berealit - Tumblr blog

berealit · 6 days

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May 29, 2024.

Ouvir aquela melodia ainda a causava as mesmas sensações, era como ter uma lareira se acendendo em seu peito. Sempre sentia como se labaredas de fogo tomassem seu peito quando To Build A Home tocava, a acalmava em níveis inimagináveis e há anos essa memória havia se apagado de sua mente, mas lembrar dela enquanto buscava partituras na sala de música da universidade foi capaz de reviver sensações, memórias e uma calmaria nostálgica sem igual. Ao fechar o instrumento, encarou a parede fixamente e buscou pelo gravador de voz portátil inseparável, o que a fez soltar um riso frouxo antes de liga-lo.

— Gravação do dia vinte e nove de maio de dois mil e vinte de quatro.

— Todas as vezes que ligo esse gravador, me sinto a própria Hannah Baker gravando fitas secretamente para solta-las misteriosamente. Mas, curiosamente, eu gosto de conversar sozinha, tipo, pra valer. É terapêutico poder ligar isso aqui e desabafar o quanto eu quiser sabendo que é... Secreto. Nos sentimos mais livres quando a sós, certo? É o que penso. Sendo bem sincera, minha vida tá mudando pra caralho e isso tem me deixado pensativa. Mas não de forma ruim, muito pelo contrário. Tenho estado bem orgulhosa dos passos que tenho dado e do quão é magnífico conseguir focar nos próprios objetivos e cuidar deles, realizar meus próprios desejos, minhas vontades, fazer as coisas por uma realização pessoal da qual futuramente eu vou olhar e pensar "puta merda, como eu fui foda!".

Suspirou, deixando o objeto sobre o piano de madeira brilhante.

Ergueu as mãos no ar, gesticulando como uma faixa se abrindo revelando a frase de efeito. Ainda era inacreditável para si pensar em algumas coisas e ver como elas estavam tomando rumos que sequer imaginou que tomariam, mas, de longe, não eram ruins. Era grata por cada um deles e estava feliz com isso.

— Nessa madrugada eu estudei para um senhor caralho e, no dia de ontem lancei meu primeiro mini álbum oficialmente com minha cara estampada para o público e cada vez que eu olho pra essas coisinhas eu tenho mais certeza de que amo o que faço. Parece papo motivacional, coisa balela e, talvez eu devesse criar um podcast ou soltar esses áudios gratuitamente como uma Rebelde da Rádio, mas eu realmente estou me sentindo flutuante. Em breve farei uma entrevista, não acredito que um dia foi o suficiente para um site entrar em contato comigo e, enfim... As pessoas vão poder entender um pouco o significado de "Cry Wolf".

Tamborilou as pontas das unhas sobre a madeira escura, passando em seguida a ponta do indicador em toda a borda da superfície de madeira que cobria as teclas do piano.

— Acho que é isso por isso. O dia será longo. Ou melhor, os dias. Mas a correria tem me feito bem. Ser pró-ativa faz eu me sentir viva. Quem tem muito tempo livre, não tem tempo pra nada. E tendo pouco tempo, tenho feito muito mais. Tô falando pra cacete sobre sentimentos e isso não é o meu habitual, então vou ó, calar a boquinha. Fui!

Finalizou sua gravação e se levantou, recolhendo o eletrônico tão amado. Mesmo que ainda tivesse armazenamento, retirou o cartão de memória e colocou no bolso, iria guardar aquele item tão pequenino e precioso em sua caixinha de madeira e tomar o café da manhã no refeitório da Ewha.

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berealit · 15 days

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May 20, 2024.

Largar o notebook depois de finalizar aquele trabalho que tanto ansiava foi libertador. Tamborilou os dedos contra a madeira da escrivaninha e, enquanto aguardava a plataforma finalizar o processo, ligou seu gravador de voz.

— Gravação do dia vinte de maio de dois mil e vinte e quatro. Hoje serei o mais breve possível, minha agenda está meio cheia.

Prendeu seus cabelos em um coque frouxo, tomando todo cuidado com os fios agora vermelhos, talvez ainda fosse demorar a se acostumar com a cor e, principalmente, iria cuidar das madeixas como se fossem as coisas mais delicadas do mundo.

— Por falar em agenda cheia, ontem realizaram uma batalha de dança no campus, os clássicos "eventos" informais que as universitárias fazem para que nenhuma de nós seja tomada pelo tédio. Estudar na Ewha é como lidar com uma bomba de criatividade constante e eu particularmente gosto disso, quase nunca estamos paradas. E por falar nisso, estou pensando em pegar atividades extracurriculares. Espero não enlouquecer, mas será bom me ocupar.

Um grito em comemoração pôde ser captado pelo gravador, acompanhado de braços erguidos. Mas seu humor mudou em questão de segundos, quando se deu conta de que revelar determinadas camadas de si mesma seria como um tiro no escuro, não tinha a menor previsão do que poderia acontecer e a falta de previsibilidade a deixava um tanto ansiosa.

— Finalmente estou dando a cara a tapa e, é difícil acreditar que tomei essa decisão. Ainda não tenho plena certeza de que minha ficha caiu, talvez isso demore a acontecer verdadeiramente. Só espero que os resultados tenham mais prós do que contras, isso já me deixará feliz o bastante. E agora preciso ir, meus compromissos me esperam! Estou atrasada.

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berealit · 22 days

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May 13, 2024.

O mês de maio estava passando mais rápido do que o esperado, o ano sempre parecia voar depois que abril chegava ao fim. Talvez, isso deixasse Eloise um tanto assustada, afinal, a garota nunca foi a melhor do mundo em se localizar no tempo e para se lembrar de datas. Estava sentada na biblioteca já há algumas boas horas, depois de despender seu tempo limpando todo o dormitório e, posteriormente, estudando — precisava colocar matérias em dia. Naquele horário, a biblioteca estava praticamente vazia e como estava na mesa mais isolada dali, abriu a mochila, buscando por seu gravador portátil para colocar em dia seu hábito jamais abandonado.

