Arqueou as sobrancelhas incapaz de esconder o sorriso matreiro, divertida com o tom da fala da morena. Apoiou o corpo contra o batente da porta com os braços cruzados “Duvido que iriam demiti-la caso afirmasse ser pedido de um dos hóspedes. ” Deslizou os dedos pela ponte do nariz até alcançar os olhos, mal conseguia abrir os orbes tamanho o cansaço que sentia e quando finalmente o fez observou com cuidado a disposição das diferentes malas e roupas dispersas pelo cômodo. “Me perdoe pela intromissão... E pela desorganização. Não é de meu costume, porém ainda não tive tempo o suficiente para me estabelecer. ”  Esteve tão absorta nos pormenores do contrato com os Thorn e no festival que mal dispensou parte de seu tempo para seus próprios problemas, passando assim a noite de sua chegada em claro lendo os diferentes mapas de Adoria, marcando com o tinteiro as áreas que acreditava por alto ter relação com locais onde os “selvagens” estariam localizados pelos boatos. Os mapas. Arregalou os olhos, andando calmamente até o móvel disposto ao lado de sua cama, enrolando os pergaminhos com falsa naturalidade. “Não me incomodo de esperar aqui, desde que não vá realmente atrapalhar seu trabalho” Levou seus documentos até a escrivaninha, o olhar buscando com atenção por qualquer outro vestígio de sua pesquisa. “Não queremos arriscá-lo”, levantou as mãos em defesa, o corpo já desmontado sob a cadeira desconfortável “Trabalha há muito tempo aqui, srta. ... Perdoe meus modos, mas como se chama?”

Rolando os olhos, a morena colocou a mão na maçaneta do quarto seguinte e entrou, encontrando mais um local desorganizado. Deveria manter a postura de uma boa profissional, mas não havia ninguém ali para ver sua expressão desgostosa. Por mais que fizesse aquilo a mais tempo do que pudesse contar, Constance nunca ficaria feliz. Pegava-se pensando em como seus pais nunca sonharam em uma vida melhor do que aquela. Ela mal podia esperar pelo dia que pudesse passar inteiro na cama apenas comendo uvas e sendo abanada como nos quadros de antigas rainhas. Colocou seus utensílios de limpeza no chão e começou a retirar o jogo de cama sujo para levar as lavadeiras, trocando-o por um novo. Todos os quartos deveriam seguir um padrão de organização, por tal Constance era responsável por todos. Cobria a cama com o lençol quando ouviu a porta do local ser aberta pelo donx do quarto. “Horário da camareira.” Informou com um sorriso levemente sarcástico. Ela passava sempre nos mesmos horários, já deveriam ter se acostumado com tal, não? “E eu só vou sair quando terminar ou serei demitida, então…” Apontou para o lençol que estava colocando e voltou ao trabalho, deixando claro que a privacidade não seria respeitada naquele momento. “Se quiser ficar, não tem problema, mas ainda vou demorar.”

mrabcrnathy‌ ------------ FLASHBACK !

                                     Quando há uma aglomeração grande de pessoas, esbarrões são inevitáveis e Graham sabia muito bem disso depois de ter esbarrado em tantas pessoas no baile de boas vindas. Portanto, quando teve o corpo chocado com o de outra pessoa não se espantou, apenas virou-se para ver se a pessoa estava em perfeita condições. “ —— não se preocupe, isto acontece quando há um excesso de pessoas no mesmo lugar.” comentou com um sorriso singelo, encarando a garota por um tempo, mas sem reconhecê-la. “ —— está bem?” questionou, lembrando-se da boa educação e do fato de ter que zelar pelo bem estar das garotas luz, um machucado e ele deveria pagar caro. “ —— me desculpe, mas não me recordo seu nome, por um acaso nos encontramos no baile de apresentação?” voltou a perguntar em curiosidade, afinal, não recordava-se da morena dentre as pedras, mas poderia sua mente o estar enganando.

