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sirpierre · 3 years
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Eu te amo.
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Faça chuva ou faça sol. Dias de glórias ou de lutas. Momentos felizes ou tristes. Horas distantes ou próximas. Todos eles passam, de formas diferentes, mas mantenho apenas uma certeza: estou cada vez mais próximo de encontrá-la.
Imagino teu toque, mas sei que não chego nem perto do verdadeiro prazer de tê-lo comigo. Penso em teu cheiro, no sorriso irradiante, nos olhos apaixonantes, e apenas penso neles ao meu alcance.
Tu me completa, como a luz que ilumina meu caminho. Já te disse isto: você é a minha luz. Sentimento que se expande pelo horizonte, muito mais distante do que um "eu te amo" pode significar. A cada mensagem, a cada palavra, a cada vírgula (ou ausência delas), percebo o quanto teus dias são partes fixas dos meus.
É na simplicidade de nossos dias que noto o quanto as palavras são limitadas. Temos coisas nossas, "tu é meu lar", "casa comigo?", troca de figurinhas e por aí vai, mas sempre há aquele máximo das mensagens que não abrange todo o sentimento. Sentimento este que compartilhamos e que somente poderemos demonstra-lo no passear de mãos dadas.
Isto é improviso. Eu não sabia que escreveria há minutos atrás. Apenas o senti. E é parte do ciclo deixar as palavras saírem.
Eu te amo, meu dengo. Minha luz. Aqua. Safira. Fernanda. Meu Namorado, Namorade e Namorada. Amor da minha vida e futura esposa (e marido).
De Pierre Muniz, que aguarda ansiosamente por nosso encontro (que será logo, se o mundo colaborar).
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sirpierre · 3 years
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Revolution of the Daleks - Divertido e convincente (SPOILERS)
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Crítica, com spoilers, ao episódio "Revolution of the Daleks", de Doctor Who:
Quase dez meses após o fim da décima segunda temporada, Doctor Who retornou com mais um especial de ano novo. Podemos resumir o episódio de uma forma simples: Com o retorno de Capitão Jack Harkness, a Doutora e sua Fam precisam salvar a Terra (Inglaterra) num confronto contra os Daleks (novamente). Mas, pera aí, a Doutora não estava presa? Não haviam dito que os companions teriam que se virar sozinhos? É... Não foi bem assim que rolou.
O final da 12ª temporada me deixou totalmente ansioso para o especial, e o hype aumentava a cada foto revelada da Doutora com o seu traje de prisioneira. Eu tinha muitas perguntas. Por que ela foi presa? São os mesmos Judoons de “Fugitive of the Judoon”? Onde ela está presa? Shada? A Doutora vai fugir de que maneira? Quem a prendeu? Tantas perguntas, mas nenhuma resposta. Ela entrou de uma hora para a outra, do nada, e saiu da mesma forma. Capitão Jack Harkness apareceu, não explicou como ficou sabendo sobre a doutora ter sido levada para lá e, juntos, escaparam. A prisão me pareceu apenas um gatilho para o episódio reunir a Doutora com o Jack de uma maneira simples, mas considero um desperdício deixar o local apenas como um plano de fundo quando ele poderia ser explorado como algo realmente ameaçador para a 13ª. Aquilo que mais me atraía nas prévias de “Revolution of The Daleks”, no fim, não fez a mínima diferença para a trama. Capitão Jack a salvou e seguiu-se a aventura com a Fam completa.
Isso também impacta em outra possibilidade perdida. O episódio prometia mostrar como os companions se viram com os problemas quando sozinhos, mas o retorno da protagonista de Jodie Whittaker é tão imediato que causou o mesmo problema da 12ª temporada inteira. Enquanto um ou dois personagens recebem desenvolvimento, o terceiro é deixado totalmente de lado. No caso de “Revolution”, Yaz e Ryan recebem os holofotes e Graham é jogado para escanteio. Agora, não me recordo de nada realmente relevante em sua participação no episódio, exceto pela despedida tocante e convincente (comentarei sobre daqui a pouco).
Embora “Revolution of The Daleks” peque nesses pontos, a aventura me foi suficiente. Não posso dizer que se trata de uma história épica com um grande clímax, mas, no geral, me agradou. Daleks sempre são divertidos, e eu não sabia que precisava de uma rinha de Daleks até ver em tela (inclusive, trazer a SS Dalek para o especial foi uma ideia genial e que agrega muito ao enredo). Além disso, também temos o retorno de um personagem icônico, muito bem escrito, por sinal, com um tempo de tela satisfatório. Seus diálogos, como todos do episódio (é realmente algo a ser destacado), são excelentes, e alguns ficarão marcados para a história do programa (“Dois corações. Um Feliz e um triste”).
Por fim, fechamos com uma boa despedida da Fam. Como todos sabemos, o desenvolvimento do trio não foi lá grande coisa durante as últimas duas temporadas, mas me encontro satisfeito com a conclusão. Ryan, desde a última temporada, já demonstrava insatisfação e desejo de voltar para a Terra (principalmente em “Can You Hear Me?”). Isso é concluído agora, após o personagem passar dez longos meses em casa, longe das viagens com a Doutora. Graham, que já perdeu o amor de sua vida, não deseja perder nenhum momento com seu neto. Para ele, seria doloroso pensar em seguir a bordo da TARDIS havendo a possibilidade de acabar falecendo ou voltando meses ou, até mesmo, anos depois de sua partida. Com esse contexto, vejo ambas as saídas como convincentes. Além de que, agora, eles possuem papéis psíquicos e e estão, por aí, livrando o planeta de problemas (eu clamo por uma minissérie).
