Ouvindo a cadência que apetece os demônios juvenis. A carne viva já é podre. Os ossos bailam levados pelo ardor vermelho. O medo parece não existir. Os sentidos arrebentam no pileque. Duro e macio, repetidamente. Gritos. O fedor mais quente da terra dos desesperados. Tumulto confuso dentro da carne. Escorre a água quente. Ninguém entende, a fumaça cegou todas as almas.
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Transtorno Desabafo
Sinto milhares de mulheres dentro de mim. Certas noites acabo pensando que é inconcebível dizer quem sou; ao mesmo tempo me conheço tanto e me percebo uma criatura única entre minhas próprias singularidades. A dicotomia é o mais visível na vulva cerebral que me alimenta. Noite e Dia. Amor e Ódio. É tudo tão insuportável. Um pássaro preso, uma miragem, o grito que domicilia-se no silêncio e torna tudo mais difícil. Dois polos profundos que abarcam diversas polaridades. Tantas mulheres rindo na minha cabeça. O desprezo pelo realismo e a fuga nele próprio. Tantas mulheres chorando na minha cabeça. As mesmas dores perpetuadas numa rolagem cíclica infinita. Tantas mulheres gemendo na minha cabeça. O prazer arrebatador exposto em carne viva e por outras vezes tão contido. O peito que se faz arfar pela agonia de ser o que se é e ao mesmo tempo desconhecer completamente a verdadeira face de si mesma. Tudo é tão caricato. Tudo é tão medonho. Milhares de sentimentos no decorrer das horas que fica difícil criar uma linha de pensamento. Oscilações. Ondas. Natureza. O feminino cruel que ronda a existência é o mesmo que eu sinto dentro. Um vento incansável, que grita e sussurra ao mesmo tempo.
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Síncope da volúpia I
Sozinha com meus desejos. Sempre assim. Já são quase 5 horas e todas as paisagens são de carne. O prazer inalcançável se assemelha aos astros desconhecidos. Minha mente é trêmula como minhas pernas quando há deformação do espaço-tempo. O colapso gravitacional causado pelas matérias maciças e compactadas dentro de mim resultam no vazio. Onde a luz não passa, onde a sombra acolhe. Dentro de mim o breu é quente, explode a incerteza, escorre a treva. O mistério da ânsia irredutível. O querer mais e mais e a dor de todas as maneiras, novos corpos, novos abismos. E o meu espaço fervilhante deseja ser preenchido na velocidade da luz ; Há alguns que geraram arrebatamentos mais fortes do que outros, mas meu véu de estrelas voa rápido com o vento do ignoto. Ninguém tem a mim e eu não tenho a ninguém. A expansão da fome é conforme as lunações. Passam as síncopes da volúpia que possuem nome próprio e eu acabo sempre na noite infinita. O próprio buraco negro, onde a solidão e a lascívia atreladas queimam como explosões astrais. Incessante pulsar.
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Só mais um de milhares de escritos sobre o tempo.
Me sinto em uma constante disputa com o tempo. No mundo em que vivemos hoje, onde o tempo passa como se estivesse correndo da forca prestes a cair no abismo, tudo se transforma em ilusão. Na verdade, o tempo não é tão frágil como imaginamos, ele é sábio, senhor de si, e de nós, meras peças nesse enorme tabuleiro. As vezes, no meu olhar, ele dança lentamente e eu logo penso “nossa, como o tempo é devagar”. Demora. Anseio. Eu vivo a esperar algo que só ele sabe e só ele pode me trazer, e como o simplório tem conhecimento disso, vive a me fazer de gato e sapato, brincando como se eu nada mais fosse que uma boneca de vidro, prestes a despedaçar. Uma curiosa relação que temos, digo temos, eu e ele, mas não só eu, mas como diversas pessoas ao redor do mundo, também possuem: Aquela crise existencial dotada de nostalgia que chega a constituir quem a gente é, nossos gostos, nossos desejos. Escrevemos, nos nossos computadores, desejando escrever na máquina de escrever; Fotografamos o colorido acinzentado da cidade moderna, desejando aquele preto e branco chique das fotografias analógicas; Ouvimos música em nossos players sofisticados, e tudo que queríamos era ouvir o ruído da agulha no vinil. Além de atividades, as roupas, os filmes, o estilo arquitetônico que agrada nossa visão, é aquele mais robusto, “arcaico”, ou “retrô” - me recuso a usar retrô, essa expressão não traduz em nada o sentimento que eu quero descrever aqui - Todos esses gostos não são porque “está na moda”, é “vintage”, não; esses gostos imprimem a relação que o tempo coloca na nossa alma, a maneira que ele tem de nos prender pro passado, de alguma maneira, pra que a gente sempre pense nele com um ar de saudade, saudade do que nunca vivemos e nem viveremos com ele. O tempo é escritor, operário e carpinteiro. Escreve em nós o gosto pelo que já foi escrito, opera em nós a moldagem de sentimentos nostálgicos em abundância e como carpinteiro, nos talha em madeira - exatamente igual aos móveis antigos que gostamos - aquele ar de insegurança. O tempo na verdade é a mão de deus, a mesma aquela que “afaga e apedreja”. E nessa mão, encontramos a solução e o remédio, pois, além de escritor, operário e carpinteiro, o tempo, com todas as suas faces e temperamentos, também é o nosso único curandeiro.
