostólico e é parte orgânica do testemunho da Igreja como um todo. Möhler indica esta ligação interior quando descreve este tacto Cristão especial como um sentimento seguro e profundo que conduz a toda a verdade, um sentido interior profundo que é o único adaptado para ouvir e assimilar a Palavra de Deus. Para que este sentido religioso da Fé chegue ao povo Cristão, é necessário não só o princípio vivificante superior do Espírito Santo, a sua Graça e luz da Fé e o seu amor infundido nos corações dos homens, mas também uma adesão confiante ao Ministério Apostólico que perdura na Igreja, assim como a educação na Igreja, a escuta, a aprendizagem e sobretudo a vivência nela e com ela. Desta forma, o sentido da Fé torna-se sentido da Igreja, o 𝘚𝘦𝘯𝘴𝘶𝘴 𝘍𝘪𝘥𝘦𝘭𝘪𝘶𝘮 torna-se 𝘚𝘦𝘯𝘴𝘶𝘴 𝘌𝘤𝘤𝘭𝘦𝘴𝘪𝘢𝘴𝘵𝘪𝘤𝘶𝘴. Por conta da conexão entre Tradição e Escritura, porém, este 𝘚𝘦𝘯𝘴𝘶𝘴 𝘌𝘤𝘤𝘭𝘦𝘴𝘪𝘢𝘴𝘵𝘪𝘤𝘶𝘴 forma, segundo Möhler, um sensus especial em relação à Sagrada Escritura,²² um “𝘪𝘯𝘴𝘵𝘪𝘯𝘵𝘰 𝘴𝘤𝘳𝘪𝘱𝘵𝘶𝘳𝘢𝘪𝘳𝘦”.²³ Somente isto compreende plenamente o que devemos entender por esse tato ou talento Cristão especial. Como, porém, aqueles homens a quem foi confiado o ofício de pregar o Evangelho, são eles próprios crentes, mesmo independentemente do seu Ministério, também eles gozam do mesmo princípio vital superior do Espírito Santo que anima os fiéis, da sua Graça e Luz da Fé e do seu amor infundidos nos seus corações, de onde brota esta atitude espontânea e irrefletida, o 𝘚𝘦𝘯𝘴𝘶𝘴 𝘍𝘪𝘥𝘦𝘭𝘪𝘶𝘮. Desta forma, o 𝘊𝘩𝘳𝘪𝘴𝘵𝘪𝘢𝘯𝘶𝘴 𝘗𝘰𝘱𝘶𝘭𝘶𝘴 abrange todos os membros da Igreja e faz desta uma sociedade de Crentes. Este 𝘚𝘦𝘯𝘴𝘶𝘴 𝘍𝘪𝘥𝘦𝘭𝘪𝘶𝘮, 𝘚𝘦𝘯𝘴𝘶𝘴 𝘌𝘤𝘤𝘭𝘦𝘴𝘪𝘢𝘴𝘵𝘪𝘤𝘶𝘴 ou 𝘐𝘯𝘥𝘪𝘵𝘶𝘴 𝘊𝘩𝘳𝘪𝘴𝘵𝘪𝘢𝘯𝘰 𝘗𝘰𝘱𝘶𝘭𝘰 𝘙𝘦𝘭𝘪𝘨𝘪𝘰𝘯𝘪𝘴 𝘚𝘦𝘯𝘴𝘶𝘴, portanto, pertence igualmente a todos, a todos aqueles que anunciam o Evangelho enquanto crentes, bem como aos seus ouvintes.²⁴ Essa é a razão que justifica Möhler em equiparar este 𝘚𝘦𝘯𝘴𝘶𝘴 𝘌𝘤𝘤𝘭𝘦𝘴𝘪𝘢𝘴𝘵𝘪𝘤𝘶𝘴 à Tradição no sentido subjetivo. Pois a Tradição para ele é “o Sentido especial presente na Igreja e perpetuado através da transmissão da Igreja, que, no entanto, não deve ser pensada sem o seu conteúdo, pois toma forma a partir do seu conteúdo e através do seu conteúdo, para que possa ser chamado de sentido realmente funcionando. Tradição é a palavra que vive perpetuamente no coração dos fiéis (...) Esta consciência da Igreja é Tradição no sentido subjetivo da palavra”.²⁵
Esse sentido é descrito e definido do começo ao fim, entretanto, como algo interior e interior. Mas Tradição significa testemunhar a Paradosis Apostólica. Conseqüentemente, este tato especial do Povo Cristão só pode tornar-se um testemunho da Tradição Apostólica se encontrar expressão externa. Isto acontece em primeiro lugar na reação instintiva e irrefletida contra tudo o que não esteja de acordo com a Paradosis Apostólica. Mas a função do 𝘚𝘦𝘯𝘴𝘶𝘴 𝘍𝘪𝘥𝘦𝘭𝘪𝘶𝘮 como forma de Tradição da Igreja não se esgota nesta reacção negativa. No passado, também deu uma contribuição positiva para o contínuo avanço da compreensão da Paradosis Apostólica e continuará a fazê-lo.²⁶ O 𝘐𝘯𝘥𝘪𝘵𝘶𝘴 𝘊𝘩𝘳𝘪𝘴𝘵𝘪𝘢𝘯𝘰 𝘗𝘰𝘱𝘶𝘭𝘰 𝘙𝘦𝘭𝘪𝘨𝘪𝘰𝘯𝘪𝘴 𝘚𝘦𝘯𝘴𝘶𝘴 contribuiu com a sua parte para a crescente compreensão da Paradosis Apostólica relativa à Mãe do Senhor, desde o Concílio de Éfeso em 431 até 1 de novembro de 1950: os Dogmas de Maria, a Theotokos, imaculadamente concebida, assumida na Glória Celestial; a crença (ainda não elevada a um Dogma formal) em Maria, a Rainha dos Céus, que por uma festa especial foi incorporada à liturgia da Igreja e por isso é solenemente confessada pela 𝘌𝘤𝘤𝘭𝘦𝘴𝘪𝘢 𝘖𝘳𝘢𝘯𝘴 - todos estes foram apoiados e mantidos pelo 𝘚𝘦𝘯𝘴𝘶𝘴 𝘌𝘤𝘤𝘭𝘦𝘴𝘪𝘢𝘴𝘵𝘪𝘤𝘶𝘴 dos fiéis antes que houvesse qualquer questão sobre a proclamação de um Dogma ou a instituição de uma festa na liturgia da Igreja.²⁷ O mesmo se aplica à devoção ao Sagrado Coração e à introdução de uma festa do Sagrado Coração. Este sentido de Fé entre o povo pode até ser contrário a uma autoridade docente na Igreja, como demonstraram os distúrbios arianos, e como ficou claro na oposição do povo aos Sermões do Papa João XXII e do Geral dos Franciscanos, Gerard Eudes, na questão da visão beatífica após a morte imediata no caso de almas perfeitamente purificadas. A oposição enérgica do sentido de Fé do Povo Cristão levantou-se contra a opinião do Papa de que a visão de Deus foi adiada para o Último Dia. Daí a petição da Universidade de Paris para que o Papa possa “confirmar por decisão Apostólica a crença de todo o Povo Cristão confiado à sua orientação, que até agora suscitou o seu devotado respeito”.²⁸ O sentido da Fé é capaz de adivinhar com a lógica de um coração crente aquilo que não pode ser apreendido pela razão de meros raciocinadores ou especialistas.²⁹ Pois é verdade para os fiéis e para a Igreja que “sua memória de Cristo é a memória do coração, não uma memória puramente intelectual."³⁰
4. O Paratheke Apostólico e a Tradição da Igreja.
Através da transmissão da Paradosis Apostólica à Igreja sob a dupla forma do Kerygma vivo e da sua expressão escrita na Escritura (cf. 1Tm 6,20; 2Tm 1,12 e 14; 2Tm 3,15), torna-se o Paratheke, o Legado Apostólico comprometido com a salvaguarda da Igreja. Pelo fato, porém, de que a Escritura e a Tradição estão combinadas na ideia do Paratheke, fica imediatamente claro que as duas estão relacionadas por dependência mútua e a observação de Möhler é confirmada de que “Igreja, Evangelho e Tradição sempre permanecem e caem juntos.”³¹
Se é verdade que “nunca houve um Evangelho sem Paradosis”,³² é igualmente verdade que nunca houve um Kerygma Apostólico sem Escritura. Não houve pregação apostólica isolada das Escrituras e, conseqüentemente, nenhuma Paradosis Apostólica completamente divorciada das Escrituras. Filipe pregou o Evangelho de Jesus tomando como base Isaías 53,7 (At 8,26-38)³³, e segundo Paulo a proclamação dos acontecimentos salvíficos da Morte e Ressurreição de Jesus ocorre “segundo as Escrituras”. (1Cor 15,35). O Kerygma de Filipe e a Paradosis relatada por Paulo, no entanto, podem ser considerados típicos da Pregação Apostólica e da Paradosis em geral. E do facto de tanto a Paradosis como a Escritura serem confiadas como Paratheke à guarda da Igreja,(33) podemos concluir que não se opõem como duas realidades completamente separadas, mas são complementares e mutuamente relacionadas. Isto já fica claro pelo fato de que no Novo Testamento temos a contraparte escrita da Paradosis Apostólica, enquanto a própria Paradose Apostólica é uma pregação baseada nas Escrituras do Antigo Testamento. Primeiro, o que acontece com a Paradosis Apostólica quando ela assume a forma do Paratheke? Em segundo lugar, o que acontece com as Escrituras quando são confiadas à guarda da Igreja? Em terceiro lugar, a Escritura como forma do Paratheke.
a) A Paradosis Apostólica na forma da Tradição da Igreja.
A Escritura é uma forma na qual a Paradosis Apostólica, comunicada à Igreja, se torna o Paratheke. Os “escritos sagrados” aos quais Paulo se refere a Timóteo (2Tm 3,15) são, na verdade, os escritos do Antigo Testamento, mas também podemos aplicá-los de forma análoga aos do Novo Testamento. O Novo Testamento, isto é, as obras incluídas no Cânon, são uma forma em que a Paradosis Apostólica é confiada à Igreja para guarda. Mas o Cânon do Novo Testamento não é a única forma em que a Paradosis Apostólica nos é acessível. Se enunciarmos esta tese, inevitavelmente nos envolveremos numa discussão com O. Cullmann sobre o facto de a Igreja no século II ter reunido os vários “escritos apostólicos” individuais num todo, o Cânon. Qual era o significado disso? Cullmann o considera da seguinte forma:
“Pela introdução do princípio de um Cânon, a Igreja reconheceu que a partir de agora a Tradição (isto é, a Tradição viva) não era critério de verdade. Traçou uma linha sob a Tradição Apostólica e assim declarou que, de agora em diante, toda tradição posterior deve ser testada pela Tradição Apostólica. Em outras palavras, isso significava: 'Aqui está a tradição que funda a Igreja e que se impõe à Igreja'.
