Tumgik
mistermisteries · 2 months
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me sinto meio que sumindo aos poucos
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mistermisteries · 2 months
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São tantas coisas da hetero-cis normatividade e da neuroconvergencialidade que não fazem nenhum sentido pra mim que às vezes só é inevitável estar num lugar sem estar de verdade e sentir que eu nem existo mais ali.
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mistermisteries · 2 months
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Como toda pessoa mordaz, penso muito mais rápido do que gostaria. Parece-me que, em certos momentos, formulo uma lista de respostas cortantes de uma vez só, todas explodindo de um mesmo lugar. Acontece que, nem sempre, é só de mim que se manifesta. Às vezes não é verdade, é só o meu demônio que transborda e sussurra coisas no meu ouvido. É um processo.
Como toda pessoa mordaz, pareço mais inteligente à queima-roupa do que sou com matemática, ou mesmo percebendo detalhes do mundo ao meu redor. Às vezes, socialmente, me engano gravemente. Meu filtro, minha mente, busca enigmas que nem sempre estão lá. Às vezes, se não freio minha escuta a toda essa bagunça, digo coisas que depois não posso retirar. Descobri, com o tempo, ser sempre muito boa em fazer as pessoas chorar. Infelizmente, meu demônio vive de misturar as minhas boas ideias, inteligentes, filosóficas, empáticas, a mentiras pérfidas. Também o meu demônio tem prazer de observar rachaduras. Ele sussurra sobre elas nos meus ouvidos. Às vezes é como entrar em lugares lotados de gente com um arsenal.
É um prazer quando consigo conversar com meu demônio somente nos meus pensamentos. Em silêncio sepulcral, sepulto no peito as coisas que ele diz. Volta e meia sou acometida de suadeiras, tremores e choro convulsivo. Então preciso soltar algumas coisas, mas logo depois volto atrás. Porque não são verdades. É o meu demônio se aproveitando da minha mordacidade para semear discursos mentirosos em mim. Às vezes essas mentiras viram verdades com o tempo. Então deixo-as depositadas em lugares um tanto quanto escuros, na minha cabeça.
É-me impossível viver sem compartimentalizar. Sem isso me torno taciturna, desconfiada, fria, distante. Mas quando compartimentalizo me torno calculista, objetiva, metódica. E as pessoas igualmente se tornam problemas de matemática.
Aos poucos aprendi a temer surpresas. A traçar metas nas minhas relações. A esperar especificamente certos tipos de cuidado. É auto-cuidado, mas também excesso meticuloso com o que acho que é correto. Posso viver de angustias, mas meu código de conduta é uma lista de regras fixa. E tendo a objetivá-lo de forma jurídica. Frequentemente vivo desses julgamentos que se retroalimentam. Sem eles entro em crises. Sem eles se fortalece além do que deveria o meu demônio. E ainda que meu amigo, ele é corrosivo e autodestrutivo.
Quando o calo, ele deixa de ver rachaduras nos outros e as vê em mim. Se o alimento demais, ele me torna hermética. Descanso dele na arte e na música. Nos meus silêncios. Nas reentrâncias do meu corpo. E volta-e-meia esbarro nesse tipo específico de pessoa que o cala.
Amo-o, ele me torna veloz e escorregadia. Odeio-o, ele é a minha ruína, minha doença. É quando o controlo que formo a melhor combinação. Mas controlar é estar sob rédeas dos meus processos desenfreados. É no controlá-lo que me torno calculista. É no calculismo e, talvez, mesquinharias, que me torno forte. Mas é também nesse processo que sou tirânica. Mas tirânica também é funcional.
Enfim, apenas mais um momento de reflexão.
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mistermisteries · 2 months
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tenho medo de ser achada em meio a poeira e a tranqueira que eu junto a poeira acumulada nas memórias que conto e reconto e repito e já perdi a conta de quantos sabem e entretanto parecem tão íntímas as armadilhas que eu armo.
tenho medo de desmanchar aos poucos me juntar ao caldo de algo que não acredito mais e volta e meia me bate a porta de misturar-me e ser parte tenho medo de ser parte de qualquer coisa que não tenha sido moldada só pelas minhas mãos.
durmo e acordo com medo sem saber qual vai ser o próximo cômodo que você vai gentilmente adentrar e cordialmente se curvar pra tirar toda a sujeira abrir espaço pra si
e ficar.
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mistermisteries · 2 months
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Ruído
A noite se derrama esfriando os laranjas e consumundo os azuis. Em preto.
Eu ouço meus pés, não posso evitar. O som do que raspa e bate e toca e amassa meus pés. Meus pés grossos e muito úmidos por dentro. Os ossos estalam. Eu ando e produz um ruído. Quando o silêncio se instala, ele vai ficando mais alto. Um leve crepitar que vai se transformando no som molhado que faz um rio. E é quente e persistente e penetra onde está vazio. Sempre um incômodo, mas não o faço, me é involuntário. Às vezes minhas mãos tremem porque pode ficar muito alto. E é sempre complicado explicar que ele está aqui e eu não sei o que fazer. Ele me prende e me tumultua e me deixa pesada. Cansei de culpar pessoas que não conseguem suportar.
