Tumgik
nafuma · 6 years
Text
O vídeo de Four out of Five e a reconstrução do Arctic Monkeys
Por: Amanda Jardim
youtube
Em entrevista recente à BBC Radio, o frontman Alex Turner fala de sua inspiração para nomear o último álbum do Arctic Monkeys: “Eu sinto como se todos os meus álbuns favoritos fossem lugares que você poderia visitar e passar um tempo se quisesse. Então me parece que faz sentido nomear o álbum com o nome de um lugar”. O Tranquility Base Hotel + Casino seria então este lugar imaginário em que somos convidados pela banda a visitar e se hospedar por um tempo, como chama o refrão de Four out of Five, o primeiro single do álbum que teve seu vídeo lançado semana passada: “Take it easy for a little while/Come and stay with us”. 
Tumblr media
O convite no refrão de Four out of Five em destaque no vídeo
Esse lugar imaginário, no entanto, não parece ter sido feito do zero, mas sim reconstruído a partir de algo antigo. Outro verso de Four out of Five sugere isso: “And you won’t recognize the old headquarters”. Enquanto em Batphone essa reconstrução parece ser melhor detalhada: “They have re-decorated it all/They've changed all the lights and the bar's down the side”. Essa ideia de reconstrução pode passar despercebida enquanto se escuta o álbum, mas fica clara no vídeo de Four out of Five. Depois de sermos apresentados a esse novo lugar através das letras das músicas e da maquete do projeto na capa do álbum (maquete esta inclusive construída pelo próprio Turner), aparentemente somos apresentados ao processo de criação deste lugar-álbum no vídeo do primeiro single. Não é sem motivo que ele começa com o lider do Arctic Monkeys sentado ao piano, instrumento que segundo ele foi o ponto de partida do álbum. Ainda na entrevista à BBC Radio, ele explica como não poderia voltar a fazer a mesma música do álbum antecessor, o AM de 2013: “A guitarra pareceu perder a sua habilidade de me dar ideias (...), o que era completamente contrário à maneira como eu me sentia quando sentava neste piano. De repente a minha imaginação estava em ignição novamente”.
Tumblr media
Alex sentado ao piano, o início de tudo
Turner então levanta do piano e caminha por um corredor em direção a outra sala, quando vemos o que parece ser um flashback de um segundo Alex caminhando por um túnel (este Alex não nos é estranho, mas voltaremos nele adiante). Enquanto isso, vemos pelas costas de Alex uma luz vermelha irradiar da sala do piano enquanto ele a deixa. A cor vermelha será um elemento de destaque recorrente no vídeo, que também entenderemos melhor à frente.
Tumblr media
  Quem seria o outro Alex?
Tumblr media
Alex caminha para longe da sala do piano e da luz vermelha.
Tumblr media
Em um dos flashbacks, vemos o outro Alex caminhando em direção à mesma luz.
Alex chega então a uma sala diferente, onde vemos a maquete da capa do álbum. Aqui parece ser o momento em que ele começa a colocar em prática o projeto que teve início com a inspiração trazida pelo piano. Da maquete passamos para a cena em que ele e o baixista Nick O’Malley visualizam a planta e o que parece ser a oferta de um dos serviços que o futurístico complexo de hotel e casino na lua vai oferecer: Virtual Reality Packages, mais uma das menções a tecnologia e ficção científica que permeiam o tema do álbum. A sequência do vídeo até aqui e a aparição de Nick também reforça o processo de criação do álbum já mencionado por Alex em diversas entrevistas: ele começou compondo sozinho no piano e depois aprimorou o projeto em grupo com a banda. O cachorro que acompanha Alex parece representar a sua única companhia na fase em que escrevia sozinho, como ele sugere em outra entrevista recente à revista francesa Les Inrockuptibles, enquanto fala sobre a ansiedade que acompanha o lançamento de um novo álbum: “Tudo de repente acelera, e eu começo a me arrepender dos dias em que eu estava sozinho em casa, escrevendo ao lado do meu cachorro, sem planejamento nenhum”.
Tumblr media
O cachorro que acompanha Alex para fora da sala do piano era sua única companhia na fase em que ele escrevia sozinho.
Tumblr media
Das primeiras ideias no piano até o conceito do lugar-álbum representado pela maquete
Tumblr media Tumblr media
A aprimoração do projeto em parceria com o restante da banda
A cor vermelha volta a aparecer nos uniformes de trabalhadores que parecem estar seguindo a liderança de Alex na execução deste projeto. Enquanto ele assiste o outro Alex ainda caminhando pelo mesmo túnel de metrô (filmado na estação Marienplatz, em Munique, Alemanha) em direção a algum lugar. Estamos mais perto de descobrir o que a cor vermelha representa, quem é esse Alex e aonde ele está indo.
