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Mornin!
marlenem5
A piece of paradise
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still in my twilight phase, sorry
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Mr.Pineapple and Me
ebonyhaired
𝔣𝔞𝔦𝔯𝔢𝔰𝔱
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Até tossindo estou sozinho
eu detesto correspondência
fechei minha caixa de correio pois não aguento mais nada disso quebrei o espelho e sequei o lago
desmatei a floresta e tranquei o portão
não espero visitas, pode apagar as luzes
sujar a sala, fazer bagunça
só feche a porta antes de deixar sair
tranque a janela pra não deixar vazar
quando derrama como chuva é mais fácil
abre o ralo e deixa sair
mas eu não gosto de tirar o lixo pra fora
acho que eu prefiro conviver com ele
mas sabe, as vezes eu me escrevo uma carta
coloco selo e assino em baixo com outro nome
é pro carteiro não achar que eu abandonei a casa ainda
e não esquecer meu endereço
a pior carta que eu recebi dizia
"nem está tão ruim assim"
mas eu não saberia dizer
eu a queimei antes de ler
a fumaça tem estado aqui desde então
prefiro não mostrar sinal de incêndio
ou então a chuva poderia ficar de mal comigo
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Atelier abissal
eu caí em um buraco
tropecei, escorreguei
me afundei
o buraco não tem entrada
não procurei por saída
já desisti de encontrar
dizem que se vive antes do buraco
mas eu não me lembro disso
sempre vivi aqui
quando acordo
a sombra do buraco cobre meu mundo
então eu cavo um pouco mais para escapar
diz-se que há vida após o buraco
mas não sei se acredito em superstições
então prefiro não arriscar
ouvi dizer sobre a lua
mas no buraco não há céu
então eu tento sonhar com a visão de uma paisagem
não que eu saiba como é uma
tudo que minha visão já alcançou
foram meus próprios universos
dizem que o mundo é grande
e eu me pergunto
quantos buracos meus cabem nele?
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Tribunal
eu não vou tentar fingir
que a culpa não é minha
derrubei a torre de blocos
o jogo acabou e a conta é no meu nome
eu prefiro esquecer de mim e do mundo
se eu não puder lembrar que falhei a todos
eu vivo bem comigo mesmo
e guardo o boleto pra pagar outro mês
mas minha carteira já não consegue
meu salário não seria o suficiente
esquecer já não apaga da sua memória
e o perdão não faz dinheiro aparecer
eu errei o tempo todo com você olhando
mas tudo isso foi por que eu tive medo
de você saber de todos os erros que eu já me esqueci
e de você descobrir que eu erro
eu não confiei o suficiente em você pra te contar
o tempo passou e eu acumulei a conta
a escolha foi minha você só me assistiu
até tentou me impedir mas eu não te dei ouvidos
eu te peço desculpas hoje
não pessoalmente, mas saiba que houve o sentimento
eu nunca quis que fosse pessoal
eu só não queria ser uma falha pra você
e você só queria me salvar de mim
mas eu era demais pra mim e errado demais pra você
eu tentei crescer e me tornar alguém de quem eu me possa orgulhar
mas hoje eu volto como filho pródigo
eu já perdi tempo demais pra falar com você
eu já me perdi demais pra você me entender
eu já errei demais pra você me corrigir
eu já caí demais pra aprender a andar
o que resta agora?
eu não tenho certeza
eu acho que vou me arrastar na lama mais um pouco
talvez alguém acredite que eu esteja tentando
pelo menos você diria que eu sou responsável?
pelo menos você acreditaria que eu sou especial?
você poderia abrir seu coração comigo mais uma vez?
