What do we do now? - Parte 2.
Parte 1 aqui.
N\a: Meus amores, durante o processo de escrita da segunda parte desse imagine, ele acabou ficando grande demais! Então acabei precisando separar no meio! A próxima parte já está prontinha, e assim que a quiserem, me avisem! Muito obrigado a quem mandou ask falando sobre a primeira parte, foi muito especial! <3
Uma ótima leitura! Lari
Contagem de palavras: 3,924
Três meses.
Tirei minhas malas do carro com a ajuda do motorista. Apoiando a capa de figurinos em cima de uma delas, me dirigi ao hall do grandioso hotel. Algumas semanas atrás recebi algumas mensagens da produtora de Harry, com as fotos de inspirações dos figurinos das primeiras semanas de volta em turnê. Desde o último show, Harry e eu pouco nos falamos. Na primeira semana ele dizia estar sobrecarregado com as gravações do filme, mas após duas ou três semanas, milhões de sites de fofoca especulavam que ele estava tendo um caso com a diretora do longa. Nunca tocamos no assunto, e com os dias, o contato foi esfriando até que por dois meses inteiros não trocamos nem uma letra.
Mitch estava no Hall, junto a vários outros funcionários da equipe. O abracei e cumprimentei a todos, informando que deixaria as malas no quarto e logo voltaria. Combinamos de jantar todos juntos, para conversar e contar como foram os últimos meses.
Após fazer o que havia dito, voltei. Agora já haviam mais alguns colegas que chegaram. A conversa estava divertida, um dos seguranças contava as peripécias do filho caçula que parecia ser um pestinha adorável.
Harry chegou depois de cerca de meia hora, empurrando sua mala ao lado do corpo, cumprimentando um por um com um abraço. Não sendo diferente comigo, Harry me apertou em seus braços e me levantou, me fazendo soltar um gritinho de surpresa.
O jantar também fora agradável. Harry contou algumas coisas sobre a rotina de gravações, e como algumas fãs tentaram invadir o set.
O primeiro show chegou, como seria na mesma cidade do set de gravações, alguns atores que contracenaram com Harry estariam presentes.
Desde a noite anterior, após o jantar me sentia estranha. Passara a manhã inteira me sentindo mal e vomitando qualquer coisa que encostasse em minha boca.
Estava terminando os últimos ajustes do figurino. O camarim estava cheio, a maquiagem e cabelo de Harry já estavam prontas, e faltava apenas a minha parte.
Eu já estava guardando as coisas quando o camarim ficou em silêncio do nada. O motivo foi que na porta estava a tal diretora do filme. Harry deu um sorriso sem graça, me encarando de lado antes de convidá-la para entrar. E assim que o perfume muito doce (que eu podia jurar que ela tinha tomado um banho daquilo) entrou em contato com meu nariz, meu estômago revirou no mesmo segundo. Não foi possível disfarçar. Corri para o pequeno lavabo com a mão sobre a boca e me ajoelhei em frente a privada, colocando o pouco de comida que havia conseguido almoçar á algumas horas.
Senti meus cabelos serem levantados, e vi Mitch me ajudando. A mão livre fazia um carinho em minhas costas e ele assoprava meu rosto. Sequei o suor da testa e lavei minha boca.
— Você está bem? — O moreno perguntou quando me recompus.
— Sim, acho que comi algo que me fez mal. — Fiz uma careta e ele sorriu, me puxando para fora do banheiro pela mão. Todos me encaravam, e eu queria me enfiar em um buraco.
— Tudo bem? — Harry perguntou. Assenti com a cabeça e soltei a mão de Mitch, indo pegar as minhas coisas. — Não vai ficar para o show?
— Acho melhor descansar um pouco. — Falei apoiando a capa vazia nas costas. — Ainda estou me sentindo um pouco mal.
— Posso pedir para alguém te levar ao médico. — Disse pegando seu celular na mesa de maquiagens. Olivia, a diretora estava sentada na cadeira dele, e parecia alheia á tudo digitando algo na tela do seu aparelho.
— Não precisa, foi algo que eu comi. Só preciso dormir e amanhã estarei 100%. — Forcei um sorriso, Harry suspirou contrariado mas aceitou. Me despedi desejando um bom show a todos e voltei para o hotel.
Minha barriga roncava de fome, mas depois de mais uma tentativa frustada de me alimentar e acabar botando tudo para fora, decidi dormir.
Na manhã seguinte, acordei ainda me sentindo nauseada, e depois de mais um episódio tendo que fugir para o lavabo, não consegui fugir da consulta médica quase forçada, que Harry fez questão de ir para que eu não tivesse a oportunidade de escapar.
