Tumgik
sorenich · 3 years
Text
SOMETHING WICKED THIS WAY COMES.
(TW: agressão, sangue e terror. )
ㅤㅤAquela tarde tinha tudo para ser agradável. Comi muitas coisas diferentes e saborosas nas barraquinhas, além de estar indo assistir um espetáculo de circo com a minha namorada. Eu sabia dos rumores sobre o senhor Fournier e isso era como uma âncora que me fazia não querer dar atenção para ele, mas a vontade de passar mais tempo com Yumin naquele fim de semana era mais forte do que qualquer coisa.
ㅤㅤNum instante estávamos acomodados na arquibancada, comendo pipoca e de mãos dadas, e no outro todos tinham desaparecido em um piscar de olhos. Apenas havia restado eu e mais dois garotos que eu conhecia apenas de vista. Curioso, fui ao encontro deles para questionar se sabiam o que estava acontecendo e para onde as outras pessoas teriam ido. Não obtive respostas, eles pareciam… nada receptivos, então não forcei a barra. “Idiotas!” Enya falou em meu ombro, sua voz animalesca ecoando pelo picadeiro vazio e fazendo minhas bochechas enrubescerem.
ㅤㅤOlhava ao redor, procurando alguma pista, quando senti os pêlos dos meus braços e nuca se arrepiarem. Vozes horripilantes vinham da parte desprovida de luz e eu reconheci imediatamente o que estava acontecendo: almas aprisionadas, e não eram do tipo legal delas. Foi então que vi um homem magro e alto saindo do escuro, sequer tinha percebido ele ali antes. O recém chegado carregava incontáveis facas afiadas em um cinto que fazia um X em seu peito. O brilho das lâminas era incomum, como se bruxuleassem, mas ali não havia nenhuma chama para isso. Forçando a visão, percebi as silhuetas e feições que apareciam e sumiam nas superfícies. Aquele era o recipiente que aprisionava os espíritos malignos que eu sentia.
ㅤㅤ— Senhor? — Tudo foi tão rápido, não tive chance de falar nada mais antes das facas começarem a serem lançadas em minha direção e dos outros dois. Logo, percebemos que as armas brancas tinham consciência própria, mesmo que desviássemos de início, elas ainda conseguiam fazer curvas rápidas e nos perseguir.
ㅤㅤEnya grasnou quando uma passou entre ela e minha cabeça. Fui rápido em me teletransportar para outro canto, sendo essa a minha tática de fuga desde o início. Porém, assim que reaparecia, desta vez mais próximo do encantador de facas, o homem lançou cinco delas de uma vez. Apenas tive tempo de erguer a mão direita e ordenar que as almas fossem embora dali. O barulho das facas caindo aos meus pés foi rapidamente seguido por uma exclamação de dor minha. Afinal, uma sexta delas havia sido lançada logo depois e eu não consegui me teletransportar para longe a tempo, pois acabei levando o objeto comigo e tendo o dedo anelar cortado bem na extremidade.
ㅤㅤApesar do sangue e da ardência eu não poderia ficar parado. Os outros dois estavam ocupados demais discutindo e provocando um ao outro. Eu tinha que tentar liberar e banir o máximo possível daqueles espíritos, quem sabe assim o homem que as controlava pudesse apresentar algum tipo de fraqueza visível na qual pudéssemos tirar proveito.
ㅤㅤEm determinado ponto, minha cabeça parecia estar sendo furada por centenas de agulhas; o que queria dizer que usei muito o teletransporte e que precisava de descanso. Só que não era uma opção. Continuei resistindo e liberando as almas o máximo possível. Contudo, quando achei que não iria aguentar mais e acabaria desmaiando ali mesmo, tudo ficou preto e o cenário mudou novamente.
ㅤㅤEstávamos de volta ao picadeiro, só que ele estava mais iluminado e outras pessoas também estavam lá agora. Um som alto ecoou ao nosso redor, era impossível saber de onde vinha exatamente. Logo em seguida, janelas começaram a rasgar o véu da realidade e espaço. Parei de contar na 47º. O que estava acontecendo? Onde estava Yumin? Precisava encontrar ela, mas acabei tendo o braço tomado por um guarda que viu o sangue quente pingando de minha mão e me levou arrastado, apesar dos contra argumentos, para a enfermaria.