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Ardor
Me encontro estática. Por segundos rasos consigo sessar a prosa mental. Meu corpo ainda arde e dói. Essa dor, que é a dor que eu mais gosto e mais consigo, se presente está comigo, acalma meu coração. Nada é mais gritante que os meus pensamentos, gritam por tantas razões que eu não consigo lidar lucidamente, ao invés disso, abafo esse barulho com os gritos agudos do prazer mais angustiante que se esvai do meu ser. Quentes e duras, constantes são as invasões dentro de mim, e eu, como uma escrava do deleite e fugitiva do penar, entrego-me ensandecida a mais fugaz loucura. E o desejo só aumenta a cada suspiro demoníaco que dissipa da minha boca, já lambuzada e suja. Por momentos, saem dela frases imundas e sedentas “me bate” “entra logo....vem” misturadas com silabas coladas, misturadas com o gosto de quem me tem. E é um desvario lascivo, indecente, que escorrega pela saliva e pelo meio das minhas pernas, direto da minha mente, que atordoada se embaralha..tornando qualquer parte do meu corpo, um casulo, um refúgio, um campo de batalha. Cada pedaço de mim anseia ser explorado, desde o mais aparente ao mais vil. O amor, aconselhável...a violência, necessária, as ferramentas anatômicas do homem usadas com cautela de nada servem. O amor não deve ser calmo, o sexo, menos ainda. Não encontro motivos na vida se não o desejo, a ardência que sinto de baixo pra cima. Impulsiona o decorrer dos meus dias e dos meus pensamentos, para mim, nada vale, se não existir o suspiro, o anseio do espírito e principalmente de cada pedaço dessa minha carne.
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meu recado para o deus de todos...
piedade ao deus cristão
se o mundo é como os grandes dizem
só me resta pedir piedade.
eu me enrolo na serpente e como a maçã inteira
por vontade própria,
a própria eva.
e todos os meus pecados, no peito, cravados
tento expurgar em lagrimas que nada representam.
e se não existe pecado?
e se tudo que existe é apenas existir
ser o que se é
talvez assim tudo ficasse mais insignificante eu morresse tranquila.
mas...se todas as minhas incertezas estiverem erradas
e o universo for aquela fábula apocalíptica
então eu serei fadada a queimar no inferno...
eu, que sempre gostei do fogo
fujo dele por misericórdia
não se pode queimar algo que já vive em chamas...
clemência
a maldade em mim não existe
o que existe em mim é apenas eu
o filhote do diabo e da inocência da lua
que tropica nos seus próprios desejos e medos
e...
não sei mais o que fazer
com a minha cabeça melindrosa
e o meu jeito de ser tão insensato
eu juro a toda a verdade e a farsa que rondeia essa imensidão
que tudo que tem podre em mim, nunca foi minha própria intensão
eu juro que tento até mudar
mas quando eu sinto o oco, escuro, lá dentro
e penso em todas aquelas baboseiras sobre amar
eu respondo a mim mesma como um animal ferido e sedento
e caio no abismo que o deus cristão faz questão de praguejar...
se ser o que se é...amar, sofrer, querer, sonhar
é sinônimo de heresia
mata de uma vez a tua única filha
e com um ultimo pedido
leva-me pro fundo do oceano
afoga esse coração tão sofrido
de uma maneira tão violenta que não seja possível nem agonizar
e que nesse fim
minhas lágrimas cansadas se misturem
com a raivosa e trêmula água do mar.