Estava sentada em frente ao homem de jaleco branco, enquanto Harry estava sentado do lado de fora na recepção. Depois de um exame rápido, ele anotava algumas coisas em um bloco antes de me olhar.
— Quando foi sua última menstruação? — O homem loiro perguntou, tirando os olhos do papel para me observar.
— Cerca de duas semanas atrás. — Ele assentiu com a cabeça.
— Bem, vou lhe indicar alguns exames, para descartar a opção de uma infecção ou algum tipo de vírus alimentar. — Me estendeu a prescrição. — E aqui tem a receita de um remédio para ajudar na náusea. — Me entregou mais um papel. — Eu sugiro que faça um exame de gravidez, antes de tomá-lo, apenas para descartar esta opção. — Meu coração deu um salto.
— Eu não posso estar grávida, tomo anticoncepcional e meu ciclo é regular. — Ri fraco, como se aquilo fosse algum tipo de piada de muito mal gosto.
— Nenhum método contraceptivo é 100% eficaz, alem disso, uma boa parcela de mulheres passa por um fenômeno chamado de sangramento de escape, que pode tranquilamente ser confundido com a menstruação. É apenas um exame para descargo de consciência, digamos assim. — Disse cruzando as mãos á sua frente. — No hemograma que pedi, será possível saber se há uma gravidez, mas se quiser tomar o remédio antes pode até mesmo fazer um teste de farmácia. — Assenti, tentando assimilar suas palavras.
Depois de algumas recomendações sobre o medicamento, o homem se despediu desejando melhoras, e assim que saí do consultório, Harry se levantou da cadeira, apertando a mão do médico e agradecendo o atendimento.
Harry dirigiu até a farmácia, pensei que fosse ficar no carro, mas ele decidiu ir junto comigo. Não falei sobre a consulta, apenas entreguei a receita á farmacêutica e me dirigi até a ala de produtos femininos, pegando o bendito teste. Por mais que tivesse pela certeza de que o resultado seria negativo, a pontinha de dúvida gritava em meus pensamentos. Assim que me viu com o teste na mão, a postura de Harry ficou tensa, assim como seu rosto.
Não dissemos uma palavra até chegarmos ao hotel.
— Obrigado pela consulta. — Falei ainda no estacionamento.
— Você acha que pode estar grávida? — Ele perguntou quase sussurrando, mesmo estando em um lugar vazio.
— Não. — Afirmei. — Mas o médico disse para fazer um teste antes de tomar a primeira dose do remédio. — Eu não queira ter aquela conversa, só queria correr até o quarto, tomar o maldito medicamento e conseguir comer algo sem botar para fora.
— Se estiver, pode ser meu? — Ele disse segurando meu braço, quando tentei sair, me fazendo encara-lo.
— É a única opção. — Admiti em um suspiro. — Não fiquei com ninguém depois de você.
Harry soltou meu braço e passou a mão pelos cabelos, puxando-os um pouco para trás, e soltou um suspiro longo. Depois de alguns segundos nos encarando, saímos do estacionamento. O silêncio no elevador era mortal, me causando um desconforto ainda maior do que o que sentia no estômago.
Harry insistiu em ficar no meu quarto enquanto fizesse o teste, mesmo que eu insistisse que era desnecessário e que o resultado daria negativo.
Porém eu não esperava pela bomba que cairia em meu colo assim que o segundo traço apareceu na varetinha.
Já faziam vinte minutos que eu chorava soluçando, completamente apavorada. Harry caminhava de um lado para outro dentro do quarto sussurrando palavrões.
— Isso pode dar um resultado falso, não pode? — Ele perguntava pela quarta vez. Tão desesperado quanto eu.
— Eu já disse que não sei! — Afirmei novamente, fungando.
— Vamos voltar lá, fazer um outro teste, ou exame, sei lá. — Ele falava muito rápido, e parecia tremer. — Algo que seja confiável.
Cerca de meia hora depois, estávamos novamente na clínica, Harry conversou com alguém na recepção e fomos direcionados para uma sala de ultrassom. Eu não fazia ideia de como ele conseguiu aquilo tão rápido, mas com certeza uma bela quantia em dinheiro estava envolvida. Uma enfermeira me levou até a maca pela mão, abriu o botão da minha calça jeans e ergueu minha camiseta, dando acesso total a minha barriga. Um outro médico entrou, depois de alguns minutos naquela situação horrível. Ele despejou um gel viscoso em mim, e encostou um aparelho ali, encarando uma tela em preto e branco.
