A conexão que sinto contigo, é inexplicável, forte, única. Parece que a minha alma já conhecia a tua. De muitos anos, ou, muitas vidas. Sei lá, talvez o universo conspirou ao nosso favor, preparou e aprovou o nosso reencontro.

As cartas que eu te escrevi.

Chaotic Cohomological Dynamics.

É uma dor estranha, perder alguém que nunca existiu de verdade. Lembro que uma vez me questionei se você era real, ou se tinha sido um delírio da minha cabeça. Tipo nos filmes, que a pessoa conversa com a outra e os outros ao redor veem ela conversando sozinha. Você nunca me teve, porque você, não era você. A pessoa que me teve não existiu, eu só quis que ela tivesse existido. E, meu Deus, mais uma vez, ignorei sinais. Você não cansa de me magoar, de me ferir, quase implorando pra eu te deixe, e eu aqui. Ta na hora de te deixar, porque você realmente nunca me mereceu. Baixe o tinder, encontre outro brinquedo, transe, goze, canse e depois jogue fora. Homens, mulheres, o que quiser. Foda-se. Maconha, festas e amigos fúteis é o que te preenche. O amor entregue de bandeja para pessoas que não amam, é igual um saco de merda, chega uma hora que fede demais e é insuportável ficar perto, por isso te chutam.

For Simone last part

“Pouco depois de terminar "O Enraizamento", ela escreveu em seu diário: "dado o dilema geral e permanente da humanidade neste mundo, comer até que se esteja saciado é um abuso (e eu tenho sido culpada muitas vezes.)" Aparentemente abraçando o ideal cátaro de morrer antes de sucumbir às tentações da carne e ao desejo de poder, Simone recebeu um diagnóstico de tuberculose em abril de 1943. Enviada para um sanatório no campo, recusou-se a se alimentar, insistindo que suas refeições deveriam ser mandadas para a França. Morreu de parada cardíaca aos 34 anos de idade no Sanatório Grosvenor, em Ashford, Kent. Uma rua da cidade foi batizada com o seu nome.” "não é a religião, mas a revolução que é o ópio do povo".

For Simone part 3

PARTE9: De fato, com esta pequena frase, simone expôs, quase de maneira profética, o próprio cenário atual da militância fajuta e hipócrita, e neste contexto, weil não exclui nem a suposta direita mas também não exclui a esquerda; a academia sucumbiu em uma bolha abstrata; onde a própria minoria é usada como ferramenta politica; essa mesma minoria só é interessante durante os debates intelectualoides que não servem pra nada, uma vez que nascem e morrem dentro da própria bolha inflada, com praticamente zero de poder prático e articulação incisiva, com séria e honesta intenção de querer gerar aquela “observação daquilo que é !”; acompanhados de muito café e cigarros; autênticos hipster’s fanáticos; é interessante para militância e partido que tenhamos o máximo de minorias ocupando estes espaços; essa mesma minoria é objeto descartável nas mãos da militância; só é útil para que eu possa te usar para minha tese de TCC/mestrado/pós, aquele artigo “visionário”, sabe como é,... Para este indivíduo não importa se, realmente, o proletariado voltará para as áreas periféricas ou favelas; ele não se importa realmente se esse cara vai ter o que comer ou não; se o local/bairro onde ele mora possui sequer, saneamento básico; se ele possui água potável para beber. Não foram poucas as vezes em que eu observei estes mesmos camaradas com atitudes totalmente contraditórias; o cara não é capaz de cumprimentar a “dona maria” e o seu “zé”, mas ele sabe o que é o melhor para ambos, oras, se isso não é desumanizar e tratar como objeto abstrato com o único intuito de ganhar espaço, validação, status quo; se auto afirmar; céus ! Repito ! “A Marciana Escarlate” foi profética ! PARTE10: Obviamente, este texto não é um ataque, aqui não há essa intenção mesquinha e imatura, dogmática, fanática; aqui não emulemos o pastor fanático; o padre fanático. Minhas reflexões não são sobre isso, em verdade, são sobre coisas que deveriam ser simples e realmente práticas; textos sobre silêncio; sobre amor; sobre humildade; que se fossem vividas na prática, no dia a dia, possui tremendo poder de ação; realmente capaz de gerar uma transformação; uma mutação nas próprias células; conexões neurais. Simone, mais tarde, ficou encantada pelo espiritualismo: “Forçada a parar de lecionar por causa de constantes enxaquecas, Simone tornou-se crescentemente obcecada por questões metafísicas. Em acréscimo ao seu conhecimento enciclopédico que ia da poesia de Homero às últimas descobertas em teorias matemáticas, ela começou a estudar os maniqueus, gnósticos, pitagóricos, estoicos, taoísmo e budismo. Devorou o Livro dos Mortos egípcio, e ficou tão impressionada com o Bhagavad Gita que começou a aprender sânscrito por conta própria. Posteriormente, ao ouvir um canto gregoriano num mosteiro beneditino enquanto sua enxaqueca estava no auge, ela "experimentou a alegria e amargura da paixão de Cristo como um evento real" – e pela primeira vez começou a pensar em si mesma como uma pessoa religiosa.” PARTE11: “Simone reafirma seu posicionamento: antes que a sociedade possa ser regenerada, devemos reconhecer que cada problema social é um sintoma de um profundo "desenraizamento" (um estado "mais ou menos similar à vida puramente vegetativa"), produzida por – naturalmente – dinheiro, "mecanismo", ciência e tecnologia divorciadas da vida e o uso da força. A política deve ser algo mais do que impor uma ideologia sobre a tática particular de um grupo social que queremos levar adiante, conclui Simone. Deveria ser uma reflexão inteligente sobre a realidade, conduzida por pensadores profundos.” (...)