0 notes
sorenich · 3 years
Text
ㅤㅤ
𝗢𝗡𝗟𝗬 𝗟𝗢𝗩𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗗𝗘𝗔𝗧𝗛 𝗖𝗛𝗔𝗡𝗚𝗘 𝗔𝗟𝗟 𝗧𝗛𝗜𝗡𝗚𝗦
(TW: Morte, gore & terror. ) - FLASHBACK 30/05
ㅤㅤEu lembro que foi mais ou menos às quatro e meia da madrugada. Não estava conseguindo dormir então, ao invés de lutar e obrigar o sono a me encontrar, decidi sair para uma corrida. Aquilo sempre me ajudava a relaxar e pensei que eu talvez descansasse melhor na próxima noite se gastasse energia o suficiente durante o dia.
ㅤㅤA academia ainda dormia e a lua iluminava os terrenos com sua luz prateada. Parecia o cenário de um sonho. Avalon era mesmo de tirar o fôlego.
ㅤㅤEncontrei alguns guardas no caminho, fazendo suas rondas, e lhes desejei um bom dia. Ficaram surpresos com a minha repentina aparição, mas eu já estar fora da cama não parecia ser um problema, desde que não fizesse nada de errado.
ㅤㅤEnya me acompanhou durante todo o percurso, sobrevoando alto a minha cabeça e reclamando, como sempre. Afinal, não era culpa dela se eu não conseguia dormir, já que ela obviamente não tinha problemas com isso. Reclamou e reclamou, só depois me deu um descanso ao concordar que o ar da manhã era maravilhoso. Parecia mais fresco e limpo sem tantas pessoas para compartilhar.
ㅤㅤO relógio inteligente em meu pulso informava os quilômetros percorridos, assim como meu estado de saúde durante o exercício. Ao chegar no prédio de ciência, eu fui checar as informações na telinha, sem prestar atenção no caminho a minha frente. Foi ai que eu acabei trombando em algo - ou alguém - extremamente resistente, pois apesar da velocidade, ao que os corpos se bateram nós dois caímos junto no chão ao invés do impacto nos separar.
ㅤㅤ—E-eu sinto muito! — Falei imediatamente ao me ver sobre um garoto pouco mais velho do que eu. O corpo dele tinha amaciado minha queda.
ㅤㅤ— Não olha por onde anda, desgraça? — Ele perguntou, nervoso. Imediatamente reconheci a voz e olhei para o rosto de Gaeul. Nunca havia falado com ele, exceto para dar os parabéns no casamento do mesmo com a rainha tailandesa. Porém, já tinha ouvido muitas coisas a respeito do Norte Coreano.
ㅤㅤ— Me desculpa, alteza! Deixa eu te ajudar… — Repeti, envergonhado enquanto me levantava e segurava os braços dele para ajudá-lo a fazer o mesmo.
ㅤㅤTodavia, preciso mencionar uma das ‘habilidades’ concedidas ao protegido de Mors. No caso... eu.
ㅤㅤAs vezes, quando entro em contato físico com alguém, consigo vislumbrar os seus últimos minutos de vida. Ou seja, como e quando a pessoa irá morrer.
ㅤㅤIsso acontece totalmente fora do meu controle, é claro. Senão, eu jamais teria escolhido ver o fim daquele garoto. Muito menos levá-lo comigo para aquele cenário horroroso.
