Tumgik
lirismo-soturno · 1 month
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23
Gostava de te imaginar
Velhinho, teria barba branca
E os cabelos ensolarados
Professor aposentado
E filósofo que sonha acordado
Te encontraria na rua por acaso
Você me perguntaria da vida
Eu te perguntaria dos netos
E pediria uma visita
Você faria caminhadas de manhã
Teria uma cafeteira italiana
E não deixaria ninguém reclamar
Dos pelos dos gatos pela casa
Soube que seu cabelo está maior
E não consigo te imaginar assim
Esses dias, pensei ter te visto
No meu teto, amarelo, talvez
Estou com 23 anos
Agora te alcancei
Mas você sempre
Vai ter 23
Sua mãe não chora mais
Quando fala de você
Mas ainda dói do mesmo jeito
Que o primeiro dia
Seus amigos também sentem
Sua falta, alguns cresceram
Outros regrediram, mas
Todos te amam
Eu converso com as flores
As lágrimas falam por mim
Porque era mentira
Que não se pode ter 23 anos pra sempre
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lirismo-soturno · 3 months
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Para o "bom mentiroso"
Costumava me perguntar
Por que não te sinto mais?
Por que não me envia sinais?
Por que não aparece em meu sonho?
Mas eu estava tão assombrada
Pela minha dor egoísta
Que não conseguia ver seus rastros
Passando pelas minhas flores
De vez em quando ainda teimo
Brigo com o acaso pela minha angústia
Esqueço que a sua foi muito maior
Que você fez de tudo pra ficar
Moveu montanhas para não ir
Pena que escondia o cansaço
Dentro do sorriso mais bonito
Pra que ninguém descobrisse
E olha só, percebi que você não se foi
Não totalmente, porque às vezes,
No sol, no vento, nas flores
Eu enxergo a sua risada, vejo sua voz
Engraçado você ter pensado que seria fácil
Que a gente ia se livrar de você assim
Sua liquidez orgânica pode até ter virado terra
Mas ainda temos a arte, a resistência que você deixou
Seu som de alegria está impregnado em meus ouvidos
E eu nunca vou cansar de escutar
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lirismo-soturno · 3 months
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Insanidade milimétrica
Costumava querer a solidão dos outros
Deixar que ela terminasse em mim
Tem fantasia mais egoísta?
Querer matar angústias estrangeiras
Sem olhar para as minhas dores primeiro
Costumava me dobrar por papeis rasgados
Até ficar minúscula demais para preenchê-los
Tem desejo mais insano?
Querer resgatar páginas perdidas
Sem perceber que eu era a livraria inteira
Não pense em regar flores alheias
Se é você que está seco de amor
Não queira mergulhar em mares profundos
Se você ainda é só uma gota rasa
Não tente preencher copos estranhos
Sem lembrar que você tem um jarro só seu
E quando ele secar, você procurará
Uma poça qualquer para se afogar
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lirismo-soturno · 3 months
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A garoa virou tempestade
Ainda bem que eu não coube na tua solidão
Afinal ela era muito pequena
Ainda bem que eu era tempestade no teu copo d’água
Afinal ele era muito frágil
Não sou solidão, sou solidez
E o meu vazio é o mais criativo
Não sou conta-gotas, sou tempestade
E eu só chovo em mares abertos
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lirismo-soturno · 3 months
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Overdose
Me virei do avesso
Refiz a rota, voltei pro começo
Me fiz tempestade, entrei em colapso
Pra descobrir que chovi em mar raso
Fui açúcar pro teu café
Mas o doce não bastava
Você queria a diabetes
Fui terra firme das suas lágrimas
Mas o concreto não bastava
Você queria a liquidez das ondas
Apostei todas as fichas que não tinha
Em um jogo sem regras, sem fim
Reguei um jardim com água do meu corpo
Para descobrir que as flores eram de plástico
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lirismo-soturno · 10 months
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Tudo é resto
Se ao menos eu pudesse
Guardar cada lembrança boa
Na estante da minha solidão
Se ao menos eu pudesse
Lavar minhas memórias, até sair
Toda a sujeira que você deixou
Nossas tardes demoradas
Não têm mais o mesmo brilho
Nossas sintonias desvairadas
Não têm mais a mesma cor
As memórias boas, tentei guardar
Sem manchas, mas foram retaliadas
Até hoje, são assombradas
Pelo trauma do teu seco olhar
Perdi as linhas e as agulhas
Perdi as tintas e os pincéis
Teu ideal de amor infinito
É ilusão, é peito aflito
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lirismo-soturno · 10 months
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Eu areia, tu oceano
Acordei com a sua voz de criança
Passando alto por meio da rede
O rosto inclinado, o corpo encolhido
Disse que está tudo bem, mas mente
Como está tudo bem?
