Tumgik
Depois, me lembro que sou feita de inúmeros pedaços icorrigíveis que mesmo desajustados, de alguma maneira estranha, formam o que eu sou.
As aventuras de Lala na Cidade de Thor
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Aos vizinhos peço perdão pelo meu canto desafinado. É que dizem que quem canta seus males espanta e eu tenho tido muito o que espantar.
Meu canto melancólico e sem ritmo desnuda o grito que reside aqui, escondido. É só uma forma de deixar vazar o que nem eu compreendo. Queria ter escrito essas canções, queria saber cantá-las porque dessa forma poderia gritar minhas dores sem soar desesperada, sem causar alarde nos ouvintes. Afinal, é só poesia, uma forma de arte, ninguém se importaria em verificar a verdade da angústia, o profundo dos timbres afinados.
Mas, vizinhos eu só sei gritar. Espurgo meus males em notas que não sei decifrar, desafino sempre. Sei que deve ser horrível me ouvir, ainda que só o eco que ressoa pelas paredes dos muros. Não duvide, é pior a dor que grita aqui dentro em silêncio.
~As aventuras de Lala na Cidade de Thor
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Depois que voltei descobri que ainda havia espaço para amar apesar da dor. (Re) conheci as pessoas que me nutriram e ensinaram meus primeiros passos. Antes as via como deuses, seres mágicos sem defeitos. Agora os vejo de tanta carne osso e pecados como eu.
Redescobri o significado de perdoar e seguir em frente, atravessar o mar da angústia para alcançar liberdade e não fuga. E por refazer esse percurso, criando novos significados e laços mais fortes que antes, abri espaço para a saudade.
Estou certa de que preciso ser livre, mas meu ninho antes feito de espinhos transformou-se no mais aconchegante deles, não em razão de me acostumar com a dor e sim porque dor já não havia como antes.
O que eu sinto agora não é bem tristeza, nem felicidade, nem dor. Estou sentindo o vazio de uma página em branco que precisa ser escrita, mas ainda não tenho ideias e temo não ser capaz de tê-las. A minha ânsia por liberdade parece agora menor diante de todo o significado que reconstruí sobre meu antigo lar.
Por onde devo recomeçar agora?
Não conheço outro caminho que não seja escrevendo.
~As aventuras de Lala na Cidade de Thor
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Não existe um livro com esse título de tumblr?
Não sei se livro mas é o título de uma música do Raul Seixas: As aventuras de Raul na cidade de Thor.
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Preciso confessar, as vezes volto a ver suas páginas, procuro fotos novas em que ela aparece, vou às páginas dela e olho as fotos que ela tem com você. Não faço isso com frequência. Mas, ainda faço.
É uma curiosidade dolorosa, é como me autoinflijo dor, revirando esse passado. E ele está encerrado, eu sei. Não te quero nem mesmo de joelhos. Passo mais tempo notando as foto dela do que as suas porque, o que me intriga de verdade, é o que ela parece ter para conseguir ser amada dessa forma. Parece tão fácil pra ela, ser desejada, amada, sonhada. O que me falta que nela sobra?
Eu sabia que você voltaria para ela talvez antes de você mesmo cogitar isso. Eu sabia. O que eu não sei é o que fez com que mesmo diante de todos os defeitos e desajustes dela que, muitas vezes, você me confidenciou, ainda restou em você amor para voltar. Eu não sei.
E você disse algumas coisas sobre mim que me fez pensar que talvez eu pudesse ter qualquer coisa de parecido, que eu pudesse ser uma escolha melhor. Porém, quando você precisou de fato fazer tal escolha, eu não fui a escolhida. Eu ainda me pergunto o que faz com que ela e outras mulheres como ela sejam escolhidas.
Seja lá o que for, não parece ser algo que eu tenha.
~As aventuras de Lala na Cidade de Thor.
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No restante dos dias a falta de alguém ao meu lado, me ajudando com a lista de compras ou dividindo a mesa de café da manhã não me incomoda.
Eu acordo no mesmo horário, me distraio com os cachorros e faço todo o necessário pra sobreviver, viajo em sonhos de uma vida melhor, me entrego o quanto possível ao meu trabalho e tento caminhar livre, com a cabeça erguida.
