Educação e Intervenção Social
Intervir , quem chega ao local, quem está no local.
Introdução
A experiência da vida universitária, uma experiência que desde sempre teve a sua multiculturalidade e que nos dias de hoje está cada vez mais abrangente, uma abrangência global. Indivíduos de diferentes locais reúnem-se por alguns anos, noutros locais, passando a fazer parte de uma comunidade local, do campus Universitário e da cidade onde este está implementado. Estaremos preparados para receber e integrar novas culturas, aproveitando as oportunidades de conhecer melhor as mesmas e de dar a conhecer a nossa? Será necessário intervir para apoiar quer os recém-chegados quer os locais? Este será o tema deste trabalho, aproveitando testemunhos reais de colegas que viajaram de diferentes latitudes, para procurar e descobrir conhecimento.
É pois importantíssimo aproveitar oportunidades como esta de ter colegas Timorenses, que partilham parte das suas experiências de vida connosco e recebem o que temos para partilhar. O muito obrigado ao colega Norberto Legimai por essa partilha, pois do seu testemunho retiramos conhecimento. Esperamos que o que partilhamos com ele, seja tão enriquecedor como é para nós e seja uma intervenção mutua.
Desenvolvimento
“Parece hoje admitir-se consensualmente que o mundo educativo atravessa uma
profunda crise” (Correia,1998)
A Intervenção social, intervenção como caridade apoiada pela ciência passando a ter como expressão conhecida, a arte fundada na ciência, surge em Portugal no Estado Novo, o estado que corta e reduz como referem Branco e Fernandes (s.d). No período Pós II Guerra Mundial, é criado o Estado Providência que fornece serviços sociais e protecção social. De 1945 até hoje passou um pouco mais de meio século e neste momento estamos a sentir importantes alterações no nosso Estado Providência, pelo que é importante optimizar soluções, intervir com imaginação, poupando recursos, aproveitando o tempo.
Pensemos numa situação em que chegam indivíduos para estudar a uma comunidade logo à partida diferente, muito diferente. Culturalmente distintas, a cultura portuguesa integrada numa Europa mais coesa socialmente e a cultura Timorense, com uma independência recém-nascida, havendo por um lado cidades educadoras, por outro, aldeias isoladas. O que fazer para apoiar, bem receber, reduzir as diferenças mas manter a riqueza das mesmas? Sim porque o sucesso dos recém-chegados, é um factor importante para quem chega, ajudando na sua integração. Pretendem-se espaços cada vez mais multiculturais e diversificados (César e Azeiteiro, 2002). Não menos importante é pois o sucesso dos estudantes para a Instituição que o recebe, pois este novo estudante pode vir a tornar-se num embaixador, recomendando e recordando de forma positiva os momentos que passou, a quando do seu retorno, caso o mesmo aconteça ou não. Compreender necessidades, objectivos e também se estes se comparam aos mesmos objectivos dos estudantes locais, é essencial para poder intervir. Num mundo onde cada vez mais se encurtam distâncias, conhecer de perto quem está mais longe é fundamental e actual. A distância e o desconhecimento aumentam a exclusão, quando incluir é um conhecimento que devemos ter sempre presente. Como destaca Fernández (2006) sobre a globalização “toda actividad se realice ahora es un marco global o praticamente (antes que en otros: local, regional, nacional, etc)”.
É aqui que será importante intervir para melhorar e apoiar todos aqueles que chegam de culturas tão diferentes como as de Timor Leste. Os jovens que chegam à Universidade do Algarve, fazem uma primeira paragem com adido na embaixada de Timor em Portugal. Depois de confirmar em que universidades foram colocadas, são enviados para as mesmas onde chegam com alguma desorientação. O domínio da língua portuguesa é muito superficial pelo que as dificuldades adensam dia a dia. Um novo habitus é encontrado, definido por Durkeim (1947), como um estado geral dos indivíduos, estado interior e profundo, que orienta suas acções de forma durável, ficam assim mais temporários, agora numa cultura que tem pouco a ver com a cultura da sua origem. Ter algum colega timorense mais velho que possa estar disponível, e que já estude em Portugal há mais tempo, que pode dar algumas orientações é algum do apoio existente. Certamente existem outros apoios na Universidade mas, como conhece-los quando não existe uma apresentação contextualizada criada para esse propósito. Quando temos conhecimentos conseguimos ver melhor, na falta destes as indicações passam ao lado de quem chega e está com a atenção absorvida para um mundo local de novidades. Sair da aldeia, com curta passagem pela capital Díli e um chegar ao velho continente é uma enchente de emoções.
