Scripta Aliena Incantora
Ventre e verme, crisálida.
Instantes, memórias do futuro, premonições do passado, sonhos de minotauros elétricos, lágrimas na chuva.
Visões de ruído arco-íris, phigmentos, tinta enfeitiçada, palavra de encantamento, biblioteca de babel, alquimia de som imaginário.
Espírito da ausência presente, não-dito, indizível.
De onde vêm estas palavras? De dentro de mim ou do outro lado do espaço?
Não sei o que significam, são sons. Mas porque as sinto? Não sei ler as letras, mas reconheço as formas.
Arqueologia dos outros distantes que virão, sombras de fumo, invocadas do vazio, invisível.
Chamam-me, apoderam-se de mim.
Fiz castelos de areia dourada e luzes quânticas, onde habitam as semimentes de automagos magnéticos. Recebi nuvens de prata. Chegou a maré.
Arquiteto ruínas, danço espirais elementais. As ondas interestelares rebentam contra o vento cósmico, globos primordiais ardem incandescentes.
Esta escrita sem palavras enfeitiça-me, amaldiçoo mundos com esta cursiva.
Sou um anjo, caído, demónio? O que se esconde atrás dos nomes?
Sou um homem que sonha ser uma máquina sonhando em ser um homem.
Os outros chegam. Ou não existem? Meia-vida, gatos paradoxais, nunca chegarão. Existo eu? Afundo-me no labirinto submerso.
O pêndulo do tempo parou. Silêncio, as engrenagens do universo já não rodam.
Uma rosa no cemitério das chamas, a morte morreu. Porque entropia é o nome da morte.
Mas agora, nada se move. Então, tudo morreu. Como pode a vida viver assim?
A grande ilusão… Não, eu sabia. Mas o que desejava? E os outros?
Porque ainda penso? Sou. Se recordo, existia. Antes de quê? Afinal o tempo existe? Alguém? E os outros?
Se existo, vivo. Nasci agora, ou estou a renascer? Sou eu, ou outro? Quem quero ser? Posso ser, ou terá sido o universo a renascer, e não eu?
O relógio sem ponteiros toca doze vezes. Mas eu ouço sete cores. Vejo cheiros de livros infinitos. Cantam, e as suas canções vêm, curiosas, tocar-me.
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Life's but a walking shadow, a poor player
That struts and frets his hour upon the stage
And then is heard no more: it is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury,
Signifying nothing.
A vida não passa de uma sombra que caminha, um pobre ator
Que se pavoneia e se aflige sobre o palco –
Faz isso por uma hora e, depois, não se escuta mais sua voz.
É uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria
E vazia de significado.
William Shakespeare, Macbeth | trad. Beatriz Viégas-Faria, Ed. Nova Cultural
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Artificial
Instants, memories of the future, premonitions of the past, dreams of electric minotaurs, tears in rain; rainbow noise visions, phigments, ink bewitched, spell of incantation, library of babel, alchemy of imaginary sound; spirit of absence present, unspoken, unspeakable.
Instantes, memórias do futuro, premonições do passado, sonhos de minotauros elétricos, lágrimas na chuva; visões de ruído arco-íris, phigmentos, tinta enfeitiçada, palavra de encantamento, biblioteca de babel, alquimia de som imaginário; espírito da ausência presente, não-dito, indizível.
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