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fragmentosdebelem · 2 months
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Lafayette ~Papaya (1976) / LafayetteVEVO
"Mas antes de ser esse 'hino' a composição não era conhecida pela maioria dos foliões, no Norte do país. Criada originalmente pelo maestro italiano Pippo Caruso, no Brasil a composição foi eternizada pelo tecladista Lafayette Coelho Varges, que fez parcerias importantes, na década de 1960, com grandes nomes da Jovem Guarda, como Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Golden Boys e Sérgio Reis.
A trilha fazia parte de um disco com doze faixas do instrumentista. 'Na verdade, Papaya, não era um música de trabalho do Lafayette na época. Mas me surpereende saber que ela virou esse sucesso no Pará, diz a viúva do instrumentista, Dina Coelho Varges.
É dela a voz que continua ecoando até hoje durante a competição. 'Na época da gravação, um dos instrumentistas acabou errando o tempo e eu tive que me adiantar alguns trechos na hora de cantar. Naquela época não tinham tantos recursos tecnológicos para corrigir atropelos de gravação, lembra.
Em 1976, a trilha foi escolhida pelo DJ Tarrika e o radialista Alberto Pinheiro entre cinco opções para ser executada apenas nas chamadas do concurso na TV. Depois, ela passou a ser adotada durante as apresentações do concurso. Com o tempo foi ganhando novas versões, ficando mais moderna . 'Meu marido tinha um carinho enorme pelo Pará e, para nós da família, é um honra saber que o trabalho dele continua eternizado e vem conquistando muitos fãs, tanto anos depois do lançamento de 'Papaya'.
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O Liberal de 26 de fevereiro de 2023
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Músicos do Conjunto:
Lafayette - teclado Picolé - bateria Mazinho - guitarra Carlinhos - sax Mosquito - baixo Dina - vocal e ritmo Deo - vocal e ritmo Paulinho - vocal e ritmo Coelho - vocal e ritmo
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fragmentosdebelem · 2 months
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Salão Central, r. 28 de setembro / Diário do Pará, 24 de maio de 1984
"Começaram a morrer os barbeiros do Salão Central, que ficava no térreo do Hotel Central, um dos mais elegantes da cidade.
A sequência de mortes começou com Andrade Lemos de Albuquerque, que teve uma diverticulite mal diagnosticada e ignorada pelos médicos da Santa Casa de Misericórdia; duas semanas depois, foi a vez de Belizário Estumanho Guedes, acometido de estranha inflamação capilar, que terminou com o crescimento desproporcional do seu crânio, que, por fim, explodiu jogando miolos por todos os cantos; duas semanas depois, morreu Charles Campos Elísios, que levou um bolada na cabeça durante uma partida de futebol, pancada tão forte que deslocou sua coluna e proporcionou morte rápida e indolor, no meio do campeonato de várzea do Jurunas; novamente, em duas semanas, faleceu Deomar Pinto Forte (...)"
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Tanto Tupiassu ~ Dois mortos e a morte e outras histórias (2023)
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fragmentosdebelem · 2 months
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Bar Azul, 1996 / Instagram de Luiz Braga
"É na risada histérica que pula do espelho quando me olho pela manhã, mas tem que ser esse espelho enferrujado, que vejo todo o Guamá. Existe apenas esse espelho, essa posição, essa luz, esse horário, esse quarto e essa garota órfã no mundo, em nenhum outro momento ou lugar essa combinação se repetirá. Só assim poderei evocar e invocar o meu Guamá, esse de tantas memórias profundas.
(...) Cada amanhecer fazia da vovó nossa protagonista, tudo era mais brando perto dela, não que fosse uma pessoa que nos mimasse, mas era uma mulher que preenchia qualquer vazio, o vazio que faz eco, engana. Mas ela conhecia a gente em tudo. Vinda do Acará, uma cidade no interior do Pará, chegou no Guamá quando o bairro estava explodindo de gente do Nordeste ou dos interiores ao redor. Nessa época, os próprios moradores abriam ruas e faziam melhorias no bairro, não mudou muito.