Tumblr media
Alex comanda os trabalhadores de uniforme vermelho que parecem executar uma reforma do hotel.
Tumblr media
Alex assiste com uma expressão pensativa o outro Alex caminhando em direção a algum lugar pelo túnel.
Tumblr media
Cenas externas finalmente nos dão uma perspectiva melhor do lugar em que se passa o vídeo: trata-se do castelo Howard, em Yorkshire, Inglaterra, que já foi palco de diversas filmagens de filmes, mas talvez o mais relevante aqui seja Barry Lyndon, de 1975, dirigido por Stanley Kubrick. Não há cineasta melhor para se referenciar em um vídeo sobre hotéis e ficção científica, e essa referência não está apenas na locação do vídeo, mas também nas cenas filmadas em perspectiva com um ponto de fuga (curiosamente, o nome da segunda faixa do álbum é One Point Perspective) e o clima por vezes sinistro que pode lembrar cenas de O Iluminado, de 1980.
Tumblr media
A locação do vídeo é a mesma do filme Barry Lyndon, de Stanley Kubrick.
Tumblr media
Cenas filmadas em perspectiva com um ponto de fuga e o clima por vezes assustador do vídeo também parecem fazer refer��ncia ao cineasta e ao filme O Iluminado.
O outro Alex finalmente deixa o túnel e chega ao seu destino, que descobrimos ser o hotel aonde o Alex do piano está. Aqui começamos a entender que o Alex do piano estava tentando conduzir o outro Alex a este lugar, e a identidade deste outro Alex começa a ficar clara. O visual sem barba e com cabelo penteado com gel, lembra muito o visual do cantor em 2013, na era AM. A sugestão aqui é a de que o hotel aonde eles se encontram representa a banda no passado, em seu último álbum. E o Alex do presente, o de barba e no piano, está tentando conduzir o outro Alex do passado à uma reconstrução desse lugar, à uma reconstrução da própria banda. Quando ele canta “You won’t recognize the old headquarters” ele pode estar se referindo ao fato de que você não vai reconhecer o AM neste novo álbum, e em consequência, o próprio Arctic Monkeys.
Tumblr media
O vídeo atinge seu ápice quando o Alex do passado abre com a chave do Tranquility Hotel + Casino a porta para o futuro da banda. Aqui vemos que a cor vermelha representa esta mudança, já que é a luz que o Alex do passado encontra ao abrir a porta e que o conecta ao Alex do presente e à sala do piano.
Tumblr media
O Alex do passado contempla o que a banda costumava ser (o AM) e percebe que precisa caminhar em uma direção diferente.
O Alex do presente atinge então o seu objetivo, quando assiste pelos monitores o Alex do passado e o restante da banda tocando a música do novo álbum. Ele conseguiu levar a sua antiga versão e o Arctic Monkeys aonde queria.
Tumblr media
O Alex do presente está no comando durante toda a performance da banda.
Tumblr media
O Alex do passado está ali apenas para representar a trajetória que o Alex do presente precisou percorrer até chegar neste álbum
O vídeo então nada mais é do que a narrativa de como este novo lugar-álbum foi criado, e pode servir como um teaser para o que vem a seguir. Na última cena, quando Alex parte de carro, vemos no canto superior esquerdo da tela, flutuando no céu, o que parece ser o novo hotel. Esse cliffhanger pode sugerir que talvez conheceremos de fato o Tranquility Base Hotel + Casino em uma continuação em um próximo vídeo. Nos resta esperar pelo convite.