E se eu calo o ruído é maior. E se eu paro ele persiste, em ecos, e eu preciso estar lá sempre que a raiva das pessoas me alcança de volta. E se eu reajo de qualquer jeito que for e me defendo, algo muda em definitivo. É mais forte que o que eu possa entregar de bom, esse ruído. É complicado e eu não sou. E eu o calo o quanto posso, mas quando eu saio e tudo aquieta, ele volta e vai se espalhando.
Às vezes eu só queria que certas pessoas pudessem não ter me conhecido. O tanto que eu já me arrependi de deixar chegarem perto. Às vezes eu só queria estar longe de mais para qualquer um ouvir o que fosse dele. Mas sempre acabo percebendo que quando tento afastá-lo, o ruído, ele se adensa.
E eu fico próxima. Mas parece involuntário. As pessoas tem raiva de mim.
Então eu faço o que eu posso para presenvar quem eu não vou me dar ao luxo de perder do ruído. Eu o enterro. E me vejo lentamente ir ficando sem cor, e transparente, até sumir.
Ir embora sem ser notada parece o melhor que eu posso fazer tantas vezes...
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mistermisteries · 3 months
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às vezes sou oportunista e me ferro
porque é tudo certo no tempo errado
porque eu queria que querer certas coisas pudesse continuar
porque eu quis algo e não tive mas há o que eu posso ter
talvez eu pense demais e isso cale meu coração. talvez o medo me aterre. talvez eu aquiete onde tem barulho.
Mas aprendi que não gosto de barulho. Gosto de calma. De coisas fáceis e leves. Aprendi que derreto quando flutuo sem peso, sem medos, porque maus entendidos são coisas naturais e não o início dum momento apocalíptico.
Entendo que terapia cura. Que amor é segurança. Que segurança é sentir que pode ser vulnerável porque não vai ter mal de onde se bebe água da fresca.
Gosto do que é simples. Do mínimo de perguntas. Gosto de não ter que remexer em lugares sujos dos meus porões e sotãos.
Quero viver sem ter medo se não me explicar. Sem achar que tem um alvo em mim. Sem deixar gente ruim entrar. Sem disputar, sim dividir, e sorrir e talvez eu queira algo novo como eu nunc tentei.
Mas talvez eu não queira saber.
Talvez eu nunca saiba.
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mistermisteries · 3 months
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sotão
Metade de tudo que eu faço é por causa da minha doença e a outra metade é pra fugir dela. Se ela não está enraizada no que eu to fazendo, é porque ela me sobrecarregou e eu estou fugindo. Estou fingindo ser normal. Até que não dá mais certo e ela volta. E então novamente eu paro de saber exatamente quem eu sou.
Eu quase sempre tenho medo. Ter medo significa fugir ou reagir e ter raiva. E quando uma raiva se repete muitas vezes, ela vai se moldando em ódio. Mas então eu esqueço e fujo e dissociações e perdas de memória aleatórias acontecem. Raramente eu perco o controle, mas quando acontece, eu preciso pedir ajuda. Mesmo que a minha cabeça diga que é burrice porque pedir ajuda já entrou na lista dos ódios: de repente estou odiando pessoas que eu sei que em qualquer outro contexto, eu amaria. Então geralmente peço ajuda a quem não gosto. Assim é mais fácil não colocar mais um sentimento ruim numa pilha imensa. Porque na sequência parece que a única coisa que persiste é que não posso contar com ninguém.
Então eu medito. E tento ignorar o que eu sinto. E tento ser humana mas acho que esse é meu maior trauma. Porque ser humana é ser vulnerável. E às vezes pessoas entram na minha cabeça e fazem bagunça. Quando é minha culpa eu tenho raiva de mim. Quando não é eu tenho raiva de todos. E é quando eu perco pessoas. Porque eu tenho vontade de sumir. E sumo.
infelizmente são nesses momentos que eu percebo que não importa o quanto eu fuja o problema me segue agarrado nos meus calcanhares
não consigo fugir de mim
Minha única defesa é nunca me apegar demais. Nunca sentir demais. Nunca ouvir demais meu coração. Porque doutrinado eu flutuo leve e esqueço até que tem algo de errado com a minha cabeça. Ser humana, mas só um pouco. Ser muda se necessário até. Não fazer nada muito arriscado porque perder o controle é perder tudo de mim. Mas o risco não está fora. São essas coisas certas que acontecem em momentos errados que ligam o timer da minha bomba relógio interna.
Essa noite sonhei que vocês todos se sentavam a uma mesa e comiam coisas num jardim num dia de verão. Mas eu não estava realmente lá. Só um pouco. Às vezes. Porque uma parte de mim sempre é ausência. E fuga. Mas a outra parte é caos.
Talvez eu seja fria. Talvez ache fácil o que outras pessoas acham difícil. Talvez tenha alguém fascinante por baixo dessas muralhas. Mas eu sei que pouca gente vai ver isso.
Em geral, teimosos e incaltos.
Meus preferidos são os incaltos. Um deles - dos mais antigos -diz que o defeito que ele tem - e provavelmente os outros também - é bravura. Ele sabe - eu sei - que são esses que realmente conhecem o caos que se move em mim. Talvez eu seja uma má pessoa. Mas esses não parecem concordar e eu não consigo entender porque.