(...) Não lembro de ter ido muito longe do Guamá, sempre moramos aqui. Era meu continente, meu planeta. Uma trama de casas de alvenaria e madeira, de um andar ou dois, vendas de todo tipo, um crescimento desordenado como as ideias da minha cabeça.
(...) Vovó tinha a cara do Guamá, desse que vejo no espelho antigo.
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Monique Malcher ~ Flor de gume (2020)
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fragmentosdebelem · 3 months
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Santa Casa de Misericórdia, d. 1900 / Delcampe
"Em 1900, a Santa Casa de Misericórdia do Pará inaugurou suas novas instalações, inclusive uma capela mortuária - que até hoje existe - consagrada à Santa Luzia, santa padroeira daquele nosocômio.
Em 1919, foi fundado o curso de Medicina do Pará e, mais tarde, foi construído, no largo formado por aquelas artérias, o prédio que por muito tempo abrigou a Faculdade de Medicina.
Com o crescimento da cidade foram sendo construídas humildes barracas nas redondezas.
Vai daí que o vulgo começou a chamar aquele ponto de largo de Santa Luzia, nome qua caiu no gosto popular e aquelas paragens começara a ser chamadas de bairro de Santa Luzia.
Bem ali, no início da Bernal do Couto, no final da década de trinta e início dos anos 40, fazia sucesso o tacacá da Iaiá e os bondes circulares, a partir das três horas e meia da tarde despejavam elegantes moçoilas e senhoras que vinham degustar a saborosa bebida.
No largo, no dia 13 de dezembro se comemorava a festa da padroeira da Santa Casa, Santa Luzia, com arraial e tudo.
Mas o tempo que corrói o ferro e apagas as lembranças aliado a esse monstro desumano que se chama progresso acabou com tudo.
A festa de Santa Luzia, hoje em dia, se resume em uma missa rezada pelo cônego Ápio Campos dentro do mercado - iniciado por Abelardo Conduru e terminado em 10 de novembro de 1943, por Alberto Engelhard - e a procissão que percorre a avenida Generalíssimo Deodoro, Diogo Móia, Alcindo Cacela e Bernal do Couto, retornando a seu nicho no mercado. A manutenção dessa festa deve-se à sra. Zaquie Kizan Fraiha.
O largo hoje é a praça Camilo Salgado".
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José Valente ~ A história nas ruas de Belém: Umarizal (1993)
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fragmentosdebelem · 3 months
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Grupo Mãos Dadas, d. 1980 / Documentário Belém aos 80
"Beto, Josse Fares e Paulo Nunes, do Grupo 'Mãos Dadas', vão alegrar, com acordes e palavras as cores do circo do Centur, quando apresentarem a sua mostra de literatura e múisca infantis. As performances 'vão desde as cantigas de roda (que embalam nossa imaginação e nossos sonhos) aos poemas cheios de graça e encanto', poetiza Josse Fares. O grupo apresenta ainda as travessuras da 'Abelha Abelhuda', uma gostosa conversa com o 'Pato'.
Com a participação de Mônica Fares, neste domingo 'tem espetáculo, sim senhor'. E mais do "Mãos Dadas': 'Bambalalão'; 'Atirei o pau no gato'; 'O chapéu de três pontas' que será interpretada pelo Beto, para a curtição da garotada. As obras apresentadas pelo grupo são autoria de Vinícius de Moraes, Mário Quintana, Heliana Barriga, Marina Colasanti, Drummond, Lulli e Lucina, entre outros".
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Show na Praça do Povo em Jornal O Liberal de 2 de abril de 1989
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fragmentosdebelem · 3 months
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Barraca de cachorro quente, 1985 / Luiz Braga (2014)
"Os carros de cachorro quente presentes em qualquer bairro de Belém simbolizam não somente a necessidade urbana de se alimentar, mas laços socioculturais e econômicos. Juntamente com outros tipos de comida de rua, eles fazem parte da trajetória da cidade, beneficiando consumidores e trabalhadores.
