Tumgik
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Lks, 09 de dezembro de 2017.
Meu maior incômodo, ultimamente, é esse nó apertado na garganta, esse grito sufocante, esses sentimentos não expostos, esse mundo de palavras não ditas. Estou implodindo, meu peito aperta, meus olhos querem esvaziar me o corpo inteiro. Sinto a queimação na carne inchada. Vem como um turbilhão, me engole e digo sim. Delirando, estou totalmente consciente de cada sensação. A pele, cada vez mais em chamas, escrava de meus caprichos. Meu corpo inteiro implora pelo fim. Minha alma rasteja, sem lutar, sem debater-se, busca apenas pelo descanso. Mas, impiedosamente, continuo viva. 
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Natasha Moreno, 18 de novembro de 2017.
Tome minha mocidade. Consuma meu corpo. Chupe meus seios. Embriaga-te em meu cheiro. Componha meu ser. Torna-te parte de minha loucura. Preencha me por inteira. Amarre tuas mãos em meus cabelos. Possua meus lábios. Toque onde jamais fui tocada. Impregna-te em mim. Finque tuas digitais por toda minha pele. Entre e permaneça no mesmo ritmo, com o mesmo gosto: ao som de gemidos e suspiros, molhados em suor, subindo e descendo, entrando e saindo, um grito abafado - a indiscrição de um orgasmo. Até o êxtase voltar, o tesão recomeçar e a sensação de me perder, nesses braços de infindo prazer, me tomar. E mais uma vez em total e insana entrega venha a me encontrar.
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Entardecer chuvoso
Há anos me ponho á janela e contemplo esse pedaço do universo. O vento descabela as plantas e despenteia os meus cabelos, o som dessa euforia natural afaga os meus ouvidos. É como se me convidassem a dançar com a vida, a me deixar guiar pelo sopro divino dos céus. Tudo é verde, azul e branco. Nesses momentos ignoro os traços da humanidade, me desprendo do homem que sou e me coloco na qualidade de telespectador. Vejo o curso natural das coisas e admiro com devoção a natureza. 
Há anos sou triste e me refugio nesses momentos que antecedem a chuva. As inexistências da dor e da consciência são convidativas, mas já não sou natural. Como homem minha natureza é corromper e ser corrompido. É uma natureza efêmera e artificial. Mas, por enquanto, ainda tenho o privilégio de presenciar o milagre da vida, da verdadeira e genuína vida, do verde alvoroçado em meio a tempestade, do azul mesclado de branco com cinza, do cantar gracioso dos seres intocados, o espetáculo real da perfeição de tudo que há, a prova da sobrevivência dos inocentes.
Degusto, mais uma vez, o conjunto de sensações inigualáveis que Deus pode me proporcionar, antes que a crueldade e brutalidade humana destrua toda forma de vida. Antes que a violência desalmada dos homens aniquilem toda divindade em detrimento dos seus desejos. Respiro como se fosse pela última vez, antes que o homem mate, de uma vez por todas, todo o Deus do mundo, enquanto pregam um deus morto e irreal, uma ilusão que figura a asquerosidade humana, que legitima toda falha e toda morte, o falso ser superior trajado de homem, que toma o lugar do criador, que também é criação.
Por esses momentos vivo, como se não me houvesse vida depois, por que a minha realidade é mesmo de morte, então compadecido de minha humanidade, aprecio nostálgico e inerte a vida diante dos meus olhos.
Lks, 10 de outubro de 2018.
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Insônia
Tenho a, incrível, capacidade de perder. Perder tudo. Perco o apetite, a libido, a vontade, a cor, o sono. Me perco. E reduzido ao nada, torno-me vazio, oco. Uma mera representação do que deveria ser alguém.