Além disso:
“Se o registro por escrito da mensagem Apostólica é um fato fundamental da encarnação, temos o direito e o dever de ver a Tradição Apostólica e os escritos do Novo Testamento juntos, mas, por outro lado, devemos separar ambos da tradição pós-apostólica e pós-canônica”. (34)
Hoje em dia há um acordo entre as várias denominações de que a Escritura do Novo Testamento é a contraparte escrita da Tradição Apostólica. Também podemos aceitar a visão de que a Tradição Apostólica deve ser distinguida da Tradição pós-apostólica e que a última deve ser testada pela primeira. Mas dificilmente se pode supor que a intenção da Igreja ao formar o Cânon no segundo século era declarar que aqui, e somente aqui, a Tradição apostólica deveria ser buscada doravante. Pelo princípio do Cânon, os escritos contidos nele foram distinguidos como escritos genuinamente “apostólicos” dos evangelhos apócrifos e histórias de Apóstolos que surgiram no mundo do gnosticismo.(35) A Igreja não fez isso arbitrariamente, nem porque esses escritos se impuseram à Igreja apenas por sua autoridade apostólica inerente, mas principalmente com base no fato de terem sido usados por um período mais longo ou mais curto no culto litúrgico público da Igreja, em outras palavras, com base na tradição. Pois é claro que a Tradição é fielmente espelhada na liturgia.(36) Agostinho expressa isso claramente: “Se os (escritos que circulam) sob o nome dos Apóstolos André e João de fato vieram deles, eles teriam sido aceitos na Igreja que persistiu desde seus dias até nossos dias através da certa sucessão de Bispos”.(37)  Se, porém, o Cânon dos escritos do Novo Testamento deve sua existência expressamente ao princípio da Tradição que determina a Igreja, como poderia ser possível que o efeito ponha fim à causa? O princípio do Cânon não significou o fim da Tradição na Igreja, mas sua confirmação. Se a formação do Cânone tivesse o propósito que Cullmann lhe atribui, isso teria necessariamente implicado uma mudança decisiva no ensinamento dos Padres da época a respeito da Tradição. Mas nenhum sinal disso é perceptível. A teologia da Tradição continua ininterrupta de Irineu a Agostinho, apesar da formação do Cânon. S. Dejaifve observa:
“Não pode ser provado, pelo menos historicamente, que a Escritura como conclusão e fixação da Tradição Apostólica ponha fim à Tradição Viva. A história dá uma imagem bem diferente. Precisamente na época em que o Novo Testamento tomou forma como o Cânon da Sagrada Escritura, o magistério encarregou os Bispos de interpretar a Sagrada Escritura com autenticidade, com base na crença atual das Igrejas e no Srnsus Ecclestasticus, o Phronema Ekklesiastikon".(38)
Assim como a viva Paradosis Apostólica precedeu seu compromisso com a escrita e correu paralelamente a ela, também a coleta das Escrituras em um Cânon não pôs fim a ela. Funciona ininterruptamente mesmo após a formação do Cânon. Mas assim como o Ministério Apostólico foi perpetuado na forma do Ofício Apostólico e eclesiástico do Episcopado, também a Paradosis Apostólica foi perpetuada na forma da Paradosis da Igreja. Assim, a Paradosis eclesiástica uniu-se à Sagrada Escritura como a segunda forma, independente da Escritura, do Paratheke confiado à Igreja. Essa independência da Paradosis Eclesiástica é particularmente destacada por Möhler. Atrás dele está o Espírito Santo a quem é confiada a direção e vivificação da Igreja e, de acordo com o teólogo de Tübingen, é o Espírito que forma o sentido ou tato Cristão especial na mente humana que recebe o princípio vital superior sempre operante na a Igreja. Além disso, há educação pelos sucessores dos apóstolos. Os dois juntos significam que “a Escritura nem mesmo é absolutamente necessária para que todo o seu conteúdo seja recebido”.(39) A Paradosis da Igreja é o modo como a Paradosis Apostólica existe na Igreja pós-apostólica e exerce junto com a Escritura uma função necessária na preservação do Evangelho de Jesus Cristo confiado à Igreja. Pois sem a Paradosis da Igreja a unidade da Fé e a compreensão uniforme da Fé pela comunidade dos fiéis seriam impossíveis e a Igreja como o único ensinamento Apostólico e Católico estaria no fim.
b) O destino da Paradosis Apostólica na Paradosis da Igreja.
O que acontece com o Evangelho de Jesus Cristo transmitido pela Paradosis Apostólica quando assume o modo de existência da Paradosis Eclesiástica? Podemos dizer que neste último aconteceu ao Evangelho de Jesus Cristo e ao Evangelho a respeito de Jesus Cristo o mesmo que já havia acontecido na Paradosis apostólica. Assim como o que outrora foi dito por Jesus, para se tornar uma palavra dita “aqui e agora”, deveria ser submetido também na Tradição apostólica a uma mudança de forma por causa da situação alterada, assim também na Paradosis Eclesiástica. A Paradosis Apostólica preocupava-se com o anúncio da salvação em Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, com a compreensão do anunciado, ou seja, com a teologia. Essa teologia Apostólica analisou sob vários pontos de vista as riquezas inesgotáveis do mistério representado por Jesus Cristo. Havia, portanto, uma cristologia do Servo sofredor, uma cristologia kenosis, uma cristologia da glorificação, outra da morte e uma cristologia da ressurreição; havia uma teologia galiléia (do nome de Jesus) e uma teologia de Jerusalém.(40) Havia uma concepção diferente do Evangelho de Jesus Cristo expressa por Paulo e pelo autor do quarto Evangelho; em outras palavras, havia uma teologia paulina distinta e uma teologia joanina distinta. A visão especificamente galiléia de Cristo como Jesus, o descendente de Davi, juntamente com a teologia da glorificação, levou a uma concepção geral de Jesus como o Cristo, isto é, a uma teologia comunitária definida que Paulo em Romanos 1, 3 e 4 toma como a “Paradosis da Igreja”.(41) Em 2 Timóteo 2,8: “Lembra-te de Jesus Cristo, saído da estirpe de Davi e ressuscitado dos mortos”, esta teologia já aparece como o que é provavelmente uma fórmula de Credo. Além disso, a importância da oposição entre hebreus e helenistas na Igreja original de Jerusalém não se restringia ao desenvolvimento e formação orgânica da Igreja, mas era mais profunda.(42) Por trás dela havia também uma concepção diferente da pregação de Jesus Cristo, como mostra o discurso de Estêvão (At 6,8-60), pois não está de acordo com o modo usual de pregar a História da Salvação. Aqui ficam evidentes as diferentes concepções da história sagrada e do Kerygma sobre Cristo entre os hebreus e os Cristãos judeus helenísticos da diáspora.(43)
Tudo isso, que já observamos em conexão com a Paradosis Apostólica, continua na Tradição da Igreja. Quando o primeiro foi confiado à Igreja como Paratheke, para guarda, isso não significava que a Igreja deveria preservar o Evangelho da vida como um tesouro sem vida. Franz von Baader estava certo ao dizer com relação a Paradosis da Igreja que, embora nada pudesse ser alterado, as coisas não poderiam permanecer como estavam. O tesouro da Paradosis Apostólica não era uma múmia que depois de embalsamada foi trancada em uma tumba e guardada.  A procura de uma compreensão cada vez mais profunda do Evangelho na Igreja e as tendências hostis ao Evangelho que se introduziram na Igreja de fora, colocaram aqueles a quem o Evangelho foi confiado situações sempre novas e, consequentemente, tarefas sempre novas.
A própria Tradição Apostólica revelou o que Jesus Cristo disse originalmente. Assim, a cristologia do Servo Sofredor da comunidade original de Jerusalém não só foi completada pela cristologia Kyrios do Kerygma paulino, mas finalmente substituída por ela. A forma original da tradição pós-apostólica foi a proclamação de Jesus como o Cristo; começou com o homem Jesus e destacou seu significado para a salvação, mostrando como, depois de sua morte, Jesus Ressuscitou como Senhor e Cristo (Atos 2,26). O desenvolvimento subseqüente dessa doutrina original, por outro lado, deixou claro em detalhes qual era o significado preciso do homem que Jesus era. Agora foi feita menção à existência pré-terrena de Jesus e sua vida humana foi exposta como a Encarnação do Filho de Deus. Assim, por exemplo, no pedaço de tradição usado por Paulo em Romanos 1,1-4, a boa nova de seu Filho nascido da semente de Davi segundo a carne predestinou o Filho de Deus em poder por causa de sua Ressurreição da morte. Essa é uma exposição real do predicado, Filho de Deus. Pois enquanto Atos 13,33-34 afirma que, ao ressuscitar Jesus dentre os mortos, Deus cumpriu a promessa: “Tu és meu filho, eu hoje te gerei” (Sl 2,7), e embora isso possa ter sido entendido como embora Deus tivesse aceitado, adotado, o homem ressuscitado dentre os mortos como seu Filho, a parte da tradição assumida por Paulo em Romanos 1,2-4 exclui tal concepção adocionista da filiação Divina ao afirmar que o Filho preexistente de Deus nasceu da linhagem de Davi segundo a carne. Além disso, o hino de Filipenses, outra parte da tradição, coloca antes da exaltação do Messias da tradição petrina a auto-humilhação voluntária na existência humana daquele que possuía o modo de existência de Deus.
Se o Kerygma Apostólico deveria alcançar seus ouvintes, as circunstâncias em constante mudança exigiam que ele fosse feito de uma forma adaptada a essas circunstâncias. Só então a palavra uma vez dita pelo Senhor foi verdadeiramente a palavra que o Senhor Jesus Cristo estava falando na situação particular que realmente confronta a Igreja; é o que já observamos na Paradosis apostólica expressa nas Escrituras. Quando concepções heréticas do Evangelho surgiram na Igreja, e quando tendências intelectuais hostis ao Evangelho invadiram a Igreja, a Igreja enfrentou repetidas vezes novas contradições que a obrigaram a esclarecer sua doutrina de uma forma que levasse em conta essas contradições e novas questões. Assim, foi excluída uma forma de entender o Kerygma que era possível antes do surgimento das contradições. A formulação a que se chegou representa a antítese dialética da heresia. A doutrina pregada agora aparece em uma nova roupagem de idéias e termos que representam um avanço na compreensão do Evangelho. E não é de modo algum uma falsificação do Evangelho e, em particular, do seu carácter em relação à história redentora, se a mensagem da salvação se reveste de mitos ou se se tenta obter uma melhor compreensão do mistério da Jesus Cristo com a ajuda dos conceitos da metafísica grega.(44) Em ambos os casos, é claro, a ajuda do elemento humano do imaginário religioso e do pensamento filosófico é chamada para iluminar o que é Divino, o mistério da Encarnação. Desta forma, o Evangelho de Jesus Cristo necessariamente assume na Paradosis da Igreja a forma de 𝘥𝘪𝘥𝘢𝘴𝘬𝘢𝘭𝘪𝘢, de doutrina, assim como, é claro, o próprio Paulo em seus escritos estava consciente, em vista dos falsos ensinamentos que surgiam na Igreja, e em vista da falsa gnose que o invadia (1Tm 6,20), que ele não era mais apenas um apóstolo e arauto da mensagem de Cristo, mas também um mestre dos gentios (2Tm 4,17). Na Paradosis da Igreja, portanto, a Paradosis Apostólica é submetida a um processo histórico de interpretação contínua.
c) Sagrada Escritura como forma de Paratheke.