Apesar de a rua ser um local regulado por normas públicas que permite muitos olhares e usos, as ações que envolvem a comensalidade nos carros de cachorro quente atribuem sentido às esquinas de Belém, ao menos àqueles frequentadores desses espaços. Ao meu entendimento e, diante dos relatos obtidos, os carros parecem fazer parte da rotina da cidade, os deixando, em alguns momentos, “invisíveis” à maioria da população.
Os carros são empreendimentos noturnos atendendo a um público variado que busca nestes lugares a identificação, o prazer de comer, a sociabilidade, os costumes da cidade, entre outros valores. As experiências vividas aqui é algo que marca a comensalidade dos frequentadores desses carros.
A ida aos carros é também a busca de uma relação de confiança e de amizade. Embora nem todos os clientes partilhem dessa relação, por exemplo, quando o cliente chega, faz seu pedido, come e vai embora, ele é apenas um indivíduo fora desta relação, mas é reconhecido como um assíduo frequentador. Contudo, quando ocorre a aproximação relacional, este cliente ocupa uma categoria de conhecido, de chegado, de amigo etc."
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Benedito Ferreira ~ Comida de esquina, comensalidade em torno dos carros de cachorro quente em Belém-PA (2015)
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fragmentosdebelem · 4 months
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Praça da República com r. Oswaldo Cruz, [s.d.] / Ebay
"Posso finalmente, anunciar-vos que o serviço de limpesa da cidade acaba de entrar numa fase da quaal espero os melhores efeitos para a comodidade pública. Desde a sua primeira reunião ordinária de 1901, me autoriza o Conselho a rever e inovar o contrato respectivo, sobre bases mais equitativas para o arrematante, sem esquecer os interesses da população e do erário municipal (…)
Entrou o novo serviço a ser feito no dia 1º de maio citado, com grandes proveitos para a população. É este, na realidade, um melhoramento de monta, que de forma poderosa contribuirá para tornar mais asseada a nossa capital, mais realçadas as suas belezas materiais, mais profícuos os trabalhos da higiene pública, da qual decorrem tamanhos benefícios à saúde dos munícipes.
Esperemos que a população, sempre ciosa do asseio urbano, auxilie a Intendência em quanto depender de sua alçada para que o novo contrato se torne efetivamente útil"
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O município de Belém, relatório apresentado ao Conselho Municipal de Belém na sessão de 15 de novembro de 1905 pelo Intendente Senador Antonio José de Lemos (1905)
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fragmentosdebelem · 6 months
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Educandário Eunice Weaver, Pratinha [s.d.] / Infância, crianças e experiências educativas no Educandário Eunice Weaver em Belém do Pará (1942-1980) ~ Tatiana Pacheco (2017)
"A administração interna do Educandário era de responsabilidade das freiras da congregação Filhas da Caridade São Vicente de Paulo. Estas se deslocaram do Ceará para Belém para auxiliar na manutenção da instituição, permanecendo na função até o início da década de 1990, período em que o espaço não abrigava mais os filhos de hansenianos. As congregações religiosas tiveram grande influência na educação de crianças internas no Brasil, um investimento religioso na infância, desde o processo de colonização".