Tumblr media
22 notes · View notes
nafuma · 6 years
Text
Análise Tranquility Base Hotel + Casino  - Arctic Monkeys
Tumblr media
Convenhamos, Tranquility Base Hotel + Casino não era exatamente o que se esperava do Arctic Monkeys mesmo que ninguém soubesse ao certo o que aguardar do sexto álbum da banda de Sheffield, e provavelmente essa foi a melhor (se não a única possível) decisão para se manterem relevantes. Após percorrer diversas vezes as onze músicas do registro, chega-se a conclusão de que enquanto o bem sucedido álbum antecessor (AM de 2013) te arrastava noite adentro para uma festa que saiu do controle, TBHC é sem dúvidas a manhã seguinte. O ouvinte é recepcionado nos primeiros segundos como se tivesse sido acordado na beira de uma piscina com uma roupa que definitivamente não é a sua e ainda zonzo tentando recobrar a consciência, escuta ao fundo o monólogo de Alex Turner que atravessa os quase seis minutos da Star Treatment em um fluxo ininterrupto de arrependimentos, analisando todos os excessos dos anos anteriores com rara exposição como na linha de abertura "I just wanted to be one of The Strokes/Now look at the mess you made me make". Inevitavelmente em algum momento a conta teria que chegar e nos vemos diante deste sujeito emulando Serge Gainsbourg em constante auto-análise e remorso, nos conduzindo às instalações desse lugar fictício fixado em superfície lunar apenas para demonstrar o estrago digno da década de extremo hedonismo que foram os anos 70 no qual reside grande parte da sonoridade deste álbum.
Tumblr media
Quase meia década se passou entre AM e TBHC e mesmo que o nome do Alex Turner continuasse rondando por aí com Mini Mansions, Alexandra Savior e a volta do The Last Shadow Puppets, e por outro lado o baterista Matt Helders participando do últmo álbum da lenda viva Iggy Pop, poucas pistas poderiam nos levar ao caminho que o Arctic Monkeys poderia seguir, talvez até mesmo para a banda o futuro era incerto. A já conhecida história do piano que Alex Turner recebeu de presente de aniversário, se tornou ponto pivotante não só para a sonoridade do novo álbum mas também de Turner enquanto compositor, produtor e cantor e o Arctic Monkeys enquanto banda. Se um AM 2 não era uma opção, pela primeira vez parecia que a banda não tinha mais por onde seguir e saltar de um álbum que tinha como referências Dr. Dre, TLC, Black Sabbath, Outkast, Velvet Underground para nomes improváveis ou desconhecidos como Nino Ferrer, The Electric Prunes, Alan Hull, Serge Gainsbourg e até o nosso Lô Borges (um dos responsáveis por um dos melhores álbuns brasileiros já feitos, o Clube da Esquina de 1972, junto com Milton Nascimento entre outros)  foi necessária uma dose de coragem cuja responsabilidade Alex Turner tomou para si antes mesmo de apresentar suas demos aos companheiros de banda.
Tumblr media
Se a faixa de abertura já podia causar estranheza aos desavisados, One Point Perspective na sequência nos faz presenciar a banda abdicando de qualquer refrão ou riff que possa nos remeter aos antigos trabalhos e (felizmente) elimina de vez qualquer esperança de um som familiar que pudesse confortar um fã avesso à mudanças. A delicada melodia conduzida por simples notas no piano e uma envolvente linha de baixo (esse sim um instrumento de grande importância na construção do TBHC) cria um espaço no qual a voz de Alex Turner toma uma liberdade só vista nas apresentações ao vivo da banda na última turnê (e também no The Last Shadow Puppets) com direito a falsetes e grandes transições em sua extensão vocal. Quando chegamos em American Sports,  Alex reforça e apresenta vários temas recorrentes no álbum como crítica a tecnologia, ficção científica e religião. Se até então o talento de letrista era lapidado a cada lançamento, rondando temas que giravam em torno principalmente sobre amor/relacionamentos, Turner aprende a lição com a fraca letra da b-side 2013 lançada na época do AM e faz um álbum inteiro desafiando sua capacidade de abordar temas atuais e complexos tendo como contraponto uma sonoridade que remete a quatro décadas atrás.
Tumblr media
O grande perigo ao condensar em letras diversas referências de uma só vez, é cair na armadilha de ter palavras jogadas à esmo soando como um mero exercício de vocabulário e/ou tema, deslize esse presenciamos ao ouvir Golden Trunks com clara e fraca referência ao presidente dos EUA Donald Trump, não funcionando como crítica ou sátira forte o suficiente que justifque destaque. Já a faixa-título guiada por uma robusta linha de baixo (uma das melhores em toda a discografia da banda) e repleta de camadas de sintetizadores, guitarras e diversos outros efeitos que se revelam cada vez que ouvimos, dialoga e entrega equilíbrio abordando crenças e a tecnologia que alimenta e estimula nossas próprias obsessões.  A habilidade de Alex Turner como compositor se manifesta ao abrigar todos esses temas ásperos liricamente ao se distanciar da realidade, espaço (até a lua se possível) e tempo para poder analisá-la à partir de uma perspectiva mais livre e poética possível. Four Out of Five, ponto alto do álbum é o raro momento que sentimos que a banda toda está envolvida e é justamente o instante que todas essas tentativas se amarram de forma plena. A bateria na introdução remanescente da época do AM, a estridente guitarra, o refrão de fácil assimilação nessa música que é uma estranha e impensável mistura entre Moonage Daydream de David Bowie e Hotel California do Eagles, abriga temas inimagináveis em trabalhos anteriores da banda como gentrificação, relação entre informação e como seu receptor age diante dela (é o information action ratio, conceito criado por  Neil Postman, vale ler mais sobre) sátira sobre a inexplicável necessidade atual em avaliarmos tudo, se intercalando e justapondo até o apoteótico encerramento, abrindo  dessa forma um leque de possibilidades que a banda não experimentava desde quando decidiu desafiar seus fãs pela primeira vez ao abandonar sua fórmula “indie-rock” contida nos dois primeiros álbuns (Whatever People Say I Am, That’s What I’m not de 2006 e Favourite Worst Nightmare do ano seguinte) ao lançar o stoner Humbug em 2009.