“Revolution of the Daleks” é uma história coesa, divertida e emocionante. Com alguns pontos negativos aqui e ali, mas que facilmente recebe uma nota 7 de 10. Após uma 12ª temporada dramática e com episódios tensos, era de se esperar algo mais leve e família para o especial de fim de ano
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sirpierre · 3 years
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Alma Dançante - Conto
O conto de hoje foi uma experiência interessante para mim. É a primeira vez que escrevo algo que o foco seja, principalmente, o romance. Confesso que o momento que estou vivendo influenciou bastante na criação hahshah! Espero que gostem.
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Alma Dançante
Dor.
Não há motivos;
Não há razão;
Apenas dor.
A alma já despreocupada, mas, no entanto, angustiada, seguiu seu caminho pela estrada eterna.
Havia perdido a vida. Não havia mais laços com o mundo. Teu lugar agora era o campo interminável. Um canto para atormentar o coração no pós-vida. A alma cansada seguia caminhando, enquanto pensava em todos os prazeres que não experimentou, em tudo que não pôde viver....
Dor.
Não há motivos;
Não há razão;
Apenas dor.
Sentia-se sozinha, e não há sofrimento maior do que ser uma alma sozinha no campo interminável.
Os anos se foram, mas não fazia diferença. Os anos seriam inesgotáveis, e ela seguiria sozinha.
Certo dia, após incontáveis dias, o Ceifador chegou ao campo interminável. Estava decidido a causar desconforto ainda maior para as pobres almas vazias. No centro do lugar, no alto de uma colina, materializou um poço. Deste poço era possível ver toda a vida na Terra. Curiosas, lá foram as almas. Para a amargura da pobre alma que guia nossa história, o poço mostrava apenas o que ele havia perdido em vida. Tudo o que ele não havia conquistado.
Dor.
Não há motivos;
Não há razão;
Apenas dor.
Mesmo doendo, seguiu encarando a água mágica do poço. Viu milhares de alegrias a serem aproveitadas, milhares de mãos dadas, milhares de sorrisos e milhares de milhares de milhares... E do alto, vislumbrando sua criação, o Ceifador riu.
Mais incontáveis dias se passaram, e nem mesmo o Ceifador poderia imaginar o que aconteceu. A alma havia conhecido um rapaz em vida, atravéz do poço mágico.
Alegria.
Há motivos;
Há razão;
Pura alegria.
Passou meses e mais meses o acompanhando. Viu o menino sorridente trilhar seu próprio caminho. Formou-se no ensino médio, lutou pelos seus direitos e entrou na faculdade.
Alegria.
Há motivos;
Há razão;
Pura alegria.
23 anos, tão jovem, mas o destino parecia lhe reservar um fim prematuro.
A pobre alma tinha conhecimento dos fatos, e essa era a pior punição do poço mágico. O garoto seria atingido por um veículo em alta velocidade. Aqueles últimos dias, antes do acontecimento, foram os piores. Mesmo assim, a alma se recusou a largar o poço.
Lá de cima, o Ceifador riu.
Quando a hora chegou, debruçou sobre o poço e esperou os últimos minutos passarem. Desejava ver o máximo possível do jovem rapaz que conhecera.
E lá estava, o carro se aproximando rapidamente. Por impulso, jogou seus braços na água mágica, como se desejasse criar uma barreira para o veículo. E, de alguma forma, seu desejo de proteger o garoto se realizou. O carro desviou o caminho no último segundo. Seu amor viveria. Parecia destino.
Do alto, o Ceifador arregalou seus olhos e não soube o que fazer. Decidiu continuar assistindo, curioso com o que viria.
Na Terra, o rapaz se encontrava espantado com sua quase morte. Após lutar consigo mesmo e retomar a consciência, correu para sua casa. A alma dançou em felicidade. Seu amor viveria!
Alegria.
Há motivos;
Há razão;
Pura alegria.
Mas a alma dançante sentiu seu braço doer cada vez mais. O que era estranho, pois achava que já havia se acostumado com a dor constante que sentia desde que chegara naquele lugar. Com o tempo, perdeu o controle dos braços e, em seguida, o viu se tornando poeira. Aquilo o tomava por completo...
Seus anos intermináveis de sofrimento pareciam estar no fim, mas, agora, sentia-se triste por isso. Iria para o Vazio, e não teria mais o poço mágico. Não teria mais como acompanhar os anos na Terra. Não teria mais o rapaz que salvara.
Sabendo disso, caminhou uma última vez até a água. Escorou, como sempre fazia, na borda do poço e observou o jovem caminhar para mais um dia de aula. Mesmo esperando o fim, a alma dançou mais uma vez, contente. No meio da dança, sentiu tudo doer e começou a se tornar apenas poeira.
O Ceifador já se preparava para rir, mas a poeira fora sugada pelo poço.
Luzes, faixas coloridas, brilhos incessantes e arco-íris invadiram o campo interminável. Estavam em torno da poeira, que dançava lentamente para a água. O Ceifador tentou impedir, mas as faixas cercavam o local. Dançante, a poeira se uniu e voltou a formar a alma. Sentia-se bem e estava completo, rumando para o poço. Havia, finalmente, uma paz verdadeira em seu coração. Quando as luzes o colocaram na água, seu corpo começou a mutar. Deixou de ser apenas alma. Recebeu ossos, músculos e carne. Era lindo, como se lembrava. Pele negra, dreads caindo para a direita e olhos pretos e brilhantes.
As faixas coloridas não pararam, levando-o para seu rapaz.
Alegria.
Há motivos;
Há razão;
Pura alegria.