— Gravação do dia treze de maio de dois mil e vinte e quatro. O ano está passando voando... É um pouco assustador, porque quando chega maio, para chegar no natal é como se precisasse de apenas dois meros passos.

Balançou os pés debaixo da mesa, ouvindo o som dos tênis contra o piso limpo. Ergueu sutilmente os ombros e esticou os braços para frente, se espreguiçando.

— A universidade foi bem estressante nos últimos meses, apesar de eu sempre me manter positiva e pouco falar sobre, não estavam seguindo a grade curricular devidamente e isso estava sugando minha paciência. Sou sistemática demais para isso.

Tombou levemente a cabeça para o lado, sentindo sair por seus lábios um riso soprado seguido de um suspiro impaciente, o que a fez fechar os olhos para não acabar soltando um palavrão num ambiente indevido.

— Aproveitei alguns dias em Busan, pude rever minha avó no começo da semana passada e, foi realmente revigorante. Neste final de semana, liguei para mamãe. Senti falta de ouvir a voz doce de BooA... Só em ouvir a voz dela, foi como sentir aquele abraço maternal quentinho.

A felicidade era notória na voz da Boo, seus lábios se curvaram instantaneamente num sorriso alegre e os olhos grandes brilharam. Deitou sua cabeça sobre a mesa, mantendo o tom de voz baixo dado ao local.

— Recentemente tenho revivido meu gosto pela música brasileira e isso me deixa bem calma. Melancólica também, mas calma. Tenho distribuído meu tempo livre para atividades confortáveis, como tocar guitarra, dançar, cozinhar e até mesmo explorar gostos adormecidos. Ocupar minha mente com essas coisas tem sido uma terapia e tanto.

Ergueu parcialmente seu dorso, apoiando o queixo sobre a palma da mão, agora tendo o cotovelo sustentando-a na mesa.

— Também comprei um novo fone! O que me deixa bem feliz, ele isola muito bem os ruídos, nada me abala quando estou com eles. Também tenho saído bastante com as meninas, não ganhei apenas colegas de dormitório, ganhei irmãs.

Riu de sua própria fala, realmente não se via sem as garotas em sua rotina.

— Está beirando às nove da noite. Preciso ir... Quero descansar cedo hoje, amanhã pretendo começar meu dia bem cedo. E, como diz Ko BooA, o amanhã começa hoje, certo?! Mas sem deixar de viver o presente por causa só amanhã, sempre bom lembrar. Goooooodbye!

Lançou um beijo no ar rumo ao gravador, o som do beijo havia sido captado pelo receptor de voz, apertou o botão para encerrar e recolheu seus pertences, retomando o headphone aos seus ouvidos.

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berealit · 1 month

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April 26, 2024.

Ergueu o próprio tronco do colchão, no intuito de alongar os membros superiores, os braços para cima bem alinhados, olhos fechados e coluna ereta, o combo perfeito para estalar sua coluna e acordar por completo. Tentar regular seu sono devidamente não estava sendo uma tarefa simples, não quando seu organismo, acostumado com as madrugadas, a acordava antes mesmo das quatro. Levou as mãos até o rosto, coçando os olhos antes de bocejar e se levantar. Iria preparar algo rápido para comer e, ir estudar, colocar as matérias atrasadas de quem havia falhado com algumas aulas em dia.

( ... )

Retornou ao quarto depois de seguir seus passos de rotina ao acordar e comer, sentou-se à escrivaninha e abriu o livro didático. Haviam alguns dias desde que não o tinha a frente de seus olhos, o que a deixou preguiçosa. E enquanto não conseguia focar, se permitiu gravar um pouco enquanto tomava seu forte café. Substituindo o microSD antigo por um com armazenamento livre, a garota o deixou sobre a mesa e ligou, enquanto divagava.

— Gravação do dia... Vinte e seis?! Isso. vinte e seis de abril e dois mil e vinte e quatro. Mês intenso. Mercúrio retrógrado se encerrou ontem, não posso dizer que acredito fielmente nisso, mas me consola, então estarei acreditando.

Balançou a cabeça positivamente, tendo em seus lábios um sorrisinho sutil sem mostrar os dentes, deixando suas bochechas cheinhas e livres de qualquer maquiagem em evidência, entregando em seu rosto a expressão de "pãozinho", como dizia uma de suas amigas.

— Tô um pouquinho cansada para falar cem por cento sozinha desta vez, então vou me expressar como se tivesse um espectador do outro lado.

Respirou fundo, agarrando a alça da xícara para beber um bom gole de café, que desceu aquecido o suficiente para sentir seu peito esquentar.

— Nesses últimos dias tenho começado a tentar investir mais em novos hobbies. Venho assistindo mais filmes, comecei a jogar algo novo, tenho escutado mais músicas, estou tentando retomar ao hábito da leitura e, estou pensando na probabilidade de gastar algumas horinhas da manhã de hoje produzindo peças de argila, já que acordei tão cedo. Oh! Estou tentando regular meu sono, também. São pontos genuinamente positivos para o bem-estar de alguém.

Apoiou os cotovelos sobre o móvel a sua frente, deixando o rosto apoiado em apenas uma das mãos, antes de tombar levemente a cabeça para o lado, como se estivesse pensativa. Respirou fundo, encarando a parede à sua frente. Umedeceu os próprios lábios e então, pensou em algo para dizer.

— Essa semana refiz meu teste de funções cognitivas, o famoso MBTI. O resultado que tirei não me foi o mais agradável do mundo e devo admitir que duvido um pouco de que ele seja real. Apesar de fazer bastante sentido. Essas coisas como MBTI, funções cognitivas e até mesmo astrologia, nos ajuda na percepção de nós mesmos, não deve ser encarado como uma verdade absoluta, mas nos ajuda a identificar características que podem ser trabalhadas. Acho que isso é válido.

Divagar sobre o que se passava por sua mente era algo comum, tamborilou as unhas sobre o mdf da escrivaninha, fazendo seu típico bico manhoso enquanto pensava em algo novo para dizer.