youtube
Seria uma pena se esse fosse o último álbum da banda como rumores andam sugerindo, ao mesmo tempo permance uma aula de liberdade artística rara em bandas de rock. Muito se discute sobre bandas que disputavam espaço ombro a ombro com o Arctic Monkeys como The Kooks (que hoje em dia contenta-se a lançar e fazer turnê de greatest hits) Franz Ferdinand, Kings of Leon e até mesmo The Strokes, e hoje sucumbiram ao ostracismo ou repetição de suas próprias fórmulas, dessa forma é impensável repreender o esforço de uma banda que possui uma discografia irretocável, em subverter os próprios conceitos em seu sexto álbum de estúdio. The Ultracheese que fecha o Tranquility Base é um bom exemplo do quão longe foi empurrado o limite que a banda pode alcançar. Apesar de soar como em outros momentos do álbum (Batphone por exemplo, um outro ponto alto da evolução dos vocais de Turner) como um trabalho solo de Alex Turner, o encontro entre Elton John e John Lennon em sua fase Plastic Ono Band com toques de jazz e curtas incursões de guitarra, encerra com a mesma sinceridade que os primeiros versos do álbum, sem sentimentos escondidos por palavras rebuscadas, encontrando dessa forma, beleza nos simples versos “I've done some things that I shouldn't have done/But I haven't stopped loving you once” que podem ressoar de forma distinta a cada ouvinte.
Apesar do método de gravação ter envolvido muito mais músicos (o produtor James Ford assume diversos instrumentos, há backing vocal do baixista do Tame Impala, entre outras participações) que os integrantes originais da banda numa tentativa de criar uma atmosfera parecida como as gravações de álbuns clássicos como Pet Sounds do Beach Boys, o resultado ainda contém muito da essência do quarteto, dessa vez carregado com a maturidade e sonoridade que se espera de músicos com mais de uma década de carreira. Matt Helders, baterista conhecido como força motor de muitos dos hits da banda assume conscientemente dessa vez uma posição de servir a música e não liderá-la, visão essa compartilhada pela lenda viva Bob Dylan sobre a função da bateria em suas músicas (como dito nessa entrevista). As guitarras também seguem esse conceito se sobressaindo em momentos oportunos como no curto e eficiente solo de She Looks Like Fun (apesar do refrão pouco inspirado que tira boa parte do brilho do restante da música) dessa forma, esse aparente minimalismo pode ser visto como equilíbrio que a banda busca cada vez mais em sua composições, bem longe da avalanche de sons que eram as músicas do início de carreira como Brianstorm e condiziam com as intenções e fase da banda na época.
Tumblr media
Tranquility Base Hotel & Casino é um álbum corajoso que apesar de não ter todas as ideias amadurecidas, triunfa ao fazer a banda bifurcar seu caminho mais uma vez, seja em sonoridade e/ou lirismo, derrubando mais uma barreira de qual forma o Arctic Monkeys deve soar. Desafiando o ouvinte a dedicar atenção cada vez mais rara em tempos de streaming (reiterando a crítica ao imediatismo que a tecnologia proporciona) TBHC presenteia quem se dá ao luxo de descobrir cada uma de suas camadas sonoras e temas que podem abrir incontáveis abas para compreender e absorver as diversas referências ao longo dos 40 minutos do registro. Uma banda cuja discografia é tão diversa, ainda parece longe de ter alcançado seu limite criativo, de qualquer forma, estamos diante de um caso raro que merece ser observado e aproveitado como foi concebido e não como achamos que deveria.