Voltou para a Terra, sem se recordar do campo interminável, do poço ou d'O Ceifador, mas as luzes, as faixas coloridas, os brilhos e os arcos-íris foram caridosos. Lhe colocaram na mesma universidade, filho de uma boa família e deixaram o amor que ele sentia, escondido, esperando para reacender. A história havia sido mudada a seu favor.
Quando cruzou pelo rapaz no corredor da universidade, a chama se acendeu logo de cara. A palavra veio em sua boca, mesmo não sabendo como:
- Alex?
Por Pierre Muniz.
Para Alex.
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sirpierre · 3 years
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Dias Melhores Virão... - Conto
Okay, estamos numa pandemia há... enfim, há um bom tempo. Coisas ruins aconteceram (MUITAS), mas também tiveram coisas boas. Algumas me inspiraram e aqui estamos com mais um conto.
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Dias Melhores Virão
Ter encontrado este lugar foi um golpe de sorte. No começo do ataque, peguei o que pude e corri para longe da cidade. Felizmente, achei esta torre vazia.
Estou escondido há meses. Mantimentos em baixa e a lenha que me aquece está acabando, mas não posso levar meus pés para fora. É perigoso e já tomei esse risco recentemente... e eles estão lá. Sentem meu cheiro, da mesma forma que sentiram dos outros que ficaram para trás. Para onde levam os capturados - quando não assassinados - é uma incógnita, mas não desejo me arriscar a descobrir.
A escuridão toma o meu mundo conforme as brasas da fogueira diminuem. Enquanto ela absorve minha torre apertada, sinto a angústia crescer. Devo seguir nesse campo de incertezas ou me arriscar entre os monstros, buscando recuperar meu estado mental, seria uma escolha mais sábia? Não. Isso não é opção. Devo aguardar dias melhores.
Dias melhores... Dias melhores... Acredito neles. Não há apenas demônios lá fora. Existe a minha luz. Existe algo que, talvez, quem sabe, eu possa chamar de lar. Ela, a esperança, me dá forças para continuar firme, esperando dias melhores. Eles, os dedos que apontam para um futuro melhor, me guiam. Dias melhores virão, deixando os monstros como apenas um capítulo lamentável de nossa história.
Mas e o medo? Também sinto medo. Medo das coisas seguirem como estão. Medo dos objetivos se perderem nesse caminho mortal. Medo das pedras pontudas que espetam a sola do meu sapato me derrubarem. As inseguranças são inúmeras, mas, no fim, continuarei tentando lutar contra os meus próprios monstros. Só assim poderei vencer aqueles lá de fora.
Puxo minha última lenha e toco nas chamas vermelhas. A essência viva de calor consome o pedaço de madeira e, quando levo ao ar, ilumina as paredes da casa apertada. É uma torre circular, com escadas que levam ao topo. De degrau em degrau, é para lá que eu vou.
No topo, pequenas janelas me mostram o que existe no mundo. Os outros seguem, tranquilamente, com suas vidas. Se encontram, se reúnem, se aglomeram. Eu poderia ir com eles, mas os monstros são reais. Eles me pegariam de surpresa. Seus braços são longos, sua fome é insaciável e nunca dormem. Velozes, farejam e saltam sobre suas vítimas. Donde saíram? Com certeza, do fogo do inferno.
Ali está, o que eu desejava ver. Aquilo que eu queria encontrar enquanto subia a escada. Todas as noites eu chego no alto da torre, encaro o horizonte e observo a luz branca e forte da estrela no horizonte. Ninguém mais entende o que é. Nossos reis e seus magos já desistiram de solucionar e jogaram o papel para a Igreja.
Mas eu sei exatamente o que é. Eu sinto. É a minha esperança. É o que me motiva a viver nesse mundo perdido. É o brilho noturno que afasta minhas inseguranças. Não está tão longe... acredito que, um dia, poderei chegar até essa luz. Luz que erradia o céu, brilhando por todas estrelas. Seus raios se espalham pelo tecido escuro. Fios que tocam suas irmãs luminosas, um para cada estrela... um fio para cada estrela. Conectadas por destino. Quem pode dizer o que isso significa para nós, a sociedade que fraqueja para os monstros? Apenas eu.
É nessa luz que eu me agarro. É com seus raios que eu sonho. Com ele, o corpo celeste brilhante, é com quem desejo me encontrar no fim. Espero que seja minha saída dessa torre apertada para um lugar melhor... um novo lar.
Encostei o corpo na janela e adormeci.
Batidas na porta. Uma sequência de batidas me acordou. Desci aos tropeços, sem notar o quão iluminado estava o local, e espiei por uma fresta. Quem poderia ser? Eu não esperava visitas. Eu não queria visitas.
Ninguém.
Olhei novamente.
Ninguém, apenas um clarão imensurável. Não me cegava, e sim o contrário. Meus olhos arregalaram-se, desejando aquela luz.
Movi a mão até o gancho e destravei a porta. Abri e permiti que a luz entrasse.
- O que estou fazendo? Os monstros, a...
A luz me tocou e então compreendi. Era a estrela. O feixe de luz se expandiu até ali. Ele me consumiu, de pouco em pouco, até se tornarmos... nós. Perdi as preocupações, o medo, a insegurança e, finalmente notei, que aquilo era o início de dias melhores.
Vislumbrei o futuro, a paz e o paraíso que viria. Adormeci novamente.
Os dias melhores, aqueles que estão por vir, realmente são muito belos. Quando abri os olhos e me vi no alto da torre, ainda encostado na janela, sob a luz da estrela no horizonte, eu sabia para onde seguir. Minha estrela, aquela que ilumina por todas as outras, a luz que me guia, me falava... dias melhores virão.