Nesse restante dos dias não sinto a falta do toque suave na minha pele, do olho no olho durante o sexo e nem mesmo sinto falta do sexo. Ter a mim basta de maneiras que jamais imaginei que bastaria. No restate dos dias é confortável minha pele solitária e o lado frio da cama.
Mas, nesses dias. Nos dias que todos ao meu redor festejam seus amores, ou que falam de suas amenidades afetivas, quando me sinto deslocada pela falta de assunto sobre relacionamentos, quando o barulho da minha cabeça cessa e o silêncio ecoa pela casa porque nem meu cachorro deseja latir. Nesses malditos dias eu quero gritar a dor de me sentir tão profundamente, assustadoramente, desesperadamente sozinha.
Nesses dias eu quero que alguém me ame a qualquer custo, que minha cama aqueça completamente mesmo que por aquela noite apenas. Eu apelo para a miséria de afeto e me engano com qualquer presença momentânea porque o que importa é me distrair da solidão que arranca de mim o sorriso.
Essa dor está aqui independente dos dias bons e sei que se não me esforçar para esquece-la será insustentável viver. Amor não se obriga, nem se domestica.
Amar é um ato de selvageria.
E a minha solidão é só minha.
~As aventuras de Lala na Cidade de Thor
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Vou começar a escrever os planos para o próximo ano, balanceando tudo o que foi este que passou.
É uma tarefa difícil porque exige mais do que só pensar numa lista de desejos. Exige pensar num propósito além de mim.
No ano que se vai eu tive muitas conquistas, a principal delas foi voltar a mim mesma depois de tanto tempo longe de mim. Tive que me reerguer e recomeçar a contar a minha história com um novo sentido. Ainda estou tateando este novo caminho, mas me sinto bem melhor nele do que naquele fosso escuro que me encontrava. É mais claro aqui e eu posso respirar com calma.
Para este ano que chega eu desejo (como um propósito) que a busca por mim mesma não cesse. Que eu consiga perseguir a mim mesma e à cura para minhas feridas mais profundas. Espero que o caminho que agora estou tateando se desdobre em uma longa jornada rumo à melhor versão de mim em todos os sentidos possíveis. E quero mesmo, do fundo do coração, não chegar ao fim do próximo ano sozinha como estive e me senti todo esse tempo.
Quero encontrar pessoas e reencontrá-las se for o caso. Quero as pessoas novas e as antigas, dividindo comigo a estrada. Quero um amor que divida comigo a vida da maneira que sonho e desejo ser amada. E não quero adiar esse desejo para mais um ano como é de costume. Quero encontrar esse sonho agora e pra isso estou disposta a me curar pelos próximos novos 365 dias. Não quero que um descuido me faça perdê-lo de vista quando o encontrar.
Eu escolhi passar o ano com a cor da paixão, o vermelho mais sangue que pude encontrar. O vermelho mais coração pulsante que existe. É para que esse amor realmente transborde. Se existe uma lição que 2023 me trouxe é de que uma vida inteira não vale se não se pode viver a experiência de amar plenamente. Porque no fim das contas é com o outro que mais aprendemos sobre nós mesmos.
Que amor não me falte
E que amor não falte a ninguém!
~As Aventuras de Lala na Cidade de Thor
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Esse é o Natal mais triste até agora. É triste porque a minha magia de Natal (que nada tinha a ver com papai Noel e renas) tem sido desfeita ano após ano. Aquela família que eu sabia unida, é agora fragmentada pelas diferenças inconciliáveis e os tais conflitos geracionais.
Alguém fala sobre isso?
Sobre as famílias que estão longe do comercial de Margarina?
Estou observando meus tios conversarem e alguns agregados que já perderam seus entes queridos e foram acolhidos por meus avós. É bonito como o terreiro de Dona Benedita é cheio de amor pra todo mundo.
Ainda assim falta uma porção de netos, falta uma porção de bisnetos. Falta. E saber a razão dessa falta me dói. Um pouco porque para parte deles outras famílias surgiram, um pouco porque as diferenças nessa família aqui são difíceis de conciliar, um pouco porque as coisas simplesmente mudaram. Outras escolhas são feitas.
Mas, eu sinto falta de todo mundo junto como quando eu era criança. Era a minha magia do Natal. Agora meu natal parece mais vazio, mais real e por isso mais triste.
Nesses momentos eu desejo não saber do que sei. Conhecimento demais entristece.