-Fabio Rocha Ferreira
Clique aqui para ouvir a nossa playlist do álbum junto com as referências citadas pela banda
11 notes · View notes
nafuma · 7 years
Text
“They can say what they want now, but they'll never do what we've done”
Tumblr media
O som proveniente das  caixas de som estouradas se revelava aos poucos ao passo que eu descia a estreita escadaria que me levaria a um subsolo escondido na Alameda Franca. Naquele instante, todos ali espremidos estavam submetidos a um calor que nenhum ar-condicionado poderia dar conta e tentavam encontrar refresco em alguma cerveja barata /quase morna, mas nada disso era um empecilho naquele período, dez anos atrás.
Nada que estava da porta pra fora importava quando se estava desorientado, seja pela bebida ou a fumaça de cigarro misturada com gelo seco que preenchia o espaço, e parecia que tudo o que saída daquelas caixas tinha sido criado sob medida para aquelas intermináveis madrugadas. De repente veio um estrondo, bateria, guitarra e baixo funcionaram em conjunto dando um soco que era impossível identificar de onde veio. Naquele momento, todos sem exceção em um momento que nunca mais presenciei, cantaram como se a própria vida dependesse disso. Eram os primeiros acordes de Brianstorm do Arctic Monkeys, naquela que devia ter sido a primeira vez que a música estava sendo tocada na dj club.
Naquele ingênuo período no qual meninos tentavam se aproximar cada vez mais das calças skinny e cabelo bagunçado para ter a mínima chance durante a noite, São Paulo ainda engatinhava as primeiras festas de música “indie” que hoje já sucumbiram ao desgaste. Deviam existir duas ou três casas que se atreviam a tocar coisas que só se conseguia encontrar em horários restritos na MTV ou garimpando blogs, Myspace, Orkut, Last.fm etc. Provavelmente era a primeira geração a se conhecer ao vivo por conta da internet, fosse na fila da finada funhouse ou de algum show, sem nem ao menos considerar isso estranho ou perigoso, mesmo que só conhecesse o outro por um avatar em algum fórum de música obscuro.
Os encontros na catraca do metrô consolação, a sensação de descer a rua Augusta procurando qualquer bar barato que pudesse acolher tanta gente ávida a viver como se tivesse nas letras de From the Ritz to the Rubble, ou cada lançamento discutido em um período prolífico no qual bandas pareciam surgir a cada semana, nos dava a certeza que tudo era permitido, imediato e efêmero. Quem teria coragem de nos dizer que lotar um hd com mp3 era errado? Não era um problema também ser o único da sala a gostar de Strokes se você pudesse discutir em alguma comunidade se o Is This It era tão melhor que o Room On Fire ou não, além dos shows que começavam a se multiplicar que nem em sonho alguém parecia disposto a bancar anos antes. O período entre 2010 e 2015 no qual todas as bandas indies da época “descobriram” o país, tornava tudo mais próximo e real e dessa forma uma geração aos poucos se moldava se descobria e se relacionava, por conta própria sem a limitação ou estímulo externo.
Essa semana uma edição de um desses shows/festivais completou dez anos. O Tim Festival 2007 que em todas as suas edições teve uma curadoria impecável, (de Wilco a Kanye West, de Daft Punk a Patti Smith) apostou em nomes como Björk, Hot Chip e as primeira visita de duas bandas que viriam a se tornar dois exemplos obrigatórios do período: Arctic Monkeys e The Killers. Era a primeira oportunidade para algumas pessoas (eu incluso) de ver ao vivo quem já residia no fone de ouvido há um bom tempo, e a sensação da expectativa criada desde o momento da fila até ao apagar das luzes momentos antes da sua banda favorita entrar no palco é algo que se experimenta com tamanha intensidade apenas uma única vez e naquela época na qual as primeiras vezes de muitas coisas vinham a todo instante hoje não são nada além do que um borrão e isso não é ruim. Pouco importava se o Alex Turner entrou e saiu do palco trocando duas ou três palavras com o público ou o show do The Killers ter acabado quase com o sol raiando em plena segunda-feira. As conversas da fila, ver e virar fã ali de imediato do espetáculo que era o show da Björk, a coragem de ir sozinho pela primeira vez em um evento daquele com apenas o dinheiro da passagem de volta no bolso, fazia parte do ritual que serve como ponte entre a adolescência e o começo da vida adulta, o famoso “come of age”.
