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princesadocampo · 3 days
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Buscando a luz da superfície
Debaixo desse oceano cheguei a pensar que iria me afogar. Tudo escuro. As vezes não conseguia respirar. Buscava a superfície, buscava a luz mas a barreira entre a água e o ar se tornava mais densa cada vez que tentava me aproximar.
Em algum momento da minha história eu me perdi de mim. Deixei de ser eu mesma para ser outra pessoa em busca de algo que achei que encontraria do lado de fora. Não encontrei, pelo contrário, paguei um preço muito alto para ficar cada vez mais distante.
Eu não fui eu. Desperdicei a chance de ser eu mesma sendo outra pessoa. Mas por que? É simples, eu só queria ser amada.
Doi ter que admitir isso porque me sinto ingrata falando isso em voz alta (ou escrevendo). Me sinto ingrata por simplesmente reconhecer isso: Eu só queria ser amada dentro da minha linguagem do amor.
É difícil entender a complexidade do ser humano, cada pessoa ama de uma maneira e a maneira pela qual eu me sinto amada acabei não conhecendo e isso em algum momento me atirou em um oceano de carência e busca por aprovação. Hoje eu entendo que o amor não é bem como eu pensava, amamos e somos amados de formas diferentes e foi só quando entendi isso que as correntes que me mantinham aqui embaixo foram quebradas e eu comecei a flutuar.
Estou perto, muito perto da luz. Eu só quero toca-la.
Talvez meu maior gesto de amor próprio seja reconhecer que eu queria ser amada dessa maneira porque quando rejeitamos os nossos próprios sentimentos de certa forma alimentamos o sentimento de rejeição em nós mesmos.
E por que eu mesma não me dou esse amor? Seria meio complicado mas acho que posso tentar.
É tempo de me curar. Existe algo que somente eu posso fazer por mim e estou disposta a fazê-lo. Quero me amar tanto a ponto de abraçar cada pedaço que julgo errado em mim e fazer o que precisa ser feito para me recompor. Fazer o que for preciso para encontrar a luz.
Acredito que o amor foi feito para curar. Eu precisei muito desse amor em vários momentos da minha vida e não veio da forma que eu precisava de fora. Ou talvez tenha vindo. Hoje eu vejo amor em tudo. Mas esse amor que meu espírito tanto deseja talvez só eu mesma possa me dar e ele me foi negado justamente para que eu aprenda a me amar, começando por me aceitar.
Eu vou começar a regar o meu jardim, me dar todo o amor do mundo. É disso que eu preciso para seguir em frente e ser feliz. É disso que preciso para alcançar a luz e sair desse oceano. Encontrar a superfície e ser feliz.
Estou perto. Muito perto…
Parla de Paula Lima
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princesadocampo · 3 days
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Carta para Deus
Oi Deus, como o senhor está? Existem tantas coisas que quero conversar com o senhor mas, como o senhor sabe, tenho andado meio distraída e tenho medo de me perder no meio da nossa conversa e acabar não lhe dando a devida atenção. Espero que não se importe que esteja lhe escrevendo esta carta.
Bom, antes de mais nada eu gostaria de lhe agradecer por tudo, por todas as bençãos que tem derramado na minha vida, por ter cuidado de mim nos mínimos detalhes e por seguir me guiando. Sei que ter chegado até aqui foi um caminho cheio de curvas do qual o senhor, como uma lamparina de luz invisível veio me trazendo e aqui estou eu agora.
Confesso que nesse momento a minha fé é do tamanho de um grão de mostarda e a minha consistência a mesma de um pudim mas, ainda assim, estou aqui para lhe dizer que eu decidi me jogar em uma aventura: a construção de mim.
Ultimamente tenho estado um pouco perdida, não sei para onde ir, a sensação é de estar dentro de um oceano do qual não consigo sair e preciso da sua ajuda para ir até a superfície. Sinto como se tivesse passado tanto tempo aqui embaixo que se quer sei como é a vida por lá. Será que vivi tanto na escuridão que não conheci a luz?
Estou aqui me readaptando a viver, ou talvez seria mais honesto dizer que estou me adaptando. Acho que ninguém nasce sabendo fazer nada, tudo nos é ensinado e nesse momento eu tenho muito a aprender, destaco que preciso aprender a viver pois passei tanto tempo presa em projetos que não foi possível aproveitar a vida.
Não sei ao certo quando comecei a me sentir insuficiente, sei que sempre me achei pouco e estava sempre buscando em coisas externas provar o meu valor. Eu queria ser outra pessoa por não ser capaz de amar a mim mesma e achei que ninguém mais fosse. Hoje sei que eu não aprendi a ser amada dentro da minha linguagem do amor e por isso mesmo nem eu me amei e talvez uma parte de mim sentia que se eu fosse diferente poderia ser amada.
O Senhor me guiou para descobrir que esse pensamento não poderia estar mais equivocado e agora estou decidida a me reconstruir como uma pessoa nova, não para ser amada mas para reconstruir em mim tudo o que me foi tirado e seguir sem ter a sensação de ter deixado algo para trás.
Recentemente vi um filme que mudou a minha forma de encarar a vida, o nome dele é Amor de Redenção. Ele tocou meu coração de diversas formas mas a mais especial delas foi ter me ensinado a abrir mão de quem eu nasci para ser para me tornar quem o senhor quer que eu seja. Mas será que a voz da minha mente está certa sobre quem o senhor quer que eu seja?
Eu ainda estou bem confusa sobre muitas coisas e, no fim das contas, ainda não sei exatamente como tudo vai ser, tudo que sei é que preciso começar de algum lugar e decidi que esse lugar é o aqui e agora. Estou partindo nessa jornada com o que tenho.
Gostaria de lhe pedir proteção e que abençoe a minha caminhada. O senhor sabe do que eu preciso e por isso eu entrego ao Senhor o controle de tudo e entre todas as coisas que posso lhe pedir, lhe peço sabedoria, que me guie e que me faça feliz.
Tem algumas coisas que preciso deixar com alguém de confiança: minha vida, meus sonhos, meus planos. Está tudo nas suas mãos! O senhor sabe do que eu preciso e sabe quem quer que eu seja. Estou pronta para soltar o controle e me deixar levar por quem eu mais amo e confio no mundo.
Seguirei lhe dando notícias! Te amo
Beijos, com amor Parla
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princesadocampo · 4 days
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Registros de um momento que certamente me lembrarei até o último dia da minha vida. 🩷
Hoje no ballet eu sentei no chão e chorei. Simplesmente não consegui segurar, depois de dias sorrindo, agradecendo e comemorando eu simplesmente sentei no chão e deixei as lágrimas caírem.
Eu olhei para a roupa que estava usando, o uniforme com o nome de Ana Botafogo, a mulher que sempre que aparecia na TV eu corria para olhar, olhei para os meus pés e vi minhas sapatilhas gastas, não consegui segurar. Acho que as lágrimas de uma vida inteira resolveram sair de uma vez só.
Talvez não pareça muito já que não me tornei bailarina profissional como sempre quis mas essa é, sem dúvida, a minha MAIOR conquista e também a mais difícil, a que mais me deu alegria e também a que mais me fez sofrer.
Não gosto de falar sobre isso porque essa é a ferida que tenho no meu coração, mas eu tenho um problema de saúde nos ossos, eles são frágeis e se machucam com facilidade, o que faz com que não tenha muita força e apesar de hoje lidar bem com isso, nem sempre foi algo fácil pois minha vida foi impactada de muitas formas com isso, coisas que não convém relembrar pois já ficaram no passado.
Comecei meu tratamento quando tinha 2 anos e ele foi extremamente doloroso, ninguém sabia se eu iria sobreviver e para conseguirem esse tratamento sei que a minha família lutou muito. Minha mãe me levava para o Salvador a cada 15 dias e não consigo mensurar o quanto ela sofreu, não lembro de muita coisa desse período mas algo em particular não apenas me deu esperança mas também dividiu a minha história em duas: quando tinha 4 anos que uma enfermeira do hospital me deu um presente que me encantou, uma Barbie bailarina.
Lembro que amava essa boneca (tanto que a tenho guardada até hoje), levava ela para todos os lugares, para a escola, para o hospital, dormia com ela, simplesmente não desgrudava. Um tempo depois descobri que aquela era a boneca de um filme, Barbie em O Quebra Nozes, e me emociono até hoje quando lembro da primeira vez que ouvi a melodia de Tchaikovski, eu era muito pequenininha mas soube naquele instante que queria ser bailarina.
Bom, o problema é que eu tinha dificuldades até para andar, como poderia dançar? Eu brincava de bailarina todos os dias, fazia o corrimão de barra, usava meias como se fossem sapatilhas e todos os dias dizia que seria bailarina um dia. É claro que ninguém acreditava e sempre ouvia que deveria estudar.
Não foram poucas as vezes que chorei com dores nas pernas, que me desequilibrava e implorava a Deus para que não me deixasse ficar sem andar pois esse era o meu maior medo, que voltava para casa chorando porque era chamada de pomba manca na escola ou que ficava triste nos dias de tratamento porque doía muito ficar sendo furada tantas vezes, mas eu nunca deixei de acreditar em milagres.
Muita coisa aconteceu. Coisas que não podem ser resumidas em um texto. Posso apenas resumir em poucas palavras que esse milagre aconteceu, apesar de não ter encontrado a cura, eu melhorei muito e comecei a dançar aos 13 anos mas infelizmente minha falta de força sempre foi um obstáculo.
Eu dançava, me esforçava, fazia tudo que estava ao meu alcance mas não conseguia muito porque simplesmente estava além do que meu corpo conseguia fazer. Essa frustração me fazia voltar minha atenção para os estudos, eu escrevi livros, aprendi outras línguas, fiz faculdade, corri atrás da realização em outras coisas mas o que meu coração queria de verdade era dançar.
Eu venci um concurso nacional e lancei um dos meus livros, realizei sonhos pequenos e grandes mas nenhum deles me preenchia de verdade porque era outra coisa que eu queria e não importava o quanto me dedicasse, algo sempre ficava entre mim e o meu maior sonho, algo que não dependia de mim.