Esses eu costumo levar pro resto da vida.
Se eu to em silêncio não tem silêncio em mim, só barulho. Se eu me calo, é porque não consigo formar palavra com o monte de voz falando dentro de mim. Já ouvi que eu não sei amar. Talvez seja verdade. Saber sentir e saber transbordar não são o mesmo. O segundo eu não sei mesmo.
Amor pra mim é como tatear no escuro. Pra alguém que tem medo isso é o terror absoluto. E só consigo crescer ma direção de onde sinto que é seguro. E às vezes mesmo quando é seguro eu não consigo.
E então eu repito pra mim que ninguém liga.
E as palavras somem novamente. E eu volto a ser toda mancha e pesquisa e texto e e retórica. É que eu canso. Enterro. E nada mais importa.
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mistermisteries · 6 months
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O grupo dos vizinhos
Calhei de vir morar nesse prédio. São dois blocos. 80 apartamentos. No meu andar, apenas essas moças - um casal - não tem gatos. E elas amam. O meu volta e meia sai e decide que quer morar com elas. Mia um pouco na porta como quem se convida, mas como não tem resposta, desiste e volta pra dentro. Acho um encanto. No meu ver, qualquer gato seria feliz de morar ali. Apenas para colocar um geral. As pessoas tem cãezinhos que passeiam. Sorriem. Mesmo as piores são agradáveis. E o silêncio é exemplar. Como se houvesse um estado e bem-estar no ambiente. Leve.
Mas nem tudo é perfeito, como possa parecer. As festas são constantes. Mas parece haver um acordo entre quem gosta de festa e atura festa. Parece que quem gosta, atura, e quem não gosta mora de fundos, e logo não tem contato nenhum com os espaços de barulho. Reina uma calma nos halls, mesmo quando as crianças saem. É tão tranquilo que mesmo meu gato tímido se sente a vontade nos espaços coletivos.
Isso até um dia desses.
Tem 6 meses que moro aqui. Tenho bons vizinhos abaixo e acima de mim também. Até esse dia que começaram a arrastar os móveis e correr. Bater o pé no chão. Bater portas. Arremessar objetos no chão. E veio ao meu saber que se tratava de alguém jovem o suficiente para não permitir a entrada do técnico de internet em casa. O adulto, o que me deu a entender, estava fora. Então ele liga e pergunta se deve deixar. Claramente alguém que não sentiu falta da internet doméstica nas horas que a manutenção era feita. Com certeza alguém que fica muitas horas em casa.
Sei disso porque de umas semanas pra cá calhou de eu ter alguém vigiando tudo que eu faço. Pelos sons. Fala. Música. TV. Culinária. Faxina. Risos. A cada lugar que eu emitia qualquer ruído, um som vinha de cima. Móveis arrastando. Porta batendo. Coisas sendo arremessadas. Sons altos. Nada como o som normal de vizinhos. Metade da minha vida eu morei em prédios. Alguns, de apartamentos pequenos, gente solteira, casais sem filhos. Mas também em apartamentos grandes. Vizinhos com cachorros, gatos filhos papagaios avós netos, almocinho e futebol de domingo. Árias e árias de uma ópera. Mas com início, meio e fim. Muitas vezes literalmente uma ópera. Quando a obra terminava de tocar, eles pareciam ter-se dispersado. Como passarinhos.
Dessa vez está diferente. Porque a semanas eu vivo assim. Meu TCC está atrasado. Tremores. Certa vez, doente de madrugada, achei que fossem abrir um buraco no teto do meu quarto. Às lágrimas, jatos de vômito e diarréia, cólicas lancinantes, ouvi sem reação simplesmente transformarem o apartamento de cima numa zona de guerra. A marcha. As batidas. Os sustos que eu levei. Duas da madrugada.
E hoje fiquei sabendo que era um garoto. E me perguntei que tipo de criação esse garoto está recebendo. Que tipo de coisa está sendo ensinada pra ele. Que tipo de gente está mostrando a ele o que é ser gente.
E me lembrei desses garotos que atropelam idosos correndo em shopping. Dessas meninas que não tem 2 dígitos de idade e chamam a amiguinha de gorda e feia. Dessas crianças que parecem estar ainda mais adoecidas que os adultos e que os pais parecem estar esquecendo de orientar.
Liguei pra minha mãe pra falar com ela sobre isso.
O prognóstico é o pior possível. Ela acha que talvez eu esteja doente por isso. Porque são meses de microagressões. Do tipo que muita gente ignora. Talvez eu esteja adoecendo de sociedade. Talvez esse garoto seja a doença crescendo dentro do meu estômago. Corroendo meu corpo de dentro pra fora. A vigilância restrita.
E essa pessoa não tem idade pra receber um técnico de internet sem a permissão da mãe em casa. Não consigo imaginar o quão sozinho e triste um garoto precisa ser pra viver assim, de obcecar vizinhos e se comprometer em arrastar móveis e bater portas apenas pra incomodar. Nunca foi mais claro pra mim como falhamos como sociedade.