— Preciso me decidir de uma vez por todas também sobre o que fazer no âmbito profissional. Acredito que, chegou o momento em que abandonei todas as minhas ideias mirabolantes para decidir, de uma vez por todas, que quero fazer meu primeiro estágio como atendente de farmácia. Vai agregar no meu currículo e, contar muito ponto dentro do meu curso. Além de me oferecer experiências com o público. Desistirei de lecionar aulas particulares e, vou usar o blog apenas para focar no auxílio dos meus estudos. Talvez, por consequência, eu consiga ajudar alguém e isso já me será de enorme satisfação.

Suas expressões enquanto pensava e explicitava o que se passava por sua cabeça eram um tanto adoráveis, vez ou outra seus olhos pareciam ficar cerrados e suas expressões habituais se faziam presentes, o sorriso reto e aquele biquinho nos lábios, o que sempre evidenciava os olhos grandes e as bochechas robustas.

— Como hoje falei um bocado e, tenho horário a cumprir. Deixo aqui meu tchauzinho. Volto pela noite, ou quem sabe em outro momento. Só um adendo: talvez eu explore novas maneiras de dividir o que se passa na minha mente.

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berealit · 2 months

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April 19, 2024.

Manhã de sexta-feira, o dia estava ensolarado, mas não de calor incômodo, um dos climas favoritos da futura farmacêutica; alguns passarinhos cantavam do lado de fora da janela e dado seu bom humor do dia, poderia dizer se sentir num conto de fadas. Sentia falta de acordar com o pé direito como naquele dia. Aproveitando que estava de pé mais cedo do que o habitual e, com um bom humor inconfundível, seu processo de autocuidado matinal foi prolongado. Aproveitou para hidratar os longos cabelos, usar seu hidratante corporal mais caro, algumas boas borrifadas de perfume e uma boa skincare matinal. Se bobear, ainda faria as unhas enquanto as meninas dormiam.

Depois daquele longo processo matinal consigo mesma, Eloise quis preparar algo para suas colegas de dormitório. Ainda tinham camarões no congelador, então, optou por grelhar alguns para preparar uma pequena bandeja com frios e os camarões, um bom suco de morango integral para manter a imunidade das meninas em dia e, por fim, kimbap. Organizou também algumas coisas fora de ordem no apartamento, deixando tudo em seu devido lugar. Talvez, só talvez, atos de serviço fosse uma de suas linguagens de amor e naquelas pequenas tarefas diárias, mostrava gostar das meninas com as quais convivia. A Ko não economizava em demonstrar quando sentia carinho, mesmo que de sua forma objetiva e prática.

Um tempo depois de ter tudo pronto, a graduanda se sentou no chão da sacada acompanhada de sua guitarra, o notebook, seu gravador e um grande copo de suco. Após conferir a presença do microSD no aparelho, apertou o pequeno botão para iniciar seu clássico monólogo diário.

— Gravação do dia dezenove de abril de dois mil e vinte e quatro. Gravando hoje pela manhã e, pretendo gravar pela noite também. Vamos ver se meu bom humor se mantém até lá? Espero que sim!

Deixou escapar pelos lábios carnudos uma risada ao final da frase, seria um desafio para quem estava com o pavio tão curto nos últimos dias.

— Não faz parte do meu habitual consumir Taylor Swift, mas a loirinha lançou álbum novo hoje e, escutei enquanto fazia minhas coisas. Cara, falar na maior sinceridade, talvez seja um dos meus trabalhos favoritos dela. As músicas transmitem algo tão bom. Ou talvez meu humor esteja ajudando nessa percepção. Nosso humor afeta muito em como percebemos as coisas.

Ligou seu pequeno amplificador no volume mais baixo possível, não queria acabar acordando ninguém cedo demais. Dedilhar as cordas da guitarra provocou uma sensação sem igual, foi como sentir seu peito se aquecer instantaneamente. Estava numa tentativa até então falha de aprender a tocar sua favorita do novo álbum.

— Essa ela fez para mim e nada muda isso na minha cabeça. "Ah, Eloise, o mundo não gira em torno de ti", não ligo. Se eu digo que uma música é minha, é minha.

Deu de ombros, com um bico emburrado moldado em sua boca. As vezes, parecia uma criança quando emburrada.

— Hoje terá mais um workshop, alguns deles nem são voltados ao meu curso, mas acabo indo porque conhecimento nunca é demais e, bom... Conta cargo horária, além de ter certificado. Ewha, você não sabe o bem que faz ao meu currículo.

Abandonou o instrumento musical para que pudesse pegar o copo de suco, bebendo um gole farto. O suco estava grosso até mesmo, apenas com o doce da fruta, era como o céu para seu paladar, completamente superior aos sucos que costumava consumir na Coréia.

— Um comentário irritado: frutas são caríssimas na Coréia e isso me deixa bem brava. Cada vez que como uma fruta, me sinto uma chaebol!

Riu soprado. Aquela palavra sempre seria engraçada para si, se perguntava porquê o dinheiro tornava alguém tão importante e, seu claro incômodo pelo tratamento diferenciado dado ao dinheiro, era a resposta do porquê não fazia questão de falar tão abertamente sobre sua família paterna.

— Acho que hoje não tenho muito a contar, talvez apenas quisesse fazer um registro da paz de espírito na qual acordei. Estar de bom humor às oito da manhã, depois de fazer café da manhã e organizar a casa é um luxo para poucos, eu diria. Privilégio! Antes de encerrar, gostaria de deixar dito que: quero viajar em breve. Respirar novos ares! Preciso pensar em bons destinos. Até o fim do dia, penso em algo. See yooooou!~

Desligou o pequeno aparelho, aproveitaria a manhã para tocar um pouco mais, pintar suas unhas e atualizar alguns estudos. Coisas haviam se acumulado e, não se orgulhava disso.

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berealit · 2 months

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April 9, 2024.

got a secret. can you keep it?

