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opescadordepensamentos · 11 months
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De“DRÁCULA” - DE BRAM STOKER A FRANCIS F. COPPOLA, O AMOR E A MALDIÇÃO DO SANGUE
Por @actardoque - 2013
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Cartaz do filme, na época do lançamento.
No ano de 1992, o genial cineasta Francis Ford Coppola apresentou ao mundo, sua proposta para um dos maiores ícones da literatura fantástica, personagem capaz de arrepiar qualquer pessoa em qualquer situação: o Conde Drácula. Trabalhando diretamente sob a obra literária gótica do romancista irlandês Bram Stoker, publicada em 1897, e usando a principal linha da narrativa do romance, que é o diário do personagem Jonathan Harker, Coppola criou uma das mais incríveis adaptações do clássico. Com toda concepção baseada na arte em quadrinhos de Jim Steranko (que desenhou Indiana Jones, de Steven Spielberg), e ao contrário do que aparenta,  inúmeras cenas e técnicas cinematográficas do filme foram baseadas em produções anteriores sobre o príncipe das trevas e os recursos antigos usados nestas. A cena em que Drácula sobe de seu caixão pela primeira vez, por exemplo, é uma referência ao clássico Nosferatu (1922), de F.W. Murnau. Outros filmes como A Bela e a Fera (1946) de Jean Cocteau, na cena em que o protagonista transforma as lágrimas de Mirna em diamante, ou o caixão de cristal de Lucy, que aparece em inúmeras versões da Branca de Neve, são alguns exemplos. Coppola priorizou o uso destes recursos com a finalidade de centralizar o trabalho na direção das cenas e não nos efeitos especiais computadorizados. O uso de sombras que independem dos personagens, inundações de sangue nos ambientes, a diversificação visual do próprio Drácula, oferecem como resultado um verdadeiro espetáculo estético. A escolha de Gary Oldman para o papel de Drácula levou a incorporação do personagem em níveis de genialidade, com tão incrível personificação. O elenco de apoio com Winona Ryder (Mirna), Keanu Reeves (Hacker) e Anthony Hopkins (Van Helsing) dá aos devidos personagens suas caras e sustento ideal.
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Gary Oldman: um Drácula no limite da genialidade
O maior mérito do filme diz respeito a sua construção equilibrada de inúmeros elementos como o amor romântico (Drácula busca a eternidade do amor em Mirna), o terror como faceta humana e sobrenatural, o erotismo em uma linha tênue entre o sentimento/vida e a perversão/morte, além da reflexão sobre a religião (cristianismo) e o cientificismo do século XIX (refletidos no filme, por exemplo, na invenção do telégrafo e da cinematografia) amparado na figura de Van Helsing. O discurso desse personagem assume teor irônico ao fazer uma crítica a postura do cristianismo em relação à sexualidade humana, potencial transmissora dos males do sangue. Em determinada passagem do filme, a situação se exemplifica com a chegada de um telégrafo que diz “Amiga próxima da morte... doença do sangue desconhecida da ciência... estou desesperado... Jack Seward”. O médico que trata de Lucy, amiga de Mirna, que foi mordida por Drácula, pede ajuda a Van Helsing, que ministra uma aula magna de ciência para acadêmicos e cientistas. O discurso que ele faz, após manusear um morcego em uma gaiola, apresenta um dos dilemas centrais que o filme levanta:
“O morcego-vampiro dos pampas, pode consumir 10 vezes seu peso em sangue diariamente, ou suas células sanguíneas morrem. O sangue e as doenças, tais como a sífilis nos interessam (...) o próprio nome “doenças venéreas”, as doenças de Vênus... imputa a elas origens divinas. Envolvem problemas sexuais que dizem respeito às éticas e ideais da civilização cristã. De fato, a civilização e a “sifilização” avançaram juntas.”