"Durante o dia a gente estudava de manhã, aí de tarde a gente ficava fazendo bordado, essas coisas assim entendeu? A gente fazia isso. No sábado e no domingo, capinava no jardim, não era coisa pesada não […] mas depois de uma certa idade, aí a irmã começou a botar, a irmã não, a Fátima essa malvada né. Ela me botava pra capinar, pra lavar a casa que era grande né, começou a botar pra gente encerar, aí começou a botar a gente pra trabalhar, só que quando a irmã chegava ela mandava a gente parar, a gente não podia contar pra irmã senão a gente apanhava, a gente tinha muito medo dela, a gente tinha ela como um monstro mesmo"
"Mas também a gente era muito assim torturado assim, não pelas irmãs, os funcionários que tomavam conta da gente, entendeu? Antes de tomar banho era peia, antes depois do almoço pra gente deitar era peia, então era uma coisa assim, era castigo no escuro, era muito sofrimento assim, entendeu. Às vezes, égua, era uma situação assim, mandavam todo mundo ficar nu assim na frente de todo mundo, era muito chato isso. Mais de 11 anos 12 anos, já estava nascendo o nosso seio né? Era muito vergonhoso isso. Era uma funcionária que tinha lá que mandava todo mundo ficar nu pra tomar banho todo mundo junto, aí ela mandava a gente esconder o seio que era adolescente, depois eu soube que era sapatão essa mulher, era uma mulher muito monstruosa […] ela foi do Educandário também, era os mais velhos que tomavam conta da gente, eu acho que ela nem batia muito bem, era ruindade mesmo, era ruindade mesmo, infelizmente. Aí durante o dia aí quem maltratava muito a gente era essa mulher, era muito monstruosa. Tudo ela batia na gente! Era escondido das irmãs que elas faziam entendeu? Agora tinha vezes que as irmãs pisavam na bola, essa situação, até isso! Ela obrigou a gente roubar, essa mulher obrigou a gente roubar. Foi eu, Regina e umas quatro né, quando a irmã descobriu, aliás eu nem estava no meio, agora que eu me lembro que eu nem estava no meio. Mas só que a cada mês ela gostava de uma menina, era especial pra ela e ela tratava bem essa funcionária; quando a irmã descobriu me botaram no meio. E a irmã falou: agora você vão fazer tudinho como vocês roubaram! Subir pela janela assim, assim… Era muito ruim, tivemos que fazer e se contasse, aí as irmãs obrigou a gente a fazer isso né, e não fui eu, mas como a Fátima indicou que tinha sido eu né, aí eu tive que confirmar porque se não era selada a peia. Era muito ruim ali, eu tinha vontade até de me matar às vezes sabe? Eu tinha vontade mesmo".
"Ah! a Fátima, o nome da mulher era Fátima, coisa ruim era essa aí! A gente pegava peia, muita peia e ficava muito de castigo, muito ruim. Égua a gente passava muita coisa lá!. Tinha vezes assim, não tinha um porão né, nós escutamos uma zoada de lá de noite, aí todo mundo com medo, aí essa Fátima fez a gente ir lá no porão 04 e sempre eu estava no meio, parece que ela tinha marcação com a minha cara e a gente com medo, já pensou se tinha um cara lá? Ia matar a gente, estuprar a gente lá, e a gente tudo com medo, escuro, escuro, e daí não, a gente não vai, não vai".
"O que me marcou muito foi essa maldade da Fátima mesmo, eu fiquei muito traumatizada com essa mulher viu, ela maltratava muito a gente, torturava a gente. Tu é doida! […] A gente só comia com o cipó do lado com cinturão, porque tinha vezes que era só o dia da ossada, era só osso entendeu? No feijão; aí tinha um peixe tipo farofa, muito ruim, a gente comia a peso de porrada lá. O café da manhã era café com leite e pão normal, quando não, era bolacha, e a janta era sopa"
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Infância, crianças e experiências educativas no Educandário Eunice Weaver em Belém do Pará (1942-1980) ~ Tatiana Pacheco (2017)
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fragmentosdebelem · 7 months
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Círio, d. 1970 / RTP
"O mais importante santuário à Nossa Senhora de Nazaré está em Belém do Pará. Seu início remonta à uma imagem encontrada por um certo Plácido, na virada da segunda metade do século XVIII, em uma área de floresta nas proximidades da Estrada do Utinga. A origem dessa pequena imagem esteve até há pouco envolvida em mistério. Indubitavelmente é um trabalho do entalhador Hans Xaver Treyer, de Brixen, Tirol do Sul. Ele veio à Belém em 1703 e montou sua oficina no colégio dos missionários jesuítas [Igreja de Santo Alexandre]. Dela vieram várias imagens para as igrejas das missões nas margens dos rios do norte do Brasil, como aquelas no Murtigura [no município de Barcarena], Iburajuba [no município do Moju], Jaguarari​ [município do Acará], Chibrié, Sauma, Itacuruçá [muncípio de Abaetetuba] e Piraveri [no município de Altamira].