Eloise encontrava-se na biblioteca vazia, pela primeira vez no ano, estava matando aula, sua mente estava inquieta e não fazia ideia do porquê. Talvez isso se desse ao fato de não ter conseguido gravar nada nos últimos dias, por mais que fosse uma das atividades mais prazerosas para a garota, sempre que ligava o gravador, as palavras pareciam fugir de sua cabeça e, consequentemente, de sua boca. Com os cotovelos escorados na mesa, levou as mãos até a cabeça, arrastando os dedos compridos pelos cabelos pretos, enquanto seus olhos se mantinham fixos no gravador portátil. Ou apenas estava cansada demais. Colocou os fones de ouvido e ali, ligou o pequeno aparelho mais uma vez naquela semana.

— Gravação do dia nove de abril de dois mil e vinte e quatro. Fazem alguns dias desde que não consigo gravar nada, acho que esgotei todas as minhas energias vagabundando por aí.

Liberou um riso fraco, colocando o eletrônico em seu bolso ao se levantar para explorar a grande biblioteca da Ewha. Passou alguns minutos em silêncio, enquanto caminhava pelos corredores vazios, escorregando a ponta de seu indicador pelos incontáveis livros, alguns gastos, outros intocados.

— Acordei mais cedo do que o habitual hoje, estava de pé antes das seis. Fiz minha rotina, como sempre e quase perdi a hora por ter ficado em deitada em silêncio ouvindo música a manhã inteira. Esse humor mórbido não é muito comum na minha rotina, então vou culpar o fim do período menstrual!

Puxou um dos livros, encarando a capa por alguns segundos, apesar de saber que sua universidade apoiava diversas causas abertamente, nunca pensou que encontraria um romance lésbico nas prateleiras, principalmente estrangeiro, o que a fez sorrir, iria pegar o exemplar emprestado. Vitoriosa, segurou o livro em mãos e caminhou até a mesa em que estava sentada, pegando sua mochila e caminhando até o balcão para computar o aluguel do livro. Colocou o livro na mochila e se retirou da biblioteca, caminhando agora pelos corredores vazios da universidade. Todas estavam em aula, o que a fez se sentir um tanto imprudente por quebrar o próprio código de ser uma aluna exemplar.

— Eloise, Eloise... Quebrar regras não é muito sua cara.

Murmurou para si mesma, caminhando para fora do campus. Planejava ir até a loja de conveniência mais próxima a pé, talvez caminhar a fizesse bem, o trajeto seria longo, a universidade era imensa. Por mais que houvessem pontos positivos e se sentisse lisonjeada por tamanho reconhecimento por parte das colegas, deveria admitir que a deixava um tanto assustada a ideia de um fansite, não sabia quem era, quais intenções tinha, menos ainda em quais momentos poderia ser flagrada por aí; Eloise sempre prezou por sua privacidade, mesmo que tenha tido muita gente ao redor de si durante toda sua vida, sempre foi uma pessoa privada. Talvez, esse fosse um fator e tanto para se fechar até mesmo para os míseros microSD's que carregava em sua rotina desde pequena. Nunca sabia o que esperar.

Os arredores da Ewha contavam com shopping, restaurantes, cafeterias e pequenas lojas de conveniência; a universidade era também quase como um ponto turístico, o que fazia com que estivesse quase sempre lotada. Dadas as circunstâncias, foi para o ponto de ônibus, iria até o karaokê que costumava frequentar, desta vez para ficar um pouco sozinha. Não demorou muito para chegar no destino escolhido depois que entrou no transporte público, caminhou poucos metros e então, entrou no estabelecimento. Pediu por uma sala, sendo recepcionada com uma risada divertida seguida da pergunta "Sozinha? O que há? Está triste?" que a fez revirar os olhos e soltar um suspiro.

— Ei, qual foi?! Não se pode mais querer passar um tempo sozinha? Vai, quero uma sala, uma garrafa de soju e... Dois cigarros. Mentolados.

As últimas palavras saíram quase como um sussurro, não era algo que se orgulhava de pedir em estabelecimentos, o que a deixava quase sempre com as bochechas vermelhas. Ao ter a liberação da sala em questão, caminhou para dentro e sua primeira atitude ao entrar ali, foi deixar sua mochila sobre o espaçoso sofá, sentando-se ali em silêncio. Tirou o gravador do bolso e ajeitou os fones em seus ouvidos novamente. O aparelho esteve gravando durante todo aquele tempo continuamente, com pouquíssimo conteúdo de voz, já que se manteve em silêncio por boa parte do tempo. Por mais que suas gravações fossem inteiramente privadas, nunca conseguia colocar para fora tudo o que sentia, prezava sempre por levar o mais superficial em suas falas, talvez porque sempre tinha alguém por perto de alguma forma, mesmo que escolhesse os momentos mais tranquilos e isolados para seu fiel diário falado.

— Okay... Agora que estou sozinha e, distante de tudo, talvez eu consiga expelir tudo que está na minha garganta.

Escutou duas batidas na porta, era seu pedido, assim que a bebida, copo e cigarros foram postos a mesa, a morena apenas agradeceu e ofereceu um sorriso gentil antes de o atendente sair pela porta. Serviu-se de um bom copo de soju, cujo bebeu sem pestanejar, sentindo a bebida descer queimando por sua garganta.

— Honestamente, apesar de saber que esse diário não é acessível a ninguém, não é sempre que me sinto apta a soltar sequer meus próprios segredos. Então hoje vou fazer um monólogo!

Seus dígitos alcançaram um dos cigarros sobre a mesa, segurou o item na cor preta e o encarou por alguns segundos, pensando se deveria sacrificar o quão cheirosa estava para acabar com o cheiro da fumaça mentolada em suas vestes. Admitindo para si mesma que a vida era uma só, apenas deu de ombros, acendendo-o. Fechou seus olhos por alguns instantes, tragando profundamente, segurando a fumaça por alguns segundos antes de solta-la vagarosamente. Fumar não era um hábito recorrente, mas lhe ocorria em momentos de alto estresse e aquele dia, era um dos dias em que havia acordado com o pé esquerdo, sequer sabia de onde tinha surgido tamanho desconforto consigo mesma quando teve tantos momentos divertidos naquele fim de semana. Talvez fosse o cansaço batendo, sobrecarga da quantidade de atividades que vinha pegando, fim do período menstrual ou até mesmo efeito do eclipse solar e mercúrio retrógrado em áries.