O silêncio era quase fúnebre, senso quebrado apenas pelos sons do aparelho, quando o médico digitava algumas coisas aqui e ali. Então um som ritmado tomou conta do ambiente.
— Você sabe o que é isso? — O senhor já um pouco grisalho perguntou. Neguei com a cabeça. — É o coração do seu bebê. — Acho que o meu coração parou nesse momento. Harry ficou totalmente pálido, em pé ao lado do médico, ele passou as mãos pelo rosto e suspirou algumas vezes. Eu já estava chorando novamente. Aquilo não podia ser verdade. — Têm aproximadamente 10 semanas. Ainda não é possível ver o sexo. — Disse observando a imagem que para mim parecia turva. — Está mais ou menos desse tamanho. — Demonstrou com os dedos. Era muito pequeno, talvez do tamanho de uma ameixa, menor que a palma da minha mão. — Vou deixá-los conversar. Quando estiverem prontos, podem pegar o exame impresso na recepção. — Ele disse se levantando, e me entregando alguns lenços para que limpasse a barriga. — Meus parabéns. — Falou antes de sair.
Por longos minutos ficamos em silêncio, eu chorava baixinho, e Harry parecia em choque, ainda olhando para a tela que agora estava desligada.
— Harry. — Chamei baixinho, o tirando do seu transe. — Me desculpa, eu nunca… — Comecei, sendo engolida pelo meu próprio choro. — Eu juro que… — Tentava encontrar as palavras, mas parecia que meu vocabulário inteiro havia sumido.
Harry se sentou na maca, ao meu lado. Seu rosto já havia recuperado um pouco da cor, mas a expressão ainda era de desespero.
— Eu sei. — Engoliu em seco. — Está tudo bem. — Respirou fundo. — Vai ficar tudo bem.
— Como? — Falei sentindo um nó gigantesco em minha garganta.
— Eu não sei. — Admitiu. — Mas vamos dar um jeito. — Ele suspirou novamente.
Depois de mais alguns minutos em completo choque, voltamos para o hotel. Fomos cada um para seu quarto, e eu me deitei na cama, ainda me sentindo horrível. Ele deveria pensar que eu queria dar o golpe da barriga ou algo do gênero. Minha cabeça estava uma zona. Não fazia ideia do que fazer ou pensar. Meus olhos ardiam de tanto chorar e meu corpo estava muito cansado pela falta de vitaminas.
Quase duas horas depois de nosso último encontro, Harry foi até meu quarto, com uma sacola nas mãos, de onde tirou algumas laranjas, me deixando totalmente confusa.
— Minha mãe disse que essa era a única coisa que ela conseguia comer durante os primeiros meses de gestação. — Ele disse me entregando a fruta depois de descascar.
— Você contou a ela? — Perguntei surpresa.
— Eu precisava de um conselho. — Admitiu. — Deveria ter te consultado, desculpa.
— Está tudo bem. — Falei levando um pedaço da laranja a boca, ainda com medo de vomitar tudo. Fechei meus olhos ao sentir a acidez, meu corpo já agradecendo por ser alimentado. — O que ela te disse? — Perguntei antes de colocar mais um pedaço na boca.
— Que preciso assumir a responsabilidade. — Me olhou de lado enquanto descascava mais uma fruta. Não respondi, apenas o observei. — Eu não vou te deixar sozinha nesse momento, não vou abandonar você. — Ele respirou fundo, agora me encarando de frente. — Não estou fazendo isso só porque minha mãe me disse, s/n. Eu nunca te abandonaria nesse momento. Eu só… entrei em choque.
— Eu também. Nunca passou na minha cabeça que estivesse grávida. — Passei a mão pelo cabelo, e respirei fundo tentando não voltar a chorar. — Eu não sei o que fazer. — Confessei.
Harry se aproximou mais na cama, levando uma das mãos até minha barriga, onde o bebê estava.
— Eu também não sei. Mas ainda temos muito tempo para aprender. — Ele me encarava nos olhos, o medo ainda estava lá, mas eu também estava apavorada.
— Você quer quer esse bebê? — Perguntei em um fio de voz. Durante das horas em que estive sozinha, milhares de cenários passaram em minha cabeça, incluindo um em que Harry me pedia para tirar a criança. Por mais que eu não fosse devota a nenhum tipo de religião, nunca me imaginei abortando. Até pensei na possibilidade de ficar com o bebê e criá-lo sozinha caso Harry não o quisesse.
— Você não quer?
