Tumgik
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Área 51
O escuro do céu engolia a noite como altas ondas dominam os mares. Pequenos pontos brilhantes iluminavam a região em que Greg trabalhava. A chamada Área 51.
A misteriosa área era localizada em Nevada, nos Estados Unidos. Constantemente vigiada por guardas armados, poucos eram os fatos conhecidos sobre o local, apesar das grandes teorias da conspiração.
Naquela noite, o ar estava límpido e fresco. Greg permanecia sentado numa cadeira, ao lado da Cabine de Controle, com o rádio na mão. Apesar do nível de atenção que seu posto demandava, isso não o impedia de divagar sobre as verdades e as mentiras que envolviam seu trabalho.
Já havia visto luzes e formas, é claro. Todos haviam. Mas o que seria real? Ele não era um homem categórico. Sabia que a maioria das verdades eram relativas.O governo americano, obviamente, jamais afirmaria a presença de alienígenas, de qualquer modo que fosse, caso algo maior do que eles pudessem controlar ocorresse. Quantos casos haviam sido abafados? Quantas vezes recebera ordens para não falar sobre determinado assunto ou não entender de maneira errada algum acontecimento que, na verdade, era muito nítido?
Alguns homens com os quais Greg trabalhava já disseram terem visto aliens. Não naves ou formas reluzentes no céu. A presença extraterrestre, em si. Falavam com horror, e até certo fascínio, sobre seus olhos grandes e a estrutura física completamente diferente dos filmes e até mesmo documentários. Como se, ao verem os seres, em sua mais crua essência, questionassem a própria condição como únicos habitantes do Universo.
Antes de aceitar o emprego como guarda, Greg achava loucura crer em alienígenas, assim como qualquer outra entidade que ele considerava fictícia. A mentalidade simplória moldada pela alienação. Porém, após o ingresso na Área 51, teve muitas noites em claro que o fizeram refletir. Hoje, vê seu pensamento como tolo e inocente. Como poderia ter acreditado estarem sozinhos em um Universo tão grande e expansivo? Responsabilizava a prepotência humana nesta visão, que raramente supunha algo maior que si própria.
Ironicamente, a solidão parecia ser um dos maiores medos dos seres humanos. O eterno e angustiante medo da solitude, o receio da própria mente, moldava à todos de modo a nunca precisarem ficar sozinhos: a busca por casamentos, a criação de filhos, o temor de um divórcio; passa-se horas em redes sociais, navegando sem rumo como num barco sem bússola; aplicativos de namoro, não para o amor, não como essência, mas como presença física, para suprir a urgência, o não suportar do silêncio de si próprio - uma sociedade dependente e viciada na produtividade, a constância da linha de produção, em detrimento da contemplação, não conseguiria lidar com o assombro que é, a quietude do eu.
Tudo a fim de evitar o horror de conviver consigo mesmo. Desse modo, por que não imaginar que há algo além de nós mesmos? Por que não crer que não somos os únicos?
Talvez a descrença em aliens era exatamente o medo de acreditar que estavam certos, de que a solidão era um medo real e válido. Se o Universo não permitia o isolamento, teria perigo maior?
Para Greg, o questionamento era somente um: o que era mais assustador como humano, em um Universo infinito como a Matemática, estar acompanhado de outra entidade que não a sua, ou perecer sozinhos?
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Respirou.