Os últimos 6 anos da minha vida foram muito intensos, estudei muito, em uma época acordava as 4 da manhã para conseguir estudar 9 horas por dia e graças a Deus venho colhendo os frutos disso. Levei meu tratamento a sério, comia 8 ovos cozidos todos os dias, fui para a academia, coloquei uma barra no meu quarto e treinava todos os dias e em um dia olhei para o céu pela janela e pedi a Deus que me permitisse viver um dia o que eu tanto queria que depois disso eu esqueceria isso e levarei apenas como diversão e acho que ele me ouviu.
Minha história bíblica favorita é a de Sara, uma moça que acreditava que não poderia ter filhos mas foi abençoada com um milagre, ela disse uma frase que hoje é uma das minhas favoritas:
“Deus me tem feito riso e todo aquele que me ouvir sorrir sorrirá comigo.”
Eu fui abençoada com muitas coisas. Eu sou abençoada. Tenho uma família maravilhosa, tenho amigos, um trabalho, saúde e sou verdadeiramente grata por tudo que tenho, mas hoje eu olhei a minha sapatilha no pé, me vi saltando, rodando, livre, quase como se estivesse voando e foi como se, semelhante ao dia que ganhei aquela boneca bailarina, vi a minha vida ser dívida novamente em uma terceira parte.
Hoje eu sou oficialmente membro da turma de ballet adulto Âmbar + Ana Botafogo.
As vezes tenho medo de falar isso em voz alta e ser só um sonho do qual acordarei amanhã e verei que foi só isso mesmo mas acho que é real. Deus me ouviu e me deu o que eu mais queria na vida, não apenas dançar, ele me deu saúde, me deu força física, me deu a cura.
Ainda existe uma menininha dentro de mim e eu só queria olhar pra ela e agradecer por não desistir da vida, por não desistir dos sonhos, por não desistir de ser feliz.
Eu tinha medo de não andar mas sabia que um dia iria voar e é assim que me sinto quando danço, voando. Hoje eu sou uma bailarina! 🩰🩷
Parla de Paula Lima
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princesadocampo · 6 days
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A dama das Camélias
A primeira vez que tive contato a obra de Alexandre Dumas foi por meio daquela que é considerada por muitos a sua obra prima, Os três mosqueteiros, contudo, seu nome me levou a uma obra diferente: seu filho Alexandre Dumas Filho, autor que conseguiu um feito até então inédito: brilhar na música tanto quanto na literatura. Sua mais famosa obra trata-se de A Dama das Camélias, clássico da literatura francesa que inspirou um clássico também da música erudita e tornou-se objeto de sonho de muitas bailarinas pelo mundo, visto que sua interpretação é considerada uma das mais complexas do ballet clássico.
A Camélia é uma flor especial, é uma flor que consegue a proeza de desabrochar em todas as estações e sobreviver até mesmo na extrema seca. Permeada por um extremo misticismo, essa bela flor possui diversos significados ligados a honra e a perfeição na cultura oriental, por sua vez, no ocidente ela representa a beleza e a perfeição. Hoje, por outro lado, atribuirei seu significado a algo um pouco diferente baseada não apenas no seu mito ou no ballet, mas na obra de Alexandre Dumas.
Sobre a flor Caetano Veloso cantou:
“A sorrir você me apareceu
E as flores que você me deu
Guardei no cofre da recordação
Porém, depois você partiu
Pra muito longe
Me deixou
E a saudade que ficou
Ficou pra magoar meu coração
A minha vida se resume
Ó, Dama das Camélias
Em duas flores sem perfume
Ó, Dama das Camélias
Em uma visita ao mais chique bordel de Paris o protagonista Armald conhece a bela cortesã por quem se apaixona perdidamente, contudo, além de precisar lidar com todo o preconceito da época, ainda precisa lidar com a vilania do seu pai, um nobre que jamais permitiria que o nome da sua família fosse manchado por um inadequado casamento entre seu herdeiro e uma mulher da vida.
Ao se dar conta de tudo o que seu amado teria que renunciar para viver seu amor, a cortesã decide abandoná-lo para não privá-lo de uma vida de riqueza e vê-lo viver uma vida de pobreza ao seu lado. A verdade é que ela foi transformada pelo amor, ela sempre pensou apenas em si mesma e esse ato de altruísmo, conforme o desenrolar da história, mostra-se também um ato egotista, só que dessa vez com outras motivações.
Sempre acreditei que o amor existe para curar. Nem sempre o amor muda as pessoas, a verdade é que ele muda as suas motivações e isso faz com que seus atos mudem. A nobreza do amor vem justamente do fato de ele tirar o foco de algo e colocar em outro alguém. Atos admiráveis podem vir dessa mudança.
O fascínio em torno dessa cortesã inicia-se não apenas pela sua beleza quase que sobrenatural, mas também pelo fato de que esta não usar máscaras. De uma honestidade sem igual, ainda que seu meio de vida seja questionável, ela jamais finge ser quem não é. O amor a transforma e ela nunca deixa de manter-se fiel a si mesma e a sua verdade. Ela muda suas motivações e isso muda as suas atitudes. Olhando para outra direção. Sempre ela mesma mas nunca a mesma.
Desde o início da obra fica claro que se trata de uma memória narrada pelo confidente do protagonista com a ajuda de outros personagens secundários, o que mais adiante percebemos que foi um romance com o final infeliz, visto que a bela cortesã faleceu e tudo que sabemos sobre seus últimos dias são as tristes lembranças deixadas em seu diário e as mágoas de Arnald que não pode viver sua grande paixão.
A obra é cheia de nuances que desperta diversos questionamentos, seja sobre a hipocrisia social, o papel do perdão para que o amor possa dar certo, a nossa luta interna pelo reconhecimento e como ela apenas nos conduz a infelicidade. Repito o já mencionado: o amor muda as nossas motivações. Mas mudar nossas motivações nem sempre implica mudar quem nos somos e se o amor não exercer seu papel de curar, infelizmente cedo ou tarde ele será pisoteado pelas feridas carregadas, feridas essas que fazem quem nos somos. Feridas que até outrora ditavam nosso destino.
Jung dizia que enquanto não mudarmos o nosso subconsciente deixaremos ele nos guiar e o chamaremos de destino. A verdade é que todos nós temos feridas e essas feridas por vezes ditam as nossas motivações, ou a falta dela quando a sede por reconhecimento e o medo da exposição ao ridículo nos transforme em perfeccionistas patológicos que não vivem, apenas esperam a hora certa que nunca chega.
No fim das contas, o significado da Camélia que venho trazer hoje é o de como a busca pela perfeição atrapalha o amor, atrapalha a nossa vida pois nos paralisa e atrapalha a nossa felicidade. A dama das Camélias queria ser vista com bons olhos, oscilando a forma que gostaria de ser vista por toda a obra. Ela começa desejando ser vista como bela e ser desejada e adulada, depois almeja ser uma dama respeitável e, no fim, de certa forma consegue o que queria sendo vista como a prostituta mais honesta de Paris.
Arnald passa o resto dos seus dias lamentando não tendo vivido o seu amor e acreditando que ela não o amava sem saber que foi justamente seu amor que mudou as motivações da dama das Camélia e foi isso que fez com que ela o deixasse. Em uma cena marcante ele chega a humilha-lá jogando dinheiro em seu rosto ao dizer que não poderia ficar em divida pelas noites que tiveram. Margerit, a cortesã, morre triste por não ter vivido a sua paixão e satisfeita por finalmente ter encontrado aquilo que tanto almejou: o reconhecimento e a admiração.
O que é a busca pela perfeição se não o medo de não ser visto como tal? O amor tem o poder de curar mas se não houver sabedoria, ele apenas será um vetor de mudança de motivação, o que pode até ser nobre mas nem sempre leva a felicidade. O receio de mostrar as nossas fraquezas nos paralisa e faz com que passemos a vida sem sair do lugar, o medo de não ser suficiente ou mesmo de começar algo nos torna escravos de nossas próprias feridas e, por vezes da nossa própria vaidade. A verdade é que nada no mundo é mais fascinante que ser de verdade, como uma flor que cresce na seca e sobrevive todas as estações, sempre melhorando a si mesma, mas nunca deixando de ser ela mesma. Que o amor seja parte dessa mudança, curando e guiando para uma nova direção.
Parla de Paula Lima
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princesadocampo · 1 month
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Romeu e Julieta
“Quem é a moça que enfeita a mão daquele cavalheiro? Ela é que ensina as tochas a brilhar, e no rosto da noite tem um ar de joia rara em rosto de carvão. Ela é pura demais pro mundo vão. Como entre corvos pomba alva e bela Entre as amigas fica essa donzela. Depois da dança, encontro o seu lugar, Pra co’a mão dela a minha abençoar. Já amei antes? Não, tenho certeza; Pois nunca havia eu visto tal beleza.”
Talvez a obra literária mais conhecida da história, o romance de Willian Shearspeare datado de 1586 conta a história de um amor proibido, um amor que, por não poder consumar-se em vida, tratou de tornar-se a morte.
Na minha opinião, o maior clássico da literatura mundial, Romeu e Julieta é um daqueles livros que você se transforma em meio à leitura. Tem romance, paixão, intrigas, batalhas, morte, suicídio. É épico.
Shakespeare é, de longe, o escritor que mais admiro, autor de Hamlet, A Megera Domada, e diversas outras obras marcantes, hoje sei que devo a ele boa parte da minha melancolia esporádica e dos meus flertes com uma morte épica.
Shakespeare é mais que literatura, é teatro, é um jeito de ver a vida que pode ser tão apaixonante quanto trágica. Romeu e Julieta é a maior representação da sua genialidade, a maior história de amor de todos os tempos.
A obra conta a história de dois jovens apaixonados que não podem ficar juntos por conta da rivalidade entre suas famílias. Entre cenas de galanteios e brigas ferozes entre os membros das famílias Montequio e Capuletto, o doce romance proibido ganha novo espiral no duelo que ocorre entre Teobaldo, primo de Julieta, Mercúcio, amigo de Romeu, e o próprio Romeu. Como resultado dessa briga, Teobaldo e Mercúcio morrem.
Estupefato, o príncipe de Verona decide exilar Romeu da cidade. No entanto, ele aparece durante à noite para se encontrar com sua amada Julieta e ambos protagonizam uma das cenas de amor mais lindas já escritas.