— Eu quero. — Comecei. — Pensei que um filho agora fosse atrapalhar a sua carreira, e…
— Não pense nisso agora. — Ele me interrompeu. — Precisamos pensar sobre a sua saúde e do bebê agora. Do nosso bebê. — Meu coração batia acelerado, e eu não podia deixar de sentir alívio em saber que não estava sozinha naquela situação. — Por enquanto pensei em não contar a ninguém. — Disse me olhando com receio.
— Eu concordo.
— Vou marcar alguns exames. Para sabermos se está tudo bem com vocês dois. Depois pensamos no que faremos no futuro. — Assenti com a cabeça, e Harry voltou a descascar a laranja.
Nas semanas que se seguiram, me afastei da turnê. Fiz uma bateria de exames e iniciei o processo de pré natal. Sempre que podia, Harry estava presente nas consultas, e quando não, mandava mensagens a todo momento para saber como eu e o bebê estávamos.
Depois de uma longa conversa no meu apartamento em San Diego, decidimos manter a gravidez e o bebê em segredo. A exposição que a vida de Harry tinha era muito grande, e sabíamos que eu receberia todo tipo de comentário maldoso.
Na 14° semana descobrimos ser uma menina. Harry parecia ainda mais apavorado do que quando descobriu sobre a gravidez, já sua mãe estava exultante. Não nos conhecíamos pessoalmente ainda, mas Anne mantinha contato frequente para saber sobre a gestação da neta.
A data provável do parto seria entre as últimas semanas de dezembro e o começo de janeiro, e para estar presente, Harry liberou a agenda nos dois meses, alegando precisar de férias depois de tanto tempo em turnê.
As poucas pessoas que sabiam sobre a paternidade de Harry precisaram assinar um contrato de confidencialidade, todos os médicos, a doula, até mesmo a equipe que Harry contratou com muita antecedência para fotografar o parto.
Ele prestava atenção em cada detalhe, tomando todo cuidado possível para que aquele período fosse o mais tranquilo para mim.
Nos falávamos todos os dias, era uma relação muito estranha. As vezes parecíamos velhos amigos, comentando episódios de friends, horas a fio em chamadas telefônicas. Harry adorava ver cada mudança de humor que eu tinha, rindo a ponto de perder o fôlego quando contava que havia chorado por algum vídeo no Instagram e até mesmo de um comercial de cereal. Ele também pedia fotos toda a semana para acompanhar o crescimento de Grace em meu ventre.
Seu nome significava benevolência divina, exatamente o que ela era. O nome perfeito para um bebezinho tão amado por todos ainda antes de nascer.
Harry me convenceu, depois de muita insistência a passar as últimas semanas de gestação em sua cidade natal, assim que fizesse seu último show ele me encontraria e ficaríamos juntos á espera da nossa pequena.
Descobri que Anne era tão insistente quanto o filho, já que me convenceu a ficar em sua casa. Ela estava exultante. Embaixo da árvore de natal haviam presentes para Grace e até mesmo para mim.
A gravidez estava sendo muito tranquila. Tudo corria muito bem. Eu gerava uma bebê linda e saudável, que pela ultrassom 3d descobrimos ser a cara do pai.
Já fazia quase uma semana que eu estava na casa de Anne quando Harry chegou.
— Uau. — Ele disse olhando para minha barriga. Fazia quase um mês desde a última que que nos vimos, por poucas horas durante uma das consultas, e minha barriga havia aumento de tamanho muito consideravelmente.
— Se essa é a sua forma de dizer que estou enorme, eu já sei. — Falei suspirando. Por mais que estivesse amando gerar a minha filha, mal conseguia me olhar no espelho. Me sentia uma bola enorme, perambulando por aí.
— Você está linda. — Anne disse com censura, ainda abraçada ao filho.
— Minha avó costumava dizer que a menina suga toda a beleza da mãe, hoje eu acredito. — Falei fazendo uma careta, fazendo com que os dois revirassem os olhos.
Meu sono era quase nulo há algum tempo. Minhas costas doíam muito e Grace parecia estar em um trampolim toda vez que eu me deitava. Decidi me levantar e da uma volta pela casa, para ver se a pequena se aquietava. Quando passei pela porta do quarto de Harry, a mesma se abriu, revelando-o sem camisa, vestindo apenas uma calça de moletom.
— Aconteceu alguma coisa? — Perguntou preocupado.
— Não. — O tranquilizei. — Apenas não consigo dormir. Essa menina vai ser dançarina. — Falei passando a mão pela barriga, fazendo Harry rir. Ele me puxou pela mão, fazendo me deitar em sua cama. O que me deixou nervosa, minha líbido nas últimas semanas estava às alturas, e estar sozinha com aquele homem que era o grande protagonista das minhas fantasias não ajudava muito.