Cecília virou a xícara de café em um único gole e levantou da mesa. O relógio marcava sete e quarenta, o que significava, de acordo com o trânsito de São Paulo, que estava atrasada. Ao sair de casa, o vento frio a fez ajeitar o suéter vermelho que usava por cima da camiseta. O dia estava nublado e cinzento, perfeito para ficar em casa, ela pensou, de pijama, bebendo algum chá e lendo livros. Atravessou a rua correndo até o ponto de ônibus, onde permanecia todas as manhãs - pelos últimos dois meses, é claro. Antes disso, ela estava instalada numa clínica psiquiátrica no interior da cidade. Por osbcuros dez meses, a depressão e a ansiedade a dominaram ao ponto de não conseguir ficar perto de objetos pontiagudos. A última vez que perdera o controle quase quebrou as chaves de casa. Seus pais ainda não confiavam que ela ficaria bem morando sozinha, mas ela tinha sido categórica quanto a isso. Não preciso de ajuda, afirmou de maneira firme. Dez meses era tempo demais longe do trabalho, e sabia que qualquer furo profissional estragaria seu currículo. Não que Cecília amasse seu emprego, longe disso. Trabalhava num escritório financeiro no centro da cidade, que não era sua paixão, mas pagava o suficiente para ajudar os pais e se manter. Os meses que passara fora provaram que ela não podia parar de trabalhar. A rotina da empresa era rápida como uma linha de produção, e não permitia pausas. Já na empresa, no segundo que a porta do elevador se abriu, Moreira entregou uma pilha de documentos em sua mão. - Vamos lá, Gomes, você está atrasada - disse ele. Eram 9h15. Antes de começar a trabalhar, pegou da bolsa um comprimido de Adderall e tomou-o com mais um gole de café. Apesar das indicações médicas, ela tinha dificuldades de atenção e precisava de foco para o trabalho. Começou a digitar no computador, sentindo-se cada vez mais energizada, a cada toque no teclado. Tinha exatamente vinte documentos para serem arquivados, e caso não realizasse o necessário até o fim do dia, teria que levar trabalho para casa, já que precisavam ser entregues até amanhã. O médico tinha sido muito especifício quanto a nada de trabalho em casa, pois aumentava seus níveis de estresse e ela ainda estava sensível psicologicamente. Deixou esse pensamento ir embora ao voltar sua atenção para a tarefa. Na hora do almoço, ainda não havia feito nem metade do que precisava ser feito. Desceu até o refeitório, onde comeu uma barra de cereais com fruta em menos de dez minutos e voltou para seu cubículo. Não tinha tido tempo de preparar o almoço em casa, e desde que saíra da clínica, o dinheiro estava mais curto do que o habitual - não quis comprar almoço. Tinha muitas contas que precisavam ser pagas. Sentiu o coração bater mais forte ao longo do dia, mas sabia que não era nada. O excesso de café que tomava explicavam facilmente essa alteração. O que a incomodava era a dor de cabeça, pulsante dentro do crânio, que parecia rasgar-lhe a mente e dançar pululante entre seus neurônios. Ignorou a sensação até as cinco da tarde, quando saiu da empresa, com os documentos restantes nas mãos. Correu até o ponto de ônibus, que passou antes de sua chegada. Xingou mentalmente enquanto acomodava-se no banco do ponto, sabendo que demoraria até que outro viesse. Colocou fones de ouvido para se distrair. Odiava esperar, não tinha paciência. Ficar parada, seja em filas, no ponto de ônibus, ou até mesmo no elevador, causava-lhe extrema ansiedade. Sentia como se seus nervos gritassem por ação, por alguma coisa, por qualquer coisa que a impedisse de ficar entediada, sozinha com a própria mente. Quando seu ônibus finalmente chegou, não havia bancos disponíveis. Ficou em pé, espremida entre os outros passageiros, sentindo-se sufocada. Enquanto via o passar das ruas, o barulho das rodas passando pelos buracos, a entrada de mais pessoas e o choque entre os corpos, seus fones caíram do ouvido; não conseguia mexer os braços para recolocá-los, mas não foi preciso, porque sua mente estava muito ocupada. Repassava quais documentos precisavam ser refeitos, o que faria quando chegar em casa - tinha que limpar a sala, retirar o lixo, tomar seus remédios, ligar para a mãe, lavar o cabelo, cozinhar algo para comer. Se bem que no final, sempre acabava comendo um hot pocket