Cabe aí a observação de dois pontos. O primeiro diz respeito ao filme, quando o representante da ciência, Van Helsing, precisará se municiar dos elementos da fé cristã (cruz, palavras em latim, água benta) para vencer o príncipe das trevas. Sua luta contra os males do sangue sai da esfera científica e passa a depender da fé, como elemento central. O que denota que a ciência por si somente não é capaz de resolver as coisas. Fatores metafísicos e científicos caminham então, lado a lado. A segunda refere-se ao perídodo em que foi lançado o filme, na década de 90. A maldição do sangue era a AIDS, doença ainda sem cura que, no período, levava milhares pessoas à morte e aterrorizava tantas outras, forçando uma verdadeira e custosa transformação nos hábitos sexuais da humanidade. A “sifilização” proposta pela fala de Van Helsing tinha um objetivo muito além da trama do filme, falando diretamente para a sociedade contemporânea. Considerando-se o entendimento de que o peso das decisões é o diferencial que tem seu preço, afinal, como mostra a história, foi o conde Vlad quem amaldiçoou Deus pela perda da amada, durante a Idade Média, deixando de lutar pela cruz, para ser seu inimigo. A redenção de Drácula evidencia uma valorização do amor como transcendental e transformador. Quando conduz a trama sob o fio do romance, Coppola propõe uma reflexão profunda sobre o amor e o livre arbítrio, retomando a própria originalidade romântica e idealista em que a obra foi escrita por Bram Stoker. Vale lembrar que o romancista pesquisou profundamente o folclore e a mitologia que envolvia vampiros na Europa, para compor seu antológico trabalho que, ao seu modo, reflete as questões da sociedade. Por fim, toda obra literária, assim como as obras cinematográficas, tem o poder de diagnosticar questões de sua época e, como Mary Shelley com seu Frankenstein, Stoker via com horror a crença absoluta no poder da ciência (ou a "cientificização") em seu tempo.  Certas obras transpassam os limites da temporalidade.
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Bram Stoker: catalisando o horror cientificista do seu tempo
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OUVINDO EM MONO
16fev2023 - @actardoque
Após um ano tentando estabilizar esquizofrenia da minha mãe, no natal do ano passado, ambos contraímos Covid. Ela se recuperou em quinze dias mas ficou bem debilitada. Eu ainda sigo em tratamento (o quarto para ser mais exato) tentando recuperar a audição do meu ouvido direito. Antes de contrair a Covid, eu estava com a sinusite atacada . O que aconteceu então foi uma "evolução" do quadro inflamatório do ouvido para uma otite. E cá estou, três meses depois, tentando voltar a ouvir em stereo e não sentir diariamente a labirintite, as náuseas e sem o senso de direção do som. Tudo isso tem uma demanda emocional e psicológica grande. E santo de casa continua mais fazendo cagada do que milagre. Então foi a hora de voltar a recorrer ao "controle das emoções eruptivas" que as drogas farmacêuticas proporcionam.
A consulta estava marcada para 7:05 da manhã. 1:37, percebendo que o sono havia, mais uma vez, fugido, pelo celular eu cancelei e remarquei para às 10:50, sabendo que até este horário, em algum momento, teria conseguido dormir por algum tempo.
...
E lá cheguei, após ouvir o motorista do aplicativo contar sua história de superação e sonho em acumular bens.
Sai do consultório da psiquiatra com receitas de drogas que eu, outrora, já havia usado. Segundo consta, estas são as melhores para o transtorno de ansiedade, insônia, o TDAH, a dislexia, o combate ao tabagismo (para quem fuma além de cachimbo de caboclo), etc. Logo, estava no ponto de ônibus e rapidamente dei sinal quando ele passou. Como faço sempre, sentei lá nos últimos bancos, para garantir a minha visão ampla de todo o interior do veículo, mania essa que me dá alguma sensação segurança. Precisava passar na copiadora e imprimir os exames do meu cachorro, para encaminhar o procedimento de cirurgia pelo qual ele vai passar, para retirada de um enorme tumor "benigno". Sempre tive dificuldade de associar os termos "tumor" e "benigno". Se causa transtornos inúmeros para a saúde do animal e na vida tutor, me parece razoável crer que não há "benigno" em tumor.
No caminho, abri o livrinho de bolso (ou bolsa) "Contos, a colônia penal e outros", do Franz Kafka, como faz o crente em busca de uma passagem reveladora de algum versículo bíblico. Alguns contos são absolutamente curtos, com efeitos de representatividade profunda, que adentram de forma intensa feito faca na carne da minha realidade.
Página 62.
"À EXCURSÃO A MONTANHA
-Não sei - exclamei sem voz, realmente não sei. Se não vier ninguém, não vem ninguém. Não fiz mal a ninguém, ninguém me fez mal, e contudo ninguém quer ajudar-me. Absolutamente ninguém. E entretanto não é assim. Simplesmente, ninguém me ajuda; se não, absolutamente ninguém me agradaria. Eu gostaria muito - por que não? - de fazer uma excursão com um grupo de absolutamente ninguém. Naturalmente, à montanha; aonde mais? Como se apinham êsses braços estendidos e entrelaçados, todos esses pés com seus inúmeros passinhos! Certamente, todos estão vestidos a rigor. Vamos tão contentes, o vento coleia pelos intersticios do grupo e de nossos corpos. Na montanha nossas gargantas sentem-se livres. É assombroso que não cantemos."