Por Pierre Muniz.
Para Alex.
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sirpierre · 4 years
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Os Monstros Lá de Fora - Conto
O post de hoje é um conto mais aberto para interpretações. Há uma linha reta e fácil de se compreender, mas nem tudo está detalhadamente explicado. Gosto de pensar que neste tipo de obra não há interpretação correta ou errada, então aquilo que cada leitor entender se tornar o correto. Ah, e também está - quase - no tema que eu prefiro escrever.
Uma história curta de drama e um tanto psicológica. Espero que gostem.
Os Monstros Lá de Fora
Acordei, ainda com sono, em meu quarto. A Lua estava lá fora, então decidi continuar dormindo.
Todas noites, antes de dormir, escuto os passos no telhado. Alguns são leves e saltitantes como os de uma coruja, outros são pesados e horripilantes como os de gigantes dos livros de fantasia. Eles me dão medo, pois sei exatamente o que significam. São os barulhos dos monstros lá de fora. São o próprio julgamento e humilhação. O próprio desejo de me punir, embora eu não saiba muito bem o motivo.
Aguardo no escuro de meu quarto, deitado sob os cobertores, a partida dos passos, e eles nunca se vão. Sou forçado a me levantar e caminhar em direção ao banheiro para fugir daqueles sons. No caminho, sempre encontro minha mãe. Ela notou que o mesmo processo se repete noite após noite e passou a me esperar. Ali, em sua cadeira de rodas, ela me olha de forma fria e pergunta: “Os passos novamente?”
- Sim, os passos. Sempre os passos. 
“Não são nada, filho. Lembre-se, isto é apenas sua cabeça brincando com você. Seja corajoso e vá dormir.”
- Mas eles estão lá fora, mãe. As criaturas sem rostos desejam me pegar. 
“Loucura. Vá dormir e ignore esses pensamentos estranhos.”
E eu vou. Com 27 anos nas costas, obedeço o conselho de minha mãe mesmo crendo com toda a certeza nas minhas palavras. Eles existem. As criaturas estão lá fora e desejam me manter aqui dentro. Já tentei fugir para outra casa, longe daqui, mas sempre impedem minha partida. Enfim... volto para a cama, ignoro o barulho no telhado e durmo.
Acordo numa manhã chuvosa e cheia de ruídos lá fora. As janelas batem e gritam. As vozes do exterior me julgam, me xingam, me punem, me batem e me maltratam. São eles, tenho certeza que são eles! As criaturas sem rostos! Mas minha mãe me ensinou a não confiar no que minha cabeça pensa, então ignoro e caminho até a cozinha.
Pego um prato, encheu com uma gororoba qualquer, retiro o talher de plástico da bacia e arrasto meus pés até a mesa. Uma colherada, duas colheradas... e pisco os olhos. Naquele meio segundo, tudo muda. A iluminação se vai e o ambiente é tomado por um ar gélido. Ali na mesa, três, quatro ou até mesmo cinco humanoides de cabeça raspada, olhos esbugalhados, bocas compridas como as de um sapo e pele rugosa me encaram. Minha pele esfria, os membros tremem e desejo fugir para qualquer outro lugar. Mas para onde iria? Há criaturas lá fora. Quando pisco novamente, os humanoides carecas se vão e a luz retorna. 
- Estou enlouquecendo! Estou enlouquecendo! - Grito para o silêncio da mesa. 
“Filho, você precisa se acalmar. Não se culpe pelo que não tem culpa.” Diz minha mãe ao sair de seu quarto e se aproximar com a cadeira de rodas. Aceito seu conselho novamente e volto a comer.
É aqui que as coisas pioram. Levanto, deixo o prato no balcão e caminho em direção ao banheiro. Quando me encaro no espelho, vejo um rosto diferente da minha própria face. Seus olhos são cansados, com manchas negras no entorno; os cabelos e os pelos do rosto são grandes e malcuidados; também há cicatrizes sobre o olho esquerdo e nas laterais do rosto. No entanto, minha aparência nunca fora assim. Tenho um cabelo curto e “lambido” para o lado, sempre tiro a barba e nunca me feri no rosto. Jogo água, escovo os dentes e toda aquela primeira visão desaparece. Ali está o “eu” que conheço.
- Ah, esta casa está amaldiçoado. Monstros lá fora e surtos aqui dentro. 
E eu estava certo com essas palavras. Quando caminho para fora do banheiro, me deparo com duas criaturas assustadoras. De jaleco branco, comprido e rasgado, pelos longos por todo o corpo, olhos caídos e pendurados para o lado de fora, pele malcheirosa e com facas nas mãos. Os dois se aproximaram rapidamente de mim. 
- Vamos, Tom, está na hora do tratamento. - Disseram, juntos, levantando a arma. 
- N-não! Saiam! 
- Acalme-se, Tom. Lembre-se do carro e da água. Lembre-se da chuva, Tom. Você precisa se acalmar e lembrar.
- Saiam daqui, monstros! 
Corri, freneticamente, em direção a qualquer cômodo da casa. Quando notei, estava na pequena biblioteca que minha mãe e eu dividíamos. Me esqueci dos problemas e das anomalias que me perseguiam, encarei as lombadas dos livros e recordei os velhos tempos. Mas então me veio uma dúvida: como minha mãe não via as criaturas? Elas batem nas janelas, elas surgem na mesa, elas aparecem por todos os lados e todos os dias me perseguem. Como? Lágrimas escorreram em meu rosto. Eu tinha a resposta para tal pergunta, mas ela não vinha. Estava na ponta da língua, mas, ao mesmo tempo, distante. Voltei minha atenção para as lombadas e respirei fundo.