Qual é o significado para a Igreja das Escrituras que lhe são confiadas como Paratheke? Não são algo estranho à sua natureza, mas pretendem contribuir para moldar a sua vida. São necessários à vida da Igreja; a única questão é a extensão precisa da necessidade. Karl Rahner vê nas Escrituras um fator essencial na construção da Igreja:“Pela pré-definição formal do tipo que pertence à história redentora e à Escatologia, Deus deseja e fornece as Escrituras como um fator constitutivo na fundação da Igreja primitiva.”(45) Neste caso, a “instituição” da Igreja pelo Cristo histórico 𝘤𝘶𝘮 𝘢𝘱𝘶𝘥 𝘯𝘰𝘴 𝘥𝘦𝘨𝘦𝘳𝘦𝘵, enquanto permaneceu entre nós na terra, deve ser entendida como significando que ele lançou os fundamentos da Igreja, mas que a Ressurreição e o envio do Espírito também pertencem essencialmente à fundação da Igreja. Então há uma impossibilidade intrínseca de incluir a opera��ão do Espírito Santo inspirando os escritores sagrados, isto é, a vinda à existência das Escrituras, como um fator constitutivo entre os atos que construíram a Igreja.(46)
Mas o que é constitutivo da Igreja é o anúncio do Evangelho pelos Apóstolos, a 𝘝𝘪𝘷𝘢 𝘝𝘰𝘹 𝘌𝘷𝘢𝘯𝘨𝘦𝘭𝘪𝘪 𝘱𝘦𝘳 𝘈𝘱𝘰𝘴𝘵𝘰𝘭𝘰𝘴. A Escritura, por outro lado, serve dentro da Igreja (juntamente com a Tradição da Igreja) “𝘶𝘵 𝘴𝘶𝘣𝘭𝘢𝘵𝘪𝘴 𝘦𝘳𝘳𝘰𝘳𝘪𝘣𝘶𝘴 𝘱𝘶𝘳𝘪𝘵𝘢𝘴 𝘪𝘱𝘴𝘢 𝘌𝘷𝘢𝘯𝘨𝘦𝘭𝘪𝘪 𝘪𝘯 𝘌𝘤𝘤𝘭𝘦𝘴𝘪𝘢 𝘤𝘰𝘯𝘴𝘦𝘳𝘷𝘦𝘵𝘶𝘳” (Conc. Trid. Session IV, Denzinger 783). Em outras palavras, a Escritura não tem significado constitutivo para o testemunho autêntico e doutrinalmente autorizado do Evangelho; é antes um “𝘱𝘰𝘴𝘵 𝘪𝘢𝘤𝘵𝘶𝘮 𝘍𝘪𝘥𝘦𝘪 𝘊𝘰𝘯𝘧𝘦𝘴𝘴𝘪𝘰𝘯𝘪𝘴 𝘍𝘶𝘯𝘥𝘢𝘮𝘦𝘯𝘵𝘶𝘮”, um “𝘗𝘰𝘵𝘪𝘴𝘴𝘪𝘮𝘶𝘮 𝘛𝘦𝘴𝘵𝘪𝘮𝘰𝘯𝘪𝘶𝘮 𝘢𝘤 𝘗𝘳𝘢𝘦𝘴𝘪𝘥𝘪𝘶𝘮 𝘪𝘯 𝘤𝘰𝘯𝘧𝘪𝘳𝘮𝘢𝘯𝘥𝘪𝘴 𝘋𝘰𝘨𝘮𝘢𝘵𝘪𝘣𝘶𝘴”. (ibid., Denzinger 784). E esta fórmula em 𝘊𝘰𝘯𝘧𝘪𝘳𝘮𝘢𝘯𝘥𝘪𝘴 𝘋𝘰𝘨𝘮𝘢𝘵𝘪𝘣𝘶𝘴 é tanto mais importante porque o Concílio mudou a frase em 𝘊𝘰𝘯𝘴𝘵𝘪𝘵𝘶𝘦𝘯𝘥𝘪𝘴 𝘋𝘰𝘨𝘮𝘢𝘵𝘪𝘣𝘶𝘴, que é o que já estava no projecto, em 𝘊𝘰𝘯𝘧𝘪𝘳𝘮𝘢𝘯𝘥𝘪𝘴 𝘋𝘰𝘨𝘮𝘢𝘵𝘪𝘣𝘶𝘴. Em suma, o Concílio de Trento circunscreveu claramente a função da Escritura: ela deve servir a Igreja para a manutenção e confirmação do seu Kerygma. Embora tenhamos dito acima que nunca houve qualquer pregação sem a Sagrada Escritura, e citado o exemplo do Kerygma Apostólico original, o uso da profecia do Antigo Testamento pelos Apóstolos não teve nenhum significado constitutivo para o seu Kerygma em relação a Jesus, o Cristo, mas apenas um significado confirmativo; serviu apenas para apoiar e confirmar o que os Apóstolos pregavam sobre Jesus, ou seja, que nele, como o Messias, a profecia do Antigo Testamento encontrou o seu cumprimento. As Escrituras foram dadas à Igreja pelo Espírito Santo como uma das duas formas do Paratheke, para que a Igreja pudesse preservar a pureza do Evangelho e confirmar seu Kerygma, mas não para que ela derivasse o objeto de sua pregação das Escrituras em primeiro lugar.
Como faz a Igreja justiça a esta tarefa de preservar fielmente as Sagradas Escrituras confiadas ao seu cuidado? Em primeiro lugar, reúne-os num todo e dá a esse conjunto um significado regulador. Desta forma, a coleção tornou-se o Cânon das Escrituras. Não há dúvida de que a realização desta coleção envolveu um processo de seleção.(47) Que critério a Igreja empregou? A da Revelação explícita não pode ser provada, no máximo pode ser postulada. Certamente o critério da “autenticidade” era operativo, visto que os evangelhos incluídos no Cânon e nos Atos dos Apóstolos se distinguiam dos evangelhos gnósticos apócrifos e dos 𝘈𝘤𝘵𝘢 𝘛𝘩𝘰𝘮𝘢𝘦, 𝘈𝘯𝘥𝘳𝘦𝘢𝘦, 𝘗𝘢𝘶𝘭𝘪, etc. Mas esse provavelmente não foi o único critério. Pois deve ser levantada a questão de saber se a Igreja não estendeu também o seu processo de seleção aos genuínos escritos “apostólicos” e, portanto, inspirados. Se fosse esse o caso, alguns escritos inspirados não foram incluídos pela Igreja no seu Cânon. É concebível que o processo de seleção realizado pela Igreja na formação do Cânon do Novo Testamento também se estendesse aos escritos inspirados?
Só podemos responder a esta difícil questão depois de fazer algumas observações como as que se seguem. O Evangelho segundo Mateus, originalmente composto em aramaico, foi substituído por sua versão grega e não foi preservado. É impossível, contudo, provar que o original aramaico Mateus não foi inspirado. Aprendemos com a introdução do Evangelho de Lucas (Lc 1-4) que quando ele estudou sua composição, ele tinha um bom número de evangelhos disponíveis. Evidentemente, ele não apenas os leu, mas também os usou, e seria um erro tentar ler neste prefácio de seu próprio evangelho uma crítica aos evangelhos anteriores, como fez Eusébio (H.E. III, 24), e como tem sido feito muitas vezes desde então. Pelo contrário, segundo Lucas, aqueles evangelhos eram bons, só o seu seria melhor, em primeiro lugar porque ele havia investigado cuidadosamente tudo o que havia acontecido “desde o princípio”, e, consequentemente, estava em condições de oferecer algo novo, e também porque o seu evangelho foi escrito num estilo capaz de satisfazer exigências mais exigentes.(48) Se esses evangelhos foram escritos por testemunhas oculares ou se foram baseados em relatos de testemunhas oculares, como foi o Evangelho de Lucas, não pode ser determinado a partir do que Lucas diz, nem se foram escritos por colaboradores dos apostólicos ou não, nem se eles estavam em uso nas várias comunidades locais da Igreja Apostólica original ou não. Mas o que nos impede de presumir que eles também eram escritos “apostólicos”, tal como o Evangelho de Lucas, que eram memórias de homens que seguiram os Apóstolos (cf. Justin, I Apol. 67)? Além disso, entre a nossa Primeira e a Segunda Carta Canónica aos Coríntios, Paulo enviou por Tito a chamada “carta severa” à Igreja de Corinto (2Cor 2,4), e isto não aparece no Cânon do Novo Testamento.(49) Foi perdida? Foi considerada inadequada para recepção no Cânone da Igreja? Foi parcialmente incorporada na Segunda Carta aos Coríntios? Ninguém está em posição de decidir. O evangelho de Lucas pertence às Escrituras inspiradas. A “carta severa”, sendo a carta de um Apóstolo, deve ser considerada inspirada. E quem pode provar que os evangelhos pré-Lucanos, cujo caráter “Apostólico” não pode necessariamente ser contestado, não foram inspirados? Pelo contrário, podemos indicar uma razão extraída da própria natureza da inspiração que tornaria aceitável considerar que foram de facto inspiradas.
O Espírito Inspirador não é outro senão o Espírito Criador, mas o Espírito Criador, na profusão de sua generosidade, produz milhões e milhões de flores, das quais apenas um número relativamente pequeno chega a frutificar. Não poderia algo semelhante valer para o Espírito Inspirador no que diz respeito aos Escritos Inspirados, especialmente em vista dos 𝘊𝘩𝘢𝘳𝘪𝘴𝘮𝘢𝘵𝘢 da primeira era da Igreja? Não havia razão para Ele ser mesquinho ou calculista. Além disso, a Inspiração deixa ao autor humano, que é instrumento do Espírito Santo, a plena liberdade de sua personalidade e individualidade e, conseqüentemente, de suas limitações históricas. E é este aspecto da inspiração que o torna um processo histórico, de modo que se esta ideia for aplicada à génese dos nossos Evangelhos actuais, pode-se dizer que os Evangelhos Canónicos representam a fase final madura e fruto de um desenvolvimento anterior, representado por formas antecedentes dos Evangelhos. As flores, porém, ou Evangelhos que estavam à disposição de Lucas, seriam do mesmo tipo que os frutos; em outras palavras, temos motivos para supor que eles podem ser considerados inspirados. O melhor, porém, é inimigo do bom. Consequentemente, apenas os nossos actuais Evangelhos Canônicos encontraram um lugar no culto litúrgico e depois, por serem escritos inspirados de uso público, encontraram o seu caminho para o Cânon da Igreja. O Cânon da Escritura foi, portanto, formado pela Igreja, e o que foi decisivo foi a Paradosis da Igreja, sobretudo o uso litúrgico destes escritos; não foi fixado com base em uma revelação especial de Deus aos Apóstolos a respeito da extensão do Cânon. O Cânone não tem sua fonte num ato Divino de Revelação, mas é puramente um produto da Igreja que, com certeza, foi dotada de Infalibilidade no assunto. Do facto, porém, de que a formação do Cânon foi um acto da própria Igreja, podem ser tiradas duas inferências. Em primeiro lugar, a sua formação envolveu um processo de seleção e, portanto, o Cânon não pretende incluir todos os escritos inspirados. Diz apenas que os escritos inspirados nele contidos têm um significado regulador na Igreja e para a Igreja.(50) Em segundo lugar, se a extensão do Cânon tivesse sido revelada por Deus através da Revelação, isso deveria ter acontecido antes da morte do último Apóstolo. Nesse caso, nenhum escrito de um colaborador dos Apóstolos ou dos discípulos de um Apóstolo que foi escrito após a morte do último Apóstolo poderia ter sido considerado inspirado e, portanto, capaz de inclusão no Cânon, a menos que tivesse sido revelado aos Apóstolos quais escritos que seriam compostos após sua morte por seus discípulos pertenceriam ao Cânone.
