Por falar em elites.
A minha segunda sandes de presunto e mozzarella da vida foi comida durante um momento de crise. Em pleno Arsenale, durante a visita à Bienal de Veneza, recebemos a notícia que o nosso voo de regresso a Lisboa tinha sido cancelado.
A opção oferecida pela Ryanair depois de uma longa espera ao telefone era ficar em Veneza mais 3 noites até ao próximo voo. Felizmente, alguém teve a ideia brilhante de perguntar por voos a partir de outros aeroportos.
Foi assim que acabámos a ir até Milão para regressar a Lisboa. Só foi pena ninguém ter tido a ideia ainda mais brilhante de pedir um hotel para a noite extra, que ainda assim era necessária. Enfim, sempre a aprender.
Apanhámos primeiro um comboio para Vicenza, impunha-se fazer uma escala técnica na Vila Rotonda do Andrea Palladio.
Uma das coisas que mais me surpreendeu foi a relação da casa com a paisagem. Paisagem produtiva e paisagem representativa do poder do dono da casa.
Il 21 Settembre a sera.
Sono stato dal vecchio architetto Scamozzi, artista di vaglia, ed imaginoso, il quale ha pubblicata la raccolta delle opere del Palladio. Soddisfatto di scorgere il pregio in cui tenevo questi, mi fu cortese di alcune informazioni.
Fra gli edifici innalzati dal Palladio, havvene uno per il quale egli nudriva predilezione, e che vuolsi fosse la sua abitazione, il quale visto da vicino, fa migliore figura di molto, di quanto non appaia nel disegno. Vorrei averlo potuto disegnare, e rappresentarlo colla tinta che gli hanno data la qualità dei materiali impiegati, ed il tempo. Non si deve già pensare che il grande architetto si fosse costrutto un palazzo per proprio uso. Si contentò di una casa modestissima, la quale ha soltanto due finestre, che si aprono in un largo campo, dove si scorge nel centro una terza finestra finta. Se la si volesse disegnare, con verrebbe aggiungervi le due altre case fra le quali sorge, e se ne potrebbe fare un quadro piacevolissimo, degno di essere dipinto dal pennello del Canaletto.
Oggi sono stato a visitare lo stupendo edificio denominato la Rotonda, il quale sorge sur una amena collina a mezz’ora di distanza dalla città. È di forma quadrata alla base, con una sala circolare nel centro, la quale riceve luce dall’alto. Vi si sale dalle quattro parti per mezzo di ampie gradinate, le quali portano ad altrettanti peristili, formati da sei colonne di ordine corinzio. Lo spazio occupato dalle gradinate, e dai peristili è maggiore di quello del resto dell’edificio, il quale, in tutti quattro i lati porge l’aspetto di un tempio. Nell’interno questo a tutto rigore si potrebbe dire abitabile, non però fatto per essere abitato. La sala è delle più belle proporzioni, come parimenti le stanze; ma il tutto basterebbe a stento per residenza estiva di una famiglia distinta. E grande la varietà di aspetto che porge il complesso dell’edificio, colle tre colonne sul primo piano; si gode da quell’altura vista stupenda delle contrade circostanti, ed il fondatore dell’edificio, il quale volle ad un tempo istituire un fedecomesso, ed un ricordo visibile della sua sostanza, raggiunse pienamente il suo scopo. E nella stessa guisa che oggi la Rotonda appare in tutta la sua splendidezza, da ogni punto delle campagne fra cui sorge, si gode da quella, vista piacevolissima di queste. Si scorgono il corso del Bacchiglione, le barche le quali scendendo da Verona si avviano verso la Brenta, e le ampie possessioni che il marchese Capra volle rendere inalienabili nella sua famiglia. L’iscrizione dei frontoni dei quattro lati, che forma un complesso, merita per dir vero di essere riprodotta
MARCUS CAPRA GABRIELIS FILIUS
QUI ÆDES HAS
ARCTISSIMO PRIMOGENITURÆ GRADUI SUBIECIT
UNA CUM OMMNIBUS
CENSIBUS AGRIS VALLIBUS ET COLLIBUS
CITRA VIAMI MAGNAM
MEMORIA PERPETUA MANDANS HÆC
DUM SUSTINET AC ABSTINET.
La chiusa è abbastanza curiosa; un uomo possessore di cotanto larga sostanza, esprime l’idea che deve pure soffrire, ed essere sottoposto a privazioni. Si può imparare questa verità a minor prezzo.
Na manhã seguinte, depois de mais uma bela viagem de comboio, agora em Milão, visitámos dois edifícios da Universidade Bocconi. O primeiro, desenhado pelo atelier das Pritzker Yvonne Farrell and Shelley McNamara: Grafton Architects.
O segundo, pelo escritório japonês SANAA, de Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa. Pritzker de 2010.
Foi giro chegar de férias e ter na ARX a El Croquis com este edifício na capa. Consta que algumas pessoas ficaram enjoadas com tantas curvas. A mim não me fizeram mal, mas já vinha com o estômago preparado pelos balanços dos vaporettos em Veneza.
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Não é fácil visitar o Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões. Mas vale a pena o esforço. Depois de muitas idas a Matosinhos sem planeamento para conseguir entrar, um domingo destes arrancámos em direção ao edifício.
Deixando o carro fora do porto resta fazer uma pequena caminhada ao longo do molhe, passando pelo Titan - guindaste do século XIX recentemente reconstruído depois de um acidente durante a construção do Terminal de Cruzeiros.
Ao entrar no edifício propriamente dito, somos recebidos pela guggenheimiana rampa central, que subimos para descobrir os seus vários usos. É isso, primeira surpresa, vários usos.
Originalmente concebida como zona de lojas dutty free, uma parte significativa do edifício acolhe hoje um centro de investigação marítima.
Em tempos pandémicos onde os cruzeiros são raros, foi simpático perceber que o edifício recebe harmoniosamente este uso complementar que não associaria a um terminal de passageiros.
Apesar de aparentemente arriscadas, as várias metáforas subaquáticas usadas no edifício contribuem da melhor maneira para o seu desenho orgânico, caracteristicamente marítimo mas sem ser literal ou cru.
O desenho cuidado das curvas, das escamas, das espinhas, das guelras, das linhas e das redes só contrasta com a aparente apressada construção do edifício. Novo - embora incompleto - sofre já de várias patologias.
Acredito, contudo, que pela capacidade de suporte a várias atividades que demostra, visitaremos por muitos anos o Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões.
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