Na busca por madeiras adequadas para seu ofício, irmão Treyer vagava pelas matas e, conforme com o costume, fez um nicho em uma árvore onde colocou uma imagem de Maria - um local para relaxamento e restauração religiosa após o trabalho.
Treyer pereceu em um naufrágio no alto rio Maracanã, na comunidade indígena de São Miguel. O nicho com a imagem permaneceu esquecido, até que 13 anos depois o nativo Plácido a encontrou. E assim ela aparece sob a denominação de Nossa Senhora de Nazaré na história religiosa do Pará e Amazonas. No seu aspecto, as características faciais da imagem denunciam a mão do entalhador tirolês e se diferenciam bastante das imagens portuguesas de Nossa Senhora. A veneração a Maria ganhou novo impulso no Pará quando a esplêndida basílica do Padre Afonso Georgi, da ordem dos barnabitas, foi construída. A festividade de Nossa Senhora de Nazaré organizada anualmente em Belém pode talvez ser considerada a maior celebração religiosa vista no Brasil".
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Carlos Borromeu Ebner ~ Das Marienbild Nossa Senhora de Nazaré am Amazonas (1954)
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fragmentosdebelem · 7 months
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Casa Laura, 1968 / Acervo Phillip Hodgdon via Nostalgia Belém
"Casa tradicional, instalada na área externa do Mercado de Carne, na qual se vende uma variedade de produtos, dentre utensílios de cozinha e artigos religiosos como imagens e quartinhas. Dona Castilha Veloso, belenense, filha de portugueses, chegou a ficar conhecida como Dona Laura, em função do nome do comércio que adquiriu décadas atrás. Feliz com o nome herdado da antiga proprietária - uma mulher de fibra, segundo ela -, relembra que nos anos 1940 ali funcionava um café, que numa cisão dos negócios da antiga família proprietária, deu origem à loja, então dedicada à venda de tecidos e perfumaria. A mudança no tipo de comércio foi introduzida pelos Veloso, com a intenção de atingir consumidores que vinham diariamente das fazendas do Marajó e da região das ilhas. Hoje a casa é administrada pelo casal Raimundo e Castilha Veloso, com a ajuda da filha, Fátima, que praticamente cresceu ali (...)"
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Ver-o-Peso ~ Luciana Carvalho (2011)
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fragmentosdebelem · 7 months
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Av. Pres. Vargas, 1966 / Acervo Takashi Hiratsuka
"Notícia Banal. Há vários dias um pobre mendigo jaz enfermo na calçada da Presidente Vargas... Ontem à noite o infeliz dava indícios de que ia falecer, o que levou um guarda noturno a telefonar para o 'Mário Pinotti' de onde disseram não haver no momento ambulância disponível para recolher o doente. Ligando para a Permanência da Central dali informaram o vigilante que o assunto era da alçada do 'Mário Pinotti'. A finalidade da polícia era outra. O certo é que até tarde o moribundo mendigo se achava abandonado naquele local, sem que surgisse uma providência".
MENDIGO (em repentinas contorções e espasmos) Ai! Ai! Ai!
PROSTITUTA (voltando-se para o mendigo) O que foi?
MENDIGO Ai!… me acudam depressa
POLICIAL Ainda mais este velho gouguento
MENDIGO Ai… Ai
PROSTITUTA O que o senhor tem? Diga.