“No entanto, não só não se pode demonstrar a existência de nenhum vestígio de tal revelação, como há muitas razões para supor que não existiu. Nem é pressuposto por qualquer anúncio doutrinário oficial da Igreja, e é praticamente excluído pelo curso tomado pela história do Cânone.”(51)
Mas se a extensão do Cânon não deriva da Revelação, mas foi de fato estabelecida apenas pela Igreja, por um ato puramente Eclesiástico, então nada há que impeça uma obra composta após a morte dos Apóstolos, mas ainda pertencente ao período Apostólico, de ser recebido no Cânon das Escrituras. Tudo o que isto decide em princípio sobre a questão dos autores dos escritos canônicos é que eles devem ter pertencido ao período apostólico da Igreja.
A Sagrada Escritura, como guardiã do Evangelho, é o dote do Espírito Santo à Esposa de Cristo, a jóia mais preciosa com a qual o Spiritus criador dotou a sua vida posterior com a palavra de Cristo. A Fé, a Oração e a Pregação da Igreja são doravante alimentadas e animadas, como pelo Sopro de Deus, pelo Evangelho que é anunciado por Cristo Senhor da Igreja, pregado pelos Apóstolos como seu fundamento, e testemunhado pelo Espírito Santo que causou deve ser escrito pelos escritores Sagrados. As Escrituras foram entregues à Igreja para que ela preservasse o Evangelho que lhe foi confiado. “Tu, porém, permanece firme naquilo que aprendeste e creste. Sabes de quem aprendeste.” (2Tm 3,14). Eles também devem conduzir a Igreja ao seu objetivo: “E desde a infância conheces as Sagradas Escrituras e sabes que elas têm o condão de te proporcionar a sabedoria que conduz à salvação, pela fé em Jesus Cristo." (2 Tm 3,15). Eles devem servir a Igreja para capacitá-la a cumprir as suas múltiplas tarefas, pois “Toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça.” (2Tm 3,16). A Sagrada Escritura é, portanto, “o sangue do coração da Igreja, o seu próprio fôlego, a sua alma, o seu tudo”.(52)"
- Pe. Josef Rupert Geiselmann, "The Meaning of Tradition", 1962, Herder Freiburg, Palm Publishers Montreal, páginas 9-38.
[1]. É claro que a Igreja Primitiva conhecia apenas uma exceção: a aparição de Cristo a Paulo no caminho para Damasco. Além disso, esta não foi uma aparição de Cristo Ressuscitado como os Doze experimentaram, mas do Kyrios elevado ao Céu. Desde então não houve mais aparições de Cristo, mas apenas da Mãe do Senhor. Seria interessante determinar desde que data ela começou a aparecer (com intervalos) e para quais pessoas, homens, mulheres ou crianças, ela aparece. Em todo o caso, a Igreja Primitiva e Patrística não conhecia aparições desse tipo, o que, naturalmente, não prejudica a sua autenticidade.
[2]. J. R. Geiselmann, "Jesus der Christus" (1951), páginas 53-56.
[3]. G. Bornkamm, "Jesus von Nazareth", p. 156, note 14, English translation, "Jesus of Nazareth" (1960 - 94-205).
[4]. G. Bornkamm, ibid., note 15.
[5]. Heinrich Schlier, "Wort Gottes" (1958), p. 58.
[6]. Heinrich Schlier, ibid., p. 59.
[7]. R. Bultmann, "Theology of the New Testament", II (1955), p. 98. Cf. also Ernst Finke, “Die katholische Wahrheit im Neuen Testament” in "Katholische Reformation" (1958), p. 150.
[8]. R. Bultmann, "Geschichte der synoptischen Tradition" (1957), p. 61, English translation, "The History of the Synoptic Tradition" (1963).
[9]. R. Aubert, "Le Pontificat de Pie IX" (1952), p. 354. O pano de fundo deste ditado é o seguinte: “O Cardeal Dominicano Guidi, Arcebispo de Bolonha, defendeu na congregação geral do Concílio Vaticano I, em 18 de junho, o testemunho que os bispos prestam à Tradição e expressou a opinião de que este testemunho deve ser levado em consideração de uma forma ou de outra pelo Papa quando ele toma uma decisão Ex Cathedra.
Em seguida, ele foi convocado ao Papa e, durante sua conversa com Pio IX, disse ao Papa que havia defendido os bispos como testemunhas da Tradição. O Papa é então, de acordo com o Diário de Dupanloup (cf. Mourret, "Le Concile du Vatican", 1919, p. 299), como tendo respondido: 'Testemunhas da Tradição? Há apenas uma testemunha, eu mesmo' (Dom Cuthbert Butler, "The Vatican Council", 1933). Há um fundo de verdade histórica nestes relatórios, pois não podem ser inteiramente inventados. Mas se o ditado foi proferido em uma das duas formas, mesmo que aproximadamente nesse sentido, certamente não foi com a ajuda do Espírito Santo. Pode ter sido dito impulsivamente. Em todo o caso, Pio IX falou neste caso como uma pessoa teologicamente privada. Mesmo nesse caso, porém, dificilmente foi a observação de um teólogo dogmático particularmente esclarecido.”
[10]. Sess. VII, "De Sacramentis in genere, prooemium", Denzinger 8432; Sess. XXIII, c. 2 and 3 "De Sacramento Ordinis", Denzinger 957, 959; Sess, XXV, "De Purgatorio", Denzinger 983; Sess. XIII, "De ss. Eucharistiae Sacramento", C. 1: "maiores nostri omnes quotquot in vere Christi Ecclesia fucrunt ... apertissime professi sunt; cf. contra universum Ecclesiae sensum", Denzinger 874; c. 8, Denzinger 881; Sess. V, "De peccato originali", can.4, Denzinger 791; Sess. XIV, "De Sacr. Poenitentiae", can.3: "sicut Ecclesia semper intellexit", Denzinger 913; C.8: "confessionem omnium pecatorum ...(son) esse traditionem humanam", Denzinger 918; C.8: "praeter Divinam Tradinonem"; Sess. XIV, "De Sacramento Extremae Unctionis", C.1: "ex apostolica Traditione per manus accepts Ecclesia didicit", Denzinger 908; Sess. XXIV, "De sacramento Matrimonii: universalis Ecclesiae Traditio", Denzinger 970; Sess. XXIII, "De Sacramento Ordinis", C.3: "Scripturae testimonio apostolica traditione et Patrum unanimi consensu perspicuum", Denzinger 959. Cf. A. Michel, “Tradition” in "Dictionnaire de Théologie Catholique", XV, 1311.
[11]. Acta Apostolicae Sedis 46 (1954), 638.
[12]. The Certum Charisma Veritatis does not signify the gift of infallibility, belonging to the Episcopate as a whole, as it is commonly taken to mean, but the gift of truth in its objective sense, revealed truth Itself; Karl Muller, “Das Charisma Veritatis und der Episkopat bei Irenaeus", in "Zeitschrift für die neutestamentliche Wissenschaft 23" (1924), pp. 216-22; Damian vanden Eynde, "Les Normes de l'enseignement Chrétien" (1933) pp. 186-7.
[13]. "Neue Beiträge zur Bildung der Geistlichen", II (1911) Foreword, III, "Heiligtum der Menschheit" (1810), p. 203; J. R. Geiselmann, "Von lebendigen Religiositāt zum Leben der Kirche" (1952), p. 201.
[14]. "Neue Beiträge", II, p. 215; J. R. Geiselmann, "Von lebendige Religiositāt", p. 201.
[15]. Cf. J. A. Jungmann in "Zeitschrift für Katholische Theologie" 8o (1958), p. 330.
[16]. "Histoire et Dogme" ("La Quinzaine", vol. 56, 1904), p. 437; Lucio da Veiga Coutinho, “Tradition et Histoire dans la controverse moderniste", "Analecta Gregoriana" 73 (1954) P. 139.
[17]. D. Koster, "Volk Gottes im Wachstum des Glaubens" (1950), p. 69.
[18]. "Symbolik", I, Introduction and Text, edited by J. R. Geiselmann (1958) § 38, p. 413; II (1960), pp. 715-16.
[19]. A Primeira tradução foi baseada na 4ª edição da Symbolik de Mohler, 2 volumes (1836); a segunda tradução foi baseada na 5ª edição revisada e alterada do Symbolik (1852);
"O Espírito de Deus, que governa e vivifica a Igreja, faz nascer no homem, unindo-se a ele, um instinto, um tato (tact) eminentemente Cristão, que o leva a toda verdadeira Doutrina. O princípio comunicado do alto, a Aliança com o Apostolado Perpétuo, a educação e a vida na Igreja desenvolvem um significado profundamente interior, um sentimento próprio da percepção da palavra escrita; porque responde ao Espírito que ditou os Livros Sagrados. Quando o fiel lê as Escrituras com esta disposição, as verdades que elas contêm passam à sua inteligência sem qualquer alteração essencial; Além disso, quando a sua mente e o seu coração foram formados na Igreja, ele não precisa mais das Escrituras para compreender os Ensinamentos Divinos.*
Essa é a maneira comum pela qual chegamos ao conhecimento do estabelecimento Cristão. No entanto, sempre haverão erros mais ou menos culposos. Como já no tempo dos Apóstolos se procurava na Palavra de Deus armas para combater esta mesma palavra, assim aconteceu em todos os Séculos. Como proceder em circunstâncias semelhantes? Como podemos proteger a Doutrina de erros que possam altera-la? Então a crença comum decide contra o significado privado; o julgamento de todos contra o indivíduo: 'a Sociedade dos fiéis interpreta a Sagrada Escritura'. A Igreja é o Corpo, a forma visível de Jesus Cristo; é a Sua Humanidade Permanente, a Sua Manifestação Eterna. O Senhor depositou nela o Seu Espírito, a Sua Verdade, mas desde os Apóstolos as suas promessas não se dirigem a nenhum indivíduo enquanto tal, é ao Corpo inteiro que Ele se doou inteiramente.