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mistermisteries · 6 months
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Ser bonita e não ser padrão é uma experiência particular. Muitas e poucas são. Ainda sim olho em volta e nesse momento, pareço a única. Talvez por isso, num ambiente que posso dizer masculino pois fui a única mulher por muitos meses, essa característica ressoa. E eu vejo os olhares. Eu tenho uma aura.
Eu vejo as coisas. A sensação é intensa. As pessoas são maioria e por isso raramente se esforçam pra disfarçar. Mas em alguns casos, escapa. E então vem um encostão, uma tentativa de tirar um pouquinho de açúcar... da superfície. Abaixo do uniforme a pele emana um açúcar que às vezes eu os vejo buscando. Acabei acostumando. No fim, nenhum deles se atreveria a tentar se aproximar do núcleo açucarado. O recheio é algo que eles jamais. E eles sabem que jamais. E sabem que tem uma força nisso.
Mas dentre eles existem excessões. Existem os que não se conformam. Os que tentam com mais intensidade. Os que parecem não desistir. Porque pra mulheres como eu, sempre haverá os espertos. Eu conheço de longe. Já foram tantos... Mas eles sempre acreditam que foram o primeiro. Eu rio disso.
Esses querem o núcleo açucarado. Estão dispostos a tomá-lo. Eles me olham como os grandes sortudos que encontraram um diamante no lixo. É como se tivessem descoberto um tesouro escondido. Eles são insistentes. Desagradáveis. Reagem em raiva e desprezo quando contrariados. Porque, para eles, achar a dádiva é um grande talento. Uma mágica. É como um poder que eles acham ter. Não se dão conta que nunca houve um lixo. O diamante estava limpo. Consciente de si.
Eu brilho.
Eles se acham espertos por se considerarem os que descobriram algo maravilhoso. Querem o prêmio por isso. Sentem raiva quando se dão conta que não houve descoberta. Prêmio. Eu já sabia a muito tempo. O núcleo açucarado é pra quem eu quiser dar. Não está esperando se reinvindicado.
Eu olho pela sala e vejo-os. É vergonhoso. Eu os vejo se movendo como cães sarnentos. Rastejando. Ouço-os farejar. Eles se acham espertos. Vejo nos olhos deles que eles se acham espertos.
Mas o que eu aprendi é que é isca. Por baixo disso existe um sentimento de ódio. Necessidade de subjulgar. De destruir.
Por isso eu me abrigo nos bonzinhos. Entendam: só os bonzinhos podem ter o que vocês querem. Porque eu vou dar de mão beijada a eles. Porque eles não se acham espertos.
Vocês são predadores. Não há diamante no lixo, eu já fui revelada. Eu surgi revelada. Vocês não me enganam. Eu sei que eu sou ótima. Não caiam na minha graça de me fazer pra conseguir de vocês o que podem me dar. No fim, vocês vão chorar. Vão sofrer. Seu poder não vale nada.
O bonzinho. Vocês vão invejar esse cara. E jamais vão conseguir ser ele. É ele.
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mistermisteries · 8 months
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Eu perdi semanas por causa duma armadilha. Colocada por um garoto idiota. Colocada por alguém que do começo via em mim algo a tirar de você. Foi a inveja dele.
Eu perdi semanas jogando um joguinho de alguém narcisista que, quando eu me aproximava entrava em pânico e era ruim comigo, e quando eu me afastava, entrava em pânico e me queria de volta. Talvez, do começo, ele tenha percebido. Que era sutil, mas começava. Era você que mudava. Você não queria perder espaço.
Assim como ele tentou roubar o lugar que você ocupava, você foi próximo ela tentou roubar de mim o meu lugar. Deu certo por um tempo. Então eu percebi quem ele era. Faltava tanto alicerce. Faltava base. Ele não entende, nunca vai entender. Você é minha montanha.
Quando tudo treme, eu procuro você. Você é forte, mas flui. Você é bom em coisas que ele não consegue enxergar. Mas ele sabe onde você é reforçado e porque eu pareço girar em círculos, e sempre termino voltando. Meu coração acelera, meu rosto se pinta de vermelho, você emana algo que espalha.
Minha pele acordou quente. Mesmo com vento frio, eu a sinto quente. E meu estômago tá apertado. Queria saber se você vai estar lá. Queria que estivesse. Não é o mesmo quando você não está.
Não sei bem o que tá acontecendo. Caimos lentamente. Você de propósito. Eu vejo a bondade. Você é simplesmente incrível e nunca tenta chamar atenção pra isso. Meus olhos brilham e você brilha mais. É sutil e penetrante e rapidamente nós temos um mundo nosso que é o melhor lugar de estar. Quando não estou, eu levo ele comigo. Seriam emoções que começam a acontecer?
Você anda do outro lado da sala e eu observo quando se aproxima. Você é orgulhoso, sabe que é bonito. Ele sabe. Ele se encolhe.
Talvez a mulher que ele amou visse nele o mesmo que eu vejo. Essa inveja. Essa raiva. Mas eu precisei tempo.
Ele tem a inteligência emocional de um caramujo. Vejo nos olhos dele a raiva de um predador. Realmente faz sentido a intuição que eu tive de que você estava sob o olhar de algo realmente ruim.