rapidamente feito - quinze segundos no microondas e estava pronto. Já em casa, começou a limpar o chão, esfregando viciosamente o piso branco - jamais deveria tê-lo comprado, permitia ver toda a sujeira (até a que não estava lá). Ao acabar, esquentou a comida no microondas enquanto alcançava a caixa de remédios, que caiu ao chão. Deixou-a onde estava, pois tinha coisas mais importantes para fazer. Cinco minutos depois, estava sentada na mesa da sala, pronta para o trabalho. Novamente, começou a digitar rapidamente no computador, sentindo seu coração bater mais forte, a cada toque do teclado, seu batimento cardíaco aumentava, e digitava mais rápido para se distrair da dor de cabeça e quanto mais digitava mais sentia, e o som das unhas sobre o teclado a distraia, mas não o bastante, pois quanto mais digitava mais sentia, sentia, sentia, sentia, até que transbordou. Forte e inevitável como a chuva, sentiu todos os pensamentos a derrubarem. Toda a negatividade e a impaciência que sentira ao longo do dia a dominaram, assim como no mês que a internaram. Geralmente, Cecília era muito boa em dominar suas emoções e colocá-las em seu devido lugar - no fundo da mente. Mas, seus sentimentos muitas vezes eram como empurrar uma boia dentro de uma piscina cheia de água. Não importa quantas vezes empurre, não importa com qual força empurre, eles sempre voltaram para a superfície. E de repente, estava chorando. E de repente, seu corpo todo tremia. E de repente, sua mente dominava tudo, e ela odiava, se odiava por isso, se odiava por ser fraca, e não saber controlar os ataques. Seu cérebro era o mar, dominante e imponente, e ela era apenas uma onda, indo e vindo sem controle. Foi para o quarto, e deitou, abraçando o corpo enquanto chorava. As lágrimas escorriam em seu rosto, quentes e não bem-vindas. Precisava trabalhar, tinha muitas coisas a fazer, e seus sentimentos simplesmente não eram importantes naquele momento. Não podia voltar para a clínica, não podia perder mais tempo. Ainda assim, não conseguiu sair da cama. Olhou pela janela, e viu o escuro da noite. Não gostava da noite. Não gostava do silêncio, do vazio, dos pensamentos que insistiam em surgir nesse período. Gostava do dia. O dia sim, era bom, quando estava ocupada, quando tinha o que fazer, quando não precisava ficar sozinha. Sozinha consigo mesma. Horas se passaram até que conseguira parar de tremer. Olhando pela janela de novo, viu  céu ganhar uma nova tonalidade, não mais clara, mas menos escura. Devia ser quatro ou cinco horas da manhã. Apesar do sono, sentiu algo que não sentia há anos. Não pensou nos documentos que precisavam ser entregues. Não pensou no café que precisava tomar para se manter acordada. Não pensou em pegar os fones de ouvido para se distrair. Estava, pela primeira vez, com o próprio eu. Ouviu o baixo canto dos pássaros - tinha passáros em sua vizinhança? nunca tinha ouvido antes -, uma leve brisa perpassou sobre seus cabelos, secando suas lágrimas e preenchendo seu pulmão com um ar puro. O corpo não mais tremia. O coração batia normalmente. Sentiu-se como um bebê recém-nascido que usava os pulmões pela primeira vez. Respirou.
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You were my oxigen bomb, and now i'm out of air.  Your voice was the sound of my radio, and now i sit in silence.
and old fanfic of mine
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New World
And suddenly, nothing more matter. Mankind had become so niilist, to point of not to care about the very base of your society. And suddenly, communism and capitalism, money and power, didn’t matter anymore. Didn’t exist anymore. We were so worried about surviving, that the system that formed us, had reduced to nothing. Straight people and gay people had the same difficulties to face in the New World; our identities, binary and non-binary, black and white, merged in the gray of our present. Prejudice become a small dust on the cover of the History of Humanity. 
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A lie, usually, is created in order to hide. We break and hide pieces of ourselves in lies, so that other cannot see what was, ironically, already broken.
prompt 1203
Why do people lie?
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