Este sentimento comum, esta consciência da Igreja é Tradição no sentido subjetivo da palavra. O que então é a Tradição considerada deste ponto de vista? É o sentido cristão existente na Igreja e transmitido pela Igreja; sentido, porém, que não podemos separar as verdades que ele contém, pois é formado por essas verdades e por essas verdades."
- Pe. Johann Adam Möhler, "La Symbolique ou Exposition des Contrariétés Dogmatiques entre les Catholiques et les Protestants, d'après leurs confessions de foi publiques", Tomo I, Tradução de Lachat, Bruxelles, Publié par la Societé Nationale pour la Propagation des Bons Livres, 1838, páginas 23-24.
[*]. Nota de Mohler "Se Jesus Cristo fundou uma Igreja, esta Doutrina se apresenta a todas as mentes. Também remonta à mais alta antiguidade e foi proclamado assim que a Heresia apareceu no mundo, diz Santo Irineu: 'Portanto, a Tradição dos Apóstolos, que foi manifestada no mundo inteiro, pode ser descoberta em toda Igreja por todos os que queiram ver a verdade. Poderíamos enumerar aqui os Bispos que foram estabelecidos nas Igrejas pelos Apóstolos e os seus sucessores até nós; e eles nunca ensinaram nem conheceram nada que se parecesse com o que essa gente vai delirando. Ora, se os Apóstolos tivessem conhecido os mistérios escondidos e os tivessem ensinado exclusiva e secretamente aos perfeitos, sem dúvida os teriam confiado antes de a mais ninguém àqueles aos quais confiavam as próprias Igrejas. Com efeito, queriam que os seus sucessores, aos quais transmitiam a missão de ensinar, fossem absolutamente perfeitos e irrepreensíveis em tudo, porque, agindo bem, seriam de grande utilidade, ao passo que se falhassem seria a maior calamidade.' (A.H. III,3,1)"
[20]. J. H. Newman, "On Consulting the Laity in Matters of Faith" (new ed. 1963). Cf. also Günter Biemer, "Oberlieferung und Offenbarung" (1951), p.133.
[21]. "Acta Apostolicae Sedis" 46 (1954), 638.
[22]. Ibid.
[23]. Moeller, “Tradition et oecuménisme” in Irenikon 25 (1952), p. 369.
[24]. That the sense of the faith comprises all members of the Church is affirmed by D. Koster too, but he seems to take the concept too widely by regarding the official teaching functions as also comprised in this sense of the faith.
[25]. "Symbolik" I, p. 415.
[26]. D. Koster, "Volk Gottes", pp. 72, 82, 98-99.
[27]. Dejaifve observes (“Bible, Tradition, Magistère” in "Nouvelle Revue Théologique", 1956, p. 150): "The whole Church contributes to the deeper understanding of the Christian message, each order according to its rank and function in the Corpus Christi. In this elucidation of what is implicitly contained in revelation, the initiative is commonly not taken by the magisterium. What will eventually be a Dogma is usually anticipated by the Christian people, that is to say, by the faithful, as is shown particularly clearly by Mariological Dogma from Ephesus down to the bull Munificentissimus; it is then given its duc proportions by the theologians who compare what is developing in this way with Revelation as it is already known and verify its eampatibility with this; it is then sanctioned by the Magisterium in virtue of the charisma that empowers it to make an infallible decision. The Magisterium listens to the Church and also to the voice of Tradition recalled by Theologians.
[28]. "Chartular", Univ, Par. edited by Denifle and Chatelain (1891), Il, p. 433. Cf. D. Koster, "Volk Gottes", p. 126.
[29]. Cf. my article “ Tradition” in "Fragen der Theologie heute" (1957): p. 107.
[30]. P. A. Liégé, "Initiation Théologique" 1 (1955), p. 23.
[31] J. A. Mohler, "Die Einheit in der Kirche", edited by J. R. Geiselmann (1957) §25 no.5 p.80.
[32]. R. Bultmann, "Theology of the New Testament", II (1955), p.98.
[33]. Santo Irineu sobre o Eunuco Etíope.
[34].
[35].
[36].
[37].
[38].
[39].
[40].
[41].
[42].
[43].
[44].
[45].
[46].
[47].
[48].
[49].
[50].
"Completou-se, portanto, a terceira parte deste livro, a qual desejo seja conhecidíssima entre os teólogos. Agora no quarto livro devemos explicar e proteger a autoridade da Igreja, sobre a qual assim se disputou meio os homens eclesiásticos, que confeccionaram grandes volumes acerca desse assunto. Mas qual teria sido a sua convenção, não é nada são para este tempo. Mas uma coisa pertence a este tempo e esta obra instituída: discernir no juízo da Fé acerca da autoridade da Igreja, e ensinar brevemente se do sentido comum dos fiéis poder-se-iam deduzir argumentos firmes para a comprovação dos dogmas da Teologia.
Montano foi o primeiro a ensinar seus discípulos a que não prestassem nenhuma reverência à Igreja que está por toda a face da terra, como o testemunham Apolinário e Eusébio; Nestório, depois, afirmou que toda a Igreja estava errada, porque ela “seguia doutores ignorantes e errôneos”, dizia ele, como o refere Vincente de Lerins; e depois disso, os iconoclastas, que diziam que a Igreja estava há muito tempo no torpe erro da adoração de imagens, como foi trazido ao Sétimo Sínodo na sexta Acta. Com efeito, Agostinho escreve que os donatistas e os rogatianos desprezaram, não, certamente, por palavras, mas antes pelas ações, a autoridade da Igreja, como se vê nas cartas 48 ad Vincentium, 50 ad Bonifacium, 16 ad Honoratum. Lutero, por fim, recordemos, seguiu a todos esses, e disse que, dentre outras coisas, a Igreja erra contra a lei de Cristo em que distribua aos leigos a comunhão em apenas uma espécie. De fato, uma vez até afirmou (assumindo o testemunho de Coclaeus) que ela desde o começou errou em dizer, repugnando a Paulo, que a lei e as obras são necessárias para salvação."
- Melchior Cano, "De Locis Theologicis Libri Duodecim" (Livro IV, Cap. I), Salmanticæ, Excudebat Mathias Grastius, Anno Domini M.D.LXIII., página 121.
"Ó Timóteo, guarda o bem que te foi confiado (παραθήκην - paratheken)! Evita as conversas frívolas e mundanas, assim como as contradições de pretensa ciência."
1Tm 6,20
"É esse o motivo por que estou sofrendo assim. Mas não me queixo, não. Sei em quem pus minha confian­ça, e estou certo de que é assaz poderoso para guardar meu depósito (παραθήκην - paratheken) até aquele dia. Toma por modelo os ensinamentos salutares que recebeste de mim sobre a fé e o amor a Jesus Cristo. Guarda o precioso depósito (παραθήκην - paratheken), pela virtude do Espírito Santo que habita em nós."
2Tm 1,12-14
"E desde a infância conheces as Sagradas Escrituras e sabes que elas têm o condão de te proporcionar a sabedoria que conduz à salvação, pela Fé em Jesus Cristo."
2Tm 3,15
Tumblr media
1 note · View note
celioxavier · 9 months
Text
“Ao longo destes dois milénios de cristianismo, uma quantidade inumerável de povos recebeu a graça da fé, fê-la florir na sua vida diária e transmitiu-a segundo as próprias modalidades culturais. Quando uma comunidade acolhe o anúncio da salvação, o Espírito Santo fecunda a sua cultura com a força transformadora do Evangelho. E assim, como podemos ver na história da Igreja, o cristianismo não dispõe de um único modelo cultural, mas «permanecendo o que é, na fidelidade total ao anúncio evangélico e à tradição da Igreja, o cristianismo assumirá também o rosto das diversas culturas e dos vários povos onde for acolhido e se radicar». Nos diferentes povos, que experimentam o dom de Deus segundo a própria cultura, a Igreja exprime a sua genuína catolicidade e mostra «a beleza deste rosto pluriforme»”. EXORTAÇÃO APOSTÓLICA ALEGRIA DO EVANGELHO DO PAPA FRANCISCO.
Tumblr media
0 notes
livrostraduzidos · 10 months
Text
"CAPÍTULO III.
SANTO IRINEU, OU A SOBERANIA DA IGREJA ROMANA.
A Epístola de São Clemente é mencionada em uma passagem notável na obra de Santo Irenseu contra as heresias. Ele acaba de dar a regra de fé da Igreja, que é o acordo com a Igreja de Roma, em razão de sua "soberania mais poderosa" em comparação com outras Igrejas. Ele então passa a falar de uma instância especial de seu exercício de soberania, viz. "a carta da Igreja em Roma aos coríntios em nome da (εἰς) paz", carta que ele descreve como a mais adequada ou poderosa (ἱκανωτάτην). Ele o descreve - de acordo com uma leitura, a Igreja de Roma, de acordo com outra, sua carta¹ - como "forçando-os juntos (συμβιβάζουσα αὐτοὺς) e renovando sua fé" entregando "a Tradição que recentemente recebeu dos Apóstolos" ou seja, São Pedro e São Paulo.
I. Na passagem da qual esta é a continuação, Santo Irineu, eu disse, dá a regra de fé católica. Nada pode ser mais claro e simples. É, em última análise, um acordo com Roma. O depósito da Fé foi entregue por nosso Senhor ao Colégio Apostólico; e se quisermos saber o que é essa fé, temos apenas que consultar uma Igreja Apostólica. Mas a maneira mais fácil de todas é consultar a Igreja de Roma, porque todos devem concordar com ela, ou (o que dá no mesmo) recorrer a ela. Ela foi fundada por dois Apóstolos, o mais glorioso de todos, assim afirma o santo, e sua Igreja é a mais renomada e a maior de todas. Ela tem uma soberania mais poderosa do que as demais e, por isso, todas as outras Igrejas devem recorrer a ela ou concordar com ela, para que nela, pela união com ela, os fiéis em todos os lugares tenham preservado o depósito da verdade revelada.
Tal é o claro ensinamento de nosso santo, que reuniu em si tais qualificações especiais para expressar a regra de fé da Igreja. Santo Irineu combina a experiência do Oriente e do Ocidente e une o segundo século com os tempos apostólicos. Ele era oriental e havia sido treinado por São Policarpo, que se sentara aos pés de São João. E ele era um Bispo Ocidental.
No tratado do qual foi retirado o resumo de seu ensinamento, que acabamos de apresentar, ele está empenhado em apontar o caminho pelo qual a Fé Cristã pode ser conhecida. O Dr. Lightfoot observa que, neste segundo século, "o episcopado é considerado agora não tanto como o centro da unidade eclesiástica, mas sim como o depositário da Tradição Apostólica". As duas coisas, porém, andam de mãos dadas. O próprio Santo Irineu os menciona juntos ao especificar os efeitos da carta de São Clemente como "obrigando-os à unidade e renovando sua Fé".² Foi como Guardiã da Fé que a Igreja de Roma presidiu a Igreja Universal. Santo Inácio fala dela como "presidindo no lugar da região dos romanos" (uma expressão que indica não a extensão, mas o centro de sua autoridade presidente), e diz que ela preside "na [aliança do] amor". Dr. Lightfoot traduz isso "no amor" em vez de "sobre o amor", e entende o amor, não como o dom sobrenatural do Espírito Santo, mas como "bondade prática", em uma palavra, filantropia, exemplificando sua grande generosidade em esmolas. Mas o Dr. Dollinger parece estar certo ao considerar "o amor" como o equivalente á "a Igreja".³ E foi como guardiã da Fé que a Igreja de Roma presidiu a aliança do Amor Divino. Isso envolvia ela sendo o centro da unidade; pois é da essência da tutela da Fé que apenas aqueles que devem ser admitidos no único corpo de ensino, ou permanecer nele, que mantêm a única Fé, e isso envolve uma autoridade central e fonte de decisão.