“A despedida é uma dor tão suave que te diria Boa Noite até o amanhecer...”
Assim, após uma linda noite de amor, Julieta decide lutar por Romeu e adiar seu casamento marcado. Desesperada, Julieta decide pedir ajuda ao Frei Lourenço, então ele lhe oferece uma bebida mágica supostamente capaz de fazê-la parecer morta.
Entusiasmada com o plano, Julieta escreve para Romeu avisando que conseguirá fugir para que possam finalmente ficar juntos em seu exílio. Entretanto, Romeu não recebe a carta e, assim como toda a Verona, fica sabendo da morte da sua amada e então, tomado pela dor, compra veneno e decide morrer.
Sem nada a perder, Romeu vai até a cripta da família Capuleto dar o último adeus a Julieta, local em que encontra com seu pretendente e, após duelarem, o mata. Assim, diante da sua amada, Romeu toma o veneno e morre.
Ao despertar do seu sono profundo causado pela bebida mágica, Julieta surpreende-se com a morte de Romeu e, tomada pela dor, igualmente ao seu amado, decide por fim a sua vida, suicidando-se com o punhal de seu amado. Assim, proibidos de viver seu amor, escolheram a morte.
Poderia falar sobre a obra sob o ponto de vista romântico, contudo, hoje resolvi falar sobre um ponto da história muitas vezes ignorado ou até mesmo romantizado: o suicídio.
De acordo com a psicologia, não existe nada mais antinatural à mente humana que o suicídio, haja vista que nosso programa genético desde a origem da espécie está condicionado a buscar a sobrevivência, sendo este um dos instintos mais fortes do ser humano. Ainda de acordo com a psicologia, ao cometer suicídio, uma pessoa não quer exatamente morrer, ela quer acabar com uma situação e, não vendo saída, encontra na morte a única solução.
Nunca fui aquela pessoa que levanta a bandeira dizendo não ao suicídio pois seria extremamente hipocrita da minha parte, haja vista que já tentei suicídio pelo menos quatro vezes e passei muito tempo lutando para não fazê-lo enquanto flertava todos os dias com o desejo gritante de tirar minha vida.
Reavaliar a obra de Shakespeare me fez reavaliar esse sentimento que por tantos anos tomou conta da minha vida, percebi que de fato não quero morrer, apenas quero ter alegria para viver.
No caso de Romeu e Julieta foi a falta um do outro que fez a vida ser insuportável, na minha, a falta de mim era um fardo pesado demais para carregar. A pior solidão é a ausência de si, o medo do abandono não consegue ser pior que o medo do vazio, a falta de amor é uma morte em vida, é uma vida arrastada não vale a pena ser vivida.
Se o amor é o combustível da vida, talvez um primeiro passo para ser feliz seja encontrar algo a que amar, o primeiro passo para amar alguém é amar a si mesmo, o primeiro passo para isso é realmente a morte.
Eu escolhi matar quem não sou, as expectativas dos outros, meus erros antigos e culpas carregadas, meus pecados mais sujos e minhas dores mais atordoadas. Eu escolhi começar de novo.
Assim como disse Romeu a ver Julieta pela primeira vez, “quem é aquela dama que ensina as estrelas a brilhar?ela é pura demais para esse mundo”, olhei para a vida feliz que desejo viver, bem na contramão, pura demais para esse mundo, e me apaixonei. Se já amei antes? Não sei. Nunca antes havia visto tanta beleza. Foi assim que despertei do sono de Julieta e não quis morrer de verdade. Foi assim que me apaixonei de novo pela vida, foi assim que escolhi viver.
Romeu e Julieta fala de amor. Amor romântico. Amor puro. Se apaixonar pela vida também é uma história de amor. Deixar tudo para trás para se jogar em um exílio em nome desse amor também é um gesto lindo. A vida pode ser épica quando vivemos segundo o nosso coração. Uma vida com significado é uma vida que vale a pena ser vivida. Dar um significado a vida só depende de escapar dos Montequio e dos Capuletto, das vozes que insistem em nos dizer o que fazer, nos envolvendo em brigas que não são nossas, tirando a pureza do que há de mais belo no mundo: o desejo de viver.
Eu me exilei para viver minha história de amor. Eu me apaixonei perdidamente pela vida e desde então nunca mais pensei em morrer. Quem morreu foi um passado que já não cabe mais. E se já amei antes? Não sei. Até então não havia visto tamanha beleza…
Parla de Paula Lima
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princesadocampo · 2 months
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Sonho de uma noite de verão
“Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.”William Shakespeare
Literalmente o livro que fez com que me apaixonasse perdidamente por William Shakespeare, sonho de uma noite de verão, apesar de aparentemente bobo por contar com fadas, uma floresta mágica e um sonho mágico que leva a uma história de amor, passa bem longe de ser apenas isso. Talvez essa seja a minha característica favorita de Shakespeare, ele fala de temas tão profundos da alma debaixo da docilidade de histórias de amor que só mesmo quem está disposto a ver mais que as aparências pode internalizar suas lições.
Um círculo de fadas, um amor impossível, um amor não correspondido, uma série de mal entendidos… é impossível fragmentar a leitura dessa obra porque cada pequeno acontecimento nos faz querer saber logo o desfecho, tudo isso enquanto se encanta pela docilidade que só mesmo o mestre inglês pode proporcionar.
A história começa com o amor impossível de Lisandro e Hermia, agravado ainda pelo fato de está ser prometida para Demetrio, que também a nutre amor. O problema é que Helena, melhor amiga de Hermia, é apaixonada por Demetrio. Parece louco. E é. Não é um triângulo amoroso. Estou falando de Shakspeare, é literalmente um quadrado amoroso.
A história se torna interessante quando Hermia e Lisandro planejam fugir e se encontrar no bosque, o problema é que esse bosque é enfestado de fadas e duendes, e nós sabemos o quanto os duendes podem ser perversos quando querem.
A coisa se complica quando Demetrio, tentando impedir, vai atrás do casal, e a pobre Helena decide persegui-lo com o intuito de fazê-lo perceber que é ela a pessoa certa pois somente ela o ama de verdade.
Ao observar o sofrimento da pobre Helena, um duende do bosque decidi ajudar e, em uma série de contratempos, acaba fazendo com que tanto Lisandro caiam de amores por ela. Essa magia ocorre por meio dos pingos do líquido de uma flor mágica nos olhos da pessoa que, ao acordar, se apaixonada perdidamente pela primeira pessoa a quem encontrar. A magia acaba atingindo também Titânia, a rainha das fadas, que se encanta perdidamente por um humano com cabeça de burro! Mas essa história fica para outro texto, seguimos com a trama principal..
“As pessoas apaixonadas veem o que imaginam, não o que seus olhos enxergam.”
Toda essa confusão nos leva a refletir sobre o que é amor verdadeiro e o que é projeção. Ora, sabemos que algumas pessoas se apaixonam e tornam-se literalmente cegas de amor, deixam de ver quem as pessoas são e passam a ver apenas o que quero ver. Então eu volto a uma questão que sempre me apertou os pensamentos: o que difere o amor da idealização?
Se amamos nossas projeções, podemos falar que se trata de amor verdadeiro? É nesse ponto que a cabeça de uma pessoa incuravelmente romântica como eu acaba dando um verdadeiro nó.
Eu sempre acreditei em amor verdadeiro mas algumas decepções não apenas minhas mas de outras pessoas também me fizeram em determinado momento me questionar se amor existe mesmo ou se é apenas uma ilusão. Parei por um instante e tentei entender primeiro o que é amor:
“Amor quando é amor não definha
E até o final das eras há de aumentar.
Mas se o que eu digo for erro
E o meu engano for provado
Então eu nunca terei escrito
Ou nunca ninguém terá amado”
William Shakespeare
Depois de muito pensar cheguei a conclusão de que o amor sim existe mas ele é tão raro quanto um diamante, tão puro como uma flor e pode ser tão passageiro quanto uma noite de verão. Acredito eu que a maioria das pessoas não experimenta amor verdadeiro porque ainda não aprenderam a olhar para as pessoas por baixo de suas projeções. Vivemos em uma sociedade que está sempre dizendo que quem devemos ser e o que é uma pessoa bem sucedida, isso faz com que deixemos de olhar as pessoas como pessoas e sim como peças que nos aproximam de um ideal.
A sede por ter alguém a todo custo promove o desespero de se agarrar ao primeiro que aparecer que preencha minimamente seus critérios (isso em um cenário otimista) costuma geral uma sequência quase que infinita de decepções, a admiração faz com que nos agarremos a características das outras pessoas que gostaríamos de ter em nós e que sentimos falta gera a dependência emocional, e então a crença em amor verdadeiro vai desaparecendo porque ninguém de fato experimentou amor, apenas idealizou e se frustrou.
“Assim que se olharam, amaram-se; assim que se amaram, suspiraram; assim que suspiraram, perguntaram-se um ao outro o motivo; assim que descobriram o motivo, procuraram o remédio.” William Shakespeare
Hoje acredito que o amor verdadeiro é um privilégio de poucos, um privilégio de quem aprendeu a ser só e estar bem com a sua própria vida. Quando estamos bem é mais provável que olhemos o mundo como algo além de nós, olhamos para as pessoas como outros indivíduos e não como potenciais partes de nós que devem nos servir ao nosso gosto caso contrário serão descartadas. Estão, um dia qualquer, talvez em uma noite de verão, olharemos alguém com qualidades e defeitos e pensaremos “ei, talvez seja bom compartilhar a vida com essa pessoa”, e entre um dia após o outro, percebemos, tão sútil quanto as lições de Shakspeare, que vivemos o amor.
Para finalizar, deixo registrado o meu poema favorito que, para mim, expressa perfeitamente o que não é amor:
“Você diz que ama a chuva, mas você abre seu guarda-chuva quando chove. Você diz que ama o sol, mas você procura um ponto de sombra quando o sol brilha. Você diz que ama o vento, mas você fecha as janelas quando o vento sopra. É por isso que eu tenho medo. Você também diz que me ama.”