For Simone part 2

PARTE6: veementemente os marxistas e os capitalistas vigentes, da época; afirmando que: o proletariado era extorquido e assassinado; sofria opressão por ambos os lados; uma vez que a própria URSS stalinista foi extremamente imperialista e genocida; quem, em verdade, criou a ideia de um campo de concentração, não foram os nazistas; não foi himmler; foram os próprios soviéticos; alienados e embriagados por poder e domínio, hegemonia; tanto quanto o reich e o fascismo de mussolini, na Itália, paralelamente. Em suma, a ideia do campo de concentração da URSS era de reeducar e reintroduzir todo aquele que se opusesse ao governo imperialista e genocida de stalin; na região que hoje é conhecida como ucrânia; o povo daquela região se opôs contra stalin; as ordens eram claras: esses eram enviados aos campos de concentração, e toda sua propriedade junto com alimentos; esses fruto do trabalho na lavoura, eram cooptados pelo governo. PARTE7: Simone adoeceu, em 1935, quando trabalhava em uma dessas fábricas; durante este período, trouxe reflexões bastante realistas; com os pés no chão: Percebendo rapidamente que o trabalho mecânico dentro de fábricas; que a vida de proletariado, levava o indivíduo para o estado “zumbificado”, do qual eu mencionei em textos anteriores; um estado de apatia; rapidamente, toda a visão romântica sobre marxismo e o proletariado caíram por terra: “Com base em sua experiência pessoal, ela argumenta no ensaio "Expérience de la vie d'usine" ("Vivendo a vida da fábrica"), que a automação é uma boa coisa ao eliminar trabalho penoso e servil, mas que a superautomação transforma um trabalhador qualificado em nada mais que um intermediário entre o maquinário e as coisas a serem processadas: "coisas fazem o papel de homens, homens o papel de coisas. Aí jaz a raiz do mal".” PARTE8: Simone, provavelmente, foi um dos poucos marxistas da época e até dos dias de hoje que percebeu rapidamente que toda ideologia é cristalizada, fossilizada, entendeu que, inevitavelmente; por conta da falta daquele estado de “observação daquilo que é, tal como é”, fazia/fez com que toda a ideologia sucumbisse ao fracasso iminente; uma vez que tenta moldar o indivíduo a partir da mesma; tenta encaixá-lo, de forma violenta; o ato em si; de querer, de maneira forçosa, obrigar um indivíduo a ter que engolir a seco aquilo que um dado nicho-ideológico; uma elite majoritariamente branca/intelectual propaga; negando toda subjetividade inerente ao indivíduo isolado: "embora vivamos entre realidades mutáveis, diversas e determinadas pelo jogo volúvel de necessidades externas, agimos, lutamos, sacrificamos a nós e a outros em nome de abstrações cristalizadas, isoladas" (como nação, capitalismo, comunismo e fascismo). (...)