Eu, por minha vez, decidi ficar. E quero escolher ficar pelos próximos anos porque minha família é aqui. Meu lugar é aqui mesmo com todas as diferenças que com muito custo eu tento conciliar. Para mim, amar nada tem a ver com uma tarefa fácil. Meu amor pela minha família é gigantesco mas amá-los todos os dias é difícil.
É difícil atravessar todas as mágoas, atravessar as divergencias, atravessar a raiva e escolher amar. É difícil ficar. Mas sei que seria infinitamente pior partir ou fugir como costumava fazer antes. Eu colhi um fruto amargo pelas vezes que fugi. Agora, consigo ver além das minhas dores e não é mais desconfortável.
Mesmo assim, falta. E talvez essa falta me acompanhe pelos próximos anos. Esse texto é pra dizer o que ninguém diz no Natal, é pra confortar os que assim como eu tem famílias fragmentadas pelo mal do século que é a falta de ouvidos para ouvir e compaixão pra acolher. É para aqueles que, assim como eu, perderam a Magia do Natal.
~As aventuras de Lala na Cidade de Thor
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Admiro todas as mulheres que se permitem amar. Esse mundo é tão inseguro pra nós. Homens foram programados pra nos violar em todos os sentidos possíveis. Penso que é um grande salto se permitir baixar a guarda e viver sem medo e sem culpa.
Admiro as que gozam todos os prazeres da carne sem arrependimentos. Fazem de si o próprio prazer, transformam-se em seus orgasmos. Essas mulheres são livres.
Admiro todas elas.
Eu queria saber como se sentem, de que são feitas, se existe um molde e, se existir, um que me caiba pra que eu possa me fazer mulher tal qual todas elas.
De repente assim, eu me permita todos os prazeres e todo o amor que agora me é negado.
E, talvez, exista um mesmo molde pra que homens sejam mais que o motivo de nossas dores.
~As aventuras de Lala na Cidade de Thor
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Faz tempo que não converso comigo mesma através dessa ferramenta que uso para me expor, protegida pela certeza de que sou lida por (pouquíssimos) estranhos.
Estava na hora.
Agora parece que uma virada está prestes a acontecer na minha vida. Mas, como nada é de perto o que parece quando avistado de longe, as coisas todas estão suspensas, caminhando muito devagar. E eu, nessa ansiedade incontrolavel quero respostas concretas sobre os próximos dez anos.
Minto, eu já queria estar vivendo minha vida sonhada. O que é perfeitamente inconcebível já que não sei que vida sonho ter. Digamos que estou menos perdida agora do que estava há meses atrás. Tenho rodado menos em círculos. Uma estrada curva se apresenta com inúmeras bifurcações e eu preciso fazer muitas escolhas para seguir. Quais são as escolhas certas?
Isso tem me atormentado todas as noites antes de dormir. Tenho sonhado com pessoas estranhas durante a madrugada e acordado as 3 da manhã sem qualquer expectativa de voltar a dormir. Sei o que tenho pra fazer, mas tenho deixado tudo pra última hora porque parece que preciso estar com a corda no pescoço para começar a agir.
Me questiono a razão de ser assim. Tento me perdoar por agir de forma incoerente muitas vezes. Mas, confesso que essa minha forma de ser parece funcionar pra mim. A emoção dos últimos minutos para uma decisão garantem toda a minha criatividade.
Na próxima semana, vou enfrentar um grande demônio, um medo absurdo de uma prova que não garantirá a minha vida, mas poderá fazê-la mais agradável. Espero que isso que eu quero muito seja possível pra mim. Eu sei que tenho tentado muito e mesmo com medo faço o que precisa ser feito porque essa vida não é muito confortável para a maioria das pessoas.
Menos ainda pra mim.
~As aventuras de Lala na Cidade de Thor
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A conta, por favor.
Meu dinheiro na conta mal dá pros gastos que eu tenho pra me manter sã e poder trabalhar de novo, amanhã.
Meu dinheiro mal dá pro remédio que, agora, precisa ser prescrito por um psiquiátra que me custa o mesmo preço danado. E isso é só o tanto que me custa ficar bem pra realizar meus sonhos. Que sonhos? Eu não sei mais. Estou perseguindo a possibilidade de voltar a sonhar. Parece que o valor da minha saúde mental vai ajudar nisso também.