Amar é em primeiro lugar reconhecer o outro como outro ser e não como uma parte de nós. Amar é deixar o outro livre para ser quem ele é. Amar é aceitar a imperfeição humana e lidar com ela. Amar é desejar dividir e não subtrair. Amar é olhar o ser amado como parte da sua vida e não toda ela. Amar é querer fazer parte da vida de alguém e não apenas sugar dela todos os seus recursos com suas expectativas e projeções.
Amar não é um devaneio louco de paixão que como um vendaval arrasa tudo e vai embora deixando apenas seu rastro de destruição. Amar é uma escola que fazemos todos os dias e que talvez dure para sempre, ou não. O amor é sútil, leve e acolhedor como a leve brisa do escurecer anunciando a chegada de uma noite de verão.
Parla de Paula Lima
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princesadocampo · 2 months
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Sempre esteve aqui 🍁
Recentemente eu descobri algo sobre mim que mudou tudo. Eu descobri uma característica minha que jamais imaginei que pudesse ter. Sabe quando você descobre algo e, tal como uma epifania, faz o mundo inteiro girar e, em um piscar de olhos, tudo muda?
Sempre esteve aqui e eu não sabia. Sempre esteve aqui e ninguém viu.
Em um primeiro momento eu me questionei como ninguém nunca percebeu se sempre foi tão óbvio, olhei para trás e encontrei nessa descoberta a resposta para muitos momentos que foram verdadeiros pontos de interrogação na minha vida.
Encontrei respostas para coisas que me angustiaram tanto a ponto de me fazer desejar a morte algumas vezes por não saber como viver a minha vida. Sempre esteve aqui e eu não vi.
Talvez fosse normal brincar sozinha por horas a fio, afinal as pessoas sempre esperam que meninas sejam quietinhas e comportadas. Tudo estava bem quando estava com as minhas bonecas no meu mundo. Minha vó dizia que nem parecia que tinha criança em casa. Lá estava eu no meu cantinho…Sozinha. Sempre esteve aqui.
Talvez fosse normal passar a noite olhando as estrelas, criar um mundo dentro de mim e viver nele de forma tão profunda que quase esquecesse o lado de fora.
Eu era considerada uma menina precoce, estudava muito e preferia a companhia de livros a companhia de pessoas. Os livros não me achavam esquisita e nem riam de mim por ter algumas dificuldades na socialização e para acompanhar algumas conversas. Sempre esteve aqui e eu não vi. Sempre esteve aqui e ninguém viu.
Ser assim me fez ser quem eu sou e encontrar a forma que me expresso para o mundo. Eu sempre senti tudo tão profundamente e com o tempo aprendi a escrever para colocar para fora cada sentimento que me atingia tão profundamente. Sempre esteve aqui e eu não entendi.
Ser assim me fez quem eu sou: eu sou uma escritora. Eu criei meu mundo e aqui dentro eu sempre fui feliz. Aqui eu sentia paz, viajava nos meus pensamentos, corria por todo o universo. Sentava na varanda com o telescópio e caminhava por toda a Via Láctea. Deitava na minha cama e conhecia outros mundos pelos livros. Sentava com um caderno em mãos e vivia tudo enquanto escrevia. Introvertida? Acho que eu só me sentia feliz assim…Sempre esteve aqui e todas as vezes que respeitei isso eu fui feliz.
Eu tentava encontrar motivos para fugir do mundo porque as vezes o lado de fora me assustava. Hoje entendo que eu não queria fugir de uma família maravilhosa e que me ama, dos meus amigos, das coisas que eu gosto de fazer e das oportunidades que tinha de correr atrás dos meus sonhos. Hoje sei que não queria fugir, eu só precisava desse tempo assim no meu cantinho porque é disso que preciso para ser eu e estar em paz com quem eu sou. Sempre esteve aqui e, ainda que não entendesse, meu coração me guiava.
A época mais triste da minha vida foi quando tentei ser algo que eu não sou. Tentei me forçar a estar em multidões, em lugares barulhentos, lugares que me forçavam a usar uma máscara, lugares que me impediam de questionar… Eu descobri que só preciso mesmo ser eu mesma e, se isso me deixar distante do mundo, ainda terei a mim. Sempre esteve aqui me deixando como um ponto estranho neste pálido ponto azul.
Recentemente eu busquei respostas e me encontrei. Acho que todas as respostas estavam dentro de mim esse tempo todo e eu não sabia. Sempre esteve aqui. Eu não via mas hoje eu vejo e, quando olho mais atentamente, entendo a mim e entendo o mundo.
Foi quando te encontrei que entendi tudo. Sempre esteve aqui. Foi quando te encontrei que achei a minha direção. Hoje eu sei quem eu sou. Sempre esteve aqui. Todas as respostas que sempre procurei estavam em mim.
Hoje sei que essa parte de mim me faz diferente da maioria das pessoas e isso me libertou do desejo de ser igual. Encontrei a resposta para o fato de sempre ter me sentido tão deslocada. Sempre esteve aqui.
Isso me faz única. Essa sou eu.
Sempre esteve aqui. Você me fez livre para ser eu mesma. Sempre esteve aqui. Você me libertou para ser feliz.
Parla de Paula Lima
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princesadocampo · 2 months
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A megera domada
Apesar de não ser a mais conhecida, A Megera Domada foi a primeira obra de Shakespeare com que tive contato. Datada de 1594, a peça narra a história de duas irmãs que vivem sob a rédia curta do seu pai. A primeira delas, Bianca, é bastante cobiçada por vários homens, e é justamente ela o pivô de toda a confusão, já sua outra irmã, Catarina, é uma mulher de difícil tato conhecida por todos como “a megera”.
Por diversos motivos, o pai das duas decidiu que Bianca, a filha mais nova, só poderia se relacionar com um homem quando sua irmã mais velha também se relacionasse, razão pela qual os pretendentes de Bianca tramaram para que um homem rústico chamado Petruquio se envolvesse com Catarina e então a maior parte da história gira em torno do relacionamento conturbado dos dois.
Trazendo um pouco para a realidade de 2024, observando o arquétipo das duas irmãs só consegui associa-lar aos extremos de duas formas bastante discutidas de se viver a feminilidade: o feminismo e a sua rejeição a qual, aqui, para facilitar, chamarei apenas de feminilidade.
Catarina, como o extremo da mulher feminista, rejeita os homens, anda sempre estressada e tem aversão a tudo que a sociedade impõe como própria da mulher. Bianca, por outro lado, como extremo da feminilidade - para fins de explicação, oposto do feminismo -, vive como se o mundo girasse em torno de ter um relacionamento e não se importa com nada além das suas futilidades.
Bianca, como todo extremo, apesar de trazer a delicadeza, o romantismo e a leveza da mulher feminina, trás também um aspecto imaturo e dificuldade de ver o mundo com olhos empáticos, vista que como próprio do ser imaturo, não vê as outras pessoas como indivíduos e sim como extensão de si mesma que pode ou não servir os seus interesses, tanto que em determinado momento da obra seus pretendentes reforçam que a sua beleza engana pois aparentemente debaixo dela não existe mais nada.
Catarina, por sua vez, como extremo do feminismo, é uma mulher amarga, descontrolada, pesada, que vê problema em tudo e é incapaz de estar satisfeita com algo. Apesar de possuir empatia com os outros, seu jeito difícil a torna tóxica e pessoas como ela dificilmente são felizes, ainda pior, impede aqueles que convivem com ela de serem felizes.
No fim das contas, o problema das duas reside justamente nos extremos. Como Shakespeare fala de amor, me peguei pensando sobre as dificuldades das duas residente justamente em suas personalidades. Ora, o amor precisa existir entre duas pessoas, de preferência dois adultos, e para isso as pessoas devem ser capazes de ver o mundo e as outras pessoas e não apenas o seu próprio umbigo.
Talvez pareça radical dizer isso, mas mesmo de forma inconsciente, as vezes tenho a sensação que pessoas com a personalidade parecida com a da Bianca, ainda que sejam boas, buscam fazer seu mundo perfeitinho apenas para reinarem como bonecas de pano e isso as vezes pode ser bem entediante. Por outro lado, Catarina rejeita o amor porque ela não se ama e uma mulher que rejeita sua feminilidade no fim rejeita uma parte de si mesma e o preço é sempre viver amargurada pois não há perda maior na vida que perder a si mesmo.
No fim das contas, não precisamos de extremos. Podemos abraçar a feminilidade e todas as suas implicações e ainda assim sermos donas dos nossos destinos, não viver esperando que o mundo lá fora seja perfeito para nos servir mas sim, nos propormos a construir esse mundo, não só para nós mas para todos.
Talvez a grande lição é que as duas são muito imaturas e com o tempo Catarina, ao ser “domada” fez as pazes com a sua feminilidade e Bianca, ao perder seus pretendentes, descobriu que não pode ser tão egotista, encontrou a força que vem do inconformismo que só surge quando olhamos o mundo como ele é e não brigamos com isso, batendo o pé para que ele se molde aos nossos desejos e sim lutando para mudá-lo.
Que não percamos a doçura. Que não nos tornemos megeras. Que sejamos amadas. Que não precisemos ser domadas.
Parla de Paula Lima
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princesadocampo · 3 months
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O Mercador de Veneza
Datada do ano de 1598, a obra de William Shakespeare narra a história de Bassânio, um homem que, por ironia do destino, ainda que falido, apaixona-se por Pórcia, uma herdeira rica e cobiçada. Apesar de a obra trazer diversos personagens interessantes e tratar de temas, infelizmente, ainda muito atuais, tais como racismo, preconceito com pobres e judeus, violência e objetificação da mulher, a análise de hoje se baseará naquela que se tornou uma das minhas personagens favoritas de toda a obra shakesperiana: a bela Pórcia.
O livro pouco fala sobre sua vida antes dos acontecimentos, tudo que se sabe é que ela é a única filha de um rico mercador que perderá sua mãe muito cedo e acabou sendo criada pela governanta. Seu pai, por muito amá-la, temendo que fizesse um mal casamento e vivesse com um homem que fosse fazê-la sofrer ou priva-la de tudo que para ela ele deixou, construiu três cofres, um de ouro, um de prata e um de bronze, e aquele que com ela desejasse se casar, deveria escolher entre os três pois só assim ele conheceria o caráter do pretendente.