E nessas noites de nada, me tocar é, terrivelmente, doloroso. Sentir cada detalhe do meu rosto é, inexplicavelmente, dor. Com minhas mãos descobrindo aquele rosto, talvez familiar, desabo. Por alguma razão desconhecida, meus olhos expelem o que sinto, mas sou nada agora, não sinto, só vejo, presencio - reações daquela representação de ser, refletida no espelho, que ao reconhecida pelo tato, derrama.
Torno-me espectador de uma casca que expressa o que não posso reconhecer, não agora, não durante a noite. Nessas noites, torno-me dor. Dor e dormência. As chagas sangrando por fora, e a inércia, o silêncio, tomando o lado de dentro. Mas ao amanhecer a dormência se vai, a ressaca se apresenta, e volto a ser. O quê exatamente? Não sei dizer. Sei que sou, tenho consciência e esses versos para me lembrar de quando, durante mais uma noite, não fui nada. 
Lks, 28 de setembro de 2018.
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Nua
Nua, embaixo do chuveiro e a água fria castiga meu corpo, em arrepios minha pele reage e minha cabeça lateja. Repouso minhas mãos sobre meu rosto e reconheço a volta daquela que toco. Fazia alguns meses desde sua última visita, já havia esquecido o quanto me menospreza.Todos os excessos caem como chuva de granizo em minha consciência. A sensação de tê-la recebido de volta, e talvez até ter convidado para voltar, inflama dentro de mim. 
Nua, em minha cama, ponho minhas mãos sobre meus seios e traço um caminho prazeroso por todo meu corpo. Corpo que conheço pelas mãos de outros e reconheço por minhas mãos. De olhos fechados vejo cada cicatriz, cada curva e cada sinal, as texturas se fazem cada vez mais palpáveis, assim como meu desejo por um prazer, mesmo momentâneo, que me satisfaça de qualquer forma possível. Gozo e volto a insatisfação. 
Nua, retorno ao banheiro e o gozo me incomoda, suja por dentro e por fora. Melada, suada, gozada, molhada... Suja. Sem o suor e gozo de outro, só os meus, só eu. Limpo tudo por fora. Estou pronta pra outra. Procuro o sexo forjado, o prazer forçado de outros casais. A busca por um prazer que me satisfaça é desesperada e incessante. De novo, massageia, esfrega, enfia e tira, um atrito que umedece. Gozo. Não foi o suficiente. 
Nua, me desfaço da umidade conseguida com certo esforço. Minha libido está diminuindo, mas quero gozar. Quero o prazer do orgasmo, que me nutre, supre, e me devolve ao eixo. Mas está de volta e não posso me concentrar com ela berrando comigo. Consigo finalmente calar sua estridente voz, ela fica em silêncio, e seus olhos começam a me mostrar o que não quero lembrar. Ela, definitivamente, voltou e está tão nua quanto eu. 
Nua, dentro de mim. Nua, por dentro e por fora. Sem piedade e pudor. Por que voltou? Você me convidou. Não convidei, por que voltou? Você me procurou, sou fruto do seu desejo. Que desejo? Desejo do fim. Fim? Você é covarde demais para acabar sozinha. Não te quero aqui. Você não passa muito tempo sem mim. Não te quero de volta! Lembra de quando sentei ao seu lado naquela mesa do bar, acendi seu cigarro com uma vela, trocamos olhares e desmorou no meu ombro? Foi quando voltei, foi quando me deixou voltar, foi quando precisou que eu voltasse. 
Nua, em frente ao espelho, lembro quando a recebi de volta. Somos uma, despidas e vestidas das mesmas vestes. Dessa vez foi na mesa de um bar, já foi em tantos outros lugares, inclusive em frente a esse mesmo espelho. Espelho que reflete meu rosto desfigurado pelos excessos na noite passada, de todos os anos passados. Visto me de falsa extroversão, passo um batom vermelho e de sorriso estampada saio para o meu teatro. E ela vai comigo, não me deixa perder em meio a atuação cotidiana. Somos eu. Me recebo novamente de volta. Aceito as duas versões de mim, ambas nuas, despidas, uma de verdades e outra de mentiras.