sabendo que eu nunca confiei em você
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Assalto às Regras Sociais
saia do meu campo de visão enquanto tem a chance
porque ao meu ver você me faz um idiota
me dá pane no sistema, borboleta no ouvido
não escuto, não falo, não penso, apenas olho
e você vai ter que me perdoar mas você é bem observável
talvez eu não tenha chance
talvez devesse me calar
recuar e voltar pro buraco de onde vim
esperar minha hora de me aproximar
atrás da parede invisível das relações sociais
mas você não parece ver essas
porque jamais estaria no seu menu alguém tão pequeno
portanto dê um jeito logo nessa situação que eu me enfiei
antes que eu assalte a mão armada a barraquinha de amostras grátis
pois eu sonho de dormir acordado pensando em ti
espero que isso valha de alguma coisa
contra tudo, todos e qualquer um
mas espero ao menos que você se lembre da pessoa que nunca tentou
do que nunca fui e não aconteceu
da mera possibilidade despojada na aula de literatura
que descartei sem dar consideração
da desistência de um competidor logo antes de anunciarem o torneio
do fax que eu te mandei com meu olhar
com minha estrela favorita, minha cor predileta e um pedacinho do meu ser
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Maestro, pare por favor
que honra é fazer parte da grande orquestra
ter uma cadeira com meu nome escrito
ou pelo menos assim me disseram
não é como se eu soubesse ler para checar
que honra é dedicar meu som
à melodia conjunta que reverbera no salão
ou pelo menos assim me contaram
não é como se eu soubesse o que estamos tocando
que alegria é terminar uma performance
e transformar o suor em orgulho
ou pelo menos assim me ensinaram
não é como se eu soubesse a hora de finalizar
e num solo eu continuo, para a surpresa de todos
mas se bem que poderia ser apenas um som
ou apenas um incômodo
afinal música exige mais do que apenas eu
que honra é ouvir chamarem meu nome
afinal eles reconhecem meus feitos
não é como se fosse tudo culpa minha
é?
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Convívio
eu aprendi a desenhar com figuras de palito
foram meus professores em uma era de matemática
de escrever na borda do caderno a resposta
que eu não soube dar pra você
ou pra mim
quando me perguntei qual era o tempo verbal da nossa conversa
mas espero poder te contar que eu não sei
até porque tem um reconforto em poder saber
que a culpa não é toda minha
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Webcam
meus olhos travaram no vazio do espaço
memória insuficiente para carregar o todo
que acaba por esquentar meu hardware
analisar os zeros e ums da improbabilidade astronômica
de conseguir algo que já vem de fabrica
um problema que até tem conserto
mas não no meu caso
que tão especial se faz uma excessão à regra
pelo puro medo de deixar acabar
de trocar de página e se tornar um mentiroso
por estar na linha certa do arquivo errado
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god put a smile upon your face
o coração bate
querendo escapar do peito
ele espera liberdade
bate com força pra não ouvir os pensamentos
a verificação de que a realidade está presente
bate desregulado para omitir a verdade
fugir do pesadelo que é estar acordado
nesse momento as pernas fraquejam
esperando ceder
talvez para me acordar
bambeiam no ritmo da minha cabeça
que não digere o que acontece
não resolve o problema mais simples de todos
não encara o que está na minha frente
e o mundo segue gerando o que é agora
que sempre foi tão escuro e claro
tão obviamente ignorado
tão tristemente escancarado
que na minha frente acontece
o partir do soneto de amor à vida
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O holandês voador
quando os ventos d'estibordo não mais carregam meu navio
quando a proa desmancha em alto mar
quando a quilha se prende, se parte
se vai, se quebra em fúria
quando a vela rasga
pela chuva, tempestuosa
que não passa
cai, arrebata, e derrama
como tinta, como cor
como tristeza
de um capitão, marinheiro
pirata do próprio desejo
com o timão em mãos
velejando contra um motim
no que restou sob as ondas
em direção ao sal
ao ensurdecedor silêncio
ao cemitério de madeira
ao oceano
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L'appel du vide
como não te odiar se vc já desistiu de mim
se olhou no espelho e decidiu que melhor não
anda pela rua olhando pro chão
pelo menos aceita que é o que é
um futuro preto e branco sem chuva nas nuvens
que o sol bate forte até nos dias nublados
e o pensamento de que o não acordar teria sido melhor
os lençóis companheiros em um abraço quente
o caixão que falta o último prego
um problema com a própria imagem
o próprio pensamento, consciente e autodidata
das maneiras de se avaliar
se auto critica é importante o quanto disso eu levo pra lá
uma bomba relógio sem timer
esperando a explosão pra agradecer
uma vida patética, uma morte sem sentido
sem esquerda, direita, um norte
um proposito maior pra cumprir que não seja a carne
tão azarada, tão viciada
no mal, no ruim, no fim
que se junta a mente pra te tirar da estrada
virar a rota, perder o mapa
se o problema era o espelho, não era só comprar outro?
mas não ta lá, ta tudo aqui
um transplante de cérebro emergencial pra alguém que não quer mais ser
"sabe foi importante te ter por aqui
vem mais vezes q eu gosto de te ter por perto"
mas eu não sei o quanto mais disso resta em mim
o desejo de estar, de querer, de desejar
de poder ser, sem me avacalhar
tropeçar, cair, e recomeçar
de querer viver, de querer acabar
andar, cair, e levantar
eu que sou só eu e não sou você
mas não sou eu
não eu o suficiente pra mim
que sufoca a mim mesmo
aperta inspira e expira
prazo acabado para ser o que não fui
um pedido de desculpas assinado por nós
ele, você, vós
tudo menos eu
por favor.