Meu peito se enche. Meu sorriso escorrega. Parece que a porta se abriu de novo. Convido você pra entrar. Acho que outros já notaram.
Fico querendo um pedaço. Levar comigo. Me encolher pra caber dentro. Preencher escoando. Devagar. Vibrar na mesma frequência. Até sermos a mesma onda. Uma de fogo, a outra água. Meu temperamento e petulância que você é benevolente com. Meu jeito estranho que você trata como relicário. Minha insegurança que você abraça. Por quanto tempo você tem sido assim?
Ser inteira é uma urgência. Pra poder estar nas suas mãos. Ser o que você merece. Fazer as melhores escolhas.
~fazer as malas, se vestir vamos pra longe daqui onde ele não vai poder nos pegar e que ele sufoque~
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mistermisteries · 10 months
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"faltou luz mas era dia o sol invadiu a sala fez da tv um espelho refletindo o que a gente esquecia"
Não sei exatamente porque. Veio num estalo. As peças se encaixaram. As arestas forçadas e dobradas, formando uma mancha estranha de papelão que não fazia o mínimo sentido. Eu vi através de você. Seus olhos âmbar transparentes deixavam passar luz, mas através de você eu via trevas.
Te achei pequeno, estranho, parecia uma mancha do que restava, mas não era sua culpa. Era o processo de ver o depois. Não era bonito.
Você achou meus olhos sérios e silenciosos. Talvez a amiga que você amou e era esse ser de pura eletricidade nunca tenha estado ali. E eu te vejo desmanchando. Um rosto derrete. Não é o seu. Não sei bem o que eu vou fazer com isso.
Porque o único sentimento que persiste é o de ser um cordeiro entrando numa sala cheia de lobos. Os comprimidos me deixam com um gosto muito amargo na boca, mas sem eles eu não posso fingir que não aconteceu.
Uma dor. É física. Não sei o que fazer com ela. Eu vejo tudo borrado.
Não quero ser mais um peso.
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mistermisteries · 10 months
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Matilda e Honey
Eu cresci num lar estilo Matilda, mas numa versão conservadores machistas latino-americanos. A ideia de que eles precisavam construir uma mulher que fosse capaz de convencer algum homem socialmente abastado de que eu era apta pra ser esposa e ter filhos era predominante. Não havia tempo disponível pra me deixar ser quem eu sou.
Meu ouvido absoluto, dislexia, e reflexo fora do comum foram ignorados em detrimento de tratamentos capilares que me embranquecessem, dietas que me emagrecessem e muito tempo de sermões de como eu deveria me comportar passiva e submissivamente perante um homem. Antes de saber porque encaravam meus seios daquela maneira que me deixava tão desconfortável, já me estimulavam a usar decotes. E eu odiava decotes. Então tentei piano, violino e ballet, mas o pavor deles de eu me descobrir artista os fez reagir me reduzindo a alguém gorda, feia e sem talento demais pra essas coisas. Eu não tinha entrado na adolescência ainda quando me disseram essas coisas. Então comecei a fugir pra dentro de livros e escrever histórias. Nelas, eu era boa o bastante. Eu vivia aventuras. Eu podia ser eu ao invés de ser mulher. Eles já tinham quase desistido de mim quando me deixaram fazer ballet. Lá eu descobri que também era determinada.
A verdade é que eu cresci uma criança sem gênero. Eu gostava de Barbies pois tinham todas as profissões, blocos de montar, veículos de controle remoto e artes marciais. Evitaram que eu transbordasse me mantendo afastada das outras crianças: o controle ao que eu fazia e com quem fazia tinha que ser restrito. Eles sabiam que se dessem mole eu viraria o Bruce Lee, ou o Tafarel, ou até astronalta, e aquilo estava totalmente fora de cogitação. Bruce Lee não foi mãe, esposa e advogada de baixo sucesso pois precisava ter seu próprio dinheiro pra gastar em sapatos. Eles não aceitaram que eu não seria fútil.
Minha saúde foi negligenciada. Ficava feio uma menina doente. Eu tinha que ser saudável e bonita, mesmo que isso fosse só a fachada. Minha saúde foi se complicando quando cheguei a certa idade e o que mais me fez falta foi o devido tratamento pra doenças mentais. Por pouco não foram esses detalhes que me levaram desse mundo. Hoje eu escrevo não apenas sobre as marcas que isso causou na minha auto-estima, mas também no meu corpo. Felizmente não foi tarde demais pra eu correr atrás do prejuízo. Quando finalmente saí de casa, eles foram perdendo o interesse porque comecei a me tornar quem eu era e não tinha mais nada que pudessem fazer. Às vezes havia muita violência em palavras e ações contra mim por conta da pessoa que tinha começado a florescer. Foi a segunda vez que experimentei abandono deles.