MENDIGO Falta de ar… de… ar
POLICIAL É manha
PROSTITUTA (examina o mendigo, demoradamente, enquanto persiste os seus gemidos cada vez mais fracos) Ele está com febre alta.
POLICIAL E eu com isso?
MENDIGO Ai! Ai!… Está… me dando… uma coisa…
PROSTITUTA Coitado. A respiração dele vai sumindo, sumindo; será o princípio da morte?
POLICIAL O que ele tem é indigestão. Gulodice. Quem mandou comer porcaria de lata de lixo?
MENDIGO (gemidos cada vezes mais desesperados) Ai! Ai! Minha Nossa Senhora, Valei-me…
PROSTITUTA (para o policial, angustiada) Ele precisar ser internado no Pronto Socorro Municipal. Ajude o infeliz, ele não está implorando?
POLICIAL Pra mim não: por enquanto ainda está se valendo de Nossa Senhora…
MENDIGO Ai! Ai! Ai! Ai! Ai!
PROSTITUTA Faça alguma coisa
POLICIAL O que você quer que eu faça?
PROSTITUTA Telefone
POLICIAL A melhor solução é ele ir embora daqui
PROSTITUTA Como, se o pobrezinho não tem família e não pode nem se levantar?
POLICIAL Cada qual carrega a sua cruz. Não tenho nada com isso. 'Quem pariu Mateus que o embale…'
PROSTITUTA Quem pariu você é que…
POLICIAL Que o quê?
PROSTITUTA (reflete) Bom, a sua mãe não tem culpa de ter feito nascer um jumento
MENDIGO Ai! Ai!… Estou nas últimas… (sofre um brusco desmaio)
PROSTITUTA Meu Deus, ele morreu.
POLICIAL (ar de espanto) Vôte! Morreu? Não é possível
PROSTITUTA (lagrimando) Viu o castigo? Não queria escândalo, nos enxotou pra que tudo neste quarteirão permanecesse tranquilo, o resultado foi esse (soluça). Tadinho do velho… tão humilde… tão bonzinho…
POLICIAL Estou arruinado, Não se pode tocar no cadáver antes do médico legista chegar, o médico legista não vai chegar antes das nove ou dez horas da manhã, o ajuntamento dos curiosos vai aborrecer o dono da loja aí do lado, ele corta a minha gratificação no fim do mês e não me dá mais gorjeta, um verdadeiro desastre. E o meu chefe que ia me arrumar uma nomeação pra investigador efetivo? Nem quero lembrar a cara do meu chefe. Adeus, nomeação. Mas eu me vingo!"
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Nazareno Tourinho ~ Lei é lei e está acabado (1968)
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Doca de Souza Franco, 1935 / University of Wisconsin-Milwaukee Libraries
"No dia 6 de maio [de 1964] a Prefeitura retirou da avenida Marechal Hermes (…) 50 casebres de madeira e remanejou os seus habitantes para uma 'área desocupada' no então distante bairro da Marambaia (…) Prefeitura e SNAPP fizeram um convênio para remoção dos moradores, 'onde se constituíam, a par de um conglomerado de famílias pobres e honestas, um foco de malfeitores e desajustados'
O ajuste garantia que a Polícia Federal e a prefeitura de há muito pretendiam acabar com essa favela, 'antro de vagabundos e maconheiros, embora morassem também ali pessoas humildes e honestas', em função dos crimes que eram cometidos, 'inclusive de morte'. Mesmo desalojadas, as famílias 'mostravam-se compreensivas com a operação, por saberem, sobretudo, que não ficariam desamparadas".