— Me mudar para Seoul foi uma decisão bem pensada, tinha grandes planos, algumas coisas deram certo, outras deram errado. Devo admitir que a adaptação foi muito mais fácil e receptiva do que eu esperava que fosse, fiz bons laços, tenho colegas de dormitório incríveis, ótimas notas, tenho socializado bastante e até mesmo tenho... Fãs?! De modo geral, tenho tido motivos o bastante para sorrir, então acordar de mau humor, por mais normal que seja, me deixa puta pra caralho comigo mesma.

Houve uma pequena pausa ao falar "fãs", ainda lhe era confuso tudo aquilo. Nunca gostou de grandes exposições, o que explicava também o fato de nunca comentar sobre a situação financeira de sua família que, por mais simples que fosse, poderia facilmente se dizer rica, ao menos era o que ouvia quando raramente mencionava que a família Ko era proprietária da vinícola GODORI. A ideia de ser tratada de maneira diferente por nada que não fossem suas próprias conquistas deixavam-na irritada. Eloise era orgulhosa o bastante para tal comportamento.

— Acho que não admito mau humor partindo de mim mesma sem que tenha um bom motivo. Então, para acalmar meus ânimos, o cigarro ajuda. Eu deveria odiar cigarros, tenho motivações para isso e talvez eu odeie! Mas eventualmente que mal faz?! Sei que faz muito mal, mas é isso aí, fica subentendido.. Odeio acordar mal-humorada, odeio não conseguir gravar, não conseguir colocar pra fora o que quero falar, odeio me atrasar para meus compromissos e odeio me sentir ingrata... Acho que foi o combo do meu estresse de hoje. Mas me sinto mais leve. Ser imprudente nem sempre é ruim. Mas não matarei aulas novamente, eu espero, pelo menos. Ficarei por aqui, vou terminar de beber essa garrafa, cantar algumas músicas e voltar para Ewha. Preciso estudar hoje. See u!

E com isso, a garota levou o cigarro de cor preta até a boca, usando as duas mãos livres para desligar o gravador e retirar os fones. Irei aproveitar aqueles minutos de fim de tarde sozinha.

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berealit · 2 months

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April 2, 2024.

Descansou sobre a mesa de estudos uma xícara branca e grande, cheia até em cima com chá preparado com folhas de maracujá e hortelã. Seu final de semana havia sido agitado, sua segunda-feira havia sido como o mar que visitara no final de semana e quanto a sua terça-feira, exaustiva; havia se dado conta de que a semana realmente havia começado. Pegou seu celular e, como de praxe, deu play no que gostaria de ouvir. Estava presa no clássico R&B dos anos 90, então começaria o monólogo do dia ao som de Weak do grupo SWV. Colocou um novo microSD no gravador e deu início ao seu diário falado.

— Gravação do dia dois de abril de dois mil e vinte e quatro.

Respirou fundo, bebendo um farto gole do chá antes de prosseguir, apoiou as pernas sobre a mesa de estudos, se recostando na cadeira.

— Os últimos dias foram encantadores. Estar em Busan em dois mil e vinte e três não costumava ser a melhor coisa do mundo, apesar de amar viver com minha avó, me acostumei a morar longe e para mim, era como se aquele não fosse meu lar ainda... Entretanto, pisar lá esse final de semana foi como respirar ar puro e me trouxe paz, acho que precisava de um colo também e, estar com minha avó me trouxe essa privilegiada sensação.

Balançou seus pés pensativa, bebeu mais um gole do chá, que estava sem qualquer adição de açúcar.

— Minha vó amou as meninas e disse que ganhou mais cinco netas. Devo admitir que fiquei com um pouco de ciúmes. Cozinhamos juntas, passeamos, fomos a praia, vimos algumas fotos de quando eu era criança, enfim... Nossa programação foi bem enriquecida. Posso dizer que foi um presente de aniversário antecipado com uma bagagem emocional gigantesca.

Franziu o cenho por alguns segundos, olhando a tela do celular para se lembrar de qual música se tratava.

— Oh! Waterfalls, TLC. R&B dos anos 90 realmente está com tudo por aqui. Continuando! Não lembro onde parei.

Olhou para o teto, ajeitando os óculos em seu rosto. Semicerrou os olhos e fixou o olhar na parede.

— Enfim! Estou pensando em comprar um carro. Talvez eu esteja dando passos maiores do que minhas pernas, financiar um carro agora é arriscado, não seria caso eu não fosse tão orgulhosa e aceitasse um de meus tios como presente de vinte e dois anos. Mas eu queria, de verdade, conquistar cada pequenino passo da minha vida sozinha, sem nenhum empurrão. Orgulho demais da minha parte ou apenas um desejo interno natural? Fica o questionamento.

Desceu as pernas da mesa para se levantar da cadeira e alongar-se, estava sentada há alguns minutos e sequer havia conseguido revisar conteúdos necessários. Esticou os braços para cima e fechou os olhos, estalando a própria coluna.

— Woaaah! Amo isso. Acho que não tenho muito para contar no momento. Apenas me sinto feliz, revigorada e cheia de pensamentos pensantes. Meta semanal? Ir a um karaokê novamente, comemorar meu aniversário sem fugir dos parabéns, tomar coragem de terminar meu dorama favorito que está na reta final, colocar meus estudos em dia e... Sei lá. Dançar na chuva?! Eu gostaria de dançar na chuva. E tirar minha maquiagem, não posso dormir assim. Acho que é isso por hoje, meu caro gravador. Fico por aqui!

Fez um sinal de continência, como um soldado, seguido de uma piscadela que absolutamente ninguém iria ver. Desligou a gravação, finalizando-a ao som de Creep, também de TLC. Agora, faria sua rotina noturna de sempre, remoção de maquiagem, skincare e um bom banho quente antes de cair na cama para sentir os efeitos proporcionados pelo chá.

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berealit · 2 months

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March 27, 2024.