Dali em diante mais shows viriam, mais garrafas se agrupavam em mesas de bar, ver o nascer do sol entre os prédios da Avenida Paulista se tornaria rotina, e aos poucos a única chance de ser livre e irresponsável começava a dar sinais do fim. Talvez ouvir e cantar “see you later, innovator” cinco anos depois em uma festa não tivesse mais o mesmo apelo, os shows continuariam a vir, é claro, e a música continuaria norteando todo o resto, mas a sua percepção de tempo se torna mais ampla. Alguns provavelmente não estavam preparados para esse momento  (na realidade talvez ninguém esteja) e a um certo custo tentavam replicar aqueles mesmos instantes, mas nada pode fazer você reverter isso.
Uma década não é algo tão assustador quanto parecia ser. Poucas bandas da época ainda lançam algo significativo, eu mesmo não suportaria ir em uma festa e ouvir Take Me Out pela milésima vez. Muitos podem cair na tentação de criticar por não entender o valor que os que vieram depois dão a determinadas coisas, e a linha tênue que separa a saudade de certa época entre algo bom e ruim é difícil de perceber. Nos raros momentos que desço a Augusta e vejo um grupo desbravando tudo pela primeira vez cantando em voz alta, eu percebo que tudo é válido, que façam e descubram tudo por conta própria, que tenham também a primeira vez. O tempo só me mostrou e me confortou sobre a finidade das coisas, das relações, do que você absorve, do que quer pra si ou deixar passar, e só assim ainda há espaço para se permitir a continuar a ter “as primeiras vezes”, que a nostalgia não me cegue.
4 notes · View notes
nafuma · 8 years
Photo
Tumblr media Tumblr media Tumblr media Tumblr media Tumblr media
Feels Like We Only Go Backwards
457 notes · View notes
nafuma · 8 years
Audio
Agora vai!
9 notes · View notes
nafuma · 8 years
Text
mixtape: 04_16 - MELHORES DE ABRIL
Tumblr media
Nossa mixtape de abril já tá no ar!!!!!
→ http://nafuma.com.br/mixtape-04_16-melhores-de-abril/
0 notes
nafuma · 8 years
Photo
Tumblr media
some people report receiving this in the post today. well, shit.
319 notes · View notes
nafuma · 8 years
Text
Views
Keep The Family Close
Tumblr media
Pop Style
Tumblr media
Weston Road Flow
Tumblr media
U With Me?
Tumblr media
Controlla
Tumblr media
Grammys 
Tumblr media
One Dance 
Tumblr media
Hype
Tumblr media
Still Here
Tumblr media
Childs Play
Tumblr media
With You
Tumblr media
Redemption
Tumblr media
9
Tumblr media
Faithful
Tumblr media
Views
Tumblr media
Too Good
Tumblr media
Fire & Desire
Tumblr media
484 notes · View notes
nafuma · 8 years
Video
vine
When you hear #VIEWS for the first time :’( 
0 notes
nafuma · 8 years
Photo
Tumblr media Tumblr media Tumblr media
Drake be lookin like the GTA loading screen
15K notes · View notes
nafuma · 8 years
Photo
Tumblr media Tumblr media Tumblr media
😂😂😂 #VIEWS
Edits by me.
25K notes · View notes
nafuma · 8 years
Photo
Tumblr media
Uma playlist unica e exclusivamente feita para todas as mulheres.
Ouça → http://nafuma.com.br/mixtape-dia-das-mulheres/
1 note · View note
nafuma · 8 years
Photo
Tumblr media
O Kendrick Lamar é foda mesmo. 
Leia nossa resenha para o álbum de demos do “writer”, untitled unmastered.
2 notes · View notes
nafuma · 8 years
Photo
BEST ALBUM OF ALL TIMES → http://nafuma.com.br/resenha-the-life-of-pablo-kanye-west/
Tumblr media
3K notes · View notes
nafuma · 8 years
Photo
Quando ouvimos o The Life Of Pablo → http://nafuma.com.br/resenha-the-life-of-pablo-kanye-west/
Tumblr media
3K notes · View notes
nafuma · 8 years
Photo
Um o que você deveria estar ouvindo com o Majid Jordan →http://nafuma.com.br/majid-jordan-2016/
Tumblr media Tumblr media Tumblr media Tumblr media Tumblr media Tumblr media Tumblr media Tumblr media Tumblr media
1K notes · View notes
nafuma · 8 years
Audio
Same
→ http://nafuma.com.br/majid-jordan-2016/
This is without a doubt the best song off of this album. Song of the day.
41 notes · View notes