Os livros que eu queria eu compro agora. Já li muitos. Até hoje lamentam que eu não casei, não tive filhos, não me formei, não tenho atividade econômica estável. Mas hoje tenho outras pessoas e me orgulho de ser a decepção. Quando furei o meu primeiro piercing no rosto, ganhei 2 meses de gelo. Vivi numa casa com 2 pessoas que não dirigiam palavra a mim. Eu tinha 17 anos. Ali aprendi o que era ficar em silêncio. Gostei tanto que furei depois vários, muitos outros. Mas dessas outras vezes, o gelo vinha de mim. Eu comecei a parar de contar as coisas a eles, de sentir vontade de falar com eles. Eles foram diminuindo em mim. Daí repentinamente eu fiquei bonita.
Assim como Matilda, eu já enchergava meus poderes telecinéticos. Eu já sabia que tinha algo de diferente comigo. Eu já sabia que eles tinham pavor do fato de eu não ser uma pessoa medíocre. Quando deixei de morar com eles, enchi minha casa de jogos de RPG, video games e livros proibidos. Coloquei internet pra poder falar com os outros e refiz amigos já feitos. Humanizei minhas experiências estéticas. Fui no cinema com amigos pela primeira vez.
Os filmes que eu tinha permissão de ver não tinham pessoas como eu. Tive que me conformar em ser comparada com a Bela por causa dos livros. Eu JAMAIS usaria um vestido amarelo daqueles naquela idade e, pra ser bem sincera, na verdade eu odiava vestidos em geral pois agarravam nos galhos das árvores onde eu gostava de subir. De vestido eu tinha que andar de um jeito, sentar de um jeito, brincar de um jeito, e com calças eu podia sentar-andar-brincar de qualquer jeito, não do jeito que eu quisesse simplesmente, mas de um jeito que eu não precisava me preocupar se estava certo ou errado. Eles então, com medo, começaram a me obrigar a usar vestidos. Os longos choros copiosos eram incapazes de fazê-los mudar de ideia. Então eu comecei a fazer tudo que não podia com os vestidos, que se estragavam, rasgavam e sujavam. Mas nunca terminava bem pra mim. Então eu só parei de ser criança quando me botavam neles. Eu não brincava, não falava, não cantava nem dançava. Mas eles achavam normal. Era melhor daquele jeito do que comigo abrindo a boca. E eu fui sim a Bela, ao me tornar adulta, várias vezes. Meus relacionamentos. O arquétipo da Fera, o homem sequestrador, o monstro, todas as vezes ele esteve lá. Até hoje ainda não tenho certeza se quebrei esse ciclo. Síndrome de Estocolmo é muito difícil de curar.
Os brincos. Os sapatos desconfortáveis. As regras. Eu cresci tensa. Hoje sou naturalmente tensa. Ansiosa. Trabalho e trabalho, mas volta e meia me vem novamente o sentimento de desadequação. Como se algo em mim estivesse errado. E eu repito e repito que não está, mas mesmo assim, às vezes, mesmo que muito raramente, o sentimento persiste. Então eu lembro que agora eu sei voar. Literalmente. Volta e meia ainda não consigo acreditar que eu consiga. Eu voo sobre meus próprios pés no meu dobok e parece que todas essas coisas ficam distantes. Eu fiz as pazes com meu eu-criança. Andamos atualmente de mãos dadas.
Hoje eu vejo Matilda e penso nisso tudo. A Srta Honey e a Matilda sou eu. A adulta mulher tímida, medrosa, reclusa, marcada. Então a criança com poderes se manifesta e as duas viram uma. E é impressionante onde somos capazes de ir desse modo. Não tem nada mais poderoso do que esse sentimento de ter se tornado alguém que você mesmo quando era criança iria admirar. Mesmo com tudo, isso segue me movendo.
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mistermisteries · 10 months
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Hoje a tarde foi diferente. Eu seguia tudo como estive fazendo nos últimos meses. Ainda sentindo as mesmas dores e a mesma falta. Eu seguia pela minha rota convencional. Meio sacudido de incompletude. Ela disse que eu desapegasse.
Passei pelo banco onde a costumava ver no horário de sempre e achei ela um pouco melhor. Ela sorriu uma vez ao me ver mas depois pareceu se perder novamente no lugar onde uma parte dela deveria estar. Fiquei desconcertado. Uma intuição estranha me invadiu e eu me aproximei. Mas não sei bem como ela já tinha ido. Eu não a vi levantar. Ela flutuou pelo corredor sem se despedir. Pude ver sua nuca e costas pegando o mesmo caminho de sempre. Um ruído me invadiu.
Quando fui dormir achei a cama menor, a saudade maior, tudo que me sobrecarregava. Acordei na madrugada agitado e me perguntei se não tinha algo além. Foi quando me deu conta que a semanas aquilo acontecia. E o despertador - a angustia densa que eu sentia naquele momento - dessa vez, pra variar, me seguiria pelo resto do dia. Deitei novamente na esperança da fuga mas fui assolado por todos os tipos de pesadelos. Em um deles a vi deitada de um jeito que consegui perceber que ela nunca mais iria levantar. Mas eu já tinha meus próprios problemas.
No dia seguinte passei por ela novamente. Ela falou comigo do lugar e se levantou pra sair. Mal pode ouvir quando eu me despedi em voz baixa. O lugar no banco de onde ela levantou era morno e eu me sentei ali. A ausência dela doeu. Hoje pergunto porque a ausência dela doeu mais do que aquela presença fugidia. Ela estava ali.