Harry se deitou também, porém encostando o rosto em minha barriga, e cantando baixinho. Como sempre acontecia quando ele fazia isso, Grace ficou quietinha. Ela adorava ouvir a voz do pai, e eu também.
Fiz menção de levantar, e Harry me segurou, deitando aí meu lado.
— Melhor ficar aqui, caso ela acorde. — Ele disse baixinho, me fazendo rir fraco. Harry adormeceu acariciando minha barriga, e eu acabei me entregando ao sono também.
Parecia não dormir bem assim á séculos. E depois dessa noite, Harry passou a me acompanhar em todas elas.
Eu não podia negar que meu coração batia muito mais forte quando estava com Harry, e que eu amava estar em sua presença.
Gemma chegou com o marido duas semana antes do Natal, tão feliz quando a mãe com a chegada da sobrinha.
E depois de ver como Harry e eu agiamos perto um do outro, sempre rindo de alguma besteira, ou até mesmo assistindo televisão enquanto ele fazia carinho na filha ainda no meu ventre, ela dizia ter certeza de que estávamos apaixonados.
E droga, eu sabia que eu estava. Mas esperava que fossem apenas os hormônios da gravidez me pregando uma peça. E Harry estava apenas muito feliz com a filha. Ele ficava perto de mim por ela ainda não ter nascido. Eu me convencia disso, negando qualquer tipo de ilusão que se aventurava em minha mente.
Havíamos entrado no consenso de que um parto domiciliar era o ideal em nossa situação, já que ir até um hospital era perigoso demais para o segredo. Harry havia contratado uma equipe inteira de médicos para que estivessem apostos a qualquer momento quando as últimas semanas de gestação se aproximavam.
Em uma madrugada, acordei sentindo a cama molhada. Balancei Harry com força, que acordou passando as mãos sobre os olhos.
— Harry, a bolsa estourou. — Falei sentindo a ansiedade me dominar. Ele arregalou os olhos, se levantando no mesmo segundo e pegando o celular.
Em poucos minutos, Harry acordou a casa inteira, e todos estavam em meu quarto. Algum tempo depois eu já estava ligada a um aparelho que monitorava as contrações que já haviam começado, me fazendo urrar de dor.
Ele não saia do meu lado em nenhum segundo. Segurava minha mão, secava o suor que brotava em minha testa e acariciava minha testa.
— Okay, s/n, quando vier a próxima eu quero que você faça muita força. — Maya a obstetra e pediatra dizia. Assenti com a cabeça. Agora eu estava encostada no peito de Harry, que estava sentado atrás de mim me dando apoio, na maca que a equipe médica havia montado.
A dor voltou, e eu fiz o máximo de força que pude, chorando.
— Eu não consigo. — Solucei.
— Consegue sim. — Harry disse massageando meus ombros. — Vamos lá, s/a, você consegue. — Harry deu um beijo na parte de trás da minha cabeça. O fotógrafo registrava tudo. Eu me sentia completamente exausta.
Então mais uma onda de dor veio, Harry me abraçou, sussurrando palavras de apoio em meu ouvido, e eu fiz o máximo de força que pude.
E então veio o alívio, seguido pelo grito estridente da bebê no colo da médica.
Maya colocou Grace em meu colo, que ainda chorava, eu a acompanhava e Harry também.
— Você conseguiu. — Harry disse me olhando, virei meu rosto para observa-lo. Ele tinha um sorriso aberto, as covinhas fundas nas bochechas o deixando ainda mais lindo. — Obrigado, s/n. — Colou sua testa na minha. — Obrigado. — Disse novamente. E então, Harry colou seus lábios aos meus. Foi um beijo casto, apenas um encostar de lábios. Que fez com que aquele momento fosse ainda mais perfeito.
— Bem vinda, meu amor. — Sussurrei para Grace, que já estava quietinha por ser se aquecido contra meu corpo.
O Natal chegou dois dias depois. Harry havia ido ao centro da cidade quase disfarçado atrás de uma roupinha de bebê escrito "meu primeiro natal", ele se demonstrava um pai muito mais babão do que eu podia imaginar. Me dando todo o suporte que eu precisava.
Harry e eu continuamos dormindo juntos depois do nascimento de Grace. Ele levantava durante a madrugada quando ela resmungava e só me acordava quando o motivo era fome. Ele passava as tardes conversando com a bebê, como se ela entendesse tudo que ele dizia.