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Álbum da Memória ~ Lúcio Flávio Pinto (2014)
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fragmentosdebelem · 7 months
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Igreja de São João, d. 1970 / Coleção Augusto Silva Telles
"Morávamos na rua Santarém (chamada hoje Rodrigues dos Santos), número 10, próxima à igreja de São João. Mamãe pertencia às Irmandades de São João e os 4 irmãos menores frequentavam com entusiasmo a Cruzada Eucarística Infantil Santo Agostinho. Uma leiga fervorosa, a cardiologista Bettina Ferro de Souza (...) era a diretora da catequese, liderava as catequistas e o grupo de crianças e adolescentes com o ensino e certames de Catecismo e História Sagrada".
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Lembranças de uma vida Monsenhor Geraldo Menezes ~ Irmã Marília Menezes (2019)
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fragmentosdebelem · 8 months
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Belém, 1982 / Belém ~ Jean-Claude Denis (2005)
"A vasta baía dilatava-se a perder de vista, a trechos cintilante ou fosca, conforme era o pedaço de céu que se espelhava nela, um verdadeiro céu paraense, aqui límpido, ali carregado de nuvens, numa parte azul sereno, noutra plúmbeo de borrasca, mais além mosqueado, mais aquém marcheteado, e belo em toda esta incongruência que não permite, às pessoas pouco familiarizadas com ele, estabelecer uma previsão razoável sobre o bom ou mau tempo".
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Paulino de Brito ~ Conselho Estadual de Cultura (1970)
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fragmentosdebelem · 8 months
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Rude e o estoque, 1998 ~ Haroldo Baleixe
São escassos os relatos sobre Rudy Star, famoso produtor dos shows do Lapinha e ele mesmo uma das atrações da casa. Lendo os comentários em uma postagem sobre ele no Nostalgia Belém, há este pequeno relato biográfico do DJ Chocolate:
"Rudy começou sua carreira na sua cidade natal que era Salvador, o mesmo era baiano, chegou em Belém nos anos 70 e conheceu José de Alencar [dono do Lapinha], o mesmo ao ver seu trabalho o contratou ficando como diretor artístico da casa por muitos anos, todas as garotas eram escolhidas a dedo pelo Rudy, as mesmas tinham que ter um corpo perfeito, ser de maior e ter experiência em shows de strip tease. Rudy participou várias vezes no quadro de transformismo do programa do Sílvio Santos, passava meses em São Paulo se apresentando em várias casas de shows da cidade. O Alencar, o rei da noite, ficava chateado com essas viagens dele pois a alma da casa era o Rudy, os clientes perguntavam pela boneca baiana, era como o Alencar chamava ele carinhosamente. Grande profissional, uma pessoa ímpar que fazia a arte de dublar e dançar como ninguém, tenho orgulho de ter trabalhado com esse profissional por 15 anos. Ele apresentava todos os shows da casa, mas na sua ausência, dos quatro DJs da casa, era eu que apresentava por ter ainda uma boa dicção. Mas [Rudy] tinha seus defeitos como todo mundo tem. Gostava de amanhecer com os amigos e amigas em frente ao bar do Bitorro, na frente do Lapinha, quem lembra sabe. Além da bebida, infelizmente veio a maldita droga que levou o mesmo, veio a falecer. Mas isso nunca vai tirar seu brilho, seu profissionalismo e sua personalidade. Seu corpo está enterrado no cemitério Max Domini ao lado do seu patrão José de Alencar que também está descansando lá. Saudades sim, tristeza não, descanse em paz Rudy Star".
Sobre a morte de Rudy Star, Raimundo Eliezer Oliveira de Lemos, o DJ Chocolate, acrescenta:
"Estava esperando o Rudy na frente do Lapinha [do Jurunas] para irmos ao Lapinha do Outeiro com as meninas que iriam participar de alguns shows na casa, por conta das 10 da manhã o Rudy sofreu uma parada cardíaca fulminante e o mesmo veio a óbito".
Rudival Ferreira teria trabalhado por treze anos em Belém, desde que chegou à cidade em 1982, falecendo em julho de 1995. Foi dançarino, coreógrafo e produtor. A Folha de São Paulo publicou uma nota sobre o veto da Câmara de Belém a uma proposta do vereador Raul Meireles, este pretendia conceder honra ao mérito ao artista performático.
