A rosa tem espinhos sim..
E nunca escondeu ..
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Clarice Lispector, from “Near to the Wild Heart“ (tr. Giovanni Pontiero)
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Escrito quando Clarice Lispector tinha vinte anos, “Perto do coração selvagem”, publicado em dezembro de 1943 pela editora carioca A noite (imagem 1), foi o primeiro livro da escritora. Logo associado, pelo estilo introspectivo, a Virginia Woolf e a James Joyce, o romance foi lido com entusiasmo por boa parte da crítica literária do seu tempo.
Antonio Candido, por exemplo, então autor de rodapés no jornal “Folha da Manhã”, escreveu a 16 de julho de 1944 que, “se deixarmos de lado as possíveis fontes estrangeiras de inspiração, permanece o fato de que, dentro de nossa literatura, é uma performance da melhor qualidade.” Também Lêdo Ivo, Sérgio Milliet e Adonias Filho são outros autores que se referiram positivamente sobre a estreia de Clarice.
O romance premiado pela Fundação Graça Aranha como Melhor Livro de Estreia e nomeado por sugestão de Lúcio Cardoso, amigo de Clarice, tem como narrativa em dois planos — entre um fragmentado passado e um presente repleto de interesse pelo trivial — a história da protagonista Joana; sob um perspectiva da interioridade e do olhar excepcional, entramos em contato com uma travessia entre as fronteiras do eu e sua relação enquanto consciência de si e do mundo.
“Perto do coração selvagem” alcança 80 anos neste dezembro de 2023 como um marco da literatura brasileira — “um romance que faltava”, repetindo os termos de Candido — dentro e fora do seu tempo.
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"Uma vez dividiu-se, inquietou-se, passou a sair e a procurar-se. Foi a lugares onde se encontravam homens e mulheres. Todos disseram: felizmente despertou, a vida é curta, precisa-se aproveitar, antes ela era apagada, agora é que é gente. Ninguém sabia que ela estava sendo infeliz a ponto de precisar buscar a vida."
Clarice Lispector no livro Perto do coração selvagem
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Lançamento no próximo sábado, 14/10!
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“A certeza de que dou para o mal, pensava Joana. O que seria então aquela sensação de força contida, pronta para rebentar em violência, aquela sede de empregá-la de olhos fechados, inteira, com a segurança irrefletida de uma fera? Não era no mal apenas que alguém podia respirar sem medo, aceitando o ar e os pulmões? Nem o prazer me daria tanto prazer quanto o mal, pensava ela surpreendida. Sentia dentro de si um animal perfeito, cheio de inconsequências, de egoísmo e vitalidade.”
Clarice Lispector, from Perto do coração selvagem
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Era sempre inútil ter sido feliz ou infeliz. E mesmo ter amado. Nenhuma felicidade ou infelicidade tinha sido tão forte que tivesse transformado os elementos de sua matéria, dando-lhe um caminho único, como deve ser o verdadeiro caminho. Continuo sempre me inaugurando, abrindo e fechando círculos de vida, jogando-os de lado, murchos, cheios de passado.
Clarice Lispector (Perto do coração selvagem)
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Perto do coração selvagem
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A bondade era morna e leve, cheirava a carne crua guardada há muito tempo. Sem apodrecer inteiramente apesar de tudo. Refrescavam-na de quando em quando, botavam um pouco de tempero, o suficiente para conservá-la um pedaço de carne morna e quieta.
~ Clarice Lispector
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Em nome de nada era hora de comer. Em nome de ninguém, era bom.
Clarice, legião estrangeira
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Achas mesmo que pode concertar uma alma antiga ,um coração selvagem?
Achas?
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Era uma mulher fraca em relação às coisas. Tudo lhe parecia às vezes preciso demais, impossível de ser tocado. E, às vezes, o que usavam como ar de respirar, era peso e morte para ela. Veja se compreende a minha heroína, titia, escute. Ela é vaga e audaciosa. Ela não ama, ela não é amada. Você terminaria notando-o como Lídia, outra mulher —uma jovem mulher cheia do próprio destino—, observou-o. No entanto o que há dentro de Joana é alguma coisa mais forte que o amor que se dá e o que há dentro dela exige mais do que o amor que se recebe. Compreende, titia? Eu não a chamaria de herói como eu mesma prometera a papai. Pois nela havia um medo enorme. Um medo anterior a qualquer julgamento e compreensão
Perto do coração selvagem, Clarice Lispector.
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Clarice Lispector, from “Near to the Wild Heart" (tr. Giovanni Pontiero)
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Nunca sofra por não ter opiniões em relação a vários assuntos. Nunca sofra por não ser uma coisa ou por sê-la.
Perto do Coração Selvagem, Clarice Lispector
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"Se o brilho das estrelas dói em mim, se é possível essa comunicação distante, é que alguma coisa quase semelhante a uma estrela trêmula dentro de mim. Eis-me de volta ao corpo. Voltar ao meu corpo. Quando me surpreendo ao espelho assusto-me. Mal posso acreditar que tenho limites, que sou recortada e definida. Sinto-me espalhada no ar, pensando dentro das criaturas, vivendo nas coisas além de mim mesma."
Clarice Lispector no livro Perto do coração selvagem
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Perto do coração selvagem- Clarice Lispector
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