Ora, isto é o que também resulta da famosa passagem de Santo Irineu citada acima. A Igreja de Roma tem soberania e está ligada à preservação da Fé.
II. Mas, como diz o Dr. Dollinger, "por trezentos anos não faltaram escritores que se esforçaram para arrancar essas palavras de seu significado evidente".⁴
Tratarei aqui apenas dos que foram adotados por escritores deste país. Mas primeiro darei a tradução comumente adotada por escritores católicos, entre os quais tenho o prazer de poder contar Tillemont e Bossuet.
"É necessário que toda Igreja, isto é, os fiéis que estão em toda parte, concorde com esta Igreja; na qual aquela tradição que vem dos Apóstolos foi preservada por aqueles que estão em toda parte."
A esta exceção de renderização foi feita nos seguintes detalhes: -
(a) Diz-se que Santo Irineu não diz que toda Igreja deve concordar com a Igreja de Roma, mas deve recorrer a ela, e que por toda Igreja se entende os indivíduos entre os fiéis que encontram seu caminho para a cidade de Roma.⁵
Agora, pode-se admitir que as palavras convenire ad podem significar recurso físico, mas deve ser lembrado que é para a Igreja, não para a cidade de Roma, que este movimento centrípeto é dito ser "por necessidade". E é toda Igreja que deve recorrer à Igreja de Borne. As seguintes palavras — "aqueles que vêm de todos os lados" — explicam, mas não se deve permitir que eliminem, a palavra Igreja. É como comunidades organizadas, não como homens de negócios individuais, que toda Igreja deve recorrer à Igreja de Roma. A necessidade também dificilmente pode ser aquela que surge do fato de que Roma era o centro da vida secular. Homens que vieram vender seus produtos, consultar o mercado ou pleitear suas causas civis dificilmente são as pessoas que provavelmente promoverão a integridade da fé. Enquanto homens como Hegésipo chegaram a Roma, homens como Alexandre de Apamaea fizeram o mesmo. E, via de regra, são os ricos, ou os de mentalidade secular, ou os vadios de uma comunidade que dobram seus passos para a metrópole, e isso não contribuiria para a preservação da Fé. O mero fato de haver uma confluência de riachos não manterá as águas doces; deve haver algum poder preservador no centro.
Também não há necessidade de ver na palavra "necessário" nada mais do que uma atração profunda que atraiu homens à Igreja de Roma por outro motivo. A palavra usada por Santo Irineu é a palavra regular em latim eclesiástico, como é a palavra correspondente em grego, para tal necessidade. São Cirilo o usa como expressão da obrigação sob a qual ele estava escrevendo ao Papa sobre Nestório.⁶
É, portanto, mais natural traduzir convenire ad como "concordar com"⁷ e entender necesse est daquela necessidade que surgiu da posição de comando da Igreja de Roma e da operação sobrenatural do Espírito Santo. Mas mesmo se traduzirmos convenire ad "recorrer a", deve-se ter em mente que um recurso necessário de todas as Igrejas à Igreja de Roma implica supremacia nesta última.
(b) A que se devia a posição de comando da Igreja de Roma, segundo Santo Irineu? Nossa resposta é, à sua soberania superior, não apenas como apostólica, mas, como nos tempos posteriores, a Igreja Apostólica; ao fato de ter sido fundado, como diz Santo Irineu, pelos dois mais gloriosos apóstolos, ao qual devemos acrescentar o fato de que um desses dois mais gloriosos apóstolos era aquele a quem nosso Senhor havia dito: "Tu és Pedro", que significa uma associação especial com a Rocha das Eras.
O Dr. Pusey e o Sr. Keble entenderam pela palavra "soberania", apenas primitivismo ou origem. Eles viram que as palavras devem se aplicar à Igreja e não à cidade. O Dr. Dollinger despedaçou completamente em átomos esta mesma tradução, dada por Gieseler. "Die Haretiker wiirden naturlich einen Beweis fur diese absolute Nothwendigkeit einer Uebereinstimmung, die bios auf den Vorzug des Alters beruhen soil, gefordert, sie wurden erwiedert haben, dass jungere Gemeinden allerdings von dem Glauben der altern abweichen konnten."
Ele explora a ideia de que tal "conclusão ilógica jamais entrou na mente de Santo Irineu"; e ele mostra que a palavra "principalitas" significa nos escritos de Irineu "autoridade suprema" e aponta que Roma não era a Igreja mais antiga.⁸ De fato, pode-se acrescentar que Santo Irineu expressamente chama Jerusalém de mãe Igreja no ponto da antiguidade ("Haer." III. 12, 5).
(c) Mas enquanto entendem o "principado" como significando soberania, outros, como o Sr. Puller, o entendem como a posição imperial da cidade. Mas isso é absolutamente excluído pelo contexto. É a origem apostólica de qualquer Igreja que lhe confere, segundo S. IrenaBus, a sua posição de comando; é o caráter especialmente apostólico da Igreja de Borne que lhe dá sua posição peculiar entre as Igrejas apostólicas. Bossuet chama uma interpretação como a dada pelo Sr. Puller de "brincadeira" com o assunto; Hefele chama isso de "ridículo" (lacherlich); Perrone, "muito absurdo". Pois, como diz Bossuet, Santo Irineu estava falando, na frase anterior, da Igreja de Borne fundada pelos apóstolos Pedro e Paulo, não em seu aspecto imperial. E as palavras "mais poderosas" implicam comparação com as Igrejas ("todas as Igrejas") que ele mencionou ao mesmo tempo, e com as quais ele contrasta a Igreja de Roma como "a mais antiga e a mais universalmente conhecida".
(d) Alguns escritores, como o Sr. Gore e o Sr. Puller, enfatizaram muito a palavra traduzida como "em todo lugar". É literalmente "de todos os lados". E eles parecem imaginar que isso sugere a imagem de uma assembléia de fiéis de todos os bairros da cidade de Roma. Mas pode igualmente representar a visão de um escritor em relação aos fiéis como vivendo em todos os cantos do globo e conectados ao centro não por movimento físico, mas pelo vínculo de uma fé comum. É, no entanto, certo que a palavra é usada pelo intérprete latino e que a palavra correspondente em grego também foi usada por Santo Irineu (pois neste caso temos o original no Bodleian MS.), Para "em todos os lugares" simplesmente. Santo Irineu fala dos quatro Evangelhos como "respirando, ou soprando, incorruptibilidade em todos os lugares e vivificando os homens". A palavra para "todos os lugares" usada aqui é a mesma da passagem que estamos considerando;⁹ e é óbvio que significa uma radiação de um centro, e não vice-versa.
Além disso, Santo Irineu não diz que a tradição apostólica foi preservada por meio desses comerciantes, advogados, apelantes, hereges e fiéis que se reuniram aleatoriamente na cidade de Roma, mas por eles - o que reduz a suposição de que ele quis dizer esses viajantes de negócios a um absurdo.
Mais uma vez, a interpretação dada por Canon Bright (loc. cit.), viz. que a principalitas era "uma espécie de 'primazia'", envolvendo uma garantia moral de sua solidez de crença, o que levou Santo Irineu a dizer que toda Igreja que era fiel à tradição apostólica "deve necessariamente concordar com ela" - implica a mesma doutrina que ele está tentando excluir. Pois deve-se perguntar: Se todas as Igrejas ortodoxas estão necessariamente de acordo com a Igreja de Roma, o que é isso senão atribuir infalibilidade a essa Igreja? Isso, de fato, é o que Santo Irineu atribui a Roma, uma ascendência em questões de fé que faz de seu ensino o teste e a norma da fé católica. E assim ele continua mostrando que, de fato, outras Igrejas, como Esmirna e Éfeso, concordam com Roma.¹⁰
(e) Por fim, foi objetado que as palavras "na qual" (in qua) podem se referir a "toda Igreja" e não à Igreja de Roma. Mas isso, novamente, exige o absurdo de supor que toda Igreja Ortodoxa está necessariamente de acordo com Roma, e ainda que Roma não seja infalível, ou o mesmo absurdo de supor que os homens de negócios casuais que encontraram seu caminho para Roma para fins seculares mantiveram Nascidos na Fé - ou as pessoas, por exemplo, que trouxeram consigo o Romance Clementino. As palavras in qua são bem explicadas pelo Dr. Dollinger, como afirmando que os fiéis em todo o mundo estavam "dentro" da Igreja de Roma - isto é, em comunhão com ela como o centro da unidade. A palavra correspondente em grego seria aquela que é usada por São Paulo de nosso ser "em Cristo" e a frase exata do intérprete latino, cuja tradução é tudo o que temos desta passagem em Santo Irineu, é usada pelo Bispo africano, Sto. Optato, cuja obra Sto. Agostinho recomendou, viz. "na qual uma Cátedra [isto é, a Cátedra de Pedro] a unidade pode ser preservada", isto é, em comunhão com esta única Cátedra, etc.¹¹
O significado claro e simples, portanto, de Santo Irineu permanece em posse. Todas as Igrejas devem concordar com a Igreja de Roma, de modo que, se você conhece a fé da Igreja de Roma, conhece a fé de toda a Igreja Cristã."
- Pe. Luke Rivington, "The Primitve Church and the See of Peter", 1894, London, Longmans, Green, and Co., páginaS 32-38.
[1]. "Haer." lib. III. 3, 2.
[2]. "Haer." lib. III. 3.
[3]. "Gleich darauf nennt er sie προκαθημένη τῆς ἀγαπῆς, was nicht wie die alte lateinische Uebersetzung hat, praesidens in caritate heisst, sonst hatte Ignatius ἐν ἀγαπῆ gesagt; ἀγαπή bedeutet wie ἐκκλησία bald … auch die grosse auf Liebe gegrundete and durch Liebe zusammengehaltene Gemeinschaft aller Glaubigen," &c.
Cfr. para o uso do genitivo com προκαθημένη a carta de Teodoreto Leo usa προκαθημένη τῆς οἰκουμένης (presidindo o mundo) da Santa Sé.
[4]. "Geschichte der Christlichen Kirche", Landshut, 1833, B. 1, p. 355.
[5]. "Prim. SS". p. 36. "Gore's R. C. Claims", p. 97.
[6]. Cfr. infra, pág. 308. E veja também a carta do Concílio de Éfeso a São Celestino: ἔχρην ἅπαντα εἰς γνῶσιν τῆς σῆς ὁσιότητος ἀνενεχθῆναι τὰ παρακολουθήσαντα γράφομεν ἀναγκαίως (Labbe, T. III. p. 1196).