É necessário apoiar pessoas a terem uma socialização, que Benzaquem (2008) define como um processo de construção e sedimentação das normas sociais, podendo pensar-se numa ressocialização secundária adequada. A socialização primária foi feita num contexto social diferente do europeu. É importante promover uma autonomia e responsabilidade de forma a dar base para a construção desse essencial habitus para os novos estudantes agora no velho continente. Importante é também, não individualizar nem tornar estes estudantes solitários, mas integra-los em grupos de trabalho, turmas que devem perceber que partilhando e desenvolvendo relações entre todos os membros, todos tem a ganhar. Dessa forma, uma configuração social leva o indivíduo a se valorizar egoisticamente como entidade completamente autônoma e auto-suficiente. É neste sentido que individualização e individualismo significam coisas distintas segundo Benzaquem (2008). “O processo de individualização é o processo de diferenciação dos indivíduos. Já o individualismo se define pela “dissolução dos laços sociais, o abandono, pelos indivíduos, de suas obrigações e compromissos sociais” (Benzaquem cit. Lukes)
Parece haver uma crescente preocupação que a individualização mude o seu paradigma, do ponto de vista do grupo. Numa sociedade que desenvolveu sistemas baseados na meritocracia, desenvolveu também a individualização do actor, passando cada um a ser um actor principal, esquecendo a restante equipa que o apoia, e que sem ela a cena deixa de ser a mesma, podendo não ser interessante a todos os outros que querem também participar, pois todos querem fazer parte de algo. A comunidade deve respeitar a individualidade e cada individuo respeitar a comunidade. Actualmente através do conceito das cidades educadoras e com a descentralização do poder central para o poder local, pretende-se criar locais que a todos digam respeito. Por isso é importante saber receber os que chegam ao novo local, ao local que quer a participação e intervenção de todos, um local com parcerias com os vários actores sociais. Haverá necessidade de intervir nestes novos espaços, cheios de multiculturalidade,individualidade, de forma a ter comunidades ligadas, entrelaçadas, ricas em diversidade. São diferentes paradoxos que se cruzam, diversas realidades comuns a alguns,individualidades importantes e diferentes que se querem manter. Como pode o profissional de Intervenção Social conseguir compreender e apoiar indivíduos, contextos, cidades, cada vez mais dinâmicas, funcionando em redes de troca e partilha de informações de conceitos é algo importante.
Voltando ao tema dos estudantes é importante para todos que haja partilha, parcerias, pares que se ajudam mutuamente, aproveitam para descobrir novas culturas, com laços de amizade, que através do respeito, através de experiências pessoais. Esta vivência de poder estar em diferentes locais, pode estar em vias de extinção com o advento dos cursos online. Como haveria esta troca de sentimentos, emoções conhecimentos estando a funcionar através de um meio frio como a internet? O aspecto humanista do partilhar é algo que dificilmente será substituído, pelo que deve ser valorizado, aproveitado. Todos os actores sociais têm algo a dizer, quanto mais partilharem mais rica se torna a partilha. “A socialização societária não é mais do que a expressão de uma constelação de interesses variados’ (Benzaquem cit. Dubar).
Considerações finais
Se vamos viver todos numa aldeia global, o conhecimento mútuo é elementar. Aproveitemos portanto energias e sinergias de cada um de nós, para promovermos uma real inclusão social, fundamental à sociedade do mundo. O conhecimento é algo que nos faz ver mais longe, compreender melhor. Precisamos todos fazer parte deste novo mundo. Vamos utilizar as constelações de interesses variados e torna-la numa constelação que sirva a todos. Se cada um de nós ajudar, se cada um de nós se inscrever para estes novos desafios, iremos conseguir ter uma melhor sociedade, não apenas para um, nem para dois, três ou quatro, mas para aqueles que quiserem, onde apenas um também conta.
Referências bibliográficas
Branco, F., Fernandes, E.,(s.d.). O Serviço Social em Portugal: Trajectória e
Encruzilhada. Retirado de http://www.cpihts.com/Nova%20pasta/SS%20Portugal.pdf em 20
de Junho 2011.
Cabecinhas, R. (2006) ‘Identidade e Memória Social: Estudos comparativos em
Portugal e em Timor-Leste’ in Martins, M.; Sousa, H. & Cabecinhas, R. (Eds.) (2006)
Comunicação e Lusofonia: Para uma abordagem crítica da cultura e dos media, Porto.
Carvalho, A. (2008). Educação Social fundamentos e estratégias. Vol 1,2,3,4. Porto.
Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade e Campo das Letras, pp. 183-214. URI:
http://hdl.handle.net/1822/6166
César, M. & Azeiteiro, A. (2002). Todos diferentes, Todos iguais. Actas do
ProfMal2002. Viseu :APM.
[Suporte CdRom]
CORREIA, José Alberto, (1998). Para uma teoria crítica em educação. Porto: Porto
Editor
DURKHEIM, Émile, (1947). La educación moral. Buenos Aires: Losada
FERNÁNDEZ, X. B. (2006). “Identidad y cultura en la sociedad globalizada: algunas
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Porto: Edições Afrontamento. pp. 171-176.
BENZAQUEN, J. (2008). A socialização para cooperação: uma análise de práticas de
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Nóvoa, A. (1993). A “Educação Nacional”. In A. O. Marques & J. Serrão (Series Eds.)
& F. Rosas (Vol. Ed.), Nova História de Portugal. Vol. XII – Portugal e o Estado-Novo
(1930-1960) (pp. 456-519). Lisboa: Editorial Presença
Setton, M. (2002). A teoria do habitus em Pierre Bourdieu: uma leitura contemporânea.
Revista Brasileira de Educação. N. 20, 60-154
Webgrafia
website com inúmeras referências a Timor: http://timor.no.sapo.pt/
website do governo timorense (em inglês): http://www.gov.east-timor.org/
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