For Simone

PARTE1: Simone Adolphine Weil ou “A marciana”, apelido que recebera pelo seu supervisor que, na época, preparava a mesma para ocupar um lugar na prestigiada “École Normale Supérieure”. Simone nasceu no dia 3 de fevereiro(era aquariana, e esta fez jus ao arquétipo de aquário, na própria vivência), em Paris, no ano de 1909. Era de origem judaico não-praticante, cresceu agnóstica. Precocemente, já revelava uma inteligência bastante desenvolvida(digna da alcunha de gênio, tanto quanto o irmão mais velho). Aos doze anos já falava grego antigo, e aos 15 já obtivera o título de bacharel em filosofia. PARTE2: O que chama minha atenção, toda vez que eu olho/leio para o século 20, é o tanto de “gigantes que que apoiaram-se nos ombros de outros gigantes”. Os irmãos Weil, apesar de pouco conhecidos pela grande massa e por parte da própria militância de esquerda; representam, personificaram; uma herança judaico de tempos outrora; foram múltiplas as áreas do conhecimento que ganharam avanço; obtiveram êxito e sucesso; as raízes da álgebra, começam nessas terras com esses povos, por exemplo. E não foram poucos os judeus que contribuíram fortemente para o avanço das matemáticas, física e química, nomes esses; Einstein, andré weil, grothendieck, fritz haber, von newman, stanislaw ulam. Quando, David Bohm(igualmente de origem judaica) foi indagado sobre a decadência do processo criativo(onde foram parar os grandes ingiht’s que vislumbramos no começo e metade do século 20!?), PARTE3: o mesmo afirma que: o processo criativo; a capacidade do cérebro permitir o insight no âmago de seu próprio silêncio, aos poucos; está sendo morto e reprimido dentro dos jovens; pelas mesmas figuras que deveriam garantir e zelar este mesmo processo; de maneira pura e intocável. Simone foi uma das primeiras mulheres a ocupar um espaço na “École Normale Supérieure”. Weil acreditava que o intelectual deveria/tinha que estar inserido na sociedade, contribuindo com a mesma; com o intuito de despertar o senso de observação-crítica das experiências do cotidiano. E eis aqui um alguém que, de fato, entendeu a essência do marxismo de tal forma que nem mesmo marx poderia imaginar,... PARTE4: A suposta militância da atualidade, tanto a de esquerda como a de direita, carecem de ações práticas como esta; e isso me faz lembrar de um acontecimento não tão-recente: Estava eu tomando meu costumeiro café(no bosque da UFSC) quando, diante de mim, parou um rapaz; com um zine(pequeno jornal, criado com o intuito de personificar toda a distorção na mente destes): “do que se trata o teu zine, amigo ?” “o processo semântico semiótico,…”, e o único pensamento que me veio na hora, inevitavelmente, foi: E se a “dona maria” que limpa a porra do vazo sanitário que este camarada ocupa aqui na universidade; e o seu “zé” que cuida de toda manutenção do campus; e todo o resto dos “proletariados” que são jogados a própria sorte; em sua grande maioria não conseguiram nem sequer finalizar o ensino básico; será que este jovem revolucionário apercebeu-se do tamanho do disparte que estava cometendo diante dos meus olhos ? Será que “se deu conta” do tamanho da ironia ? PARTE5: Oras, o zine dele continha uma arte visual criada pelo mesmo; cujo o objetivo é usar dos meios semântico-semióticos como ferramenta de resistência e instrução; oras, meu jovem amigo revolucionário, uma vez que, a “dona maria” e o seu “zé” nem nunca ouviram falar destes respectivos conceitos, não caberia a você, meu jovem, justamente reestruturar semântico-semióticamente o vosso zine; de tal maneira que o mesmo possa atender as próprias limitações do proletariado que tu defendes e luta por ? Esse é só um dos milhares de exemplos sobre essa falta de tato e até mesmo uma forma de esquizofrenia-histérico-coletivo que estes camaradas destilam por aí. Simone incomodou os próprios marxistas ortodoxos, da época; uma vez que, esta trabalhou na linha de produção da marca renault; Weil observou de perto como as coisas funcionavam; tão logo, atacou (...)

For Grothendieck.