Em nenhum momento falamos sobre o beijo. E eu me convencia cada vez mais de que fora apenas euforia de momento. Estávamos muito felizes com a vinda ao mundo do nosso bebê. Éramos apenas dois pais eufóricos. Apenas isso.
— Eu queria poder ficar aqui mais um tempo. — Harry resmungou, balançando Grace em seu colo, que já havia crescido muito em seu primeiro mês de vida. Faltavam apenas alguns dias para que ele fosse embora e voltasse a rotina da turnê por mais alguns meses.
Já estávamos em San Diego, onde Harry me ajudou com a adaptação de Grace ao novo ambiente.
— Eu sei, é muito difícil se separar dessa coisinha linda. — Falei me aproximando, e acariciando o rostinho do bebê adormecido. Harry acomodou a pequena no bercinho ao lado da "nossa" cama, e se virou para mim. Já faziam quase dois meses desde a sua chegada, e ficamos grudados quase 24h durante esse período. Era estranho pensar que não o veríamos por algum tempo.
— Vai ser muito difícil ficar longe de vocês duas. — Harry disse baixinho, colocando uma das mãos na minha cintura e me puxando para perto, fazendo meu coração pular.
— Harry… — Sussurrei, mas quando senti seus lábios tocando os meus, senti que podia derreter em suas mãos. — Harry, não. — Falei o afastando pelos ombros. — Não vamos confundir as coisas. — Ele me olhava confuso.
— Eu não estou entendendo. — Admitiu. Desviei meu rosto, tentando me concentrar em alguma outra coisa. A verdade é que aquele sentimento que nutri por Harry durante a gravidez não sumiu como eu esperava. Na realidade só aumentou à medida que o via com a nossa filha. Harry segurou meu rosto, me obrigando a olhar em seus olhos novamente. — Confundir o que, s/n?
— Isso aqui. — Apontei para nós dois com o indicador. — Nós não temos nada e…
— É óbvio que temos! Temos a coisa mais importante que existe! — Ele disse olhando rapidamente para Grace que ainda dormia.
— E exatamente por isso que não podemos nos confundir mais. — Suspirei, com o rosto ainda preso entre suas mãos. — Temos que pensar no melhor para a nossa filha agora.
— Você não sente nada por mim, é isso?
Continua... (?)
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Pobres criaturas
Um brinde aos desajustados, inadequados e esquisitos: pois agora chegou a nossa vez.
Em Pobres criaturas, Bella Baxter morreu Victoria — jovem, grávida e infeliz. Victoria se jogou de uma ponte e teve seu corpo resgatado pelo Dr. Godwin Baxter, um cientista maluco e professor universitário que, na Inglaterra da Era Vitoriana, se dispõe a fazer experimentos como animais híbridos e trazer de volta à vida uma mulher adulta com o cérebro de seu filho prematuro. “God”, literalmente.
Nossa Frankenstein, no início de sua jornada, mal sabe falar, tampouco ficar de pé. Ela é uma criança no corpo de uma mulher e toda vez que acorda amadurece mais. Dando rápidos saltos com sua inteligência moldada e percepção do que lhe cerca, Bella sonha em conhecer o mundo ou, no máximo, ir lá fora conhecer Londres, a cidade, tomar sorvete ao lado das crianças. Mas Godwin não pretende exibi-la. Contratou Max como assistente para observar sua evolução, mas sugere que ambos se casem e vivam confinados com ele. Mas, ao contatar Duncan, um advogado canastrão que deve realizar o contrato de casamento, Godwin perde Bella para um sedutor canalha que viaja com ela pelo mundo. Então, Pobres criaturas é dividido por capítulos que são as cidades que Bella visita: Lisboa, Paris, Alexandria e Londres novamente. Nessa ordem.
Lanthimos gosta de fazer filmes que causam desconforto por meio da comédia, sendo essa sua marca registrada, como se tudo fosse um experimento social tendo o absurdo ou o impossível como instrumento. E esse estranhamento vai abraçar quem assiste, mas não é difícil que você se sinta transportado para o universo que contempla Bella. O deslumbre de Pobres criaturas, para além do roteiro de diálogos irresistíveis, está nos detalhes e no trabalho em equipe.
Para começar, a trilha sonora de Jerskin Fendrix é um acontecimento: em alguns momentos, parece feita para a geração TikTok, com músicas que podem ainda viralizar por lá. Se o filme começa com Bella maltratando um piano, a trilha trata o instrumento como brinquedo, sem desrespeitá-lo. Vozes infantis e quase assustadoras ilustram o renascimento de Bella. E a música que recebe o nome da protagonista, abrindo a trilha sonora, começa melancólica e termina esperançosa, cheia de alegria — igualzinha a ela (morrendo, renascendo, descobrindo, experimentando).