“Sim, obrigada. ” Sorriu de maneira educada para o homem, percebia a movimentação apressada e dispersa em demasiado nas apresentações, preferia assim, pensou, já que sabia também o que acontecia em ambientes com um excesso de pessoas: falatório. Ali passaria desapercebida de maneira gentil com maior facilidade, e esse era o ideal para evitar o burburinho inevitável quanto às suas eventuais saídas e ações, afinal, a primeira impressão que permanecia nada mais era do que uma coleção de boatos e pequenos gestos que viessem a reafirmá-los. Devia fazer o máximo para que tais boatos fossem reduzidos e, se possível, inexistentes, principalmente com o que tinha em mente para o curto prazo que possuía em Adoria. “Não é preciso se desculpar, não teria como lembrá-lo. ”, apertou o documento entre as mãos enluvadas, forçando a permanência do sorriso. “Acabo de chegar para a obtenção de uma das famosas joias. Creio que esteja aqui para fazer o mesmo, certo? ” Franziu as sobrancelhas a própria menção das joias, analisando o homem diante de si com interesse. “De qualquer maneira, é um prazer conhecê-lo, me chamo Damaris Hevelius. ” E seria um prazer maior ainda caso pudesse lhe informar mais a respeito da região, pensou. “O senhor seria adoriano? Desconheço a região por completo, seria interessante saber mais a respeito da cultura local.”

kasecmg ------------ FLASHBACK !

              O número de malas indicava que a morena acabava de chegar de uma viagem, o que era, no mínimo, estranho, considerando que estava no meio de um festival. Pela idade, Kase poderia facilmente julgar que ela era uma das joias, porém, não lembrava-se de tê-la visto no baile de abertura, nem mesmo transitando pela mansão em outras ocasiões. Foi o uso de outro idioma que fez com que se surpreendesse, constatando que vinha dos lados de Balanqua — ele tinha prestado serviços junto de outros oficiais do país em questão.  “ Desculpe, só falo inglês ”, respondeu, reparando nos papéis que ela tinha em mãos. “ A senhorita também fala ou apenas o balanquano? ” — não era surpresa que em Adoria vivessem pessoas de todos os tipo, inclusive de outros países que não Osfro. Eram as vestes da morena, a postura e as joias que carregava que fizeram com que Kase chegasse à conclusão que não era uma mera refugiada.

“Oh, é claro”, as palavras em inglês perambularam pelos seus lábios a princípio com certa dificuldade, há alguns anos não o utilizava com tanta frequência apesar de ser fluente neste. Empertigou o corpo para alcançar a altura do olhar do homem que aparentava ser, inesperadamente, tão jovem quanto ela – não imaginava encontrar rostos tão novos dentre os prováveis compradores. Arqueou as sobrancelhas por um breve momento incapaz de esconder a surpresa, para então prosseguir com a postura maquinal acompanhada do esboço de um sorriso educado. “Como dizia, gostaria de me desculpar pelo encontro agora pouco. Entretanto, creio que pode ter sido oportuno, acabo de chegar para a temporada a fim de...” dobrou o papel em mãos engolindo em seco, o sorriso caminhando para o tom irônico “... realizar a aquisição de uma das damas da corte de luz. Algumas informações escaparam do meu conhecimento, como, por exemplo, se há regras quanto a saída da fazenda...” apertou as mãos enluvadas contra o corpo, desacostumada com o clima gélido da época em Cape Triumph, o reflexo oposto de qualquer um que gostaria de se aventurar a partir de passeios em locais abertos. “O senhor saberia algo a respeito?”

Respirou fundo realizando uma breve pausa entre as tendas para poder ler com certo desinteresse o papel rugoso em suas mãos lotado de nomes escritos com a letra requintada do intolerável homem — ou urubu, uma descrição de melhor encaixe, que gerenciava a mansão. Gostaria de utilizar seu tempo para algo de maior proveito, porém havia um contrato a seguir em nome do seu irmão mais velho e sabia que devia ter calma, afinal, o tipo de coisa que planejava fazer exigia paciência e preparação. “¿Cuál es la función…?”¹ resmungou cansada semicerrando os olhos para o suposto catálogo em sua mãos que delineava literalmente traços a respeito das joias a serem adquiridas e avaliadas para o maior proveito do comprador. Balançou a cabeça em negação, rindo do próprio choque. Devia se portar como uma legítima compradora com ideais à parte para que Jasper não a interrompesse mais através dos seus olhares com intenções subjugadoras. Decidiu que seria mais cortês guardar a papelada com o resto de sua bagagem, portanto, buscou seguir seu caminho fugindo da aglomeração central quando ao girar o corpo esbarrou com força em outro alguém. “Perdóname…”²  exprimiu automaticamente ao inclinar a cabeça de maneira respeitosa, os olhos voltados para o documento em suas mãos.