ㅤㅤAbri meus olhos para uma floresta de árvores secas e retorcidas. O céu sobre minha cabeça era nevoento e tinha uma luz estranhamente vermelha. Não havia sinal de sol ou lua, portanto era impossível saber se estava de noite ou de dia. ㅤㅤAo fundo disso tudo consegui ouvir rosnados raivosos do que parecia ser dois cachorros gigantes brigando. Era isso e uma onda de sussurros sem fim que faziam o som do lugar; tudo parecia ser trazido pela brisa que eu sequer conseguia sentir. ㅤㅤA súplica de almas famintas era ensurdecedora ali e eu só conseguia distinguir algumas palavras do que elas diziam. ㅤㅤAchei que era só isso até ver Gaeul correndo em minha direção. Estava tão pálido e suando frio. Parecia estar enfrentando uma dor imensa e invisível, que somente ele sabia. Foi ai que ele parou e se apoiou em uma das árvores na minha frente junto com a sua daemon. Sombras que o perseguiam armaram um cerco ao redor, pronto para ataca-lo. O príncipe resistiu enquanto pode. ㅤㅤDepois disso, tudo passou muito rápido. A daemon voltando a essência da qual era feita: o pó dourado. E uma explosão interna que abriu um buraco no peito do coreano e me fez dar um pulo no lugar pelo susto. Após isso, as almas se afastaram, deixando seu novo companheiro em paz. ㅤㅤGaeul finalmente parecia estar descansando. Havia certa serenidade em suas feições e, ao invés de morto, ele só parecia estar dormindo tranquilamente; até mesmo vivenciando algum sonho bom com sua amada esposa. ㅤㅤTodavia, pude notar que algo estava errado. Muito errado. Olhando mais a fundo, o corpo de Gaeul era apenas uma carcaça oca. Estava vazia. Não existia sinais de seu espirito preso ali ou livre nas proximidades. Nenhum rastro que ele tivesse seguido para outra camada da pós vida, outra dimensão. ㅤㅤAquilo era algo completamente incomum. ㅤㅤFranzi o cenho e me aproximei do nortenho. Me postei de cócoras no chão úmido para olhar melhor o espaço aperto no peito alheio. Ali notei o brilho de uma adaga prata e vermelha. A ponta estava fincada em um pedaço pequeno do que parecia ser um músculo se contorcendo tão lentamente que chegava a ser quase irreal, pensei estar imaginando. ㅤㅤQuando estiquei meus dedos para tentar puxar a adaga e libertar aquela coisa, tudo ao meu redor se esvaiu.
ㅤㅤEu estava de volta na manhã de Avalon.
ㅤㅤUm Gaeul pálido e de olhos esbugalhados me encarava sentado no chão.
ㅤㅤFicamos nos olhando em silêncio por um longo tempo, até eu tomar coragem para erguê-lo de uma vez e soltar seus braços. Não existia nada que eu pudesse dizer para ele agora. Ninguém estava preparado para aquele tipo de revelação. Saber como seria a sua própria morte costumava levar muitas pessoas à loucura, mas eu torcia para que isso não acontecesse com o jovem príncipe.
ㅤㅤEstava prestes a partir em silêncio quando senti o aperto em meu pulso.
ㅤㅤ— Então é isso? — Gaeul me perguntou e pude notar medo em seu olhar antes raivoso. Não me surpreendi com aquilo. Afinal, o medo da morte era algo comum da raça humana.
ㅤㅤ— I-isso o que? — Rebati, me fazendo de desentendido, pois não imaginava que o cérebro mortal dele fosse digerir o que vimos com tanta rapidez. Porém, obviamente, eu o havia subestimado.
ㅤㅤ— O fim. O meu... fim.
ㅤㅤEngoli seco. Queria sair correndo dali, mas minhas pernas cansadas estavam congeladas.
ㅤㅤSenti a corvo negra que era minha alma pousar em meu ombro e a xinguei mentalmente por isso. Aquilo não era hora de aparecer e me fazer parecer um cosplay de ceifador suado. Só que, aparentemente, Enya não tinha decidido descer até ali para pregar mais uma de suas peças nos desavisados.
ㅤㅤOs olhinhos de contas dela estavam sérios e fixos no coreano. Percebi que as penas macias também estavam sutilmente arrepiadas.
ㅤㅤFoi então que ela abriu o bico e respondeu ao invés de mim.
ㅤㅤ"A morte só é o fim se você acreditar que a história é sobre você." Enya grasnou, deixando Gaeul com os olhos puxados ainda mais arregalados. Com certeza ele tinha sido pego de surpresa ao ver um daemon falante. Bom, era isso... ou a frase dela de algum modo fez sentido para ele.
ㅤㅤQuis perguntar a respeito, só que não tive tempo. O coreano me deu as costas e seguiu para dentro do prédio de ciências com sua raposa. Estava obviamente abalado e muito pensativo.
ㅤㅤA última coisa que vi na expressão de Gaeul foi aquele olhar digno de cinema, daqueles cientistas malucos que tiveram alguma ideia tresloucada. Era quase como se fosse o Victor Frankenstein diante de mim, prestes a criar o seu famoso monstro.
0 notes
sorenich · 3 years
Text
𝗙𝗢𝗥𝗘𝗦𝗧 𝗩𝗘𝗡𝗚𝗘𝗔𝗡𝗖𝗘
ㅤㅤDepois do último fim de semana caótico, nada em mim desconfiava que esse seguiria o mesmo rumo. Afinal, a semana foi incrível, me diverti bastante com Yumin dançando e andando de bicicleta por ai. Ela era como uma brisa fresca para esse começo de verão. E não sei o motivo, meus pensamentos acabavam hora ou outra sendo puxados até a norte coreana, lembrando da forma que os olhos dela ficavam em meias luas quando sorria, iguaizinhos aos meus, ou por exemplo me perguntando o que ela estaria fazendo naquele momento em que eu tentava estudar.