PARTE1: Até hoje, minha mente transborda de alegria e ao mesmo tempo uma sensação de êxtase toma conta do meu Ser; aquele pensamento de sempre invade meu cérebro: “como a mente humana foi capaz de desenvolver coisas deste tipo ?”, de que “lugar” brotou a ideia de que um conjunto qualquer, tome o conjunto dos números inteiros, representado pela letra “Z” ou, representado da maneira mais comumente conhecida “…,-3,-2,-1,0,1,2,3,…”; conjuntos como este, em álgebra abstrata, por exemplo, transformam-se em um objeto conhecido como “Anel”, um objeto aparentemente simples; que te oferece possibilidades de um nível de criatividade além de tudo aquilo que estamos habituados no nosso dia a dia. Indivíduos como Emmy Noether, andré weil, e o mais importante de todos, grothendieck; elevaram a ideia de conjuntos e funções para um nível de abstração bastante profundo.

PARTE2: Alexander nasceu em 28 de março de 1928, Berlim, Alemanha, era filho de hanka grothendieck e alexander Schapiro. Schapiro era de origem ucraniano-judaico, e anarco-marxista que, inclusive, participou de uma investida contra o imperialismo desenfreado do czar nicolau II; enquanto sua mãe, Hanka, era de origem alemã e jornalista, igualmente, era uma anarco-marxista; é importante lembrar que ambos foram perseguidos pelos bolcheviques durante-pós 1917 que, para mim, particularmente, só mostra que a fragmentação ainda se faz presente até mesmo naqueles modelos políticos que possuíam enquanto proposta primordial (uma igualdade que, na prática, mostrou-se inviável, por conta do próprio ego e vaidade de seus respectivos líderes), tal fragmentação infecta e destrói, corrompe; toda forma de militância até os dias de hoje, seja ela de direita ou de esquerda; para quem está mais por dentro, e teve contato com militantes ativos, sabe muito bem do que eu estou falando; o antagonismo, a vaidade, a busca por validação e status quo, ainda é “marca registrada”. Schapiro foi posteriormente assassinado no campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau em 1942, enquanto hanka e grothendieck(este com apenas 12 anos de idade), conseguiram escapar do campo de concentração e foram “viver-sobreviver” em pensões destinadas a abrigar pessoas que eram perseguidas pelo nazismo.

PARTE3: Apesar da clara miséria em que sobreviviam, e o contexto de medo e paranoia, uma vez que, ambos conjuntamente com todos os outros membros do abrigo eram obrigados a ter que se refugiar no meio da floresta por conta da ameça nazista. Alexander demonstrou desde muito cedo interesse por matemática, mas nada comparado a Galois ou Gauss; onde ainda muito jovens já demonstravam habilidades excepcionais para com esta área(até grothendieck admite isso, rsrs). Mesmo com todo o contexto e múltiplas experiencias traumáticas(que ninguém deveria passar/sofrer), Alexander foi capaz, de maneira totalmente silenciosa e “solitária” de redescobrir caminhos trilhados outrora por seus antecessores, como a integral de lebesgue; Grothendieck sempre criticou o ensino arcaico e mecânico, onde você é forçado em ter que apenas decorar fórmulas e ir bem nos testes, segundo o mesmo: ”o problema dos livros não eram os meus problemas”. Já na vida adulta, quando este chega em paris e depare-se com Laurent Schwartz e Jean Dieudonné; nessa época ambos estavam tomando uma surra na tentativa de resolução de 14 conjecturas matemáticas; todas foram entregues nas mãos de grothendieck que, em menos de 1 ano retornou aos respectivos matemáticos mencionados com as 14 conjecturas resolvidas, deixando ambos em estado catatônico.

PARTE4: Segundo Grothendieck, uma das maiores contribuições da mente humana para com o conhecimento, durante o século 20, foi a criação da teoria de “categorias e funtores” desenvolvida pelos respectivos matemáticos Samuel Eilenberg e Sauders Mac Lane em 1945. Novamente, aqui, temos a sensação de nos depararmos com um simples objeto; de maneira grosseira, uma categoria é um conjunto munido de objetos, e quando você aplica um Funtor(ou setas de mapeamento), você consegue mapear informações entre objetos de diferentes categorias entre si, em verdade, uma categoria só faz sentido, de fato, quando é munida de seus respectivos objetos; são os próprios objetos que atribuem “vida” para estas categorias/conjuntos.