Estava reorganizando suas coisas em caixas e malas, ter conseguido um dormitório maior e mais confortável para as seis tinha sido, para si, uma das maiores vitórias da semana. Pensar que agora as garotas teriam quartos individuais e uma geladeira decente — já que teriam uma cozinha — nas acomodações oferecidas pela universidade a deixava feliz, assistia em silêncio as meninas organizarem suas coisas enquanto se segurava para não sorrir ou tagarelar demais, como costumava fazer quando estava feliz. Ver as meninas agitadas por algo positivo a fazia se sentir como uma mãe orgulhosa.

— Vou tomar um banho e volto logo, podem fazer as coisas no tempo de vocês, sem pressa.

Apesar do que havia dito, talvez precisasse de certa pressa, sim, estavam as seis atrasadas para suas respectivas aulas; mas não ousaria interromper o momento de empolgação com a mudança. Havia prometido um almoço mas, tristemente, aquilo teve de ser adiado devido às mudanças que ainda não tinham sido realizadas e porque havia prometido a sua vó que passaria o final de semana com ela em Busan e levaria companhia. Seriam dias sabáticos e de muito dengo. Enquanto se preparava para tomar banho, fez sua rotina de skincare pela manhã enquanto se permitia tagarelar para o pequeno gravador aos cochichos.

— Gravação do dia vinte e sete de março de dois mil e vinte e quatro. As vezes sinto que esse mês passou voando, mas ao mesmo tempo parece ter tido um ano dentro dele. Apesar dos contratempos que, bom, todo mundo tem... Foi um mês bem produtivo. Ou extremamente produtivo. Preciso olhar o lado bom antes de tudo. Falo sozinha para esse gravador todos os dias mas enfatizar não faz mal, né?

A garota revirou os olhos enquanto passava o sabonete facial nas bochechas cheinhas, havia comprado em uma loja de produtos naturais e era, longe, uma de suas melhores compras para cuidar da pele. Talvez, só talvez, a Ko fosse um tanto obcecada por cuidados pessoais e boa parte de sua autoestima estava em seus cabelos, unhas e pele.

— Tirei boas notas, socializei, fiz novos laços, joguei um esporte e até hoje não sei como consegui... Comi coisas gostosas, pintei minhas unhas com mais frequência, isso me deixa feliz, logo, é importante. Entreguei meu primeiro currículo, conseguimos um dormitório melhor para as meninas e eu ficarmos e não precisarmos gastar com aluguel, Ewha, pare de esconder ouro. Dancei, cantei num karaoke.

Fazia a contagem nos dedos e de olhos cerrados para não se perder, até se dar conta de que precisava enxaguar o rosto, então parou e o fez, antes de retomar sua fala.

— Ganhei meu primeiro fansite e até agora é uma puta loucura isso, tipo... POR QUÊ? É realmente chocante pensar que ganhei popularidade na universidade gratuitamente. Me sinto tão mimada e querida que vou acabar mal acostumada. Ah, lembrando que isso aí me gerou uma consequência deliciosa, hein. Quem diria que eu estaria modelando agora? Ganhar dinheiro por ser bonita é algo que eu realmente não esperava.

Se permitiu rir da própria fala, realmente ficava empolgada com aquilo. A gargalhada foi sincera e divertida, mas abafada pela toalha que secava o próprio rosto.

— É... Foi um mês do caralho, convenhamos. A gravação hoje foi corrida, meu tempo tá bem curto e tenho coisa pra cacete pra fazer ainda, inclusive estou atrasada. Se der, mais tarde solto o verbo de novo.

E assim, desligou o gravador de voz para seguir com sua rotina.

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berealit · 2 months

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March 24, 2024.

E mais uma vez tinha seu sono sendo sacrificado, precisava urgentemente acabar com essa mania de se dispor a virar noites a troco de, algumas vezes, nada. Saiu do dormitório com cautela, para não acabar acordando suas colegas, seriam cinco vozes ao pé de sua orelha caso elas acordassem, afinal; seus passos ganharam rumo para a loja de conveniência mais próxima do campus, o trajeto foi regado por música alta em seus fones de ouvido, o som alto da bateria ressoando naquele pequeno objeto provocava na garota a reação involuntária de balançar a cabeça no ritmo que escutava e, claro, suas mãos se movimentavam no exato ritmo das baquetas.

Ao entrar no estabelecimento, a garota apenas fez uma breve reverência desejando boa noite para a atendente antes de partir rumo ao freezer, buscou um copo com gelo e um suco de melão, uma de suas frutas favoritas, pegou também um kimbap, alguns chicletes e finalizou sua compra no caixa. Aquela cena digna de gravações de tiktok a fez querer rir. Eloise era assim, ria muito fácil, assim como se fechava com a mesma facilidade. Cumprimentou a moça do caixa na saída, fazendo a indagação que mais queria, se poderia comer ali mesmo e até mesmo realizar suas gravações. A companhia seria bem-vinda naquele horário da madrugada de acordo a mulher, então, se sentou a mesa antes de organizar suas compras para seu lanche da madrugada e colocar em dia seu hábito favorito.

— Gravação do dia vinte e quatro de março de dois mil e vinte e quatro. A data é bonita, certo? Vinte e quatro duas vezes, no próximo mês será ainda melhor, já que será mês quatro. Meu aniversário está bem próximo, por sinal.

Colocou o canudo no copo, levando-o até a boca para sorver um gole sa bebida docinha que tanto amava, o que a fez suspirar. Amava o sabor de melão.

— Será meu segundo ano comemorando meu aniversário longe de meus pais e, apesar de comemorar com minha avó em Busan, nada se compara ao abraço dos meus pais... É um dia como qualquer outro, eu sei, mas é quando tenho a oportunidade de me reunir com eles confortavelmente.

Respirou fundo, mordendo um pedaço do kimbap antes de recostar na cadeira, as vezes batia saudades de casa e aquilo era algo que não tinha muito controle, apenas poderia trabalhar em aceitar a situação.