ㅤㅤA minha concentração já era difícil e tudo só piorou quando o ruído familiar de televisão fora de conexão explodiu na minha cabeça. Aquilo acontecia quando os espíritos queriam falar comigo. Ou seja, não tinham hora e nem dia marcado, eles apenas apareciam quando lhes dava na telha ou quando queriam me irritar. Por sorte eu até que sou muito paciência.
ㅤㅤ“O que foi, CARALHO?” Minha daemon corvejou, irritada e impaciente, no lugar que descansava lá na varanda. Ela não gostava muito de ter o sono interrompido pelos mortos. — Enya, shhhh, deixa que eu cuido disso! — Descansei a caneta e me virei na direção do som, imediatamente me deparando com silhuetas cinzentas e esbranquiçadas flutuando no meu quarto. Nenhuma delas tinha a aparência realmente visível, mas seu eu me concentrasse o suficiente ainda conseguia distinguir alguns contornos de feições e membros corporais. Me comuniquei com elas, questionando sobre o que queriam de mim naquela tarde. A resposta foi uma onda gelada, pois todas vieram de uma vez para cima de mim com suas presenças fantasmagóricas, como se me pedindo para segui-las. E assim o fiz.
ㅤㅤAcabei na varanda do meu quarto, rodeado por aquela névoa que só eu e Enya podíamos ver; até que uma abertura surgiu e foi aumentando, como se as almas me apontassem para onde olhar. Vendo através desse ciclo reconheci O Forte Dourado. Bem na frente do edifício, brotava do chão uma criatura semelhante a uma árvore imensa, mas que tinha um rosto, mãos e pés. Imediatamente cogitei se tratar de um antigo Ente, dado as descrições dos livros que já li a respeito dessa espécie. Aquilo era incrível e eu precisava ver mais de perto.
ㅤㅤPulei na abertura, seguido por Enya e as almas, assim nos transportamos todos para fora do meu quarto até o local d'O Forte. Me escondi atrás do prédio vizinho, encolhido e inclinado em um dos seus cantos para dar uma melhor olhada no Ente. Só que, quando a criatura falou, sua voz grave me arrepiou por inteiro. Era como o ruído de milhares de galhos e plantas sendo movidas juntas pelo vento. As palavras do Ente carregavam avisos e ameaças, mas acima de tudo algo que as entidades da natureza julgavam como “justiça” pelo recente incêndio na floresta sagrada.
ㅤㅤ— Isso é loucura! O mundo não deve sofrer por causa das ações de um homem.— Desabafei, sentindo o coração acelerar em preocupação sobre o futuro daquilo tudo. “Noah está morto!” ouvi o sussurro em minha orelha esquerda, logo em seguida uma voz diferente disse na direita “Quem o matou?”. Aquilo era demais, estava quase tão ruim quanto o último fim de semana. Entretanto, se tratando de uma morte não natural como os espíritos me diziam ser, era meu dever como protegido de Mors tentar descobrir algo.
ㅤㅤEu precisava investigar!
ㅤㅤCertifiquei que carregava a pequena caderneta e caneta de emergência no bolso do jeans antes de me afastar do centro com cautela. Gostava de anotar as coisas que via para dar mais atenção e não esquecer depois, aquilo me ajudava. No caminho, notei dezenas de Entes andando calmamente pelos terrenos da Academia e respirei aliviado, afinal eles não era conhecidos por serem criaturas agressivas. Certo? Estava admirando um deles quando alguém esbarrou em mim. Era Junho.
ㅤㅤAssim como o duque parece ter esquecido, ou preferido esquecer, sobre as danças esquisitas dele na festa de ontem, eu segui o ritmo e não comentei sobre isso. Apenas puxei conversa sobre o que acontecia por ali e descobri que ele também estava curioso para saber mais, então o convidei para se juntar a mim. As almas ao meu redor soltaram ruídos aleatórios e entre eles reconheci essas palavras: submundo & círculo de fogo. Perguntei ao coreano se aquilo tinha algum significado para ele, então ao que me disse sim, nós logo já sabíamos por onde começar a nossa investigação.