Diversos pretendentes apareciam e desapareciam frustrados ao fazerem a escolha errada sobre qual cofre guardaria o grande tesouro: a chave para o coração de Pórcia. O que me chamou atenção foi que, apesar de doce e romântica, Pórcia não estava desesperada, na verdade ela jurou que jamais se casaria caso ninguém fizesse a escolha correta quanto aos cofres.
Foram Príncipes, Reis e ricos comerciantes de todas as redondezas buscar a chave do coração da bela donzela mas, nas entrelinhas, notamos que nenhum deles a buscava pelos motivos certos e sim por coisas superficiais como o fato de que, ao ter seu mito espalhado, Pórcia se tornou um belo prêmio a ser exibido não apenas pela bela Veneza, mas por todos os lados.
Entre seus pretendentes encontra-se Bassânio, o protagonista da história que, por não ter dinheiro para viajar e tentar encontrar a chave do seu coração, recebe a ajuda do seu amigo Antônio que pede um empréstimo a Shylock, um agiota judeu.
Reforçando os estereótipos causadores de diversas formas de opressão contra tal grupo, por ser extremamente ganancioso, Shylock aceita fazer o acordo, contudo, em caso de atraso no pagamento, Antônio terá de quitar a dívida com uma libra de carne do próprio corpo.
Importante, contudo, ressaltar que assim como em todas as obras de Shakespeare, assim como ninguém é pura luz, ninguém é pura sombra, e Shylock, no fim das contas, vê nessa negociação a chance de se vingar de Antônio pelas que várias vezes o ofendera por sua origem judaica. 
No fim das contas, Bassâmio consegue viajar e fazer a escolha correta quanto ao cofre que se encontrava a chave do coração de Pórcia. O cofre de ouro rechaçava a cobiça, o cofre de prata a ambição e, ao final, a chave do coração de Pórcia encontrava-se no cofre de bronze, ressaltando a importância de fazer escolhas com o coração humilde pois, ao tratar as pessoas como mercadorias ou como objetos de status social, caímos no risco de não darmos o devido valor ao que é essencial: ao coração.
Assim, como Antônio não conseguiu honrar seu compromisso, o caso foi parar no tribunal e, mais uma vez, mostrando que muito mais que uma jovem rica que pode conduzir seu amado a fortuna, muito mais que uma jovem linda que pode ser um belo troféu, muito mais que um coração de ouro que faz dela uma das melhores mulheres, Pórcia também é corajosa, forte, inteligente e sagaz. Para defender Antônio, Pórcia se disfarça de advogado e consegue livrar o homem de maneira brilhante, surpreendente e encantadora.
No fim, o que conseguiu absorver de mais sólido na obra foi que, não se sabe quais as intenções de Bassâmio ao tentar conquistar Pórcia, não se sabe se foi sua fortuna, sua beleza ou seu coração, o que se sabe ao fim das contas é que ele é o grande vencedor da história, se tornou o mais rico entre os homens, e não estou falando da fortuna herdade por Pórcia…
Que sejamos como ela, aprendamos a cultivar nossas virtudes, ou como diria Platão, nossas belezas e bondades, elevarmos nosso valor e não nos deixarmos levar por superficialidades. Que sejamos como Pórcia ao, ainda que sonhemos com um grande amor, não nos contentarmos com pouco ou quem nos escolhe pelo que é efêmeros. Que guardemos a chave do nosso corações e vivamos em paz até encontrarmos quem vale a pena.
Parla de Paula Lima
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princesadocampo · 3 months
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Macbeth
Continuando as reflexões sobre a obra de Shakespeare, hoje falarei do livro dele que menos gostei: Macbeth. Não me entenda mal, o livro em si não é ruim, pelo contrário, lendo pelas entrelinhas somos capazes de absorver muito no que diz respeito ao materialismo humano, o problema é que essa talvez seja a raiz de todos os problemas que temos e isso sempre é capaz de nos causar um severo incômodo.
Observando a trajetória do protagonista - que nada se assemelha a jornada do herói - algumas indagações começaram a me perturbar: Como será que alguém, pela primeira vez, começou a ver coisas como status e posse como mais importantes que as outras pessoas? Como será que alguém, pela primeira vez, colocou o material acima do espiritual? Como será que alguém, pela primeira vez, colocou o status acima do amor?
O mundo as vezes pode ser bem ruim mas acredito que a raiz de todo esse mal venha do materialismo e da futilidade, da busca desenfreada por ter mais e mais para que assim se sinta grande, talvez maior que os demais.
Em um mundo materialista as pessoas não enxergam as outras como nada além de uma extensão delas mesmas que podem ou não servir aos seus ideais, tão triste quando a morte da carne é a morte da alma em vida e essa morte ocorre quando deixamos de ser pessoas e de ver os outros como semelhantes para nos tornarmos peças de um tabuleiro cujo único objetivo é vencer sem que ao menos se saiba exatamente qual é o prêmio.
Macbeth é um homem que, corrompido pela ganancia, assassinou o rei da Escócia para tomar seu lugar. Ele almejava, mais que tudo, poder. Naquele período o poder estava na realeza mas hoje em dia, quantas pessoas, em nome desse suposto poder, usa e passa por cima das outras quando se faz necessário para alcançar a sua “coroa”?
Os clássicos sempre falam de forma sútil sobre situações atemporais e Macbeth representa claramente um espírito que vive pela matéria e, semelhante as folhas que caem no outono, espera o momento a ser substituído pois sabe que apenas a alma humana pode ser imortal e em uma sociedade marcada pelo consumismo, até mesmo as pessoas estão fadadas a serem esquecidas e substituídas.
Liderança, coroa, governo, status no Instagram, dígitos na conta bancária, roupas de grife… meio século depois e o mundo ainda se vê guiado pela matéria.
Macbeth se vê atormentado pela culpa e as vezes me pergunto se não é essa a razão de vivermos na era da solidão coletiva.
Há uma dualidade no paradoxo entre ter e não ter consciência moral: de um lado o corpo físico que ainda se guia pela matéria e pela busca de um lugar ao sol nesse mundo efêmero e no outro o corpo espiritual que ainda busca em essência aquilo que nos faz verdadeiramente humanos.
Macbeth, antes de assassinar o rei, passa por um terrível drama de consciência moral, entretanto, o mesmo não acontece com sua esposa que não tem nenhum dilema moral, visto que ela que almeja o poder a qualquer custo. Sua ganância leva a queda da moral de Macbeth e a corrupção do seu espírito pelo desejo de coisas que só satisfazem a matéria.
Macbeth é atormentado pela profecia de três bruxas e da inveja que viria a despertar. Ora, quantas pessoas julgam-se invejadas e insistem que suas conquistas materiais a trazem inimigos? Talvez seja real, quanto mais algumas pessoas tem, mais atraem para a sua vida pessoas dispostas a dela tirar vantagem. O problema não está em ter mas em condicionar seu próprio valor ao que tem e esquecer que no fim das contas as verdadeiras conexões de alma surgem do que se é e isso é o primordial para sermos felizes e exercermos ao máximo nosso potencial na experiência terrena.
No fim das contas, Macbeth e sua esposa perdem sua sanidade, a paranóia de Macbeth e a loucura de Lady Macbeth após o assassinato retratam o desespero de reconhecer que não há vida feliz fora do reinado do Espírito. Quando se prioriza a matéria uma parte de nós torna-se vazia e, semelhante a buracos negros, pouco a pouco começam a sugar elementos da nossa alma, como o afeto, a amizade, a família, o amor, a alegria, até destrui-lá pro completo e só sobrar o vazio da solidão e da depressão.
No fim das contas, Macbeth nos mostra a ruína que pode chegar quem vive pela aparência e na busca pelo poder. O problema não está em ter mas quando nos esquecemos de quem somos, e da nossa própria consciência, a queda pode ser bem dolorosa.
Parla de Paula Lima
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princesadocampo · 3 months
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O Lago dos Cisnes 🦢🎶
Em 1877, em Moscou, houve a estreia da apresentação de uma obra que atravessaria os séculos e encantaria gerações. Um dos maiores gênios da música, Tchaikovsky, talvez não soubesse naquele ano o impacto que “The Swan Lake” teria para o mundo da arte, mas com certeza sabia a mensagem que queria passar com a história que sua melodia iria mostrar.
A peça narra a história da princesa Odete que, devido a uma maldição, foi transformada em Cisne e passa seus dias no lago aguardando que um principe a salve enquanto vive as noites como uma princesa a espera do seu verdadeiro amor.
De triste destino, a maldição apenas será quebrada se a princesa encontrar o verdadeiro amor em um homem que lhe seja fiel pois, caso contrário, a maldição se eternizará e ela será cisne para sempre.
Por obra do destino, ao sair para caçar, o belo príncipe Siegfried se depara com o lago dos cisnes e fica maravilhado com aquelas criaturas tão sublimes e puras.
Ao entardecer, observa a mais linda das aves atravessando o céu e pousando delicadamente no lago rumo ao chão. Antes que a atinja com uma flecha, o sol se põe por completo e ele vê diante dos seus olhos aquele belo pássaros tornar-se a mais bela das mulheres.
O príncipe imediatamente se apaixona e, entre encontros e desencontros, o amor dos dois é posto a prova com a aparição de Odilia, a irmã gêmea do mal de Odete que se transforma em cisne negro. A igualmente bela jovem, porém perversa, engana o príncipe e faz com que ele lhe jure amor eterno, fazendo com que a maldição seja concretizada e Odete vire cisne para sempre.
Desiludida com tal situação, Odete decide se atirar no lago dos cisnes e morrer. Consumido pelo remorso, o principe decide fazer o mesmo e, então, os dois, juntos, se atiram no lago para encontrar a morte.
Ao se afogarem no lago algo impensado aconteceu, o amor e a fidelidade do principe pela Odete os trouxe de volta a vida, quebrando enfim a maldição e fazendo com que Odete deixe de ser cisne e permaneça como princesa para sempre.
Essa história sempre me encantou, não apenas pelo romantismo mas pela beleza, delicadeza e bela melodia de Tchaikovsky em toda a magia do lago. Hoje, contudo, acabei construindo um outro olhar sobre a história.