— Sinto saudades de casa, mas ao mesmo tempo não sei dizer ao certo o que seria casa quando não tenho raízes realmente firmadas. Veja bem... Por mais que no meu cotidiano eu pareça prática para um caralho, no fundo sou sentimental e complexa e gostaria de ter apego emocional à algum lugar, tipo aquelas cenas de filme onde o protagonista tem um local favorito onde se sente em paz. Acho que, se eu pudesse definir meus fones de ouvido como um lugar, este seria o meu, já que entro no meu próprio mundo.

As vezes a divagação incansável a pegava despercebida. Tagarelou pelos cotovelos na última semana para o gravador portátil, de forma que sequer sabia o que dizer no atual momento, mesmo sendo falante, já que havia despejado todas as suas palavras incansavelmente por horas a fio. Fez um bico manhoso nos lábios enquanto encarava a rua, seus fones tocavam música no volume máximo e estavam descansando ao redor de seu pescoço, mas ainda era audível o bastante para ser captado pelo gravador.

— Oh! A trilha sonora de hoje é The Warning. Elas fizeram história com o álbum ERROR. E por falar em rock, sinto que preciso presenciar um ainda! Seria realmente uma puta experiência. E por falar em experiência, tenho falado mais palavrões do que o habitual. Minha amiga diz que estou mais respondona também, estaria eu me tornando uma jovem rebelde? Oh, no...

Resmungou, liberando uma risada divertida em seguida antes de beber do suco mais uma vez. Era realmente engraçado se ver xingando tanto, apesar de ser boca suja, não era algo tão usual quanto parecia. Balançou a cabeça de um lado para o outro ao som de "23".

— Essa semana obtive resultado das minhas primeiras provas, tirei notas muito melhores do que eu esperava e com isso, renovo minha carteirinha de aluna aplicada. Estou quase finalizando meu novo drama favorito e pude ver de pertinho no dia vinte e três o trabalho de um amigo. O moleque é incrível, não sou a pessoa mais indicada para falar sobre arte, mas ele definitivamente é talentoso e merece todo o sucesso que tem conquistado. Foi uma semana produtiva...

Levou ambas as mãos até as próprias bochechas, apertando-as. Costumava fazer isso quando sentia suas mãos frias, visto que seu rosto estava sempre bem morno, então era uma pequena ajuda para aquece-las.

— Estou pensando em dar aulas particulares, tutoria, ou aulas de reforço, ainda não sei como chamam isso aqui. Acho que pode ser um bom ponto de partida. Trabalhar é algo que sinto bastante falta de fazer e, também é necessário. As meninas e eu tomamos a decisão definitiva de nos mudarmos para um local onde possamos ter quartos individuais, então teremos mais espaço. Será um gasto bem alto que não tínhamos, eu sei. Mas será mais confortável e, nos dará mais privacidade.

Comeu o último pedaço do kimbap e nem ao menos se sentou novamente, apenas recolheu o que ainda lhe servia dentro da sacola ou em mãos e se despediu da atendente, caminhando para a rua novamente. Eram cerca de quatro horas da manhã, estava começando a ficar com sono.

— Vou gravar só até chegar no campus. Devo admitir que estou um tanto feliz, tenho tido minhas conquistas e por menores que possam parecer isso é um passo incrível; cada pequena evolução é importante na composição de quem quer que seja. O sono tá começando a falar mais alto, então vou encerrar por aqui antes que eu comece a tagarelar coisas sem sentido.

O sono estava começando a afetar sua linha de raciocínio, agradeceu mentalmente por já estar chegando ao dormitório, então acelerou seus passos. Precisava descansar o quanto antes, estava exausta, ainda mais depois daquela tarde. Havia saído com as meninas para dançar um pouco e seu corpo não estava tão acostumado a tamanho esforço. Então, ao abrir a porta do dormitório, apenas escovou os dentes e trocou suas vestes, iria finalmente descansar e colocar seu sono em dia.

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berealit · 3 months

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March 6, 2024.

Depois de um dia exaustivo, cair de costas na cama depois de um bom banho e rotina de skincare feita era a melhor sensação do mundo, pretendia obedecer sua rotina de sempre metodicamente, no entanto, suas pálpebras pesaram o suficiente para que seu sono viesse de uma só vez.

( ... ) No dia seguinte.

Seu despertador tocou e mesmo com aquele resquício de sono, apenas coçou os olhos e se sentou na cama, desligou o alarme do celular e para que não acabasse se rendendo ao sono novamente, abriu as cortinas. Se levantou e fez a primeira tarefa de todas: arrumar sua cama. Encostou ao lado da cama de sua colega de quarto e a chamou; não via a hora de ter um quarto individual. Era uma de suas maiores necessidades no momento e, acreditava ser a das outras cinco meninas também. Fez o mesmo processo com todas as meninas que ainda dormiam e seguiu com sua rotina matinal.

Ao ter tudo finalizado, pegou seus materiais e seu inseparável gravador e se despediu, caminhando rumo ao refeitório para iniciar seu dia. Por estar caminhando enquanto gravava seu diário atrasado, foi obrigada a colocar os fones, então, o único som que teria de fundo seriam os ruídos do microfone em contato com o ambiente.

— Gravação do dia... Seis de março de dois mil e vinte e quatro. Referente ao dia cinco também, já que capotei bem cedo. A semana está passando rápido, mas ainda é quarta, meu dia favorito da semana, não é o começo, nem o fim. Mas é cheio para um caralho também. O dia de ontem foi uma correria sem fim e acho que hoje não será diferente.

Seus passos eram um pouco mais lentos naquela manhã, queria aproveitar esse tempo, mesmo que se acabasse se atrasando alguns minutos.

— Estudo no turno da tarde e estou em busca de um emprego de meio período. Levantar às sete e trinta ainda é bem cedo em comparação a minha antiga rotina mas, sei que isso vai mudar. Em breve seis! Digo já afirmando porque eu vou ter um bom emprego com bons horários, sim. A gente atrai o que fala, então, é afirmar para se tornar real.

Acenou para algumas pessoas de longe e entregou seu melhor sorriso como o habitual, sempre fazia questão de cumprimentar colegas e professores; seu avô a dizia que fazia a diferença nos dias de alguém a gentileza de alguém e um belo sorriso era uma boa amostra disso.