ㅤㅤUm amigo do duque acabou se juntando a nós, seu nome era Haoran. Ele tinha uma aparência e aura singulares. Era um pouco assustador, mas interessante. Após as devidas apresentações, seguimos sutilmente até uma das entradas do submundo.
ㅤㅤJustamente quando eu achei que nada de mais estranho poderia acontecer naquela tarde, encontramos alguém com uma fantasia de Sherlock Holmes no caminho. Era Azir, que parecia ter encontrado alguma pista em uma entrada de formigueiro ou estava completamente perdido. — Azir? — Chamei um pouco confuso, mas sentindo minhas bochechas esquentarem quando o garoto se virou em minha direção, pois imediatamente me lembrei do que tínhamos feito na noite passada. Eu nunca havia beijado um menino, mas Azir era um cara legal e, quando ele me pediu, eu me tornei incapaz de dizer não. Foi estranho, muito estranho. Acho que a culpa foi minha por não estar tão confortável quanto ele, enfim… não precisava pensar sobre isso agora.
ㅤㅤO cosplay de Sherlock se uniu ao nosso trio e por alguma razão eu sentia estar fazendo parte da turma do Scooby Doo. Esperava que eu ao menos fosse a Velma.
ㅤㅤAssim que chegamos no Círculo de Fogo eu tive vontade de dar as costas e sair. O lugar era escuro, gorduroso e muito fedido. Todos ali, exceto por nós, pareciam mal encarados e eu não conhecia um ser vivo que frequentava o lugar. Porém, Junho reconheceu um Australiano chamado Rayleigh, que segundo ele tinha uma inimizade com Noah. Nos aproximamos dele, mas acho que os outros foram um pouco invasivos demais já chegando com tantas perguntas e pedras na mão, o que claramente não agradou o príncipe e as coisas não demoraram a esquentar. Ray ficou agressivo e isso parecia um imã para os outros encrenqueiros dali, pois logo todos nos olhavam com fogo nos olhos. "Seus bundões fedidos!" Enya grasnou alto, não ajudando em nada. A última coisa que eu fiz foi agarrar o bico dela e sair correndo dali atrás dos outros.
ㅤㅤNão tínhamos conseguido nenhuma informação útil para a investigação da morte de Noah, apenas mais suspeitas. Porém, ao menos ainda estávamos vivos e inteiros. Só isso já era bom e me deixava feliz por hora.
0 notes
sorenich · 3 years
Text
𝗧𝗛𝗘 𝗚𝗢𝗢𝗗, 𝗧𝗛𝗘 𝗕𝗔𝗗 𝗔𝗡𝗗 𝗧𝗛𝗘 𝗨𝗚𝗟𝗬
ㅤㅤNaquela noite, quando o caos teve início nos terrenos da Academia, eu era apenas um espectador vendo tudo da varanda do meu quarto. Não entendi absolutamente nada da cena de guerra que ocorria diante dos meus olhos, só sabia que não estava certo. "Vamos ver de perto!" Enya anunciou batendo as asas e por pouco não indo para fora da nossa varanda. Minha daemon deu um grito quando agarrei suas penas traseiras e a puxei de volta. "O QUE?!" ela perguntou bicando minha mão.
ㅤㅤ— Eu não sei voar! — Dito o óbvio, tomamos o caminho normal de saída, deixando o nosso dormitório e seguindo pelos corredores da Erde. Entre os passos e bater de asas rápidos, eu conseguia ouvir meu coração palpitando por todo o meu corpo. Diante do desconhecido, meu estômago parecia ter dado um nó em si mesmo e me causava uma sensação de mal estar. "Você parece um fantasma! Fantasma!" Enya cantarolava sobrevoando minha cabeça enquanto descíamos as escadas.
ㅤㅤNesse meio tempo, a voz familiar do professor Guto começou a sair dos alto falantes espalhados pela construção. Ele estava fazendo uma convocação e, se não fosse um delírio causado pelo susto, o meu nome foi um entre os chamados. Achei curioso que alguém lembrasse de mim, especialmente em meio a tudo aquilo e ainda mais um professor.
ㅤㅤ Seja como for, tinha que responder ao chamado e corri para o ponto de encontro anunciado. Era uma quadra entre todos os dormitórios e já haviam outros alunos ali quando eu cheguei. O professor Guto explicou rapidamente o que queria que nós fizéssemos e, mesmo sendo difícil me concentrar nas palavras com todo aquele barulho de fundo, entendi que era para localizar alguns funcionários de Avalon. Inclusive, recebi o nome de um deles. Geraldine Watson. Não me era estranha, ao contrário do que toda aquela situação parecia.