PARTE5: Nas mãos de Grothendieck, objetos como estes assumem uma forma dantesca, tome o exemplo do conjunto “anel”, é sabido que você pode tomar o spectro primo deste mesmo anel(em notação algébrica: spec(A)), este é o conjunto cujo os elementos que o constituem são seus ideias primos. Desde a década de 50, o spectro primo possui caráter topológico, a assim conhecida “topologia de zariski”, em homenagem a oscar zariski, mas é com grothendieck que este objeto é extrapolado para o espaço; grothendieck foi o primeiro a pensar formalmente no spectro primo como sendo uma variedade algébrica, que ele chamou de “esquemas”. Alexander era conhecido pela sua quasi-obsessão pela generalização máxima das coisas(ele partia da premissa de que tudo está conectado de alguma maneira, e nosso papel é redescobrir essa unidade básica nas coisas), principalmente dos objetos matemáticos; todas as ferramentas desenvolvidas pelo mesmo: esquemas, topos, topois, motivos e cristais; foram ferramentas sempre pensadas a partir de um impulso latente de buscar o argumento maior; onde todos estes objetos aparentemente isolados fossem capazes de dialogar em um contexto mais abrangente.

PARTE6: Uma maneira simples de captar essa essência no trabalho de grothendieck é analisando a ideia de um esquema: alexander toma o spectro primo enquanto esquema afim, ou seja, você possui um espaço anelado localmente anelado; sendo um espaço topológico, você pode trabalhar com noções de topologia de variedades geométricas, e com conceitos mais fundamentais ainda; fechados e abertos; conceitos estes estudados já em calculo básico e formalizados em análise. Você pode assumir um objeto de uma dada categoria enquanto um esquema afim; nestas variedades você pode analisar localmente o comportamento de objetos ainda mais interessantes; os germes de funções contínuas; quando você toma o germe de funções contínuas num dado ponto da variedade afim, você mapeia o comportamento destas funções contínuas nas vizinhanças destes abertos(aqui, claramente, o ápice de toda a análise e topologia, no meu entender), acontece que, por estarmos trabalhando com categorias e funtores, você pode tomar o feixe associado ao esquema afim; localmente falando; quando você aplica uma estrutura de feixes que está diretamente associada ao germe em questão; o feixe, por possuir estrutura de funtor, ou seja, setas de mapeamento, ele não só mapeia informações locais; ele mapeia informações de toda a variedade algébrica, logo, analisar um aspecto local via germes de funções contínuas através desta estrutura intrincada de feixes estruturais nada mais é do que mapear o comportamento de todos os germes constituintes do esquema afim.

PARTE7: Mas a generalização não para por aí: tome o exemplo dos topois; estruturas como estas são categorias muito especificas, capazes, agora, de mapear coleções de objetos que, no nosso contexto, são os esquemas afins; têm por objetivo generalizar espaços topológicos e variedades algébricas; mapeando “certos invariantes” entre estes diferentes objetos. “Motivos” são ainda mais abrangente: A ideia fundamental por trás dos motivos é associar a cada variedade algébrica um objeto algébrico, chamado de motivo, que codifica informações sobre suas propriedades coletivas. Os motivos de grothendieck são construídos de maneira a capturar informações sobre cohomologia, interseção de ciclos e outras propriedades geométricas e aritméticas das variedade, ou seja, quando ele mapeia um objeto algébrico ele mapeia, ao mesmo tempo, uma característica aritmética associada ao mesmo; o nível de abrangência extrapola qualquer outro observado por mim, até agora, em tudo que estudei.

PARTE8: Em 1970 Grothendieck abandona totalmente a carreira acadêmica, primeiramente por motivos políticos, grothendieck era um pacifista, e descobriu que o instituto IHES era financiado pelos militares; isolou-se, na sequência, aos pés dos pirineus, negou vários cargos em diversas instituições; negou prêmios; incluindo o mais importante de todos, a medalha fields: afirmou que a vida acadêmica estava totalmente corrompida; era corrupta; em sua obra máxima “récoltes et semailles”, alexander denuncia de forma incisiva a decadência em que estava se tornando a vida acadêmica, onde antes, o objetivo era o avanço, o processo criativo, a valorização da intuição, era o insight pelo insight; no capitulo 3 da obra, alexander ataca com veemência a arrogância e o esnobismo por parte daqueles que outrora foram seus amigos e parceiros, aqueles mesmos que antes ajudaram na construção e resolução de problemas que eram um verdadeiro desafio; um exemplo disso foi pierre deligne, cujo o mesmo foi quem resolveu as conjecturas de weil e jean pierre serre, alexander afirma que estes, apesar do claro brilhantismo e contribuições, usaram de seus respectivos status quo, e brilhantismo para humilhar e até “saquear” ideias alheias, não sei o quanto disso tudo é verdadeiro, temos que lembrar que é a visão do indivíduo em relação a terceiros, não sabemos a opinião destes terceiros sobre estes acontecimentos e declarações.