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fragmentosdebelem · 8 months
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Instituto Lauro Sodré, d. 1900 / Relatório Instituto Lauro Sodré 1904 via Laboratório Virtual ─ FAU ITEC UFPA
"AVANTE!
Hino do Externato Lauro Sodré
Sob o céu da Amazônia formosa, deste sol fecundante ao calor, entre a seiva de vida assombrosa que poreja do ardente Equador
peregrinos do estudo avançamos tendo o livro poe guia e bordão: à grandeza da Pátria aspiramos, nosso norte é da Glória o clarão
Essa glória das letras, tão pura, que não tinge do sangue o rubor, seja a nossa suprema ventura, seja o nosso castíssimo amor!
Mas, se um dia a Mãe-Pátria, ultrajada, um gemido de angústia soltar e da pena forjamos a espada, hão de raios da espada brotar!
E há de então aprender o estrangeiro, por mais forte que seja, e feroz, que no fértil torrão brasileiro, IRMÃOS todos, SENHORES só nós!"
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Paulino de Brito ~ Conselho Estadual de Cultura (1970)
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fragmentosdebelem · 8 months
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blv. Castilho França, Casa Cuia Verde & Cuia Preta, 1968 / Acervo Phillip Hodgdon via Nostalgia Belém
"Casa Cuia Verde. A casa tem mais de 100 anos, segundo seu atual proprietário e administrador, Álvaro Cambra Vieira, que não sabe precisar exatamente desde quando o comércio existe. Ele conta que seu pai, o português Álvaro chegou a Belém há 75 anos, já encontrou a Casa Cuia Verde instalada no Mercado de Carne, então em posse de um senhor chamado Fernando, para quem seu irmão Norberto já trabalhava e para quem também passou a trabalhar. Aos poucos os dois irmãos foram galgando postos na casa até se tornarem donos do negócio, que já envolve três gerações da família. As vendas hoje se concentram em produtos de confeitaria e cereais, mas no passado, eram de borracha, pirarucu, querosene, peixe seco e materiais para estiva. O comércio abria por volta das quatro horas da manhã, para receber o pessoal que vinha do interior, com quem se fazia escambo: os ribeirinhos traziam caça, peixe, borracha e trocavam por querosene, cereais e outras mercadorias para alimentação. Viajando desde a madrugada, as famílias ribeirinhas tinham fome e, pela manhã, pessoas desmaiavam no salão do comércio. Os donos da loja passaram a servir mingau e cachaça, em cuias pretas e verdes, respectivamente. Segundo Álvaro, 'a mulher do caboclo tomava o mingau e o caboclo tomava pinga'".
Casa Cuia Preta. Desmembrou-se da Casa Cuia Verde a partir do desmanche de uma sociedade, quando o português João Manuel Vilão assumiu o comércio, para a venda de gêneros alimentícios importados de sua terra, como queijos, bacalhau, azeitonas, grão-de-bico, vinhos e azeites portugueses. Na época, os vinhos chegavam em barris para envasamento no local, e os azeites vinham em grandes tanques e eram vendidos a granel. A casa, hoje, administrada por Carolina Vilão, funciona na área externa do Mercado de Carne e, além dos produtos tradicionais (que não se encomendam mais de Portugal, mas de São Paulo), também vende produtos de confeitaria e pães, que são adquiridos em uma panificadora especialmente para atender os ribeirinhos que vêm desembarcar frutas na Feira do Açaí, toda madrugada. Nazareno Santos, funcionário da loja há 30 anos, conta que se manda fazer pães tipo bengala exclusivamente para atender a essa clientela, por volta das quatro e meia da manhã. Conta: 'nossa primeira freguesia é o ribeirinho, que leva pão, açúcar e manteiga salgada".
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Ver-o-Peso ~ Luciana Carvalho (2011)
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