ㅤㅤDe sobrancelhas franzidas, reli a escrita no pequeno papel e bisbilhotei os daqueles que estavam próximos de mim. Não seria melhor só irmos salvando quem precisasse e aparecesse no caminho? Pra que cada um ter um alvo específico? “Anda, anda, sua minhoca! Está ficando para trás!” O chamado de minha daemon me despertou, assim como os puxões que ela dava com o bico em meus cabelos, para que eu pudesse segui-la. “Ela é a humana da Noir! Vamos, vamos!” A excitação misturada com desespero da corvo finalmente me colocou em movimento. Enya me passava mentalmente a imagem da daemon coala e Geraldine, que havíamos conhecido vagamente na breve passada introdutória dos terrenos de Avalon. Como eu conseguia me lembrar dela senão tínhamos nos falado mais do que alguns segundos? Simples, ela tinha me dado um delicioso pirulito de laranja, como se eu tivesse sido uma criança bem comportada.
ㅤㅤ O primeiro lugar que cogitamos olhar foi a enfermaria. A mulher era chefe da ala hospitalar, deveria ter pouco tempo de folga e, se tivéssemos sorte, ainda estaria por lá. Mas quando ultrapassamos o Centro de Artes, já podendo ver o prédio de destino, ouvi um sussurro baixo e gelado próximo a minha orelha direita. “Aaaaaaali!” A voz fraca prolongava a palavra como um eco e eu me virei na direção em que ela desaparecia. Rapidamente meus olhos se focaram na mulher mais velha que estava acuada num canto escuro, bem na parte externa do edifício de depósito, e tinha uma coala firmemente agarrada em seu pescoço e um gato entre os braços.
ㅤㅤ— Senhora Watson! Senhora Watson!  — Chamei conforme me aproximava dela, tomando cuidado para não esbarrar em nenhum dos transeuntes agitados entre nós.  — A Senhora está bem? Eu estava procurando por você!  — O olhar da mais velha estava desfocado e levou um tempo para perceber a minha presença ali.  — O que está acontecendo, meu rapaz? Eu estava indo para o centro hospitalar e começou uma barulheira, um corre corre. Alguém me empurrou e torci o meu tornozelo. — Eu tentava analisar por cima a situação da senhora enquanto ela falava e, aparentemente, só o tornozelo esquerdo dela que parecia meio enfraquecido. — Não sei ao certo, senhora. Mas parece que alguns monarcas fugiram do controle! Vem, vou ajudar a senhora a voltar para seu quarto! — Assim que finalizei a fala e fiz menção de me aproximar, tive o gato que ela carregava jogado em mim. O peguei por pouco no ar, segurando o bichano firmemente contra meu peito enquanto Enya gritava assustada. — Nada de quarto! Tenho que cuidar dos pacientes que vão chegar. Me leve para o centro hospitalar agora mesmo, rapazinho! E não aperte muito o gato porque ele gosta de arranhar. — Aliviei automaticamente o aperto no felino, temendo que ele fosse me desfazer em tiras caso lhe esmagasse por mais tempo. Geraldine parecia decidida e eu sentia que não existia nada que eu pudesse dizer para fazê-la mudar de ideia. — Sim, senhora. — Concordei, oferecendo apoio para que pudéssemos caminhar juntos até o prédio mais próximo. A enfermeira, ainda carregando o coala em suas costas, segurou minha mão esquerda com firmeza enquanto eu envolvi o tronco dela firmemente com o braço direito, atento para conseguir sustenta-la quando o equilíbrio lhe faltasse. O gato ficou parado em meu ombro, as unhas afiadas afundadas em minha camisa e alcançando minha pele dolorosamente. Enya, ciumenta, nos seguiu de cima, nada satisfeita por ter seu lugar tomado por aquele "Gato sarnento!" como ela adorou repetir o caminho inteiro.
ㅤㅤLongos minutos depois, todos nós conseguimos chegar ao centro hospitalar. Ajudei a senhora Geraldine a fazer uma tala no tornozelo machucado e, a partir disso, ela parece ter adquirido certo apreço por mim, pois me colocou como um estagiário temporário e me fez segui-la carregando coisas para todos os lados.
ㅤㅤNo final da noite, ela me deu um beijo molhado na bochecha e um saco de pirulitos. Depois me mandou ir descansar.
0 notes