Holly Waddington, figurinista, trouxe para Bella inspirações vitorianas numa repaginada mais fluida em camisas de mangas bufantes e muito babado na parte superior do corpo, economizando na inferior. O motivo? Bella é uma criança no corpo de uma adulta, ela aprende ao longo do filme a diferença entre certo e errado. Para exemplificar isso, Holly escolheu o simples do shorts e o complicado e difícil de tirar das blusas e camisas mais típicas da Era Vitoriana. Na medida em que Bella amadurece, suas roupas também mudam. Quando chega em Paris e a neve cai, seu casaco lembra um preservativo masculino. Bella usa comprimento mini e transparências em roupas que vão do infantilizada ao s3.xu.4lizada, acompanhando a narrativa — trato disso mais adiante.
Os cenários de Pobres criaturas estão repletos de detalhes oníricos: da sala de jantar de Godwin até a Lisboa retro-futurista, o céu do fim de tarde de Bella no navio tem as cores da aquarela de um comercial antigo da Faber-Castell. Quanto mais você olha, mais existe para ver, sendo o tipo de filme feito propositadamente para ser revisitado. O início em preto-e-branco vai mostrar o ponto de vista ou pelo menos a defesa de Godwin — interpretado por Willem Dafoe, que já não é um homem bonito, o trabalho de maquiagem feito em seu personagem reforça as consequências dos experimentos que sofreu na infância, quando refém de seu pai, também cientista. Aqui, assume a paternidade de Bella, escondendo dela sua origem e limitando seu crescimento. Trata Bella, no início, como puro experimento científico. Quando o filme ganha cores, porque cores são o símbolo da vida, Bella torna-se para Godwin a lembrança de uma filha que não está mais ao seu alcance, em seu controle.
Emma Stone também se distancia enquanto viaja o mundo sendo Bella. Se distancia da caricatura que sua personagem poderia ser. A ingenuidade da pouca experiência é atravessada pela sede de viver, ela quer desbravar o mundo, ser exploradora mesmo quando torna-se explorada. Essa personagem vai figurar como uma das mais perigosas em sua carreira e no cinema como um todo. É o exemplo mais recente da “born sexy yesterday”, só que num tempo em que estamos acostumados a perceber e nomear essas personagens criadas por homens e feitas para satisfazê-los. É aqui que a crítica feminista aparece e onde talvez Pobres criaturas cometa deslizes. Embora seja maravilhoso quando um diretor encontra sua musa e o casamento entre Emma Stone e Yorgos Lanthimos funcione há algum tempo, não deixam de ser polêmicas as cenas de s3.x0 em Pobres criaturas. Inspirado no livro de Allistair Grey (ainda sem tradução no Brasil), essa é a trajetória de uma mulher que descobre seu amor pela vida e nada é mais representativo disso do que s3.x0. Mas, repetindo: também é uma história toda contada por homens, sobre uma mulher sendo moldada e podada por homens. É impossível não discutir Emma Stone fazendo uma criança no corpo de uma adulta que descobre, em um dado momento da narrativa, que a prostituição é um caminho. Se Pobres criaturas tivesse sido dirigido por uma mulher, qual seria a abordagem? Seria melhor, seria mesmo?
Duncan, Max e Alfred são os outros homens da vida de Bella. Os que aparecem depois de Godwin. Minha amiga Rita Alves definiu muito bem Mark Ruffalo como Duncan quando disse que ele “é um homem de autoestima delirante”, como quase todos os homens. Duncan é o típico homem que gosta de tirar vantagens e contar suas vantagens. Apresenta-se para Bella como alguém desapegado que “pega geral”, para depois revelar-se apaixonado apenas por não saber contê-la. Quer Bella só para si, mas o ciúme é vaidade e só confirma sua personalidade patética e digna de pena. Max (Ramy Youssef), assistente de Godwin e observador-protetor de Bella, apaixona-se de fato, mas “permite” que Bella vá e veja o mundo, viva suas aventuras, sendo o mais progressista entre os homens que ela conhece. E Alfred (Christopher Abbott) é quem, um dia, tornou a vida de Bella pesada, insuportável. O verdadeiro algoz, Alfred surge já nos momentos finais do filme trazendo as respostas que Bella precisa enfrentar sobre sua vida anterior, seu passado como Victoria e o que a levou para aquela ponte. Aqui é onde o filme se estende para além do necessário, como um epílogo. Mas compreendo a necessidade de respostas.