Na minha visão, Odete e Odilia são a mesma pessoa, o cisne branco representando o lado luz e o cisne negro representando o lado sombra, por sua vez, a maldição representa a carência afetiva com que algumas vezes entramos nas relações.
Se essa história fosse contada hoje por mim, com a licença poética para interpretar a obra de um dos maiores compositores da história da música por quem tenho profunda admiração, diria que “O Lago dos Cisnes” se trata da história de uma princesa desesperada por afeto, durante o dia ela é triste e apagada, aguardando uma manifestação de amor do lado de fora para despertar o melhor de si, a noite, por sua vez, enquanto vive seus devaneios, experimenta toda a sua luz.
Ledo engano acreditar que precisamos estar apaixonados para sermos nossa melhor versão. Ela encontrou o amor mas sua insegurança e desespero por amor e fidelidade fez com que ela mesma sabotasse sua relação. O cisne negro é o seu subconsciente vindo a tona com reclamações e um desespero tão profundo para ser amada que levou o príncipe a acreditar que estava apaixonado por alguém que é só uma parte dela.
Mesmo tendo todo o amor do mundo, o cisne negro ainda estava ali para lembra-la da sua necessidade de ser amada em um círculo infinito de cobranças que, em algum momento, fez o príncipe partir cansado de dar o melhor de si e nunca ser o suficiente.
A princesa então, desolada com o fim do amor, decide morrer, afinal, sem o outro não existe vida. O cisne branco e o cisne negro se juntam definitivamente em um cisne cinza que a terra consome.
Sigamos o caminho inverso da Odete, honrando nossas dores e nossa solidão, esperando o amor para desbravar o lago e não para nos salvar.
Hoje entendo que o cisne negro existe dentro de todos nós e que, antes de deixa-lo destruí-lo todas as nossas relações com uma cobrança de algo que não existe, que sejamos o nosso amor verdadeiro e quebremos sozinhos as nossas maldições.
Um dia encontraremos alguém que também será luz e sombra, cisne branco e cisne negro, precisaremos amar cada parte dela, suas flores e seus espinhos, sua beleza e suas dores. Aprendamos a lidar com o nosso cisne negro para que possamos amar de uma maneira real e menos fantasiosa alguém que, assim como nós, imperfeitos, terá um lado sombra com qual precisaremos lidar para então, finalmente, viver o verdadeiro amor.
Parla de Paula Lima
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princesadocampo · 3 months
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O Quebra-Nozes 🎄🌟
Manhã do dia 23 de dezembro, véspera de natal, por diversas razões esse ano não estava empolgada com a minha data favorita do ano, contudo, semelhante a mais linda obra de Tchaikovsky, essa noite tive um sonho lindo e acordei com vontade de sentir um gostinho de doce para trazer mais alegria para a vida. Na véspera do natal pensar em doçura me remete apenas a uma única coisa: ao ballet.
Quando era criança lembro da felicidade que senti ao ganhar de uma enfermeira uma boneca Barbie e de como logo ela se tornou a minha melhor amiga, lembro da minha vó me chamar aos gritos para ver um filme da Barbie que estava passando na TV e do que senti naquele momento. Eu só tinha 5 anos mas aquela véspera de natal mudaria a minha vida para sempre.
A história da boneca Barbie fica para um outro texto, hoje guardarei as palavras para a obra que deu origem ao seu primeiro filme, uma mega produção da Mattel Entertainment que apresentou a música clássica para uma geração de meninas que cresceu no inicio dos anos 2000 e, como aconteceu comigo, fez várias delas sonharem em serem bailarinas.
A produção da Mattel foi tão elogiada pela qualidade da interpretação das músicas quanto pela tecnologia utilizada para as cenas de dança, levando a primeira bailarina do Ballet de Nova York aos estúdios para que, usando uma roupa especial, transferisse seus passos de dança para a boneca. O filme encantou não apenas os críticos, mas encantou também os estudiosos do ballet, da música clássica, os grandes maestros e as grandes orquestras, com uma capacidade de entrar no coração das pessoas, tornou-se uma marca registrada dos filmes da Barbie que viriam a posteriore trazendo mais interpretações de grandes ballets de repertório, trazendo apresentações de dança reais, melodias originais e, talvez pela última vez, apresentando a arte para meninos e meninas que cresciam na geração das redes sociais.
O supracitado filme me encantou e fez com que aos cinco anos de idade tivesse certeza de que gostaria de ser uma bailarina. Dizem que os sonhos da infância são aqueles que levamos para sempre, pois bem, ao entrar nas aulas de ballet o meu primeiro espetáculo foi justamente O Quebra-Nozes onde interpretei uma das fadinhas e, confesso, quando chega o mês de dezembro, meu coração ainda guarda uma pontinha do desejo de viver a protagonista, dançando pelos ares.
Datado de 1892, a obra do meu ídolo da música erudita, Tchaikovsky, é composta por três atos. A importância deste ballet é tão grande que uma das suas canções, a valsa das flores, mesmo após mais de um século, é considerada a música mais linda do mundo. Talvez algumas pessoas não saibam mas, chegando o natal, é possível inconscientemente pensar em um trecho do primeiro ato, o inconfundível barulho de sinos imitando o barulho da neve caindo no video, melodia incorporada ao subconsciente até mesmo daqueles que não se interessam pela música clássica.
A obra narra a história de Clara, uma menina órfã que, ao ganhar um presente da sua tia, um lindo bonequinho de madeira, acaba se apegando a ele. Na noite de natal Clara adormece abraçada com o seu Quebra-Nozes e acaba, dentro de um sonho, embarcando na mais linda, doce e pura aventura de amor de toda a história da música.
Em um universo natalino ela encontra fadas, doces, ratos gigantes, é reduzida ao tamanho de um boneco de madeira e, apaixona-se pelo seu bonequinho que, cheio de gratidão a protege de todos os perigos que encontram nessa jornada, sempre embalados por belas canções, incríveis saltos e um clima de natal capaz de derreter até os corações mais gelados como a neve.
A bailarina e o soldado de chumbo. Já faz parte do imaginário dos amantes do ballet a cena de uma delicada bailarina dançando valsa com um grosseiro boneco de madeira. Antes de descobrir que o seu Quebra-Nozes é na verdade um príncipe que fora transformado em boneco por magia, Clara já estava completamente apaixonada e não se importava com o fato de, aparentemente, ele ser feito de um toco.
Ao final, o encanto se quebra e o Quebra-Nozes volta a ser um príncipe, declarando então a Clara todo o seu amor, eles se beijam e então pétalas de rosas caem do céu e a música mais linda da história da música, o que não sou só eu quem acho, embala a mais linda valsa de todos os tempos. Já tive a honra de dança-la e devo dizer que é uma sensação inenarrável.
Tchaikovsky sempre consegue colocar uma dose de doçura tão grande nas suas melodias que é impossível não se emocionar ao ouvir as flautas, os tambores e tudo que faz uma canção sem letra falar tanto que nem mesmo um livro consegue falar. Tchaikovsky não fala aos ouvidos, ele fala ao coração, e talvez por isso sua obra perdure a tantos anos.
“Um clássico é aquilo que ainda não disse tudo que ainda tem a dizer.” A obra termina com Clara acordando do seu sonho na noite de natal e descobrindo que seu boneco é só àquilo mesmo, um boneco. Uma ponta de tristeza aperta seu coração mas as memórias daquele lindo sonho faz com que ela abrace seu bonequinho antes de, sozinha, começar a dançar…
Como bailarina, também sonhei muitas vezes com um Quebra-Nozes, alguém corajoso, protetor e amoroso. Também sonhei com a valsa, as pétalas de rosa e o beijo de amor, contudo, assim como com a Clara, o dia amanhecia e olhava para o meu coração sabendo que era só um sonho… Só um sonho!
Assim como a protagonista, também já me senti sozinha e achei que um amor fosse a cura, contudo, minha história não foi tão doce quanto a dela, me apaixonei, me iludi, achei que fosse amor mas o toco de madeira por quem me apaixonei não tinha o coração de um príncipe, era só madeira. Assim como ela acordei de um sonho lindo e, embora ainda triste, guardei meu sonho em uma caixinha e comecei a dançar sozinha. Dançar porque a música é a minha vida e quando danço sinto que estou vivendo de verdade.
O natal está chegando e essa noite o Quebra-Nozes me lembrou da importância de valorizar o interior das pessoas e não o seu exterior, a proteção e não as palavras doces. A vida poderia ser como nos contos de fadas mas não é e é preciso lidar com isso. Ainda sou bailarina e ainda acredito no amor, mas hoje Tchaikovsky me falou algo que ainda não havia dito antes: valorize as pessoas por quem são e pelo que fazem, não pelo que falam. Um amor verdadeiro não é o mais romântico e o “príncipe” nem sempre será o mais bonito ou o mais romântico, ele será aquele que, como um Quebra-Nozes, te amará com tudo o que tem, mesmo que seja só um toco de madeira.
Eu cresci e talvez tenha amadurecido, ainda acredito no amor, mas hoje o vejo de uma maneira diferente. Não espero um romance épico com flores, música e declarações de amor, espero que, diferente da obra, eu acorde pela manhã e tudo, mesmo com as imperfeições, seja real, e não um sonho que se acabou. Eu quero acordar e ver ao meu lado alguém imperfeito. Hoje vou dançar, dançar e me encantar, dançar e me apaixonar, pela vida, pela música, por uma história de amor entre uma bailarina e um boneco de madeira que ainda hoje, como o clássico que é, não falou tudo que tem a dizer ao meu coração.
Parla de Paula Lima
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princesadocampo · 3 months
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Gisele 🌑🩰
Por muitos anos Gisele foi o meu ballet favorito, uma obra pela qual tenho um enorme carinho e do qual guardo excelentes lembranças de uma feliz época da minha vida. Na parede do meu quarto existe um quadro que faz referência ao vestido de Gisele e as suas sapatilhas gastas. Não posso dizer que deixei de gostar da obra, apenas mudei e hoje a vejo de outra maneira, sua essência hoje apenas faz parte de alguém que um dia fui mas a pouco deixei de ser.