E tem as vitaminas, me esqueci delas. São importantes pra manter tudo funcionando. Mas, exige a grana dos exames, suplementos e as frutas no mercado.
Não vou nem mencionar o dinheiro pro Oftalmo e óculos novos para a dor de cabeça. Talvez isso fique pro próximo ano, se houver.
Tudo me custa. É cansativo. Eu quero ficar bem, mas esse preço é alto. E o que eu podia ter feito por mim mesma até aqui, parece não ser mais o suficiente.
Meu abismo é interminável.
Se eu morrer amanhã ainda vai restar alguma vida minha nessas parcelas? Pode ser que eu faça delas uma lembrança real de mim: endividada em virtude dos altos custos com a saúde mental, mesma razão que a matou. Que pena!
~As aventuras de Lala na Cidade de Thor
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Bilhete
Você passou por mim segurando a mão dela. Esbarrou na minha mesa e eu não percebi, estava distraída. Que bom que estava distraída. Não pude ver o seu sorriso ao lado dela, não sei dizer se ela está te fazendo bem e é bom não saber de mais nada a seu respeito. Foi bom não ter te notado, não pude perceber se o seu corte de cabelo ainda é o mesmo, se continua tendo tantas certezas sobre si como da última vez que conversamos. Foi ótimo não ler suas palavras de preocupação como naquela última mensagem que trocamos, não ver sua expressão de pena como naquela última vez que nos olhamos. Foi bom estar distraída, não precisei responder que tudo estava bem quando não estava - pensando bem, você sequer me olharia ao lado dela. Ainda sou um assunto proíbido entre vocês? Me arrependo de não ter dado motivos reais pra isso. Ela deve me odiar - e sem motivos. Imagino que agora, vocês devam ter tido algum tipo de acordo sobre isso, ou melhor, a sua única opção foi me deletar da sua vida para seguir ao lado dela - e deve ter deletado várias outras. Isso explicaria o fato de que da última vez que te vi naquele corredor, corri pra outra direção e você não foi atrás de mim como de costume. Pode ser isso ou, finalmente, passamos a respeitar a distância que existe entre nós e, quem sabe, aceitamos que não cabemos mais na vida um do outro.
Você não vai receber esse texto porque não escrevo endereçado à você. Não quero saber a sua opinião ou o seu desagrado. Mesmo assim, preciso escrever como se você fosse capaz de lê-lo. Espero que seja realmente feliz dessa vez porque eu quero muito ser feliz também. E se nos esbarrarmos, por favor, não precisa ser educado, eu não dou bom dia à estranhos. Você agora é um estranho pra mim.
~As aventuras de Lala na Cidade de Thor
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Três semanas e as teias de aranha se espalhavam pelo teto. Pensando bem, foram mais de 3 semanas. Pilhas de roupas se somando na poltrona, caindo do pequeno guarda-roupas, migrando da cama para a mesa onde antes ficavam apenas os materiais de estudo. Roupas e mais roupas. Fios de todos os aparelhos se embolando pelo chão.
Cada vez mais apertado, apertado. Minúsculo.
Mais de três semanas, com certeza.
Pratos de refeições anteriores. Xícaras e mais xícaras de café vazias. Livros que não possuem estante para repousar.
O colchão continua no chão. Se chegar a janeiro eu completo um ano dormindo no chão. Ainda não comprei uma cama decente porque este é um plano que eu sempre adio para quando entrar um dinheiro a mais na conta ou tiver o suficiente para comprar também um guarda roupas ou, ainda, pra quando finalmente for sair dessa casa para o mundo. Tudo não passa de desculpas ou historinhas que conto para enganar a mim mesma.
Nada disso é razão suficiente para que continue dormindo nesse chão, no meio da sujeira, nesse quarto apertado e sem cortinas com as teias de aranha se multiplicando no teto. Nada disso justifica.
Minha mãe gosta de dizer que sou desorganizada. O que ela não entende é que a bagunça desse quarto só reflete a bagunça aqui de dentro de mim. Enquanto permanecer bagunçada dessa forma, o quarto é o menor dos meus problemas. As vezes acho até que ele é a solução. Olhando agora pro estado decrépito que ele se encontra fico pensando: como posso caber dentro de tanta sujeira? Cercada dessas pilhas de roupas que precisam ser dobradas? Como posso dormir tranquila em meio a essas paredes que se fecham ao meu redor? Por que diabos não consigo comprar a porra de uma cama?