— Estudar na Ewha é uma realização enorme. Ver também que existem muitas boas pautas abordadas sem papas na língua é uma delícia, fala sério. Hoje, por exemplo, tem uma faixa com a bandeira LGBT aqui na porta e isso me arrancou um belo sorriso. A universidade é linda, aplicada, visada... Estar aqui é foda! É realmente foda.

O clima ainda estava frio, garoa era algo comum e extremamente recorrente; o que a fez puxar o capuz do moletom que usava por baixo da jaqueta da universidade e tirar os óculos para evitar de as pequenas gotas respingarem.

— A primeira semana já me rendeu um aprendizado legal, a quantidade de coisas existentes numa unidade de comprimido é enorme; aquela paradinha só tem um pouquiiinho dela sendo composta pela droga principal, já o restante, são com compostos que auxiliam ou dão densidade e volume. Temo que meu tempo atrapalhe as gravações. A vida da universitária não é moleza. Well... See u!

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berealit · 3 months

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March 3, 2024.

Havia acordado mais tarde do que o habitual naquele domingo, nem mesmo o barulho das garotas fazendo suas devidas atividades pelo dormitório foram empecilho para estender o sono. Após coçar os olhos e passar cerca de cinco minutos encarando a parede em silêncio, a garota se levantou e cumpriu todos os habituais passos de sua rotina matinal: arrumar a cama, escolher vestes limpas e por fim, ir até o banheiro fazer sua higiene e tomar um bom banho morno.

( ... ) Alguns momentos mais tarde.

Com um bico manhoso de quem negava com muito pesar, dispensou o convite das colegas de dormitório para um passeio, optando por despender seu tempo livre para aproveitar a privacidade que teria para reorganizar os próprios pensamentos e recarregar suas energias para encarar a verdadeira primeira semana de aulas, já que a anterior fora unicamente de adaptação; em qualquer outra circunstância, iria preferir mil vezes sair, mas privacidade lhe era raridade e queria poder gravar um pouco mais do que seus cochichos.

Pegou a xícara finalmente servida de um bom e forte café e deixou sobre a mesa, antes de buscar por seu gravador portátil e um microSD com a memória completamente limpa. Tornou a buscar seu café e então, foi em direção a sacada, onde se sentou sobre uma cadeira confortável, com uma almofada em seu colo e a xícara em mãos. Não fazia questão de usar fones de ouvido, acreditava que o som do ambiente fizesse parte da experiência e com isso, apenas ligou seu celular com o som baixinho; Meg Myers seria sua trilha sonora do dia. E assim, deu início a gravação.

— Gravação do dia três de março de dois mil e vinte e quatro. — Deixou a xícara sobre a mesa após sorver o primeiro gole. — A semana foi mais intensa do que eu gostaria. Me remete a quando meus pais acolhiam intercambistas em Tours. Ser host family era caótico as vezes, mas de longe posso afirmar que era extremamente divertido e minhas gravações anteriores são a maior prova disso. O que não me falta é história pra contar, posso dizer que vivi uma vida universitária antes da hora!

Não pôde evitar em rir com a própria fala, se lembrando de algumas situações que havia vivenciado. O contato que tinha tido com a Coréia com a adolescência, era devido a isso.

— Acredito que essa adaptação ainda seja confusa porque, porra... Convenhamos, eu ainda não me acostumei à comunicação daqui e, eu ainda não conheço Seoul. Mas tô me esforçando! E uma prova disso, é que saí pra beber e comer sozinha pela primeira vez ontem.

Era sua primeira vez residindo em Seoul, estava conhecendo a cidade, os locais, os costumes e, claro, era um pouco assustador também. Mas não deixava de ser divertido e até mesmo aventureiro.

— A culinária de rua daqui agradou muito meu paladar. Os temperos fortes e combinam perfeitamente as bebidas. Eu, Eloise, sou bem tolerante ao álcool e posso dizer que misturar cerveja e soju não é uma ideia muito boa. Vou repetir? Talvez. Mas não aconselho.

Encarando a rua enquanto falava, pendeu a cabeça para trás, respirando fundo antes voltar sua postura e levar a mão até a xícara para beber mais do café, antes que sua amada bebida esfriasse.

— A semana vai ser cheia e fico pensando no quanto minha rotina vai mudar, não consigo ficar triste com isso, porque a motivação é boa. Pensar que tô cursando o que queria na Ewha e que meus esforços estão sendo recompensados é o que me vale, sabe? Acho que isso é o mais importante no momento. É com o que tô gastando minha energia e vou fazer valer.

Tamborilou as unhas não tão longas na xícara de louça antes de beber todo o café restante e esticou o pescoço para olhar a "rua". O ambiente estava tranquilo, mas nublado.

— As meninas e eu estamos pensando em alugar um apê. Viver "Hello My Twenties" na vida real parece divertido, teoricamente é como se já estivéssemos, mas o maior dormitório do campus ainda parece pequeno. São seis garotas num cúbiculo, então... Sem julgamentos.

Ergueu o indicador. Eventualmente gesticulava como se conversasse diretamente com alguém durante suas gravações. Esse diálogo consigo mesma realmente a fazia bem, permitia que pudesse externar o que se passava por sua cabeça e reorganizar as próprias ideias, reavaliar os impactos dos próprios pensamentos e sentimentos. Externar a fazia se sentir sã, assim como ter seus dedos deslizando nas cordas grossas de sua guitarra favorita.

— Essa semana vai ser agitada, então vou gastar o restinho do meu dia vendo um filme ou lendo um livro. A gravação de hoje se encerra aqui e, como de costume caso eu não me recorde do que tá tocando no fundo quando ouvir isso daqui alguns meses, as músicas tocadas foram Running Up The Hill, Children Of The Light II, Heart Heart Head, Curbstomp, Motel e Last Laugh, todas da Meg Myers.

A chuva começou a cair do lado de fora, seu efeito sonoro favorito havia chegado tarde demais; então, findou a gravação apertando um único botão e devolveu o gravador para o lugar de sempre.

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