Os dias foram passando e eu comecei a notar que ela ia ficando transparente. A luz que atravessava o corpo dela ficava cada dia mais densa. Ela se sentava no mesmo lugar perdida no mesmo lugar calculando a rota pra passar pelo corredor. Até o dia que eu não a vi mais. Ela foi ficando transparente. Nesse dia notei e entendi: ela havia ficado invisível. Quis chamá-la pelo nome mas não sabia pra onde olhar. A angustia me pegou e eu acordei no meio da noite, num susto seco. Levantei correndo e fui ao telefone na esperança de ver através dela onde ela poderia ter ido parar.
Ela estava longe. Não pude alcançar.
Foi debaixo dos meus olhos enquanto eu era incapz de parar de olhar pra trás. Ela havia ficado invisível. Nunca mais soube onde ela foi parar.
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mistermisteries · 1 year
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A coisa mais importante da minha vida foi transformada numa pequena pilha de cinzas dentro de uma caixinha dentro da minha cristaleira. A coisa mais importante que me aconteceu. Um pozinho e muitas memórias. Uma saudade.
Não, eu não vou cancelar um desconhecido porque você acha que eu tenho que. Entenda que muito antes de tu sonhar em nascer, uma cara chamad Foucalt escreveu sobre relações de trabalho e sociedade. Grite se achar necessário, não muda nada.
Olho você falando do alto do seu privilégio. Felizmente você escolhou um caminho que vai te por a entender essas coisas que eu te digo hoje, e te deixam transtornadas. Amor e Gelato não vai te ensinar o que você precisa pra entender, mas talvez vida ensine. E um dia você vai lembrar de mim e de coisas e ver como você, do alto do seu privilégio, não enxerga muito e se condicionou a achar que essa miopia é a verdade absoluta porque não costumam te questionar.
Entenda que a sua função social é essa, que o seu lugar de profissional é esse: o de jurar e cumprir. O de operar num modo que te transforma numa engrenagem sem vontade e que vai matar seu amor pelo que você quer fazer, a não ser que você entenda onde está, ou que se posicione na vida num mesmo lugar de privilégio que vai te proteger de entender. Num lugar ou no outro, a conta vai chegar.
Entretanto, a minha função social é essa: plantar dúvida. Perguntar. Questionar. Criticar. Tudo que te parece verdade absoluta, tudo que te parece acima de discondância, eu vou discordar.
E mais um livro pra me proteger do que deveria ser mais uma pancada vinda de você: sem os como eu, não existiria as perguntas pra existir aquilo que institucionalizou como papel na sociedade o que você estuda pra ser agora. Porque antes do médico houve o curandeiro. Antes do curandeiro, a rezadeira. E antes, todos éramos artistas dançando aos deuses pedindo pela sobrevivência.
Antes houve a arte. Então a pergunta. Sem isso, não existiria resposta alguma. Então, do alto do seu privilégio de pessoa que estuda respostas, eu pergunto: você vai ser mais uma a repetir tudo condicionada, ou você vai procurar a raiz das coisas? Será mesmo você capaz de perguntar?
Sem a coisa mais importante da minha vida, muita coisa desmoronou. Muitas recorrências desmoronaram.
Existe um algo. Por baixo. Eu vejo. E não gosto.
Eu vejo e não gosto e cada vez eu gosto mais destas minhas tão belas poucas cinzas. E menos de tudo aquilo que não é elas e nelas não se contém.
Observar de uma cadeira a beleza do caos se implodindo. O caos tomando tudo. Desmoronar. Minhas poucas cinzas.
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mistermisteries · 1 year
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Pensa-se no câncer com um invasor. Na verdade um câncer foi uma tentativa que deu errado. Apesar de um erro, ele está exatamente onde ele deveria estar. Ele veio de dentro.
O câncer é um erro da programação.
Quando entrei no ônibus pra prestar vestibular, eu não esperava. Correram quase 18 anos. Isso é um pouco mais que metade da minha vida inteira. Foi um erro de cálculo. Desci no ponto errado. Ouvi você chamando ajuda e não pensei duas vezes. Você era pequenininho, menor que a minha mão. Coube na palma dela. Estava com um pouco do pelo molhado. Tinha frio. Chamava socorro, sozinho. Quando te levei pra casa, você nem podia ainda ver meu rosto. Eu não imaginava que você ficaria tão grande. Grande em todos os sentidos. Uma imensidão.
Quase te perdi antes de fazer 1 ano. Santa ignorância a que confia em gatos, cachorros e crianças. Em crianças. Nesses pequenos ingênuos. Inocentes? Não. Mas ingênuos. Frágeis pelo não-saber. Vulneráveis pela ignorância. Você se achou um super herói. Quebrou o dedinho da pata. Passou seus últimos meses de vida mancando.
Você miava muito. Depois pouco. E então miava muito, pra tudo, felicidade, gratidão, tristeza. Pedido. Os olhos amarelos de pupilas finas pedindo. Seus pelinhos vermelhos brilhando na luz do sol.
