Tumgik
amariarzon · 3 years
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“Mas meu bem, eu ainda nem comecei a viver.”
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amariarzon · 3 years
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se estivermos numa daquelas conversas em que se tenta compulsivamente conhecer o outro, provavelmente você vai me ouvir dizer que sou insensível.
eu não estarei me fazendo de.
essa não é uma camada.
não vai ser preciso você adentrar a mata selvagem do meu ser ou qualquer analogia idiota e cansativa pra chegar ao núcleo. eu tenho muita preguiça de me esconder.
sou isso mesmo que você está vendo.
in sen sí vel.
mas talvez essa palavra não seja a palavra certa. eu sinto as coisas. eu só não acho isso tão importante.
se você me conheceu um ano atrás, você vai se perguntar: onde está aquela menina que me disse sobre quanto sentir é incrível?
bem, eu menti. sentir é normal. sentir é como escovar os dentes ou como tomar café da manhã ou como a pronúncia da palavra que você mais gosta: algo tão natural que por vezes você esquece que faz e vai no automático.
porque eu disseco as coisas de forma científica e vou travando as batalhas de forma analítica e até depois do desespero ou da crise ou de algo que eu não consiga controlar direito, porque até depois de tudo isso, chegará o silêncio imaculado onde eu vou calmamente tentar processar cada pedaço de coisa arranhada ou perdida. e até quando eu derrapar nas curvas das emoções e acabar num acidente grave por amor
até depois disso
eu vou me recolher e puxar cada casca até que eu saiba exatamente o que me atingiu
e eu vou fazer pouco caso de tudo. como se eu soubesse tudo. e depois rir. porque eu não sei. e não importa.
então você vai me ouvir dizer que sou insensível porque eu passei alguns anos tentando fazer com que as pessoas entendessem quando eu dizia que não me comovo muito com as coisas. dizer “insensível” pareceu funcionar até que eu percebi que começaram a me ver como um desafio a ser vencido
“essa é a sua proteção” eles disseram
“um escudo” decidiram
e vieram com tudo. com todas as armas. com insistências e urgências. com imediatismos e intensidades.
eles socaram o que acharam que era um muro
mas era em mim o nocaute
sempre foi em mim o nocaute
e quando eu canso
e quando eu vou embora
as pessoas costumam dizer que não me permito ser amada
mas eu é que não vou viver na sombra dessa minha versão inventada que paira na sua cabeça
eu abro mão do amor, me conheça
e se não gostar, me esqueça
fins são tão normais quanto tropeços
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amariarzon · 3 years
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semana que vem é meu aniversário. e a gente sempre entra num período de epifania. vou fazer 29 anos, cara. é muito tempo vivendo. quando eu era adolescente, eu meio que não acreditava que ia chegar tão longe, que eu conseguiria tantas coisas, que eu amaria tanta gente e seria igualmente amada e cuidada e querida. é bizarro. a gente chega sem saber viver e tem que agir como se soubesse. a gente vai se metendo nos lugares e relacionamentos e cargos como se já tivesse uma ideia do que tá acontecendo. mas a gente não tem, eu não tive. a sorte, eu acho, é que acabei dividindo meu tempo e energia com pessoas que ou já tinham aprendido ou me confortavam por também não saberem, por também estarem perdidas. porque, sabe, é normal a gente não saber tudo. não estarmos preparados pra tudo. não conseguirmos realizar tudo. ainda que eu me sinta movida a desafios, uma coisa que aprendi foi que algumas vezes vou fracassar de forma cinematográfica e que isso não vai me fazer pior, só humana, algo que tenho muito orgulho de ser.