Lks, 20 de agosto de 2018.
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Olá, girl!
Gostaria que isso fosse mais uma das declarações de amor das muitas que já escrevi. Mas, infelizmente, isto é uma despedida, e receio que seja definitiva. 
Você é como uma figura que compõe perfeitamente ao pôr do sol, é o conforto de uma cama quentinha, depois de um dia exaustivo, é o afeto mais sincero, o aroma de todo sentimento bom que há em mim. Sempre que ponho meus olhos em ti me sinto em paz, como se toda a escuridão fosse dissipada, e minhas feridas não latejassem. 
Dizer que te amo é insuficiente, insignificante, não representa a dimensão do que explode aqui dentro quando me deparo contigo. O amor, que por muitos é considerado o sentimento mais nobre e valioso, nem ele, somente, expressa o que sinto e desejo a você. Agora, imagine, minha surpresa e comoção, quando ouvi que me amava? Me senti anestesiada, realizada, mas ainda, um pouco desacreditada. Tudo pareceu completo, nós nos amávamos, era fato.
Agora, imagine, minha surpresa e comoção, quando vi sua postura, completamente, oposta ao tal amor que havia declarado por mim? Me senti destrossada, decepcionada, fragmentos dispersos no ar, como se eu fosse uma peça de vidro, que fora jogada brutalmente contra uma parede, mas ainda estava um pouco desacreditada - Não era possível todo aquele amor ter acabado, era inconcebível que tenha deixado de me amar. 
Te olhar agora é lamentável, meu peito dói, pesa e arde feito um prédio em chamas, cheio de pessoas gritando, é a dor, a tragédia. Você se tornou mais uma de minhas tragédias. Mais uma morte longa e desesperada, dentro do prédio em chamas que sou. 
Não sei o que houve, se há culpa ou culpados, mas a essa altura sei que não faz diferença. Sua vida me parece está muito boa e isso me alegra, que você lhe seja sempre o suficiente, e que esses a sua volta nunca esqueçam o privilégio que é tê-la ao lado.  
Adeus, amo você.
Lks, 15 de novembro de 2018.
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Carcaça
Os meus olhos engolem você e assim, me engole também. Me bebe a cada vez que te olho nos olhos. Me fere sempre que desvia o olhar. Prazer insensato esse que toma quando me esvazio em tua figura. Dor gritante essa que me invade quando perco tal contato.
Os meus olhos engolem você e assim, me engole também. Mas não é como se fosse uma troca, consumo-te sozinha, não me consome de volta. Não, definitivamente, você não me devora também. Sou como um oceano insistente desaguando em um deserto relutante.
Tento, molho, encharco, deságuo até minha última gota, mas você se mantém firme e intacto. Aos poucos vou me perdendo, me esgotando, por que te dei tudo que tinha, fiquei sem nada, nua, crua e sozinha. Você recebeu tudo, fez pouco caso e não quis nada, mas também nada me devolveu.
O que me restou foi tentar recuperar em você um pouco do que te dei, um pouco do que perdi, um pouco de mim. Procuro nos teus olhos que me bebem e ferem, na tua forma que invade e me suga. Procuro nos teus passos, toques e digitais, qualquer vestígio meu. Procuro na tua roupa suja, no teu resto de comida, nas coisas que joga fora, qualquer rastro da minha existência. Procuro.
Me doei ao ponto de me perder. E me desprezou de tal forma que nem sabe onde se desfez de mim. Agora, como tola rastejo aos teus pés, sobrevivendo de migalhas do que eu era, migalhas que nem você percebe que deixa cair. Talvez não saiba [e nunca vá saber] que morri ao insistir em você e que hoje minha carcaça se arrasta em teus caminhos, juntando os restos, pedaço por pedaço, tentando me ter de volta. 
Lks, 01 de agosto de 2018.
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