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eu, que sempre me vi atordoado
pelas sombras dos cabides
que mostravam no meu quarto
um bando de demônios infestados.
eu, que sempre me vi atordoado
pela minha falta de vontade
de lutar contra a corrente
de ter força, ser vivente
e no fim sempre acabar acomodado.
eu, que sempre me vi atordoado
entre confusão e lucidez
fitando o infinito com um certa insensatez
por muitas vezes fechando os olhos
pro que estava do meu lado.
eu, que sempre vi atordoado
pela noite vou seguindo
com minha miudez, poucas vezes sorrindo
e meu fatídico jeito de ser - estagnado -
eu........que sempre me vi atordoado
bebo desse cálice o vinho que é o sangue
de um verme desbundado
e...com o demônio que ri a meu lado
tenho pelas madrugadas o brindado
quebrando os relógios da razão
e as ampulhetas da emoção
e satisfeito com o álcool o meu peito podre e cismado.
e por fim, eu.....que sempre me vi atordoado
anseio ter meu espírito simples, puro e curado
mas disso jamais saberei,
apenas sentirei
num alívio de dor sentindo meu corpo em meio as salamandras
seu pecado no fogo divino
ser cremado
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recoberta em penumbra
me encontro mergulhando novamente no lodo qual sempre pertenci
o reencontro ou apenas um tropeço?
boca trêmula
e o teto de gesso que cobre minha cabeça
não é o mármore esculpido
solidão
não há dor
mas agonia
que o relógio caia do bolso do bondoso-impetuoso que nos guia.
e se, assim acontecer
na aguardente subterrânea deixarei meu corpo perecer
e no solo que se assemelha à um braseiro
sentirei o sábio espectro dos bosques minha alma envolver.
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In The Moonlight by Albert von Keller (1844–1920)
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tenho lembranças
de quando o mundo todo era azul
e a luz da noite reinava soberana
pelo luar no riacho refletido
os arbustos e as folhagens tomavam conta
da pequena paisagem
e o mundo parecia pequenininho
por mais que para se deslocar
levassem milhas e milhas...
ah....
saudade desse tempo,
nunca por esse corpo vivido
mas...na memória sentido
ah o passado....
um tempo que a escuridão reinava
o pavor era contido
mas a esperança e sonho
eram pela natureza protegidos
ah o futuro....
um tempo que a escuridão reinará
o pavor será contido
e a esperança e o sonho
talvez quem sabe pelas memórias ancestrais
continuarão protegidos.
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The Last Fight by Vasily (Wilhelm) Alexandrovich Kotarbinsky (1849-1921)
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o vento grita lá fora
trazendo lembranças da aurora
cisne de gelo
era a imagem que eu folhava com meus pequenos dedos
recordando os sons mais remotos
sempre presentes com o medo
a fragilidade da infância
e a eterna dúvida entre o céu e as estrelas
e hoje
o que tinha um sabor azedo
se transforma em uma sangria-desalento
e os meus cabelos
permanecem negros
e na minha mente
nunca mais viu-se cisne de gelo
chapéuzinho vermelho
ou sombras em atormento.
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The Erinyes Drive Alcmaeon from the Corpse of his Mother
by Johann Heinrich Füssli (1741 – 1825)
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senhora das serpentes
o breu profundo
em olhos
filha da lua
da noite foi feito meu corpo
com suas sombras e seus mistérios...
bruxa, feiticeira ou o que for
nomenclaturas não importam para ser morada da deusa
sonhos proféticos
oráculos mil
o sangue que sai do ventre é o mais doce dos vinhos
nosso amor é como uma teia
onde se envolvem os corações mais nobres
cada transa, um transe ofidiano
e no final somos a própria viuvá-negra.
nosso corpo serve para amarmos à vários
epifania, e não orgia
mel nos lábios
o perfume de dama da noite embriaga e vicia
mas é apenas a um senhor que a yoni onírica pertencia.
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a cada dia
a cada passo
sinto o desabrochar das rosas brancas em meu coração
meus olhos se transformaram em lunetas
e fitam o hoje, o agora
e não mais a imensidão.
nesta íris-telescópio
observo as pedras, os galhos e as flores
e sou grata pelo dom da visão
por mais que eu ame o sol, a lua e as estrelas
ando preferindo observar e dar meu amor ao que esta próximo de mim,
fazendo parte desse meu caminhar pelo chão.
ah, ainda existe aqui dentro a polvorosa procura
que latente em meu âmago causa uma certa aflição
mas com o decorrer dos dias e das noites
sinto a presença que preciso,
vou encontrando o que procuro
e me torno um só com o que tem de mais divino
nessa sublime imensidão.
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schiele
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