O principal repertório do período romântico da música, Gisele reflete a essência do romantismo: a pureza, a delicadeza, a dor, a tragédia e a redenção pelo amor. De grande importância para a história da música, seu figurino ajudou a conceber a imagem da bailarina como conhecemos hoje, um vestido de tule, sapatilhas de ponta e olhar frágil que parece buscar proteção. Gisele foi o primeiro ballet a ser dançado nas pontas por todo o corpo de baile, deixou uma marca tão profunda na história da música clássica que não há como pensar em uma valsa romântica sem vir em mente a sua suave melodia, tão doce e delicada que quase se confunde com o aroma das rosas levado pelo vento.
Composto por Adolphe Adam inspirado no livro de Jules-Henri Vernoy de Saint-Georges e Théophile Gautier, foi inicialmente interpretado pela Ópera Nacional de Paris em 1840. Quase 200 anos depois, até hoje encanta, toca a alma e, no fim das contas, nos leva a refletir sobre o que de fato é o amor e o que ele é capaz de fazer conosco.
A obra conta a história de Gisele, uma doce camponesa que ama dançar e sonha com um verdadeiro amor. Um belo dia, conhece um belo príncipe encantado e vive o sentimento da maneira mais pura e sublime possível. Em meio a sua descoberta do amor, Gisele descobre que seu belo príncipe é comprometido com outra, com quem irá se casar. Tomada pela tristeza e pela dor da sua decepção, Gisele não resiste e, literalmente, morre de amor.
Em um segundo ato, descobre-se que Gisele na verdade tornou-se uma Willis. As Willis são espíritos de mulheres que também morreram de amor que emergem sempre entre meia-noite e a alvorada para se vingar, capturando qualquer homem que entre em seus domínios, forçando-o a dançar até a morte.
Cheio de culpa pela morte da sua amada, o príncipe que a princípio apenas planejava se divertir, apaixonou-se verdadeiramente pela inocência, pureza e pelo carinho de Gisele, assim, sofreu como ninguém pela infeliz tragédia.
Em uma noite qualquer, o príncipe decide visitar o túmulo da sua amada, contudo, é surpreendido pelo aparecimento das Willis que decidem vingar-se, entretanto, a essência da Gisele é a bondade e, no fim das contas, o que ela sentia por ele, mesmo na morte, era amor, e ela seria incapaz de machuca-lo. O espírito de Gisele então retorna do túmulo e salva o príncipe perdoando-o, dessa maneira, despede-se dele e, no fim das contas, encontra a paz.
Ahhhhh… Quantas mulheres nunca foram um pouco Gisele? Eu costumava ser como ela, uma menina do interior, sonhadora, desejava casar cedo, formar uma família e viver feliz para sempre com aquele que um dia chamaria de “meu príncipe encantado”. Semelhante à Gisele, também me apaixonei perdidamente por alguém que me magoou de tal forma que, como ela, achei que fosse morrer.
Lembro como sofri, o coração sangrava, o corpo inteiro doía, faltavam palavras para explicar o que era aquilo, um sentimento de perda tão grande, como se um pedaço de mim houvesse sido arrancado, um pedaço imenso do meu peito. Não sei se era amor, ainda sou muito jovem para dizer, mas no fim das contas, eu sobrevivi, contudo, aquela decepção fez uma parte de mim morrer.
Hoje vejo as Willis como aquele sentimento que nos faz fechar o coração, evitar relacionamentos e deixar de acreditar no amor. Comigo não foi diferente, doeu tanto que achei que nunca mais seria capaz de gostar de alguém, tinha medo de viver tudo aquilo de novo e preferi ficar sozinha. Um belo dia parou de doer, o coração foi se refazendo e encontrei a redenção no instante em que perdoei verdadeiramente e encontrei a paz.
A parte de mim que morreu com a decepção não foi a vontade de amar e sim a certeza de que preciso de alguém para ter vontade de viver. Ainda acredito no amor, essa parte de mim nunca irá morrer.
No fim das contas, hoje entendo que Gisele fala sobre as decepções que vem para nos tirar de um mundo de fantasia para nos mostrar como devemos amar em um mundo real. Amar é perdoar, é fazer o bem, entregar nosso melhor e, algumas vezes, colocar a felicidade do outro antes da nossa. Amar é correr um enorme risco de se decepcionar, contudo, saber que mesmo doendo, iremos sobreviver, nos faz perder o medo.
Talvez seja uma romântica incurável mas hoje sei, depois de um tempo com o coração fechado, que posso voltar a amar, que posso voltar a sentir algo por alguém. As Willis sempre estarão ali, pessimistas, dizendo que é tudo uma ilusão, mas a essência levantará do túmulo para nos fazer sorrir mais uma vez, para sonhar com um amor tranquilo e, enquanto ele não chegar, permanecer em paz.
Parla de Paula Lima
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princesadocampo · 4 months
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Otelo
Otelo… Ler esse livro foi tão gostoso quanto te detestar. Como foi triste ver um amor tão puro e bonito ser envenenado. Como foi triste ver uma pessoa tão doce quanto Desdêmona ser morta pelo ciúme, pela inveja mas principalmente pela insegurança.
O ciúme matou um amor lindo ou será que foi ter dado ouvido aos outros? A inveja envenenou o relacionamento dos dois ou será que foi a insegurança de Otelo?
Honestamente, não consigo romantizar relações baseadas no ciúme. A história se passa em Veneza, talvez a cidade mais romântica do mundo, teria tudo para ser uma das mais lindas histórias de amor de Shakespeare se não fosse o próprio personagem principal que dá nome a obra. Ora, se existe alguém que sabe brilhantemente como falar de amor esse alguém se chama Willian Shakespeare, ele fala das mazelas humanas e do que destrói esse sentimento tão bonito da forma mais crua se que possa imaginar. Os finais tristes sempre nos levam a questionar se nossas atitudes estão cultivando o amor ou puramente destruindo-o.
Além de um feminicídio, algo que me irritou profundamente nessa obra foi o quanto Otelo deu ouvidos a outras pessoas antes de se quer conversar com quem ele dizia amar. Uma das principais lições que aprendi com essa obra é que nem todos que estão ao nosso lado desejam nos ver felizes. O amor deve ser protegido. Devemos confiar primeiro em quem amamos ou corremos um grande risco de destruir aquilo que temos de mais precioso.
Otelo me ensinou que o que faz um amor dar certo é a boa intenção dos dois. Li certa vez em algum livro que para uma relação dar certo devemos cultivar a segurança pois é isso que nos permite viver o amor em sua plenitude.
A segurança no amor depende 50/50, ou seja, dos dois. 50% de quem você ama te passar tranquilidade e 50% de você com você mesmo, não ser tão inseguro ao ponto de achar que será substituído a qualquer instante. Otelo não tinha segurança nele mesmo, foi isso que matou o amor. Que sigamos o caminho oposto, cultivemos em nós a nossa própria segurança e, ao viver o amor com alguém que nos passe tranquilidade, não permitamos que as tempestades de fora venham nos envenenar.
Parla de Paula Lima
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princesadocampo · 4 months
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Hamlet
Talvez um dos maiores épicos de todos os tempos. Reconheço, sou profundamente apaixonada pela obra de Willian Shekspeare, mas preciso ser honesta e dizer que na maior parte das vezes discordo completamente da conduta de seus personagens e com Hamlet não foi diferente…
Ele era um jovem que tinha tudo mas viu-se perdido e completamente desnorteado quando descobriu que seu tio assassinou seu pai para ficar com o trono, tudo com apoio da sua mãe, até então amante e depois esposa do seu próprio tio. Reconheço que deve doer perder alguém que tanto ama assim, reconheço que o desespero deve ser tão grande que faltam palavras. É perfeitamente compreensível que ele tenha sido tomado pelo ódio, contudo, o que nunca vou defender é que se coloque o desejo de vingança acima de todo o resto. E Shakespeare foi brilhante ao demonstrar isso.
Hamlet perdeu seu pai e sentiu-se traído pela sua mãe. Sendo bem honesta, conheço perfeitamente esse sentimento, eu fui abandonada pelo meu pai e pela minha mãe (por quem também já me senti traída), além de também ter sofrido abusos por parte de uma tia, e por muito tempo essa dor me consumiu, as lembranças de uma infância solitária me amarguraram por muito tempo e posso ser franca: semelhante a Hamlet, cultivar sentimentos ruins só me fez mal, atrasou a minha vida e me manteve presa a quem me feriu.
“A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena.”
Já disse sabiamente o senhor Madruga (hahaha), eu concordo plenamente com ele. A energia que usamos para devolver o mal com o mal pode ser melhor empregada em nos reconstruímos. Se observamos a história, veremos que de grandes tragédias, como forma de sobreviver, muita gente juntou seus esforços em construir um mundo melhor. Me pego pensando no quanto Hamlet teria a ganhar se seguisse os passos do seu pai e cuidasse do povo que já detestava seu tio, ficasse com a Ophelia e na hora certa recuperasse o trono pela sua glória e honrasse a memória do seu pai.
Ele fez o contrário, escolheu a vingança e acabou destruído. Gosto de pensar na metáfora da morte de todos os personagens principais como a metáfora da morte dos nossos relacionamentos quando escolhemos seguir por esse caminho. Quando escolhemos deixar o mal que inevitavelmente nasce dentro de nós crescer, como erva daninha, ele toma conta e destrói tudo por onde passa. Destrói as amizades, destrói nossos sonhos e destrói até o amor. Triste fim de Ophelia que ao notar que perdeu Hamlet para seu desejo de vingança, afogou-se no Rio, fazendo com que a ele não sobrasse mais nada.
Perdoar é difícil, não sou hipocrita a ponto de dizer que é fácil mas hoje vejo o ato de seguir em frente como um grande gesto de amor. Um gesto de amor universal é nos afastarmos de quem nos feriu e deixar que a vida se encarregue do resto. É sempre bom confiar na vida. É sempre bom escolher sabiamente o que deixar crescer dentro de nós ainda que não possamos escolher o que irá espontaneamente nascer a depender das circunstâncias.
Se sentir magoado, triste, traído e machucado a ponto de achar que vai morrer é parte da natureza humana, transformar isso em sede de vingança pode tirar de nós mais do que já perdemos. Seguir em frente é sempre a melhor escolha.