Você me entendeu quando ninguém nem tentou. Me amou quando ninguém conseguiu. Mas eu fui ruim por um tempo. Eu não te valorizei por um tempo. A grande surpresa foi que você mesmo me provou o quanto eu desperdiçava. Era mágico o seu jeito muito simples de me mostrar quanto amor você merecia. Nunca me pediu nada. Mas você sabia, de alguma maneira que eu não consigo explicar, que cedo ou tarde eu daria.
Eu tive que mudar muito pra te amar. Mas quando te amei foi algo tão gigante que não tem como explicar. Um amor sem palavras, promessas, e ainda sim um amor de lealdade. Um amor que me foi dado que por um tempo eu não sei nem porque.
Você é mãe dele disse a mesma pessoa que a alguns meses atrás me acusou de ser ruim. No passado. Mas pra você não existe passado. Mesmo lembrando e tendo medo, você me perdoou e perdoou e então eu percebi que o amor bom que você me dava sem motivo foi virando um amor em mim que começou a transbordar. Ocupou onde tinha amor ruim e expulsou a sensação forte que esse amor ruim deixou em mim. Hoje essa sensação é uma lembrança. Você me ensinou a dizer sim com o coração, mas também a dizer não com a boca. E mesmo quando dizia não, você não parecia levar nada que não fosse o aprender. Você grandão, cheio dos não-me-toques, expandindo meu peito de um espaço tão grande que começou a caber mais gente. No fim, outros gatos couberam e fomos uma família grande de pessoa e pessoinhas.
E olha só pra você. Você é o centro do meu mundo atualmente. Ao ponto de eu decidir e desistir de coisas, de me pôr em risco, de ficar mesmo sem querer. Uma prioridade que só me guiou por bons caminhos.
Eu até poderia retomar agora e sem monja.
Eu poderia ir pra Itália.
Mas o que eu queria mesmo é que você me desse um pouco desse câncer. A gente dividia. E eu te dava um pouco do meu pulmão doente.
Porque o hiper apego é mútuo.
Você brilha por luz própria.
Hoje eu não sei mais o que vai ser quando você for. E eu jurava ontem que sabia. Então meu gato volta de dentro desse serzinho tão fraquinho e doente e me olha como um abraço e um beijo. E eu entendo como é importarte eu deixar você ir.
Um pouquinho desse câncer, dividido, e fosse lá o que fosse, mas estaríamos caminhando no mesmo caminho. Você está perdendo aquele cheirinho docinho que eu amava sentir pela manhã enquanto te abraçava. Abraçava até você gritar e correr. Mas logo em seguida voltava. Dentro do seu limite, você aceitava meu jeito particularmente não-felino de dar amor. E eu retribuia o seu amor felino em linguagem felina também. Acho que nós dois nos esforçamos para que não houvesse dúvidas.
Sua cantoria matinal é um eco. Foi rápido. Ainda tem muito pouco tempo.
Te ouço chorar e me dilacera. Mas então você cochila e eu espero. Eu sei que sua hora está chegando, e sei que você vai me dizer. Estou pronta pra te soltar. Agora falta você.
E você ficaria orgulhoso se soubesse. Assim que tudo estiver terminado e você dormir o sono gostoso ao lado dos seus irmãos de criação, você vai ser pai. Não do jeito que se espera paternidade de um gato, mas pai porque virá outro apenas porque você já esteve aqui. Um filhotinho. Não sei bem quando nem como, mas vou falar de você pra ele.
Porque tudo de bom dos últimos anos da minha vida começou em você. Mas não vai terminar quando você for, vai continuar e vai crescer. Não tem jeito, você está em mim. Não sei o quanto. Mas algo de mim é você, e algo de você sou eu. Somos dois elos consecutivos de uma corrente que nunca vai acabar.
Você é perfeito. Você nunca vai acabar. Vou te guardar gaiato.
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mistermisteries · 2 years
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Barkley L. Hendricks, Lawdy Mama, 1969. Oil and gold leaf on canvas.
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mistermisteries · 2 years
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Ele é um pássaro de largas asas cuja voz ecoa por onde vai. Atravessando reinos, ele encontra, domina, experiencia, sente. É cheio de falastronices, mas também silêncios. Um olhar que transpõe. Uma presença que transpassa.
A presença que aquece.
Quase um poema. Um rascunho de tantas potências. Mas sua estrada se encurta, o tempo lhe rivaliza, seu período se aproxima de expirar.
É denso, mas flutua.
Quando surge, ocupa.
Em outra vida.
É tudo contra, mas nessa nuvem subjetiva de expirações que se entrelaçam, a alma, uma bela alma, eterna. Alonga-se. Enternece. Se coloca, mas existe leve. Uma rocha que tremula e levita.
Tantas letras, cores, tantas sensações. Um rubor que me apodera-se. Eu tremo, mas é bom. Reponho tudo de energias perdidas. O sorriso dele se alarga. Me completa. Vou levar. Mas às vezes eu choro. Porque é bom, mas tão sem mais nada.
Mas é. Eu sei que é. É difícil admitir ser.
Então eu vivo. Eu calo. Mas levo. E guardo.
E é estranho Porque eu procurei o que já achara.
Era você.
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