PARTE9: Fato é, a acadêmia realmente se transformou em uma bolha patética formadora de máquinas isentas de criatividade e intuição; no mesmo capítulo, alexander utiliza-se dos conceitos de yin e yang para elucidar o que vinha ocorrendo: ele afirma que, por consequência de um machismo estrutural, a intuição; a anergia intuitiva; criativa; sem forma; sem símbolo; sem ser traduzida através do processo técnico e bruto; pura fluidez de filmes mentais; foi completamente destruída no âmago dos cientistas de forma geral; grothendieck não restringe-se só a área da matemática, ele extrapola para todas as demais áreas do conhecimento; denunciando toda a corrupção e castração de jovens acadêmicos; que eram/são humilhados e desvalidados/silenciados por seus mestres; que deveriam ter o papel de ajudar no desenvolvimento destes jovens; aquele que antes trabalhou em prol da unicidade deparava-se, agora, com uma estrutura cada vez mais superficial e individualista, arrogante; onde o que importa é o dinheiro, fama, poder e influência; sentindo-se o tempo todo ameaçado pelos mais jovens; toda forma de poder possui em si, a busca por segurança e proteção desta mesma zona de segurança; em seus tronos banhados a ouro; são incapazes de observar; em completa cegueira de vaidade; o tamanho do estrago que estão causando para o futuro das ciências como um todo.

PARTE10: A revolta e decepção de alexander é perfeitamente compreensível, fazendo um paralelo com a astrologia: grothendieck era ariano com ascendente em sagitário e lua em câncer; mas o aspecto que mais me chama a atenção é o de mercúrio; que estava localizado no signo de peixes na casa 3, inclusive, casa de regência; eu possuo exatamente alguns aspectos parecidos, a diferença é que tenho ascendente em peixes; e meu mercúrio está na casa 1; eu entendo perfeitamente como os insights deste camarada eram processados; imagino os milhares de filmes na tela neural que configuravam-se e mesclavam-se entre si; ter que escrever; “traduzir” em linguagem matemática formal; com o intuito de averiguar a validade, e se a mesma respeita todas as premissas e axiomas anteriores, para mim, particularmente, é um verdadeiro sacrifício; é um assassinato; é uma coisa morta; é uma casca vazia de qualquer qualidade de realidade e beleza por si só.

PARTE11: Alexander, após sua aposentadoria, na década de 80, passou a viver quase que em total isolamento aos pés dos pirineus; em uma casa simples; vivendo apenas com o necessário; segundo relatos de pessoas que foram visitá-lo na época; alexander vivia quase como um monge asceta, era conhecido por sua extrema generosidade, recebeu, em sua modesta casa, muitos moradores de rua, ou estrangeiros que não tinham onde morar. Ainda na época em que trabalhava no IHES, em certa ocasião, na estação de trem próximo do mesmo, grothendieck deparou-se com uma família de desabrigados, alexander os acolheu em um porão adaptado, em sua casa; o casal, em questão, estavam desempregados, mas possuíam profissão; eram cozinheiros, rapidamente, grothendieck forneceu ferramentas de trabalho para que pudessem ser independentes e fazer seu próprio dinheiro.

PARTE12: Muito diferente daquilo que seus falsos “amigos” e até, outrora, discípulos, orientandos, gostavam de caricaturar sobre o mesmo; “alexander está paranoico….deve estar ressentido…”. Fazendo a leitura pacientemente de “récoltes et semailles”, torna-se bastante claro que, grothendieck não estava “louco” ou paranoico e muito menos ressentido, muito pelo contrário, alexander estava no auge de sua maturidade não só matemática, mas o mesmo voltou-se para dentro de si, para uma auto-reflexão, récoltes et semailles é mais que uma critica ou “ataque”, ou autobiografia, récoltes et semailles é uma imersão profunda para dentro de questionamentos extremamente necessários em tempos rasos e superficiais como estes.

Alexander morreu em 13 de novembro de 2014, em saint-girons, frança, aos 86 anos.