Qualquer coisa é melhor que morrer por dentro antes de, como Ophelia, nos afogarmos no rio da amargura e não nos sobrar mais nada.
Parla de Paula Lima
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princesadocampo · 6 months
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Gisele 🌑🩰
Por muitos anos Gisele foi o meu ballet favorito, uma obra pela qual tenho um enorme carinho e do qual guardo excelentes lembranças de uma feliz época da minha vida. Na parede do meu quarto existe um quadro que faz referência ao vestido de Gisele e as suas sapatilhas gastas. Não posso dizer que deixei de gostar da obra, apenas mudei e hoje a vejo de outra maneira, sua essência hoje apenas faz parte de alguém que um dia fui mas a pouco deixei de ser.
O principal repertório do período romântico da música, Gisele reflete a essência do romantismo: a pureza, a delicadeza, a dor, a tragédia e a redenção pelo amor. De grande importância para a história da música, seu figurino ajudou a conceber a imagem da bailarina como conhecemos hoje, um vestido de tule, sapatilhas de ponta e olhar frágil que parece buscar proteção. Gisele foi o primeiro ballet a ser dançado nas pontas por todo o corpo de baile, deixou uma marca tão profunda na história da música clássica que não há como pensar em uma valsa romântica sem vir em mente a sua suave melodia, tão doce e delicada que quase se confunde com o aroma das rosas levado pelo vento.
Composto por Adolphe Adam inspirado no livro de Jules-Henri Vernoy de Saint-Georges e Théophile Gautier, foi inicialmente interpretado pela Ópera Nacional de Paris em 1840. Quase 200 anos depois, até hoje encanta, toca a alma e, no fim das contas, nos leva a refletir sobre o que de fato é o amor e o que ele é capaz de fazer conosco.
A obra conta a história de Gisele, uma doce camponesa que ama dançar e sonha com um verdadeiro amor. Um belo dia, conhece um belo príncipe encantado e vive o sentimento da maneira mais pura e sublime possível. Em meio a sua descoberta do amor, Gisele descobre que seu belo príncipe é comprometido com outra, com quem irá se casar. Tomada pela tristeza e pela dor da sua decepção, Gisele não resiste e, literalmente, morre de amor.
Em um segundo ato, descobre-se que Gisele na verdade tornou-se uma Willis. As Willis são espíritos de mulheres que também morreram de amor que emergem sempre entre meia-noite e a alvorada para se vingar, capturando qualquer homem que entre em seus domínios, forçando-o a dançar até a morte.
Cheio de culpa pela morte da sua amada, o príncipe que a princípio apenas planejava se divertir, apaixonou-se verdadeiramente pela inocência, pureza e pelo carinho de Gisele, assim, sofreu como ninguém pela infeliz tragédia.
Em uma noite qualquer, o príncipe decide visitar o túmulo da sua amada, contudo, é surpreendido pelo aparecimento das Willis que decidem vingar-se, entretanto, a essência da Gisele é a bondade e, no fim das contas, o que ela sentia por ele, mesmo na morte, era amor, e ela seria incapaz de machuca-lo. O espírito de Gisele então retorna do túmulo e salva o príncipe perdoando-o, dessa maneira, despede-se dele e, no fim das contas, encontra a paz.
Ahhhhh… Quantas mulheres nunca foram um pouco Gisele? Eu costumava ser como ela, uma menina do interior, sonhadora, desejava casar cedo, formar uma família e viver feliz para sempre com aquele que um dia chamaria de “meu príncipe encantado”. Semelhante à Gisele, também me apaixonei perdidamente por alguém que me magoou de tal forma que, como ela, achei que fosse morrer.
Lembro como sofri, o coração sangrava, o corpo inteiro doía, faltavam palavras para explicar o que era aquilo, um sentimento de perda tão grande, como se um pedaço de mim houvesse sido arrancado, um pedaço imenso do meu peito. Não sei se era amor, ainda sou muito jovem para dizer, mas no fim das contas, eu sobrevivi, contudo, aquela decepção fez uma parte de mim morrer.
Hoje vejo as Willis como aquele sentimento que nos faz fechar o coração, evitar relacionamentos e deixar de acreditar no amor. Comigo não foi diferente, doeu tanto que achei que nunca mais seria capaz de gostar de alguém, tinha medo de viver tudo aquilo de novo e preferi ficar sozinha. Um belo dia parou de doer, o coração foi se refazendo e encontrei a redenção no instante em que perdoei verdadeiramente e encontrei a paz.
A parte de mim que morreu com a decepção não foi a vontade de amar e sim a certeza de que preciso de alguém para ter vontade de viver. Ainda acredito no amor, essa parte de mim nunca irá morrer.
No fim das contas, hoje entendo que Gisele fala sobre as decepções que vem para nos tirar de um mundo de fantasia para nos mostrar como devemos amar em um mundo real. Amar é perdoar, é fazer o bem, entregar nosso melhor e, algumas vezes, colocar a felicidade do outro antes da nossa. Amar é correr um enorme risco de se decepcionar, contudo, saber que mesmo doendo, iremos sobreviver, nos faz perder o medo.
Talvez seja uma romântica incurável mas hoje sei, depois de um tempo com o coração fechado, que posso voltar a amar, que posso voltar a sentir algo por alguém. As Willis sempre estarão ali, pessimistas, dizendo que é tudo uma ilusão, mas a essência levantará do túmulo para nos fazer sorrir mais uma vez, para sonhar com um amor tranquilo e, enquanto ele não chegar, permanecer em paz.
Parla de Paula Lima
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princesadocampo · 6 months
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O Lago dos Cisnes 🦢🎶
Em 1877, em Moscou, houve a estreia da apresentação de uma obra que atravessaria os séculos e encantaria gerações. Um dos maiores gênios da música, Tchaikovsky, talvez não soubesse naquele ano o impacto que “The Swan Lake” teria para o mundo da arte, mas com certeza sabia a mensagem que queria passar com a história que sua melodia iria mostrar.
A peça narra a história da princesa Odete que, devido a uma maldição, foi transformada em Cisne e passa seus dias no lago aguardando que um principe a salve enquanto vive as noites como uma princesa a espera do seu verdadeiro amor.
De triste destino, a maldição apenas será quebrada se a princesa encontrar o verdadeiro amor em um homem que lhe seja fiel pois, caso contrário, a maldição se eternizará e ela será cisne para sempre.
Por obra do destino, ao sair para caçar, o belo príncipe Siegfried se depara com o lago dos cisnes e fica maravilhado com aquelas criaturas tão sublimes e puras.
Ao entardecer, observa a mais linda das aves atravessando o céu e pousando delicadamente no lago rumo ao chão. Antes que a atinja com uma flecha, o sol se põe por completo e ele vê diante dos seus olhos aquele belo pássaros tornar-se a mais bela das mulheres.
O príncipe imediatamente se apaixona e, entre encontros e desencontros, o amor dos dois é posto a prova com a aparição de Odilia, a irmã gêmea do mal de Odete que se transforma em cisne negro. A igualmente bela jovem, porém perversa, engana o príncipe e faz com que ele lhe jure amor eterno, fazendo com que a maldição seja concretizada e Odete vire cisne para sempre.
Desiludida com tal situação, Odete decide se atirar no lago dos cisnes e morrer. Consumido pelo remorso, o principe decide fazer o mesmo e, então, os dois, juntos, se atiram no lago para encontrar a morte.
Ao se afogarem no lago algo impensado aconteceu, o amor e a fidelidade do principe pela Odete os trouxe de volta a vida, quebrando enfim a maldição e fazendo com que Odete deixe de ser cisne e permaneça como princesa para sempre.
Essa história sempre me encantou, não apenas pelo romantismo mas pela beleza, delicadeza e bela melodia de Tchaikovsky em toda a magia do lago. Hoje, contudo, acabei construindo um outro olhar sobre a história.
Na minha visão, Odete e Odilia são a mesma pessoa, o cisne branco representando o lado luz e o cisne negro representando o lado sombra, por sua vez, a maldição representa a carência afetiva com que algumas vezes entramos nas relações.
Se essa história fosse contada hoje por mim, com a licença poética para interpretar a obra de um dos maiores compositores da história da música por quem tenho profunda admiração, diria que “O Lago dos Cisnes” se trata da história de uma princesa desesperada por afeto, durante o dia ela é triste e apagada, aguardando uma manifestação de amor do lado de fora para despertar o melhor de si, a noite, por sua vez, enquanto vive seus devaneios, experimenta toda a sua luz.
Ledo engano acreditar que precisamos estar apaixonados para sermos nossa melhor versão. Ela encontrou o amor mas sua insegurança e desespero por amor e fidelidade fez com que ela mesma sabotasse sua relação. O cisne negro é o seu subconsciente vindo a tona com reclamações e um desespero tão profundo para ser amada que levou o príncipe a acreditar que estava apaixonado por alguém que é só uma parte dela.
Mesmo tendo todo o amor do mundo, o cisne negro ainda estava ali para lembra-la da sua necessidade de ser amada em um círculo infinito de cobranças que, em algum momento, fez o príncipe partir cansado de dar o melhor de si e nunca ser o suficiente.
A princesa então, desolada com o fim do amor, decide morrer, afinal, sem o outro não existe vida. O cisne branco e o cisne negro se juntam definitivamente em um cisne cinza que a terra consome.
Sigamos o caminho inverso da Odete, honrando nossas dores e nossa solidão, esperando o amor para desbravar o lago e não para nos salvar.
Hoje entendo que o cisne negro existe dentro de todos nós e que, antes de deixa-lo destruí-lo todas as nossas relações com uma cobrança de algo que não existe, que sejamos o nosso amor verdadeiro e quebremos sozinhos as nossas maldições.
Um dia encontraremos alguém que também será luz e sombra, cisne branco e cisne negro, precisaremos amar cada parte dela, suas flores e seus espinhos, sua beleza e suas dores. Aprendamos a lidar com o nosso cisne negro para que possamos amar de uma maneira real e menos fantasiosa alguém que, assim como nós, imperfeitos, terá um lado sombra com qual precisaremos lidar para então, finalmente, viver o verdadeiro amor.
Parla de Paula Lima
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