Passei minutos lendo título e os resumos na traseira dos livros. Recordei-me das fantasias, ficções e todos os mundos que já visitei. Percebi o quanto minha vida parecia com uma daquelas histórias, mas, diferente dos livros, meus problemas são todos reais. E foi durante tais pensamentos que a iluminação do pequeno quarto/biblioteca desapareceu. 
O breu tomou conta do local. Minha respiração pesou e se tornou acelerada. Não consegui controlar as batidas do meu próprio coração. Senti que algo estava perto, muito perto. Havia outra respiração no quarto. Os pelos da nuca se arrepiaram e senti calafrios em todas as regiões do corpo. “Algo” respirava fundo bem atrás de mim... Seus suspiros se atropelavam, um atrás do outro, sem parar. Paralisado no mesmo lugar, escutei passos em minha direção. Vinham, vinham e vinham. Não pude fazer nada, apenas tremer. A respiração, os passos e um crepitar semelhante ao ruído de ossos estalando colaram-se em minhas costas. Senti dedos gelados tocando meu corpo e só consegui aguardar o momento em que a criatura me pegaria. Duas mãos tocaram minhas costas, subiram, subiram e subiram até alcançar e engancharem-se em meus ombros. 
“Filho...” - A criatura disse em um tom fúnebre.
Pulei de susto, travei, desliguei, reinicie, raciocinei a informação e, finalmente, consegui me mover. Eu reconhecia a voz. Com rios de lágrimas escorrendo pelo rosto, me virei. 
A luz voltou.
- M-mãe? 
Era ela. Estava ali, bem na minha frente, parada em pé. Não havia cadeira de rodas, pois - me recordei no momento - ela nunca precisara da mesma. Então por que estava lhe vendo com cadeira de rodas? Hein? Como explico? Ah, espere... Analisei suas mãos e o restante de sua aparência. Os dedos eram o puro esqueleto. Vestia trapos cinzas e chamuscados. Seu rosto era cadavérico, pálido e queimado em alguns pontos. Na verdade, tudo parecia queimado - até mesmo seus cabelos que não existiam mais. Na altura dos joelhos, enormes ferimentos estavam expostos. 
- Lembre-se do acidente! Lembre-se do carro! Mas não ligue para o que os outros acham e não se culpe. - Disse com sua voz morta.
Somente então veio o clique. Só naquele momento recordei-me de tudo. Da noite de bebedeira, da minha volta pela madrugada até em casa, da febre e dor de cabeça que minha mãe sentira, de quando a coloquei no banco do passageiro e sentei-me em frente ao volante e... Meus pensamentos foram interrompidos por batidas na porta.
- Vamos, Tom, destranque a porta. Já está na hora de se acalmar. - Disse um dos monstros. 
- Neste momento ele já deve estar se recordando de tudo. - Respondeu baixinho um outro.
- Ele está totalmente perdido. Precisamos pegá-lo logo. Tom, estou abrindo. Lembre-se que eu também tenho uma chave.
O ruído surgiu e a porta se abriu, mas corri para fora empurrando todos no caminho. Eu não podia deixar as criaturas de jaleco me pegarem. O que aconteceu com minha mãe não foi culpa minha. Ela mesma me disse, caralho! Não deixaria que os monstros me punissem por causa das acusações do mundo exterior. 
Estava na hora de fugir de vez da minha casa, então corri em direção aos degraus. Eles me levaram para cima, onde continuei correndo pelo corredor branco. Isso estava estranho... Por que minha casa estava tão gigante? Ela nunca fora um sobrado, então por que havia um andar superior? E por que tantos quartos? Todos brancos? Corri, corri e corri, mas os quartos não paravam de surgir, tanto na direita quanto na esquerda. Em certo momento fui obrigado a parar, pois na frente e atrás haviam criaturas de jaleco branco. Seus olhos pendurados me julgavam e, de certa forma, sentiam medo de mim. Ameacei um deles, que hesitou para trás. Levantou sua faca (ou seria uma prancheta? Minha mente segue confusa em relação a isso. Antes era uma faca, mas agora vejo uma prancheta...) na altura do peito e cambaleou para trás. Tentei passar pela abertura que ele criara na barreira, mas os outros monstros saltaram sobre mim. 
- Me larguem, me larguem! Minha mãe me disse que eu não tenho culpa! Ela acabou de me dizer! Me larguem, me larguem!
- Tom, se acalme.
- Meu Deus, não esperava que ele piorasse tanto de ontem para hoje.
- Já se prepare, pois amanhã com certeza haverá mais.
As criaturas falavam e falavam. Continuavam me carregando para o purgatório, mesmo após eu insistir que não havia culpa no que acontecera com minha mãe. Eu, ela, o carro... Todos nós fomos vítimas do...
- Pronto, já o sedei...
Acordei, ainda com sono, em meu quarto. A Lua estava lá fora, então decidi continuar dormindo.
Todas noites, antes de dormir, escuto os passos no telhado....  
Por Pierre Muniz.
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sirpierre · 4 years
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Giros de Admiração - Conto
Publico aqui um novo conto. A ideia surgiu, na terça-feira (18), quando eu me dirigia ao trabalho. Pensei em como poderia escrever e desenvolvê-la, mas cheguei a lugar algum. No entanto, enquanto estava trabalhando, a ideia reapareceu em minha mente, e dessa vez com o caminho para qual eu deveria levá-la. 