[7]. Esta é a tradução de Canon Bright em "The Roman Claims tested by Antiquity", página 8.
[8]. "Geschichte der Christlichen Kirche", p. 357.
[9]. "Haer." lib. III. cap. 11, n. 8. Grego; πανταχόθεν. Latim; undique. Cf. also pradicationem veto Ecclesiae undique constantem (24, 1), e pradicatio veritatis ubique lucet.
[10]. O Sr. Puller interpretou mal esta passagem.
[11]. "D. h. in ihrem Schoosse, in der Gemeinschaft mit ihr als dem Mittelpunkte der Einheit" (loc. cit. p. 358).
0 notes
painossodeus · 11 months
Text
Santo do dia: Santo Irineu
Padre da Igreja, grego de nascimento, filho de pais cristãos, nasceu na ilha de Esmirna, no ano 130. Foi discípulo de Policarpo, outro Padre e santo da Igreja. Dele Irineu pôde recolher ainda viva a tradição apostólica, pois Policarpo fora consagrado bispo pelo próprio João Evangelista, o que torna importantíssimos os seus testemunhos doutrinais. Continue reading Untitled
Tumblr media
View On WordPress
1 note · View note
pirapopnoticias · 1 year
Link
0 notes
rodadecuia · 1 year
Link
0 notes
studentgarden · 10 months
Text
O Papa e a sucessão apostólica
São Cipriano (+258), bispo de Cartago, defensor da unidade da Igreja:
O Senhor diz a Pedro: “Eu te digo que és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus”. O Senhor edifica a sua Igreja sobre um só, embora conceda igual poder a todos os apóstolos depois de sua ressurreição, dizendo: “Assim como o Pai me enviou, eu os envio. Recebei o Espírito Santo, se perdoardes os pecados de alguém, ser-lhes-ão perdoados, se os retiverdes, ser-lhes-ão retidos. No entanto, para manifestar a unidade, dispõe por sua autoridade a origem desta mesma unidade partindo de um só. Sem dúvida, os demais apóstolos eram como Pedro, dotados de igual participação na honra e no poder; mas o princípio parte da unidade para que se demonstre ser única a Igreja de Cristo… Julga conservar a fé quem não conserva esta unidade da Igreja? Confia estar na Igreja quem se opõe e resiste à Igreja? Confia estar na Igreja, quem abandona a cátedra de Pedro sobre a qual está fundada a Igreja?” (Sobre a Unidade da Igreja).
Santo Irineu (+202):
“Porque é com essa Igreja (de Roma), em razão de sua mais poderosa autoridade de fundação, que deve necessariamente concordar toda igreja, isto é, que devem concordar os fiéis procedentes de qualquer parte, ela, na qual sempre, em benefício dos que procedem de toda parte, se conservou a Tradição que vem dos apóstolos” (Contra as Heresias).
São Pedro Crisólogo (+450):
“No interesse da paz e da fé não podemos discutir sobre questões relativas à fé sem o consentimento do Bispo de Roma”.
São João Crisóstomo (+407), bispo de Constantinopla:
“Pedro, na verdade, ficou para nós como a pedra sólida sobre a qual se apoia a fé e sobre a qual está edificada a Igreja. Tendo confessado ser Cristo o Filho de Deus vivo, foi-lhe dado ouvir: “Sobre esta pedra – a da sólida fé – edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18).
Tornou-se enfim Pedro o alicerce firmíssimo e fundamento da Casa de Deus, quando, após negar a Cristo e cair em si, foi buscado pelo Senhor e por ele honrado com as palavras: “apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,15s). Dizendo isto, o Senhor nos estimulou à conversão, e também a que de novo se edificasse solidamente sobre Pedro aquela fé, a de que ninguém perde a vida e a salvação, neste mundo, quando faz penitência sincera e se corrige de seus pecados” (Haer. 59,c,8).
Eusébio de Cesareia (+340):
“Pedro e Paulo, indo para a Itália, vos transmitiram os mesmos ensinamentos e por fim sofreram o martírio simultaneamente” (História Eclesiástica, II 25,8)
Observação: A História da Igreja, desde cedo, mostra que os sucessores de São Pedro em Roma fizeram uso da sua jurisdição. Por exemplo na questão da data da festa da Páscoa, no século II, alguns cristãos da Ásia Menor não queriam seguir o calendário de Roma; o Papa São Victor (189-199) ameaçou-os de excomunhão (cf. Hist. Ecles. Eusébio V 24, 9-18). Ninguém contestou o Bispo de Roma, o Papa; e parecia claro a todos os bispos que nenhum deles podia estar em comunhão com a Igreja universal (já chamada de católica) sem estar em comunhão com a Igreja de Roma. Isto mostra bem o primado de Pedro desde o início da Cristandade.
Papa Pio XII – Encíclica Mystici Corporis Christi:
“Há os que se enganam perigosamente, crendo poder se ligar a Cristo, cabeça da Igreja, sem aderir fielmente a seu Vigário na terra. Porque suprimindo esse Chefe visível, quebrando os laços luminosos da unidade, eles obscurecem e deformam o Corpo místico do Redentor a ponto de ele não poder ser reconhecido e achado dentro dos homens, procurando o porto da salvação eterna”.
SOBRE A SUCESSÃO APOSTÓLICA
São Clemente de Roma (+102), Papa (88-97):
“Os apóstolos foram mandados a evangelizar pelo Senhor Jesus Cristo. Jesus Cristo foi enviado por Deus. Assim, Cristo vem de Deus e os apóstolos de Cristo. Essa dupla missão se sucede em boa ordem, por vontade de Deus. Assim, tendo recebido instruções, e estando plenamente convencidos pela ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, e confirmados na fé pela palavra de Deus, saíramos Apóstolos a anunciar, na plenitude do Espírito Santo, a boa nova da aproximação do reino de Deus. Iam pregando por campos e cidades, batizavam os que obedeciam o desígnio de Deus, e iam estabelecendo aos que eram as primícias dentre eles como bispos e diáconos dos futuros fiéis, depois de prová-los no Espírito Santo. E isto não era novidade, pois desde muito tempo estava escrito de tais bispos e diáconos” (n. VI).
“Renunciemos, portanto, às nossas vãs preocupações e voltemos à gloriosa e veneranda regra de nossa Tradição” (n. VII).
“Para que a missão a eles [apóstolos] confiada fosse continuada após a sua morte, impuseram a seus colaboradores imediatos, como que por testamento, o múnus de completar e confirmar a obra iniciada por eles, recomendando que atendessem a todo o rebanho no qual o Espírito Santo os colocara para apascentar a Igreja de Deus. Constituíram pois, tais varões e em seguida ordenaram que, quando eles morressem, outros homens íntegros assumissem o seu ministério” (Carta aos Coríntios 42,44).
“Também os nossos Apóstolos sabiam, por Nosso Senhor Jesus Cristo, que haveria contestações a respeito da dignidade episcopal. Por tal motivo e como tivessem perfeito conhecimento do porvir, estabeleceram os acima mencionados e deram, além disso, instruções no sentido de que, após a morte deles outros homens comprovados lhes sucedessem em seu ministério. Os que assim foram instituídos por eles, ou mais tarde por outros homens iminentes com a aprovação de toda a Igreja, e serviram de modo irrepreensível ao rebanho de Cristo com humildade, pacífica e abnegadamente, recebendo por longo tempo e da parte de todos o testemunho favorável, não é justo em nossa opinião que esses sejam depostos de seu ministério” (Cor 42, 1-3).
Essas palavras de São Clemente, discípulo de São Paulo como confirma a tradição, é da maior importância, pois nos mostram que foi desejo expresso dos Apóstolos que assim acontecesse a sucessão apostólica. É por isso que após a morte de São Pedro, a Igreja de Roma elegeu o seu sucessor, São Lino, depois Santo Anacleto, etc.
Tertuliano, Bispo de Cartago (+202):
“(…) Foi inicialmente na Judeia que [os apóstolos] estabeleceram a fé em Jesus Cristo e fundaram igrejas, partindo em seguida para o mundo inteiro a fim de anunciarem a mesma doutrina e a mesma fé. Em todas as cidades iam fundando igrejas das quais, desde esse momento, as outras receberam o enxerto da fé, semente da doutrina, e ainda recebem cada dia, para serem igrejas. É por isso mesmo que serão consideradas como apostólicas, na medida em que forem rebentos das igrejas apostólicas.
É necessário que tudo se caracterize segundo a sua origem. Assim, essas igrejas, por numerosas e grandes que pareçam, não são outra coisa que a primitiva Igreja apostólica da qual procedem. São todas primitivas, todas apostólicas e todas uma só. Para atestarem a sua unidade, comunicam-se reciprocamente na paz, trocam entre si o nome de irmãs, prestam-se mutuamente os deveres da hospitalidade: direitos todos esses regulados exclusivamente pela tradição de um mesmo sacramento.
A partir daí, eis a prescrição que assinalamos. Desde o momento em que Jesus Cristo, nosso Senhor, enviou os apóstolos para pregarem, não se podem acolher outros pregadores senão os que Cristo instituiu. Pois ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho tiver revelado.
E qual a matéria da pregação, isto é, o que lhes tinha revelado o Cristo?
Aqui ainda assinalo esta prescrição: para sabê-lo é preciso ir às igrejas fundadas pessoalmente pelos apóstolos, por eles instruídas tanto de viva voz quanto pelas epístolas depois escritas.
Nestas condições, é claro que toda doutrina de acordo com essas igrejas apostólicas, matrizes e fontes originárias da fé, deve ser considerada autêntica, pois contém o que tais igrejas receberam dos apóstolos – apóstolos de Cristo e Cristo de Deus. Ao contrário, toda doutrina deve ser pré-julgada como proveniente da mentira se se opõe à verdade dos apóstolos, de Cristo e de Deus.
Resta, pois, demonstrar que nossa doutrina, cuja regra formulamos acima, procede da tradição dos apóstolos e, por isso mesmo, as demais procedem da mentira. Nós estamos em comunhão com as igrejas apostólicas, se nossa doutrina não difere da sua: eis o sinal da verdade” (Da Prescrição dos hereges, XIII-XX).
Retirado do livro: “Escola da Fé – Vol. I – A Sagrada Tradição”. Prof. Felipe Aquino. Ed. Cléofas.