é claro, esses conhecimentos vieram com a idade, porque eu já passei noites em claro pensando o que eu ia fazer se não conseguisse atender a tudo e a todos, de maneira excelente. é lógico que eu me preocupava. a gente não aprende na escola a lidar com o que dá errado (pelo menos não do lado de dentro da gente).
uma das coisas que eu mais gosto na convivência com a minha mãe, por exemplo, é que muitas vezes, em muitos contextos, ela me ensinou a errar e como levantar do tombo e continuar a vida: não necessariamente mais forte, mas incomparavelmente mais sábia.
então eu chego nesses 29 muito melhor do que cheguei em qualquer outro aniversário. ainda que existam dias muito ruins com os quais eu tenho que lidar. apesar das perdas, dos erros, das desistências. caras, eu cheguei. eu tô na vida adulta como nunca pensei que estaria. e tô acreditando em coisas que nunca pensei que acreditaria. uma delas é em mim. que doideira, mas que bom. que bom. tem sido ótimo estar viva.
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amariarzon · 3 years
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beber umas cervejas
ficar safada
desejar você
e nada
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amariarzon · 3 years
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everything i love is either expensive, illegal or fictional
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amariarzon · 3 years
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porque o budismo não me ensinou o amor como você ensinou. porque deus não ensinou o amor como você ensinou. porque as histórias dos orixás e do candomblé não ensinaram o amor como você ensinou
e tudo que você precisou foi que eu abrisse os olhos e resolvesse, por capricho ou ideal, sentir por você a coisa mais bonita que eu podia sentir. e era amor, antes que alguém definisse. era amor.
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amariarzon · 3 years
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choro bebendo iogurte, vendo the office, pensando nas coisas que queria ter sido e no porquê elas não foram. não tem poesia ou beleza. ganhei uma cortina nova. meu quarto parece mais inteiro. dormi com uma garota incrível. ela diz que sou calma. penso que toda pressa ficou naquela noite em outro peito. agora só vago e toco a vida com uma pele mais lenta e preguiçosa de quem precisa esperar uma cicatriz fechar antes de urgir de novo. tenho medo. de nunca ser feliz. mas suspeito que já sou. penso nas coisas não ditas. sempre elas. falo com o espelho. digo: por que você acha que tudo acabou como acabou? como você dorme a noite sem pensar nisso? me conta dos últimos dias, dos planos, dos terrores noturnos. me diz o que falta, o que aperta, o que freia. eu queria tudo. eu quis tanto tudo. e depois fui embora porque tudo é muito e eu não soube nem por onde começar a por a boca. queria contar dela. de como ela não é igual a nada que veio antes e isso é a coisa mais otimista que eu podia dizer. ela não é igual a você. e você diria que tá tudo bem. talvez esteja. é só que são uma da manhã e eu quis ver the office porque é minha comédia favorita, mas tô chorando. não parece tudo bem. vai ficar, você diria. mas a gente já não conversa mais então sou eu que tenho que dizer.
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amariarzon · 3 years
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eu tinha era preguiça de ser todas essas coisas. eu só queria beber minha cerveja e foder de ladinho. as pretensões eram mínimas. corrigindo, ainda são. eu queria amar muito e morrer cedo, como os poetas, mas sem ser poeta. isso sempre me soou muito dolorido e eu já tinha dores o suficiente sem saber lidar com as palavras. se eu soubesse, me perseguiriam. eu prefiro me afogar em algo mais alucinógeno, entende? palavras te fazem viajar, mas a ressaca é limpa. eu não merecia nada limpo. eu era a lama. ainda sou.
z
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amariarzon · 3 years
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o jorge tem um poema que escrevi pra ele na sala de casa, emoldurado, ao lado da tv.
às vezes eu fico pensando que amores complicados ainda são bonitos pra nos ensinar que temos que contornar o irresistível pela saúde da nossa cabeça, entende? eu penso nisso.
eu tenho quase trinta anos. alguns amigos casaram, têm filhos. eu tô nesse lugar diferente. parte por escolha e parte porque a pessoa com quem eu teria essas coisas tem problemas que não ultrapassam o amor.
a claudia disse que eu não posso afirmar que ele nunca me amou. que é mais confortável eu pensar nisso porque assim posso projetar uma raiva que me ajuda a entender que não vamos ficar juntos, mas que na verdade, eu não sei. ou até sei, mas não quero aceitar.