Kafka sempre me representa.
Passo na farmácia da rede pública e não consigo o clonazepam, pois a médica não deu uma via da receita. Justo ele, o "contensor de explosões" o "a bala na agulha". E não vou pagar outra consulta para isso. Coloco a receita azul dentro do livro e ela vai virar um marcador das páginas do que Kafka teve para dizer.
E sei que na excursão da montanha, serei o guia. E vou me apresentar para o grupo: "Bom dia, meu nome é Alberto Caminha. Mas podem me chamar de Sísifo. Estou aqui para guiar vocês até o topo desta descida".
...
Oito dias depois que escrevi este texto, o Tico, meu cachorro, não resistiu a operação e partiu.
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Recebi hoje a Antologia VOTE: POESIA POLÍTICA, mais um amável projeto realizado pela iniciativa @tomaaiumpoema , em que participo com o poema "Sobre os nossos tambores em resposta para Rimbaud" (página 9)
SOBRE OS NOSSOS TAMBORES EM RESPOSTA PARA RIMBAUD
arranquemos as nossas bandeiras das paisagens sujas
construídas pelas sentenciosas falas bárbaras
toquemos os nossos tambores
para abafar os gritos amarelados de insanidade e de ódio
nas periferias, serão eliminadas as matanças dos corpos que,
sobreviventes, empreenderão revoltas outrora fustigadas, engasgadas
aos milhares, nos negaremos em ver nosso futuro, nosso presente e nosso passado
pelo filtro colonizado, institucionalizado por exploradores brancos, bancos, militares e outros tantos
seja bem-vindo, venha você de onde vier, seja você quem for e quiser
braços fortes, somas da consciência, prestes a lutar pela sobrevivência
contra a morte, pela liberdade, pela sorte
eis a derradeira batalha
avante e que a esperança nos valha
_________
Deixo aqui meu abraço a todxs xs poetas presentes no livro e a reafirmação de que a DEMOCRACIA É PARA SEMPRE.
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• SUAS ILUMINURAS Ao amigo Marlon. no globo ocular e seus anexos você juntou cores e padrões desconexos e na fúria de elevar a poesia como arte voou para tão longe, deixando-se em parte as palavras de Rimbaud, você chamou de pinturas aplaudindo-as como a um concerto as suas Iluminuras para depois, garimpar na filosofia uma tese monumental que lhe afirmaria: das artes, é suprema a poesia declamada, cantada, encenada, filmada, pintada, plastificada ou encarnada 12 de julho de 2016. @actardoque #filosofia #arte #rimbaud #marlon #iluminuras #poema #poesia #poeta #adrianotardoque #ler #leitura #poesiacontemporânea #poesialivre https://www.instagram.com/p/CgPNmZcOj5h/?igshid=NGJjMDIxMWI=
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Recebi hoje o livro "República de Segurança Nacional - Militares e Política no Brasil" da @editoraexpressaopopular , 2022, pesquisa de Rodrigo Lenz, publicada em parceria com a @fundacao.rosa.luxemburgo , complemento do curso com a mesma temática, oferecido pela @caixadeferramentasead . Discussão mais do que necessária, a presença de militares na política está diretamente ligada com os contextos de instabilidade que envolvem o cenário da República Brasileira. A necessidade de modernização das forças armadas frente as reais necessidades do país e seu papel constitucional são alguns dos pontos levantados no trabalho. #livro #livros #militaresnapolitica #politica #militares #ditaduramilitar #modernização #forçasarmadas #exercitobrasileiro #exército https://www.instagram.com/p/CfZ1_Qlvp3i/?igshid=NGJjMDIxMWI=
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• SÍSIFICOS (parte II) VII casa para sair de casa e leva a velha casa para casa VIII dentro de si segura fora de si acumula dentro de si endurece fora de si adoece IX nega o que repete repete o que não aceita aceita ser insatisfeita insatisfeita, nega X sobre todos aqueles que atravancam minha labuta eu sou filho que não foge a luta eles da puta. @actardoque #poema #poesia #poeta #adrianotardoque #ler #leitura #poesiacontemporânea #poesialivre #adrianotardoque #escrita #sísifico #sísificos https://www.instagram.com/p/CfFOM4xvoyT/?igshid=NGJjMDIxMWI=
