Tumgik
é feito destes momentos o domingo
vão-se os últimos rasgos de sol do dia
sento-me na varanda
numa cadeira velha de praia
a vê-los ir
tenho roupa no estendal
vista para prédios
mas que importa?
abro um livro no colo
leio em voz alta
espanto-me com a poesia que existe
nestes sopros do quotidiano
mergulho fundo nos universos
que alguém desenhou
sou homem, mulher,
criança,
mundo
apaixono-me, arrisco,
tenho medo, abandono,
desisto,
dou-me à morte
tudo
enquanto um bebé algures chora
e a vizinha da frente sacode os tapetes da entrada
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Holocene
O recinto cheio de pessoas que se moviam entre gargalhadas, a tentar chegar a algum lado, ou a lado nenhum. Cerveja a entornar-se, conversas de bar, casais que trocavam beijos, entrelaçavam braços, mãos, corpo todo. E, no meio da multidão, ali estava eu. 
Sozinha. 
De mãos nos bolsos e olhos no palco. Coração na boca. Cabeça na sucessão de acontecimentos dos últimos anos. Cara fria ao vento. A sentir a chegada das lágrimas que nunca rebentaram.
(Vergonha?)
And at once I knew I was not magnificent
Lembrei-me de onde estava quando ouvi estas canções pela última vez e do tanto que mudou desde então. 
O tanto que descobri e o tanto que me desencantei.
Choro agora.
Sozinha.
Lágrimas gordas e pesadas.
Está para começar uma vida nova.
Levo-me só a mim. 
(Não foi assim que me convenci de que seria mais forte?)
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A felicidade dos outros às vezes deixa-nos tristes.
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E quanto deixamos de pertencer a um lugar, mas não temos outro sítio para transformar em nossa casa?
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Nada
Despida, ao espelho, odiou tudo.
Olhou para dentro. Não encontrou nada.
Na cabeça, movimento e barulho como se da cidade eleita como melhor destino europeu se tratasse. Imagens, memórias, sonhos, medos. Sucedia-se tudo em catadupa, a uma velocidade descontrolada.
[No entanto]
Se conseguisse ouvir o coração, não duvidava: ecoaria um silêncio ensurdecedor.
[Não é como se fosse completamente inesperado, mas agora era facto.]
A dor é um veneno, mas o antídoto pode também fazer estragos irreparáveis. Foram-se todas as lágrimas. Em troca, ficou uma casa inabitável dentro do peito.
Through days we love Through days we disappear I'm a stranger now
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Video
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De vez em quando na vida se pode encontrar Raro, mas não impossível, de fato, é amar Existem muitas ciladas e muita ilusão Existe gente afobada, idealização
Mas quando é pra sempre, pra sempre será Mesmo que acabe, não vai terminar Pois no final, na conclusão
É bom ter tido um amor de verdade Que bom ter tido um amor de verdade Levar comigo um amor de verdade Correr perigo, amar de verdade
Talvez tivesse o que chamam coração vulgar Hoje sozinho me cuido pra não me enganar Daquele primeiro amor não vou nunca esquecer Poucos, contados nos dedos, chegando em você
Mas quando é pra sempre, pra sempre será Mesmo que acabe, não vai terminar Se no final, na conclusão
É bom ter tido um amor de verdade Que bom ter tido um amor de verdade Levar comigo um amor de verdade Correr perigo, amar de verdade
Mas quando é pra sempre, pra sempre será Mesmo que acabe, não vai terminar Pois no final, na conclusão
É bom ter tido um amor de verdade Que bom ter tido um amor de verdade Levar comigo um amor de verdade Correr perigo, amar de verdade
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Sem-abrigo
Deixou de haver lugar para onde voltar quando o sol se punha.
Aceitei doações, de nada valiam. Cá dentro só vazio. Só frio. 
Procurei um isqueiro, encontrava sempre a mesmo porcaria de fósforo que insistia em não acender. Nem a luz se atrevia a rasgar a (minha) escuridão.
(Eras casa, o último reduto)
Fiquei sem abrigo, até que um dia
Oh, I do believe you are what you perceive What comes is better than what came before
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Dreams are the only place where my feelings survive
Marinho, in Ghost Notes
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Cuando el radio toca una canción de amor Pienso que es conmigo que conversa el cantor ¿Cómo es que sabe todo lo que me pasó? Cambio la estación, también soy yo
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É amor no seu estado mais puro, hábito, sorte
ou tudo?
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Corrida
O meu coração deu três solavancos e arrancou auto-estrada fora sem medo de possíveis radares. Só o viria a alcançar um pouco mais tarde, a custo.  
Depois de o ter trazido de volta para dentro do peito, livrei-o de uma reprimenda séria, mas não resisti a sussurrar-lhe repetidamente:
- Não era para ser. Não era para ser. Não era para ser.
E ele, finalmente, sossegou. 
De vez em quando bem tenta fazer uns arranques. São reflexos, percebo.
Mas eu sou óptima a pôr travões. 
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Dou muitas voltas à caneta até conseguir, efectivamente, escrever uma frase. Sei bem o que dirias: que já ninguém usa canetas para escrever, que eu tenho a mania de recusar as coisas do tempo presente e que devia pensar mais no ambiente, tendo em conta a quantidade de papel acumulado lá em casa.
Mal tu sabes que a maior parte daquelas folhas são cartas que nunca te cheguei a entregar. Umas porque já não fui a tempo, mas a maioria delas por medo.
Quando te quero escrever, as palavras atrapalham-se dentro de mim e fico com a sensação de que nenhuma conjugação é suficiente para te contar o que sinto. Elas andam aos encontrões, a tentar lutar pela minha atenção, mas são tão trapalhonas que acabam por cair todas umas em cima das outras e criar confusão.
Preciso, então, só de te dizer isto:
Mesmo que já não estejas aqui,
Vou continuar a dar voltas à caneta.
Vou continuar a acumular cartas.
E acho que vou ficar desarrumada para sempre.
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- Auch.
- O que foi?
- Este texto.
- O que tem?
- Doeu.
- Como assim, doeu?
- O que aqui diz faz doer.
- Letras juntas podem fazer doer?
- Muito. Não o leias.
- Mas eu quero. Também quero saber.
- Vais chorar. Não tens medo da dor?
- Não. É melhor sentir dor do que não sentir nada nunca.
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Quem não se incendeia vive apagado
In “Para Ninguém”, Samuel Úria
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12 março 2017
Tão grande era o azul, quase a perder de vista, que teria sido impossível prever a tempestade que estava por vir.
Faial, ilha das saudades.
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Vício
O cabelo absorve todos os aromas, já reparaste?
Encosta lá o nariz.
Inspira.
Profundamente.
Também sentes?
É que o teu cheiro ficou aqui, colado em todos estes milhares de fios do meu cabelo comprido. 
Um por um.
Liga o esquentador, abre a torneira da água quente, passa-me o shampoo.
Tens de ser rápido.
Desta vez não posso arriscar.
Se deixarmos passar mais tempo do que devemos, o inevitável vai acontecer.
Tic tac
Tic tac
Ouves o relógio?
Se o tempo passar, corro o risco de ficar viciada no teu perfume.
E ambos sabemos que os vícios, ao mesmo tempo que nos saciam, destroem tudo.
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I should have known better Nothing can be changed The past is still the past The bridge to nowhere I should have wrote a letter Explaining what I feel, that empty feeling
Should Have Known Better, Sufjan Stevens
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