[então eu penso muito nesse poema emoldurado. porque ele é a grande verdade que eu não posso ocultar. ele é a coisa que me diz que tanto quanto te amar é um elefante na minha sala, seu amor por mim é bem além disso. é um quadro no seu rack de madeira reflorestada. alguma coisa que talvez você precise explicar pra outras pessoas.
como você fala sobre mim?]
me dói muito. me dói muito pensar que jorge me ama tanto quanto eu o amo. me dói porque não é suficiente. e porque o amor não é suficiente a gente perde um pouco daquele frescor de ser jovem e ingênuo. frescor do qual eu particularmente sinto falta porque era maravilhoso escrever sob olhos esperançosos caóticos e despreocupados.
eu ainda sigo descompensadamente romântica, é claro, mas com uma dose de realismo que eu preferia deixar pra depois. porque saber, agora, me dá taquicardia ao mesmo tempo que paralisa. eu amo real, mas queria amar fantasia como aos quinze anos.
o que é engraçado porque uma das coisas mais bonitas que me aconteceu foi crescer
enfim
eu nunca fui de guardar nada. não do lado de fora de mim. e acho que é pior. era melhor ter um poema na sala porque aí me esquecer vai ser se desfazer de um papel numa moldura.
esquece-lo é ter de me refazer
e quem me dera ser simples assim
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amariarzon · 3 years
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eu sempre tive medo de ficar nua pra você porque tu sempre foi muito bonito e eu não
porque tudo em você era certo e em mim era demais
seu rosto sem manchas seu corpo sem sobrepeso suas memórias sem traumas
eu tinha medo
então eu te perguntava
"por que eu?"
e você dizia que era o jeito como eu me movia
você não tinha medo dos risos e olhares
eu tinha
e como é que eu me movia
você dizia
"eu gosto do jeito que você se mexe"
mas eu tinha os ombros caídos e o olhar morto, eu tinha a covardia de quem não obedece aos padrões
você me olhava
como quem sabia
você era a fera
e gostava do meu medo
que me fazia
a presa
e quando eu não quis
você foi embora
porque alguns homens querem
nossas peles macias
mas não
nossas garras
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amariarzon · 3 years
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já dizia rita lee: gosto muito de mim, mas não é muito confortável ser eu.
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amariarzon · 3 years
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o problema é que eu não te devo nada, mas pago mesmo assim.
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amariarzon · 3 years
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ardeu bem mais do que permaneceu.
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amariarzon · 3 years
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você morreu, quando se moldou no que as pessoas queriam que você fosse.
é hora de renascer.
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amariarzon · 3 years
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o amor que não veio arruinou quem eu ainda podia ser apesar dos rumos que tomava
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amariarzon · 3 years
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conhecer muito mais de quem eu sou
pra não me preocupar quando alguém
me desconhece
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amariarzon · 3 years
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o estágio mais engraçado que você é capaz de chegar é aquele em que você desiste, chora um pouquinho, coisa de uns trinta minutinhos porque ninguém é de ferro, mas logo em seguida passa a mão violentamente pelo rosto enxugando tudo e rindo dessas coisas que você não passou nem uma nem duas vezes. vida amorosa, decepções cotidianas, coisas quem em geral se acumulam pra darem todas erradas num mesmo dia. não é que você esteja acomodado, não é que você goste de sofrer, é só porque chega uma hora que você entende que NÃO TEM O QUE FAZER. você querendo ou não, a vida vai seguir assim, você vai cair um monte de vezes e apanhar quase sempre. Que é? eu não vou ficar aqui te rodeando de floreios, se é isso que você tá esperando. tem dias já que eu tô simplesmente cansada dessas positividades bonitinhas que fazem tudo soar melancólico. na prática, nunca funciona. você continua apanhando do mesmo jeito, viu? não se engane. não adianta cantarolar cantiga de roda enquanto tá doendo. a dor é a mesma. chora o tempo que tiver que chorar, enfia o dedo na garganta, desentala o que tiver por aí e continua na força do ódio se for preciso. a vida vai te ensinar a bater primeiro sem machucar ninguém.
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