Um dos pontos altos de Pobres criaturas está na dança entre Bella e Duncan em Lisboa: desordenada, caótica e de passos inéditos, em que Bella conduz enquanto Duncan ainda se comporta como esse homem “da sociedade polida”. Minha outra cena favorita também acontece em Lisboa. Só que, mais do que favorita, essa é a cena que vale o filme, que permanecerá em minha memória por muitos anos — quando Bella decide conhecer Lisboa sozinha, e encontra a cantora Carminho cantando o fado “O quarto”. Eu fico feliz com Carminho alcançando novos públicos, mas também com Bella criando suas memórias afetivas, um momento que é só dela.
Bella conhece regras, quebras de protocolo, s3.x0, paisagens, pastel de Belém, bebida alcóolica, a primeira ressaca, pobreza extrema, tristeza, trabalho, política, vontade de mudar o mundo, a maldade dos homens e até o amor com outra mulher para, enfim, decidir quem ela quer ser quando crescer e saber a hora de voltar. São mil vidas em uma, no debate das entrelinhas e do humorístico sobre a ausência de ética científica, até o agradecimento de Bella para Godwin, que lhe trouxe de volta à vida, na qual ela teve uma nova oportunidade de se gostar. Talvez seja essa a alegoria de Pobres criaturas: a ideia de se conhecer, se perdoar e se permitir.
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cortes feitos por poesias de amor entre os cacos de coração
12 de abril de 2023 as 10:39a.m.
inspirações: as canções que você fez pra mim - maria bethania. por enquanto - cássia eller. disritimia/ex amor - rodrigo alacron. açúcar ou adoçante - cícero. blue jeans - lana del rey. faça disso o que você quiser - alice david. preciso dizer que te amo - cazuza.
mpbs. ❤️🩹
quando penso em alguém só penso em você
é o morder dos lábios e bochechas
o roer e arrancar das unhas
é tirar os cílios
são os olhos que mudam de cor
os cabelos com os cachos mais lindos
foi tu limpando minhas lágrimas
eu passando remédio nas suas cicatrizes
o abraço da conchinha maior numa muleka tão grande quanto eu
eu trocando seus curativos
será que você ainda se lembra?
eu lembro de cada detalhe
lembro do seus olhos no sol tomando um suco na pastelaria
lembro de quando nos amavamos madrugada adentro
lembro das suas poesias
lembro quando te escrevi meu primeiro texto
lembro do seu vestido preto e sua maquiagem naquele dia e tambem me lembro do seu ruivo
lembro de tantas tantas coisas
de peito rasgado, agora
quem sabe faz a hora
passei pelos nove círculos do inferno
fui exorcizada pela água benta da suas lágrimas
mudei de lugar tantas certezas
remendei pedaços do meu coração com poesias
costurei com dúvidas
me peguei pelos pes e virei de cabeça pra baixo
sacudi
e a única coisa que não saiu do lugar
a única coisa intacta foi meu coração
ele continua sendo seu
pó de coração
eu te passo um café
ainda lembra daquilo?
maldito dezembro de blue jeans
tive um problema com sr cronos
deixei que ele parasse o tempo sempre que eu pensasse em ti
desde então vivo no dia que te conheci
e me apaixono
me apaixono a mais de um ano
todas as semanas
todos os meses
todos os dias
pelas tuas curvas
pelo teu sorriso
pela sua voz cantando cazuza - ou taylor
pelas tuas pintas
pelo seu narizinho
pelo seus cabelos
pela sua pele
por seu cheiro
por sua determinação
por sua maluquice
quem é mais sentimental que eu?
as conversas
as besteiras
as risadas
tudo foi pra eu me apaixonar
é talvez eu precise dizer
precise ser específica: preciso dizer que eu te amo
você esqueceu?
tenho delirios em que tu se lembra
perco o sono
agora eu te choro dores do seu amor
me abro
e acabo com você(?)
e mesmo assim eu não quero ser só sua amiga
preciso te ganhar logo
ou perder o mais rápido possível
não minto e nem finjo que perdoei
mas ainda escuto nossas músicas
nossa música ainda toca no meu carro
sonho acordada procurando nao sentir dor
durmo tranquila em meio a nosso entrelaço
seu peito, seus fios de cabelo
seu cheiro
nao quero escutar o vento indo embora
sinto falta de te sentir
sinto falta de te vestir
sinto falta de te servir
você se sente?
você se lembra?
fragmentos de você aqui
mas dentro de mim você vive. você reluz
dentro de mim você ainda é você
será que só dentro de mim?
lembra…?
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