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• SÍSIFICOS I uma vida tentando evitar enterrar quem em vida enterrou a própria vida II Seja meu ouvido. Fui. Seja meu apoio. Fui. Seja meu amigo. Fui. Não tive tempo para você. Fui. III Socorro! Silêncio. Socorro! Silêncio. Socorro! Socorro! IV IV.I o pai que assiste o filho ser pai do seu pai. IV.II Esperando para viver partiu o filho. Esperando para viver partiu o pai. Esperando para viver partiu a mãe. Esperando para viver partiu o cão. Se partiu, Esperando. V Veio o amor. Foi o amor. Se foi o amor. Veio amor. Foi amor. Se foi amor. Veio. Foi. Se foi. VI Olhou para nós! Vai nos salvar! Conte conosco! ... O que aconteceu? Vai nos ignorar? Já nos esqueceu. @actardoque #poema #poesia #poeta #adrianotardoque #ler #leitura #poesiacontemporânea #poesialivre #adrianotardoque #escrita #sísifico #sísificos https://www.instagram.com/p/Ce_kjdtLfeC/?igshid=NGJjMDIxMWI=
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• SÍSIFICOS I uma vida tentando evitar enterrar quem em vida enterrou a própria vida II Seja meu ouvido. Fui. Seja meu apoio. Fui. Seja meu amigo. Fui. Não tive tempo para você. Fui. III Socorro! Silêncio. Socorro! Silêncio. Socorro! Socorro! IV IV.I o pai que assiste o filho ser pai do seu pai. IV.II esperando para viver partiu o filho esperando para viver partiu o pai esperando para viver partiu a mãe esperando para viver partiu o cão se partiu esperando V veio o amor foi o amor se foi o amor veio amor foi amor se foi amor veio foi se foi VI Olhou para nós! Vai nos salvar! Conte conosco! ... O que aconteceu? Vai nos ignorar? Já nos esqueceu. @actardoque #poema #poesia #poeta #adrianotardoque #ler #leitura #poesiacontemporânea #poesialivre #adrianotardoque #escrita #sísifico #sísificos https://www.instagram.com/p/Ce_kjdtLfeC/?igshid=NGJjMDIxMWI=
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• QUE MUSA ÉS TU? Ó musa dentre as musas! Na ânsia de buscar-te, olhei para o panteão grego, curioso a procurar-te. E no Olimpo me foram as musas apresentadas, para que eu pudesse então reconhecer-te: CALÍOPE Tens dela a voz que ecoava A eloquência da tua rebeldia E o buril que em minh'alma perpetuava O desejar-te a cada instante, a cada dia. CLIO Desta, trazes minha história escrita, Nos mistérios do entreaberto pergaminho, Em enigmas que desvendarei pelo caminho. Das palavras em quantidade infinita. ERATO Baila lírica pela poesia, Alimentando-me das ervas da paixão, Ora és a dor d'outra desilusão. N'outras, letra de amor e alegria. EUTERPE Sopra a flauta das canções entorpecentes, Flexibiliza a chamada e temida "moral" Corroborando com paixão o ilegal, Reduz a distância entre os certos e os indecentes. MELPÔMENE Tua máscara trágica não me diz quem tu és E a grinalda florida me denota paixão Mas seguras a Ptisa, como bastão, Causando-me o medo, da cabeça aos pés. POLIMÍNIA Escondes o rosto, misteriosa, velada Cantas a música harmoniosa, cerimonial Dos amores crês no sacramental, Metafisicamente és, pelo espírito, selada. TÁLIA Fez brotar flores onde as pedras abundavam, Regou de sorrisos a face entristecida, Com o bastão e a coroa de hera, foste conhecida, Nos corações dos que, por ti, se encantavam. TERPSÍCORE Tua dança rodopiante ao som da lira e do plectro Cantarolando letras de amor e de alegria, Conduzem-me lentamente, pelas águas da agonia, Perdendo-me por ti, convertendo-me num espectro. URÂNIA Elevas todas as coisas ao sublime celestial, Rege teu compasso, a globo e os astros E, nas constelações do espaço, deixaste os rastros, Para amantes aventureiros d'um amor universal! @actardoque #poema #poesia #poeta #adrianotardoque #ler #leitura #poesiacontemporânea #poesialivre #adrianotardoque #expressão #musas #musa https://www.instagram.com/p/Ce5D48_tFOT/?igshid=NGJjMDIxMWI=
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