Eu já escrevi aqui que é difícil amar alguém triste. Deixe-me acrescentar: é difícil amar alguém triste e completamente bagunçada. Mas isso, é outra historinha que eu conto pra justificar o fato de ainda não ter sido amada.
~ As aventuras de Lala na Cidade de Thor
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As vezes parece que as pessoas estão elevando os padrões de amor próprio à algo doentio. Que história essa de que se amar te insenta da dor? Se ame e viva feliz sozinha! Você só não é feliz na sua própria companhia porque ainda não sabe como se amar! - todos dizem. E alguém se escuta?
Não gosto dessas frases de efeito. Desprezo todas elas. Não existe uma receita de amor próprio, ele não é livre da dor, não retira de você as sombras, as marcas ou o passado. Amor próprio não é um antídoto.
Mas, não significa que não seja importante. A verdade é que se amar é uma construção. Exige tempo. Não segue uma linha reta e, menos ainda, uma fórmula. Você vai precisar se odiar as vezes, é inevitável. E mesmo com todo o amor próprio do mundo você ainda vai odiar se sentir sozinha, não vai gostar da sua própria companhia e vai desejar no mais profundo do seu coração ser amada por alguém. Porque, pasme, amor próprio não substitui a sensação de ser amada por outra pessoa. A sua própria companhia não substitui a maravilha de compartilhar a vida com alguém. E só porque encontrar isso seja tão difícil, não significa que você precisa ignorar o quanto te machuca ainda não ter encontrado. Você não precisa se esforçar tanto para gostar de si mesma e se amar incansávelmente na esperança de que esse vazio vá embora, ou que você se sinta bem apesar dessa solidão inesgotável. Provavelmente, nenhum dos dois vá embora.
Me incomoda profundamente essa ideia doentia de que precisamos ser totalmente autosuficientes. E somos capazes disso mas, nem sempre precisamos. É uma linha tênue. Amor próprio nada tem a ver com a recusa do outro. Pelo contrário, eu me amo o suficiente para pedir ajuda, me amo o suficiente para saber como quero ser amada por alguém, me amo o suficiente para saber exercitar a empatia, me amo o suficiente para conviver com as pessoas que fazem parte da minha vida da maneira mais saudável possível.
Amor próprio é autoconhecimento. E, claro, durante o percurso de conhecer a si, é comum se ver diante de uma jornada solitária porque, no geral, as pessoas não estão prontas para encarar esse tipo de jornada sobre elas mesmas. É necessário a capacidade de flexibilizar-se para construir e desconstruir a si, o tempo todo. Por vezes se deparar frente um mar de inconstâncias, à deriva num abismo de indefinições. É difícil como todas as coisas que valem muito a pena. É solitário porque, quanto mais nos amamos, mais somos exigentes sobre o amor. Mas, não significa que porque isso acontece, precisamos nos conformar. Pelo contrário, deveríamos ensinar que amor próprio é sobre compartilhar mais do que sobre ignorar os momentos em que a nossa própria companhia é a última das coisas que gostaríamos de encarar.
Não sei se qualquer das coisas que digo faz sentido. É sempre bom desconfiar de mentes instáveis e de pessoas emocionalmente doentes como eu. Mas, talvez por encarar o fundo do poço tantas vezes, tenha alguma experiência de causa para dizer que amor próprio, também machuca.
~As aventuras de Lala na Cidade de Thor
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O que ninguém sabe
Eu consegui sair de dois fundos do poço ou, cientificamente, duas crises depressivas. A terceira crise ainda é um processo em construção. Podemos dizer que consegui sair daquela lama fétida do poço e escalei as paredes até ver uma luz mas, ainda não me livrei do maldito. Estou engatinhando pelas paredes.
Demora. Demora muito. E a ansiedade, que é outro fator agravante, faz com que seja mais lento.
A cada vez que saio desse abismo é como se estivesse nascendo de novo. Me sinto viva de novo e viver é bom. Durante o processo é essa perspectiva que me mantém lutando, saber que por mais difícil que seja a escalada, minha satisfação será imensa.