Este conto é inspirado em um trecho de “O Guia do Mochileiro das Galáxias”. A cena em questão é quando uma baleia toma consciência de sua existência - e morre. 
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https://www.deviantart.com/12whoami/art/solar-system-drawing-608907566
 Giros de Admiração
- Ah, o que está acontecendo? Quem sou eu? Ou melhor: o que sou eu? Por que estou... estou... girando? Isso, chamarei de “girando”. - O corpo pensou por um instante, mesmo sem saber que aquilo era pensar.
- Eu estou... vivo? Acho que sim, não? Eu tenho propósito? Sim, claro que tenho propósito. Meu propósito é girar em torno daquela grande bola de fogo bem ali. O Sol. Chamarei ela de “O Sol”. Já amo O Sol. O Sol, eu te amo! - E seguiu girando, girando e girando, sem se importar com o resto. 
- Espera, não posso viver assim para sempre. Preciso continuar nomeando as coisas. Vamos lá, cabecinha, pense em nomes. Primeiro irei nomear a mim mesma. Vejamos... Sou um corpo pequeno, tenho muita, muita e muita água e um tanto de terra. Devo me chamar de “Água” então? Não... Não me sinto segura para isto. Eu nem ao menos conheço toda a minha água. Ao contrário das terras. Conheço todas as minhas terras. Tá, irei me chamar de “Terra”. E essa pequena amiga que segue girando em torno de mim a tanto tempo (será que ela me ama da mesma maneira da qual eu amo O Sol?) eu irei chamar de “A Lua”. Oi, A Lua! 
Não houve resposta. 
- E os meus vizinhos? Hmm, são tantos! Irei nomeá-los com a primeira coisa que vier a mente. Então vamos lá: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e, aquele bem pequenininho e tão distante, Plutão. Pronto, agora posso seguir admirando O Sol!
E girou, girou e girou.
- As coisas mudaram no meu ��ltimo ciclo. Não estou me sentindo tão bem. Na verdade, estou muito triste. Uma bola de pedra e fogo me atingiu e acho que estou doente. Muitos dos meus amigos que caminhavam por minhas terras se foram... Nunca estive tão abalada. Minha vontade de seguir admirando O Sol se foi. Não quero mais continuar. E se eu simplesmente parar? Posso girar para o outro lado ou até mesmo fugir deste ciclo vicioso. Não... quem estou querendo enganar? É óbvio que não consigo fazer isso. Terei que continuar os meus giros, meus dias e meus anos por muito e muito mais tempo, mas agora acompanhada pela tristeza...
Os giros seguiram, e a Terra ia se sentido cada vez mais desolada. Com isto, várias mudanças ocorreram em seu corpo. Os territórios, os povos, os mares e as águas foram sofrendo cada vez mais mudanças, adaptando-se com a nova realidade. Veio então, após muito tempo, um dia de felicidade para a Terra.
- Oh, Meu Santo Sol! Vocês não irão acreditar nessa, vizinhos! Eu sei que não poderão me responder, Vênus, Lua e Marte, mas contarei mesmo assim. É algo tão.. tão incrível que preciso expor ao universo. Há novos seres andando por minhas terras. Eles surgiram dos macacos? Foi evolução ou uma obra divina? Sei lá, mas isso não importa. São bem curiosos, andando para lá e para cá, sempre se mudando. Andam em duas pernas, possuem braços longos e poucos pelos pelo corpo. Vou chamá-los de... hmm... humanos. Espero ser uma grande amiga dos humanos, e sei exatamente como conseguir!
Árvores cresceram. Arbustos nasceram. As novas plantas traziam grandes e pequenos frutos. Variados tipos de alimentos para os novos amigos da Terra.
- Olhem, eles amam minhas frutas! Já somos grandes amigos, pois adoram tudo que lhes dou. A água doce, os frutos, legumes, os.... O que foi isto? Por que senti uma dor? Hein, o que está acontecendo? Por que estão correndo atrás dos animais com aqueles lanças? Não! Não! Comam os frutos que lhes dei e não cometam tal brutalidade! E-eles estão c-cortando as árvores? Mas para quê? Por que estão construindo essas coisas? Eu preferia quando vocês moravam nas cavernas, mas agora insistem em cortar minhas florestas para construírem casas. Não éramos amigos? Então por que estão me machucando? 
- Meus giros parecem mais lentos agora, embora o período de tempo seja o mesmo. Minhas árvores caem, minhas crias são caçadas, as veias de água que correm por minhas terras são poluídas, o ar se torna cada vez mais impuro. Como sobreviverei desta forma? Devo continuar girando e girando com o único objetivo de admirar O Sol? Devo ignorar aqueles que me machucam? E o que eu poderia fazer? Não sou um ser vingativo... Há momentos que tudo o que temos a fazer é esperar. Talvez, em algum momento, cheguem os dias melhores... E eles virão... eles virão. Acredito que serei capaz de sobreviver a este período de sofrimento. Mas enquanto eles não vêm, seguirei em meus giros de admiração.
Por Pierre Muniz.
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sirpierre · 4 years
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J.R.R. Tolkien e a Terra Média.
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Em 3 de janeiro de 1892, na cidade de Bloemfontein (África do Sul), nasceu um bebê. Filho de Mabel e Arthur Tolkien, a criança fora batizada como John Ronald Reuel Tolkien. 
A vida do pequeno e de sua família caminharia com os pés na dificuldade. Seria mordido por uma tarântula ainda quando recém-nascido, perderia o pai aos quatro anos de idade, sofreria com o clima desértico da cidade africana - e, posteriormente, com a poluição incessante de Birmingham, a segunda maior cidade da Inglaterra, quando viria a se mudar. 