0 notes
Photo
Tumblr media
O nome deste evangelista significa: "Deus é misericordioso": uma profecia que foi se cumprindo na vida do mais jovem dos apóstolos. Filho de Zebedeu e de Salomé, irmão de Tiago Maior, ele também era pescador, como Pedro e André; nasceu em Betsaida e ocupou um lugar de primeiro plano entre os apóstolos.Jesus teve tal predileção por João que este assinalava-se como "o discípulo que Jesus amava". O apóstolo São João foi quem, na Santa Ceia, reclinou a cabeça sobre o peito do Mestre e, foi também a João, que se encontrava ao pé da Cruz ao lado da Virgem Santíssima, que Jesus disse: "Filho, eis aí a tua mãe" e, olhando para Maria disse: "Mulher, eis aí o teu filho". (Jo 19,26s).Quando Jesus se transfigurou, foi João, juntamente com Pedro e Tiago, que estava lá. João é sempre o homem da elevação espiritual, mas não era fantasioso e delicado, tanto que Jesus chamou a ele e a seu irmão Tiago de Boanerges, que significa "filho do trovão".João esteve desterrado em Patmos, por ter dado testemunho de Jesus. Deve ter isto acontecido durante a perseguição de Domiciano (81-96 dC). O sucessor deste, o benigno e já quase ancião Nerva (96-98), concedeu anistia geral; em virtude dela pôde João voltar a Éfeso (centro de sua atividade apostólica durante muito tempo, conhecida atualmente como Turquia). Lá o coloca a tradição cristã da primeiríssima hora, cujo valor histórico é irrecusável.O Apocalipse e as três cartas de João testemunham igualmente que o autor vivia na Ásia e lá gozava de extraordinária autoridade. E não era para menos. Em nenhuma outra parte do mundo, nem sequer em Roma, havia já apóstolos que sobrevivessem. E é de imaginar a veneração que tinham os cristãos dos fins do século I por aquele ancião, que tinha ouvido falar o Senhor Jesus, e O tinha visto com os próprios olhos, e Lhe tinha tocado com as próprias mãos, e O tinha contemplado na sua vida terrena e depois de ressuscitado, e presenciara a sua Ascensão aos céus. Por isso, o valor dos seus ensinamentos e o peso de das suas afirmações não podiam deixar de ser excepcionais e mesmo únicos.Dele dependem (na sua doutrina, na sua espiritualidade e na suave unção cristocêntrica dos escritos) os Santos Padres daquela (em Movimento do Rosário Permanente) https://www.instagram.com/p/CmrSHYzL9BW/?igshid=NGJjMDIxMWI=
0 notes
baumistico · 2 years
Link
0 notes
marianeaparecidareis · 6 months
Text
💐💐💐💐💐💐💐💐💐
EVANGELHO
Quinta Feira 30 de Novembro de 2023
℣. O Senhor esteja convosco.
℟. Ele está no meio de nós.
℣. Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo ✠ segundo Mateus
℟. Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 18quando Jesus andava à beira do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam lançando a rede ao mar, pois eram pescadores. 19Jesus disse a eles: “Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens”. 20Eles imediatamente deixaram as redes e o seguiram. 21Caminhando um pouco mais, Jesus viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João. Estavam na barca com seu pai Zebedeu, consertando as redes. Jesus os chamou. 22Eles imediatamente deixaram a barca e o pai, e o seguiram.
- Palavra da Salvação.
💐💐💐💐💐💐💐💐💐
- Comentário do Dia
💎 Como anunciar Cristo sem se encontrar com Ele?
“Quando Jesus andava à beira do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam lançando a rede ao mar, pois eram pescadores. Jesus disse a eles: ‘Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens’. Eles imediatamente deixaram as redes e o seguiram.”
Hoje nós celebramos com grande alegria a festa de Santo André, irmão de São Pedro, a quem a tradição se referiu como Protóclitos, ou seja, “o primeiro chamado”. Nós sabemos através do evangelho de São João como foi esse chamado, resumido no Evangelho de hoje. O Evangelho de hoje apresenta que Jesus, passando às margens da Galileia, encontrou dois irmãos e chamou os dois irmãos, Pedro e André. No entanto, o evangelho de João nos diz com mais especificidade que André era discípulo de São João Batista, e, sendo seu discípulo, João Batista indicou para ele o Cristo. Ele foi até Jesus e, tendo-o encontrado e permanecido com Ele, volta e convida São Pedro. Ou seja, São Pedro seguiu Jesus somente depois que André já era discípulo de Cristo e apresentou-o a ele. É interessante ver essa dinâmica extraordinária e apostólica. O Apóstolo é aquele que é convidado a estar com Jesus. O evangelho de São Marcos, quando fala da instituição dos doze Apóstolos e apresenta a lista deles, diz que Jesus “os fez Doze” e escolheu “aqueles que Ele quis para estarem consigo”. Essa é a primeira dinâmica da vida apostólica: estar com Jesus, viver com Jesus, como aconteceu com Santo André. Santo André encontra-se com Jesus e pergunta: “Mestre, onde moras?” Jesus disse: “Vinde ver”. Eles foram e permaneceram com Ele. Pois bem, essa realidade de permanecer com Cristo, de estar com Ele, de estar na intimidade de Jesus, de ser amigo de Jesus, é fundamental para a vida apostólica porque, se não há vida de oração, se não há vida íntima com Cristo, se não se encontrou com Ele, como se vai anunciá-lo? Essa é uma das realidades que as pessoas mais têm dificuldade de compreender. Todo o mundo quer evangelizar, todo o mundo quer ser pregador, todo o mundo quer falar da Palavra de Deus, todo o mundo quer testemunhar Cristo; mas vai testemunhar o que, se não se encontrou com Ele? Então, esta é a primeira realidade: buscar. “Mestre, onde moras?”, “Vinde ver”. É fundamental isso. Mas um Apóstolo não pode parar por aí. Ele precisa ter um ardor apostólico. Ele é um enviado, então deve ser missionário. Assim, quando André busca São Pedro para dizer que encontrou o Messias, temos o primeiro ato missionário dos Apóstolos. Os Apóstolos já começam, já nascem, desde a sua origem, com um ato de missionariedade, para testemunhar aquilo que encontraram. Nessa dinâmica apostólica, há um “vinde” estar com Jesus e um “ide” anunciar o Evangelho: vinde, ide; vinde, ide. É exatamente aquilo que a Conferência de Aparecida quis colocar como lema: nós somos “discípulos missionários”. Estar com Cristo e aprender com Cristo, para somente depois ir para o mundo e ensinar o Evangelho, porque, senão as coisas se invertem, e nós vamos ao mundo aprender com ele. Assim nos paganizamos, nos tornamos maus cristãos, mundanos, burgueses, satisfeitos e contentes com a nossa conformidade ao mundo moderno. Traímos a Cristo. Pois bem, Santo André, hoje, é para nós um exemplo de discípulo missionário. Que no Tempo do Advento nós tenhamos tempo para estar com Cristo, tempo de maior oração, para que possamos assim verdadeiramente anunciar a alegria do Natal do Cristo que vem para todos nós.
Deus abençoe você!
💐💐💐💐💐💐💐💐💐
Tumblr media
0 notes
pacosemnoticias · 2 years
Text
Símbolos da Jornada Mundial da Juventude chegam ao Porto de barco a 1 de outubro
Os símbolos da Jornada da Juventude vão chegar ao Porto na tarde do próximo dia 01 de outubro, depois de uma viagem de barco, pelo rio Douro, entre a Régua e a Ribeira do Porto.
Tumblr media
A chegada ao Porto está prevista para as 17h30, com a diocese a informar que, após a chegada, vão ser transportados “até à Sé, para o início oficial da peregrinação” pelas 22 vigararias, que se prolongará até ao final do mês de outubro.
Os símbolos – a cruz peregrina e o ícone de Nossa Senhora Salus Populi Romani — estão a realizar até ao fim de setembro a peregrinação pela diocese de Vila Real.
Os símbolos estarão em cada diocese nacional até à realização da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023 (JMJLisboa2023) cerca de um mês e a última a recebê-los será Lisboa.
Estes símbolos estiveram já, desde meados de 2021, em Angola, na Polónia e em Espanha, bem como nas dioceses portuguesas do Algarve Beja, Évora, Portalegre-Castelo Branco, Guarda, Viseu, Funchal, Angra, Lamego e Bragança-Miranda. No mês de agosto, viajaram também até Idanha-a-Nova, para o Acampamento Nacional de Escuteiros, e até Santiago de Compostela, para a Peregrinação Europeia de Jovens.
Tradicionalmente, nos meses que antecedem cada JMJ, “os símbolos partem em peregrinação para serem anunciadores do Evangelho e acompanharem os jovens, de forma especial, nas realidades em que vivem”, informa a organização da Jornada.
Com 3,8 metros de altura, a Cruz peregrina, construída a propósito do Ano Santo, em 1983, foi confiada por João Paulo II aos jovens no Domingo de Ramos do ano seguinte, para que fosse levada por todo o mundo. Desde aí, a Cruz peregrina, feita em madeira, iniciou uma peregrinação que já a levou a quase 90 países.
“Foi transportada a pé, de barco e até por meios pouco comuns como trenós, gruas ou tratores. Passou pela selva, visitou igrejas, centros de detenção juvenis, prisões, escolas, universidades, hospitais, monumentos e centros comerciais. No percurso enfrentou muitos obstáculos: desde greves aéreas a dificuldades de transporte, como a impossibilidade de viajar por não caber em nenhum dos aviões disponíveis”, segundo uma nota sobre a JMJLisboa2023, acrescentando que “em 1985 esteve em Praga, na atual República Checa, na altura em que a Europa estava dividida pela cortina de ferro, e foi aí sinal de comunhão com o Papa”.
“Pouco depois do 11 de setembro de 2001, viajou até ao Ground Zero, em Nova Iorque, onde ocorreram os ataques terroristas que vitimaram quase 3.000 pessoas. Passou também pelo Ruanda, em 2006, depois de o país ter sido assolado pela guerra civil”, adianta a nota.
Já o ícone de Nossa Senhora Salus Populi Romani, que retrata a Virgem Maria com o Menino nos braços, tem 1,20 metros de altura e 80 centímetros de largura, e está associado a uma das mais populares devoções marianas em Itália.
“É antiga a tradição de o levar em procissão pelas ruas de Roma, para afastar perigos e desgraças ou pôr fim a pestes. O ícone original encontra-se na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, e é visitado pelo Papa Francisco que ali reza e deixa um ramo de flores, antes e depois de cada viagem apostólica”, acrescenta o documento divulgado pelo gabinete de comunicação da JMJLisboa2023.
Lisboa foi a cidade escolhida pelo Papa Francisco para a próxima edição da Jornada Mundial da Juventude, que vai decorrer entre os dias 01 e 06 de agosto de 2023, com as principais cerimónias a terem lugar no Parque Tejo, a norte do Parque das Nações, na margem ribeirinha do Tejo, em terrenos dos concelhos de Lisboa e Loures.
As JMJ nasceram por iniciativa do Papa João Paulo II, após o sucesso do encontro promovido em 1985, em Roma, no Ano Internacional da Juventude.
A primeira edição aconteceu em 1986, em Roma, tendo já passado por Buenos Aires (1987), Santiago de Compostela (1989), Czestochowa (1991), Denver (1993), Manila (1995), Paris (1997), Roma (2000), Toronto (2002), Colónia (2005), Sidney (2008), Madrid (2011), Rio de Janeiro (2013), Cracóvia (2016) e Panamá (2019).
A edição de 2023, que será encerrada pelo Papa, esteve inicialmente prevista para este ano, mas foi adiada devido à pandemia de covid-19.
0 notes