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Elysium
e então: nada
nem mesmo um grão de malte
um grande, vasto, oceano de nada
a inexistência, o silêncio
o pós e o pré-criação
o degustar do paraíso do fim
do começo
do tudo
da possibilidade
da ausência da essência do porém
e da saudade lapidada
em olho humano
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Movimento Retilíneo Uniforme
duas pessoas em silencio
em uma sala vazia
cheia de pessoas
cheia de vazios
e de silêncio
elas conversam sobre o dia
que não há nada para conversar
sobre o céu e as estrelas
uma conversa hipotética desencorajada pelo silêncio
um avião passa quebrando a mudez
os dois manequins se entreolham
antes de encarar a janela da rua
o horário comercial não se importa com o silêncio deles
espantalhos em um museu de arte moderna
em greve contra o esquecimento de uma memória
de luto contra o passar do segundo
observando a arte abstrata da prorrogação
o pré purgatório
o que a gente estava fazendo mesmo?
uma sala cheia de cotidiano
de possibilidades e passado
talvez falta de consideração
mas essa história fica para outro museu
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pensamentos além do jardim
eu não quero viver o hoje
não como alguém que quer morrer
mas como alguém que não quer ver o tempo passar
quero viver em um caco de vidro
quebrado do espelho que reflete a minha imagem
o mesmo caco que corta quebra e some na lixeira
eu quero viver o seguro momento que sei ser feliz
do momento que sei que estava bem
pois a inconstância do agora
e as vozes na minha mente
não são lugares para se estar
para se chamar de agora
eu quero procurar o mar
que tão longe está
e ao longe vai
com suas águas infinitas
carrega tudo para o nada
o além do infinito
o interminável ciclo
talvez a necessidade de um espelho se vá com essas ondas
talvez minha imagem desapareça com o subir da maré
quem sabe um dia eu me una aos peixes do oceano
até lá vivo preso no escuro do meu próprio quarto
a auto proclamada liberdade por quem vê
fez mais uma vitima em uma criança tentando crescer
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o desapontar de uma mariposa
a porta fechada não me deixa entrar
a janela fechada não me deixa olhar
a vitrola arranhada levou meu choro embora
as nuvens no céu carregam meu pesar
o dia escurece e a felicidade vai com ele
todos estão ali porém ninguém está lá
procuro as cores na luz do sol
mas se forem bloqueadas pela sua silhueta tudo bem
o escuro é confortável ao seu lado
mas vejo o brilho nos seus olhos procurarem a sombra de outro
o cair da água me incomoda
suas nuvens se formaram tão depressa com o chegar dos novos ventos
e você procurou abrigo ao longe
rumo ao desconhecido
restando a mim tão somente o despejar da agua
a visão distante de algo que eu nunca tive
você olha pra trás uma ultima vez
e nos olhos teus eu vejo um pouco de mim
refletido na agua que impiedosa, lava
e leva a luz pra longe de mim
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Adeus a tudo que é mais sagrado
o luto pelo sumir do sol atrás do horizonte
da escuridão que toma o antes do amanhecer
a descrença do próximo nascer do sol
quem me garantirá que esse ciclo continuará amanhã
que ao acordar o sol vai brilhar mais uma vez
para que dormir não pareça tão assustador
nos levantamos do chão para ele retornar
do milagre ao desastre
uma catástrofe sem fim
premeditada por lápides guardando o girar do ciclo
se morrer é o natural
por que tanta preparação
medo e rejeição
ao abraço caloroso do fim do século
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Ampulheta
ja vivi o que tinha de viver
ja fiz tudo que queria e muito mais
a vida ja me entregou tudo o que tinha de entregar
mas continuo vivendo o hoje acorrentado
um prisioneiro do amanhã
do pesar
e do pensar
o acontecer machuca
o inevitavel intervem
o improvavel acontece
e o eterno continua
um cronometro quebrado
pensado por um louco
que talvez tenha sido deus
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Memórias Póstumas
Será que vou ainda me lembrar
dessa noite escura de lua ofuscante
de estrelas aparentes pontilhando o céu
de cores destacadas nas silhuetas tão dispersas
me lembrar do que senti ao confrontar o teu olhar
essas memórias de um dia tão quente e frio
tão perto e reconfortante
tão distante e desconfortável
a impossibilidade é uma ferida
que não sara, não sangra, nem mata
mas dói
isto infelizmente não é um adeus
é uma despedida a uma ferida aberta
um retrato falado do dia que o sol se pos
e nada aconteceu
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