Cresceu, estudou, se formou, tornou-se o “Professor Tolkien” e, entrementes, começou e entrou naquilo que tomaria todos os seus anos futuros. J.R.R. Tolkien, como ficaria conhecido mundialmente, escreveu milhares de páginas e pergaminhos que formaram e deram luz à “Terra Média”.  
Sua obra está entre as mais comentadas no mundo contemporâneo. A Terra Média abriu caminho e inspirou centenas e mais centenas de outras obras literárias de fantasia. Até pouco tempo, livros inéditos ainda eram lançados pelo seu filho, Christopher Tolkien, como publicações póstumas, enriquecendo ainda mais o universo pelo qual o autor ocupou o seu tempo. 
Tolkien não se limitou a criar apenas um plano de fundo para contextualizar seus romances. Ele criou mapas detalhados com as localizações de rios, montanhas, vales e cidades. Usou seus conhecimentos linguísticos para criar um idioma exclusivamente para seus textos. Moldou uma mitologia através do Deus Eru e dos Valar, transformando a Terra Média numa criação rica em detalhes. Criou raças, costumes, culturas, etc e tal.
Eu já conhecia a adaptação do cinema de “O Senhor dos Anéis”, mas com 10 anos tive o primeiro contato com suas obras literárias. Com “O Hobbit”, criei uma paixão gigante pela fantasia. Personagens carismáticos, história envolvente e uma ambientação fantástica. Tolkien me conquistou com sua obra infantojuvenil. Cantigas divertidas, diferenciação de anãos (o plural é desta forma quando estamos falando da raça ”anão”) pelas cores de suas capas, a maravilhosa “charadas no escuro” e por aí vai. 
E é sobre isso que quero falar. Anos depois, entrei de vez no universo da Terra Média. Li “O Senhor dos Anéis”, “O Silmarillion”, “Beren e Lúthien”, “Os Filhos de Húrin” e “A Queda de Gondolin”. Foi então, depois de ler tais obras, que J.R.R. Tolkien se tornou minha principal inspiração na hora de criar meus próprios contos e histórias. Um autor precisa ser versátil, e ele sabe ser.
Como descrevi, “O Hobbit” é uma narrativa destinada ao público infantojuvenil. A forma de descrição, o modo de narração da aventura e o humor contido no livro deixa evidente. Porém, “Os Filhos de Húrin”, traz um enredo bem mais pesado. O conteúdo pode ser, facilmente, listado para - no mínimo - maiores de 16 anos. Confesso que fiquei chocado ao ler e me indaguei se aquilo realmente era uma obra de Tolkien - e era. Desde assassinatos brutais a incesto, Tolkien não se preocupa em amenizar os acontecimentos horríveis que fazem parte de seu universo literário, e é assim que ele se torna um escritor completo. Com histórias infantis, aventuras juvenis, contos adultos e uma mitologia (em “O Silmarillion”) que muitas vezes é dita como a “bíblia da Terra Média”. 
J.R.R. Tolkien deu vida a um mundo fantasioso único, gigante e muito diversificado. Assim ele se tornou a minha principal inspiração.
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Informações sobre a vida de J.R.R. Tolkien retiradas da biografia “J.R.R. Tolkien, O Senhor da Fantasia”.
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sirpierre · 4 years
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Os Balões - Conto.
Confesso que passei o dia inteiro pensando no que publicar aqui. Queria começar falando sobre Tolkien, ou então Star Wars, quem sabe Doctor Who, ou, talvez, sobre o Studio Ghibli... mas, no fim das contas, decidi compartilhar um pequeno conto que produzi no ano passado. 
Na época em que escrevi tal história, ainda estava explorando diversos tipos de gêneros literários. Já havia passado por um romance cyberpunk, por uma péssima história de fantasia e também por um suspense adolescente (que se encontra paralisado no momento), além de algumas historinhas aqui e ali. No entanto, esta que publico hoje, me deixou satisfeito. 
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Os Balões
Abaixo do Sol, numa casa feliz, num dia de festa, dois balões em especial foram enchidos. O primeiro era Vermelho, e recebeu um sopro cheio. Com o ar dos pulmões do pequeno menino, ele cresceu e se tornou lindo. Aquilo lhe deu vida.
O menino o pegou e lhe prendeu junto aos outros balões.
O balão Vermelho tentou se comunicar, mas nenhum outro respondeu. Isso lhe deixou triste, pois era o único balão a receber o sopro da vida.
Lá embaixo, na mão do mesmo menino, um balão Azul fora enchido. Não cresceu tanto quanto o outro, mas tinha o sentimento de alegria, pois também havia recebido o suspiro mágico. O menino o levou e amarrou junto ao Vermelho. E os dois balões ficaram felizes, pois não estavam sozinhos naquele mundo.
Assistiram a festa de camarote. Viram as crianças correndo, os jovens conversando, a comida sendo servida e o parabéns no final. Todos estavam muito felizes, incluindo os dois balões. 
Mas nem tudo são rosas... ou balões. Nenhum ser consegue viver em pura paz, seja um ser humano, um cachorro ou um balão. Algo pontiagudo espetou as bexigas sem vida, estourando de uma em uma. Vermelho e Azul se desesperaram. Sem ter o que fazer, só podiam aguardar pelas mãos malignas da pessoa que vinha estourando cada bexiga.
Vermelho e Azul encurtaram a distância entre eles. Murcharam um pouco pela tristeza. Azul, que antes era repleta de alegria, agora estava deprimida. Desejava viver mais que aquelas curtas horas... O balão Vermelho lhe acalmou, dizendo que tudo ficaria bem, mas em verdade não acreditava naquilo, só queria confortar o amor de sua curta vida.