Se as suas angústias
Eram tão maiores que as minhas
E mesmo assim eu não as vi
Teu choro, teus medos
Você guardou lá no fundo da alma
Trancados a sete chaves
E me deixou apenas seus sorrisos
Te sinto em tudo, tuas memórias
De infância, como se fossem minhas
Teu coração, tuas profundezas
Oceânicas, você está vivo
Te sinto em tudo, me recuso a te esquecer
Nas flores, nas poesias
No pôr do sol, nas manhãs frias
Você continua vivo
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lirismo-soturno · 10 months
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Acordei com o barulho das minhas angústias
Dançando em círculo pelo telhado
Me escondi na banheira e no corredor
Mas elas me alcançaram pelo piso molhado
Procurei algum motivo na areia
Mas o sol do calor torturou meus pés
Quando eu os avistei, aliviada
Meus motivos foram levados pelo mar
Voltei para casa, desolada
Peguei o tédio pelo braço e dormi
Com a tristeza que o verão trazia
Até aparecer a lua, que se escondia
Em meu sonho, vislumbrei a luz
Entrando pelas rachaduras
Abrandando minhas angústias cansadas
Meu coração enluarado, por fim, acendeu
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lirismo-soturno · 10 months
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Enchi teu ar de calor, ardi
Nadei contra tuas ondas, caí
E nunca bastava, nunca chegava
Te colori dos pés à cabeça
Onde mais doía, te costurei
E ainda sangrava, ainda faltava
O que mais? Por favor, o que mais?
Eu pensava que você queria mais
Quando, na verdade
Você me implorava pra parar
Meu amor te doía a pele?
Meu amor te importunava?
Não se preocupe, menino
Eu finalmente desisti
Espero que agora esteja satisfeito
Espero que esteja comemorando
Porque finalmente conseguiu o que tanto queria
Minha ausência.
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lirismo-soturno · 10 months
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Eu pensava que meus mares Não tinham água o suficiente Mas na verdade, você preferia A hostilidade dos desertos
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lirismo-soturno · 10 months
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Por que agora chora ao caixão? Foi você que me colocou aqui Por que se assusta com meu sangue? Foi você que me assassinou
Portanto, não espere que um dia Eu volte para te assombrar Nem mesmo minha alma atordoada Se prestará a tão indigna causa
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lirismo-soturno · 10 months
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O que faltou em mim
Foi te entregar pouco
Distância, silêncio, rispidez
Eu nunca soube ser fria
Nunca soube retribuir descaso com descaso
E você me obrigou a ser recíproca
Teimei, insisti, evitei, morri
Mas finalmente consegui te corresponder à altura
Mesmo que eu te entregasse os céus
Nada seria suficiente, afinal
Você não queria as estrelas
Preferia o torpor do chão
A anestesia da morte
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lirismo-soturno · 10 months
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Cruzei teus mares sem olhar pra trás Atravessei tuas pontes sem olhar pro chão Eu nunca entendi esse teu jeito estranho de amar Ora era brisa, ora vendaval, ora sim, ora não
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lirismo-soturno · 10 months
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Agora
Tento expurgar teus escombros Do meu pulmão incendiado O problema é que eu te sabia fuligem Eu te sabia fogo E mesmo assim me fiz Folha de papel
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lirismo-soturno · 10 months
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Meu corpo Se fez água, inerte Devorou o teu, que sem instância Secou meus pés, dilacerantes Me pendurei, te inundei Minha correnteza era forte demais Pra perceber que teu mar era raso
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lirismo-soturno · 10 months
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Hipocrisia
Quando se quer muito algo
O natural é correr atrás
Eu corri quilômetros sem pensar duas vezes
Você achou que dar um passo era humilhação
Se eu fosse você, teria me olhado
Teria considerado minha devoção
Tentaria, quem sabe, uma resolução
Não me esconderia, como que vitimado
Você pensou que nosso futuro era certo
Que eu sempre iria te compreender
Dizia não querer me perder
Mas não fazia nada para me ter por perto
Não diga agora que eu sou importante
Quando você me deixou sozinha
Não diga agora que quer meu amor
Quando jogou tudo fora, sem pudor
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lirismo-soturno · 10 months
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Não sobrou mais nada
Quem me dera sentir só saudade
Quem me dera sentir nostalgia
Ou quem sabe chorar pelo luto
De uma parte que costumava ser minha
A perda dói mesmo, eu sei
Mas nada é mais torturante
Que a injustiça de ter sido morta
Pelas mãos de quem mais amei
Pudera eu me sentir faltante
Pois de mim nada restou, te vejo distante
Talvez já era dada minha hora
E você me findou, sem demora
Agora percebo, não poderia ser diferente
Quem ama demais, se dá por inteiro
Se entrega ao abismo, perde o norte
Declara sua própria sentença de morte
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