Porém, nem sempre isso dura muito tempo. Não sei porque isso acontece comigo. Eu queria entender mas, ainda não entendo. Talvez ocorra quando tudo parece bem e eu fico desatenta e nessas horas tropeço e estou lá no fundo do buraco novamente. Nas duas vezes anteriores foi entre uma alta e outra da terapia, somados a situações angustiantes da minha vida, das quais não fui capaz de lidar sem ajuda.
Para a maioria das pessoas eu aparento ser uma pessoa comum, sem grades problemas. Ninguém olha pra mim e diz que eu lido com a depressão. Não está estampado na minha cara e, pasme, quase nunca está. Essa pode ser uma doença muito, muito silenciosa.
Eu me conheço a ponto de saber quando as coisas estão saindo de controle. Conheço bem os sentimentos obssessivos e a vontade de simplesmente desaparecer que surge todos os dias. Conheço a falta de desejo, de perspectiva, conheço a vida que, de repente, perde todo o sentido. Tudo é confuso. E tudo é profundamente triste.
Eu tenho tido altos e baixos no último ano. Me sinto bem melhor, é inegável. Mas, essa coisa doentia ainda está aqui. Eu ainda sinto lá no fundo que não saí desse poço, consigo ver que estou brigando com as paredes escorregadias para me reerguer. A verdade é que tenho medo de perder essa briga. Tenho medo de perder minha sanidade (se é que qualquer sabidade exista). Tenho medo de numa dessas crises não ser capaz de voltar.
Mesmo sendo assistida e sabendo que tenho sido tratada e atendida em meus pedidos de ajuda, essa é uma briga que eu preciso enfrentar sozinha. Ninguém pode habitar minha cabeça. A questão é entre mim e meu cérebro danificado. E por isso mesmo me dá muito medo.
Eu entendo as pessoas que desistem de tudo. E isso também me assusta porque significa que de alguma forma eu conheço aquele desespero. Mas, ainda tenho feito valer uma das muitas promessas que fiz a mim mesma: a de que escolheria viver mesmo que fosse difícil.
Isso é claro, não me impede de pensar na morte. Talvez por isso mesmo tenho tanta urgência em viver. Parece que a qualquer momento eu posso, simplesmente, desaparecer.
~As aventuras de Lala na Cidade de Thor
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Recaída
Queria poder habitar outro cérebro, um saudável, por pelo menos um dia. Só pra saber como é.
Deve ser bom não ser atormentada pela profunda falta de sentido e por essa angústia... essa angústia permanente.
Meus amigos não entendem, minha mãe não entende, ninguém entende. Nem mesmo eu.
Não tem como amar alguém triste.
~As aventuras de Lala na Cidade de Thor
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Estava aqui pensando numas ideias para escrever.
Preciso fazer algo sobre isso logo. Se não a vida vai passar e eu estive aqui colecionando possibilidades e não coloquei nada no papel.
Essa mania minha de achar que nada que eu penso está bom, que nada que eu faça é útil. Essa mania de grandeza, de pensar que preciso despontar como uma coisa rara, diferente, irresistível e, por isso perfeita. Uma proposta irrecusável.
As vezes me pergunto se isso é mesmo mania de grandeza ou é o que a vida foi me ensinando sobre como pessoas como eu precisam fazer para conquistar lugares, pessoas e sonhos.
Não tem muito espaço pra gente nesse mundo sem cor.
Os poucos que conseguem precisam ser irrecusáveis, irresistíveis, excepcionais. E ainda assim talvez só alcancem a glória e o reconhecimento depois de suas mortes.
Talvez eu não queira escrever só pela paixão e pelo imenso grau de satisfação que isso me traz. Talvez eu queira desfrutar da gloria e do reconhecimento que poucos dos meus puderam. E talvez a minha ficção seja muito atravessada pela crueza da realidade, o que pode não ser muito encantador aos olhos da maioria das pessoas. Não sei.
Vou precisar arriscar e descobrir. E ter coragem. Muita coragem.
Nesse mar de indefinições da minha vida, a única coisa à que me sinto agarrada é o papel [Mesmo! Porque quase tudo que escrevo é à mão]. Mas, estranhamente, isso ainda não é uma certeza. Estou querendo fazer disso meu ofício ou salvação? E se não for nenhum dos dois? O que me sobra?
Essa pergunta me assusta. Me assusta pra caramba!
~As aventuras de Lala na Cidade de Thor
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