 Quando a hora chegara, o ventilador da parede percebeu o que acontecia. Soprou seu poderoso ar em direção aos dois balões mágicos. O vento foi tão forte e poderoso que desprendeu os dois seres da parede. E estes voaram, livremente, para o céu azulado.
- Viva! – Conseguiu gritar o balão Vermelho. Procurou por Azul, mas não a viu. Olhou para baixo e a notou, presa em seu mesmo barbante, voando com ele, mas estava tão vazia e entristecida pela ameaça de morte que o homem lá embaixo lhe causara, que não tinha mais razões para viver. Não tinha ar suficiente para voar junto de Vermelho.
Ele ainda queria sua presença, por isso se esforçou – se esforçou muito – para soltar um pouco do ar que tinha. Quando murchou, isso lhe fez perder altitude e descer até Azul. Ela admirou seu esforço, por isso voltou a sorrir. 
Alegres, voaram pelos campos, passaram pelas lindas florestas, sobre grandes lagos e rios. Até que avistaram arranha-céus grandiosos, e pela curiosidade foram atrás. Juntos, vivendo uma vida grandiosa para balões, dançaram pelos ares até a cidade. De longe parecia bela.
Quando chegaram se assustaram com os altos volumes. Buzinas, motores, marteladas, passos, gritos... A cidade não era assim tão bela. De longe era, mas próxima, quando os humanos se tomavam a vista, tudo parecia uma desordem. O antes céu azul, agora era um borrão cinza de fumaça e desgraça. 
Isso entristeceu os balões mágicos. Vermelho e Azul haviam sobrevoado os mais belos locais da natureza até chegar ali, mas ao ver o que a mão humana havia tocado, ar se perdeu... Perderam altitude e se desesperaram. O desespero fez com que os dois caíssem ainda mais rápido.
Jovens bateram nos balões, que voaram para o outro lado da rua. Sobreviveram a muitos golpes. Infelizmente, nem todos os golpes eram para empurra-los de volta ao céu. O mau é uma verdade, ele existe, e não adianta negar essa afirmação, caro leitor. Alguém, despreocupado com a vida, furou o balão Azul com seu garfo. 
Assustado, desorientado e machucado pela perda de seu amor, o balão Vermelho voou. Ganhou um último suspiro para subir aos céus novamente. Fugiu de tudo e de todos. A cidade ficou para baixo. Atravessou a triste camada de poluição até encontrar um céu azulado.  
Lembrou-se de Azul... Triste estava novamente... A magia estava acabando... Não podia viver sozinho uma vida que fora feita para dois. Vermelho chorou muito. O ar foi saindo, saindo e saindo... Murchou completamente por não querer viver sozinho. 
Assim eu termino a história de dois balões mágicos. Não conclua com isso que a morte é a solução para os seus problemas. Longe de mim dizer isso, leitor e leitora. A vida pode ser bela, mas também devemos suportar seus desastres. Afinal, Vermelho e Azul ainda vivem, não fisicamente, mas na memória de quem lhes escreveu e de quem lhes leu. A única diferença é que descobriram um novo modo de viverem juntos. 
Por Pierre Muniz.
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sirpierre · 4 years
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Olá, internet.
“E vai dar certo?” Essa é a pergunta que ecoa em minha cabeça toda vez que penso em um novo projeto. Confesso que fico com um pé atrás - ou com os dois - quando o assunto é criar algo. Mas devemos tentar, não é? Começarei falando um pouco sobre a pessoa que vos escreve.
Me chamo Pierre, tenho 18 anos e moro numa cidadezinha perdida neste país continental chamado Brasil. Tenho alguns sonhos, mas entre eles há um desejo que sempre apunhala e faz meu coração bater mais forte - talvez eu precise de um médico. desejo me tornar um autor publicado. Já escrevi pequenas e longas histórias em vários gêneros literários (não publicadas e espalhadas por aí em minhas contas de armazenamento), mas apenas recentemente encontrei meu lugar na escrita.
Sou apaixonado pela fantasia desde criancinha. A bela adaptação de “O Senhor dos Anéis” me guiou para o universo fantástico das histórias medievais. “Star Wars” me mostrou a clássica “jornada do herói”. Fiquei apaixonado pelo futuro ao assistir “Blade Runner”. No entanto, mesmo com tantas possíveis influências, encontrei o que eu realmente gosto de escrever ao ler os textos medonhos - e racistas - de H.P Lovecraft. Gostei tanto do universo criado por ele que senti o desejo de contar histórias daquele tipo. E por que não? Rejeitei o que há de ruim em suas obras e me inspirei para dar meus primeiros passos no horror cósmico. Ainda estou na jornada, escrevi alguns contos não publicados e espero algum dia chegar lá. 
E este blog? Para que serve? 
Nada mais é do que um treinamento para a minha escrita. Não fingirei que a ideia de divulgar meus pensamentos sobre cinema, televisão, literatura, a vida e qualquer outra bobagem nunca tenha passado pela minha cabeça, mas espero aprimorar meus textos no caminho.
Por que “Não-Qualificado”?
Bem... justamente por não ter qualificações. Não sou formado em cinema, mas falarei de cinema. ̶A̶i̶n̶d̶a̶  não sou autor, mas falarei sobre literatura. E por aí vai. Sou apenas um jovem determinado em escrever sobre o que gosta, e assim será o “Não-Qualificado” (e somente os deuses sabem quando publicarei algo aqui). 
Ah, e eu não queria espaço no título. Sejam bem-vindos ao “Não-Qualificado”.
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